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COMPLEXO DE ENSINO SUPERIOR DE CACHOEIRINHA
FACULDADE DE DIREITO
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS: O POLIAMOR NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
Michael Dos Santos Faustino
Cachoeirinha
	
	
	
	
	
	1
2018
	
	
	
	
	
	
MICHAEL DOS SANTOS FAUSTINO
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS: O POLIAMOR NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
Monografia apresentada a Universidade CESUCA como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do Professor Guilherme Gourlart. .
CACHOEIRINHA
	
	
	
	
	
	2
2018
	
	
	
	
	
	
FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS: O POLIAMOR NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
BANCA EXAMINADORA
Orientador
Nome do Professor ________________________________ Data: _____________
De acordo: ___________________________.
Coordenador
Nome do Professor ________________________________ Data: _____________
De acordo: ___________________________.
Professor Convidado
Nome do Professor ________________________________ Data: _____________
De acordo: ___________________________.
CACHOEIRINHA
	
	
	
	
	
	3
2018
	
	
	
	
	
	
DEDICATORIA
Dedico minha monografia aos meu querido pais que nos apoiaram do início ao fim para que esse dia chegasse.”
“Quero dedicar a Deus mais esta vitória em nossas vidas. Foi ele que nos deu sabedoria, orientou cada um de nós para fazer as melhores escolhas e que está ao nosso lado nesse momento.”
“Sou grato de coração a cada um que contribuiu para a realização deste trabalho. Dedico a participação de todos vocês.”
“Dedico esse trabalho aos professores que estiveram comigo em todo o período de produção desse projeto e que dedicaram um pouco de seu precioso tempo para nos ajudar.”
homenagear àqueles que se dedicaram a passar os conhecimentos necessários para que eu chegasse até esse momento. "aos professores Guilherme Damasio Goulart e Cristiane Feldmann Dutra que se dedicaram na orientação a esse projeto. Vocês foram fundamentais para a realização desse momento. Esse trabalho também é nosso, por isso, dedico esse trabalho a vocês.”
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família, amigos, professores, orientadores e todos aqueles que me ajudaram a concluir a minha monografia. Sou grato a todos aqueles que tiveram paciência nos momentos de tensão e empenho. Obrigado por fazerem parte da minha vida!
Agradeço ao Professor e Orientador Guilherme Goulart, pelo apoio e encorajamento contínuos na pesquisa, aos demais Mestres da casa, pelos conhecimentos transmitidos, e à Diretoria da -graduação da Universidade CESUCA, pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas.
É preciso amar as pessoas Como se não houvesse amanhã Porque se você parar pra pensar Na verdade, não há
Renato Russo
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo estudar a simultaneidade familiar como mais uma possibilidade de modalidade de família na sociedade, bem como a sua regulação no ordenamento jurídico brasileiro. O processo de mudança da família é observado pelas transformações que se operam a partir da Constituição Federal de 1988, em detrimento do Código Civil de 1916. Muito embora houvesse a extensão da tutela jurídica para outros arranjos familiares diversos do modelo matrimonializado, como o reconhecimento da união estável e do casamento homoafetivo, as famílias simultâneas encontram óbice ao seu reconhecimento diante da monogamia que nega a possibilidade de reconhecimento de vínculos conjugais paralelos ao casamento. O fato é que a ideia de família afasta- se cada vez mais da estrutura do casamento e hoje impera uma grande diversidade de concepção de família que vêm se formando baseado, principalmente, no afeto. A proteção da tutela jurídica no ordenamento brasileiro a famílias simultâneas encontra pouco reconhecimento jurisprudencial, mas a doutrina vem discutindo o assunto e se mostrando favorável ao seu reconhecimento diante da existência da boa-fé.
Palavras-chave: Direito de família. Monogamia. Família simultânea.
 ABSTRACT
The present study aims to study family simultaneity as one more possibility of family modality in society, as well as its regulation in the Brazilian legal system. The process of family change is observed by the transformations that operate from the Federal Constitution of 1988, to the detriment of the Civil Code of 1916. Although there was the extension of legal protection for other family arrangements different from the matrimonialized model, such as the recognition of stable marriage and homosexual marriage, simultaneous families find it difficult to recognize them in the face of monogamy that denies the possibility of recognition of marital ties parallel to marriage. The fact is that the idea of the family moves farther and farther away from the structure of marriage, and today there is a great diversity of family conceptions that have been formed based mainly on affection. The protection of the juridical protection in the Brazilian order to simultaneous families finds little jurisprudential recognition, but the doctrine has been discussing the subject and showing itself favorable to its recognition before the existence of the good faith.
Keywords: Family law. Monogamy. Simultaneous family
 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Art.– Artigo CC – Código Civil Brasileiro
CF – Constituição Federal 
inc. – Inciso
n. – número
RGPS – Regime Geral de Previdência Social
STF – Supremo Tribunal Federal 
STJ – Superior Tribunal de Justiça 
JF – Justiça Federal – 
TRF1 – Tribunal Regional Federal da Primeira Região (DF, GO, MG, MT, RO, AC, AM, RR, AP, PA, MA TO, PI e BA)
TRF2 – Tribunal Regional Federal da Segunda Região (RJ e ES) 
TRF3 – Tribunal Regional Federal da Terceira Região (SP e MS) 
TRF4 – Tribunal Regional Federal da Quarta Região (PR, SC e RS) TRF5 – Tribunal Regional Federal da Quinta Região (SE, AL, PE, PB e RN)
SUMÁRIO
	
	
	
	
	
