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1 1 Raul Bicalho - MedUfes 103 Introdução: Estrutura relativamente simples no ponto de vista morfológico. Porém, no ponto de vista fisiológico/funcional é uma estrutura bem complexa, visto que são partes muito pequenas com funções muito importantes, que garantem a homeostase de todo o corpo (Ex.: Hipotálamo). Do ponto de vista anatômico são poucas estruturas para estudar. Junto com o telencéfalo, o diencéfalo forma o que chamamos de cérebro. Secção mediana no nível da aderência intertalâmica (estrutura do diencéfalo) que permite a visualização de várias estruturas do SNC, como por exemplo o diencéfalo. O diencéfalo é uma formação ímpar mediana envolta pelas formações telencefálicas, ou seja, pelos 2 hemisférios cerebrais bem desenvolvidos (principalmente anteriormente) que acabam escondendo o diencéfalo. O diencéfalo possui uma cavidade, o III (terceiro) ventrículo, logo, iremos estudá-lo também nessa aula. Sendo assim, é importante lembrar que o líquor é produzido nos plexos corióides localizados nos ventrículos (laterais, III e IV). Uma vez produzido, o líquor circula de um local de maior pressão para um de menor pressão, assim se tem o processo de reabsorção e uma circulação liquórica garantida. Sendo assim, o líquor é produzido nos plexos corióides dos ventrículos laterais e passa para o III ventrículo pelos forames interventriculares, enchendo essa cavidade do diencéfalo, onde também é produzido mais líquor e o resultado de todo esse líquor desce pelo aqueduto do mesencéfalo para o IV ventrículo, onde também é produzido mais líquor. Do IV ventrículo, todo o líquor passa por aberturas laterais e mediana para ganhar o espaço subaracnóideo. Depois que circula em volta de todo o SNC, o líquor é reabsorvido nas granulações aracnóideas que se projetam para o interior dos seios da dura-máter, onde irá se misturar com a drenagem venosa. ANATOMIA 2 – Aula 19 – Diencéfalo / Prof. Juliana / Caps. 6, 22 e 23 2 2 Raul Bicalho - MedUfes 103 OBS.: A quantidade de líquor mantém uma determinada pressão no interior do encéfalo. Em casos de disfunção da produção ou da reabsorção, pode ocorrer um acúmulo de líquido no interior dessas cavidades, fazendo com que fiquem alargadas. Essa expansão dos ventrículos vai comprimir os tecidos nervosos adjacentes, porém a compressão vai ser minimizada com a abertura do crânio (que possui tecido fibroso e espaço). Quando se expande o encéfalo, automaticamente se expande o crânio, que gera uma condição chamada de hidrocefalia (cabeça bem grande desporoporcional ao corpo). Caso a hidrocefalia ocorra num adulto, não há possibilidade de o crânio expandir, gerando quase sempre os sintomas: aumento da pressão intracraniana que pode levar à morte das estruturas nervosas adjacentes, herniação das tonsilas cerebelares, compressão no tronco encefálico (afetando centros respiratórios e vasomotores que pode levar à morte). Divisão do diencéfalo: É dividido em 4 grandes estruturas: o tálamo, o hipotálamo, o epitálamo e o subtálamo. Todas essas estruturas possuem relação com o III ventrículo. O tálamo é formado por 2 massas ovoides unidas por uma estrutura mediana (aderência intertalâmica). Não é perfeitamente visível na secção mediana. O hipotálamo está abaixo do tálamo e a estrutura que os divide é o sulco hipotalâmico. O epitálamo está localizado posteriormente e inferiormente no III ventrículo, acima do sulco hipotalâmico. O subtálamo é a região entre o sulco hipotalâmico e o tegmento do mesencéfalo. Terceiro ventrículo: Cavidade ímpar e mediana. Possui comunicação com o IV ventrículo pelo aqueduto do mesencéfalo e com os ventrículos laterais pelos forames interventriculares. É importante ressaltar que os ventrículos laterais são cavidades do telencéfalo que terão cada um seu forame interventricular que desembocam no terceiro ventrículo. O III Ventrículo tem exatamente a conformação do diencéfalo, fazendo, inclusive, todas os seus recessos. A partir do III ventrículo, o líquor passa para o IV ventrículo pelo aqueduto do mesencéfalo. Limites e relações: O assoalho é formado pelo hipotálamo, que é formado por 4 estruturas: (de anterior para posterior) pelo quiasma óptico (cruzamento do N. Óptico que irá formar o trato óptico), pelo infundíbulo (haste que dá sustentação para a hipófise), pelo túber cinério (estrutura nervosa que precede o infundíbulo