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O que é Psicopedagogia? 3 Diálogos possíveis com diferentes descrições da Psicopedagogia. 6 A linguagem e a construção da identidade profissional. 10 Cientificismo e o científico na Psicopedagogia. 13 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTUDO PAUTADO PELAS VOZES DOS PROFISSIONAIS 18 Aspectos históricos da formação em Psicopedagogia na Argentina e no Brasil. 28 A Psicopedagogia na Prática 41 Diagnóstico Psicopedagógico Por Meio da Caixa Lúdica 43 A Caixa Lúdica 44 Ética Profissional 49 Princípios da psicopedagogia 49 A Psicopedagogia no Brasil: Uma Possível Leitura 53 Aprendizagem e Psicopedagogia: Um Encontro Lúdico 61 Como está a Regulamentação da Profissão de Psicopedagogo? 64 REFERÊNCIAS 70 O que é Psicopedagogia? Segundo Silvana Martines e Silvia Felizardo (1934) a psicopedagogia é o campo do saber que se constrói a partir de dois saberes e práticas: a pedagogia e a psicologia. O campo dessa mediação recebe também influências da psicanálise, da linguística, da semiótica, da neuropsicologia, da psicofisiologia, da filosofia humanista-existencial e da medicina. Existem dois tipos de Psicopedagogia: a Institucional e a Clínica. A linha da psicopedagogia Institucional promove uma relação entre os professores e o processo de ensino - aprendizagem, a fim de melhorar a instituição escolar e os problemas de aprendizagem na mesma. A psicopedagogia está intimamente ligada à psicologia educacional, da qual uma parte aplicada à prática. Ainda sobre Martines e Felizardo (1934) Ela diferencia-se da psicologia escolar, também está uma subdisciplina da psicologia educacional, sob três aspectos. ● Quanto à origem - a psicologia escolar surgiu para compreender as causas do fracasso de certas crianças no sistema escolar enquanto a psicopedagogia surgiu para o tratamento de determinadas dificuldades de aprendizagem específicas; ● quanto à formação - a psicologia escolar é uma especialização na área de psicologia, enquanto a psicopedagogia é aberta a profissionais de diferentes áreas e ● quanto à atuação - a psicologia escolar é uma área propriamente psicológica enquanto a psicopedagogia é uma área plenamente interdisciplinar, tanto psicológica como pedagógica. Concepção da Análise do Comportamento De acordo com a concepção da Análise do Comportamento, o processo de aprendizagem acontece na relação entre o objeto de conhecimento e o aluno. O professor programa a forma como o objeto de conhecimento será organizado, respeitando as características individuais do aluno. O objetivo é que o aluno se interesse pelo processo de conhecimento e aja sobre o objeto de conhecimento. https://pt.wikipedia.org/wiki/Aprendizagem https://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%A1lise_do_Comportamento https://pt.wikipedia.org/wiki/Processo_de_aprendizagem https://pt.wikipedia.org/wiki/Processo_de_aprendizagem Apesar do que alguns críticos erroneamente afirmam, para os analistas do comportamento o aluno não deve assumir uma posição passiva durante o aprendizado. Pelo contrário, responder a questões, formular questões e relacionar diferentes conteúdos é fundamental. Para que a aprendizagem seja mais efetiva, o professor deve investigar o nível de conhecimento do aluno, identificando seus pontos fortes e fracos e adaptando os conteúdos de forma a facilitar o ensino. Concepção Racionalista Na concepção racionalista, a aprendizagem é fruto da capacidade interna do aluno. Ele é, ou não, “inteligente” porque já nasceu com a capacidade, ou não, de aprender. Sua aprendizagem também estará relacionada à maturação biológica, só podendo aprender determinados conteúdos quando tiver a prontidão necessária para isso. O aluno já traz uma capacidade inata para aprender. Quando não aprende, é considerado incapaz; se aprende diz-se que tem um bom grau de quociente intelectual ou (Q.I.). Nesta concepção, o papel do professor é de organizador do conteúdo, levando em consideração a idade do indivíduo. De acordo com as pesquisas na área cognitiva de aprendizagem, quando uma pessoa apresenta uma deficiência de aprendizado em algum assunto específico, é provável que as ferramentas mentais como análise, percepção, memória, analogia, imaginação e organização mental das informações não estarão desenvolvidas apropriadamente. É necessário preparar essas competências mentais para desenvolver o aprendizado mais sistêmico antes de aplicar o conteúdo em si no aluno. Essa "capacidade inata" de aprender é vista como variável, porque, dependendo do seu sistema mental, o indivíduo pode tê-lo desenvolvido muito bem ou não. Caso negativo, uma orientação especial é capaz de desenvolver esses pontos mais precários de aprendizagem. Concepção Construtivista A concepção construtivista define a aprendizagem como um processo de troca mútua entre o meio e o indivíduo, tendo o outro como mediador. https://pt.wikipedia.org/wiki/Aprendizagem https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Capacidade_inata&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Q.I. https://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%A1lise https://pt.wikipedia.org/wiki/Imagina%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Construtivista O aluno é um elemento ativo que age e constrói sua aprendizagem. Cabe ao professor instigar o sujeito, desafiando, mobilizando, questionando e utilizando os “erros” de forma construtiva, garantindo assim uma reelaboração das hipóteses levantadas, favorecendo a construção do conhecimento. Nesta concepção o aluno não é apenas alguém que aprende, mas sim o que vivencia os dois processos, sendo ao mesmo tempo ensinante e aprendente. Alguns teóricos da Psicopedagogia defendem que “para que haja aprendizagem, intervêm o nível cognitivo e o desejante, além do organismo e do corpo” (Fernández, 1991, p. 74), por isso aproxima-se dos referenciais teóricos do construtivismo, pois foca a subjetivação, enfatizando o interacionismo; acredita no ato de aprender como uma interação, crença esta fundamentada nas ideias de Pichon Rivière e de Vygotsky; defende a importância da simbolização no processo de aprendizagem baseada nos estudos psicanalíticos, além da contribuição de Carl Gustav Jung pela psicologia analítica. É necessário que o psicopedagogo tenha um olhar abrangente sobre as causas das dificuldades de aprendizagem, indo além dos problemas biológicos, rompendo assim com a visão simplista dos problemas de aprendizagem, procurando compreender mais profundamente como ocorre este processo de aprender numa abordagem integrada, na qual não se toma apenas um aspecto da pessoa mas sua integralidade. Necessariamente, nas dificuldades de aprendizagem que apresenta um sujeito, está envolvido também o ensinante. Portanto, o problema de aprendizagem deve ser diagnosticado, prevenido e curado, a partir dos dois personagens e no vínculo. (Fernández, 1991, p. 99). Assim, cabe ao psicopedagogo voltar seu olhar para esses sujeitos, ensinante e aprendente, como para os vínculos e a circulação do saber entre eles. Como afirma Paín, uma tarefa primordial no diagnóstico é resgatar o amor. Em geral, os terapeutas tendem a carregar nas tintas sobre o desamor, sobre o que falta, e poucas vezes se evidencia o que se tem e onde o amor é resgatável. Sem dúvida, isto éo que nos importa no caminho da cura (Paín, 1989, p. 35). O psicopedagogo Reuven Feuerstein, criador das teorias da Experiência da Aprendizagem Mediada e da Modificabilidade cognitiva estrutural, defende a ideia de que a inteligência pode ser "exercitada" e "expandida". O método Feuerstein, de estímulo da inteligência, tem auxiliado indivíduos portadores de deficiências e considerados inaptos. Indivíduos, como o neto de Feuerstein (portador de síndrome de Down), apresentaram um grande desenvolvimento de inteligência, adquirindo a capacidade de aprender. Terminologia ● Ensinante-aprendente: termo usado para indicar que todo sujeito exerce as duas funções simultaneamente. ● Diagnóstico Psicopedagógico: trata-se da avaliação da situação e história individual baseado nos princípios psicopedagógicos, o que difere do diagnóstico psicológico ou da avaliação educacional. https://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetiva%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Subjetiva%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pichon_Rivi%C3%A8re&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Simboliza%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1 ● DIFAJ: termo cunhado por Alicia Fernández para descrever o modelo de atendimento psicopedagógico implementado pelo E.Psi.B.A. É o acrônimo para "Diagnóstico Interdisciplinar Familiar de Aprendizagem em uma Jornada". ● Inteligência atrapada: estado de inibição cognitiva caracterizado pelo esquema mental de defesa ou fuga, desenvolvido pelo próprio sujeito que impede ou atrapalha a aprendizagem. ● Queixa: termo que designa o problema vivenciado pelo sujeito, em geral criança ou adolescente, na visão dos pais ou de quem apresenta o caso ao profissional psicopedagogo (Ex: "Ele não consegue ler"; "Ela