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EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE AULA 2 Profª Ana Lúcia de Araújo Claro 2 REFLEXÕES SOBRE A EPISTEMOLGOIA GENÉTICA E A PSICOLOGIA MODULAR CONVERSA INICIAL Nesta aula discutiremos os fundamentos que dão sustentação à prática psicopedagógica. No primeiro momento, apresentaremos o conceito da Epistemologia Genética, destacando sua origem e significados. Em seguida, exploraremos os conceitos centrais da teoria de Piaget, como assimilação, acomodação e equilibração. Após isso, serão apresentados os estágios do desenvolvimento do conhecimento descritos por Piaget. Depois, apresentaremos o conceito da Psicopagogia Modular. E, por último, exploraremos os instrumentos modulares utilizados na prática psicopedagógica. Com esta aula, temos os seguintes objetivos: Refletir sobre a importância da epistemologia genética para o processo de aprendizagem; Discutir os principais conceitos da teoria de Piaget; Explicitar os estágios do desenvolvimento descritos por Piaget; Conceituar a Psicopedagogia Modular; Apresentar os instrumentos utilizados na Psicopedagogia Modular. TEMA 1 – A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA: ORIGEM, CONCEITO Ao discorrermos sobre a epistemologia genética, é importante destacar o conceito e origem da palavra epistemologia. Oliveira (2016, p. 17) define-a como “um campo da filosofia que estuda o conhecimento. Assim, sua origem é proveniente do grego episteme (que significa “ciência”) e logos (que se refere a “discurso”, “estudo”). Segundo o Dicionário Houaiss (2009, p. 783-784), epistemologia significa uma “reflexão em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano. Teoria do conhecimento. Estudos dos postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico”. A epistemologia genética tem como seu idealizador Jean Piaget, considerado como um dos nomes mais influentes do século XXI. Seu foco principal é estudar como o ser humano constrói o conhecimento. 3 Segundo Pádua (2016, p. 22), Piaget destacou-se como psicólogo infantil, no entanto, não era para a criança que sua atenção estava voltada, sua preocupação “era pela capacidade do conhecimento humano e pelo seu desenvolvimento”. A criança para Piaget era vista como um “ser que mais notoriamente constrói conhecimento”. Portanto, as pesquisas e as observações de Piaget “voltavam-se para a construção e aquisição de conhecimento pelos homens na idade infantil e na adolescência” (Pádua, 2016, p. 22). Assim, a Epistemologia Genética, ainda conforme ressalta o autor, centra sua atenção “em explicar a ordem de sucessão em que as diferentes capacidades se constroem” (Pádua, 2016, p. 27). Outro ponto importante a ser destacado é sobre a aplicação das provas do diagnóstico Operatório que tem como fundamentação a Epistemologia Genética. Donel (2004, p. 4) afirma que, com base em tais provas, é possível “rastrear na criança as noções de tempo, espaço, conservação, causalidade, número, etc”. As provas que são utilizadas na prática psicopedagógica são as seguintes: a) prova de seriação com dez palitos graduados; b) prova de classificação; b1) prova de dicotomia ou mudança de critério; b2) prova de quantificação da inclusão de classe; b3) prova de intersecção de classes; c) prova de conservação; c1) prova de conservação de pequenos conjuntos discretos de elementos; c2) prova de conservação de quantidade de líquido; c3) prova de composição de quantidade de líquido; c4) prova de conservação de quantidade de matéria; c5) prova de conservação de peso; c6) prova de conservação de volume; c7) prova de conservação de cumprimento; d) provas para o pensamento formal. Assim, conforme enfatiza Donel (2004, p. 6), o Diagnóstico Operatório permite determinar as potencialidades do pensamento da criança por meio de cada prova que vai sendo aplicada de acordo com a necessidade do aprendiz e as observações realizadas pelo psicopedagogo. No entanto, Saravali e Guimarães (2007) chamam a atenção para a postura desse profissional diante das provas do Diagnóstico, pois, conforme ressaltam as autoras, os psicopedagogos estão sendo cada vez mais solicitados a resolverem e a participarem dessas questões, precisam estar preparados para terem um novo olhar, muitas vezes diferente daquele que a