	
INTRODUÇÃO 
O objetivo deste trabalho de conclusão de curso é analisar a possibilidade jurídica de concomitância de entidades familiares e o tratamento que a elas é conferido, uma vez que a sociedade permanece moralista e conservadora e tem a monogamia como reguladora do casamento, o que vem a dificultar o reconhecimento de uniões paralelas.
As transformações que vêm passando a sociedade, inclusive e principalmente no que se refere à família abrem espaço para discussões e posicionamentos acerca da possibilidade desses novos modelos familiares, dentre eles a família simultânea, que embora hoje seja tratada como um novo arranjo familiar sempre esteve presente ao longo da história da família brasileira.
Inúmeras são as tentativas e as justificativas para negar-lhes efeitos jurídicos e a sua existência como família, a mais expressiva delas é o que se baseia na monogamia e a justificativa de que o Estado não pode dar proteção a mais de uma família ao mesmo tempo.
No entanto, as uniões paralelas existem, geram efeitos e requerem seu amparo jurídico, porém à possibilidade de extensão da tutela jurídica para arranjos familiares simultâneos ao modelo matrimonializado ainda é tímida, encontrando pouco reconhecimento jurisprudencial, embora a doutrina seja mais complacente a esta modalidade de família.
A verdade é que a simultaneidade familiar tem se tornado cada vez mais comum e com esse advento surge à necessidade da apreciação do judiciário tutelando as garantias patrimoniais diante da constituição dos bensadquiridos na constância desses relacionamentos, bem como, conferir-lhes garantias previdenciárias.
Ao direito compete esse novo desafio, a regulamentação das famílias simultâneas, que são criadas fora da estrutura do casamento, mas que merecem essa proteção, pois cabe lembrar, são relações de afeto, de forma contínua e duradoura, requisitos presentes para a configuração da família nos moldes tradicionalmente estabelecidos.
Ainda nesse diapasão, surge à discussão acerca do que vem a envolver essas famílias pertencer ao direito das obrigações e não ao âmbito do direito de família.
O método a ser utilizado para o desenvolvimento desse Trabalho de Conclusão de Curso é o monográfico por meio da análise quanto à posição de doutrinadores do Direito de Família, da Constituição Federal e da jurisprudência com objetivo de verificar acerca da existência de reconhecimentos jurídicos advindos da existência de famílias simultâneas e a possibilidade do seu regulamento pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Para tanto, o primeiro capítulo é destinado à apreciação da atual concepção de família, que parte da trajetória da família dentro do ordenamento jurídico brasileiro que vai do Código Civil de 1916, que trata a família nos moldes patriarcal, fundada no casamento, no patrimônio, hierarquizada e heterossexual, traçando as diretrizes no que tange às funções do homem e da mulher, até a Constituição Federal de 1988 que possibilita a alteração desse quadro e passa a ser o centro norteador de todo o nosso sistema jurídico.
Ainda no primeiro capítulo trata-se da constituição da família na sociedade e a família na Constituição Federal de 1988, ensejando a pluralidade familiar, o que possibilitou o surgimento de novos modelos de família, como a monoparental e união estável, entidades familiares que antes não eram acolhidas pela legislação pátria.
No segundo capítulo, são abordados os desdobramentos da família contemporânea, que se distancia cada vez mais daquela constituída exclusivamente pelo casamento e revela a importância da autonomia privada em detrimento da intervenção mínima do Estado o que eleva o afeto como novo paradigma quando se trata de constituição familiar.
E, ao final do segundo capítulo, faz-se uma abordagem do casamento como estrutura da tradição, que, muito embora acontecessem transformações sociais e culturais provocando o aparecimento de pluralidades familiares, o casamento permanece na perspectiva de manter valores morais e religiosos.
E, finalmente, o terceiro e último capítulo, trata a simultaneidade familiar no ordenamento jurídico brasileiro que possui a monogamia como limite, bem como a análise doutrinária e entendimentos jurisprudenciais acerca do tema, destacando, ao final, os efeitos jurídicos reconhecidos.
A discussão gira em torno da possibilidade de se reconhecer como núcleo familiar aquele em que um de seus membros está impedido pelo casamento. Esse impedimento de relações paralelas ao casamento e em consequência o seu reconhecimento como uma família se dá porque existe a monogamia.
 A monogamia é a prática de relação familiar clássica conferida e reverenciada pela sociedade, onde um homem deve possuir apenas uma esposa, e a esposa deve manter relação de exclusividade afetiva e sexual com seu esposo.
A possibilidade de reconhecimento da simultaneidade familiar se dá dentro dessa perspectiva, da monogamia ser ou não limite absoluto.
2	A ATUAL CONCEPÇÃO DE FAMÍLIA
A família será sempre objeto de indagações na sociedade, por ser ela a sua mais importante organização e estando sempre em constante mutação, requerendo reiteradas observações e estudos que visam a sua melhor compreensão.
2.1 A CONSTITUIÇÃO DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE
No tocante a constituição da família na sociedade, far-se-á um pequeno apanhado histórico do modo como ela vem se configurando ao longo do tempo até identificá-la na atualidade com seus vários elementos caracterizadores.
Família e sua concepção passam por um processo evolutivo que preserva algumas de suas características e superam outras por não mais se adequar a realidade atual, pois a sua dinâmica é visível e se discute as suas várias denominações.
Mas, não se tem dados precisos de como era a constituição familiar nos primórdios da humanidade, não se sabe, com exatidão, em que momento essa forma de agrupamento de pessoas passou a ser concebido como entidade familiar superando a sua formação meramente de sobrevivência até se entender, atualmente, como vínculo de afetividade.
Com efeito, abstraindo as discussões acerca de um modelo inicial único (patriarcal ou matriarcal, monogâmico ou poligâmico...), o mais adequado é reconhecer que, na Antiguidade, os agrupamentos familiares eram formados, não com base na afetividade, mas sim na instintiva luta pela sobrevivência (independentemente de isso gerar, ou não, uma relação de afeto) (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 48).
“O iroquês não somente chama filhos e filhas a seus próprios, mas ainda aos de seus irmãos, os quais, por sua vez, o chamam de pai. Os filhos de suas irmãs, entretanto, ele os chama de sobrinhos e sobrinhas, e é chamado de tio por eles. Inversamente, a iroquesa chama filhos e filhas os de suas irmãs, além dos próprios e aqueles, tanto quantos estes, a chamam de mãe”. (ENGELS, 1884, p. 37)
Até épocas primitivas na qual havia o comércio sexual na tribo, “de modo que cada mulher pertencia igualmente a todos os homens e cada homem igualmente a todas as mulheres” (ENGELS, 1884, p. 40), essa promiscuidade nada mais era do que a maneira de se entender a sexualidade naquele momento, que tempos depois se formaria o casamento por grupos.
Em diversas partes do globo há registros de que as primeiras civilizações eram organizadas tendo o macho sustentando a fêmea e seus filhos, o contrário, a fêmea como a provedora do lar, não se tem informação. Nesse sentido, “não se sabe, ao certo, se existiu uma família monogâmica tendo a mãe como figura central e dominadora do lar” (CRISPINO, 2009, p. 11).
O que se tem certo e comprovado é que a família ocidental viveu por um grande período de forma patriarcal, que é a forma de organização familiar que atende ao modelo conservador de organização da sociedade e que estabelecia como base familiar à procriação e a conservação do patrimônio, “a família tinha uma formação extensiva, verdadeira comunidade rural, integrada por todos os parentes formando unidade de produção, com amplo incentivo a procriação” (DIAS, 2013, p. 28).
Os membros da família representavam força de trabalho, quanto mais filhos, mais mão de obra produzindo, auxiliando no crescimento do patrimônio. A patrimonialização e a procriação representavam o sentido da sua formação, não se prestigiava tanto o vínculo afetivo, o afeto, como elemento constituidor da família estava em segundo plano.
O paradigma aceito na visão ocidental é o de que a “forma patriarcal e monogâmica de família seria a modalidade mais antiga, identificando-a como um modelo pronto e acabado, como se não tivesse havido qualquer evolução” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 46), esses modelos são, muito mais, um padrão cultural que foi se disseminando do que uma verdade histórica absoluta.
A família patriarcal no Brasil advinda com o colonialismo manteve-se do século XVI até o século XX, nesse período as vontades individuais não eram consideradas, mas sim os interesses da família e do Estado, “em face da organização familiar para a comunidade, o Estado aparece restringindo a autonomia privada, chegando até a limitar o poder dos indivíduos” (CRISPINO, 2009, p. 6).
Marcadamente machista, colocava a mulher em uma posição submissa, de subserviência absoluta ao marido, “esse período era pautado nas posições marcadamente definidas no que cabia como direito e deveres do marido e da mulher” (DIAS, 2013, p. 267), o padrão marcadamente hierarquizado da família levava a atribuir ao homem, à representação legal da família.
 A família, portanto, representa, em sua estrutura,os anseios de sua época, considerando fatores morais, econômicos, religiosos e jurídicos, aspectos esses que vão refletir na sua formação. A própria organização da sociedade se dá em torno dessa construção, a sociedade e a família se transformam mutuamente.
A complexa definição do que vem a ser família, revela o quanto ela é dinâmica.
“não é possível apresentar um conceito único e absoluto de família, apto a aprisioristicamente delimitar a complexa e multifária gama de relações socioafetivas que vinculam as pessoas, tipificando modelos e estabelecendo categorias” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 37),
 entende-se dessa maneira, que a muito o conceito e as formas de família vêm se transformando ao longo da história.
Nos dias de hoje, vive-se um momento muito importante, firmando posições sobre os novos rumos que tocam a formação familiar. Da leitura do art. 266 da Constituição da República de 1988, pode-se visualizar o reconhecimento claro acerca do valor jurídico de formações familiares diversas do modelo sacramentado pelo casamento, exclusividade imposta no Código Civil de 1916.
Historicamente, a família sempre esteve ligada a ideia do sagrado, do casamento indissolúvel, heterossexual, hierarquizado e atendendo a uma moral conservadora que elege um modelo de família e o consagra como única forma aceitável de organização.
Foi à Constituição Federal de 1988 que impôs igualdade entre homens e mulheres em seu art. 226 § 5°, acerca dos deveres e direitos entre eles em relação à família e o casamento, deixando o homem de ocupar o topo na escala hierárquica da família, agora vigorando a plena igualdade entre eles, também estabelecida no Código Civil 2002 em seu art.1.565.
Diante da admissão de outros modelos familiares, procura-se considerar o afeto como balizador dos vínculos familiares, desprezado ao longo da história na concepção de família constituída para a procriação e manutenção patrimonial, mas seu enfoque volta-se a seus vínculos afetivos.
A ideia de afeto como novo elemento na constituição familiar, traz a possibilidade de diversos arranjos familiares, visto que as pessoas se unem via de regra, pelo afeto, tornando-o um grande referencial de família.
Se a Constituição abandonou o casamento como único tipo de família juridicamente tutelada, é porque abdicou dos valores que justificavam a norma de exclusão, “passando a privilegiar o fundamento comum a todas as entidades, ou seja, a afetividade” (LÔBO, 2002, p.46).
 Surgem às famílias no seu sentido plural com a Constituição Brasileira de 1988, que consagra, além do casamento, outras duas formas de entidade familiar, a união estável e as famílias monoparentais, o que configura um avanço em relação ao que pregava o Código Civil de 1916, “que vinculava a família a um único modelo, centrado no matrimônio. Trata-se, em certo sentido, de uma mudança de paradigmática, na medida em que a família como dado jurídico passa a ser reputada como plural” (PIANOVSKI, 2007, p. 32).
Diante de famílias que se distanciam cada vez mais do perfil tradicional podem-se destacar as famílias homoafetivas, monoparentais, simultâneas e as constituídas por união estável, não deixando dúvidas que houve uma completa reformulação do seu conceito.
Nessa perspectiva de pluralismo das entidades familiares faz-se necessário o reconhecimento de todos esses arranjos e não só aqueles previstos expressamente na Constituição, “não cabe ao Estado realizar um juízo prévio e geral de reprovabilidade contra formações conjugais plurais não constituídas sob sua égide, e que se constroem no âmbito dos fatos” (PIANOVSKI, 2007, p. 30).
Desse modo, significativos números de formatos de constituição familiar se compõem criando novos paradigmas, tornando-se necessária a busca de muitos referenciais, com vistas no futuro, longe das formas reprimidas do passado, para que essas famílias possam viver em sua plenitude independente de como se constituem.
Assim, o caminho é para um direito de família cada vez mais plural e democrático “um olhar acaba levando a uma comunhão de vidas, ao comprometimento mútuo e a responsabilidades recíprocas em que o direito se arvora na obrigação de regular” (DIAS, 2013, p. 10).
É interessante observar que o estudo da família, em Direito, esteve sempre estritamente ligado ao casamento, que a tornava legítima ou ilegítima, segundo os vínculos da oficialidade dados pelo Estado, ou mesmo pela religião. Grande parte dos juristas confundiu o conceito de família com o casamento. E por incrível que isso possa parecer, em nossa sociedade, mesmo no terceiro milênio, quando se fala em formar uma família, pensa-se primeiro em sua constituição por meio do casamento. “Mas como a realidade aponta para outra direção, somos obrigados a vê-la, sob o ponto de vista da ciência, como algo mais abrangente” (PEREIRA, 2012, p. 2).
Da mudança de um único modelo socialmente aceito para uma pluralidade de famílias, extrai-se então, que a constituição da família na sociedade conserva-se sim, mas, atendendo cada vez mais a seus próprios anseios.
 