escreve de trás para frente"; "Ele troca as letras"; "Ele não sabe nada"). ● Vínculo: relação mútua entre a criança ou adolescente e o outro (família, colegas, profissionais etc.). Diálogos possíveis com diferentes descrições da Psicopedagogia. Muitas teorias psicológicas, a partir de uma tradição científica iluminista, moderna ainda compreendem o conceito de identidade a partir da concepção que o desenvolvimento humano se organiza e é organizado ao redor de uma identidade que progride na medida em que o indivíduo avança numa certa direção, em geral única . Nesse mesmo artigo, Moscheta, citando Hall (2006), lembra que o sujeito pós-moderno é aquele que não tem uma identidade essencial ou permanente, pois participa de diferentes sistemas culturais, assumindo em cada um deles contornos identitários diversos. A identidade é o resultado das experiências vividas pelo sujeito, sendo assim, a identidade é: histórica, transitória e contraditória. Na pós-modernidade, a partir da contribuição das áreas do conhecimento como a Psicanálise; Sociologia; Filosofia começa-se a questionar a noção de sujeito/indivíduo tal como compreendida no Iluminismo, pois se compreende o caráter relacional da identidade. Como afirma Melucci, 2004, p. 15:2 https://web.archive.org/web/20080604015925/http://www.epsiba.com/index.htm “O eu” não está mais solidamente fixo em uma identificação estável: joga, oscila e se multiplica: Há jogo é a expressão usada na linguagem mecânica para indicar que a engrenagem não está rigidamente presa em seu encaixe. Diante desta folga o eu pode sentir medo e perder-se. Ou, então aprender a jogar. A partir destas considerações releio meu caminho pessoal pela Psicopedagogia. Entro em contato com a minha história de vida pessoal e profissional, as quais se entrelaçam. Tive, e continuo tendo, oportunidades para fazer interlocuções com diferentes autores e formadores. Nesta caminhada pude traduzir para o meu estilo as contribuições teóricas que considero úteis, continuo fazendo leituras polifônicas, escuto as múltiplas vozes que me habitam. Apesar de traduzir para o meu dialeto/estilo, ainda percebo que continuo com mais perguntas, nem sempre respondidas, pois o “jogo na e da engrenagem” está presente. Nessa polifonia não há espaço para concepções totalmente fechadas e inquestionáveis. Este jogo, se por um lado angustia, por outro me mobiliza a continuar questionando e por isso mesmo continuar aprendendo e enriquecendo a disciplina Psicopedagogia. Na minha trajetória pessoal, inicialmente a prática esteve em evidência, porém logo senti necessidade da compreensão teórica e do trabalho pessoal (análise) para sustentar minha agência psicopedagógica. Suponho que a ânsia por do - minar ferramentas é uma demanda de quem inicia uma nova profissão, cuja origem acontece em cursos de especialização latu sensu. Eu vinha da prática institucional na coordenação como orientadora pedagógica. Minha atual formação, ainda em andamento, é fruto de uma semeadura originária do conjunto de experiências: análise pessoal; grupos de estudos; supervisões com psicanalistas; formação em Psicanálise; a escrita do mestrado; contato com a proposta de Feuerstein; formação na Terapia Familiar de base sistêmica e construcionista social; mais recentemente, participação no grupo de estudos em Análise Pragmática do Discurso, APD, com as terapeutas Neyde Araujo e Naira Morgado , cuja característica principal é compreender que a linguagem não é representacional, mas pragmática no sentido de como é usada singularmente. Através dessas visitas territoriais fui construindo um dialeto para meu estilo de agência psicopedagógica. Não é possível saber quem inicia o dialeto, pois o mesmo se constrói numa relação dialógica: criatura e criador entendidos como diferentes autores, disciplinas e profissionais que contribuem para o surgimento de um “dicionário psicopedagógico aberto”. Também leio e releio o caminhar da Psicopedagogia brasileira no artigo Rumos da Psicopedagogia Brasileira , publicado na revista da ABPp. Nesse artigo aponta-se o surgimento da Psicopedagogia inicialmente através da prática clínica para atender àqueles que por diferentes razões não respondiam à demanda da escolarização. Minha crença atual é que a Psicopedagogia também pode e deve intervir dentro dos muros da Escola. Justifico essa posição para dar conta de uma modalidade de escolarização: “escola para todos e cada um”. Dito de outra forma: o psicopedagogo está preparado como o especialista em aprendizagem para acompanhar a equipe pedagógica na adequação de programas, projetos, bem como atender às questões relacionais envolvidas no contexto escolar. O “professor tem a chave” na sala de aula, “o psicopedagogo tem a chave” para que a instituição Escola possa lidar melhor com a complexidade das questões envolvidas na rede composta pelos agentes envolvidos dentro e fora dos muros da instituição. Convivemos com divergências e questionamentos nas definições e concepções sobre nossas práxis, mas, como disse anteriormente na ementa, é preciso: “a construção de um corpus linguístico que, paradoxalmente, acolha os diferentes estilos/práxis, mas que também expresse um denominador linguístico comum que contribua para a identidade da categoria profissional.” Sublinho a necessidade de distinguir as instâncias: área de conhecimento, isto é a disciplina Psicopedagogia, do profissional Psicopedagogo que transita na área a partir da singularidade/ estilo/dialeto, efeito de sua identidadedinâmica. Para analisar e compreender a complexidade da aprendizagem humana, faz-se necessária a utilização de múltiplas lentes, isto, é disciplinas. Não há como negar a existência e a presença das instâncias/categorias que nos permitem transitar com e entre diferentes disciplinas e áreas de conhecimento. As instâncias: multidisciplinaridade; interdisciplinaridade e transdisciplinaridade favorecem o diálogo entre as disciplinas promovendo aproximações para a compreensão “mesmo que provisórias” das vicissitudes e complexidade do ser humano para conhecer e aprender. Embora o trânsito pelas diferentes disciplinas seja enriquecedor e útil, corre-se o risco de desviar o olhar do “viajante visitante”. Dito de outras formas: Como dialogar respeitando as escolhas pessoais, sem que as mesmas interfiram no que chamarei de “Integridade da Psicopedagogia”. A Associação Brasileira de Psicopedagogia vem nestes mais de 35 anos de existência se preocupando com a integridade da categoria profissional num espaço institucional que acolhe as diferentes praxis. Urge trabalhar para evitar quebras/cortes dentro de nosso território profissional devido aos desafios impostos. Não são as diferentes escolhas teóricas, mas, o radicalismo de “Verdade” única. Este sim interfere negativamente na integridade da categoria profissional. Como enfrentá-lo? Como dialogar com a pluralidade de verdades? Seria o diálogo sempre possível? Não há respostas prontas. Acredito que a ética pode ser uma forma de limite que viabilize diferentes práxis, ela pode ser a “medidora de conflito”. As ideias advindas do Construcionismo Social têm me ajudado a identificar, nomear e dialogar com diferentes formas discursivas com maior abertura. No texto Construcionismo social, um convite ao diálogo, (Gergen & Gergen, 2004) seus autores fazem distinção entre Verdade (única e indiscutível) e verdade (versão). Esta distinção pode, em parte, contribuir para pensar a ética como mediadora. “Os cientistas geralmente argumentam que, através de seus métodos, eles conseguem chegar cada vez mais perto do mundo como realmente ele é.... Nem todas as ideias construcionistas desvalorizam as iniciativas científicas, mas, certamente, desafiam a ideia de que a ciência revela a Verdade”. Gergen & Gergen (2004), grifo meu Estes autores construcionistas sociais referem-se às diferentes tradições de comunidades linguísticas (diferentes abordagens), as quais vão sendo criadas a partir da construção de crenças e valores e de identificações com diferentes compreensões teóricas. A ética neste contexto é a distinção entre Verdade e verdade. Relaciono esta distinção com o dito popular espanhol do poeta Campomar: “Nada es verdad, nada es mentira, todo es, segun el color del cristal con que se mira”. A Linguagem é um mediador universal, ela constrói mundos. Ela é constitutiva, pois somos constituídos pela linguagem e na linguagem. Como afirma Grandesso, 2014 “Como seres humanos, estamos sempre envolvidos em gerar sentido para nossas vidas, e fazemos isso interpretando a nós mesmos e ao mundo a nossa volta, dentro de um sistema de linguagem e dos campos de sentido em que vivemos.” A linguagem e a construção da identidade profissional. Como mencionei anteriormente, a linguagem constrói mundos. A construção do termo PSICOPEDAGOGIA, que nomeia o campo de ação de uma categoria profissional, não surgiu repentinamente. Historicamente, outras denominações foram sendo utilizadas como: Pedagogia Terapêutica; Reeducação; Reeducação Psicopedagógica, até que finalmente os psicopedagogos admitiram e escolheram uma forma que expressasse a praxis e não apenas a prática. O grupo que fundou a Associação “gastou horas a fio” na escolha dos termos Psicopedagogia e Psicopedagogo que envolveu discussões fundadas nas nossas experiências pessoais, pois vínhamos de formações diferentes. Mas, apesar das diferenças, havia um querer dialogar “com” e “entre” diferenças para fundar inicialmente a Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo e posteriormente a Associação Brasileira de Psicopedagogia. Nossas conversas giravam em torno do “Quem somos?”