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IMPRESSÃO EPISTEMOLOGIA CONVERGENTE AULA 02

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EPISTEMOLOGIA 
CONVERGENTE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Ana Lúcia de Araújo Claro 
 
 
2 
REFLEXÕES SOBRE A EPISTEMOLGOIA GENÉTICA E A PSICOLOGIA 
MODULAR 
CONVERSA INICIAL 
Nesta aula discutiremos os fundamentos que dão sustentação à prática 
psicopedagógica. No primeiro momento, apresentaremos o conceito da 
Epistemologia Genética, destacando sua origem e significados. Em seguida, 
exploraremos os conceitos centrais da teoria de Piaget, como assimilação, 
acomodação e equilibração. Após isso, serão apresentados os estágios do 
desenvolvimento do conhecimento descritos por Piaget. Depois, 
apresentaremos o conceito da Psicopagogia Modular. E, por último, 
exploraremos os instrumentos modulares utilizados na prática psicopedagógica. 
Com esta aula, temos os seguintes objetivos: 
 Refletir sobre a importância da epistemologia genética para o processo 
de aprendizagem; 
 Discutir os principais conceitos da teoria de Piaget; 
 Explicitar os estágios do desenvolvimento descritos por Piaget; 
 Conceituar a Psicopedagogia Modular; 
 Apresentar os instrumentos utilizados na Psicopedagogia Modular. 
TEMA 1 – A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA: ORIGEM, CONCEITO 
Ao discorrermos sobre a epistemologia genética, é importante destacar o 
conceito e origem da palavra epistemologia. Oliveira (2016, p. 17) define-a como 
“um campo da filosofia que estuda o conhecimento. Assim, sua origem é 
proveniente do grego episteme (que significa “ciência”) e logos (que se refere a 
“discurso”, “estudo”). Segundo o Dicionário Houaiss (2009, p. 783-784), 
epistemologia significa uma “reflexão em torno da natureza, etapas e limites do 
conhecimento humano. Teoria do conhecimento. Estudos dos postulados, 
conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico”. A epistemologia 
genética tem como seu idealizador Jean Piaget, considerado como um dos 
nomes mais influentes do século XXI. Seu foco principal é estudar como o ser 
humano constrói o conhecimento. 
 
 
3 
Segundo Pádua (2016, p. 22), Piaget destacou-se como psicólogo infantil, 
no entanto, não era para a criança que sua atenção estava voltada, sua 
preocupação “era pela capacidade do conhecimento humano e pelo seu 
desenvolvimento”. A criança para Piaget era vista como um “ser que mais 
notoriamente constrói conhecimento”. Portanto, as pesquisas e as observações 
de Piaget “voltavam-se para a construção e aquisição de conhecimento pelos 
homens na idade infantil e na adolescência” (Pádua, 2016, p. 22). Assim, a 
Epistemologia Genética, ainda conforme ressalta o autor, centra sua atenção 
“em explicar a ordem de sucessão em que as diferentes capacidades se 
constroem” (Pádua, 2016, p. 27). 
Outro ponto importante a ser destacado é sobre a aplicação das provas 
do diagnóstico Operatório que tem como fundamentação a Epistemologia 
Genética. Donel (2004, p. 4) afirma que, com base em tais provas, é possível 
“rastrear na criança as noções de tempo, espaço, conservação, causalidade, 
número, etc”. 
As provas que são utilizadas na prática psicopedagógica são as 
seguintes: a) prova de seriação com dez palitos graduados; b) prova de 
classificação; b1) prova de dicotomia ou mudança de critério; b2) prova de 
quantificação da inclusão de classe; b3) prova de intersecção de classes; c) 
prova de conservação; c1) prova de conservação de pequenos conjuntos 
discretos de elementos; c2) prova de conservação de quantidade de líquido; c3) 
prova de composição de quantidade de líquido; c4) prova de conservação de 
quantidade de matéria; c5) prova de conservação de peso; c6) prova de 
conservação de volume; c7) prova de conservação de cumprimento; d) provas 
para o pensamento formal. 
Assim, conforme enfatiza Donel (2004, p. 6), o Diagnóstico Operatório 
permite determinar as potencialidades do pensamento da criança por meio de 
cada prova que vai sendo aplicada de acordo com a necessidade do aprendiz e 
as observações realizadas pelo psicopedagogo. No entanto, Saravali e 
Guimarães (2007) chamam a atenção para a postura desse profissional diante 
das provas do Diagnóstico, pois, conforme ressaltam as autoras, os 
psicopedagogos 
estão sendo cada vez mais solicitados a resolverem e a participarem 
dessas questões, precisam estar preparados para terem um novo 
olhar, muitas vezes diferente daquele que a escola já lança sobre o 
aluno que tem dificuldades de aprendizagem. Esse olhar 
 