escola já lança sobre o aluno que tem dificuldades de aprendizagem. Esse olhar 4 psicopedagógico investigativo deve conhecer como o aluno pensa e aprende, analisar esses processos ao longo da vida discente e buscar reorganizá-los num novo momento e numa participação mais ativa do discente. Além desse novo olhar sobre o processo de aprendizagem, será exigido também que esses profissionais estejam em constantes reflexões sobre sua atuação psicopedagógica. Para tanto, eles precisam não só de estar em processo de formação, mas também de refletir sobre a articulação entre teoria e prática. TEMA 2 – CONCEITOS CENTRAIS DA TEORIA DE PIAGET: ASSIMILAÇÃO, ACOMODAÇÃO E EQUILIBRAÇÃO Piaget, em sua teoria, aborda vários conceitos essenciais para compreendermos como o ser humano constrói o conhecimento e de que forma se apropria desse conhecimento tanto em situações individuais quanto na interação com o outro. Para tanto, ao discutirmos a teoria de Piaget, precisamos compreender os principais conceitos, como: a compreensão de esquema, acomodação e assimilação. De acordo com Alencar et al. (2009, p. 132) esquemas “são estruturas cognitivas que representam modelos/estratégias de ação generalizadas que o indivíduo constrói no processo interativo com o meio e que o possibilitam conhecer a realidade”. As autoras ainda destacam que tais esquemas são construídos ao longo da vida e são passíveis de transformações de acordo com meio de interação, portanto, é neste meio que o ser humano vai formando “os esquemas motores, simbólico e operativos, os quais constituem as grandes formas de organização do pensamento que predominam nos diferentes estágios da vida do indivíduo”. Em relação à assimilação, Alencar et al. (2009, p. 133) argumentam que se refere à incorporação pelo indivíduo dos objetos do meio mediante as estruturas cognitivas que já estão elaboradas. Enquanto que a acomodação consiste em um processo de reorganização ou modificação de estruturas cognitivas já formuladas, com vistas à solução de um novo problema ou situação. [...] assimilação e acomodação são complementares e permitem ao indivíduo alcançar um estado intelectual, ou melhor, de equilíbrio cognitivo em suas trocas. 5 O conceito de assimilação, para Piaget (1964 citado por DUBAR, 1996, p. 18), consiste em “incorporar as coisas e as pessoas externas, as estruturas já construídas”. Na perspectiva de Pádua (2016, p. 27), a assimilação não é simplesmente “olhar o mundo, mas interpretá-lo, assimilação [...] isso implica em assimilar algumas informações e deixar outras de lado a relação existente entre o sujeito e o objeto”. Um exemplo clássico para compreendermos esse conceito diz respeito à sucção para o recém-nascido, que posteriormente utiliza outros meios para assimilar o objeto, por exemplo, chupar o polegar, os dedos de outrem, ou seja, apropria-se dos objetos que lhe são apresentados (Dubar, 1996, p. 18). Outro conceito importante na teoria piagetiana é a acomodação. Para Piaget (1964, citado por Dubar, 1996, p. 18), ela consiste “em reajustar as estruturas em função das transformações exteriores”. Desse modo, as mudanças que acontecem no ambiente constituem-se como fonte de ajustamentos. Segundo Pádua (2016, p. 25), a pessoa, quando se depara com um objeto desconhecido,pode entrar em conflito com este. Portanto, para se apropriar de tal objeto, o ser humano “precisa modificar suas estruturas mentais e acomodá- las”. Assim, a busca por equilíbrio dessas modificações é que Piaget denominou de equilibração. Desse modo, a equilibração “é o processo que acontece a partir da relação dialética entre o sujeito e o objeto através dos processos de assimilação e acomodação”. (Pádua, 2016, p. 3), ou seja, pode ser compreendida como um mecanismo autorregulador. Para Alencar et al. (2009, p. 136), a equilibração é o processo de autorregulação inerente ao ser humano que lhe permite ultrapassar um estágio inferior para chegar a um estágio superior. Saravali e Guimarães (2007, p. 125) explicitam o termo assimilação majorante conforme a teoria de Piaget, segundo a qual ele “resulta de regulações novas, mais ricas que as precedentes devido à abstração reflexiva, um dos motores do desenvolvimento cognitivo. A cada nova realização surgem novas possibilidades inexistentes nos níveis precedentes”. 