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manual das organizações internacionais

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Prévia do material em texto

Ricardo Seitenfus 
Doutor em Relações Internacionais pelo Instituto Universitário 
de Altos Estudos Internacionais da Universidade de Genebra. 
Diretor da Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA) e 
Professor Titular do Departamento de Direito da 
Universidade Federal de Santa Maria, RS 
MANUAL DAS 
-ORGANIZAÇOES 
INTERNACIONAIS 
QUARTA EDIÇÃO 
Revista, Atualizada e Ampliada 
livrar��a 
DO AD �GADO 
edztora 
Porto Alegre 
2005 
JUST�Cf.!, v:::::;,)��AL 
Seçb:;� ". ·. · · :· >.\�·� �$ 
S462m Seitenfus, Ricardo Antônio Silva 
Manual das organizações internacionais I Ricardo Antônio 
Silv-a Seitenfus. 4. ed. rev., atual. e amp. - Porto Alegre: Livra­
ria do Advogado Ed., 2005. 
384 p. ; 16x23cm. 
ISBN 85-7348-37 6-8 
1 . Organização internacional. 2. Organização internacional 
regional. 3 . Cooperação econômica. 4. Cooperação econômi­
ca internacional. I. Título. 
CDU 341 .215.2 
339.923 
Índices para catálogo sistemático 
Cooperação econômica 
Cooperação econômica internacional 
Organização internacional 
Organização internacional regional 
(Bibliotecária responsável: Marta Roberto, CRB 10 I 652) 
"O tom que ganharem os organismos internacio­
nais ao longo do tempo definirá o que pode ser e 
o que podemos fazer com aquilo que chamamos 
de globalização" 
Caetano Veloso 
Siglas e abreviaturas 
ACNUR - Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados 
AG - Assembléia Geral das Nações Unidas 
AID - Agência Internacional de Desenvolvimento 
AIEA - Agência Internacional de Energia A tômica 
ALADI - Associação Latinoamericana de Integração e Desenvolvimento 
ALALC- Associação Latinoamericana de Livre Comércio 
ALCA - Área de Livre Comércio das Américas 
ANZUS - Organização de Segurança e Assistência entre Austrália, Estados Unidos 
e Nova Zelândia 
APEC - Organização de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico 
ASEAN - Associação de Nações do Sudeste Asiático 
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento 
BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (Banco Mundial) 
BIT - Birô Internacional do Trabalho 
CARICOM - Comunidade do Caribe 
CARIFTA - Associação de Livre Comércio do Caribe 
CARTA - Carta das Nações Unidas 
CE - Conselho da Europa 
CECA - Comunidade Européia do Carvão e do Aço 
CEE - Comunidade Econômica Européia 
CEI - Comunidade dos Estados Independentes 
CEPAL - Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e Caribe 
CFI - Corporação Financeira Internacional 
CJCE - Corte de Justiça das Comunidades Européias 
CIJ - Corte Internacional de Justiça 
CNUCED ou UNCT AD - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvi-
mento 
CPEGL - Comunidade Econômica dos Países dos Grandes Lagos 
CPJI - Corte Permanente de Justiça Internacional 
CS - Conselho de Segurança das Nações Unidas 
CSCE - Conferência para a Segurança e a Cooperação na Europa 
DIP - Direito Internacional Público 
ECOSOC - Conselho Econômico e Social das Nações Unidas 
EFTA - Associação Européia de Livre Comércio 
EURATOM - Comunidade Européia de Energia Atômica 
FAO- Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura 
FENU - Forças de Emergência das Nações Unidas 
FIDA - Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola 
FMI - Fundo Monetário Internacional 
G 8 - Grupo dos Oito 
GATT - Acordo Geral de Tarifas Alfandegárias e Comércio 
GRULA - Grupo dos Países da América Latina nas Nações Unidas 
IDI - Instituto de Direito Internacional 
IMCO - Organização Intergovernamental Consultiva Marítima 
LEA - Liga dos Estados Árabes 
MCCA - Mercado Comum Centroamericano 
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul 
NAFTA - Área de Livre Comércio da América do Norte 
NU - Nações Unidas 
OACI - Organização da Aviação Civil Internacional 
OCDE - Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico 
ODECA - Organização dos Estados Centroamericanos 
OEA - Organização dos Estados Americanos 
OECE - Organização Européia de Cooperação Econômica 
OI - Organização Internacional 
OIT - Organização Internacional do Trabalho 
OLADE - Organização Latinoamericana de Energia 
OMC - Organização Mundial de Comércio 
OMI ou IMO - Organização Marítima Internacional 
OMM - Organização Meteorológica Mundial 
OMS - Organização Mundial da Saúde 
OMT - Organização Mundial do Turismo 
ONG - Organização Não-Governamental 
ONGAT - Organização Não-Governamental de Alcance Transnacional 
ONU - Organização das Nações Unidas 
ONUDI - Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial 
OPANAL - Organismo para a Proscrição das Armas Nucleares na América Latina 
OP AQ - Organização para a Proscrição das Armas Quimicas 
OPEP - Organização dos Países Exportadores de Petróleo 
OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte 
OTASE - Organização do Tratado do Sudeste Asiático 
OUA - Organização de Unidade Africana 
P A - Pacto Andino 
PACTO - Pacto da Liga das Nações 
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
PD - Países Desenvolvidos 
PVD - Países em Desenvolvimento 
SDN - Sociedade (ou Liga) das Nações 
SELA - Sistema Econômico Latinoamericano 
SFI - Sociedade Financeira Internacional 
TANU - Tribunal Administrativo das Nações Unidas 
TJCE - Tribunal de Justiça das Comunidades Européias 
UEAC - União dos Estados Centroafricanos 
UIT - União Internacional de Telecomunicações 
UN - Nações Unidas 
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura 
U ICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância 
. CT AD ou CNUCED - Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvi­
mento 
U - União Postal Universal 
No ta à Quarta Edição 
Coloco à disposição dos leitores uma edição renovada do Ma­
nual das Organizações Internacionais . Às indispensáveis atualiza­
ções, em razão do dinamismo do objeto de nossos estudos, foram 
feitas modificações e acrescentadas informações buscando tornar o 
texto o mais completo possível. Um grande número de novas tabelas, 
quadros e gráficos - alguns inéditos e outros extraídos de obras de 
colegas que se debruçam sobre temas conexos - enriqueceu e densi­
ficou a presente edição. 
Contudo, a obra conserva sua característica maior. Trata-se de 
um "manual" elaborado com o intuito de chamar a atenção dos 
estudantes e dos cidadãos para o importante fenômeno das Organi­
zações Internacionais. Estas são constante e superficialmente referi­
das pelos meios de comunicação de massa, pelos políticos e pelos 
governos, ausente qualquer preocupação em aprofundar seu enten­
dimento. Ora, como obra de iniciação, ela deve provocar uma sensi­
bilização e sugerir um marco de reflexão. No entanto, ela deve 
continuar sendo necessariamente descritiva, concedendo importante 
espaço às informações institucionais. 
De natureza elementar, a obra não pretende orientar o debate 
para as questões doutrinárias. Sua reduzida dimensão nos obriga a 
proceder constantes escolhas. Estas são orientadas pela busca do 
concreto a fim de alcançar um objetivo prático. 
Isso não a impede a defesa de algumas idéias como, por exem­
plo, a solidariedade humana decorrente do surgimento e do fortale­
cimento das Organizações Internacionais. Ao mesmo tempo que este 
traço é enfatizado, não escapa a baixa qualidade desta solidariedade 
e a ineficácia dela decorrente. Portanto, este Manual foi concebido e 
realizado por alguém que, embora desprovido de ilusões, conserva 
imensas esperanças na evolução da sociedade internacional e no 
papel que nela podem desempenhar as Organizações Internacionais. 
Santa Maria, maio de 2005. 
Nota às edições anteriorres 
3a Edição 
A presente edição contém importantes modificações. Em razão 
da publicação por esta mesma Editora de coletânea por mim organi­
zada sob o título «Textos Fundamentais do Direito das Relações 
Internacionais», foi suprimido o anexo que se encontra nas duas 
primeirasedições do Manual das Organizações In ternacionais. 
As páginas liberadas foram utilizadas para o aprofundamento 
de múltiplos aspectos das organizações internacionais. O leitor en­
contrará, por exemplo, informações suplementares sobre o FMI, a 
OMC, a OIT e as instituições não-governamentais . Por outro lado, 
novas instituições foram incluídas, tais como a OP AQ. 
Espero que este manual de iniciação ao estudo das organizações 
internacionais continue auxiliando os estudantes e o cidadão brasi­
leiro a melhor apreender a natureza, os contornos e os limites da 
cooperação internacional. 
Santa Maria, fevereiro de 2003. 
2a Edição 
Decorridos escassos dois anos da la edição do Manual das Orga­
nizações In ternacionais, constato, com satisfação, a excelente acolhida 
que lhe foi reservada. Adotado em várias Universidades brasileiras, 
a obra consta da bibliografia aconselhada para o disputado concurso 
do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores do 
Brasil . O sucesso desse livro demonstra que surge no Brasil, tanto na 
Universidade quanto fora dela, um crescente interesse pelas ativida­
des das Organizações Internacionais. 
A presente edição, atenta à evolução da cena internacional, foi 
modificada em diver?OS itens, seja para atualização, seja para trazer 
informações suplementares. 
No campo da cooperação econômica e financeira, indico novos 
elementos sobre a Organização Mundial de Comércio (item 6.3 .6) e 
acrescento um quadro sobre a estrutura do Fundo Monetário Inter­
nacional (item 6.3 .2) . Por outro lado, o recente conflito do Kosovo 
ocasiona uma renovação das reflexões sobre o relacionamento 
ONU/OTAN (item 9.1 .4). 