2.2 A TRAVESSIA DA FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO (DO CÓDIGO CIVIL 1916 ATÉ A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988)
Quando se pensa em família logo se imagina o modelo tradicional constituído por um homem e uma mulher unidos pelo casamento. Assim se concebeu por muitos anos a formação da unidade familiar, herança de um passado que condicionou a determinados comportamentos, com vistas a preservar a moral e os bons costumes.
Diante disso, o antigo Código Civil de 1916 foi ferramenta determinante para a perpetuação de valores na constituição das famílias ditando o que se julgava importante para o seu desenvolvimento, “é necessário adequar a justiça à vida e não engessar a vida dentro de normas jurídicas” (DIAS, 2013, p.11).
Era exatamente o que se fazia, se regulava o direito de família na perspectiva unicamente do patrimônio e se entendia como família aquela advinda exclusivamente do casamento, uma visão limitadora da formação da entidade familiar, que também impedia a sua dissolução e fazia distinção entre seus membros.
Essa distinção se dava, principalmente, no enaltecimento da figura masculina, claramente expresso em seu art. 233 que previa que “o marido é o chefe da sociedade conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse do casal e dos filhos”.
Também nos art. 185 e 186, do mesmo código, fica clara a supremacia masculina, quando para a realização do casamento dos menores de 21 (vinte e um) anos, “sendo filhos legítimos, é mister o consentimento de ambos os pais, porém, discordando o casal quanto a realização do matrimônio do filho menor, prevalecerá a vontade paterna”.
Nota-se em tal exposição o tratamento desigual dado para homens e mulheres no Código Civil de 1916, marido e esposa não exerciam os mesmos direitos e deveres, visto que não estavam em situação de igualdade, porque o homem ocupava uma posição superior a da mulher em todo contexto social.
As uniões constituídas fora do casamento não eram reconhecidas.
“vários são os doutrinadores que, ao se referirem à união estável dentro do Código de Beviláqua, mencionam que esse Diploma legal pouco trazia acerca dessa relação e, sempre que o fazia, estabelecia verdadeiras restrições aos companheiros”. (CRISPINO, 2009, p. 50). 
 Havia uma rejeição pela sociedade e um mal-estar do legislador em tratar de relações não estabelecidas pelo matrimônio, colocando sim limitações que viessem a favorecê-las, “vedou doações e a instituição de seguro em favor da concubina, que também não podia ser favorecida por testamento”. (DIAS, 2013, p. 173).
Em seu art. 1.177 o Código Civil de 1916, menciona a possibilidade de anulação, pelo cônjuge, da doação feita pelo outro cônjuge adúltero à sua cúmplice, bem como não poderia figurar a concubina no testamento do testador casado como herdeira ou legatária, conforme exposto no inciso III do art.1.719.
Os filhos oriundos das relações não formalizadas pelo casamento não eram reconhecidos como filhos legítimos,havia distinção acerca dos legítimos e ilegítimos, “ser filho de alguém independe de vínculo conjugal válido, união estável, concubinato ou mesmo relacionamento amoroso adulterino, devendo todos os filhos ser tratados da mesma forma”. (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 612)
Mas o art. 337 do Código de 1916, expressa de forma clara a sua distinção, são legítimos os filhos concebidos na constância do casamento, ainda que anulado (art. 217), ou mesmo nulo, se contraiu de boa fé (art. 221), havia um prazo decadencial de dois ou três meses para a contestação da legitimidade de filho.
Nessa trilha, ensina Gagliano (2011, p. 612), ha ideia de que o ordenamento não pode criar óbices para se reconhecer a verdadeira vinculação entre pais e filhos, mas que seja permitida a discussão da paternidade ao tempo que se fizer necessária a sua comprovação ou seu questionamento.
O regramento da vida das pessoas se faz totalmente presente quando se determina de forma bastante incisiva cada detalhe do cotidiano, tolhendo do indivíduo a sua autonomia na perspectiva de poder dispor de seus bens do seu corpo ou da condução de sua família de uma maneira mais independente.
Em relação à mulher, esse regramento era notadamente mais contumaz ao ponto da dominação sobre o corpo feminino está expresso no art. 219 quando “se considera erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: IV - o defloramento da mulher, ignorado pelo marido”.
É preciso demarcar o limite de invasão das normas estabelecidas para que as mesmas não interfiram na liberdade das pessoas a ponto de invadirem completamente a sua privacidade e intimidade e coisificá-las.
Um dos grandes avanços no que diz respeito ao Direito de Família trata-se do divórcio, “a instituição do divórcio (EC 9/77 e Lei 6.515/77) acabou com a indissolubilidade do casamento, eliminando a ideia da família como instituição sacralizada” (DIAS, 2013, p. 30).
Foi sem dúvida um grande salto, visto que o matrimônio era indissolúvel, cristalizado nas bases de uma sociedade fortemente conservadora, que tinha no casamento imperioso modelo para manutenção de sua base.
Os critérios para a dissolução da sociedade conjugal estabelecidos no Código Civil de 1916 no qual imperava uma série de restrições, o adotado atualmente vem a facilitar sobremaneira o fim do casamento.
Modificações de relevância nesse sentido se observam com a extinção da separação judicial, do prazo mínimo para ingressar com a ação de divórcio e não mais se discutir a culpa. Mudanças como estas vieram com o advento da Emenda Constitucional 66/2010, dando uma nova redação ao art. 226 § 6° da Constituição Federal, eliminando todas as referências que discutem a culpa para a extinção do casamento.
O art. 326 do Código de 1916, expressava a forma como se via a questão da culpa para o fim do casamento, em caso de desquite judicial, os filhos menores ficavam com o cônjuge inocente e se ambos os cônjuges fossem culpados ficavam em poder da mãe os filhos menores, salvo se o juiz verificasse que de tal solução pudesse advir prejuízo de ordem moral para eles.
Algo, muitas vezes subjetivo, ficava a critério de um terceiro representado pela figura do juiz para determinar o que poderia ou não ser considerado culpa, e existia a exibição de situações constrangedoras nas quais as partes muitas vezes não queriam expor, se desconsiderava o respeito à individualidade.
As transformações na sociedade que refletiam sobremaneira na família fizeram com que a legislação civil se tornasse obsoleta, não mais respondendo aos seus anseios, necessitando, dessa maneira, de uma nova leitura para os arranjos de família. Dentro desse contexto destaca-se:
A gritante má distribuição de renda, a falta de espaço nas cidades para abrigar os lares brasileiros, acrescidas de uma ainda acanhada política nacional de manutenção do homem no campo, a necessidade dos filhos mais jovens de buscar emprego para auxiliar na economia doméstica, favoreceram o comprometimento das relações familiares (CRISPINO, 2009, p. 21).
Essas questões fizeram com que o operador constituinte sentisse a necessidade de que o Estado desse outro amparo e voltasse seu olhar para as questões relacionadas à entidade familiar que necessitava de novas interpretações e amparo da legislação.
A Constituição Federal de 1988 vem operar profundas mudanças no sistema jurídico no que tange ao Direito de Família, “exime-se o direito da secular pretensão de definir família por meio de um modelo abstrato e excludente de arranjos sociais que a ele não se subsumem” (PIANOVSKI, 2007, p. 13).
O texto constitucional veio trazer a liberdade e a igualdade, ajustado em um princípio maior que é a dignidade da pessoa humana, acentuando a tendência de ampliar o direito de escolha do modelo familiar, hoje respaldado, principalmente, nas relações de afeto.
Na perspectiva de que se visualizem outras formas de arranjo familiar, se rompe com a família consagrada nos moldes do casamento tradicional, e se reconhece a união estável e as famílias monoparentais, abrindo-se o caminho para o pluralismo das entidades familiares.
Sem sombra de dúvida, essas inovações vieram libertar todos, por completo, das amarras da família patriarcal romana, cujos resquícios ainda se viam presentes na legislação civil infraconstitucional, principalmente no revogado Código Civil de 1916, que hoje não mais vigora nesse país (CRISPINO, 2009, p. 22).
Todas as entidades familiares possuem igual proteção do Estado, não deve haver distinção entre as categorias de famílias, em seu art.226 a Constituição Federal irá tratar acerca das disposições referente à família, em uma breve leitura vislumbra- se a diferenciação dada pelo Código Civil de 1916 e a Constituição Federal de 1988 em relação a alguns artigos.
O parágrafo 5° do art. 226 da Constituição Federal, estabelece que os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher, um grande passo no sentido de igualar os direitos e deveres de ambos, pois na sociedade atual não mais se concebe o homem como o chefe exclusivo da família.
O que a nova ordem mundial nos traz é um direcionamento de papéis, na estruturação da família, em que se questiona e redimensiona-se o lugar do homem e da mulher. No Brasil, esses reflexos objetivaram-se na Constituição de 1988, quando registrou-se uma reivindicação que vinha sendo feita a décadas, tanto pelo movimento feminista quando pela legislação ordinária, que, em alguns momentos da história, permitiu à mulher avanços em sua luta pela igualdade (PEREIRA, 2012, p. 63).
Na família, esses reflexos operam como o grande impulsionador das mudanças que vêm se processando ao longo do tempo provocando uma revolução
 nos costumes e uma consequente transformação no direito de família, que tenta responder aos novos anseios da sociedade.
A constituição Federal de 1988 é um marco e uma evolução no que tange ao direito das mulheres e em extensão a sociedade familiar, em destaque para os dispositivos que garantem a proteção à maternidade, a licença à gestante sem prejuízo do emprego e a determinação de que os direitos e deveres inerentes à sociedade conjugal sejam exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
Importante se faz o reconhecimento à união estável, a constitucionalização do divórcio, a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes como entidade familiar, o seu planejamento e a criminalização da violência doméstica, que são, sem dúvida, um novo olhar do constituinte para a família.
Isso significa uma evolução no conceito de família. Até então, a expressão da lei jurídica só reconhecia como família aquela entidade constituída pelo casamento. Em outras palavras, o conceito de família se abriu, indo em direção a um conceito mais real, impulsionado pela própria realidade (PEREIRA, 2012, p. 3).
O que se tem, desde o Código Civil de 1916 até a Constituição Federal de 1988, é um avanço significativo no conceito de família ou mais precisamente na dimensão de suas formasde organização, passando de uma formação aceita apenas dentro da instituição casamento para o reconhecimento de outras formas de arranjos familiares.
2.3 A FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A PLURALIDADE FAMILIAR