6 TEMA 3 – ESTÁGIO DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO DE JEAN PIAGET Em sua teoria, Piaget apresenta quatros estágios evolutivos que caracterizam o processo do conhecimento. O desenvolvimento mental da criança realiza-se por etapas sucessivas e é considerado como uma construção contínua e não linear, pois, conforme enfatiza Piaget (1971 citado por Pádua, 2016, p. 28), a inteligência “dá saltos, muda de qualidade, cada estágio representa uma qualidade desta inteligência”. Para melhor compreendermos esse processo evolutivo do desenvolvimento do conhecimento, apresentaremos os quatros estágios descritos por Piaget: 1) Estágio senso motor: é considerado o período que antecede a linguagem, que vai do nascimento até por volta dos dois anos de idade; 2) Estágio pré-operatório: é conhecido como o estágio da representação e a criança permanece, nele, aproximadamente, por cinco anos. Nesta fase a criança entra no mundo dos valores, das regras, das virtudes, e das noções de certo ou errado. 3) Estágio das operações concretas: acontece por volta dos 7-8 anos de idade aproximadamente, depois de ter passado por algumas fases de transição, a criança chega à constituição de uma lógica e de estrutura denominadas concretas [...] pois a criança faz uso da capacidade das operações reversíveis apenas em cima de objetos que ela possa manipular. 4) Estágio operatório formal: acontece por volta 11-12 anos de idade, neste estágio a criança chega ao mundo das operações formais. A principal característica desta fase consiste em poder realizar estas operações sobre hipóteses não somente sobre objetos. (Pádua, 2016, p. 28-33) Com base nas análises desses estágios, podemos inferir que o ser humano encontra-se em constantes transformações, interagindo com diversas formas de aprendizagem. Assim, na relação sujeito/objeto, acontecem os processos de assimilação e acomodação e equilibração, portanto, essa tríade do conhecimento, é construída e reconstruída constantemente. Desse modo, esses desequilíbrios exercem “papel fundamental na medida em que provocam reequilibrações, fazendo com que o sujeito busque sempre uma equilibração majorante, a qual, por sua vez, tem caráter de construção e de maior coerência” (Saravali; Guimarães, 2007, p. 125). TEMA 4 – EPISTEMOLOGIA MODULAR: ORIGEM, CONCEITO A Psicopedagogia Modular é uma perspectiva inovadora que vem se destacando no século XXI, a partir dos estudos de Veiga e Garcia (2005, 2006), que tem como base teórica a Epistemologia Convergente de Jorge Visca. 7 Conforme enfatiza Veiga (2012), a Psicopedagogia Modular defende uma concepção teórica pautada nos estudos do cérebro/mente, que caracteriza a ideia de uma mente modular, sustentada pelas concepções teóricas de Gardner (1995) e Sternberg (1983). A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida, segundo Veiga (2006, p. 66), com a finalidade de romper com a visão clássica de inteligência como uma capacidade única. Dessa forma, a teoria proposta por Gardner apresenta oito competências: inteligência lógico-matemática, inteligência linguística, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência intrapessoal, inteligência interpessoal, inteligência corporal-cinestésica e inteligência naturalista. 1-Inteligência Linguística: é a competência característica da espécie humana de revelar uma capacidade universal para a fala e de rápido desenvolvimento entre as pessoas normais, seguindo padrões muito similares em diversas culturas. Inclusive as pessoas surdas, que não receberam o ensino na linguagem de signos, são capazes de construir sua própria linguagem. Este fato confirma a hipótese de que a inteligência pode operar independentemente de uma modalidade de estímulo ou de um determinado canal de saída. Supõe, ainda uma sensibilidade especial para a língua falada e escrita, a capacidade para apreender idiomas e de empregar a linguagem para obter determinados objetivos. É características dos poetas, oradores, advogados, entre outros. 2-A Inteligência Lógico-matemática está associada à capacidade de desenvolver raciocínios dedutivos, usar e avaliar relações abstratas, bem como usar os números de maneira efetiva. Abrange a sensibilidade aos esquemas e relações lógicas, a categorização, a inferência, a generalização, a classificação, o cálculo e a demonstração de hipóteses. Matemáticos, analista financeiros, engenheiros seriam exemplos de indivíduos que dependem da dimensão lógico matemática. 