Não se pode deixar de mencionar, ainda, a assinatura, em julho 
de 1998, do Estatuto da Corte Penal Internacional, por 120 Estados. 
Por essa razão, acrescentou-se ao final do capítulo 3 um novo item, 
que arrola as sete jurisdições internacionais em funcionamento na 
atualidade (item 3.4). Embora não se trate de matéria de organizações 
internacionais, o conhecimento mínimo sobre tais instâncias é im­
prescindível à compreensão das primeiras. 
Finalmente, para facilitar o acesso do público a documentos e 
boletins informativos de dezenas de entidades, o final desta edição 
traz uma lista dos sítios mantidos na Internet pelas principais Orga­
nizações Internacionais, tanto públicas quanto privadas. 
Santa Maria, setembro de 1999. 
Prefácio 
O estudo sistemático das organizações internacionais como dis­
ciplina acadêmica passou a adquirir feição própria e a desenvolver­
se a partir da introdução, nas Universidades européias, ao longo dos 
anos cinqüenta, da cátedra de "Instituições Internacionais". Logo se 
desenvolveram duas correntes de tratamento da nova disciplina: 
uma primeira, cultivada nas Universidades da Europa Continental, 
que pode se denominar corrente "institucional", marcou-se pelo exa­
me das organizações internacionais no contexto mais amplo da his­
tória diplomática e do direito internacional público. A outra, que 
floresceu na Grã-Bretanha, e que pode se chamar corrente "constitu­
cional", caracterizou-se pelo estudo dos problemas "constitucionais" 
das organizações internacionais. 
Decorridas duas décadas, teve início o cultivo da nova discipli­
na no Brasil, de forma permanente e sistemática . Uma experiência 
pioneira entre nós constituiu a introdução da matéria, como discipli­
na obrigatória, na Universidade de Brasília, nos cursos de seu então 
Departamento - hoje Instituto - de Ciência Política e Relações Inter­
nacionais. Entre os anos de 1978 e 1994, coube-me a regência da 
disciplina, no âmbito do direito internacional público, mas já ante­
vendo sua eventual emergência como disciplina acadêmica autôno­
ma. Em meu Direito das Organizações Internacionais (Brasília, Escopo 
Editora, 1990, 521p.) , busquei examinar as questões jurídicas básicas 
e comuns a todas as organizações internacionais, a saber: personali­
dade jurídica internacional, interpretação de poderes, capacidade de 
celebrar tratados, estrutura e funcionamento, processo decisório, di­
reito interno ou próprio, mecanismos internos de controle, delimita­
ção de competências entre as organizações e os Estados-Membros, 
natureza e classificação e efeitos jurídicos dos atas (resoluções) das 
organizações. 
Transcorridos alguns anos mais, com a presente publicação do 
Manual das Organizações Internacionais, de autoria do Professor Ricar-
do Seitenfus, que tenho a grata satisfação e o privilégio de prefaciar, 
dá-se outro passo no sentido de consolidar e difundir o estudo das 
organizações internacionais em nosso país. Sua publicação se dá em 
momento oportuno, em que o cenário internacional passa por pro­
fundas transformações, em meio às quais emergem novas organiza­
ções, e outras se alteram, e se intensificam os debates correntes 
acerca das reformas do próprio sistema das Nações Unidas, de modo 
a adaptá-lo à agenda internacional do novo século. 
O presente Manual, obra de iniciação ao estudo das organizações 
internacionais, adota um enfoque próprio, de modo a dirigir-se não 
só aos estudiosos do Direito, mas também das Ciências Sociais e da 
História. Ao revestir-se de propósito essencialmente didático, abor­
da aspectos tanto teóricos corno operacionais do quotidiano das or­
ganizações internacionais, revelando a visão de alguém que 
reconhece e sente sua relevância a partir da perspectiva do hemisfé­
rio sul. Ademais, corno o próprio autor assinala, abre caminho para 
o aprofundamento do estudo através da leitura, pelos interessados 
na matéria, de suas indicações bibliográficas, ao final do Manual. 
Desse modo, passa a presente obra a dirigir-se a um público leitor 
particularmente amplo. 
Seu enfoque interdisciplinar já era de se esperar, em razão da 
própria formação do autor. O Professor Ricardo Seitenfus, já há 
muito conhecido de seus colegas dos círculos acadêmicos brasileiros, 
doutoroy-se em Relações Internacionais pelo Institut Universitaire de 
Hautes Etudes Internationales (IUHEI), de Genebra, sendo hoje Profes­
sor Titular de Relações Internacionais do Mestrado em Integração 
'Latino-Americana da Universidade Federal de Santa Maria (Rio 
Grande do Sul). Autor de várias obras (entre as quais, recentemente, 
Uma História Diplomática do Brasil (1531-1945), Rio de Janeiro, Civili­
zação Brasileira, 1995, 512p., em co-autoria com o Professor José 
Honório Rodrigues), tive o prazer de com ele trabalhar, nos primei­
ros anos da década de noventa, no desenvolvimento do Projeto 
Sessenta Anos de Política Externa Brasileira, da Universidade de São 
Paulo (Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da USP) e do 
Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) do Ministério 
das Relações Exteriores (ele corno coordenador da Comissão Orga­
nizadora, e eu corno integrante da Comissão Editorial do referido 
Projeto). 
O presente Manual das Organizações Internacionais, seu novo li­
vro, aborda, de início (parte II), os aspectos teóricos da matéria, já aí 
despontando o enfoque interdisciplinar na consideração de questões 
comuns às organizações internacionais, sem descuidar de sua evolu-
ção histórica. A seguir, examina aspectos jurídicos (parte III), não se 
limitando à personalidade jurídica das organizações internacionais, 
mas se detendo também no atual debate acerca da delimitação das 
competências entre as organizações e os Estados-Membros, em con­
textos e situações distintos, e pelo prisma a um tempo jurídico e 
político . Nas partes subseqüentes da obra (IV a IX), elenca o autor 
as organizações internacionais - tanto políticas corno econôrnicas, e 
nos planos tanto global corno regional - com a preocupação pedagó­
gica; consoante o enfoque interdisciplinar (não essencialmente jurí­
dico)� não descuida das organizações não-governamentais (parte X) . 
E certamentecom a maior satisfação que receberão o presente 
livro do Professor Ricardo Seitenfus todos os que se dedicam ao 
estudo da matéria . Importa que o interesse pela mesma desperte 
definitivamente e se difunda ao máximo, mormente em um país com 
as dimensões do Brasil. Com a publicação deste Manual, de tanta 
utilidade aos estudiosos oriundos de distintas áreas de especializa­
ção, dá o autor a sua contribuição, das mais válidas, neste propósito. 
Só podemos sinceramente esperar, todos os que há anos acompanha­
mos com a maior atenção a operação e a evolução das organizações 
internacionais, que logrem estas adaptar-se de modo a atender às 
necessidades da humanidade no limiar do novo século, e contribuir 
eficazmente a que as relações internacionais se conduzam doravante 
pautadas por maior solidariedade humana. 
Brasília, abril de 1997. 
Antônio Augusto CANÇADO TRINDADE 
Ph.D. (Cambridge) em Direito Internacional, 
Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos, 
Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, 
Ex-Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil (1985-1990) 
Sumário 
1. Intródução 
2. Teoria das organizações internacionais 
2 .1 . Definição . . . . . . . . . . . . . . . . . 
2.2. Elementos constitutivos . . . . . . . . 
2 .3 . Enfoques dos estudos das organizações internacionais 
2.4. Origem histórica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
2.4. 1 . O surgimento do Estado e as premissas da organização 
internacional . . . . . . . . . 
2.4.2. As doutrinas precursoras . . . . . . . . 
2.4.3 . A experiência nas Américas . . . . . . 
2.4.4. As uniões técnicas e administrativas . 
2.5. Classificação das organizações internacionais . 
2.5 . 1 . A classificação segundo a natureza 
2.5.2. A classificação segundo suas funções . . 
2.5.3 . A classificação segundo a estrutura do poder 
2.5.3 . 1 . As regras do processo de tomada de decisões 
2.5 .3 .2. Os procedimentos . . . . . . . . . 
2.5.3 .3 . A direção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 
2.5.4. A classificação segundo sua composição . . . . . . . . 
2.6. As organizações internacionais em movimento: considerações sobre o 
processo de tomada de decisões . . . . . . . . . . . 
2.6. 1 . A ideologia das organizações internacionais . . 
2.6.2. A realidade do processo decisório . . . . . . . . 
3. Personalidade jurídica das organizações internacionais 
3 . 1 . Fundamentos . . . . . . . . . . . . . . 
3 .2. Competência e instrumentos de ação . 
3 .2 . 1 . Natureza e extensão . . . . . . . . 
3 .2 .1. 1 . Competência norma ti v a 
3 .2 . 1 .2. Competência operacional . 
3 .2. 1 .3 . Competência impositiva 
3 .2 . 1 .4. O controle . . . . . . . 
3 .2.2. Os instrumentos materiais . . . 
3 .2.2. 1 . Os recursos humanos . 
3 .2.2.2. Os recursos financeiros 
3 .3 . A representação dos Estados-Membros . 
3 .4. As jurisdições internacionais . . . . . . . 