. Percebíamos que nossas visitas e o trânsito pelas outras áreas do conhecimento, como a Psicanálise; Sociologia, Psicolinguística; Neurologia; Psicomotricidade, entre outras, eram úteis para compreender a complexidade envolvida no aprender. O enriquecimento advindo da visita a outros territórios demandava tradução para o idioma psicopedagógico no território específico da Psicopedagogia. Estudar e compreender o ser aprendente a partir de diferentes áreas de conhecimento não nos faziam declinar de nosso objeto de estudo, a aprendizagem humana. Não nos tornávamos psicanalistas, sociólogos, linguistas, psicomotricistas. A Transdisciplinaridade serviu para enriquecimento da práxis a partir da leitura polifônica dos conteúdos das diferentes disciplinas. Passados tantos anos da fundação da Associação Brasileira de Psicopedagogia, que surgiu inicialmente como Associação Estadual de Psicopedagogos de São Paulo, podemos afirmar que essa disciplina, e área de trabalho, distingue-se como especializada em Aprendizagem Humana em diferentes contextos. Academicamente, a formação profissional acontece em curso de pós-graduação latu sensu, cuja finalidade é formar especialistas. Dentro da categoria de especialização latu sensu, o desafio é dar continuidade à formação pois, o curso é “ pontapé inicial do jogo”, é preciso muita experiência, técnica e conhecimento para ser um “bom jogador”. Questiono o uso dos termos híbridos neuro-aprendizagem; neuro-psicopedagogo; neuro-pedagogo; como expressão das escolhas teóricas do profissional cujo objeto de estudo é a aprendizagem humana. A linguagem não é inocente. Estas denominações ao privilegiar foco nos aspectos orgânicos, mais especificamente no cérebro, deixam de lado a visão do sujeito como um todo que se manifesta através da mente e de sua singularidade. Se a linguagem não é inocente, qual a utilidade e o sentido da inclusão do prefixo neuro? Como conversam entre si os conceitos de mente, cérebro, sujeito, subjetividade nesta concepção? Uma contribuição importante dentro da valorização da linguagem no contexto psicopedagógico é o conceito do pragmatismo linguístico in - troduzido por Wittgenstein, na década de 40, que foi sendo assimilada na Filosofia. Como apontam as terapeutas Araujo e Morgado: “As teorias pragmáticas da linguagem têm um extenso e longo percurso na história da filosofia americana. Aqui seguiremos a tradição iniciada por Wittgenstein e Austin e desenvolvida pelos filósofos contemporâneos Donald Davdson e Richard Rorty. O pragmatismo linguístico afirma que a linguagem é um conjunto de habilidades naturais formadas por sons e marcas articulados com sentido, intenção e força performativa (...) Com a linguagem somos capazes de criar ou inventar coisas e eventos novos e imprevisíveis, inclusive de reinventar-nos.” Como essa abordagem influi na identidade profissional e disciplinar? Se a linguagem faz mundo pela performatividade, há que se perguntar como está sendo construída essa identidade? Atualmente, a comunidade científica e o públicode modo geral estão familiarizados com termos Psicopedagogia e Psicopedagogo. A identidade do psicopedagogo é dinâmica no sentido de que ela se constrói a partir do conjunto de necessidades, crenças, compreensões teóricas e práticas. Esse conjunto complexo produz diferentes discursos que representam diferentes abordagens psicopedagógicas. Este é um fato incontestável e saudável. Nos cursos especialização e nas supervisões, a maioria dos alunos em formação formula duas perguntas recorrentes: 1) O que nos diferencia de professores particulares? 2) Como lidar com a expectativa de resultados pedagógicos imediatos? Estas perguntas me convidam a fazer outra: qual a diferença entre um Psicopedagogo e de um Neuropsicopedagogo? Entre Educação e Neuroeducação? Pedagogia e Neuropedagogia? A que vieram essas denominações? Continuando com a metáfora espacial: visitam-se territórios estrangeiros, mas, é necessário voltar para o TERRITÓRIO DA PSICOPEDAGOGIA. Este possui um idioma próprio, o qual se manifesta através de diferentes dialetos/estilos/ praxis que vão surgindo a partir das diferentes comunidades linguísticas que adotam determinadas tradições teóricas que por sua vez são atravessadas pelas contingências culturais; acasos; paradoxos, os quais são elementos enlaçados às biografias e identidades pessoais. Entendo que o eixo central da Psicopedagogia é a “aprendizagem humana com suas vicissitudes”. Este eixo é o objeto de estudo, pesquisa e fundamentalmente é o “órgão de sobrevivência humana” e também seu destino, pois “nascemos para aprender” (Trocmé, 2006). Saber e considerar essas características da aprendizagem faz toda a diferença na ação pedagógica e psicopedagógica. Mas, paradoxalmente, aprender não é fácil nem natural, consequentemente as vicissitudes do aprender são condições pertinentes . Isso não impede admitir a existência e a presença de dificuldades de aprendizagem que demandam cuidados específicos. Vale retomar os termos Reeducação e Psicopedagogia Dinâmica. Na Reeducação o foco/lente é a prática e a exercitação para educar novamente e resolver a questão com a mudança de comportamento. Quando a lente usada para compreensão do conflito/problema é Psicopedagogia Dinâmica, a mudança é uma consequência de deslocamentos não apenas do sujeito, mas das relações e nas relações do mesmo com o seu entorno. As mudanças discursivas decorrem de novas formas de lidar com o aprender, como também pelo conteúdo das narrativas usadas para se descrever o modo como o aprendente se relaciona com o conhecimento e o saber. Sara Paín foi quem primeiro nos apontou a necessidade de escutar o discurso dos adultos significativos para a descrição das hipóteses a respeito da origem das dificuldades. Sara também nos convida a olhar o todo através das quatro estruturas: corpo, organismo, estrutura simbólica/desejo e a cognição/inteligência. Poderíamos considerar essa concepção como pertinente ao corpus linguístico comum à categoria profissional? Quais seriam as consequências? Na prática significa considerar a subjetividade SEMPRE presente. A construção de uma linguagem comum que defina e delimite o campo profissional do psicopedagogo é complexa não somente devido às diferentes concepções de práxis, mas, sobretudo, devido também à ampliação do campo profissional. Hoje, psicopedagogos estão inseridos em diferentes setores que não lhe eram familiares inicialmente, tais como empresas; hospitais; abrigos, entre outros. Não há como se pensar numa identidade fixa e fechada, pois são as novas demandas da sociedade que desencadeiam novas formas discursivas para o fazer psicopedagógico. A mobilidade identitária, além de demandar formação continuada, requer especializações construídas em ação para atender novas demandas. Aceitar a existência de estilos/práxis/dialetos diferentes que descrevem um objeto comum, isto é, o ser que aprende, implica na construção de relações que envolvem ideais desafiadores como: acolhimento do diferente; disponibilidade para diálogo; curiosidade para conhecer diferentes pontos de vista; olhar para o diferente sem preconceitos. Não é suficiente a disponibilidade intelectual, cognitiva. A subjetividade está sempre presente na disponibilidade para negociar, confirmar, “calibrar o sentido” das diferenças nas descrições, nomeações e concepções dos termos usados. É útil lembrar o percurso da Psicologia e da Psicanálise, as quais se expressam através de inúmeras linhas teóricas e de múltiplas formas de praticá-las. Será efeito da maturidade para lidar com a diversidade? Volto à pergunta: Qual a necessidade da adoção de termos que expressam outras disciplinas? Hoje, após anos de discussão a respeito de quem somos, o nome Psicopedagogia, embora composto de Psi e Pedagogia, “não é fruto híbrido” resultante de uma mistura das duas disciplinas, ela é OUTRA ÁREA DE CONHECIMENTO. Tenho esperança de que a nossa Psicopedagogia com suas diferentes práxis/estilos/dialetos consiga também lidar com a diversidade sem necessidade de declinar de seu nome/identidade, construído ao longo do tempo e espaço. Enfatizo que a linguagem não é inocente. Cada ser humano tem um nome próprio resultado das escolhas parentais, as quais buscam um nome que faça sentido, também é o caso da Psicopedagogia. Cientificismo e o científico na Psicopedagogia. Nos cursos de especialização em Psicopedagogia, mestrados e doutorados em Psicologia e Educação docentes e alunos através de suas monografias, dissertações e teses vêm discutindo, problematizando e pesquisando temas relacionados às práticas psicopedagógicas em diferentes