e estimula a hipófise) e pelos corpos mamilares (estruturas do diencéfalo com função de controle emocional no sistema límbico). Lateral III IV (Infundíbulo está acima sustentando-a) 3 3 Raul Bicalho - MedUfes 103 A parede posterior coincide exatamente com o epitálamo (possui 3 principais estruturas que vai nomear depois). A parede lateral são as estrias medulares do tálamo. O teto é formado pelos plexos corióides. A parede anterior é formada pela lâmina terminal (estrutura telencefálica entre o quiasma óptico e a comissura anterior). Tálamo: São as duas massas ovoides já mencionadas. Possui a tela corióide logo acima dele. Sua cavidade é o III ventrículo (sua face medial forma as paredes laterais do III ventrículo). Na extremidade anterior de cada tálamo, observa-se uma eminência chamada de tubérculo anterior, já na extremidade posterior há uma outra eminência (maior) chamada de pulvinar. Além disso, na parte posterior, o tálamo possui duas formações importantes: o corpo geniculado lateral (relacionado com a visão/via óptica) e o corpo geniculado medial (relacionado com a audição/via auditiva). O tálamo é dividido em partes que se dão pela presença de núcleos com funções específicas em cada região. Antes de entender isso, devemos saber que o tálamo é uma estação importante de sinapse antes dos estímulos sensitivos chegarem ao córtex cerebral (sensibilidade tátil, térmica, dolorosa, propriocepção etc.), isto é, ele é o grande agregador de todas essas informações aferentes e é quem distribui para as áreas do córtex cerebral correspondentes. O tálamo é rico em substância cinzenta, ou seja, possui vários núcleos/corpos de neurônios (grande estação sináptica). Sendo assim, é importante ressaltar que o tálamo é separado das estruturas telencefálicas por um conjunto de fibras que formam a cápsula interna. Os núcleos do tálamo são divididos em 5 grupos: grupo anterior, grupo posterior, grupo lateral, grupo medial e grupo mediano. Cada grupo possui uma função específica, então dependendo do local da lesão, haverá alterações específicas (Sintomatologias diferentes). Porém, por se tratar de uma estrutura pequena, normalmente a lesão não é pontual e acaba afetando mais de um grupo de núcleos (até todos). Epitálamo 4 4 Raul Bicalho - MedUfes 103 Os núcleos do grupo anterior estão relacionados com o controle emocional (sistema límbico). Os núcleos do grupo posterior estão relacionados com a visão e com a audição. Os núcleos do grupo lateral estão relacionados com a sensibilidade tátil, térmica, dolorosa, planejamento motor, vigília, alerta etc. Os núcleos do grupo mediano possuem conexões com o hipotálamo, garantindo a homeostase de vísceras. Os núcleos do grupo medial estão relacionados com a formação reticular e com a ativação do córtex (ciclo sono/vigília, hora de acordar, hora de dormir etc.). Além disso, esse grupo medial também possui associação com a área pré-frontal, que é a nossa área do julgamento/planejamento. OBS.: Várias estruturas do encéfalo têm muitas funções, muitas conexões e são muitoessenciais (muito intricadas umas com as outras). Existem algumas exceções, como os giros do cérebro, visto que alguns deles têm funções muito específicas, por exemplo uma função de um giro pode levar à perda apenas da gustação. Ao analisar as estruturas medianas do encéfalo (diencéfalo e tronco encefálico), observa-se que elas estão relacionadas com funções vitais (homeostase, metabolismo, funcionamento visceral, regulação do sono, da fome, da sede, do prazer, sensibilidade, planejamento de movimento, centro de controle vasomotor, funcionamento do coração, do sistema respiratório etc.). Logo, uma lesão na região mediana (diencéfalo e tronco) tem uma chance muito maior de ser mais grave do que uma lesão no telencéfalo. Resumindo, o tálamo possui todas essas funções: sensibilidade (tátil, térmica, dolorosa e proprioceptiva), motricidade, comportamento emocional, memória e ativação do córtex. Quando estudarmos telencéfalo também veremos todas essas funções, porém quando essas vias estão subindo, elas fazem uma estação sináptica no tálamo e depois vão para áreas telencefálicas serem interpretadas, então se você lesa o tálamo inteiro, você perde todas essas funções, caso você lese uma determinada parte do telencéfalo, você perde apenas a função relacionada com aquela parte, o resto está “garantido”. Hipotálamo: Estruturas muito