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2018 Murilo Teixeira Avelino Processo Civil Tutela Executiva, Processo nos Tribunais, Precedentes e Recursos Organizadores Frederico Amado | Lucas Pavione Coleção Resumosäpara Concursos 8 capítulo 2 LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA \ Leia a lei: ͳ Arts. 509 a 512 do novo CPC. 1. GENERALIDADES A decisão que condena o perdedor ao pagamento de quantia certa em dinheiro deverá desde logo definir todos os detalhes relativos à obrigação pecuniária. Ainda que o pedido seja genérico –excepcional- mente admitido pelo art. 324, § 1º – a decisão deve ser determinada em todos os elementos da norma individualizada: se há dívida; quem deve; a quem se deve; o que se deve; quanto deve. Em outras palavras, sentença (ou decisão em sentido lato) À é aquela que define o que, a quem e quanto se deve prestar. É a decisão que explicita o valor devido (prestações quantificáveis) ou a atividade necessá- ria ao adimplemento (prestações individualizáveis por um dar ou ), além de quem deve fazê-lo. Como regra, a sentença deve ser líquida. Somente não se aplica esta regra nas hipóteses em que seja neces- sário apurar o valor devido em sede de liquidação. Como dispõe o art. 491 do CPC: Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formula- do pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso, salvo quando: I – não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido; II – a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim reconhecida na sentença. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino58 § 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação. § 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença. A decisão liquida é a regra em nossa ordem jurídica. Somente será possível proferir sentença ilíquida nas hipóteses consagradas no art. 491, I e II, independentemente de o pedido formulado ser deter- minado ou genérico. Há vários exemplos de decisões ilíquidas: i) se a decisão não indivi- dualiza o objeto da prestação (=�), condenando à entrega de parte dos bens de uma universalidade de fato, sem delimitar quais, em um estabelecimento comercial; ii) se a decisão não define o montante da prestação (�), condenando a empresa a pagar ao ex-sócio um valor referente a X% de suas cotas. Em casos assim, antes de ser executada, a decisão deverá ser liqui- dada através de um incidente cognitivo. A liquidação da sentença, é uma técnica utilizada para definir o que será objeto da execução. A liquidação integra a decisão judicial, complementa o elemento fal- tante, é a resposta a uma ou mais das perguntas: quem deve? A quem se deve? O que se deve? Quando deve? Ausente qualquer uma destas respostas na sentença (=ausente qualquer dos elementos da norma individualizada), será necessário liquidar. \ Atenção ͳ Só há que se falar em liquidação de títulos executivos judiciais. É que a liquidez, é um requisito dos títulos executivos extrajudiciais (art. 783 do CPC). ͳ Somente será possível falar em liquidação em processos de execução quando a pres- tação principal se tornar impossível, impondo-se a conversão em perdas e danos. A �será objeto de estudo neste capítulo. 2. COGNIÇÃO NA LIQUIDAÇÃO Ensina a doutrina que “ ���±�� � ���� � ���À �- � ��À� ”. (DIDIER JR, �. 2014. p. 112). Diante de sua própria natureza, é possível identificar desde logo uma característica marcante desse instituto: há cognição na liquidação. De fato, a liquidação exige prestação de atividade jurisdicional, exige Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 59 que o magistrado �dos fatos necessários à definição de todos os elementos indispensáveis à execução da decisão. Há divergência doutrinária a respeito da natureza jurídica da deci- são de procedência na liquidação (=que efetivamente o título): declaratória (Liebman, Dinamarco, Carmona, Zavascki) ou constitutiva (Pontes de Miranda, Araken de Assis, Didier Jr. �). Independentemente da natureza declaratória ou constitutiva da decisão que ��À, é possível afirmar que sobre a decisão na liquidação recai coisa julgada. 