contextos. Alguns destes trabalhos têm sido publicados e são úteis para a divulgação de novos campos de ação psicopedagógica. As produções de escritas dentro de padrões acadêmicos contribuem para aproximação da Psicopedagogia com o científico, pois nesse contexto parte de questionamentos e fundamentação teórica para justificar o objeto de pesquisa. Estes trabalhos têm também contribuído para a implementação e ampliação da ação psicopedagógica. Quando as vicissitudes do aprender atingem maior intensidade, costumam ser denominadas de transtornos da aprendizagem, sendo descritas em códigos internacionais de doenças, organizados por médicos. Esses códigos/dicionários identificam características gerais e específicas para as “doenças da aprendizagem”. Os códigos se fundamentam nas pesquisas científicas quantitativas feitas pela categoria profissional da área da saúde, mais especificamente de determinadas comunidades linguísticas. São importantes e podem complementar análises feitas pelos especialistas na área da aprendizagem. Como venho apontando, as várias lentes enquanto disciplinas colaboram para a compreensão e intervenção psicopedagógica da dificuldade de aprendizagem. Dialogar com comunidades linguísticas identificadas com diagnósticos fechados e Verdade cientificamente incontestável, sustentadas pelos códigos internacionais é desafiador. As dificuldades não decorrem das diferenças entre verdades, mas pela crença de que as verdades determinadas por algumas comunidades linguísticas são: melhores, mais exatas e por isso mesmo credenciadas para identificar a origem dos Transtornos de Aprendizagem. Vale lembrar aqui a contribuiçãoproposta por Sara Pain , que inaugurou um modelo de análise para compreensão do aprender. O organismo sempre está presente no conjunto das quatro estruturas envolvidas na aprendizagem: organismo; corpo; estrutura simbólica e inteligência. Não seria míope a visão unicamente focada na organicista na análise dos ditos Transtornos de Aprendizagem? O sujeito da aprendizagem é apenas o resultado de seu organismo? Onde está a singularidade? Onde está o sujeito? Minha próxima questão relaciona-se com a prática: Por que alguns psicopedagogos, inspirados pelas descrições dos códigos internacionais de doenças, conduzem a intervenção focando primordialmente nos aspectos funcionais, como foi na Reeducação Psicopedagógica? Ora, se para aprender são necessárias as quatro estruturas, é quase impossível pensar em mudanças funcionais desconsiderando as relacionais. Há lugar para o “encontro terapêutico”? Quando me refiro ao “encontro terapêutico”, faço polifonia com um texto que chamo hoje de “fundador da psicopedagogia dinâmica” que li na década de 80, quando iniciava meu trabalho clínico ainda voltado para a reeducação psicopedagógica. Minha preocupação naquela época, quando iniciei meu trabalho, era “o domínio de métodos e técnicas que melhor contribuíssem para as mudanças específicas”. O texto em questão era a transcrição de uma conferência do Colóquio: “A Dislexia em questão”, realizado em 1970, em Paris, da autoria de Chassagny, da equipe médico-psicopedagógica. Ele, que inovou ao cunhar a expressão “Pedagogia Relacional da Linguagem”, afirmava: “Não temos a intenção de transformar a reeducação em psicoterapia analítica. Mas não vejo problema no fato de que nossa reeducação seja uma psicoterapia. No centro de uma relação, de um encontro com uma criança ao redor do objeto linguagem, encontramos a linguagem, a técnica do reeducador e também a relação terapêutica, porque, salvo que se esteja diante de um muro ou de um gravador, toda relação dual de pessoa a pessoa implica numa relação afetiva”. A preocupação com a priorização de mudanças funcionais não seria uma retomada histórica da Reeducação, quando o profissional que se dedicava à reabilitação o fazia sob orientação do médico? É imprescindível considerar a presença da organicidade na aprendizagem, porém como parte do todo e não isoladamente. Alguns profissionais de comunidades linguísticas identificados com a valorização de aspectos orgânicos e com as descrições dos códigos internacionais de doenças validam, qualificam e valorizam práticas fundadas unicamente em pesquisas científicas, especificamente na quantitativa. Na prática o discurso se manifesta através de ações como: diagnósticos fechados; ações cientificamente comprovadas e resultados previsíveis. Identificada com abordagem dinâmica na Psicopedagogia e do construcionismo social, entendo que o termo “diagnóstico psicopedagógico” expressa a visão essencialista, fechada. Há profissionais da área da Psicopedagogia que se preocupam em “fechar diagnósticos”. Considero a terminologia Avaliação Psicopedagógica mais adequada, ela é importante enquanto etapa que expressa e orienta a direção da intervenção. Os resultados apontados na avalição são provisórios e específicos, são como uma “foto datada”. Será a partir da continuidade da intervenção que serão melhor compreendidos os estilos de aprendizagem e as questões com a aprendizagem. O fracasso escolar e o desajuste para lidar com o “aprender a viver” inevitavelmente causam sofrimento e desgaste para o sistema de vida humano como um todo, pois atingem: família, escola, aprendente, sociedade. Alguns setores descrevem e qualificam como soluções “mágicas” as intervenções medicamentosas nas questões relacionadas à atenção e inquietação corporal. Volto a sublinhar que seria insensatez desconsiderar o organismo e os benefícios das substâncias que, em algumas situações, podem contribuir para o funcionamento mais harmônico do ser humano. Porém, é fundamental critérios para a escolha das intervenções que se balizam por solução “certeira e mágica”. Onde estão as equipes multidisciplinares disponíveis ao diálogo aberto entre as diferentes disciplinas com profissionais que por elas transitam? Como construir comunidades linguísticas abertas que admitam diferentes caminhos para a dissolução dos problemas de aprendizagem e suas diferentes causas? A dificuldade/impossibilidade para dialogar com comunidades linguísticas muito diferentes me remete ao poder do discurso social. Na Idade Média, o discurso era: o destino depende do divino. O Iluminismo inaugura outra explicação para o desafio existencial: o Homem através da inteligência e do conhecimento científico tem poder para controlar sua vida. O pensamento moderno, cartesiano introduz as bases para a supervalorização do científico. Este ainda está presente no discurso idealista da Educação que tem como objetivo desenvolver as competências do bom professor e as competências do bom aluno. Estes discursos valorizam a técnica e a metodologia como dispositivos fundamentais para atingir os objetivos. Mas, apesar da ênfase na capacidade de planejamento, nem sempre conseguem mobilizar seus alunos. Por outro lado, há docentes que surpreendem e se destacam pelos resultados alcançados com “alunos-problema” , pois se balizam por práticas diferenciadas das tradicionais. Na minha leitura, eles pertencem a uma “comunidade linguística” identificada com a visão da Psicopedagogia dinâmica: “Tendem a lutar contra o fracasso escolar de seus alunos, a praticar metodologias mais ativas e criativas e a respeitar seus alunos enquanto sujeitos particulares, detentores de uma singularidade a ser explorada em sala de aula, por trazerem necessidades muitas vezes contrárias àquelas definidas previamente pelos planos de curso e conteúdos programáticos” A educação é uma profissão impossível como afirma Freud, porém o impossível “não é sinônimo de irrealizável, mas indica que algo não pode ser integralmente alcançado” . Isto me faz relacionar a transmissão advinda da educação como algo incontrolável, marcado pela ignorância, isto é, não se sabe como cada uma no encontro pedagógico significa o conteúdo transmitido a partir de suas próprias afetações. O aluno que responde ao apelo de seu mestre, o faz por consideração ao mesmo, isto é, por amor ao outro. A aquisição do conhecimento depende estreitamente da relação do aluno com o professor, ou com o psicopedagogo. Qual é o resultado de uma intervenção psicopedagógica que valoriza primordialmente habilidade e funções desconsiderando “necessidades muitas vezes contrárias àquelas definidas previamente pelos planos de curso e conteúdos programáticos” ou pelos caminhos traçados a partir de diagnósticos fechados? Saindo da posição positivista e idealista da Educação e da Psicopedagogia, Pereira no artigo: “O relacional e seu avesso na ação do bom professor” apresenta reflexões de autores (Shön, Cifali, Perrenaud), que construíram alternativas para analisar a ação pedagógica a partir de situações problemáticas nas quais se apresentam conflitos, instabilidades, incertezas. Estas são entendidas como constitutivas, isto é, pertinentes. Isto não significa aceitação tácita das mesmas. Demanda reflexão como prática, afirma Perre naud: “ A reflexão sobre a própria prática éem si mesma um motor essencial de inovação”. Mas, avalia Pereira: quando Perrenaud, em seus estudos avalia o bom professor como aquele que em situações adversas: analisa