distintas (principalmente funcionalmente) uma das outras, porém com íntima relação anatômica. O hipotálamo é formado pelos corpos mamilares, pelo túber cinério, pelo infundíbulo e pelo quiasma óptico. O quiasma óptico está relacionado com a visão. O infundíbulo abriga uma rede de fibras nervosas que vão conectar-se com a hipófise (maior glândula em termo de funções do organismo). Os corpos mamilares estão relacionados com o sistema límbico (controle emocional). Já o túber cinério é a estrutura arredondada por onde passam fibras de neurônios para chegar até a hipófise através do infundíbulo. No hipotálamo, existem também diversos núcleos com funções distintas (não são visíveis macroscopicamente e serão estudados em neurofisiologia). O hipotálamo possui inúmeras funções: Controle do SNA (que garante o funcionamento visceral), regulação da temperatura corporal (quando tomamos 5 5 Raul Bicalho - MedUfes 103 um antitérmico, ele atravessa a barreira hematoencefálica e vai agir no hipotálamo para diminuir a temperatura corporal), regulação do comportamento emocional (conexão com o sistema límbico), regulação do equilíbrio hidrossalino (e consequentemente regulação da pressão arterial pela maior ou menor excreção de água e sódio), regulação do sono e vigília (conexão com a formação reticular), regulação da ingestão de alimentos (centro da fome no hipotálamo, possui relação com os hormônios do sono também), integração do comportamento sexual, regulação do sistema endócrino (relação com a hipófise, geração e regulação do ritmo circadiano (ritmo das funções biológicas, por exemplo a determinação de qual hora vai ser liberado mais tal hormônio). É importante observar que o hipotálamo possui uma área bem pequena para muitas funções. Sendo assim, uma lesão nesse local geraria diversos sintomas. Epitálamo: O epitálamo forma a parede posterior do III ventrículo acima do sulco hipotalâmico. Portanto, é a parte posterior e um pouco superior do diencéfalo. A principal estrutura do epitálamo é a glândula pineal, que fica acima e entre os colículos superiores do mesencéfalo. Acima dela fica o terceiro ventrículo, lateralmente ficam os corpos geniculados do tálamo. Essa glândula é responsável pela produção de melatonina. Além da pineal, observa-se uma estrutura de forma triangular que é o trígono da habênula (habênula é uma estrutura relacionada com o sistema límbico/controle emocional). A glândula pineal é a produtora de melatonina (que é produzida a partir da serotonina). A melatonina é o hormônio que induz o sono. Sua produção é estimulada pela falta de luz e inibida pela presença de luz. Então, ao considerarmos nossas funções fisiológicas normais, sem a presença de luz temos sono e dormimos, com a presença de luz perdemos o sono e acordamos/ficamos acordados. A secreção de melatonina, então, obedece a um ciclo circadiano (pico à noite) que é controlado pelo hipotálamo (também relacionado ao sono e vigília). A melatonina exerce uma ação inibidora sobre as gônadas (relacionada a produção de hormônio sexual), sincroniza o ciclo circadiano de sono e vigília, regula a glicemia (pessoas que produzem pouca melatonina têm tendência a desenvolver diabetes), regula a apoptose das células (boa produção de melatonina dá uma melhor chance de o indivíduo não desenvolver um tumor). Além disso, a melatonina também possui ação antioxidante (longevidade relacionada ao sono). Além da função hormonal da pineal, o epitálamo tem função de integração com o sistema límbico. Nesse sentido, temos o trígono das habênulas, a comissura das habênulas e as estrias medulares (que se continuam no tálamo). No epitálamo, ainda, existe a comissura posterior, rede de fibras comissurais. 6 6 Raul Bicalho - MedUfes 103 Subtálamo: O subtálamo é basicamente compreendido como a estrutura do núcleo subtalâmico (melhor visto numa secção frontal do encéfalo no nível do hipotálamo). É uma zona de transição entre diencéfalo e mesencéfalo (tegmento). Está logo abaixo do tálamo (por isso o nome), limita-se lateralmente pela cápsula interna e medialmente pelo hipotálamo. O subtálamo tem função essencialmente motora e quando se tem uma lesão no seu núcleo subtalâmico o principal sintoma é o hemibalismo (movimentos bruscos involuntários de uma extremidade). CORTE FRONTAL DO ENCÉFALO Roxo: Núcleo Subtalâmico Preto: Corpo Mamilar Vermelho: Hipotálamo Amarelo: Tálamo Verde: Cápsula Interna