O conceito de família vem se modificando ao longo do tempo ganhando nova roupagem em um novo contexto, assimilando costumes modernos, mesmo que muitas vezes com certa resistência, mas as mudanças acontecem e são comprovadas pelo atual texto constitucional.
Nesse amplo espectro de significações torna-se difícil falar em crise do casamento. Todas as antinomias apontadas, e outras, mostram que não pode haver estabilidade, nesta matéria. Há uma dinâmica permanente, e as chamadas crises são meras mudanças de paradigma, sempre traumáticas. Os fatos pressionam o legislador, o que leva a constantes mudanças no perfil jurídico do casamento. (AZEVEDO, 2006, p. 23).
 Para entender os modelos de família ideal para cada época há a necessidade que o legislador os enquadre em determinado padrão, para assegurar a sua constituição, mas atualmente não existe o padrão de família ideal e sim uma pluralidade de constituição familiar.
A constitucionalização dos principais institutos do Direito de Família assinala a importância que a matéria representa em nossa estrutura jurídica. Significa ainda a sensibilidade que o constituinte teve ao perceber os anseios da sociedade, a evolução das relações sociais e o próprio dinamismo das relações familiares (SEREJO, 2004, p. 21).
Dentro dessa dinâmica em que a sociedade se estabelece, a Constituição Brasileira de 1988 tutela as famílias advindas do matrimônio, da união estável, de adoção, das famílias monoparentais, enfim, as famílias ganham novos contornos e há constatação acerca do avanço de reconhecimento de maneiras diversas de constituição familiar.
Esse novo direcionamento da constituição ao direito de família trouxe efeitos positivos introduzindo um novo olhar diante de comportamentos já tão enraizados dentro de uma ordem patriarcal e da supremacia do casamento, “grande parte dos juristas confundiu o conceito de família com o do casamento” (PEREIRA, 2012, p. 2).
Essa nova ordem rompeu com preconceitos colocando o ser humano como agente de sua história, um ser atuante com vontade própria que em detrimento de um Estado controlador, hoje retira a hipocrisia e faz surgir novos paradigmas.
Foram eliminadas injustificáveis diferenciações e discriminações que não mais combinam com uma sociedade democrática e livre. Houve o resgate do ser humano como sujeito de direito, assegurando-lhe, de forma ampliada, a consciência da cidadania. A Constituição Federal, rastreando os fatos da vida, viu a necessidade de reconhecer a existência de outras entidades familiares além das constituídas pelo casamento (DIAS, 2013, p. 40)
Com essa nova orientação o casamento não deixa de ser prestigiado socialmente, porém não reina, mais absoluto, “a união estável, rompendo com a exclusividade da opção matrimonial, alcançou o status constitucional, como prova de que o direito não pode negar os fatos sociais” (SEREJO, 2004, p. 84).
O casal que vive em união estável tem seu reconhecimento como entidade familiar perfeitamente aceitável nos dias atuais, mas por muito tempo esse tipo de relação ficou na clandestinidade sofrendo injustiças por falta de uma regulamentação que a amparasse e sob o olhar de uma sociedade que a recriminava.
A união estável está verdadeiramente inserida na vida em sociedade, venceu o preconceito e não disputa com o casamento nem tão pouco o eliminou, apenas surgiu como mais uma opção de se constituir família dentro desse universo rico de pluralidade familiar.
Hoje, cada vez mais pessoas se divorciam, cada vez mais famílias são assumidas apenas por mulheres, apenas por homens, configurando essa nova realidade que aqui se caracteriza por famílias monoparentais.
Esses modelos fogem do modelo clássico formado pelo pai a mãe e os filhos, “entidade familiar é família e toda família é uma entidade familiar, seja ela originada do casamento, da união estável ou constituída por qualquer dos pais e seus descendentes” (SEREJO, 2004, p. 85).
Assim, a Constituição Federal de 1988 operou verdadeira transformação no que diz respeito ao universo familiar ampliando os horizontes e possibilitando uma visão pluralista contribuindo, sobremaneira, na medida em que substitui o preconceito pelo afeto “reconhecido como o ponto de identificação das estruturas de família” (DIAS, 2013, p. 10).
O reconhecimento do pluralismo das relações familiares rompe com o modelo reinante, é a liberdade de escolha que se sobrepõe, ampliando cada vez mais o conceito de família que ordena o passo para uma sociedade mais tolerante, mais democrática mais rica em seus valores.
A constituição Federal de 1988 só veio a sedimentar o que já era costumeiro na sociedade, portanto, tem-se por ela o reconhecimento da família constituída pelo casamento, a formada pela união estável e aquela formada por qualquer dos pais ou descendentes, mas, mesmo promovendo a ampliação do conceito de família, não foi por ela abrangido todas as inúmeras configurações familiares.
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3	OS DESDOBRAMENTOS DA FAMILIA CONTEMPORÂNEA
A valorização da autonomia privada da família abre espaço para a intervenção mínima do Estado, o afeto se consolida no campo das relações familiares e o casamento, embora seja o guardião das tradições, não reina mais absoluto, são os desdobramentos pelos quais a formação da família contemporânea se distancia cada vez mais dos mecanismos de sua concepção convencional.
3.1 OS PRINCÍPIOS APLICADOS AO DIREITO DE FAMILIA 
Os princípios estão presentes em todos os ramos do direito, é uma das suas mais importantes fontes, mas já ocuparam um espaço de supletividade de outras fontes, assim como expõe o Código de Processo Civil em seu art.126 “O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais do direito”.
Essa fonte do direito ganhou destaque com a “evolução e desenvolvimento do direito civil-constitucional, os princípios ganharam uma nova força normativa” (PEREIRA, 2006, p. 843), com o advento da Constituição Federal de 1988, surge uma nova maneira de ver o direito, e em consequência a consolidação dos princípios que “impôs eficácia a todas as suas normas definidoras de direitos e garantias fundamentais (CF art.5°, § 1°)” (DIAS, 2013, p. 60).
O princípio da interpretação conforme a Constituição, estabelece que a lei deva ser interpretada sempre a partir da Constituição, ela é o parâmetro para a devida aplicação da lei, sendo que é a lei maior do País.
Se o direito fosse aplicado puramente pelas regras jurídicas “seria possível a substituição de juízes por máquinas” (SARMENTO DIAS, 2013, p. 61), se assim o fosse às decisões seriam todas iguais para casos semelhantes, quando o que deve ser aplicado é a análise de caso a caso evitando decisões dissonantes com a realidade concreta.
Os princípios constitucionais diferem dos princípios gerais do direito, pois vêm em primeiro lugar em qualquer interpretação do direito “o título primeiro da nossa Constituição é uma declaração de princípios, afirmando que o Brasil é um Estado democrático de direito” (CABRAL, 1999, p. 45).
Destacam-se como princípios constitucionais fundamentais previstos no título primeiro da Constituição Federal Brasileira de 1988, a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, além do pluralismo político.
Os princípios gerais do direito são ideias basilares que servem de apoio ao operador do direito quando a lei possui lacunas, são aplicados em todos os ramos do direito, obedecendo às especificidades de cada um, atendendo a necessidade de cada matéria, porém existem princípios que são norteadores de todos os ramos do direito.
Constituem-seem fundamentos gerais que são norteadores de todos os ramos do direito e devem ser aplicados obedecendo à coerência com o caso a ser aplicado, o princípio da dignidade, da liberdade e da igualdade.
Entre os princípios gerais há princípios não-expressos “estão inscritos no espírito ético dos ordenamentos jurídicos, exemplos clássicos são a moralidade pública, da boa-fé” (PEREIRA, 2006, p. 844), não precisam que estejam escritos, mas estão inseridos subjetivamente dentro da interpretação normativa.
Dentro do âmbito do Direito de Família há os princípios especiais que são referência para os assuntos que tratam das relações familiares, eles se apresentam como fundamentais na medida em que evitam julgamentos preconceituosos em dissonância com a atual realidade.
Mesmo com a Constituição Federal de 1988 produzindo uma nova leitura ao que se refere à família, o Código Civil de 2002 não contemplou regras totalmente adequadas para aplicação ao Direito de Família altamente dinâmico e marcado por mudanças e inovações.
Para o Direito de Família os princípios tornam-se essenciais sem os quais não seria possível uma interpretação justa nas decisões aferidas puramente sob a luz da fria letra da lei, eles provocaram uma substancial mudança na interpretação da lei abrangendo mais direitos merecedores de tutela.
Com uma infinidade de situações atípicas e diante de uma legislação que não está preparada para atender a todas essas novas famílias, “nenhuma forma única dominará a confusão familiar por qualquer período prolongado.” (TOFFLER, 1997, p. 219), só com a ajuda dos princípios a respostas poderão ser dadas.
A importância dos princípios no nosso ordenamento jurídico é incontestável, e o princípio da intervenção mínima do Estado se coloca de suma relevância quando o limite entre o público e o privado não está bem definido, “o público e o privado são a dicotomia que nos permite pensar no espaço da vida privada em confronto com normas/regras de interesse público” (PEREIRA, 2006, p. 850).
3.2 DA AUTONOMIA E DA MENOR INTERVENÇÃO ESTATAL
A autonomia da família versa sobre a possibilidade de constituição da vida familiar sem qualquer restrição obedecendo ao que preceitua o art. 1.513 do Código Civil de 2002: “É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”.
O princípio da intervenção mínima estatal leva a reflexão de quando e quanto o Estado pode determinar o que é legitimo ou não na vida familiar evitando um excesso de ingerência na vida privada dos indivíduos, “o Estado poderia determinar que exista um culpado pelo fim da conjugalidade, como se existisse um culpado e um inocente” (PEREIRA, 2006, p. 850).
Hoje, não se discute mais acerca de quem foi o culpado para o término da relação conjugal, a culpa caiu em desuso quando se discute o fim do casamento, mas por muito tempo a intimidade das partes envolvidas nas ações de separação/divórcio era exposta desrespeitando o seu direito à intimidade.
O direito à privacidade deve prevalecer em detrimento ao poder do Estado em determinar se existe culpado para o fim do casamento, pois:
O direito à privacidade normalmente está vinculado à particularidade da vida cotidiana e no caso de cônjuges/companheiros significa os fatos e sentimentos vivenciados no contexto do lar ou da relação, sem a possibilidade da intromissão/ingerência de terceiros (ROSA, 2001, p. 34).
Com a aprovação da Emenda Constitucional 66/2010 a dissolução do casamento se dá apenas pelo divórcio, não existe mais o instituto da separação judicial que o antecedia e a obediência a um prazo de um ano para a conversão da separação em divórcio.