3-A Inteligência Espacial está vinculada à capacidade de perceber informações visuais ou espaciais, efetuar transformações e modificações sobre as percepções iniciais, recriar imagens. É a habilidade para perceber de maneira exata o mundo visual-espacial. Inclui a sensibilidade à cor, à linha, à forma, ao espaço, orientando-se de maneira adequada em uma matriz espacial. Supõe a capacidade de reconhecer e manipular pautas em espaços grandes e em espaços mais reduzidos. As atividades relacionadas à arquitetura e navegação estariam ligadas a esta inteligência. 4-A Inteligência Corpo-cinestésica: entende-se a capacidade de usar o corpo de diferentes maneiras e de forma hábil para obter determinados objetivos. Envolve o uso de todo o corpo ou partes dele para resolver problemas ou criar produtos, utilizando ações motoras amplas e finas. Inclui habilidades de coordenação, equilíbrio, destreza, força, flexibilidade, velocidade, capacidade autoperceptivas, táteis, assim como percepção de medidas e volumes. Supõe a capacidade de empregar partes do próprio corpo ou sua totalidade para resolver problemas ou criar produtos, sendo encontrada, por exemplo, entre alpinistas, atletas e bailarinos. 5-A Inteligência Intrapessoal: refere-se à capacidade do indivíduo de conhecer a si mesmo, controlar suas emoções, administrar seus sentimentos, projetos, podendo assim construir um modelo de si 8 mesmo e utilizar esse modelo a favor de si na tomada de decisões. Essa inteligência permite que o indivíduo conheça suas capacidades e possa usá-las da melhor forma possível. Supõe a capacidade de compreender a si mesmo, de ter um modelo útil e eficaz de si, que inclua os próprios desejos, medos e capacidades de empregar esta informação com eficiência na regulação da própria vida. Manifesta-se em pessoas possuidoras de boa autoestima e capazes de boa interação como yogues, pacifistas, terapeutas. 6-Inteligência Interpessoal: é a competência através da qual o indivíduo se relaciona bem com as outras pessoas, distinguindo sentimentos (intenções, motivações, estados de ânimo) pertencentes ao outro, buscando reagir em função destes sentimentos. Esta capacidade permite a descentralização do sujeitopara interagir com o outro. Mostra a capacidade de uma pessoa para entender as intenções, as motivações e os desejos alheios e, em consequência, sua capacidade par trabalhar eficazmente com outras pessoas. Esta inteligência se manifesta em terapeutas, professores, médicos, líderes religiosos, enfermeiros. 7-A Inteligência Musical: é a capacidade que permite à pessoa criar, comunicar e compreender significados compostos por sons, discriminando, transformando e expressando as diferentes formas musicais. Inclui a sensibilidade ao ritmo, à melodia, ao timbre, ao tom. Manifesta-se em compositores, maestros, engenheiros de áudio; supõe a capacidade de interpretar, compor e apreciar pautas musicais. 8-A Inteligência Naturalista: é a competência que permite o reconhecimento e a categorização dos objetos naturais, a flora e a fauna, fazer distinções coerentes no mundo natural e usar esta capacidade de maneira produtiva. O naturalista pode distinguir as espécies que são valiosas ou perigosas e possui a capacidade de categorizar adequadamente organismos novos ou pouco familiares. Sua manifestação ocorre em pessoas hábeis em identificar membros de um grupo ou espécie, reconhecer outras espécies, como biólogos, botânicos, zoólogos, etc. 9-A Inteligência Existencial: é a capacidade do sujeito de se situar em relações às facetas mais extremas do cosmos, do infinito, bem como se situar em relação a determinadas características existenciais da condição humana. É a habilidade representativa da inclinação humana de formular pergunta fundamentais, tais como a existência, a vida, a morte, a finitude, refletindo sobre elas. Envolve, ainda, a capacidade de interessar-se por questões transcendentais. Sua manifestação está exemplificada em pensadores religiosos, como o Dalai Lama e Soren Kierkegaard. (Miranda; Veiga, 2006, p. 3-5) A outra Teoria que fundamenta a Psicopedagogia Modular é de Sternberg (1983) conhecida por Teoria Triárquica, que se fundamenta em um modelo tridimensional da inteligência: a analítica, que se refere à capacidade de analisar, julgar, avaliar e comprar; à inteligência prática, que diz respeito à capacidade de usar, aplicar e adaptar; e, por último, à inteligência criativa, que se caracteriza pela capacidade de criar e inventar (Veiga, 2010). O modelo da Psicopedagogia Modular, de acordo com Veiga (2010, p. 12), permite “transitar pelos sistemas inteligentes do indivíduo, avaliando e intervindo de maneira a maximizar as capacidades do sujeito, desenvolver estratégias que favoreçam sua aprendizagem”. Além disso, a Psicopedagogia Modular propõe uma ruptura de uma aprendizagem baseada na memorização e 9 reprodução das informações e na ênfase que as escolas dão à inteligência lógico-matemática e ao pensamento analítico, uma vez que a Psicologia Modular não se restringe à utilização de testes padronizados, tal proposta defende a ideia de uma avaliação dinâmica, em que o processo de avaliar e intervir acontece simultaneamente. (Veiga, 2010, p. 13). A perspectiva de avaliação é vista de forma dinâmica, reconfigurando, dessa forma, o papel do psicopedagogo, “passando a ser alguém que interage em situação de aprendizagem, pondo em cena estratégias de mediação e não de pura testagem e medição” (Veiga, 2010, p.13). Ou seja, o psicopedagogo, nesta proposta da Psicopedagogia Modular, assume um papel essencial nesse processo avaliativo, tendo em vista que ele poderá potencializar os aspectos cognitivos do aprendiz, tendo em vista que a avaliação proposta aqui é um processo de interação, “flexível e individualizado em que o profissional interpõe-se entre o sujeito e a tarefa, modificando-a (ajustando a ordem, a complexidade, o tempo) para que o sujeito, diante do obstáculo, possa superá-lo e mostrar seu verdadeiro potencial”. A avaliação modular, segundo Veiga (2012, p. 22), tem por objetivo conhecer o perfil cognitivo do sujeito com suas potencialidades e limitações. Assim, o processo avaliativo é composto por três etapas, a saber: a primeira refere-se à identificação do sujeito e do meio escolar. A segunda etapa refere-se ao perfil modular, ou seja, ao levantamento do potencial de aprendizagem do sujeito e do funcionamento do seu sistema mental. E a terceira caracteriza-se pela devolutiva realizada ao sujeito e à família. (Veiga, 2012, p. 25). Em relação à segunda fase da avaliação, destacam-se os instrumentos para a avaliação modular. Os instrumentos modulares, segundo Veiga (2012, p. 30), são informais e levam em consideração os oitos sistemas inteligentes: linguístico, lógico-matemático, corporal-cinestésico, espacial, musical, naturalista, intrapessoal, interpessoal. A seguir, apresentaremos os instrumentos que são utilizados na avaliação modular. TEMA 5 – INSTRUMENTOS AVALIATIVOS DA PSICOPEDAGOGIA MODULAR O psicopedagogo dispõe de cinco instrumentos para a realização da avaliação modular, que são os seguintes, conforme ressalta Veiga (2012): a Entrevista Evolutiva Modular Central na Aprendizagem (EMCA); as provas 10 multimodais; as provas modulares; as provas cognitivas e a avaliação interativa psicopedagógica. 1. A entrevista modular: refere-se ao levantamento de dados sobre o sujeito com foco no seu desenvolvimento e nas inteligências múltiplas. Deve ser realizada com os pais ou responsáveis pela criança. Nesse momento do processo, coletam-se dados pessoais, histórico familiar, dados do desenvolvimento relacionados com cada inteligência e dados do histórico escolar da criança. A entrevista evolutiva modular normalmente leva mais de um encontro com a família. 2. As provas multimodais: permite obter informações sobre o desempenho cognitivo do sujeito a partir das oitos modalidades de inteligência, integrando as experiências anteriores decorrentes da interação com o meio e acultura. A teoria das inteligências múltiplas possibilita uma avaliação em que o sujeito mostra as múltiplas opções para compartilhar o que aprendeu, seja por meio de gráficos, canções, desenhos, linguagem. 3. As provas modulares: está relacionada com a inteligência com o mundo exterior do indivíduo, identificando três tipos de atividades que caracterizam a conduta inteligente: a adaptação ao ambiente, a transformação do ambiente, a seleção do ambiente. Dá ênfase especial à relação do sujeito com o meio, analisando a conduta inteligente em determinado contexto. 