o que sentiu e fez, pensou, o faz não para julgar, mas para analisar a sua própria prática identificando aspectos relacionais que poderiam ser melhor conduzidos . Estamos familiarizados com o conceito de clínico no sentido de debruçar-se, inclinar-se diante do paciente. Cifali, 1991, apud Pereira7 , oferece outra conotação para o conceito de clínico para a prática educacional, o qual visa trazer uma parte dos conhecimentos teóricos como respostas às situações vividas, o que obriga o professor a refletir sobre sua ação, compreender os fenômenos e a rever sua prática. Mas, é Perrenaud quem, ao reler Cifali, propõe: “O clínico é o que perante uma situação complexa, possui as regras e dispõe de meios teóricos e práticos para: a) avaliar a situação; b) pensar numa intervenção eficaz; c) pô-la em prática; d) avaliar sua eficácia aparente; e) corrigir a pontaria. Ensinar não consiste em aplicar cegamente uma teoria nem conformar-se com um modelo. É, antes de mais nada, resolver problemas, tomar decisões, agir em situações de incerteza e, muitas vezes, de emergência. Sem para tanto afundar no pragmatismo absoluto e em ações pontuais” Termino minha reflexão a respeito do científico e do cientificismo com a contribuição de Perrenaud, que coloca o educador/psicopedagogo/ terapeuta na posição de intelectual que sensivelmente e subjetivamente pode lidar com imprevistos, desequilíbrios, incertezas, como dispositivos pertinentes e presentes no ato pedagógico e no encontro psicopedagógico. Esta ação não se distancia do pensamento científico na medida em que a teoria e prática estão presentes, bem como a avaliação a posteriori que permite reformulação criteriosa. O que muda neste modelo? É a inclusão da relação entre os atores. Não é um protocolo enquanto script pré-determinado que conduz a cena na qual os atores e autores contracenam. A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTUDO PAUTADO PELAS VOZES DOS PROFISSIONAIS Psicopedagogia: pressupostos e definições Buscando entender como surgiu a Psicopedagogia, reportamos a Fagali e Vale (2009), que destacam que a área supramencionada surgiu devido à necessidade de compreender os problemas de aprendizagens e sua relação com o desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implícitas nas situações de aprendizagem. Nesse enfoque, a Psicopedagogia ao longo da sua trajetória histórica busca a compreensão do ser que aprende, do processo de ensino/aprendizagem e das dificuldades e transtornos que podem emergir (BARBOSA, 2001). Complementando Portilho (2003,p.125) define: Psicopedagogia tem por objeto de estudo a aprendizagem do ser humano que na sua essência é social, emocional e cognitivo- o ser cognoscente, um sujeito que para aprender pensa, sente e age em uma atmosfera, que ao mesmo tempo é objetiva e subjetiva, individual e coletiva, de sensações e de conhecimentos, de ser e vir a ser, de não saber e de saber. Essa ciência estuda o sujeito na sua singularidade, a partir do seu contexto social e de todas as redes relacionais a que ele consegue pertencer [...] Corroborando, Ferreira (2008, p.141) explica que o psicopedagogo também "busca possibilitar o florescimento de novas necessidades, de modo a provocar o desejo de aprender e não somente uma melhora no rendimento escolar". Ainda com relação à Psicopedagogia, Ujiie (2016, p.13) destaca que: A Psicopedagogia é uma área de estudo que tem como objetivo a aprendizagem humana, que em sua natureza sistemática é ação social, cognitiva e emocional. Por esta via, a Psicopedagogia é uma ciência abrangente com duplo enfoque: clínico e institucional, ou seja, o atendimento individual e/ou coletivo de sujeitos aprendentes. Neves (1991) aponta que a psicopedagogia ao estudar o ato de aprender, considera as realidades externas e internas da aprendizagem, buscando compreender a construção de conhecimentos em toda a sua complexidade. Cada aluno aprende de maneira singular, apresenta habilidades, potencialidades diferenciadas, sendo importante conhecer cada um individualmente, avaliar, atender, orientar e diversificar as atividades e ações pedagógicas em prol da superação das dificuldades de aprendizagem. (CRUZ, 2014) Nascimento (2013) especifica que o Psicopedagogo é um profissional importante para assessorar e esclarecer à escola a respeito de diversos aspectos do processo de ensino-aprendizagem tendo uma atuação preventiva e interventiva. O Psicopedagogo tem o papel de “[...] analisar os fatores que favorecem, intervêm ou prejudicam uma boa aprendizagem em uma instituição.” (NASCIMENTO, 2013, p.1) Dentro da escola, o psicopedagogo pode atuar de várias maneiras e em diferentes enfoques, Pontes (2010, p. 418) relata que “a atuação psicopedagógica na escola implica num trabalho de caráter preventivo e de assessoramento no contexto educacional.”, ou seja, o psicopedagogo não trabalha somente no atendimento aos alunos que possuem alguma dificuldade de aprendizagem, mas também, dá suporte pedagógico aos profissionais que estão em contato diariamente com esses alunos e que influenciam o processo de ensino-aprendizagem. O trabalho na instituição escolar apresenta duas naturezas: O primeiro diz respeito a uma psicopedagogia voltada para o grupo de alunos que apresentam dificuldades na escola. O seu objetivo é reintegrar e readaptar o aluno à situação de sala de aula, possibilitando o respeito às necessidades e ritmos. Tendo como meta desenvolver as funções cognitivas integradas ao afetivo, desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a aprendizagem dos conceitos conforme os objetivos da aprendizagem formal. O segundo tipo de trabalho refere-se à assessoria junto a pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e o cognitivo, através da aprendizagem dos conceitos e as diferentes áreas do conhecimento. (SANTOS, 2016, p. 02) Concomitantemente, Barbosa (2001, p.74) afirma que “a ação psicopedagógica na instituição escolar pode se caracterizar como diagnóstica, de intervenção corretora ou preventiva.”. Nesse ínterim, Blaszko,Portilho e Ujiie (2016, p.146) destacam que no decorrer da ação psicopedagógica é importante que: O psicopedagogo necessita conhecer e valorizar as diferentes aprendizagens construídas ao longo da história de vida da pessoa, considerando que estas podem contribuir para enaltecer a aprendizagem ou favorecer o aparecimento de dificuldades. O olhar e a escuta para aquele que aprende, considerando suas experiências, conhecimentos, sentimentos, valores, habilidades, dificuldades e potencialidades é a atitude que se espera do psicopedagogo que trabalha considerando a totalidade da pessoa. Visto que o ser humano desde sua existência está em constante processo de aprendizado, o qual deve ser conhecido e considerado pelo profissional da área da psicopedagogia, pois podem trazer dados relevantes e contributivo ao processo de avaliação e intervenção psicopedagógica. Além de atuar em prol da solução ou prevenção dos problemas de aprendizagem, o psicopedagogo pode, e deve, pensar em maneirasdiferenciadas para melhorar a qualidade do ensino nas escolas (SCOZ, 1994). Barbosa e Souza (2010) explicam que ser psicopedagogo consiste em "ser incentivador e cuidador dos processos de construção de euscognoscentes; portanto, não se trata de ensinar e muito menos de psicoterapeutizar." Com relação ao ser psicopedagogo, devemos lembrar que é necessário uma formação profissional, a qual buscou-se esclarecer via consulta ao Código de Ética do Psicopedagogo (ABPp, 2011, p. 2.) o qual revela que: A formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso de pósgraduação – especialização “lato sensu” em Psicopedagogia, ministrados em estabelecimentos de ensino devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos competentes, de acordo com a legislação em vigor. Além da formação exigida para atuação no campo da psicopedagogia, o Código de ética do Psicopedagogo no seu artigo 6º aponta que : Estarão em condições de exercícios da Psicopedagogia os profissionais graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia - especialização "lato sensu" - e os profissionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. É indispensável submeter - se à supervisão psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal. Os critérios supramencionados são requisitos que devem ser atendidos e necessários para a atuação legal como profissional denominado Psicopedagogo. Ainda neste enfoque, Neves (2005) destaca que a prática psicopedagógica precisa partir de um pleno conhecimento do seu objeto de estudo, de seu papel e sua base epistemológica. Considerando os apontamentos, Ostietal (2005, p. 152) postula que: A psicopedagogia educacional objetiva que todos profissionais de educação, considerando diretores, professores e coordenadores pedagógicos repensem o papel da escola frente às dificuldades da criança e os vários fatores envolvidos numa situação de aprendizagem. Por outro lado, crianças com dificuldades de aprendizagem necessitam de atendimento especifico, o que evidencia que em certos casos a escola não consegue resolver todos os problemas desta ordem