A dissolução do casamento sem a necessidade de implemento de prazos ou identificação de culpados dispõe também de um efeito simbólico: deixa o Estado de imiscuir-se na vida das pessoas, tentando impor a mantença de vínculos jurídicos quando não existem mais vínculos afetivos (DIAS, 2013, p. 305).
A união estável, que de união livre passou a ter que adotar o regime de comunhão parcial de bens como no casamento, configurado no art.1.725 do Código Civil, “Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, ao regime da comunhão parcial de bens”, também sofreu a intervenção estatal.
 O art. 1.641 do Código Civil de 2002 estabelecia, de maneira obrigatória, o regime de separação de bens para os casamentos de pessoas com mais de 60 anos, alterado pela Lei n° 12.344/10, que modificou sua redação para maior de 70 anos.
Mesmo diante da alteração de 60 para 70 anos, o referido artigo ainda restringe a autonomia do idoso, ao impossibilitar a sua livre escolha quanto ao regime de bens a ser adotado no seu casamento, não podendo o mesmo adotar o que julgar conveniente.
A impossibilidade de múltiplas relações matrimonializadas também constitui-se em uma intervenção estatal diante da livre escolha do indivíduo em constituir, de maneira autônoma, a sua família, esse impedimento é regularizado na monogamia e no dever de fidelidade previsto pelo Código Civil de 2002, no art.1566, I, o amor deveria ser assunto do casal e não do estado.
Na decisão livre do casal, unido pelo casamento ou pela união estável, no planejamento familiar (CF, art.226, §7°, CC, art1.565, §; Enunciado n.99, aprovado nas Jornadas de Direito Civil, promovidas pelo Conselho de Justiça Federal), intervindo o Estado apenas em sua competência de propiciar recursos educacionais e científicos ao exercício desse direito; na convivência conjugal; na livre aquisição e administração do patrimônio familiar (CC, arts. 1.642 e 1.643) e opção pelo regime matrimonial mais conveniente (CC, art. 1.639); na liberdade de escolha pelo modelo de formação educacional, cultural e religiosa da prole (CC, art. 1.634); e na livre conduta, respeitando- se a integridade físico-psíquica e moral dos componentes da família (DINIZ, 2006, p. 22).
Para boa parte da doutrina a monogamia se constitui em princípio, comprometido em preservar e organizar as relações conjugais, intimamente ligado ao dever de fidelidade traduzindo-o em um padrão valorativo absoluto.
O Estado, a luz do princípio da intervenção mínima no Direito de Família, não poderia, sob nenhum pretexto, impor, coercitivamente, a todos os casais, a estrita observância da fidelidade recíproca. A atuação estatal não pode invadir essa esfera de intimidade, diante de uma relação de afeto, cabe a seus protagonistas estabelecerem as suas regras de convivência, “não cabe ao sistema jurídico especificar condutas, impor comportamentos ou modelos, sancionar eventuais “desvios” (NAMUR, 2014, p. 159).
Não pode o Estado, sob o fundamento de proteção, interferir na liberdade e autonomia das pessoas no âmbito do direito de família da mesma maneira que interfere nas relações contratuais, “[...] não se poderia admitir, por exemplo, que, somente o Estado Legislador pudesse moldar e reconhecer – em Standards apriorísticos – os núcleos familiares” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p. 104).
Dentro da perspectiva do direito de família o Estado deve pautar-se na consagração de normas de otimização para assegurar garantias mínimas e não de imposição de regras discriminatórias que acabam engessando a autonomia privada dos indivíduos. A família como um fato natural, no sentido de organizar-se à revelia do Estado, é uma instituição que se constituiu independente de oficializações.
Com isso, forçoso é reconhecer a suplantação definitiva da (indevida) participação do Estado no âmbito das relações familiares, deixando de ingerir sobre aspectos personalíssimos da vida privada, que, seguramente, dizem respeito somente à vontade do próprio titular, como expressão mais pura da sua dignidade (FARIAS; ROSENVALD, 2013, p. 64).
Hoje o afeto sendo a base na formação das entidades familiares, abrem-se novos horizontes para que surjam as mais diversas possibilidades de arranjos familiares, afastando o Estado, cada vez mais, como limitador da vontade dos indivíduos.
3.3PRINCIPIO DA AFETIVIDADE E O AFETO COMO NOVO PARADIGMA
 Um novo século surge emergindo com a constituição federal de 1988, um novo modo de ver o indivíduo e o modo de viver de cada um, trazendo uma perspectiva de trazer soluções aos problemas no âmbito do direito de família, uma das principais modificações foi a igualdade entre homem e mulher , e admitiu o reconhecimento de outra formas de família, não só por meio do casamento, tendo como características também os direitos e garantias fundamentais de cada um art.5 CF.
Sobre princípio da afetividade leciona Paulo Lobo:
Demarcando seu conceito, e o princípio que fundamenta o direito de família na estabilidade das relações socio afetivas e na comunhão de vida, com a primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico, recebeu um grande impulso com a constituição de 1988,resultando na transformação da família brasileira, nas últimas décadas do século XX, refletindo-se na doutrina jurídica e na jurisprudência. O princípio da afetividade especializada, no âmbito familiar, os princípios constitucionais fundamentais da dignidade da pessoa humana e da solidariedade entrelaça-se com os princípios de convivência familiar e igualdade entre conjugues, companheiros e filhos, que ressaltam a natureza cultural e não exclusivamente biológica da família. A evolução da família expressa a passagem do fato natural da consanguinidade para o fato cultural da afinidade. (LOBO,2012,p.70)
 A família deixa de ser algo patriarcal e matrimonial e encorpara um lado mais humano enxergando a convivência a igualdade e solidariedade como novos arranjos familiares, faz com que as diferenças por exemplo de dois irmãos biológicos e adotivos sejam respeitadas de acordo com seus direitos fundamentais, o sentimento e a demonstração deste não podem ser interferidos pelo estado e pelo interesse patrimonial. 
O caput do artigo 226 consagra que a entidade familiar é caracterizada pela comunhão plena de vida entre as pessoas, fundadas em laços de afeto, não mais sendo caracterizada apenas pelo instituto do casamento e, diante dessa classificação, qualquer família merece a proteção e a guarda pelo Estado. Essa nova importância dada o direito de família, dá início a um novo modelo familiar, na qual os laços afetivos de amor e segurança gerados pela convivência são utilizados como direção nas lides judiciais, denominadas dessa forma de família socioafetiva (LENZA, 2012,p.)
 Na constituição federal se identifica quatro fundamentos essências ao princípio de afetividade, a igualdade de todos os filhos não havendo distinção destes, a adoção de filhos como escolha afetiva com igualdade de direitos, o arranjo familiar criado por qualquer pai com seu descendente, incluindo adotivo, direito a convivência familiar como prioridade absoluta da criança .art. 226 e 227 CF.o princípio do afeto não analisa a psicologia, ele analisa se a solidariedade deriva da relações entre os indivíduos , não com o sangue.
A grande forca determinante da afetividade, como elemento nuclear de efetiva estabilidade das relações familiares de qualquer natureza dos dias atuais torna relativa e, às vezes, desnecessária a intervenção do legislador. A afetividade e o indicador das melhores soluções para os conflitos familiares. As vezes a intervenção legislativa fortalece o dever de afetividade, a exemplo da lei n.11.112/2005, que tornou obrigatório o acordo relativo a guarda dos filhos menores e ao regime de visitas, assegurando o direito a companhia e reduzindo o espaço de conflitos, e da Lei n.11.689/2008, que determinou preferência de guarda compartilhada, quando não houver acordo entre pais separados, outro exemplos e a Lei nº 11.924, de autoria do já falecido Deputado Federal Clodovil Hernandes, conhecida como "Lei Clodovil", que alterou o artigo 57, da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), para autorizar o enteado ou a enteada a adotar o nome da família do padrasto ou da madrasta, desde que obtida à devida aquiescência expressa., e a ADI 4277 de reconhecimento de uniões homoafetivas são questões que trazem a grande evolução do direito de família. (LOBO,2012,p71)
 Sobre esse novo olhar ao direito de família inserido com o princípio da afetividade, leciona Joao Batista Villela;
As relações de família, formais ou informais ,indígenas ou exóticas, ontem como hoje, por mais complexas que se apresentem, nutrem-se , todas elas, de substancia triviais e ilimitadamente disponíveis a quem delas queira tomar afeto, perdão ,solidariedade, paciência, devotamento ,transigência, enfim, tudo aquilo que, de um modo ou de outro, possa ser reconduzido a arte e a virtude do viver em comum. A teoria e a prática das instituições de família dependem, em última análise, da nossa competência em dar e receber amor. (VILELLA,2012, P 645) 
A sociedade contemporânea depara-se com novas perspectivas no que tange a organização familiar, na sua formação, nas suas relações de afeto e nas inúmeras formas de amar. Nesse contexto, para uma melhor compreensão do surgimento do afeto como balizador das relações familiares faz-se necessária uma breve análise da trajetória da família europeia no período Pós-Revolução Industrial, o que veio, de certa maneira, mais tarde a refletir no Brasil.
Antes da Revolução Industrial a família tinha como base a reprodução e a segurança econômica, não havia espaço para o afeto e para o amor como matriz na relação familiar, não seria nesse momento, ainda que o afeto constituir-se-ia o mote balizador a vincular as pessoas como entidade familiar.
Antes da revolução industrial, por exemplo, as formas de família variavam de lugar para lugar. Mas onde quer que a agricultura predominasse, as pessoas tendiam a viver em grandes grupos multigeracionais, formados por tios, tias, afins, avós, ou primos, todos vivendo sob o mesmo teto, todos trabalhando juntos numa unidade econômica de produção – da “família junta” na índia à “zadruga” nos Bálcãs, e à “família ampliada” na Europa Ocidental. E a família era imóvel... enraizada no solo. (TOFFLER, 1997, p. 41).
Com a Revolução Industrial a família começou a sentir as primeiras mudanças na sua organização, a sua produção econômica, que antes era no campo, agora migrava para as fábricas, tecendo uma nova configuração ao ambiente familiar, provocando mudanças significativas na sua estrutura, tornando-se uma família móvel e dinâmica.
As funções básicas que antes eram inerentes a família como o cuidado com as crianças e os idosos, agora eram distribuídas para novas instituições, como a escola e asilos, pois diante da necessidade do deslocamento de seus membros para o trabalho nas fábricas, fazia-se necessária a criação dessas instituições para atender essa nova demanda.
Sobrecarregada por parentes velhos, doentes, incapazes, e uma grande ninhada de crianças, a família ampliada era tudo menos móvel. Gradual e penosamente, por conseguinte, a estrutura familiar começou a mudar. Desagregada pela migração para as cidades, abalada por tempestades econômicas, as famílias livraram-se de parentes indesejáveis, ficavam menores, mais móveis e mais adequadas às necessidades da nova tecnosfera (TOFFLER, 1997, p. 42).