25 
29 
32 
34 
35 
38 
39 
41 
41 
43 
44 
45 
45 
47 
47 
50 
51 
51 
52 
52 
55 
59 
60 
64 
65 
65 
67 
68 
82 
84 
84 
91 
97 
100 
4. A Liga das Nações 103 
4. 1 . Origem . . . . . 103 
4.2. Características . 106 
4.2 .1 . Os Estados-Membros 106 
4.2.2. Os mecanismos de manutenção da paz 109 
4 .2.3 . A estrutura institucional 110 
4.3 . A crise da Liga das Nações . . . . . : . 1 13 
4.3 . 1 . Os pequenos sucessos . . . . . . 1 14 
4.3 .2. Os grandes fracassos . . . . . . 118 
4.4. Um balanço da experiência da SDN . 123 
5. A Organização das Nações Unidas . . . 125 
5 . 1 . Origem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 
5.2. Características da Carta de São Francisco 128 
5 .3 . Os Estados-Membros . . . 135 
5.4. A estrutura . . . . . . . . . . . . . 138 
5.4. 1 . A Assembléia Geral 140 
5 .4.2. O Conselho de Segurança 142 
5 .4.3 . O poder de veto . . . . . . 144 
5 .4.4. O Conselho Econômico e Social . 149 
5.4.5. O Secretariado . . . . . . . . . . . 152 
5.5. A Corte Internacional de Justiça . . . . 155 
5.6. As Nações Unidas em movimento: um balanço de suas realizações 158 
5 .6 .1 . A impossível socialização do desenvolvimento . . . . . . . . . 159 
5.6 . 1 . 1 . As transformações institucionais . . . . . . . . . . . . . 161 
5.6 . 1 . 1 . 1 . Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o 
Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 
5.6 . 1 . 1 .2. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 162 
5 .6 .1 .2. O resultado das transformações . 163 
5.6.2. Outras ações das Nações Unidas . . . . 164 
5 .6 .3 . Limites e reforma do sistema . . . . . . 178 
6. As organizações internacionais especializadas . 181 
6. 1 . Conceito . . . . . . . . . . 181 
6.2. Origem . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182 
6.3 . Características das crises . . . . . . . 184 
6.4. Estrutura da cooperação econômica . 186 
6.4.1 . Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) . 186 
6.4.2. Fundo Monetário Internacional (FMI) 190 
6.4.2 .1 . A Argentina e o FMI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 
6.4.2.2. O Brasil e o FMI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205 
6.4.3 . Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) . 206 
6.4.4. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e 
Agricultura (FAO) . . . . . . . . . . . . · . . . . . . . . . . . . . 208 
6.4.5. Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento 
Industrial (ONUDI) . . . . . . . . . . . . . . . 210 
6.4.6. Organização Mundial do Comércio (OMC) . . . . . . . . . . 211 
6 .5 . Estrutura da cooperação social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 226 
6.5.1 . Organização Internacional do Trabalho (OIT) . . . . . . . . 226 
6.5.2. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e 
Cultura (UNESCO) . . . . . . . . . . . . 232 
6.5.3 . Organização Mundial da Saúde (OMS) . . . . . . . . . . . . . 233 
6.6. Estrutura da cooperação em comunicações . . . . . . . . . 235 
6.6. 1 . União Postal Universal (UPU) . . . . . . . . . . . . . . 236 
6.6.2. União Internacional de Telecomunicações (UIT) . . . 238 
6.6.3 . Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) 239 
6.6.4. Organização Marítima Internacional (OMI) . 241 
6.7 . Cooperação com fins específicos . . . . . . . . . . . . . . . . 243 
6.7 . 1 . Organização Meteorológica Mundial (OMM) . . . . 243 
6.7 .2. Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) . 245 
6.7 .3 . Organização para a Proibição das Armas Químicas (OP AQ) 249 
6.7 .4. Organização Mundial de Turismo (OMT) . 25 2 
7. A Organização dos Estados Americanos (OEA) . . . . . . 255 
7 .1 . Condicionantes das relações inÍ:eramericanas . . . . . . 255 
7 .2. Origens das organizações internacionais nas Américas 25 6 
7 .3 . Fundamento da OEA . . . . . 260 
7 .3 . 1 . Objetivos e Princípios . . . . . . . . . . . . . . . . . 260 
7 .3 .2. Estrutura Institucional . . . . . . . . . . . . . . 262 
7 .4. A solução pacífica dos litígios e a institucionalização da cooperação 
militar: o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) 268 
7 .5 . Um balanço da experiência da OEA . . . . . . . . . . . . 270 
7 .6. Perspectivas da OEA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 2 
8. As organizações de cooperação econômica nas Américas 275 
8 . 1 . Uma organização de alcance continental . . . . . . . . . 27 8 
8.2. As organizações de alcance regional . . . . . . . . . . . 27 9 
8.2. 1 . Associação Latino-Americana de Integração e Desenvolvimento 
(ALADI) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27 9 
8.2.2. Sistema Econômico Latino-Americano (SELA) . . . . . . . 281 
8.2.3 . Organização dos Estados Centro-Americanos (ODECA) . 282 
8.2.4. Mercado Comum Centro-Americano (MCCA) 283 
8.2.5 . Comunidade do Caribe (CARICOM) . . . . . . . . . 284 
8 .2.6.Pacto Andino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 284 
8.2.7 . Área Norte-Americana de Livre Comércio (NAFTA) 286 
8.2.8. Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) . . . . . . . . 288 
8.2.8.1 . O prelúdio do Mercosul: os acordos argentino-brasileiros 288 
8.2.8.2. O nascimento do Mercosul . . . . . . . . . . 290 
8.2.8.3 . As características do Tratado de Assunção 291 
8.2.8.4. A atual estrutura do Mercosul . 294 
9. As organizações regionais não-americanas . . 30 1 
9 . 1 . As organizações dos países desenvolvidos . . 30 1 
9 . 1 . 1 . União Européia . . . . . . . . . . . . . . . 30 1 
9 . 1 .2. Uma Constituição para a Europa? . . . 3 1 1 
9 . 1 .3 . Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) 315 
9 .1 .4. Conselho da Europa (CE) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 17 
9 .1 .5 . Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) . . . . . 319 
9.1 .6. Organização para Segurança e Cooperação Européia (OSCE) 324 
9 .1 .7 . G rupo dos Oito (G 8) . . . . . . . . . . . . . 326 
9.2. As organi�ações dos países em desenvolvimento . 329 
9.2 . 1 . Na Africa 330 
9.2.2. Na Ásia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 334 
10. As Organizações Não-Governamentais de Alcance Transnacional (ONGAT) 337 
10 .1 . Conceito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 339 
10.2. As organizações internacionais frente às ONGAT: cooperação ou 
competição? . . . . . . . . . . . . . . . 342 
10.3. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . 344 
10 .3 . 1 . As ONGAT de harmonização 345 
1 0.3.2. As ONGAT de intervenção . . 348 
10.4. As ONGAT: nascimento de uma sociedade civil internacional? . 35 0 
11. Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 3 
12. Anexo 
Quadro cronológico resumido sobre a participação do Brasil nas 
organizações internacionais . . . . . 35 7 
FMI - Cotas dos Estados-Membros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 9 
13. Bibliografia 
13 .1 . Obras fundamentais . . 365 
13.2. Obras complementares 366 
13.3. Artigos . . . . . . . . . . 370 
1 4. Endereços das Organizações Internacionais na Internet 
14.1 . Organizações governamentais . 373 
14.2. ONGAT . . 375 
15. Índice analítico . . . . . . . . . . . . . 377 
1 
Introdução 
A organização das sociedades humanas foi impregnada, a partir 
do século XVI, pelo modelo do Estado que alcançou seu apogeu no 
século XIX e começou a declinar ao longo do século passado. Perce­
bido por muitos como sendo uma simples categoria histórica e um 
fenômeno passageiro destinado a desaparecer, o Estado adquiriu, ao 
contrário, densidade e se multiplicou esquartejando a totalidade da 
face da Terra. 
Contudo, para fazer frente à complexidade crescente das rela­
ções internacionais - extraordinária teia que envolve múltiplos as­
pectos e interesses - os Estados decidiram criar novas instituições 
decorrentes dos liames permanentes que surgem entre eles e que 
fossem capazes de levar adiante ações de interesse comum. Portanto, 
estas organizações constituem um elemento novo, externo aos Esta­
dos, possuidoras de uma existência objetiva de natureza internacio­
nal. Em outras palavras, o fenômeno que nos interessa é algo 
decorrente da vontade do Estado, mas que se encontra além dele. 
Até o surgimento das instituições internacionais havia simples­
mente a clássica comunidade de direito internacional reunindo as 
instituições nacionais. Entre elas, estabeleciam-se relações contra­
tuais que respeitavam princípios mínimos de direito costumeiro. 
Ora, a sociedade internacional que hoje vigora é muito distinta a 
reunir uma significativa e diversa quantidade de organizações inter­
nacionais. Atualmente, o número de OI em atividade é superior ao 
de Estados soberanos, sem levar em consideração as sociedades e 
instituições não-governamentais. Elas constituem um espaço de diá­
logo, por vezes de confronto, que representa um esforço civilizatório 
significativo no contexto das relações internacionais. 
Decorrentes de negociações multilaterais que defendem uma 
concepção ampla e durável de seus interesses, os Estados criam uma 
moldura permanente e cómoda de consulta e concertação sem incor-
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rer no formalismo diplomático excessivo do passado. As instituições 
internacionais introduzem o multilateralismo através do que con­
vencionou-se denominar diplomacia parlamentar. Por ser coletiva e 
pública, esta prática afasta a diplomacia secreta, que sempre foi um 
dos elementos de desequilíbrio e de confronto na cena internacional. 
