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UM PLANO DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL: DIRETRIZES PROPOSTAS PARA A PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL NA CIDADE DE ITAGUAÇU- ES

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5º Colóquio Ibero-Americano: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto 
Belo Horizonte/MG - de 26 a 28/09/2018 
 
 
UM PLANO DE PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM CULTURAL: 
DIRETRIZES PROPOSTAS PARA A PRESERVAÇÃO DA PAISAGEM 
CULTURAL NA CIDADE DE ITAGUAÇU-ES. 
MENESES, AMANDA GUIMARÃES (1); SILVEIRA, ALINE VARGAS DA (2) 
 
1. Instituto Federal do Espírito Santo. 
Rua Camilo Frizera, 46, Centro, Itaguaçu, ES 
amandagumeneses@gmail.com 
 
2. Instituto Federal do Espírito Santo. Coordenadoria de Arquitetura e Urbanismo. 
Av. Arino Gomes Leal, 1700 - Santa Margarida, Colatina - ES 
aline.silveira@ifes.edu.br 
 
RESUMO 
A preservação da paisagem cultural no Brasil ainda traz muitas dúvidas e levanta muitas 
possibilidades. A tarefa mais difícil nessa área de preservação é identificar quais paisagens culturais 
devem ser preservadas e a partir de quais critérios. Cada paisagem cultural deve ser entendida como 
única, e sua particularidade orienta o processo de intervenção, que deve levar em consideração sua 
importância para os valores patrimoniais. Para que essa preservação seja efetiva, alguns métodos 
podem auxiliar, como o controle de projetos públicos e privados por parte das autoridades 
competentes, concebidos de modo que estejam em harmonia com a ambiência que se deseja 
salvaguardar; inserção de restrições nos planos de urbanização e no planejamento em todos os 
níveis: regionais, rurais ou urbanos; entre outros. Seguindo essa linha, o presente trabalho traz 
diretrizes para a preservação da paisagem cultural na cidade de Itaguaçu, município situado no 
interior do Espirito Santo. Buscando amenizar perdas futuras da paisagem cultural, o trabalho propõe 
diretrizes para o controle da verticalização nos pontos mais críticos e as alturas máximas adequadas 
para as edificações que podem de alguma forma afetar o principal elemento da paisagem cultural do 
município. 
Palavras-chave: Paisagem; Cultural; Diretrizes; Itaguaçu. 
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1. INTRODUÇÃO 
No Brasil, o estudo da paisagem como um bem começou por volta de 1937, através da 
fundação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan), atual Instituto do 
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Ribeiro (2007) afirma que existem dois 
tipos de paisagem: a paisagem natural e a paisagem cultural. A primeira é aquela que ainda 
não foi adulterada pelo homem, já a segunda é a paisagem adulterada pelo homem. 
Compreende-se que a paisagem muda com o tempo, fato que pode ser evidenciado na 
cidade de Itaguaçu - ES. O município (Figura 01), situado no interior do Espírito Santo 
possui aproximadamente 15 mil habitantes, com superfície de 530,39 Km² e está a 132 km 
da capital Vitória, segundo censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE, 2016). 
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Figura 01 – Mapa Sede Municipal de Itaguaçu. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves, 2012. 
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Segundo Meneses (2017), a cidade não possui Plano Diretor Municipal devido ao número 
de habitantes, que é menor que 20 mil, possui apenas um código de obras elaborado em 
2013. Este documento se encontra na Prefeitura Municipal de Itaguaçu (PMI), e na Seção 
IX, Art. 56, destaca as alturas permitidas para a construção das edificações na cidade: "[...] 
esta altura deve ser inferior ou igual ao valor determinado pela soma da largura da rua, mais 
os passeios públicos e o afastamento frontal deixado pela edificação em relação ao seu lote" 
(BRASIL, 2013). Porém existe um caput que permite que a prefeitura autorize alturas 
superiores caso seja de seu interesse. 