 
4 
psicopedagógico investigativo deve conhecer como o aluno pensa e 
aprende, analisar esses processos ao longo da vida discente e buscar 
reorganizá-los num novo momento e numa participação mais ativa do 
discente. 
Além desse novo olhar sobre o processo de aprendizagem, será exigido 
também que esses profissionais estejam em constantes reflexões sobre sua 
atuação psicopedagógica. Para tanto, eles precisam não só de estar em 
processo de formação, mas também de refletir sobre a articulação entre teoria e 
prática. 
TEMA 2 – CONCEITOS CENTRAIS DA TEORIA DE PIAGET: ASSIMILAÇÃO, 
ACOMODAÇÃO E EQUILIBRAÇÃO 
Piaget, em sua teoria, aborda vários conceitos essenciais para 
compreendermos como o ser humano constrói o conhecimento e de que forma 
se apropria desse conhecimento tanto em situações individuais quanto na 
interação com o outro. Para tanto, ao discutirmos a teoria de Piaget, precisamos 
compreender os principais conceitos, como: a compreensão de esquema, 
acomodação e assimilação. 
De acordo com Alencar et al. (2009, p. 132) esquemas “são estruturas 
cognitivas que representam modelos/estratégias de ação generalizadas que o 
indivíduo constrói no processo interativo com o meio e que o possibilitam 
conhecer a realidade”. As autoras ainda destacam que tais esquemas são 
construídos ao longo da vida e são passíveis de transformações de acordo com 
meio de interação, portanto, é neste meio que o ser humano vai formando “os 
esquemas motores, simbólico e operativos, os quais constituem as grandes 
formas de organização do pensamento que predominam nos diferentes estágios 
da vida do indivíduo”. 
Em relação à assimilação, Alencar et al. (2009, p. 133) argumentam que 
se refere à 
incorporação pelo indivíduo dos objetos do meio mediante as 
estruturas cognitivas que já estão elaboradas. Enquanto que a 
acomodação consiste em um processo de reorganização ou 
modificação de estruturas cognitivas já formuladas, com vistas à 
solução de um novo problema ou situação. [...] assimilação e 
acomodação são complementares e permitem ao indivíduo alcançar 
um estado intelectual, ou melhor, de equilíbrio cognitivo em suas 
trocas. 
 