As OI se responsabilizam pela correta operacionalização dos 
tratados internacionais concluídos pelos Estados. Estas normas de­
vem ser respeitadas pelos Estados soberanos, condição sine gua non 
para que possam integrar uma organização internacional. E igual­
mente uma forma de reconhecimento do outro, de aceitação da dife­
rença, que minora a concepção autárquica do Estado. 
Ultrapassando os limites do político, as OI demonstraram que 
os interesses nacionais dos Estados-Membros podem vir a combinar­
se muito melhor na vida prática a partir do momento em que surgem 
fenômenos de complementariedade e de solidariedade entre eles. A 
multiplicação de entidades internacionais de natureza técnica e es­
pecializada que gravitam em volta das Nações Unidas constitui claro 
exemplo desta tendência. 
Estes organismos são dotados de maiores meios e de objetivos 
e responsabilidades crescentes: funções de arquivo, preparação de 
reuniões, elaboração de documentos de maneira consensuada, reda­
ção de regulamentos, gerenciarnento de novos serviços e o auxílio 
técnico e financeiro concedido a certos Estados. Para fazer frente à 
crescente densidade e diversificação dos interesses nacionais surge 
uma cooperação construtiva através das OI. 
Há também a constatação de que estas associações merecem 
consideração diferenciada entre seus Estados-Membros, sendo, no 
mais das vezes, inversamente proporcional à importância que eles 
mesmos detêm frente aos demais. Em outras palavras, os Estados 
encontram no sistema das organizações internacionais condições que 
eles não disporiam caso mantivessem unicamente um relacionamen­
to bilateral. Trata-se de urna constatação de alcance geral, embora 
tenha maior importância para os Estados que não dispõem de gran­
des atributos de poder. 
O fenômeno organizacional do sistema internacional adquiriu 
grande relevância ao longo do século que passou, especialmente a 
partir da Segunda Guerra Mundial. Existem, na atualidade, aproxi­
madamente mil organizações internacionais, a grande maioria de 
âmbito regional e uma centena delas de alcance universal. 
Assim, o estudo deste conjunto de coletividades, mais ou menos 
autônomas, é uma das peças fundamentais para que sejam com­
preendidas as complexas relações internacionais contemporâneas. E 
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ele somente pode ser feito a partir da conjugação de diversos enfo­
ques, numa iniciativa multidisciplinar. A história, o direito, a econo­
mia e a política são ângulos indispensáveis no tratamento de um 
tema muito presente na Europa ocidental e na América do Norte, 
embora pouco consolidado como doutrina ou conhecimento acadê­
mico. No Brasil, é escasso o próprio interesse pelo estudo das orga­
nizações internacionais. 
Esta publicação é um manuat que não foge às peculiaridades 
do gênero. Obra de iniciação, busca ser rigoroso ao descrever as 
organizações internacionais, e ao mesmo tempo, transcende a sim­
ples descrição na medida em que coloca em evidência os mecanismos 
do processo de tomada de decisões e não se furta de abordar o 
controverso tema que trata do grau de eficácia das organizaçõesinternacionais. Pode-se dizer, portanto, que o característico sobrevôo 
dos manuais é complementado por avaliações sobre a ação concreta 
destas associações de Estados. 
Evidentemente, este manual é escrito a partir de uma perspec­
tiva brasileira ou, na melhor das hipóteses, do continente americano. 
Objetiva atrair a atenção dos leitores para que, uma vez interessados 
no tema, sejam lançados à amplitude do objeto através da bibliografia 
nele arrolada. 
A obra possui uma parte teórica em seus dois primeiros capítu­
los, que procura conceituar as organizações internacionais, tratando 
de forma científica este recente fenômeno. A seguir, utilizando-se da 
classificação proposta nos capítulos iniciais, divide as organizações 
segundo seu alcance e seus propósitos. As duas organizações uni­
versais- Liga das Nações e Organização das Nações Unidas- me­
recem uma atenção particular. 
Posteriormente, o capítulo 6 trata das dezessete organizações 
especializadas de âmbito universal. Os dois capítulos seguintes são 
consagrados às experiências ocorridas nas Américas com um enfo­
que especiat por um lado, sobre a Organização dos Estados Ameri­
canos e, por outro, nos organismos regionais de cooperação 
econômica. 
Foi feito igualmente um sobrevôo das organizações regionais 
não-americanas, especialmente as que reúnem os Estados desenvol­
vidos onde se destaca a experiência singular da União Européia. 
Num capitulo resumido, há o tratamento, em grande? pincela­
das, das organizações não-governamentais de alcance transnacional. 
Malgrado o fato de não ser objeto deste Manuat tornou-se impossí­
vel eludir este crescente fenômeno da vida coletiva internacional. 
- 27-
Os anexos contêm um quadro resumido da participação brasi­
leira nas mais importantes OI, a listagem atualizada dos Estados­
Membros em algumas organizações internacionais e uma bibliografia 
especializada sobre a temática. Finalmente, com vistas a facilitar o 
trabalho dos pesquisadores são indicados os endereços eletrônicos 
de um número significativo de OI e um índice analítico. 
- 28 -
2 
Teoria d as organizações internacionais 
O direito internacional, codificando o costume e estabelecendo 
princípios e regras básicas para a convivência entre os Estados, lança 
as primeiras - portanto, rudimentares - bases de organização da 
sociedade internacionai .l Estes alicerces são bilaterais e respondem 
a interesses específicos dos países contratantes. Daí surgiram os 
acordos com o objetivo de regularizar a situação das pessoas que 
detêm dupla nacionalidade, avenças sobre a concessão de imunidade 
diplomática, sobre a extradição e a cooperação judiciária, ou sobre a 
delimitação de territórios contíguos. A condição destes acordos é a 
reciprocidade. 
Um patamar superior de cooperação internacional foi alcançado 
quando três ou mais Estados decidiram trabalhar para atingir fins 
comuns. Passamos então do bilateralismo para o multilateralismo. 
Este vem a ser o traço fundamental da organização internacional 
contemporânea. Sua evolução demonstra que as primeiras grandes 
conferências internacionais tinham um objeto definido, embora não 
houvesse preocupação com a periodicidade destas reuniões. Poste­
riormente, as conferências tornaram-se freqüentes, fazendo surgir 
um embrião de institucionalização em razão desta regularidade. 
Finalmente, foi necessário que estas conferências resolvessem 
duas questões práticas: por um lado, a preparação da agenda e da 
infra-estrutura indispensáveis à realização do encontro. Por outro, a 
1 Convém anotar que a denominação de sociedade internacional não reflete com exatidão o que 
pretendemos descrever. Trata-se do meio internacional ou sistema internacional. Todavia, optan­
do por outra designação, utilizada com freqüência pela literatura, qual seja a expressão comu­
nidade internacional, estaríamos nos distanciando mais ainda das características objetivas que 
marcam as relações internacionais. Com efeito, a expressão comunidade implica a existência de 
uma comunhão de interesses e a vontade de viver de forma congraçada. Ora, as relações inter­
nacionais demonstram que o congraçamento não consiste no maior de seus traços. Portanto, 
adotamos a expressão sociedade in ternacional no seu sentido sociológico, a demonstrar a exis­
tência de um mínimo de vontade de convivência. 
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necessidade de manter uma memória do que foi decidido. Aparece­
ram então os secretariados das conferências, fazendo com que surgis­
se, efetivamente, a organização internacional. 
Esta evolução desemboca na consolidação de três de suas prin­
cipais características : multíla teralídade, permanência e institucionaliza­
ção. Não existe nenhuma controvérsia no que diz respeito às duas 
primeiras. A multilateralidade pode caracterizar-se pelo regionalismo 
ou pelo universalismo. Mais do que os objetivos e princípios, a dife­
rença entre o regionalismo e o universalismo é encontrada na com­
posição dos sócios. Os primeiros pertencem ao espaço físico 
delimitado, onde a contigüidade geográfica é uma das principais, 
mas não decisiva, características. Ao contrário, as organizações in­
ternacionais de cunho universalista não fazem discriminação de ori­
gem, de organização política ou de localização entre seus sócios. 
As relações entre as organizações regionais e as universais são 
estabelecidas nos tratados constitutivos. Os compromissos assumi­
dos pelos Estados em âmbito regional não podem ser incompatíveis 
com os firmados na organização universaP Portanto, esta condicio­
na tanto os acordos regionais passados quanto os futuros à estrita 
observância dos termos do tratado de âmbito universal. 
A permanência das organizações internacionais manifesta-se 
através de dois elementos. Por um lado, a organização internacional 
é criada com o objetivo de durar indefinidamente. Isto não pressu­
põe que ela seja perene, pois muitas organizações internacionais já 
desapareceram; ou ainda que os Estados-Membros não possam de­
sobrigar-se e dela retirar-se, após cumprir o rito previsto no tratado 
constitutivo. A duração por tempo indeterminado prende-se à au­
sência de qualquer limite temporal estabelecido no ato constitutivo, 
mesmo que este contenha a previsão, de forma explícita, de sua 
própria reforma, porém excluída, desde logo, a sua extinção. 