sozinha, necessitando de ajuda de um profissional especializado. Para Feldmann (2006) o psicopedagogo pode utilizar de várias estratégias na intervenção psicopedagógica,trabalhando inclusive em conjunto com toda a equipe escolar, a qual deve estar mobilizada para oportunizar condições adequadas em prol da construção de novas aprendizagem. Segundo Blaszko, Portilho e Ujiie( 2016, p. 150) explicam que: Evidencia-se que o psicopedagogo trabalha de maneira multidisciplinar, o qual se efetiva na interação com os outros profissionais de outras áreas específicas que realizam atendimentos aos alunos: psicóloga, fonoaudióloga, assistente social, especialista da área da medicina entre outros profissionais de acordo com as necessidades do educando. Conforme as autoras, ressaltam também que é imprescindível a interação do psicopedagogo com outros profissionais especialistas e da área da educação,são ações que contribuem para a potencialização e acompanhamentos e atendimentos de alunos e de suas respectivas necessidades Análise e reflexões sobre a atuação psicopedagógica no contexto escolar Neste tópico, apresentaremos uma breve análise dos dados coletados mediante aplicação de questionário semi-estruturado contendo oito questões mistas entre objetivas e subjetivas, os quais foram aplicados entre os meses de fevereiro à março do ano de dois mil e dezessete mediante visita a três municípios do Sul Paranaense, momento que oportunizou contato com profissionais da área da psicopedagogia atuantes diretamente na escola. Com intuito de conhecer aspectos referentes a atuação do psicopedagogo no contexto escolar, aplicou-se um questionário semi-estruturado para três psicopedagogas de três municípios do Sul - Paranaense, a escolha de profissionais de regiões diferentes adveio da necessidade existente de conhecer posicionamentos e ações dos profissionais frentes as demandas da região. As psicopedagogas que participaram da pesquisa todas são do sexo feminino e serão denominadas como: p.1, p.2 e p.3, respeitando os princípios éticos desta pesquisa, que garantem sigilo e preservação da identidade e da privacidade dos participantes. Com relação à formação profissional das psicopedagogas participantes da pesquisa, todas cursaram graduação em Pedagogia, no que tange pós-graduação p.1 e p.3 cursaram especialização em Psicopedagogia Institucional e Clínica e participante p.2 possui especialização somente em psicopedagogia institucional, ressalta-se que todas avaliam e realizam atendimentos aos alunos no contexto escolar. Considerando os dados acima, um dos aspectos da formação profissional que gera preocupação, consiste no fato de mesmo a profissional p.2 apresentar somente especialização na área institucional faltando parte da especialização na área clínica, a mesma realiza atendimentos, encaminhamentos e avaliações dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Em seguida, buscou-se conhecer a motivação das profissionais pela escolha da formação e atuação no campo da psicopedagogia, as quais relataram: Na verdade quando fui fazer o curso de pós graduação em Psicopedagogia, não era minha intenção atuar como psicopedagoga, pois já atuava em escola de Ed. Especial e a Psicopedagogia viria agregar à minha prática pedagógica com alunos especiais. Mais tarde fui convidada a atuar como psicopedagoga na SME. (p.1) A Psicopedagogia surgiu da necessidade de compreender o processo educacional de maneira interdisciplinar, conhecendo os mecanismos de aprendizagem procurando entender o sujeito ativo e protagonista do processo. Escolhi esta profissão para entender as questões que envolvem o processo ensino-aprendizagem e assim contribuir com intervenções para diminuir as dificuldades. Acredito que podemos “fazer a diferença”. (p.2) Por meio da graduação e da disciplina Introdução a Psicopedagogia, obtive contato com uma área de atuação profissional apaixonante a Psicopedagogia.bDurante os anos iniciais e finais do processo de escolarização obtive muitas dificuldades de aprendizagem bem como muitos dos meus colegas, diante disso sempre busco aprofundar os estudos voltados para atender melhor os alunos e demonstrar aos professores que devem ter um olhar positivo, sempre acreditando no potencial de seus alunos, desenvolvendo atividades diversificadas em prol da superação das dificuldades de aprendizagem e não considerando-os como fracassados. (p.3) Diante dos relatos, percebemos que todas as psicopedagogas tiveram diferentes motivações para seguir carreira na área da Psicopedagogia, a p.1, viu no curso de pós graduação em psicopedagogia, uma maneira de ampliar seus conhecimentos e melhorar sua prática pedagógica com os alunos portadores de necessidades especiais, que na época atendia, já a p.2, escolheu a profissão pois queria entender questões relacionadas com o processo de ensinoaprendizagem e p.3 teve como inspiração suas próprias experiências durante o processo de escolarização que motivaram os estudos visando contribuir para que outros profissionais acreditem no potencial de seus alunos e não os rotulem. Também as participantes foram questionadas se a formação a nível de graduação e pós-graduação ofereceram subsídios suficientes para atuar como psicopedagogos no contexto escolar, apontaram que: “A formação oferece a base, é a experiência do cotidiano que vai aclarar e tornar mais segura a prática do psicopedagogo” (p.1) “Ofereceramdirecionamento para atuar como psicopedagoga, porém (conhecimento (porém) enquanto profissional devemos buscar mais conhecimento, não podemos parar para que a prática possa ter qualidade” (p.2) "A formação a nível de graduação e pós-graduação ofereceram uma noção de conhecimentos necessários para atuar como psicopedagogos, porém foi necessário o constante aperfeiçoamento a busca por estágios supervisionados e cursos para maior qualificação e atuação com eficiência". (p.3) Constata-se que a formação a nível de graduação e especialização ofereceu somente subsídios e uma base para a atuação, sendo que os profissionais que desejam seguir carreira profissional nesta área devem buscar mais conhecimentos via cursos de aperfeiçoamentos e realização de estágios supervisionados. Este aspecto é preocupante, pois muitos profissionais não apresentam a consciência do contínuo aperfeiçoamento, caso a especialização não oportunize um conhecimento profícuo a atuação em contexto escolar apresenta defasagens refletindo inclusive no atendimento e avaliação de alunos que necessitam acompanhamento adequado. Em seguida, os profissionais relataram como desenvolvem o trabalho no contexto escolar, sendo da seguinte maneira: “Contato com a equipe pedagógica e professores, relatórios e observações em sala de aula.” (p.1) Levantamento dos alunos com dificuldades;Contato/conversa/orientações aos professores;-Avaliações psicopedagógicas;Encaminhamentos a outros profissionais se necessário;-Orientação à família;-Orientação e acompanhamento aos educandos (p.2) São realizadas observações, acompanhamentos, intervenções e avaliações dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem. Também quando houver necessidade são realizadas orientações e trabalhos em conjunto com os alunos e suas respectivas famílias, bem como com professores e demais profissionais que atendem a criança. Quando a criança é encaminhada para consulta com neurologista a psicopedagoga com a devida autorização dos familiares acompanha a criança na consulta, visando aproximar áreas em prol do maior desenvolvimento da criança.( p.30 As respostas revelam algumas das etapas do trabalho psicopedagógico, a qual demonstra que a atuação envolve principalmente questões ligadas a aprendizagem dos alunos. Posteriormente , questionou-se as profissionais sobre as dificuldades encontradas ao realizar o trabalho psicopedagógico com os alunos nas escolas: “Colaboração e participação efetiva da família, resistência de alguns professores às mudanças sugeridas com relação as adaptações no trabalho com o aluno.” (p.1) “A colaboração da família. Precisa encaminhar e insistir para algumas famílias levar aos atendimentos mesmo sendo gratuito.” (p.2) "São duas as maiores dificuldades, sendo falta de colaboração da família em acompanhar o desenvolvimento escolar e nos demais encaminhamentos que se fizerem necessários. Também os professores do ensino regular apresentam resistência em atender as orientações indicadas pela psicopedagoga, como por exemplo realização de adaptações curriculares". (p.3) Percebe-se que são várias as dificuldades encontradas no âmbito do trabalho psicopedagógico, a falta de aceitação das famílias quanto ao problema de aprendizagem dos filhos, e também constata-se a dificuldades dos professores em acatar as sugestões dadas pelos psicopedagogos. Considerando a importância do atendimento psicopedagógico aos alunos que apresentam necessidades e dificuldades de aprendizagem, investigou-se via questionário, quais as ações, procedimentos e encaminhamentos realizados pelos profissionais, sendo: “O atendimento é realizado em sessões, também com a troca de informações da equipe técnica, realizando quando