 
5 
O conceito de assimilação, para Piaget (1964 citado por DUBAR, 1996, p. 
18), consiste em “incorporar as coisas e as pessoas externas, as estruturas já 
construídas”. Na perspectiva de Pádua (2016, p. 27), a assimilação não é 
simplesmente “olhar o mundo, mas interpretá-lo, assimilação [...] isso implica em 
assimilar algumas informações e deixar outras de lado a relação existente entre 
o sujeito e o objeto”. Um exemplo clássico para compreendermos esse conceito 
diz respeito à sucção para o recém-nascido, que posteriormente utiliza outros 
meios para assimilar o objeto, por exemplo, chupar o polegar, os dedos de 
outrem, ou seja, apropria-se dos objetos que lhe são apresentados (Dubar, 1996, 
p. 18). 
Outro conceito importante na teoria piagetiana é a acomodação. Para 
Piaget (1964, citado por Dubar, 1996, p. 18), ela consiste “em reajustar as 
estruturas em função das transformações exteriores”. Desse modo, as 
mudanças que acontecem no ambiente constituem-se como fonte de 
ajustamentos. 
Segundo Pádua (2016, p. 25), a pessoa, quando se depara com um objeto 
desconhecido,pode entrar em conflito com este. Portanto, para se apropriar de 
tal objeto, o ser humano “precisa modificar suas estruturas mentais e acomodá-
las”. Assim, a busca por equilíbrio dessas modificações é que Piaget denominou 
de equilibração. 
Desse modo, a equilibração “é o processo que acontece a partir da 
relação dialética entre o sujeito e o objeto através dos processos de assimilação 
e acomodação”. (Pádua, 2016, p. 3), ou seja, pode ser compreendida como um 
mecanismo autorregulador. Para Alencar et al. (2009, p. 136), a equilibração é o 
processo de autorregulação inerente ao ser humano que lhe permite ultrapassar 
um estágio inferior para chegar a um estágio superior. 
Saravali e Guimarães (2007, p. 125) explicitam o termo assimilação 
majorante conforme a teoria de Piaget, segundo a qual ele “resulta de regulações 
novas, mais ricas que as precedentes devido à abstração reflexiva, um dos 
motores do desenvolvimento cognitivo. A cada nova realização surgem novas 
possibilidades inexistentes nos níveis precedentes”. 
 
 
6 
TEMA 3 – ESTÁGIO DO DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO DE JEAN 
PIAGET 
Em sua teoria, Piaget apresenta quatros estágios evolutivos que 
caracterizam o processo do conhecimento. O desenvolvimento mental da 
criança realiza-se por etapas sucessivas e é considerado como uma construção 
contínua e não linear, pois, conforme enfatiza Piaget (1971 citado por Pádua, 
2016, p. 28), a inteligência “dá saltos, muda de qualidade, cada estágio 
representa uma qualidade desta inteligência”. Para melhor compreendermos 
esse processo evolutivo do desenvolvimento do conhecimento, apresentaremos 
os quatros estágios descritos por Piaget: 
1) Estágio senso motor: é considerado o período que antecede a 
linguagem, que vai do nascimento até por volta dos dois anos de idade; 
2) Estágio pré-operatório: é conhecido como o estágio da 
representação e a criança permanece, nele, aproximadamente, por 
cinco anos. Nesta fase a criança entra no mundo dos valores, das 
regras, das virtudes, e das noções de certo ou errado. 3) Estágio das 
operações concretas: acontece por volta dos 7-8 anos de idade 
aproximadamente, depois de ter passado por algumas fases de 
transição, a criança chega à constituição de uma lógica e de estrutura 
denominadas concretas [...] pois a criança faz uso da capacidade das 
operações reversíveis apenas em cima de objetos que ela possa 
manipular. 4) Estágio operatório formal: acontece por volta 11-12 anos 
de idade, neste estágio a criança chega ao mundo das operações 
formais. A principal característica desta fase consiste em poder realizar 
estas operações sobre hipóteses não somente sobre objetos. (Pádua, 
2016, p. 28-33) 
Com base nas análises desses estágios, podemos inferir que o ser 
humano encontra-se em constantes transformações, interagindo com diversas 
formas de aprendizagem. Assim, na relação sujeito/objeto, acontecem os 
processos de assimilação e acomodação e equilibração, portanto, essa tríade do 
conhecimento, é construída e reconstruída constantemente. Desse modo, esses 
desequilíbrios exercem “papel fundamental na medida em que provocam 
reequilibrações, fazendo com que o sujeito busque sempre uma equilibração 
majorante, a qual, por sua vez, tem caráter de construção e de maior coerência” 
(Saravali; Guimarães, 2007, p. 125). 
TEMA 4 – EPISTEMOLOGIA MODULAR: ORIGEM, CONCEITO 
A Psicopedagogia Modular é uma perspectiva inovadora que vem se 
destacando no século XXI, a partir dos estudos de Veiga e Garcia (2005, 2006), 
que tem como base teórica a Epistemologia Convergente de Jorge Visca. 
 