2 O artigo 20 do Pacto da Liga das Nações "revoga todas as obrigações ou acordos entre si, 
incompatíveis com os seus termos, e [os Estado signatários] se comprometem, solenemente, a 
não contrair, no futuro, outros, semelhantes". Além disso, "se, antes de sua entrada na Socie­
dade, algum Membro tiver assumido obrigações incompatíveis com os termos do Pacto, esse 
deverá adotar medidas imediatas para se desligar de tais obrigações". O artigo 52 da Carta 
das Nações Unidas, mesmo reconhecendo que "nada na presente Carta impede a existência 
de acordos ou entidades regionais, destinadas a tratar dos assuntos relativos à manutenção da 
paz e da segurança internacionais que forem suscetíveis de uma ação regional", enfatiza que 
tal liberalidade pressupõe que "tais acordos ou entidades regionais e suas atividades sejam 
compatíveis com os Propósitos e Princípios das Nações Unidas" . O artigo 136 da Carta da 
Organização dos Estados Americanos (OEA) reconhece a primazia da organização universal 
ao definir que "nenhuma das estipulações desta Carta se interpretará no sentido de prejudicar 
os direitos e obrigações dos Estados Membros, de acordo com a Carta das Nações Unidas". 
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De outra parte, o caráter permanente dasorganizações interna­
cionais expressa-se pela criação de um Secretariado, com sede fixa, 
dotada de personalidade jurídica internacional, que permite a assi­
natura de acordos-sede, com a aplicação do princípio da inviolabili­
dade e com os direitos e obrigações inerentes às atividades de 
representação diplomática no exterior. Para o cumprimento de suas 
funções, a organização internacional possui capacidade para emitir 
passaportes ou laissez-passer para seus funcionários. Estes não per­
dem a nacionalidade original mas, no exercício de suas obrigações 
funcionais, dispõem de documentos legais fornecidos pela organiza­
ção internacional. 
A questão da institucionalização das organizações internacionais 
é bastante complexa, em razão da natureza da realidade internacio­
nal, cuja essência consiste no sistema relacional entre os Estados; isto 
é, urna intrincada rede de relações bilaterais. O objetivo desta prática 
secular é fornecer aos Estados as condições para a sua segurança. 
Com o surgimento das organizações internacionais, o sisternà rela­
cional não desapareceu, na medida em que, até o momento, as rela­
ções no âmbito das organizações não atingiram um grau que pudesse 
vir a substituí-lo. 
Os Estados, ao manterem suas prerrogativas tradicionais de 
exercício do poder, concordaram em criar mecanismos multilaterais 
dotados de instrumentos capazes de atuar nos mais diversos cam­
pos, inclusive de forma preventiva, corno, por exemplo, quando se 
trata da manutenção da paz e da segurança internacionais. Todavia, 
as funções das organizações internacionais são percebidas de forma 
diferenciada pelos Estados-Membros. 
A institucionalização pressupõe três elementos. O primeiro deles 
é a previsibilidade de situações que outrora passavam a ser tratadas 
coletivarnente apenas quando os interessados buscassem auxílio ou 
atuassern em defesa própria. A organização, em seus tratados, prevê 
fatos e condutas que virão a materializar-se na realidade e atribuir­
lhe conseqüências, inclusive, entre elas, sanções internacionais. Cria­
se, assim, um espaço institucional de solução de conflitos e de 
relacionamento interestatal. Neste sentido, o advento das organiza­
ções internacionais é um importante fator de juridicização das rela­
ções internacionais. 
O ganho que deveria advir da institucionalização pode ser sin­
tetizado pela previsibilidade, via de conseqüência, das próprias re­
lações internacionais - leia-se estabilidade do sistema -, bem corno 
um maior grau de justiça das decisões coletivas. Naturalmente, estas 
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vantagens dependem da equação de poder compreendida pelas or­
ganizações internacionais, tanto quanto da eficácia de sua atuação.3 
O segundo elemento a ser considerado é a soberania. A partici­
pação de um Estado numa organização internacional pode vir a 
significar a necessidade de dimensionar coletivamente certas com­
petências que antes pertenciam ao absoluto domínio nacional, no 
caso de algumas culturas sob a forma de um dogma. 
Como último elemento, é necessário frisar que a vontade mani­
festada por um Estado de aderir à organização internacional é que 
condiciona sua posterior aceitação do processo decisório em curso, 
desde que o mesmo respeite os tratados acordados. Portanto, a pos­
terior denúncia não exime o Estado de sua sujeição ao decidido no 
período em que integrava o corpo coletivo. 
A mais simplista e primária forma de institucionalização con­
siste em formar um restrito secretariado administrativo sob a respon­
sabilidade, por vezes rotativa, de um dos sócios. A mais complexa e 
avançada se reflete na delegação de competência e poderes dos Es­
tados-Membros para um órgão supranacional, capacitado a impor as 
decisões e controlar sua forma de aplicação. Como exemplo atual e 
marcante, serve uma parte da estrutura orgânica da União Européia 
- a Comissão Européia e o Tribunal de Luxemburgo. 
A existência de uma organização internacional pressupõe a ma­
nifestação da vontade dos sócios. Portanto, o voluntarismo deve ser 
acrescido da formalização jurídica obtida através da assinatura de 
um tratado que implica a responsabilidade estatal. Do ponto de vista 
jurídico, tem duplo sentido a natureza do tratado que origina uma 
organização internacional. Pelo prisma formal, ele possui as caracte­
rísticas próprias de um acordo e, materialmente, representa ao mes­
mo tempo um tratado e uma espécie de Constituição, eis que determina 
a estrutura e o funcionamento de um novo ente autônomo. 
2. 1 . DEFINIÇÃO 
As organizações internacionais são associações voluntárias de Es­
tados4 que podem ser definidas da seguinte forma: trata-se de uma 
3 "A organização internacional tende a corrigir o caráter facultativo dos procedimentos polí­
ticos e jurisdicionais, colocando a sua disposição instâncias pré-instituídas", in DUPUY, R.-J., 
Le droit international, Paris, PUF, 1993, p. 115. 
4 Em razão das características de seus sócios, as organizações internacionais são interestatais, 
pois a responsabilidade dos Estados encontra-se comprometida. Neste sentido, a intergover­
namentabilidade das organizações internacionais decorre da atuação do Estado em seu seio 
através do governo. 
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sociedade entre Estados, constituída através de um Tratado, com a finali­
dade de buscar interesses comuns através de uma permanente cooperação 
entre seus membros .5 O artigo 2°, § 6°, da Carta das Nações Unidas 
ressalta o voluntarismo desta participação, pois a ONU não pode 
impor sua autoridade a um Estado que não a compõe.6 
O tratado constitutivo de uma organização internacional objeti­
va estabelecer os direitos e obrigações dos Estados-Membros com as 
organizações internacionais e, muitas vezes, entre os Estados-Mem­
bros. Portanto, a criação e o funcionamento de uma organização 
internacional depende do tratado constitutivo, como dele também 
depende o respeito aos direitos e deveres dos Estados-Membros em 
suas relações recíprocas. Por esta razão, os Estados mais débeis in­
gressam nas organizações internacionais em busca de legitimação e 
segurança. 
Muitos autores enfatizam a importância de a organização inter­
nacional ser dotada de instituições, ou seja, de órgãos próprios. Al­
guns, como Paul Reuter, somente consideram a existência de uma 
organização internacional quando ela pode, através de uma organi­
cidade própria e independente, manifestar uma vontade distinta dos 
Estados-Membros? Em outras palavras, caso a institucionalização 
represente um novo espaço para a atuação dos Estados sem que eles 
deleguem ou concedam instrumentos de atuação à OI com um míni­
mo grau de autonomia, a organização internacional assim concebida 
será um mero instrumento estatal, já que desprovida de seu elemen­
to fundacional. 
Desta percepção decorre uma definição distinta das organizações 
internacionais. Assim, estas seriam uma associação voluntária entre 
Estados, constituída através de um tratado que prevê um aparelhamento 
institucional permanente e uma personalidade jurídica distinta dos Estados 
que a compõem, com o objetivo de buscar interesses comuns, através da 
cooperação entre seus membros .8 
5 Esta definição permite distinguir as organizações internacionais das empresas transnacionais, 
de caráter econômico, que possuem uma matriz num determinado Estado e atividades de 
produção ou serviços através de filiais localizadas em outros Estados. Portanto, devemos 
descartar a denominação de empresas multinacionais utilizada em grande parte da literatura. 
6 Contudo, as regras e os princípios contidos em um Tratado constitutivo de uma organizaçãointernacional com vocação universal podem adquirir, através do costume, valor para os Esta­
dos não-membros. Exemplos nos são fornecidos pela declaração da República Federal Alemã 
de 1954, que aceita os princípios contidos na Carta da ONU, ou ainda o artigo 28 da Convenção 
de Viena sobre o Direito dos Tratados. 
7 REUTER, P., Institu tions internationales, Paris, Dalloz, p. 199. 
8 A Conferência de Viena sobre o Direito dos Tratados define de forma sucinta as organizações 
internacionais: entende-se por Organização Internacional uma organização intergovernamental (art. 2°). 
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2.2 . ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
a) Os membros de uma organização internacional são os Esta­
dos, portanto, etimologicamente, poderíamos identificar uma orga­
nização internacional como sendo uma organização interestatal. Este 
elemento descarta, por conseguinte, as organizações internacionais 
de cunho privado ou aquelas que concedam igual condição jurídica 
a membros públicos e privados. Isso não quer dizer que as organi­
zações interestatais não venham a acolher instituições privadas como 
conselheiras ou consultoras. 
b) A constituição de uma organização internacional é feita atra­
vés de um tratado, ou seja, um acordo firmado entre os Estados 
segundo as normas do direito internacional. Portanto, elas são de 
origem clássica que se inspira no Direito dos Tratados. As exceções 
são encontradas no caso da União Européia, que deu nascimento a 
um direito próprio - o Comunitário - e as organizações de integração 
econômica criadoras de um Direito da Integração. 
c) O tratado firmado entre os Estados-Membros equivale tam­
bém à constituição da organização internacional. Por essa razão, o 
texto que dá origem à organização é denominado tratado constitu tivo . 