O município se desenvolveu de forma gradativa, acompanhando o crescimento populacional 
e até o ano de 2011, praticamente não existiam edificações no Centro que interferissem na 
visualização do principal monumento da cidade, a Igreja Nossa Senhora Medianeira de 
Todas as Graças, que está presente na cidade desde 1880 (Loureiro, 2016). Contudo, nos 
últimos anos, o gabarito das edificações no centro da cidade começou a crescer e este 
crescimento pode provocar futuramente a obstrução dessa visual de alguns pontos. 
O município começou a se formar por volta de 1880, seguindo o Rio Santa Joana e a capela 
que posteriormente, em 1955, foi substituída pela Matriz hoje existente. O Centro, bairro 
selecionado para o estudo foi o primeiro da cidade, onde se encontra a Igreja Matriz Nossa 
Senhora Medianeira de Todas as Graças, principal cartão postal da cidade desde a sua 
construção (Diocese de Colatina, 2016). 
A Matriz de Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças é vista como ponto turístico do 
município e chama atenção pelas linhas arrojadas com grandes e riquíssimos vitrais. 
Externamente, destacam-se duas belíssimas torres de 48 metros de altura cada, os vitrais, 
alguns em forma de cruz, torrões que circundam a igreja e flores-de-lis. Possui 45 metros de 
extensão, sendo por esse motivo um dos maiores Templos Sacros do estado do Espírito 
Santo (MITRA DIOCESANA DE COLATINA, 2003). 
Seguindo o raciocínio de que essas perdas podem ser definitivas, se vê necessário a 
interferência com métodos e diretrizes que possam controlar ou até evitar essas obstruções 
devido a verticalização das edificações no centro da cidade no futuro, tentando assim 
minimizar os impactos sobre o principal elemento da paisagem cultural da cidade de 
Itaguaçu, a Igreja nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças (MENESES, 2017). 
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA 
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No início do século XX, Carl Sauer, criou o conceito de paisagem cultural, que se deu, 
quando conceituou paisagem como resultado da ação da cultura, desde então o termo vem 
ganhando espaço (GALVÃO, 2010). 
A paisagem cultural foi discutida em duas importantes convenções, em nível mundial: A 
Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Cultural e Natural, em 1972, e a Convenção 
Europeia da Paisagem (CEP), em 2001 (GALVÃO, 2010). 
Segundo Ribeiro (2007), a Convenção para Proteção do Patrimônio Cultural e Natural foi 
organizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
(UNESCO) e aprovada na Reunião de Paris em 1972. Nessa convenção, foi elaborada uma 
carta patrimonial, "Recomendação Paris" de Novembro de 1972, que aborda a definição de 
Patrimônio Cultural e Patrimônio Natural. 
A Recomendação de Paris de 1972 considera patrimônio cultural: os monumentos, que são 
elementos que tem valor excepcional de acordo com a arte, ciência ou história, sendo eles 
obras arquitetônicas, cavernas e outros; os lugares notáveis, que são obras do homem, ou 
do homem e da natureza, que tenham valor excepcional de acordo com a arte, ciência ou 
história e por fim, os conjuntos, "[...] grupos de construções isoladas ou reunidas que, em 
virtude de sua arquitetura, unidade ou integração com a paisagem, tenham um valor 
universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência" (Recomendação 
de Paris, 1972, p. 2). 
Devido às discussões e definições nela estabelecidas, a Convenção para a Proteção do 
Patrimônio Cultural e Natural Mundial tornou-se o primeiro instrumento com intuito de 
proteger, conservar e identificar paisagens culturais com valor universal excepcional 
(GALVÃO, 2010). 
A Convenção Europeia, que foi assinada por vários países Europeus em 2000, define 
paisagem como “[...] uma parte do território, tal como é
apreendida pelas populações, cujo 
caráter resulta da ação e da interação de fatores naturais e ou humanos” (CEP, artº 1º, 
2001). 