 
7 
Conforme enfatiza Veiga (2012), a Psicopedagogia Modular defende uma 
concepção teórica pautada nos estudos do cérebro/mente, que caracteriza a 
ideia de uma mente modular, sustentada pelas concepções teóricas de Gardner 
(1995) e Sternberg (1983). 
A Teoria das Inteligências Múltiplas foi desenvolvida, segundo Veiga 
(2006, p. 66), com a finalidade de romper com a visão clássica de inteligência 
como uma capacidade única. Dessa forma, a teoria proposta por Gardner 
apresenta oito competências: inteligência lógico-matemática, inteligência 
linguística, inteligência espacial, inteligência musical, inteligência intrapessoal, 
inteligência interpessoal, inteligência corporal-cinestésica e inteligência 
naturalista. 
1-Inteligência Linguística: é a competência característica da espécie 
humana de revelar uma capacidade universal para a fala e de rápido 
desenvolvimento entre as pessoas normais, seguindo padrões muito 
similares em diversas culturas. Inclusive as pessoas surdas, que não 
receberam o ensino na linguagem de signos, são capazes de construir 
sua própria linguagem. Este fato confirma a hipótese de que a 
inteligência pode operar independentemente de uma modalidade de 
estímulo ou de um determinado canal de saída. Supõe, ainda uma 
sensibilidade especial para a língua falada e escrita, a capacidade para 
apreender idiomas e de empregar a linguagem para obter 
determinados objetivos. É características dos poetas, oradores, 
advogados, entre outros. 
2-A Inteligência Lógico-matemática está associada à capacidade de 
desenvolver raciocínios dedutivos, usar e avaliar relações abstratas, 
bem como usar os números de maneira efetiva. Abrange a 
sensibilidade aos esquemas e relações lógicas, a categorização, a 
inferência, a generalização, a classificação, o cálculo e a demonstração 
de hipóteses. Matemáticos, analista financeiros, engenheiros seriam 
exemplos de indivíduos que dependem da dimensão lógico 
matemática. 
3-A Inteligência Espacial está vinculada à capacidade de perceber 
informações visuais ou espaciais, efetuar transformações e 
modificações sobre as percepções iniciais, recriar imagens. É a 
habilidade para perceber de maneira exata o mundo visual-espacial. 
Inclui a sensibilidade à cor, à linha, à forma, ao espaço, orientando-se 
de maneira adequada em uma matriz espacial. Supõe a capacidade de 
reconhecer e manipular pautas em espaços grandes e em espaços 
mais reduzidos. As atividades relacionadas à arquitetura e navegação 
estariam ligadas a esta inteligência. 
4-A Inteligência Corpo-cinestésica: entende-se a capacidade de 
usar o corpo de diferentes maneiras e de forma hábil para obter 
determinados objetivos. Envolve o uso de todo o corpo ou partes dele 
para resolver problemas ou criar produtos, utilizando ações motoras 
amplas e finas. Inclui habilidades de coordenação, equilíbrio, destreza, 
força, flexibilidade, velocidade, capacidade autoperceptivas, táteis, 
assim como percepção de medidas e volumes. Supõe a capacidade de 
empregar partes do próprio corpo ou sua totalidade para resolver 
problemas ou criar produtos, sendo encontrada, por exemplo, entre 
alpinistas, atletas e bailarinos. 
5-A Inteligência Intrapessoal: refere-se à capacidade do indivíduo de 
conhecer a si mesmo, controlar suas emoções, administrar seus 
sentimentos, projetos, podendo assim construir um modelo de si 
 