Nele se encontram os objetivos e os instrumentos previstos para 
alcançá-los. Caso os meios previstos se mostrem insuficientes ou 
inadaptados para que sejam concretizados os objetivos definidos nos 
tratados constitutivos, é aplicado o princípio da capacidade implícita 
que dispõe a OI. 
d ) A existência de uma organização internacional implica o 
estabelecimento de órgãos permanentes . Mesmo que a direção dos 
trabalhos da OI possa vir a ser feita através de um rodízio entre os 
Estados-Membros - caso do Mercosul - existe um corpus funcional e 
uma estrutura de permanente de poder, amplo ou reduzido, a servi­
ço da instituição. 
e) As organizações internacionais são sujeitos mediatos ou secun­
dários da ordem jurídica internacional.9 Isso significa dizer que ao 
contrário dos Estados que nascem a partir do momento do preenchi­
mento de certos requisitos, tanto o surgimento quanto o desapareci­
mento de uma OI está a depender de uma vontade externa à sua. 
f) Uma organização internacional pressupõe a existência de ob­
jetivos de interesse comum entre os Estados-Membros. Por conseguin­
te, as OI exercem uma função de cooperação interestatal que pode 
9 A única excessão é a União Européia, pois o seu caráter supranacional permite que ela se 
constitua em sujeito imediato ou primário da ordem jurídica internacional. 
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ser operacionalizada basicamente de duas maneiras: (a) por um lado, 
deixando intacta a estrutura da sociedade internacional composta 
por Estadós soberanos (organizações de cooperação) ou (b) buscando 
aproximar os Estados que dela fazem parte, exercendo em seu nome 
certas funções delegadas (organizações de in tegração) . 
g) Os Estados criam ou associam-se livremente às organizações 
internacionais. Portanto, eles o fazem numa expressão de vontade 
própria de origem nacional. A base voluntarista das OI decorre, igual­
mente, do fato que toda organização repousa sobre um tratado. Mes­
mo quando urna OI nasce de --urna resolução adotada em urna 
conferência internacional - caso da OPEP - tal resolução deve ser 
entendida corno um acordo em forma simplificada que possui o 
valor de um tratado. 
h) Os Estados-Membros de urna OI, além das desigualdades 
material e objetiva que os caracterizam, podem ser considerados 
titulares de direitos e deveres diferenciados na condição de integrantes 
do coletivo . 
i) Os Estados fundadores das OI são definidos corno membros 
originários, e os demais, membros ordinários ou associados. 
2.3. ENFOQUES DOS ESTUDOS 
DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS 
Apesar da crescente importância das instituições internacionais 
nas relações interestatais, internacionais e transnacionais, o estudo 
deste fenômeno é bastante recente. O estreito e tradicional vínculo 
entre o direito internacional público e o estudo das organizações 
internacionais, além de restringir o enfoque destas à exclusiva per­
cepção jurídica, fez com que o entendimento do novo fenômeno do 
mundo contemporâneo estivesse imbricado a urna disciplina que 
normalmente era ministrada ao final da formação jurídica. 
Com a aceleração da integração mundial, qualquer que seja a 
conotação que queiramos atribuir à popular globalização, os estudio­
sos viram-se obrigados a identificar o ambiente internacional no qual 
atuarn os sistemas nacionais. O ambiente internacional é, ao mesmo 
tempo, jurídico, político, econôrnico, social e militar. Sua compreen­
são, ainda que mínima, é condição indispensável para o entendimen­
to dos fenômenos internos dos Estados. Estes, aliás, não são mais os 
atares solitários da nova realidade internacional. Além das forças 
transnacionais privadas, corno, por exemplo, as empresas comer­
ciais, industriais ou financeiras, as relações internacionais compor-
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tam a existência de outros atares, como as organizações não-gover­
namentais e as internacionais. 
A manutenção da paz e a busca do desenvolvimento econômico 
e social fazem as organizações internacionais desempenharem um 
papel de prestadoras de serviços internacionais aos Estados. Portan­
to, as relações entre fenômenos intra e extra-estatais são constantes e 
profundas. São estas circunstâncias que tornaram os estudos das orga­
nizações internacionais elemento fundamental para a formação nos 
vários ramos das Ciências Sociais em muitos sistemas educacionais. 
Ao conseguir desvencilhar-se do fardo de constituir um simples 
apêndice do direito internacional público e ao tornar-se, em várias 
importantes Universidades dos países desenvolvidos ocidentais, dis­
ciplina obrigatória da gradução, o estudo da organização das relações 
internacionais conquistou seu próprio espaço nas Ciências Sociais. 
Contudo, a experiência educacional brasileira encontra-se mui­
to distante das necessidades de entendimento do cenário internacio­
nal. Raros são os cursos dedicados às relações internacionais. Nos 
cursos de formação jurídica, a matriz curricular, no que diz respeito 
às questões internacionais, é a mesma que as Faculdades de Direito 
da Europa Ocidental e da América do Norte aboliram durante os 
anos 1950. 
Nestas condições, é significativo o escasso interesse para as 
publicações nacionais que se debruçassem exclusivamente sobre a 
organização das relações internacionais . 10 Os modernos manuais de 
direito internacional público editados no Brasil oferecem um peque­
no espaço para o estudo das organizações internacionais. Trata-se, 
geralmente, da inserção de um pequeno capítulo descritivo, no final 
do livro, que fornece dados sobre as instituições internacionais. 
Todavia, sem desmerecer o importante substrato jurídico nas 
análises sobre as instituições internacionais, consideramos que esta 
percepção não consegue indicar o grau de eficácia das organizações 
e as relações de poder entre seus integrantes. Analisar as instituições 
internacionais sob o exclusivo prisma jurídico consisteem cometer 
o mesmo erro de analisar as instituições políticas nacionais basean­
do-se exclusivamente nos textos constitucionais e suas interpretaçõ­
es jurídicas. 
Já na década de 1930, os primeiros ensaios publicados sobre a 
experiência da Liga das Nações, também chamada Sociedade das 
Nações (SDN), enfatizavam a necessidade de transcender o enfoque 
10 Cabe ressãltãr a pioneirã publicação do Prof. Cançado Trindade sobre o Direito das Organi­
zações Internacionais, Brasília, Escopo, 1990, 521 p. e a publicação do Prof. Albuquerque Mello, 
Direito Internacional da Integração, Rio de Janeiro, Renovar, 1996, 357 p. 
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jurídico para bem entender o fenômeno das organizações internacio­
nais. Assim, nascem os internacionalistas, os quais, diferentemente 
dos juristas dedicados ao Direito Internacional Público, estão cons­
cientes das limitações dos estudos exclusivamente jurídicos das or­
ganizações e realidade internacionais. 
O melhor exemplo encontra-se em William Rappard, com seu 
estudo sobre a Crise mundial, publicado em 1938. Ele identifica duas 
formas distintas e de valor desigual, para o estudo da SDN. Esta 
organização, não logrando alcançar aquilo que seus fundadores pre­
tendiam, devendo adaptar-se ao mundo real, não poderia ser com­
preendida unicamente através do direito: seria indispensável 
recorrer ao método histórico. 
O método jurídico, segundo Rappard, "quando aplicado à aná­
lise do Pacto da Sociedade [das Nações], pode iluminar-nos sobre as 
intenções de seus redatores. Mas ele não pode, naturalmente, reve­
lar-nos o verdadeiro caráter de uma instituição que, apesar de ter 
nascido de seus esforços, não corresponde mais às suas expectativas. 
Por outro lado, para determinar o seu caráter, caso estendamos a 
aplicação do método jurídico de análise do Pacto à da jurisprudência 
dos órgãos da Sociedade das Nações, nós encontramos, imediata­
mente, uma grande dificuldade. Esta jurisprudência, com efeito, não 
é obra unicamente da Corte Permanente de Justiça Internacional, 
mas também de todos os outros órgãos da Sociedade". 
Portanto, além do texto constitutivo das organizações interna­
cionais, os juristas devem levar em consideração tanto as interpreta­
ções que são fornecidas pela Corte de Haia, quanto as oriundas dos 
próprios órgãos da estrutura das organizações internacionais. 
Quando se analisa a jurisprudência emanada dos órgãos das 
organizações internacionais, percebe-se que a falta de ortodoxia }u­
rídica e as permanentes e decisivas injunções de ordem política atin­
gem o cerne dos compromissos coletivos das organizações 
internacionais. Assim, não surpreende que as organizações interna­
cionais, como, por exemplo, a SDN e a ONU, tenham criado comis­
sões, após décadas de existência, encarregadas de estudar as 
questões relativas à aplicação de seus princípios func�adores e os 
problemas decorrentes. 
O que é o método histórico? Deve-se afastar de pronto a escola 
histórica tradicional que alinha um rosário de fatos, muitos sem clara 
conexão, e os apresenta como sendo a totalidade do real. A qualifi­
cação do método histórico, quando aplicado ao estudo das organi­
zações internacionais, consiste, antes de mais nada, nos instrumentos 
analíticos que têm como objeto o poder em movimento. Ou seja, os 
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fatores objetivos que diferenciam e hierarquizam as quase duas cen­
tenas de Estados soberanos que constituem as Nações Unidas. O 
movimento representa o entrechoque de interesses e valores, expres­
sos ou velados, entre os sócios. 