Outro instrumento, elaborado na "Semana do Patrimônio - Cultura e Memória na Fronteira", 
no ano de 2007 em Bagé (RS), foi a carta de Bagé ou Carta da Paisagem Cultural, que 
apresenta a seguinte definição: 
Artigo 2 - A paisagem cultural é o meio natural ao qual o ser humano 
imprimiu as marcas de suas ações e formas de expressão, resultando em 
uma soma de todas os testemunhos resultantes da interação do homem 
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com a natureza e, reciprocamente, da natureza com homem, passíveis de 
leituras espaciais e temporais; Artigo 2 [sic] - A paisagem cultural é um bem 
cultural, o mais amplo, completo e abrangente de todos, que pode 
apresentar todos os bens indicados pela Constituição, sendo o resultado de 
múltiplas e diferentes formas de apropriação, uso e transformação do 
homem sobre o meio natural. (BAGÉ, 2007). 
De acordo com Silva et.al. (2007, p. 300), "[...] a paisagem cultural converge para a atual 
noção de patrimônio cultural, que prepondera sobre a expressão original de patrimônio 
histórico, isto é, a dimensão histórica se insere na cultura”. 
A constituição brasileira de 1988, apresenta uma definição ampla sobre os bens que 
constituem o patrimônio cultural no Brasil, pois abrange os bens materiais, naturais e 
imateriais: 
Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e 
imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência 
à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da 
sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – 
os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e 
tecnológicas; IV – as obras, os objetos, documentos, edificações e demais 
espaços destinados às manifestações artístico culturais; V – os conjuntos 
urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, 
paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 2012, Artigo 216, p. 124). 
Outras Recomendações definem paisagem cultural, como a Recomendação Europeia de 
1995, p. 3, onde classifica como paisagem cultural como: 
[...] partes específicas, topograficamente delimitadas da paisagem, formada 
por várias combinações de agenciamentos naturais e humanos, que 
ilustram a evolução da sociedade humana, seu estabelecimento e seu 
caráter através do tempo e do espaço e quanto de valores de reconhecidos 
têm adquirido social e culturalmente em diferentes níveis territoriais, graças 
a presença de remanescentes físicos que refletem o uso e as atividades 
desenvolvidas na terra no passado, experiências ou tradições particulares, 
ou representação em obras literárias, ou artísticas, ou pelo fato de ali 
haverem ocorrido fatos históricos. 
A cidade de Vitória, localizada no Espírito Santo também possui uma carta da paisagem em 
vigor, "Carta de Vitória em Prol da Paisagem da Região Metropolitana da Grande Vitória" 
redigida por vários profissionais de diversas entidades em dezembro de 2011. A Carta de 
Vitória segue conceitos parecidos de paisagem e paisagem cultural encontrado na Carta de 
Bagé. 
Pode-se perceber em inúmeros documentos patrimoniais a amplitude dos valores atribuídos 
à paisagem, essa aparece como, "vizinhança", "entorno", "ambiência", desse modo, a 
paisagem às vezes aparece como o objeto da preservação e ora, em outros documentos, 
como a envoltória que protege o bem preservado (SILVA et al., 2007). 
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A paisagem cultural é considerada um bem, pois ilustra uma trajetória histórica da sociedade 
humana e, como critérios de seleção constam seu valor universal e sua capacidade de 
ilustrar elementos distintos de uma determinada região. São parte da nossa identidade 
coletiva e podem ser divididas em três categorias: paisagem claramente definida, paisagem 
evoluída organicamente e paisagem cultural associativa (ICOMOS, 2011). 
O principal elemento da paisagem cultural da cidade de Itaguaçu é a Igreja Nossa Senhora 
Medianeira de Todas as Graças e seu entorno. Essa paisagem se enquadra claramente na 
segunda categoria, paisagem evoluída organicamente, que segundo Domingues (2001, p. 
64) são: 
Paisagens que evoluíram organicamente, tendo como origem um imperativo 
social, econômico e/ou religioso. Hoje, essas paisagens podem constituir 
uma relíquia (ou fóssil) do passado, distinguindo-se e conservando-se 
materialmente através da presença de seus traços originais; ou podendo 
ainda deter um papel social ativo [...]. 