necessário, encaminhamentos a outros profissionais para complementação como em neurologia.” (p.1) Sim. Os professores encaminham preenchendo formulário no Contexto escolar, identificando as necessidades educacionais e as defasagens de aprendizagem passando por avaliação psicopedagógica, se necessário, após são encaminhados a outros profissionais através de solicitações por escrito, e ou são encaminhados através de relatórios dos professores. (p.2) Os atendimentos psicopedagógicos são realizados por sessões que variam de acordo com as necessidades dos alunos, caso haja necessidade de encaminhamentos a outros especialistas o mesmo é realizado mediante relatório detalhado seguido de conversa presencial visando a troca de informações e conhecimentos visando desenvolver ações que estimulem novas aprendizagens dos alunos. (p.3) Mediante os relatos supracitados, observa-se que o professor realiza os primeiros encaminhamentos indicando possíveis defasagens de aprendizagem dos alunos, para que a equipe pedagógica acompanhe e caso haja necessidade encaminhe para avaliação e atendimento psicopedagógico, o qual geralmente é realizado por sessões seguidas de encaminhamentos quando for necessário a especialista como neurologistas, psicólogos, fonoaudiólogos entre outros. Por conseguinte, buscamos averiguar qual a visão que as psicopedagogas têm sobre a importância da atuação direta no contexto escolar: Contribuir significativamente para o processo ensino aprendizagem por meio da identificação e intervenção nas dificuldades apresentadas pelo aluno; orientações a equipe pedagógica e aos professores, também quanto a adaptação curricular e metodológica. (p.1) Ajuda a resgatar a auto estima e ajuda na motivação para a aprendizagem bem como fazer encaminhamentos necessários para ajudar os educandos sanar suas dificuldades. (p.2) Atuo diretamente na escola, a importância deste contato direto aumenta as relações e as parcerias com os professores, equipe pedagógica, alunos e familiares, oportuniza também maior número de observações, atendimentos e encaminhamentos mais profícuos. (p.3) Percebe-se que o trabalho do psicopedagogo diretamente no contexto escolar, surte resultados mais efetivos, pois possibilita contato direto e interativo com alunos , professores, equipe pedagógica e familiares , o que favorece melhores avaliações, encaminhamentos, orientações direcionados a aprendizagem dos discentes. Diante das demandas, questionou-se sobre o nível de participação dos profissionais em capacitações e cursos de formação continuada que envolvessem temáticas pertinentes a área da Psicopedagogia. As participantes da pesquisa apontaram que: “Sim. Quando se tem a oportunidade, seja presencial ou a distância, o aprendizado é constante e a troca de informações e experiências com outros profissionais sempre irá apresentar e ressignificar nossa prática.” (p.1) Não, no momento. Não tem cursos específicos no município e por questões particulares encontro dificuldade para sair em outra cidade. Porém estou procurando estudar na internet e livros porque vejo necessidade de estar em constante aperfeiçoamento, o Psicopedagogo precisa procurar se atualizar sempre, não pode parar. (p.2) A nível municipal durante os dez anos de atuação como psicopedagoga não participei de cursos visando o aperfeiçoamento profissional na área da psicopedagogia, devido não serem oferecidos cursos a nível local. Mas , destaco que sempre estou em aperfeiçoamento, buscando capacitações participando de eventos e cursos fora do município. (p.3) De acordo com os relatos supramencionados , percebemos que os municípios não oferecem capacitações para os profissionais da área da psicopedagogia, diante deste panorama , os profissionais quando possível buscam atualizar e se aperfeiçoar por meio da educação a distânciaou participando de cursos oferecidos em outras regiões. A busca por novos conhecimentos e por aperfeiçoamentos deve ser sempre constante, visto que as demandas são diferenciadas e exigem conhecimentos para avaliar, agir , intervir e desenvolver ações que possam contribuir para o progresso dos discentes. Considerações Finais A pesquisa desenvolvida conduziu a reflexões pertinentes englobando a área da Psicopedagogia e a atuação do psicopedagogo no contexto escolar. Ressalta-se que os psicopedagogos atuantes na escola, encontram dificuldades como falta de cursos de aperfeiçoamento a nível municipal, falta de aceitação dos familiares com relação aos filhos que necessitam desta modalidade de atendimento e resistência de alguns professores em seguir orientações propostas e de realizar adaptações curriculares, as quais são necessárias para que o aluno compreenda o conteúdo trabalhado e possam consecutivamente construir novas aprendizagens e ressignificar os saberes já construídos por meio de vivências, experiências e troca entre pares. Por este viés, conclui-se que, o psicopedagogo é um profissional que pode atuar de maneira preventiva e intervir em prol da aprendizagem das crianças, considerando as habilidades, potencialidades e dificuldades de maneira individual. A psicopedagogia constitui se um campo que necessita do aprofundamento constante de pesquisas. Aspectos históricos da formação em Psicopedagogia na Argentina e no Brasil. Historicamente, segundo Bossa (2007) os primórdios da Psicopedagogia ocorreram na Europa, ainda no século XIX, sustentada pela preocupação com os problemas de aprendizagem na área médica. Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na França, em 1946, com o objetivo de desenvolver um trabalho voltado para crianças com problemas escolares ou comportamentais atendidos por uma equipe da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia. Bossa (2007) apresenta que: A literatura francesa influencia as idéias sobre psicopedagogia na Argentina a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileiras. A psicopedagogia francesa apresenta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico psicopedagógico na França, em que se percebem as primeiras tentativas de articulação entre medicina, psicologia, psicanálise e pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem (p. 39) Observamos que a Psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo, inicialmente, um caráter médico-pedagógico já que a equipe de trabalho era composta por médicos, psicólogos, pedagogos, psicanalistas e reeducadores de psicomotricidade e da escrita. Ao final dos anos 60, na Argentina, o trabalho entre os psicopedagogos e a escola e sua relação com os psicólogos e os pedagogos influenciaram significativamente os profissionais argentinos na sua atuação psicopedagógica. Conforme Alicia Fernández, psicopedagoga Argentina, a graduação em Psicopedagogia passou a existir na Argentina há mais de 30 anos, criada na Universidade de Buenos Aires (UBA). Deste modo, Buenos Aires foi a primeira cidade argentina a oferecer o curso de Psicopedagogia. (apud BOSSA, 2007, p.42-43) Entretanto, na prática, a atividade psicopedagógica iniciou-se antes da criação do próprio curso. Profissionais que possuíam outra formação viram a necessidade de ocupar um espaço que não podia ser preenchido pelo psicólogo nem pelo pedagogo. Desta maneira, começaram fazendo reeducação, com o objetivo de resolver fracassos escolares. De acordo com Peres (1998) A Psicopedagogia passa a despertar a atenção de vários países que, preocupados com os altos índices de fracassos escolares passam a buscar novas alternativas de trabalho. Dentre estes países, na Argentina, a psicopedagogia tem recebido um enfoque especial, sendo considerada uma carreira profissional. (p.42) Inicialmente, a Psicopedagogia aparece como uma disciplina na Facultad del Psicología da Universidad del Salvador, Buenos Aires. Já em 1956, a Psicopedagogia constitui-se como curso de graduação de três anos, para formar professores com capacitação em psicologia escolar, na confluência da psicologia e pedagogia. Segundo Arias (2007), há uma estreita relação histórica entre a Psicopedagogia e a Pedagogia, porém El 2 de mayo de 1956, en la Universidad del salvador y desde el Instituto de Psicopedagogía, ingresa a la enseñanza oficial una nueva carrera de grado: la Psicopedagogía.