A interpenetração dos métodos histórico e jurídico é fenômeno 
recente dos estudos interdisciplinares. Assim, estamos distantes do 
nível científico que marca os estudos sobre as instituições políticas 
estatais . Renomados historiadores do século XIX, como Webster, 
Dupuy e Nicolson, não recorreram à análise do Congresso de Viena 
e do Diretório europeu, apesar de estes Congressos lançarem as 
bases da organização internacional contemporânea . Por outro lado, 
cabe ressaltar que certos juristas, ao analisarem as instituições inter­
nacionais, tendem a considerá-las como sendo fenômenos estáticos, 
incapazes de evolução ou involução. 
2.4. ORIGEM HISTÓRICA 
Ha dois pressupostos básicos para que exista uma sociedade 
internacional organizada nos moldes da atual: por um lado, a pre­
sença de múltiplos Estados que são os sujeitos desta sociedade e, por 
outro, que estes Estados se considerem reciprocamente em igualdade 
de condições jurídicas, ou seja, que exista um respeito mútuo entre 
eles. · 
Sinais de solidariedade entre grupos humanos já se manifestam 
desde a Antiguidade. Num primeiro momento, foram estabelecidas 
regras de arbitragem entre as cidades gregas. Em seguida, no século 
V, surge a aplicação do princípio confederativo, segundo o qual cada 
cidade fazia-se representar no Conselho segundo um peso pondera-· 
do calculado através da importância de cada um de seus membros. 
O perigo que ronda estes burgos faz com que muitos deles coorde­
nem sua política de defesa e compartilhem de uma defesa coletiva, 
sustentada pela contribuição financeira dos participantes. 
Mais do que as rivalidades entre as cidades, a predominância 
de Aten"as e as guerras com os Persas e Macedônicos, o que demons­
trou os limites da solidariedade no mundo helênico foi a inexistência 
do respeito mútuo entre os sujeitos de direito. Certamente, há muitos 
Estados. Contudo, eles desconsideravam a igualdade jurídica já que 
Israel se autoproclamava o único povo eleito; os gregos percebiam 
os demais povos como bárbaros, e os romanos pretendiam uma 
dominação universal. Assim, a Antiguidade se sustentava essencial­
mente no princípio da subordinação - base dos impérios da Assíria, 
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Babilônia, Pérsia, Egito e de Roma - que obtinham a paz unicamente 
através da guerra. 
A Idade Média faz surgir, de fato, uma sociedade transnacional. 
Contudo, não se trata de organizar as relações dentro do mundo 
cristão, mas submetê-lo à autoridade espiritual e temporal do Papa 
e do Imperador. Tal diarquia concedeu ao Papa um verdadeiro pre­
domínio na esfera internacional. Ele atuou, durante quase toda a 
Idade Média, como árbitro supremo e inapelável dos conflitos entre 
os Príncipes cristãos. Estes foram liberados de juramentos, eximin­
do-se de obrigações contraídas via tratados. O Papa adjudicava im­
périos a distintos Estados, como o fizeram Inocêncio III e Alexandre 
VI com as Bulas papais que dividiram as terras a serem descobertas 
no Novo Mundo. 
Apesar de ser considerada a primeira forma de organização ou 
de governo supranacional da sociedade internacional, o poder exer-. 
ciclo pelo Papado não pode ser assimilado à de uma organização 
internacional nos moldes atuais. Não somente o Papa procurava 
estender o imperialismo romano para dominar o. conjunto dos cris­
tãos do Ocidente, mas sobretudo a natureza da organização interna­
cional contemporânea - obra feita pelo Estado - está muito distante 
do poder espiritual exercido pelo Papado. 
2.4.1. O surgimento do Estado e as premissas da 
organização internacional 
A contestação da primazia do Papado e da influência do Impe­
rador ao final da Idade Média - obra do Renascimento e da Reforma 
- provoca o surgimento de monarquias nacionais e de Estados laicos. 
Abre-se uma era que se estende aos dias atuais e durante a qual a 
sociedade internacional irá adquirir novos contornos. Os Tratados 
de Vestefália (1648), mais do que colocar um termo a Guerra dos 
Trinta Anos, estabeleceram um "sistema pluralista e secular de uma 
sociedade de Estados independentes, substituindo, desde então, a 
ordem providencial e hierarquizada da Idade Média" . 1 1 
Surgindo contra o Papado e os os senhores feudais, os Estados 
afastaram a idéia oferecida pela experiênciada Igreja . Eles poderiam 
substituir o poder do Papado por uma autoridade criada pelo esfor­
ço coletivo entre eles e que estivesse a seu serviço. Ao contrário 
disso, definiram claros objetivos igualitarios: formalização de sua 
1 1 De VISSCHER, Ch., Théories et Réalités en Droit International Public, Paris, 1953, p. '19 . 
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independência; rechaço de qualquer autoridade que se encontre fora 
e acima deles; igualdade soberana entre eles e admissão da existência 
de uma relação de poder entre os Estados. 
A balança de poder entre os Estados que caracterizou a Idade 
Média foi definida por Talleyrand como a relação entre as forças de 
agressão recíproca dos diversos corpos políticos. Nestas condições, 
não surpreende o fato de ser impossível a estruturação pacífica das 
relações internacionais através de uma organização da sociedade 
entre os Estados que a compõem. O resultado desta opção foi a 
cristalização de uma sociedade hobbesiana marcada pelas guerras 
dinásticas, lutas de hegemonia, guerra repressiva, inclusão de cláu­
sulas secretas contra terceiros Estados nos tratados e as alianças 
militares . De fato, estamos frente a uma sociedade anárquica marca­
da por uma guerra permanente de todos contra todos. 
O início do século XIX aporta as premissas de uma mudança 
com o surgimento de um embrião de organização da sociedade in­
ternacional. O final das guerras napoleônicas permite a formação da 
Santa Aliança em 1815 . Tem início a "era dos Congressos", que faz 
surgir a diplomacia de alcance multilateral no continente europeu. 
A partir de então, os problemas europeus serão debatidos em seu 
mais alto nível e, sobretudo, não serão objeto de deliberações bilate­
rais, mas coletivas. 
Trata-se de uma pentarquia que reúne, a partir de 1818, Aústria, 
França, Prússia, Reino Unido e Rússia sob a denominação de "Dire­
tório Europeu". Pela primeira vez na história, as Grandes Potências 
se reunem em tempo de paz para solucionar seus problemas através 
de consultas. Por conseguinte, surge claramente uma preocupação 
com a prevenção dos conflitos. Todavia, é necessario fazer uma dis­
tinção entre o objetivo perseguido pelo Diretório - luta contra os 
governos revolucionários que se opunham à monarquia, inclusive 
com intervenção armada - e o significado para o surgimento das 
organizações internacionais dos mecanismos de concertação imagi­
nados por ele. 
Apesar de seu fenecimento a partir de 1825, a experiência da 
Santa Aliança é retomada pelo Concerto Europeu - novo modelo de 
governo de fato e oligárquico da sociedade internacional. O senti­
mento de solidariedade dos países vencedores de Napoleão fez sur­
gir um processo de entendimento na Europa, baseado no princípio 
da monarquia, legitimado no direito divino e do equilíbrio de poder 
entre seus integrantes. Todavia, não se tratava de organizações in­
ternacionais no sentido estrito, mas de um esforço permanente de 
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consultas diplomáticas para que os litígios e diferendos entre os 
Estados não se transformassem em guerras. 
As reuniões ocorriam sobre uma base voluntarista, e seus resul­
tados não eram coercitivos. Por esta razão, o Concerto Europeu nun­
ca esteve em condições de impor suas decisões a uma grande 
potência . Entretanto, o Concerto conseguiu intervir de forma coleti­
va na China e lutou de maneira coordenada para colocar um termo 
ao tráfico negreiro e à escravidão. Definiu, no Congresso de Berlim 
de 1885, as regras para a divisão colonial da África. 
O encontro entre as experiências multilaterais européias e ame­
ricanas ocorreu no final do século. Foram as duas primeiras Conferên­
cias de Haia (1899 e 1907) que, de forma inédita, tentaram estabelecer 
princípios jurídicos comuns para a organização internacional. 
2.4.2. As doutrinas precursoras 
Os constantes conflitos entre grupos socialmente organizados 
conduziram a humanidade, desde o século XIV, a interrogar-se sobre 
os meios de controlar a guerra e tornar permanente a paz. Incipientes 
e de escasso alcance, as idéias de constituição de uma organização 
internacional de caráter universal foram manifestadas por Pierre 
Dubois e, em 1464, por George de Podiebrad, Rei da Boêmia, com 
um projeto de manutenção da paz na Europa. 
A partir do século XVI, novos estudos são divulgados por Wil­
liam Penn, Jean-Jacques Rousseau, os abades São Pedro e Gregório. 
Surge o importante trabalho de Kant sobre a paz perpétua. Contudo, 
a manifestação destas vontades isoladas ou de pequenos grupos não 
atinge a política dos Estados que prosseguem em uma concepção 
nacional e individualista da segurança de seus respectivos Estados. 12 
2.4.3. A experiência nas Américas 
O perigo de uma reconquista, por parte da Espanha, de sua 
ex-colônia peruana e as idéias integracionistas defendidas por Simon 
12 Os pesquisadores brasileiros estão sendo contemplados com a inédita e impressionante 
publicação da Coleção Clássicos do IPRI (edição da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 
UnB e Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores). 
Ela se compõe, numa primeira etapa, de 21 volumes com as obras fundamentais de autores 
que marcaram o pensamento sobre os assuntos internacionais. Cada texto é apresentado e 
comentado por um especialista brasileiro. A maioria dos autores referidos neste Manual 
compõe a Coleção. 