Segundo Ribeiro (2007), a categoria de Paisagem cultural foi criada no Brasil pelo IPHAN e 
entre os principais motivos que justificaram a admissão de Paisagem cultural como um bem 
patrimonial, está a expansão urbana e a globalização, que vem tomando conta das cidades, 
e mudando as paisagens culturais demasiadamente. 
Isso é observado na cidade de Itaguaçu, onde o crescimento do traçado urbano sem um 
acompanhamento ou normas que possam controlá-lo é uma das preocupações da pesquisa 
para o município. 
Por esse motivo e partindo da hipótese que a paisagem cultural é dinâmica, ou seja, seus 
elementos se modificam pela ação natural do tempo e pela ação do homem, é importante 
preservá-la para que as novas gerações as conheçam (SILVA et al., 2007). 
3. RESULTADOS 
Segundo Santos e Sá Carneiro (2010), a falta de um olhar histórico-crítico sobre a cidade 
antiga faz com que alguns espaços percam de maneira definitiva características peculiares 
que lhes conferiam valores históricos, artísticos e culturais. E percebe-se nos tempos atuais 
uma rejeição da história, que tem como consequência a degradação do ambiente da cidade, 
devido à adaptação das cidades ao mundo moderno. 
Na tentativa de minimizar essas perdas na cidade de Itaguaçu, o presente trabalho, busca 
elaborar propostas e diretrizes a serem aplicadas nas legislações vigentes da cidade. Com 
intuito de facilitar as pesquisas, a área determinada para estudo está localizada no bairro 
centro, primeiro bairro da cidade de Itaguaçu, onde se encontra o principal elemento da 
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paisagem cultural do município. Segundo Meneses (2017), atualmente o bairro possuí o 
maior número de edificações institucionais do município e tem o traçado consideravelmente 
organizado, onde a maioria de suas edificações ainda possuem um gabarito médio de 2 
pavimentos, alternando com algumas construções que possuem o gabarito mais elevado, 
podendo chegar até 5 pavimentos, o que ainda é raro no município. 
Para o estudo foram escolhidos 5 pontos, baseados na história do município, pesquisas 
iconográficas, estudos de conceitos que auxiliaram na escolha do elemento em questão e 
percursos com intensa circulação de pessoas e veículos. A Figura 01 mostra os pontos 
estipulados e os cones de visualização para cada um deles, os cones dão uma ideia de que 
edificações dentro do recorte estariam propicias para as diretrizes propostas (MENESES, 
2018). 
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Figura 01 - Mapa com pontos de estudo e suas respectivas zonas de visualizações e edificações que 
se enquadram nas diretrizes propostas. Fonte: Elaborado pela autora sobre mapa cedido pela PMI, 
2017. 
Os pontos 01, 02 e 03, estão nas duas primeiras ruas do município, a Avenida (Av.) 17 de 
Fevereiro e Rua Cel. Antônio Martinho Barbosa,
por isso possuem grande significado 
histórico, além disso são as duas ruas com maior fluxo de pessoas e automóveis da cidade 
de Itaguaçu, devido ao grande número de comércio local e edificações institucionais, como a 
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Prefeitura Municipal, as três escolas do município, o posto de saúde, a Câmara Municipal e 
a Igreja Nossa Senhora Medianeira de Todas as Graças. 
Já os pontos 04 e 05, estão localizados na rua Josias Domingues dos Reis, uma rua de 
passagem intermunicipal, ou seja, as pessoas que vem de outros municípios, como 
Colatina, Baixo Guandu, passam por essas ruas, dentro da cidade, para ir para outros 
municípios, como Itarana, Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá. É importante a preservação 
da visual nesses pontos para que as pessoas que estejam passando pelo município não 
precisem passar exatamente na frente do elemento para conseguir visualizá-lo. 