(p.57) Müller (1995) aborda em seu artigo “Perspectivas de la psicopedagogia em el comienzo del milenio”, que as novas tendências do sistema educativo na Argentina, para melhor distribuição de recursos econômicos e humanos, atualmente organiza a estrutura do curso de Psicopedagogia em ciclos, propondo uma carreira de quatro anos. Portanto, estabelecendo uma grade curricular de dois anos de formação básica compartilhada com a carreira de Psicologia e fixando dois anos de formação psicopedagógica específica. Existem também os cursos de mestrados e doutorados, possibilitando especialização de um ano de duração, como formação acadêmica para a docência superior e pesquisa. Deste modo, como do interior da carreira de Psicologia se criou à carreira de Psicopedagogia, que no começo não tinha caráter universitário, mas, conforme adquiria significado mediante definições e aportes teóricos de especialistas, aos poucos, foi se construindo o seu objeto de estudo próprio: o sujeito em processo de ensino-aprendizagem. Em outras palavras, o sujeito como agente da sua própria aprendizagem. Com isso, a psicopedagogia argentina se origina como um conhecimento empírico, a partir da necessidade de atender as crianças com problemas de aprendizagem escolar. Para Visca (1987), A psicopedagogia nasceu como uma ocupação empírica pela necessidade de atender as crianças com dificuldades na aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela medicina e psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária destas disciplinas, perfilou-se como um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo de aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios (p.33) O autor acima citado merece muita consideração neste trabalho, entendendo-se que a psicopedagogia nasceu na Argentina a partir dos seus estudos acerca da epistemologia da psicopedagogia, no que se chamou de epistemologia convergente Jorge Visca é considerado pela literatura dos profissionais da área, como “pai da psicopedagogia”. Estaremos assumindo aqui a definição, de vários autores, que consideram a Psicopedagogia como uma área de conhecimento que se dedica ao diagnóstico, tratamento e prevenção das dificuldades de aprendizagem escolar. Estaremos também considerando a Psicopedagogia como área que trabalha com a aprendizagem no seu sentido mais amplo, possibilitando a todos, principalmente a quem ensina, a oportunidades de lidar com seus próprios processos de aprendizagem como aprendizes. Na realidade, a Psicopedagogia é uma área do conhecimento que se apóia nas diferentes Ciências, tais como Pedagogia, Psicologia, Psicanálise, Neurologia, entre outras, integrandoseus conhecimentos e princípios coerentemente, tendo como finalidade adquirir uma melhor compreensão a respeito dos diversos processos inerentes a aprendizagem. De acordo com Fernández (1994), a partir do objeto de estudo da psicopedagogia – o processo de aprendizagem – ainda não foi possível construir uma teoria acerca dessa prática psicopedagógica. Ela menciona que: Estamos tentando construir nossa própria teoria, nosso específico enquadramento, os rasgos diferenciadores de nossa técnica e nosso lugar como especialistas em problemas de aprendizagem. (p.102) Como psicopedagogos nossa tarefa é ajudar as pessoas, quer sejam crianças ou jovens, até adultos, a se descobrirem como indivíduos criativos, livres, potencializando suas próprias soluções diante das dificuldades que encontramos. Do ponto de vista de Müller (1984), ao se referir sobre o objeto de estudo da psicopedagogia, deve-se levar em conta como se desenvolve a aprendizagem. É importante, para ela, considerar: Que leis regem estes processos; que dificuldades interferem ou impedem; de que maneira é possível favorecer as aprendizagens ou tratar suas alterações. (p.7-8) Para esta autora, a Psicopedagogia liga-se as características da aprendizagem, como se educa, como se ensina, como se aprende, como surgem os problemas da aprendizagem, quais as propostas para tratá-lo, que fazer para preveni-los e promover mudanças nos processos de aprendizagem. O transcurso da prática profissional desenvolvida durante vários anos, define um marco contextual teórico e elabora a pratica em Psicopedagogia, gerando novos enfoques conceituais no interior de si mesmas. Isto demanda realizar uma análise dos próprios pressupostos teóricos da Psicopedagogia, como por exemplo, a que se dedica um psicopedagogo, qual o campo atual da psicopedagogia na Argentina? A graduação em psicopedagogia surgiu há mais de 30 anos na Argentina, na Universidade de Buenos Aires (UBA). Entretanto, o curso passou por três instâncias em relação ao plano de estudo: nos anos de 1956, 1958 e 1961 a ênfase esteve na formação biológica e psicologica; evidenciava-se a formação instrumental do psicopedagogo nos anos de 1963, 1964 e 1969; Assim, com a criação da licenciatura, o enfoque passou a ser clínico e para a obtenção do título de psicopedagogo, a carreira de graduação passou de quatro para cinco anos de duração em 1978, tal como hoje em dia. Bossa (2007), afirma que: Acontece assim, em 1978, o terceiro momento do curso de psicopedagogia, com a criação da licenciatura na matéria, tal como existe atualmente, ou seja, uma carreira de graduação com duração de cinco anos. (p. 43) Durante os trinta anos que se passou desde o seu estabelecimento na Argentina, a Psicopedagogia tem ocupado um significado espaço no âmbito da educação/-8+3, e da saúde. Nesse processo evolutivo, é importante destacar um fato relevante que permitiu mudanças na abordagem da Psicopedagogia: da reeducação à clínica. Esse fato se relaciona a década de 70 em que surgiram, em Buenos Aires, os Centros de Saúde Mental, onde atuavam equipes de psicopedagogos que faziam diagnóstico e tratamento para os problemas relacionados à aprendizagem. Esses profissionais observavam que, depois de um ano de tratamento, quando os pacientes retornavam para controle, haviam resolvido os seus problemas de aprendizagem. Mas, surgiam graves distúrbios de personalidade, produzindo-se, pois, um deslocamento de sintoma. A partir daí ocorre uma grande mudança na abordagem psicopedagógica. Os psicopedagogos começam a incluir no seu trabalho a clínica da Psicanálise, resultando no atual perfil do psicopedagogo argentino. Em 17 de setembro de 1982 foi fundada a Federación Argentina de Psicopedagogos (FAP) por um Colegiado Profissional de Psicopedagogos. E esse dia se estabeleceu como o “Dia Nacional de Psicopedagogo”. Em 1983 foi criada a Asociación de Psicopedagogos de Capital Federal -PSP2 .Mas foi no ano de 1986 que PSP passou a reconhecida juridicamente. É uma instituição que vem trabalhando para o auxílio do psicopedagogo universitário, dos formados em nível de pós-graduação, defendendo o campo profissional, a ética profissional, preservando e enriquecendo o conceito humano de nossa profissão. De acordo com Lamarra (2007), a legislação referida a Educação Superior consagra a autonomia universitária: La Ley Feredal de educación No 24.1953, sancionada en el año 1993 y la Ley de Educación no 24.521 sancionada emn el año 1995, regulan el sitema educativo en su totalidad y el sistema de educación superior, en particular. La Ley de Educación superior es la primera ley que abarca, en su conjunto, la educación superior universitaria y no universitaria. Ademá, crea la Comisión Nacional de Evaculuación y Acreditación Universitaria (CONEAU) como organismo encargado de la evaculación externa y acreditación de las carreras de posgrado y de las de grado con “títulos correspondientes a profesiones regulares por el Estado”, fija las normas y las pautas para el reconocimiento de las universidades privadas y los regímenes de funcionamiento de las mismas, tanto provisorio como definitivo. (p. 47) Na Argentina, a especialização em Psicopedagogia tem sido oferecida de forma geral pelos institutos terciários que não contam com autorização do Ministério da Educação, CONEAU, para funcionamento e emissão de certificados com validade acadêmica. Lamarra (2007) argumenta que El Sistema de Educación Superior de Argentina es de carácter binario, es decir está integrado por dos tipos de instituciones: las universidades y los institutos universitarios y los institutos superiores no universitarios (llamados terciarios) que comprende a los institutos técnicos, de formación profesional, de formación docente, etc. Según información suministrada por la Comisión Nacional de Mejoramiento de la educación Superior (CONEDUS), al año 2001 existían alrededor de 4.446 carreras universitarias de grado y de pregado (3514 carreras de grado y 932 carreras de pregado) y 6.960 carreras no universitarias. Estas ultimas otorgan títulos como de psicopedagogo y además de las de profesor en las carreras de formación docente. (p. 20-21) A constituição nacional da Argentina consagra o respeito pelo direito a educação e a autonomia universitária. Porém, não são delegadas funções para o desenvolvimento da educação garantindo a qualidade do ensino. O sujeito-objeto da psicopedagogia é o ser humano em situação de aprendizagem, contextualizado. (Müller, 1984) Numa entrevista realizada por um site, Mônica K. de Rojas Silveyra, psicopedagoga e atual Vice-Presidente da Asociación de Psicopedagogos de Capital federal, argumenta sobre as questões legais acerca do exercício da profissão de psicopedagogo na Argentina: En este momento histórico de la Asociación estamos trabajando conjuntamente con la Federación Argentina de Psicopedagogos, institución de 2do. Grado que agrupa a todos los psicopedagogos universitarios del país, y con la Confederación de Profesionales Universiarios de la República Argentina (CGP) que agrupa a todos los profesionales (médicos, psicólogos, psicopedagogos, etc). Allí se discuten y se defienden en las distintas comisiones los temas relacionados ala problemáticas de cada profesión. En cuanto a la Legislatura de la Ciudad de Buenos Aires, se ha presentado un Anteproyecto
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