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Bolívar, a fim de resguardar a jovem independência da América 
Latina, fazem com que vários países do continente reúnam-se no 
Panamá em meados de 1826. 
O Primeiro Congresso dos Estados Americanos conta com a 
participação da Colômbia (atualmente os territórios da Colômbia, 
Equador, Panamá e Venezuela), da América Central (Costa Rica, 
Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador), dos Estados Uni­
dos Mexicanos e do Peru. São observadores a Grã-Bretanha e a Ho­
landa. Argentina, Bolívia, Brasil e Estados Unidos da América não 
se fazem representar. 
Neste Congresso, é firmado o Tratado do Panamá, prevendo a 
formação de uma Confederação de Estados, com o objetivo de manter 
a paz e buscar soluções negociadas para os conflitos. Do ponto de 
vista institucional, é prevista uma assembléia geral onde todos os 
países deveriam estar em perfeita igualdade jurídica. 
Sem ratificações, o Tratado do Panamá confronta-se com a rea­
lidade política do Novo Mundo, e seus objetivos se diluem. Parado­
xalmente, não foram as ex-metrópoles ibéricas os principais 
adversários do movimento de aproximação, mas os próprios latino­
americanos . Ao contrário do pretendido por Bolívar, aos conflitos 
continentais seguem-se guerras civis, provocando a desintegração 
territorial de vários Estados. A Grande Colômbia é dividida em 
quatro Estados independentes; a América Central também se frag­
menta, e vários conflitos territoriais - Guerra do Paraguai e Méxi­
co/Estados Unidos - demonstram rapidamente os limites das 
tentativas de organização pan-americanas. 
Ainda assim, os Estados latino-americanos reúnem-se periodi­
camente para tratar de problemas comuns. O Congresso de Lima 
(1847-48) decide criar uma Confederação de Estados - jamais concreti­
zada - e define regras para o comércio e a navegação. Em 1856, a 
reunião acontece em Santiago do Chile e apesar da pouca repre­
sentatividade, pois tão-somente três países participam, é firmado um 
Tratado de Aliança Militar e de Assistência Recíproca. No mesmo ano, 
outros países aderem a esta proposta. Porém, a ausência de ratifica­
ção compromete sua aplicação. 
O Terceiro Congresso de Lima (1864-65) debate a contínua de­
sintegraçãocontinental que ameaça a América Latina. Suas resolu­
ções novamente sofrem pela ausência de ratificação. A fragilidade 
do processo de concertação aliada às dificuldades para a criação de 
vínculos confederais entre os países latino-americanos leva Simon 
Bolívar a convencer-se da inutilidade de seus esforços. Ele afirma 
que eles são tão eficazes quanto "arar no mar" . 
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É digna de nota a oposição da monarquia brasileira à aproxima­
ção com as jovens repúblicas hispanoamericanas. Estas, progressiva­
mente engolfadas por problemas internos, dão-se as costas e 
abandonam os projetas de cooperação. 
Os Estados Unidos já haviam, em 1823, indicado de forma uni­
lateral as bases sobre as quais as relações da América Latina com o 
mundo deveriam ser concretizadas. Trata-se da Doutrina Monroe que, 
sob o manto dos interesses britânicos, pretende afastar as antigas 
metrópoles da América Latina. A contrapartida é representada pela 
intenção de Washington de não interferir nos assuntos europeus. 
Entre 1889 e 1890, reuniu-se em Washington, agora sob a con­
duta dos Estados Unidos, a Primeira Conferência Internacional dos 
Estados Americanos. A ampla e pretensiosa agenda pretendia definir 
um sistema permanente de arbitragem, além da diminuição e har­
monização das tarifas de importação por parte dos países latino­
americanos. 
Apesar de seu fracasso, a Conferência criou um escritório de 
divulgação de oportunidades comerciais para os países-membros. 
Além disso, instaurou-se, a partir desta reunião, uma regularidade 
na convocação das conferências que deveriam realizar-se a cada cin­
co anos. Os Estados Unidos tornaram-se elemento preponderante em 
todos os ajustamentos futuros na organização das relações interame­
ricanas. 
Na Conferência de Buenos Aires, em 1910, o Escritório Comer­
cial transforma-se na União Panamericana. Contudo, a eclosão da 
Primeira Guerra Mundial interrompeu a regularidade das reuniões. 
Após 1919, o Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, pro­
pôs um pacto nas Américas semelhante àquele que cria a Liga das 
Nações. A proposta contemplava, entre outros elementos, uma pan­
americanização da Doutrina de Monroe e o princípio da segurança 
coletiva continental. Somente com o surgimento da Organização dos 
Estados Americanos (OEA), através da Carta de Bogotá em 1948, tais 
princípios serão aceitos. 
2.4.4. As uniões técnicas e administrativas 
No início do século XIX, um certo número de Estados é conven­
cido de que, em razão da natureza dos interesses comuns que come­
çam a surgir, seria menos onerosa e mais prática a constituição de 
órgãos internacionais permanentes em vez de continuar reunindo 
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conferências diplomáticas de maneira pontual e descontínua, como 
haviam feito até então. 
Desta forma, surgiram as primeiras organizações internacionais 
para tratar de questões técnicas. Assim, já em 1815, foi criada uma 
comissão fluvial internacional para tratar da administração conjunta 
da navegação no Reno e, em 1856, criou-se a comissão do Danúbio. 
Na segunda metade do século XIX, em torno de questões admi­
nistrativas, foram criados instrumentos de cooperação. Assim, fun­
dam-se a União Telegráfica (1865), a União Postal Universal (1874), 
a União para a Proteção da Propriedade Intelectual (1883) e a União 
das Ferrovias (1890) . 
As condições de trabalho e de vida dos operários das manufa­
turas fez aparecer uma consciência social na Europa durante o século 
XIX. Em 1900, uma conferência diplomática, reunida em Paris, criou 
a Associação Internacional para a Proteção Legal dos Trabalhadores 
(AIPLT). Lançou-se, então, a semente da futura Organização Inter­
nacional do Trabalho (OIT), fundada em 1919. 
Os consistentes esforços das organizações técnicas e administra­
tivas identificaram-nas como as precursoras da solidariedade inter­
nacional . Como declarou o internacionalista francês Louis Renault, 
apesar de estes organismos serem ignorados pela opinião pública, 
eles "fizeram mais pela civilização e o entendimento entre os povos 
do que célebres diplomatas" . 
2 .5 . CLASSIFICAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES 
INTERNACIONAIS 
O rápido crescimento, sobretudo após 1945, do número de or­
ganizações internacionais foi acompanhado por uma extraordinária 
variedade de modelos, formas, eficácia e propósitos. Como não po­
deria deixar de ser, os especialistas propuseram múltiplas técnicas e 
princípios para tentar colocar um mínimo de ordenamento e coerên­
cia em estudos que abordam o que parece ser inclassificável. Com o 
objetivo de tornar mais orgânica a exposição, ressaltando nela carac­
terísticas comuns das organizações internacionais, proceder-se-á a 
uma identificação de suas semelhanças e diferenças. 
O inventário classificatório das organizações internacionais 
obedece a certos princípios básicos . Assim, elas podem ser identifi­
cadas: 
a) pela natureza de seus propósitos, atividades e resultados; 
b) pelo tipo de funções que elas se atribuem; 
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c) pelos poderes ou estrutura decisória que elas dispõem; 
d) pela composição, ou seja, trata-se de organismos compostos de 
forma universal e não discriminatória ou, ao contrário, existem prin­
cípios que colocam limites à participação dos Estados. 
2.5.1. A classificação segundo a natureza 
A forma mais simples de identificar as organizações internacio­
nais implica o delineamento de dois propósitos distintos. Por um 
lado, as organizações que perseguem objetivos políticos e, por outro, 
as organizações que objetivam a cooperação técnica . As primeiras 
enfrentam questões essencialmente conflitiva , e as segundas traba­
lham com assuntos vinculados à cooperação funcional. 
As organizações internacionais de natureza política podem pre­
tender congregar a totalidade do mundo, como, por exemplo, a Liga 
das Nações ou a ONU, ou somente parte deste, caso da Organização 
dos Estados Americanos (OEA) e da União Africana (UA) . Seu traço 
fundamental prende-se ao caráter político-diplomático de suas ativi­
dades. Seu objetivo primeiro é a manutenção da paz e da segurança 
internacionais de alcance universal ou regional. 
As organizações internacionais de natureza política exercem 
sua influência sobre questões vitais dos Estados-:vfembros, como por 
exemplo a soberania e a independência nacional. Sua forma de ação 
é essencialmente preventiva. Assim, para o Estado, o fato de ser 
integrante da entidade exige a observância de certas normas de con­
vívio internacional, que tendem a impedir a tomada de decisões 
militares externas ou mesmo de alguma decisões internas, por 
exemplo, na área dos direitos humanos, que Yenham a ferir os com­
promissos assumidos, sem a anuência prévia da organização inter­
nacional. 
As entidades podem agir de forma a reparar atos praticados 
pelos Estados-Membros que sejam considerados lesivos à sua carta 
constitutiva . Trata-se essencialmente de contrapor-se a agressões de 
um Estado-Membro contra outro. Em razão de seus objetivos, in­
cluem-se neste rol as organizações internacionais de caráter militar. 
As organ izações de cooperação técnica, denominadas também de 
organizações especializadas, descartam, em princípio, a interferência 
em assuntos de natureza política e restringem-se unicamente a apro­
ximar posições e tomar iniciativas conjuntas em áreas específicas. 
Estas são delineadas pela natureza dos problemas que só podem ser 
enfrentados com a ação do coletivo internacional. Trata-se, por 
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