Essa tendência fez com que surgisse a chamada família nuclear, constituída pela figura do pai, da mãe e dos filhos, modelo padrão reinante por muito tempo na sociedade, vale ressaltar que era o perfil aceito dentro de uma perspectiva de ideal de família, sem deixar de considerar que ela estava ainda vinculada a noção de casamento, ou seja, pessoas ligadas pelo vínculo do matrimônio.
A emancipação feminina, favorecendo que a mulher ingressasse no mercado de trabalho, conquistando o seu espaço como membro da sociedade, tira do homem o encargo de único provedor do lar, enfraquecendo a figura paterna como central e detentora dos superpoderes familiares, dando espaço à realização individual, respaldada na crescente consagração do princípio da igualdade.
O afrouxamento dos laços entre Estadoe igreja acarretou profunda evolução social e a mutação do próprio conceito de família. Começaram a surgir novas estruturas de convívio sem uma terminologia adequada que as diferencie. Nas famílias formadas por pessoas que saíram de outras relações, seus componentes não têm nem nomes que os identifiquem nem lugares definidos. Os novos contornos da família estão desafiando a possibilidade de se encontrar uma conceituação única para a sua identificação (DIAS, 2013, p. 41).
Serejo (2004), assinalou que
Qualquer que seja a família do futuro, as tendências previsíveis em suas características já estão presentes em grande maioria das famílias atuais, a saber: despatrimonialização (substituição da preocupação capitalista de acumular bens pela valorização das relações familiares autênticas entre os membros de uma família), valoração dos aspectos afetivos da convivência familiar, igualdade dos filhos, desbiologização do conceito de paternidade, guarda dos filhos a terceiros, companherismo, democracia interna mais acentuada, instabilidade, mobilidade e inovação permanente (SEREJO, 2004, p. 23).
O afeto está inserido no sistema jurídico, mesmo que implicitamente, quando do reconhecimento da união estável que trata da união de pessoas que simplesmente querem se unir independente dos sagrados laços do matrimônio, é o afeto que vai determinar a formação dessa relação.
Outro bom exemplo é a relação entre pessoas do mesmo sexo, cabe ressaltar, o emprego da expressão união homoafetiva e não união homossexual, “pois as pessoas que formam esse núcleo estão jungidas pelo afeto, e não apenas pela sexualidade.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2013, p. 91).
Hoje, também os vínculos do casamento se sustentam no amor e no afeto, retiram seu caráter meramente sacramental, respaldado pela visão de indissolubilidade, para a valoração do desejo de estar junto, um símbolo de rompimento com as formas tradicionais do casamento e adoção da afetividade como sua norteadora.
O afeto acaba sendo inserido como um princípio basilar do direito de família, ganha especial destaque nas relações de família, fazendo com que as modernas decisões acerca do tema família girem em torno do princípio da afetividade.
Atualmente, há um rompimento com o caráter meramente biológico em relação à paternidade, os laços afetivos estão prevalecendo em detrimento do biológico, há uma desbiologização do parentesco entre pais e filhos, “a filiação afetiva é aquela na qual o amor e o carinho recíprocos entre os membros suplantam qualquer grau genético, biológico ou social” (VENOSA, 2009, p. 220).
Nesse campo, não se desconstitui uma paternidade se for comprovada à existência de uma relação socioafetiva entre a criança e o seu pai não biológico, tal a relevância do afeto nas relações familiares, mantida, assim, a filiação mesmo se confirmado a não filiação biológica.
 O vínculo da afetividade é consequência também da ruptura do paradigma da família identificada exclusivamente pelo laço do casamento, a dinâmica nos relacionamentos acaba gerando a constituição de famílias que agregam filhos vindos de outros relacionamentos.
A igualdade entre irmãos adotivos e biológicos representa mais uma vez a marca da afetividade presente nas relações familiares se sobrepondo a preconceitos e fazendo reinar a equidade entre todos os filhos, despontando padrões de família mais igualitários em relação a seus membros.
Por isso, o vínculo da afetividade foi um grande avanço para um novo olhar em direção a família, “a família e o casamento adquiriram novo perfil, voltados muito mais a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes” (DIAS, 2013, p. 74).
Diante dessa nova realidade tem-se como concretizado o afeto como de grande importância no âmbito da família, construindo um novo vínculo de convivência entre seus membros e consagrando um novo formato de família mais verdadeiro.
Esse formato de família, mais verdadeiro, construído pelo afeto possibilita o surgimento cada vez maior da pluralidade das famílias, abrindo dessa maneira uma nova reformulação do seu conceito, “[…] a necessidade de flexionar igualmente o termo que a identifica, de modo a albergar todas as suas conformações” (DIAS, 2013, p. 39).
Com isso, também as relações paralelas devem ser consideradas visto que, existe um número expressivo de pessoas que vivem uma relação de afeto simultânea ao casamento ou a união estável, que se alonga no tempo, criando laços sólidos de convivência, não seria justo portanto, negar-lhes a existência como família.
A identificação das famílias tanto no que diz respeito a vida cotidiana como para a proteção da tutela jurídica, possuem na presença do vínculo afetivo “[…] uma força elementar, propulsora de todas as nossas relações de vida” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2011, p.88)
O elemento afetivo é fortemente valorizado, o que levou o constituinte a admitir que o casamento não é a única maneira de constituir família estendendo a sua tutela constitucional para a união estável e a família monoparental como bem preceitua o art.226, §§ 3° e 4°, “como esse artigo não é exaustivo, a Constituição não impede que a legislação, a doutrina e a jurisprudência reconheçam outras categorias de família geradas pelo afeto” (BARROS, 2006, p. 887).
Dentro dessa perspectiva do afeto a maneira de se vislumbrar a família nunca mudou tanto, em tão pouco tempo, há lugar para se pensar na simultaneidade familiar, porque o fato está aí requerendo um amadurecimento da sociedade nesse sentido e isso implica lançar um “novo olhar plural do direito sobre o fenômeno familiar que, fundado na liberdade e na solidariedade, não se restringe a modelos pré- ordenados pelo direito estatal” (PIANOVSKI, 2006, p. 221).
[...] As uniões afetivas plúrimas, múltiplas, simultâneas e paralelas, têm ornado o cenário fático dos processos de família, com os mais inusitados arranjos, entre eles, aqueles em que um sujeito direciona seu afeto para um, dois, ou mais outros sujeitos, formando núcleos distintos e concomitantes, muitas vezes colidentes em seus interesses. Ao analisar as lides que apresentam paralelismo afetivo, deve o juiz, atento às peculiaridades multifacetadas apresentadas em cada caso, decide com base na dignidade da pessoa humana, na solidariedade, na afetividade, na busca da felicidade, na liberdade, na igualdade [...] STJ, REsp 1.157.273/RN, Corte Especial, Rel. Min. Nancy Andrighi, publicado em 07/06/2010 (PEREIRA, 2012, p. 25).
A aplicação do princípio do afeto dentro do direito de família deve fazer com que sejam reconhecidas outras formas de arranjo familiar sem hierarquia nas suas formas de constituição, em consonância com as transformações sociais que primam pela liberdade e autonomia dentro de uma perspectiva de reconhecimento de todas as entidades familiares expressas por outras formas, além das já consagradas, principalmente pelo casamento.
Pois bem, afirmado o afeto como base fundante do Direito das Famílias contemporâneo, vislumbra-se que, composta a família por seres humanos, decorre, por conseguinte, uma mutabilidade inexorável, apresentando-se sob tantas e diversas formas, quantas sejam as possibilidades de se relacionar, ou melhor, de expressar o amor (FARIAS; ROSENVALD, 2013, p. 72).
Dessa maneira, a ideia do afeto como elemento relevante nas relações familiares mostra-se incompatível com o modelo único, matrimonializado de constituição de família, visto que as pessoas se unem de um modo geral pelo afeto, em contrapartida a pluralidade de formação familiar, “[...] máxime na sociedade contemporânea, marcada por relações complexas, plurais, abertas, multifacetárias [...]” (FARIAS; ROSENVALD, 2013, p.39)
Assim sendo, predomina na atualidade um direito de família pautado na humanidade e cada vez mais despatrimonializado sugerindo que o afeto e opatrimônio sejam desvinculados, e ele, o afeto, vem sendo a escolha para as novas formas de constituição familiar.
Apesar de o estado ser laico, e ao advento da constituição federal inserido princípioe trazendo igualdade dentro do ordenamento jurídico, a ainda uma imensa influencia religiosa interferindo na ordem social das entidades familiares através do princípio da monogamia. O legislador se advém de um preconceito diante das novas modelo familiar, não os julga com a igualdade mais sim no ponto de vista da moral e da religião ainda, e não no ponto de vista que o ser humano e um ser social, estando em transformações , a de se tirar ainda o que restou das as amaras patriarcal e patrimonial.
3.4 PRINCIPIO DA DIGNIDADE HUMANA
Um princípio mais fundamental dentro do estado democrático de direito, sendo afirmado já no primeiro artigo da constituição federal. Sendo o princípio mais universal de todos os princípios um marco princípio do qual se irradiam todos os demais. (BERENICE, 2012.p 61).
O direito de família está umbilicalmente ligado aos direitos humanos, que tem como base o princípio da dignidade humana, versão axiológica da natureza humana. O princípio da dignidade humana significa em última análise, igual dignidade a todas entidades familiar para todas entidades familiar. Assim e indigno dar tratamento diferenciado a diversas formas de filiação ou vários tipos de constituição de família. (BERENICE, 2012.p 61)
Um princípio caracterizado por um valor moral e espiritual todo ser humano tem o direito de ser tratado com dignidade termo muito usado pra demostrar a equidade entre as modelos familiar, Ganhou a sua formulação clássica por Immanuel Kant, na "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" que defendia que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um meio (objetos), que assim formulou tal princípio :
"No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade." (KANT,2004,p.58)
 Ao analisar com o código de 1916 e a constituição vimos a evolução pratica pela entrada do novo ordenamento jurídico, aonde se busca a dignidade de todos indivíduos, dignidade da pessoa humana que somente o homem chefe de família tinha naquela época. 
 A dignidade da pessoa humana e o núcleo existencial que e essencialmente comum a todas pessoas humanas, como membros iguais do gênero humano, impondo-se um dever lealdade respeito, proteção e intocabilidade (LOBO,2012,p.60)
	