Para a confirmação das possíveis perdas da visualização, foram feitas comparações entre 
fotos antigas, obtidas nas pesquisas iconográficas, fotos atuais e simulação com as 
possíveis formas edificadas que são permitidas pelo código de obras do município. 
De acordo com Goltara e Mendonça (2015), a fotografia é aceita pelo senso comum e 
algumas vezes pelo meio técnico científico como a imagem da realidade. É possível 
recuperar fatos históricos através de acervos fotográficos pessoais em diversos campos do 
conhecimento. 
3.1 Simulações e Diretrizes 
Segundo Ribeiro (2007), a preservação da paisagem cultural no Brasil ainda traz muitas 
dúvidas e levanta muitas possibilidades. O mais complicado nesse campo de preservação é 
conseguir identificar paisagens culturais que devem ser preservadas e com quais critérios. 
De acordo com Silva et al. (2007, p. 301), 
[...] as intervenções a serem realizadas em uma paisagem cultural devem partir de 
um julgamento crítico, em que sejam considerados os atributos e sua importância 
para a manutenção dos valores patrimoniais. Cada paisagem cultural é um caso 
particular, expressa determinado caráter, o qual orientará os especialistas no 
processo de intervenção. 
Algumas cartas da paisagem como, a Carta de Bagé ou Carta da Paisagem Cultural (2007), 
abordam formas de preservação da paisagem cultural e patrimônio, como pode ser visto no 
artigo abaixo: 
Artigo 6 - Será implantado um sistema de avaliação da qualidade da paisagem 
que monitore todas as fases de modificação ou evolução da paisagem por meio de 
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procedimentos, normas e critérios, assegurando que produtos não conformes aos 
requisitos específicos sejam impedidos de serem certificados; (BAGÉ, 2007). 
Entretanto, alguns outros documentos patrimoniais já discutiam sobre preservação, como a 
Recomendação de Paris (1962 p. 3), que dita algumas medidas preventivas para proteção 
das paisagens, como: "[...] a) construção de edifícios públicos e privados de qualquer 
natureza. Seus projetos deveriam ser concebidos de modo a respeitar determinadas 
exigências [...] deveriam estar em harmonia com a ambiência que se deseja salvaguardar". 
Ressalta, ainda, alguns métodos (1962, p. 4), como: "[...] a) controle geral por parte das 
autoridades competentes; b) inserção de restrições nos planos de urbanização e no 
planejamento em todos os níveis: regionais, rurais ou urbanos". 
Seguindo as recomendações encontradas nas cartas, foram traçadas diretrizes que podem 
ajudar na preservação da paisagem cultural na cidade de Itaguaçu. Para isso a região a ser 
preservada fica dividida em 5 pontos, definidos anteriormente, cada um com suas 
características e diretrizes específicas. 
De acordo com Meneses (2017), com as conclusões obtidas no decorrer do trabalho, foram 
traçadas diretrizes específicas para cada ponto. Os pontos 01, 02, 04 e 05 deverão possuir 
altura máxima de 3 metros, permitindo assim acima desse valor elementos como 
platibandas e telhados até a altura máxima de 4,5 metros. As edificações existentes 
permanecem, mas, em caso de reforma e ampliações, as mesmas não podem ultrapassar a 
altura antecessora à reforma. 
Já o ponto 03 deverá possuir altura de 6 metros, podendo atingir a altura máxima com 
telhados e platibandas 7,5 metros (aproximadamente 2 pavimentos). Essa diretriz foi 
adotada para prevenir uma possível competição entre as edificações mais altas e o 
elemento a ser destacado na paisagem (MENESES, 2017). 
Na Figura 03 estão os pontos 01, 02 e 04, respectivamente, localizados no bairro Centro na 
Av. 17 de Fevereiro. Esta rua possui, aproximadamente, 20 metros de largura e é a principal 
avenida da cidade. 