 
8 
mesmo e utilizar esse modelo a favor de si na tomada de decisões. 
Essa inteligência permite que o indivíduo conheça suas capacidades e 
possa usá-las da melhor forma possível. Supõe a capacidade de 
compreender a si mesmo, de ter um modelo útil e eficaz de si, que 
inclua os próprios desejos, medos e capacidades de empregar esta 
informação com eficiência na regulação da própria vida. Manifesta-se 
em pessoas possuidoras de boa autoestima e capazes de boa 
interação como yogues, pacifistas, terapeutas. 
6-Inteligência Interpessoal: é a competência através da qual o 
indivíduo se relaciona bem com as outras pessoas, distinguindo 
sentimentos (intenções, motivações, estados de ânimo) pertencentes 
ao outro, buscando reagir em função destes sentimentos. Esta 
capacidade permite a descentralização do sujeitopara interagir com o 
outro. Mostra a capacidade de uma pessoa para entender as 
intenções, as motivações e os desejos alheios e, em consequência, 
sua capacidade par trabalhar eficazmente com outras pessoas. Esta 
inteligência se manifesta em terapeutas, professores, médicos, líderes 
religiosos, enfermeiros. 
7-A Inteligência Musical: é a capacidade que permite à pessoa criar, 
comunicar e compreender significados compostos por sons, 
discriminando, transformando e expressando as diferentes formas 
musicais. Inclui a sensibilidade ao ritmo, à melodia, ao timbre, ao tom. 
Manifesta-se em compositores, maestros, engenheiros de áudio; 
supõe a capacidade de interpretar, compor e apreciar pautas musicais. 
8-A Inteligência Naturalista: é a competência que permite o 
reconhecimento e a categorização dos objetos naturais, a flora e a 
fauna, fazer distinções coerentes no mundo natural e usar esta 
capacidade de maneira produtiva. O naturalista pode distinguir as 
espécies que são valiosas ou perigosas e possui a capacidade de 
categorizar adequadamente organismos novos ou pouco familiares. 
Sua manifestação ocorre em pessoas hábeis em identificar membros 
de um grupo ou espécie, reconhecer outras espécies, como biólogos, 
botânicos, zoólogos, etc. 
9-A Inteligência Existencial: é a capacidade do sujeito de se situar 
em relações às facetas mais extremas do cosmos, do infinito, bem 
como se situar em relação a determinadas características existenciais 
da condição humana. É a habilidade representativa da inclinação 
humana de formular pergunta fundamentais, tais como a existência, a 
vida, a morte, a finitude, refletindo sobre elas. Envolve, ainda, a 
capacidade de interessar-se por questões transcendentais. Sua 
manifestação está exemplificada em pensadores religiosos, como o 
Dalai Lama e Soren Kierkegaard. (Miranda; Veiga, 2006, p. 3-5) 
A outra Teoria que fundamenta a Psicopedagogia Modular é de Sternberg 
(1983) conhecida por Teoria Triárquica, que se fundamenta em um modelo 
tridimensional da inteligência: a analítica, que se refere à capacidade de analisar, 
julgar, avaliar e comprar; à inteligência prática, que diz respeito à capacidade de 
usar, aplicar e adaptar; e, por último, à inteligência criativa, que se caracteriza 
pela capacidade de criar e inventar (Veiga, 2010). 
O modelo da Psicopedagogia Modular, de acordo com Veiga (2010, p. 
12), permite “transitar pelos sistemas inteligentes do indivíduo, avaliando e 
intervindo de maneira a maximizar as capacidades do sujeito, desenvolver 
estratégias que favoreçam sua aprendizagem”. Além disso, a Psicopedagogia 
Modular propõe uma ruptura de uma aprendizagem baseada na memorização e 
 