3.5 PRINCIPIO DA IGUALDADE E DIREITO A DIFERENÇA
Com a constituição de 1988 um princípio acabou ganhando muita força e transformando as relações familiares esse princípio se chama igualdade, o grande exemplo disso está na igualdade que seu texto trouxe diante da relação homem e mulher, e filhos e entidades familiares. Todo aquele ordenamento jurídico patriarcal e os interesses patrimoniais acabavam sendo abolidos tratando todos como sujeito de direitos e deveres.
O princípio da igualdade teve seu papel importante junto com a constituição de 1988, que leciona, Álvaro Ricardo de Souza:
O direito a igualdade assume essas características, tendo em vista ser fruto da modernidade. É um direito que afasta de si as complexidades característica basilar das sociedades, negando e encobrindo a diversidade. Sendo apenas no séc. XX, com o constitucionalismo moderno, é que o indivíduo passa a ser visto como concreto e palpável, passando a legislação a considerar as diferenças existentes e iniciado a defesa de minorias étnicas e sociais. O pluralismo passa a ser considerado princípio intrínseco à dignidade humana, onde o Estado e a sociedade devem proteger o outro (CRUZ, 2009,p50)
Maria Berenice Dias, assinalou:
E necessária a igualdade na própria lei, ou seja, não basta que a lei seja aplicada igualmente para todos. o sistema jurídico assegura tratamento isonômico e proteção igualitária a todos cidadãos no âmbito social. A ideia central e garantir igualdade, e o que interessa particularmente ao direito, pois está ligada à justiça. (BERENICE,2012, p.68) 
 Não bastou a constituição federal proclamar o princípio da igualdade em seu preambulo reafirmando o direito a igualdade a dizer no seu art.5 CF; todos são iguais perante a lei. Ele foi além, de modo até repetitivo ao afirmar que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, decantando mais uma vez a igualdade de direitos e deveres no referente a sociedade conjugal CF art.226 . Assim e a carta constitucional a grande artificio do princípio da isonomia no direito de família. Essa igualdade alcançou também o vínculo de filiação, ou seja, ao reconhecer os filhos de adoção ou fora do casamento tratando como legítimos art. 227, acabando assim com a discriminação gerada sobre estes.
 Outro grande avanço nas questões do planejamento familiar art.1.565 CC, onde há a grande liberdade do casal de decidir em que moldes vai se dar essa união, sendo vedado qualquer intervenção estatal. (BERENICE,2012, p.67).
 o princípio da igualdade alcançou altos ordenamento, estando também expresso nos Pactos Internacionais de Direitos Humanos de 1966, em seus artigos 26 e 27, que prescrevem:
"Art 26: Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito , a lei deverá proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua , religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.
Art 27: Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de Ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua."
 Sobre os marcos históricos do direito a igualdade e um novo modo de ver o ordenamento jurídico, diz o autor Antônio Manuel;
A estrutura do direito moderno considera a todos como iguais, pois apenas irá considerar os aspectos externos, tornando possível um tratamento geral e abstrato. Considerando que o Direito entende o indivíduo a menor entidade indivisível e indistinta da sociedade seu objetivo é procurar soluções que não se prende ao aspecto interno das condutas. O direito também irá compreender o indivíduo como um ente isolado, desconsiderando seus vínculos com a família, comunidade, cultura, etc., e, consequentemente, esses elos não ficam sob o palio do ordenamento jurídico (HESPANHA, 2007,p.20).
LOBO,2012 leciona:
O princípio da igualdade como os diversos princípios não tem aplicabilidade absoluta, ou seja, admite limitações que não violem seu núcleo essencial. Assim o filho havido por doação tem os mesmos direitos dos filhos havidos da relação de casamento, mas está ao contrário dos demais, impedido de casar-se como parentes consanguíneos de cuja família foi oriundo, ainda que tenha desligado essa relação de parentesco art.1.626, aqui fica evidentemente demostrado algumas regras em relação ao princípio da igualdade. (LOBO,2012, p.66)
3.6 PRINCIPIO DA LIBERDADE AS RELAÇOES FAMILIARES
 O princípio da liberdade corresponde a independência de seleção ou autonomia de formação ,efetivação e exclusão de entidade familiar, sem o dever ou restrições externas de parentes, da sociedade ou do legislador, a livre aquisição e administração do patrimônio familiar, a liberdade de plano familiar, uma nova imposição dos modelos educacionais, dos valores culturais e religiosos, autonomia na criação dos filhos, desde que reconhecida suas dignidades como pessoas humanas, a liberdade de agir, determinada no respeito a integridade física, mental e moral.
A igualdade e a liberdade foram um dos primeiros princípios legitimados como direitos humanos fundamentais de modo a garantir o respeito à dignidade dapessoa humana. O papel do direito e coordenar, organizar e limitar as liberdades, justamente para garantir a liberdade individual. Parece um paradoxo. no entanto só existe liberdade se houver igual proporção e concomitância, igualdade. Inexistindo pressuposto da igualdade, haverá dominação e sujeição a liberdade. (BERENICE,2012, p.66)
LOBO,2012, Leciona:
Na constituição brasileira e nas leis atuais o princípio da liberdade na família apresenta duas vertentes essenciais; liberdade da entidade familiar, diante do estado e da sociedade, e liberdade de cada membro diante dos outros membros e da própria entidade familiar. A liberdade se realiza na constituição, manutenção e extinção da entidade familiar, no planejamento familiar, que e livre decisão do casal art.226, parágrafo 7, CF, sem interferências públicas ou privadas, na garantia contra a violência, exploração e opressão no seio familiar; na organização familiar mais democrática, participativa e solidaria.(LOBO,2012,p.70)	
O princípio da liberdade diz respeito não apenas a criação, manutenção ou extinção dos arranjos familiares, mas a sua permanente constituição e reinvenção. Tendo a família se desligado de suas funções tradicionais, não faz sentido que o estado interesse regular deveres que restringem profundamente a liberdade intimidade e a vida privada das pessoas, quando não repercutem no interesse geral. .(LOBO,2012,p.70)
Maria Berenice diz, sobre a liberdade imposta aos arranjos familiares:
A liberdade floresceu na relação familiar e redimensionou o conteúdo da autoridade parental ao consagrar laços de solidariedade entre pais e filhos, bem como a igualdade entre os conjugues no exercício conjunto do poder familiar voltada ao melhor interesse do filho. Em face do primado da liberdade, e assegurado o direito de constituir uma relação conjugal, uma união estável hetero ou homossexual. Há a liberdade de dissolver o casamento e extinguir a união estável, bem como o direito de recompor novas estruturas de convívio. A possibilidade de alteração do regime de bens a vigência do casamento CC 1.639, sinala que a liberdade, cada vez mais, vem marcando as relações familiares. (BERENICE,2012, p.66)
 