Como dito anteriormente o código de obras da cidade, permite que a altura máxima das 
edificações seja o total da soma entre a largura da rua mais o afastamento, lembrando que 
existe um parágrafo que abre um precedente na lei, onde afirma que a altura definida pode 
ser alterada pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento da Cidade (CMDC), ou seja, esta 
altura pode ser ainda maior. 
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Seguindo o código de obras, nessa Avenida, as edificações poderiam ter até 23 metros de 
altura (aproximadamente 7 pavimentos), considerando afastamento frontal de 3 metros, mas 
como a maioria das edificações no centro da cidade não possui afastamento, e em caso de 
ampliações as mesmas características podem ser mantidas, foram desconsiderados os três 
metros de afastamento em todas as simulações, o que resulta, na altura máxima de 20 
metros de altura nestes pontos, aproximadamente 6 pavimentos (MENESES, 2017). 
A primeira imagem do ponto 01 mostra que a escola Thièrs Velloso já havia sido construída, 
porém ainda não existia a Escola Eurico Salles. Devido a este fato, constata-se que esta 
fotografia foi tirada antes de 1932, data aproximada da fundação da escola Estadual de 
Ensino Fundamental e Médio “Eurico Salles”, segundo Loureiro (2016). A segunda imagem 
mostra o ponto atualmente com as simulações das alturas permitidas sobrepostas e a última 
imagem é o resultado das diretrizes propostas anteriormente. 
Já a segunda sequência de imagens mostra o ponto 02 na década de 70/80. Nesta imagem, 
pode-se observar que ainda não existia a Casa Paroquial e a Câmara Municipal de 
Itaguaçu, o que indica que a imagem foi tirada antes de 1988, quando, segundo a Mitra 
Diocesana de Colatina (2003), foi finalizado as escadarias e as edificações de anexo da 
Matriz. Na sequência, uma foto atual do ponto em questão, com a sobreposição da altura 
que as edificações podem atingir de acordo com o código de obras, e a última imagem, uma 
sobreposição das diretrizes propostas no mesmo ponto. 
A última sequência de imagens, o ponto 04, mostra o ponto atualmente, como ele pode ficar 
caso as edificações alcancem a altura máxima e as diretrizes propostas, nesse ponto existe 
o interesse da preservação, pois está localizado na esquina da Av. 17 de Fevereiro com a 
rua Josias Domingues dos Reis, sendo essa uma rua de passagem intermunicipal 
(MENESES, 2017). 
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Figura 03 - Imagens do ponto 01, ponto 02 e ponto 04 respectivamente – Comparações. Fonte: 
Elaborada pela autora, 2018. 
Por meio das imagens conseguimos perceber que houve uma obstrução parcial das visuais 
escolhidas para o estudo, e caso as edificações dos pontos cheguem a altura máxima 
permitida pelo código de obras do município, pode ocorrer a
obstrução total em todos os 
pontos descritos acima. 
O ponto 03 (Figura 04) está posicionado na rua Cel. Antônio Martinho Barbosa, a principal e 
mais antiga rua da cidade. Esta rua une o local da antiga capela e a primeira ponte, hoje já 
reformada, sobre o rio Santa Joana, que segundo Aurich (1958), foram as duas primeiras 
coisas feitas no município (MENESES, 2018). 
A altura máxima permitida nesse ponto, segundo o código de obras é de 10 metros 
(aproximadamente 3 pavimentos), sem considerar o afastamento de 3 metros. Se levarmos 
em consideração esse afastamento, em caso de demolição e construção de uma nova 
edificação, a altura máxima permitida passa para 13 metros (aproximadamente 4 
pavimentos) (MENESES, 2017). 
Na primeira foto desse ponto podemos perceber a reforma da Igreja, por esse motivo, 
conclui-se que a imagem foi tirada antes de 1988, quando, segundo a Mitra Diocesana de 
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Colatina foi o ano de conclusão das obras da Matriz. Levando em consideração essa 
informação, constata-se que a foto foi tirada apoximadamente na década de 70/80. Já a 
segunda imagem, mostra uma foto atual do ponto com a simulação das alturas permitidas, 
com poucas obstruções, devido ao seu posicionamento central em relação às edificações, 
nota-se que já existe um prédio que está acima do que é permitido pelo código de obras. Na 
ultima imagem pode-se observar as diretrizes aplicadas no ponto. 