4. As provas cognitivas modulares: compreendem um conjunto de tarefas cognitivas que envolvem os oitos sistemas inteligentes de Garder (linguístico, lógico-matemático, corporal-cinestésico, espacial, musical, naturalista, intrapessoal e interpessoal), com as três inteligências de Sternberg (analítica, criativa e prática). 5. Avaliação interativa psicopedagógica: centra-se na dimensão afetiva e em sua relação com a aprendizagem. Ao vivenciar cada atividade, o sujeito tem a possibilidade de refletir sobre os fatores que interferem em sua aprendizagem, ou seja, suas preferências, sentimentos, compromissos com as tarefas, seu compromisso em relação ao processo de aprender. Essa avaliação tem seu foco na metacognição, a qual pode proporcionar ao sujeito um insight a respeito das atividades que facilitam ou dificultam sua aprendizagem. (Veiga, 2012, p. 32-163) Veiga (2012, p. 24) ressalta a importância da aplicação dos instrumentos modulares, pois por meio deles o psicopedagogo tem um conhecimento mais amplo sobre os sistemas cognitivos do sujeito. Assim, o uso desses instrumentos possibilita ao sujeito avaliar seus pontos fortes e fracos, além de levá-lo a pensar sobre o próprio pensamento, pois, como enfatiza a autora, o que nos diferencia de outros animais é a capacidade de refletir sobre nossa maneira de pensar. A propostada Psicopedagogia Modular traz uma visão inovadora sobre o processo de aprender do ser humano, pois ela possibilita outras vias para a investigação da aprendizagem e sugere uma ruptura no ensino tradicional que concebe o aluno como um ser passivo, passando a ser visto por esta proposta como um ser capaz de potencialidades a serem exploradas. 11 NA PRÁTICA Diante dos temas discutidos, segue o link de um vídeo ilustrativo dos principais conceitos da Epistemologia Genética de Jean Piaget. Nesse vídeo, são apresentados exemplos de como nós seres humanos nos desequilibramos quando nos é apresentada uma situação de aprendizagem nova. Com base nessas reflexões, pense em uma situação de sua vida que você vivenciou e que você consegue distinguir os três conceitos da Teoria de Jean Piaget: assimilação, acomodação e a equilibração. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=TL-_LCvtaPg>. Acesso em: 7 set. 2019. FINALIZANDO Neste encontro refletimos sobre os fundamentos da Epistemologia Genética de Jean Piaget, já que eles dão suporte para a Epistemologia Convergente que estudaremos em breve. Além disso, apresentamos o conceito da Epistemologia Genética, destacando sua origem e significados. Em seguida, exploramos os conceitos centrais da teoria de Piaget, como assimilação, acomodação e equilibração, apresentando um vídeo ilustrativo desses conceitos. Após isso, foram relembrados os estágios do desenvolvimento do conhecimento descritos por Jean Piaget. Posteriormente, abordamos a Psicopedagogia Modular e os instrumentos modulares utilizados na prática psicopedagógica. 12 REFERÊNCIAS DONELL, J. J. C. M. Manual de provas de diagnóstico operatório. Curitiba, 2004. DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto: Porto, 1996. HOUAISS, A.; SALES, V. M. Dicionário da língua portuguesa. 1. ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. MIRANDA, V. R.; VEIGA, E. C. A importância da inteligência intrapessoal e interpessoal no papel dos profissionais da área da saúde. Ciência e Cognição, 2006, v. 9, p. 64-72. OLIVEIRA, I. A. Epistemologia e educação: bases conceituais e racionalidades científicas e históricas. Petrópolis: Vozes, 2016. PÁDUA, G. L. D. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista FACEVV, 1º semestre de 2009, n. 2, p. 22-35. SARAVALI, E. G.; GUIMARÃRES, K. P. Dificuldades de aprendizagem e conhecimento: um olhar à luz da teoria piagetiana. Disponível em: <https://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/1491>. Acesso em: 7 set. 2019. VEIGA, E. C. Psicologia modular: uma modalidade de avaliação interventiva. Petrópolis: Vozes, 2012. _____. A psicopedagogia modular: Uma nova perspectiva no campo da avaliação. Psicologia Argumento, 2010, jan./mar., 28(60), p. 11-15.
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