 
9 
reprodução das informações e na ênfase que as escolas dão à inteligência 
lógico-matemática e ao pensamento analítico, uma vez que a Psicologia Modular 
não se restringe à utilização de testes padronizados, tal proposta defende a ideia 
de uma avaliação dinâmica, em que o processo de avaliar e intervir acontece 
simultaneamente. (Veiga, 2010, p. 13). 
A perspectiva de avaliação é vista de forma dinâmica, reconfigurando, 
dessa forma, o papel do psicopedagogo, “passando a ser alguém que interage 
em situação de aprendizagem, pondo em cena estratégias de mediação e não 
de pura testagem e medição” (Veiga, 2010, p.13). 
Ou seja, o psicopedagogo, nesta proposta da Psicopedagogia Modular, 
assume um papel essencial nesse processo avaliativo, tendo em vista que ele 
poderá potencializar os aspectos cognitivos do aprendiz, tendo em vista que a 
avaliação proposta aqui é um processo de interação, “flexível e individualizado 
em que o profissional interpõe-se entre o sujeito e a tarefa, modificando-a 
(ajustando a ordem, a complexidade, o tempo) para que o sujeito, diante do 
obstáculo, possa superá-lo e mostrar seu verdadeiro potencial”. 
A avaliação modular, segundo Veiga (2012, p. 22), tem por objetivo 
conhecer o perfil cognitivo do sujeito com suas potencialidades e limitações. 
Assim, o processo avaliativo é composto por três etapas, a saber: 
a primeira refere-se à identificação do sujeito e do meio escolar. A 
segunda etapa refere-se ao perfil modular, ou seja, ao levantamento 
do potencial de aprendizagem do sujeito e do funcionamento do seu 
sistema mental. E a terceira caracteriza-se pela devolutiva realizada ao 
sujeito e à família. (Veiga, 2012, p. 25). 
Em relação à segunda fase da avaliação, destacam-se os instrumentos 
para a avaliação modular. Os instrumentos modulares, segundo Veiga (2012, p. 
30), são informais e levam em consideração os oitos sistemas inteligentes: 
linguístico, lógico-matemático, corporal-cinestésico, espacial, musical, 
naturalista, intrapessoal, interpessoal. A seguir, apresentaremos os instrumentos 
que são utilizados na avaliação modular. 
TEMA 5 – INSTRUMENTOS AVALIATIVOS DA PSICOPEDAGOGIA MODULAR 
O psicopedagogo dispõe de cinco instrumentos para a realização da 
avaliação modular, que são os seguintes, conforme ressalta Veiga (2012): a 
Entrevista Evolutiva Modular Central na Aprendizagem (EMCA); as provas 
 
 
10 
multimodais; as provas modulares; as provas cognitivas e a avaliação interativa 
psicopedagógica. 
1. A entrevista modular: refere-se ao levantamento de dados sobre o 
sujeito com foco no seu desenvolvimento e nas inteligências múltiplas. 
Deve ser realizada com os pais ou responsáveis pela criança. Nesse 
momento do processo, coletam-se dados pessoais, histórico familiar, 
dados do desenvolvimento relacionados com cada inteligência e dados 
do histórico escolar da criança. A entrevista evolutiva modular 
normalmente leva mais de um encontro com a família. 
2. As provas multimodais: permite obter informações sobre o 
desempenho cognitivo do sujeito a partir das oitos modalidades de 
inteligência, integrando as experiências anteriores decorrentes da 
interação com o meio e acultura. A teoria das inteligências múltiplas 
possibilita uma avaliação em que o sujeito mostra as múltiplas opções 
para compartilhar o que aprendeu, seja por meio de gráficos, canções, 
desenhos, linguagem. 
3. As provas modulares: está relacionada com a inteligência com o 
mundo exterior do indivíduo, identificando três tipos de atividades que 
caracterizam a conduta inteligente: a adaptação ao ambiente, a 
transformação do ambiente, a seleção do ambiente. Dá ênfase 
especial à relação do sujeito com o meio, analisando a conduta 
inteligente em determinado contexto. 
4. As provas cognitivas modulares: compreendem um conjunto de 
tarefas cognitivas que envolvem os oitos sistemas inteligentes de 
Garder (linguístico, lógico-matemático, corporal-cinestésico, espacial, 
musical, naturalista, intrapessoal e interpessoal), com as três 
inteligências de Sternberg (analítica, criativa e prática). 
5. Avaliação interativa psicopedagógica: centra-se na dimensão 
afetiva e em sua relação com a aprendizagem. Ao vivenciar cada 
atividade, o sujeito tem a possibilidade de refletir sobre os fatores que 
interferem em sua aprendizagem, ou seja, suas preferências, 
sentimentos, compromissos com as tarefas, seu compromisso em 
relação ao processo de aprender. Essa avaliação tem seu foco na 
metacognição, a qual pode proporcionar ao sujeito um insight a 
respeito das atividades que facilitam ou dificultam sua aprendizagem. 
(Veiga, 2012, p. 32-163) 
Veiga (2012, p. 24) ressalta a importância da aplicação dos instrumentos 
modulares, pois por meio deles o psicopedagogo tem um conhecimento mais 
amplo sobre os sistemas cognitivos do sujeito. Assim, o uso desses instrumentos 
possibilita ao sujeito avaliar seus pontos fortes e fracos, além de levá-lo a pensar 
sobre o próprio pensamento, pois, como enfatiza a autora, o que nos diferencia 
de outros animais é a capacidade de refletir sobre nossa maneira de pensar. 
A propostada Psicopedagogia Modular traz uma visão inovadora sobre o 
processo de aprender do ser humano, pois ela possibilita outras vias para a 
investigação da aprendizagem e sugere uma ruptura no ensino tradicional que 
concebe o aluno como um ser passivo, passando a ser visto por esta proposta 
como um ser capaz de potencialidades a serem exploradas. 
 