 
Figura 04 – Imagens do ponto 03 e ponto 05, respectivamente - Comparação. Fonte: Elaborada pela 
autora, 2018. 
Segundo Meneses (2017), o ultimo ponto estudado, ponto 05 (figura 04), está localizado na 
esquina da Rua Valério Cóser com a Rua Josias Domingues dos Reis. Esse ponto, assim 
como o ponto 04, situa-se em uma região de passagem intermunicipal e está bem na 
entrada do centro da cidade. Reafirma-se que existe o interesse que os visitantes que 
passem por essas ruas consigam ver o elemento. 
Neste ponto, a rua possui uma largura de aproximadamente 14 metros, o que dá a 
possibilidade de altura máxima das edificações de 17 metros (aproximadamente 5 
pavimentos), em caso de novas edificações. A segunda comparação da Figura 03 mostra na 
primeira imagem o ponto atualmente, na segunda imagem a simulação com uma possível 
ocupação futura e a última imagem mostra as diretrizes aplicadas (MENESES, 2017). 
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Percebe-se, na imagem, que caso as edificações no ponto 05 alcancem a altura máxima 
permitida pelo código de obras da cidade, haverá a obstrução total da visual estudada. 
Para que isso seja eficaz, todos os projetos para novas construções ou alteração de altura 
em construções existentes inseridas nos cones de visual descritos anteriormente deverão 
ser submetidos a PMI para análise e aprovação. A tabela 01 faz um resumo das diretrizes 
propostas. 
Tabela 01 — Tabela resumo das alturas propostas para as edificações localizadas nos cones de 
visualização. 
 
Ponto Altura da edificação Altura adicional (telhados e platibandas) Altura máxima 
Ponto 01 3 metros 1,5 metros 4,5 metros 
Ponto 02 3 metros 1,5 metros 4,5 metros 
Ponto 03 6 metros 1,5 metros 7,5 metros 
Ponto 04 3 metros 1,5 metros 4,5 metros 
Ponto 05 3 metros 1,5 metros 4,5 metros 
 
Fonte: MENESES, 2017. 
 
4. CONCLUSÃO 
A paisagem cultural é o resultado da interação do homem e a natureza, a mesma funciona 
como um testemunho da história, revelando as práticas de um povo e os seus costumes. 
Por isso existe uma importância significativa na preservação dessas paisagens, que com o 
crescimento inapropriado das edificações podem ser perdidas parcialmente ou até 
totalmente. 
A simulação gráfica aqui exposta mostra as possíveis perdas geradas pela verticalização em 
determinados pontos, caso não haja um cuidado com as normas regidas no município de 
Itaguaçu. Este cruzamento de dados, feito pela comparação de fotografias antigas, atuais e 
simulações futuras, ajudou na identificação de diretrizes que indica a forma de ocupação 
propícia para determinados pontos da cidade. 
Quanto aos instrumentos que podem ajudar nesse controle, é preciso ressaltar a 
necessidade de inserção dessas diretrizes no planejamento municipal. Essas diretrizes 
podem auxiliar os governantes na hora de reconsiderar as normas redigidas no código de 
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obras e, podem ajudar na preservação da paisagem cultural do município e, 
consequentemente, a conservação da sua história. 
5. REFERÊNCIAS 
AURICH, Carlos Henrique. Introdução à história de Itaguaçu. Itaguaçu: Gráfica N.a S.a de Fátima, 
1958. 45 p. 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 35ª Ed. Brasília, 2012. 
Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Downloads/constituicao_federal_35ed.pdf>. Acesso em: 30 
mar. 2017. 
BRASIL. LEI Nº 1.494/2013 - Institui o código obras municipal e dá outras providências. 
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