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Resenha do livro 'Apologia da História' de Marc Bloch

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CELSO GUILHERME TONIN
RESENHA DO LIVRO “APOLOGIA DA HISTÓRIA” 
SÃO PAULO
2016
1- SOBRE O AUTOR
Marc Léopold Benjamim Bloch, nascido em 6 de julho de 1886, na cidade de Lyon, França, era filho de um professor de historia antiga chamado Gustave Bloch, sua formação acadêmica se deu em diversos lugares da Europa e chegou a trabalhar como pesquisador na Fundação Thiers, mas seu estudo foi interrompido pela primeira guerra. Bloch foi soldado da infantaria e ganhou uma condecoração por se ferir em batalha.
Após o fim da guerra Bloch iniciou sua carreira, ingressou na universidade de Estrasburgo onde conheceu Lucien Febvre, juntos eles fundaram a revista Annales d’Histoire Économique et Sociale que foi fundamental influencia para o desenvolvimento das chamadas nova historia e historia das mentalidades.
Na década de 1930, Marc Bloch ocupou a cadeira de Historia Economica na Sorbonne e a revista alcançou grande sucesso refletindo na formação da Escola dos Annales. Em 1939 a segunda guerra chega a França e os nazistas invadem o país, Bloch chegou a militar na resistência francesa, mas foi capturado torturado e morto fuzilado pela Gestapo.
Seu livro “Apologia da Historia” foi publicado após seu falecimento.
2- RESUMO DO LIVRO
Bloch inicia seu livro dizendo que estaria escrevendo o mesmo para seus mentores Langlois e Seignobos, mas não enaltecendo suas teorias e sim criticando sua teoria positivista, dizendo que todo aludo deveria em alguma altura criticar a teoria de seu professor, com essa critica ele parte para repensar a ciência historia.
O autor ainda na introdução o autor diz que a religião de um historiador seria a católica, por se assemelhar em diversos pontos com o estudo da historia, por construir sua liturgia baseada na vida de um homem de outra época ou tratar de diversas passagens de outros homens, esses seriam os ecos do passado na vida cotidiana do homem.
Bloch diz que o homem estuda historia por tratar do estranho e pelo mistério que seria “explorar o passado” e com isso apresenta sua teoria de que a historia é uma ciência que esta sempre em expansão, como qualquer outra e que sempre esta se reconstruindo pela critica de teorias passadas e pelo desenvolvimento de novas formas de pensar historia.
No inicio de sua apresentação ele incita a pergunta de o que seria a historia para o leitor e apresenta as teorias do que seria a historia para os antigos, com a “historia por conexão” e por essa teorização ele apresenta que as ciências devem sempre dialogar, seja a historia e a geografia ou a historia e a astronomia, para que se possa explorar de melhor forma aquele eco do passado. Bloch não pensa nas outras ciências como ciências menores, mas ele pensa em ciências que necessitam uma da outra e dialogam em uma troca de informações, sim com suas diferenças como ele diz algumas ciências são mais cruas e outras necessitam de um profissional mais espirituoso.
Ele diz que o historiador precisa ter olhos para poder ver os ecos do passado presentes na vida cotidiana e que muitas vezes esse primitivo presente no cotidiano é o bastante para a justificativa do estudo, lembrando que algumas vezes esse passado é mascarado, como palavras que tem seu sentido mudado com o tem, o exemplo usado é a palavra timbre, que pode sem tanto usada pelo luthier quanto pela carta.
A observação histórica é uma faceta também criticada por Bloch, é apresentada a opção para o historiador de analisar uma historia mais próxima de sua época ou o passado próximo, que é duramente criticado por se “assemelhar” ao jornalismo.
Para Bloch o trabalho do historiador não é apresentar a historia cadenciada, mas sim um trabalho mais semelhante ao de um detetive, reconstruindo o passado por meio das pistas presentes no hoje e é nessas pistas que Bloch foca inicialmente, é dito por ele que em alguns casos essas pistas ou testemunhos podem estar comprometidos por se tratarem de pistas produzidas em outra época ou se tratarem de testemunhos de terceiros, que estariam submetidos a situações em que sua percepção estaria abalada ou até mesmo ser pistas falsas.
Como em uma investigação o detetive interroga as testemunhas no estudo da historia o historiador deve interrogar os documentos e os vestígios para que ele possa entender com exatidão o período, para Bloch até as falsificações são importantes, pois apresentam um novo viés de questionamento e abrem novos horizontes para analise do passado que pode se apresentar no passado.
A parte mais importante de sua teoria seria a critica, essa seria a chave para o estudo da historia, o questionamento, seja para descobrir a veracidade de um documento ou para proporcionar uma melhor síntese. Bloch fala que o historiador deve ser mais espirituoso que um matemático, por muitas vezes o historiador analisar testemunhos, mas nunca se esquecendo do rigor da analise física de um documento ou vestígio.
Já ao final Bloch discute qual seria a melhor forma de se apresentar a historia e ou uma nova teoria, reforçando seu argumento de que a historia não estaria separada do passado e que ela esta presente no cotidiano e a ideia de que o individuo faria a escolha e interrogaria as migalhas do passado no presente.
3- CRITICA
Ao meu ver a leitura do livro “Apologia da historia ou o oficio do historiador” é algo obrigatório para todo estudante de historia seja ele pesquisador ou acadêmico, e é uma forma completamente diferente de ver o estudo da historia, quebrando o método de como se é ensinado na formação básica.
Além de apresentar outra perspectiva sobre a ciência história o autor apresenta um guia de pesquisa de historia que se vê muito necessária tanto para o pesquisador quanto para o professor, sendo essa uma forma completamente nova de atiçar a visão do leitor para os ecos do passado no mundo contemporâneo e também a curiosidade do leitor para explorar esse mundo que não é novo por se tratar do passado, já explorado por outros, mas que ainda pode ser modificado e teorizado novamente.
A forma com que ele explora o tema da critica é excepcional, pois provoca o leitor a interrogar todo seu conhecimento prévio e instiga a procura de algo novo, tratando até dos documentos falsos e não os descartando como a ciência do século XIX, claro que para teorizar um documento comprovadamente falso é necessário não somente esquecer seu conteúdo, mas sim questionar o motivo sua existência.
O texto é técnico e carece de exemplificações, a historia é muitas vezes comparada a outras áreas da ciência que em minha opinião tem suas próprias nuanças e não poderiam ser comparadas diretamente a historia. Não é recomendado para iniciantes, pois necessita de conhecimento prévio sobre a escola metódica do século XIX e de outras nuanças da historia francesa.
Em sumo, é um texto extremamente necessário para um estudante de historia em formação, seja contribuindo para sua visão da historiografia ou para sua visão do mundo e de suas ferramentas de trabalho como pesquisador e professor, mas não é recomendado para leigos.
	
REFERENCIAS
BLOCH, MARC. APOLOGIA DA HISTORIA OU O OFÍCIO DO HISTORIADOR. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2002.
JUNIOR, Antonio Gasparetto. Marc Bloch Disponível em: <http://www.infoescola.com/biografias/marc-bloch/>. Acesso em: 27 OUT. 2016.

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