 
11 
NA PRÁTICA 
Diante dos temas discutidos, segue o link de um vídeo ilustrativo dos 
principais conceitos da Epistemologia Genética de Jean Piaget. Nesse vídeo, 
são apresentados exemplos de como nós seres humanos nos desequilibramos 
quando nos é apresentada uma situação de aprendizagem nova. Com base 
nessas reflexões, pense em uma situação de sua vida que você vivenciou e que 
você consegue distinguir os três conceitos da Teoria de Jean Piaget: 
assimilação, acomodação e a equilibração. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=TL-_LCvtaPg>. Acesso em: 7 set. 2019. 
FINALIZANDO 
Neste encontro refletimos sobre os fundamentos da Epistemologia 
Genética de Jean Piaget, já que eles dão suporte para a Epistemologia 
Convergente que estudaremos em breve. Além disso, apresentamos o conceito 
da Epistemologia Genética, destacando sua origem e significados. Em seguida, 
exploramos os conceitos centrais da teoria de Piaget, como assimilação, 
acomodação e equilibração, apresentando um vídeo ilustrativo desses 
conceitos. Após isso, foram relembrados os estágios do desenvolvimento do 
conhecimento descritos por Jean Piaget. Posteriormente, abordamos a 
Psicopedagogia Modular e os instrumentos modulares utilizados na prática 
psicopedagógica. 
 
 
 
12 
REFERÊNCIAS 
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2004. 
DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. 
Porto: Porto, 1996. 
HOUAISS, A.; SALES, V. M. Dicionário da língua portuguesa. 1. ed. Rio de 
Janeiro: Objetiva, 2009. 
MIRANDA, V. R.; VEIGA, E. C. A importância da inteligência intrapessoal e 
interpessoal no papel dos profissionais da área da saúde. Ciência e Cognição, 
2006, v. 9, p. 64-72. 
OLIVEIRA, I. A. Epistemologia e educação: bases conceituais e racionalidades 
científicas e históricas. Petrópolis: Vozes, 2016. 
PÁDUA, G. L. D. A epistemologia genética de Jean Piaget. Revista FACEVV, 1º 
semestre de 2009, n. 2, p. 22-35. 
SARAVALI, E. G.; GUIMARÃRES, K. P. Dificuldades de aprendizagem e 
conhecimento: um olhar à luz da teoria piagetiana. Disponível em: 
<https://www.revistas2.uepg.br/index.php/olhardeprofessor/article/view/1491>. 
Acesso em: 7 set. 2019. 
VEIGA, E. C. Psicologia modular: uma modalidade de avaliação interventiva. 
Petrópolis: Vozes, 2012. 
_____. A psicopedagogia modular: Uma nova perspectiva no campo da 
avaliação. Psicologia Argumento, 2010, jan./mar., 28(60), p. 11-15.

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