3.7 O CASAMENTO COMO ESTRUTURA DA TRADIÇÃO
Um pequeno exame histórico acerca da trajetória do casamento faz-se necessário para a compreensão de como a noção de casamento foi alterada com o passar do tempo. Cabe salientar, que a ideia não é detalhar cada época mas, apenas buscar os elementos mais importantes de alguns períodos históricos que possibilitam esse entendimento.
É importante destacar, que a noção de família antecede o instituto do casamento, visto que as formações de núcleos familiares na antiguidade não obedeciam a um ritual ou a uma formalidade, aspectos inerentes apenas ao casamento que segue regras previamente estabelecidas.
Só quando o homem sai de uma relação intimamente ligada à natureza e passa a ser mais social, é que ele sente a necessidade de estruturar as suas relações, normatizando-as com base na sua cultura e costumes.
Então, o ordenamento jurídico começou a fazer parte de sua vida instituindo o certo e o errado e a aprovação ou não de determinados comportamentos e condutas condizentes com aquele contexto cultural no qual estava inserido.
Uma das instituições que mais têm sido objeto de regulamentação jurídica é o casamento. Aliás, instituição que se deve distinguir da família, donde a excelência do termo “família conjugal”, empregada tão acertadamente por Durkheim. Há numerosas definições para casamento, mas não há uniformidade para conceituá-lo nos diversos sistemas jurídicos que o disciplinam (PEREIRA, 2012, p. 20).
Para os gregos o casamento obedecia a determinadas regras e possuía a sua ética própria, casar consistia em uma obrigação, a condição de casado era inerente para poder do exercício do status social. Após o casamento a individualidade era representada pelo casal, tornava os companheiros honrados representantes da sociedade, além de proteger a descendência.
 Aristóteles, Hierocles, Sêneca, Plutarco, dentre outros, dispensaram obras inteiras nessa discussão, sugerindo a autonomia de uma “ética do casamento”. Emerge a discussão de como os companheiros deveriam se portar socialmente, já que o casamento é considerado, desde então, como uma instituição social, absolutamente necessária à construção regular do tecido social. Para ser um bom cidadão da polis, o verdadeiro pater família, era absolutamente necessário o casamento (ROSA, 2001, p. 44).
Na Idade Média a ideia de casamento como instituição, estava longe de ser baseado no afeto ou no amor dos cônjuges, mas, sobretudo, no interesse na reunião de patrimônios, fato que veio servir de referência para os matrimônios que vinham a ser estabelecer ao longo dos séculos, onde a proteção aos bens de família servia de fundamento para a manutenção do casamento.
Foi o cristianismo que elevou o casamento a condição de sagrado, de intacto, de santificado, de indissolúvel, pois para a igreja o casamento era sinônimo da propagação e continuidade das famílias, portanto, deveria ser eternizado, respeitado e mantido a qualquer custo.
Se, durante séculos, confundiu-se o Estado e a Igreja, que passou a estabelecer regras sobre diversos aspectos da organização da sociedade, notadamente no campo das relações familiares, o casamento talvez fosse o melhor exemplo dessa ligação. Assim, no mundo ocidental, de forte influência cristã, o casamento fora reconhecido como o único mecanismo legítimo de criação da família (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2013, p. 114).
O poder da igreja dentro da sociedade é inegável e ele atravessou os séculos fazendo-se presente para manter a sua força, seja para a posse de bens materiais ou para impor a moral e os bons costumes, perpetuando dessa maneira o seu domínio.
O afastamento do Estado em relação à igreja revolucionou costumes e especialmente os princípios que regem o direito das famílias, provocando profundas mudanças no próprio conceito de família. Sobreveio o pluralismo das entidades familiares, escapando às normatizações existentes. Ainda assim, o direito das famílias é o campo do direito mais bafejado e influenciado por ideias morais e religiosas, havendo uma tendência do legislador de se arvorar no papel de guardião dos bons costumes na busca da preservação de uma moral conservadora (VENOSA, 2009, p. 27).
O casamento remetia a noção aos princípios religiosos que atendiam a uma moral conservadora e como toda moral conservadora era excludente e disseminadora de preconceitos tendo em vista à salvação dos bons e proteção da família.
Ora, o matrimônio, que, sublimado, elevara-se à condição de sacramento; que passará a constituir o sustentáculo da família legitima; que reclamava à participação do pároco ou do oficial público como ponto alto de sua celebração; que garantia com a indissolubilidade do vínculo para assegurar a unidade da família, tinha ficado em posição incomoda diante da possibilidade amiúde de vir a ser anulado (CAHALI, 1972, p. 14).
No Brasil, a igreja ocupa um importante papel no que diz respeito ao casamento, o matrimônio celebrado de acordo com os seus rituais ainda povoa o sonho de muitas mulheres, difícil não é ouvir nos dias atuais que o sonho de toda mulher é casar e casar vestida de noiva, na igreja.
Até o advento da República em 1889, só existia o casamento religioso no Brasil e apenas as pessoas que professassem a religião católica poderiam ser abençoadas pelos sagrados laços do matrimônio.
Com a separação do Estado com a igreja e introdução do casamento civil, houve certa dificuldade em aceitar a nova realidade “pelo clero e pela população de maioria católica. Com isso generalizou-se no país o costume do duplo casamento, civil e religioso, que persiste até hoje” (VENOSA, 2009, p. 31).
O casamento civil, no Brasil, adveio com a proclamação da República (Decreto n. 181, de 24/01/1890). Antes, só havia o casamento religioso, com respaldo do Estado. Com a separação dos antigos aliados Estado/Igreja,

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