2.1. Mérito Como se disse, há cognição na liquidação. Há mérito, pois, ainda que limitado. A limitação cognitiva na liquidação ocorre na medida em que somente se debruça sobre a �� �. Não é possível rediscutir ou modificar os termos do título (art. 509, § 4º). Trata-se de respeito a uma regra fundamental: a regra da ��À. É que a (=cumprimento de sentença) somente poderá ter por objeto o título em suas características definidas originalmente no processo ordinário. A liquidação serve apenas para Ǧ, defi- nindo-o perfeita e completamente. A liquidação acrescenta ao título elementos indispensáveis a sua exequibilidade, mas jamais poderá alterar os elementos da obrigação anteriormente definidos. Há exceção, todavia: é possível incluir juros de mora e correção monetária, desde que não tenham sido expressamente rejeitados pela decisão liquidanda. \ Posição do STF ͳ Enunciado nº 254 da Súmula do STF: “Incluem-se os juros moratórios na liquida- ção, embora omisso o pedido inicial ou a condenação.” A respeito da limitação cognitiva na liquidação, atente-se: • Honorários não podem ser incluídos na liquidação se não fo- ram objeto da condenação (art. 85, do CPC). Trata-se de pedido implícito, conquanto a condenação deva ser explícita. Não é possível, em sede de liquidação, incluir honorários que não foram objeto da decisão. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino60 O CPC inova ao permitir que transitada em julgado decisão omissa quanto aos honorários ou seu valor, seja proposta ação autônoma para sua definição e cobrança (art. 85, § 18). Diferente é a hipótese em que há fixação dos honorários, conquanto omissa a decisão a respeito do quantum devido. Tendo havido a condenação expressa, é possível o cálculo na fase de liquidação. • Juros compensatórios somente podem ser incluídos na liqui- dação se houver condenação expressa nesse sentido. • Quando a definição do � se der por cálculo aritmético (art. 509, § 2º), devem ser observados, necessaria- mente, os parâmetros postos no título. Somente não havendo, deve sobre eles decidir o juízo da liquidação, inclusive quanto ao percentual de juros e valor dos honorários (desde que haja, no último caso, condenação). Nos termos do art. 509, § 3º do CPC, o Conselho Nacional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira.” 3. DIVERSIDADE DE TÉCNICAS NA LIQUIDAÇÃO A técnica de de um título executivo judicial pode tomar diversas formas. É possível que ocorra como mera em um processo que já existe; que dê cabo a um processo autônomo; ou simplesmente como um incidente processual. Vejamos. 3.1. Liquidação como fase do processo O novo CPC trouxe a liquidação como �� nos arts. 509 a 512. Trata-se da regra geral de procedimento. Por isso que os dispositivos relativos ao tema cuidam eminentemente de regular uma de liquidação depois da formação de coisa julgada e antes do cumprimento de sentença. Há algumas anotações a respeito: • Por se tratar de nova fase, sem necessidade de chamar qual- quer das partes pela primeira vez ao processo (pois ali já estão), a comunicação do requerido dar-se-ápor � (arts. 510 e 511), na pessoa do seu advogado por publicação oficial. Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 61 • Inicia-se com uma nova demanda no mesmo processo. Exige-se, pois, requerimento (art. 509, ), dando causa a nova fase cognitiva. Perceba-se, inclusive, que há uma �� � � � (estudada adiante) aplicando-se, após a contestação, as regras do procedimento comum. • A decisão que encerra esta fase, liquidando o título, é uma sentença, pois finaliza fase cognitiva. Esta sentença constitui uma posição jurídica individualizada no processo. Trata-se de entendimento já consolidado na doutrina (DIDIER JR, et . 2014. pp. 115-116). Sua impugnação, todavia, se dá por Agravo de Instrumento, nos termos do art. 1.015, parágrafo único do CPC. Não se admite retratação, pois não se pode re- tratar (em regra) de sentença. 3.2. Processo de liquidação Certos títulos judiciais não admitem a liquidação como do pro- cesso. A razão é simples, não há processo prévio, pois apesar de serem classificados pela lei como À� � , não se formam perante o juízo com competência para executá-los. Assim, impondo-se a sua liquidação, a demanda inicial refere-se exatamente à � �. A liquidação desses títulos se dá em processo autônomo. Há previsão a respeito no art. 515, § 1º do CPC: Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título: (…) § 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15 (quinze) dias. (…) Na liquidação de sentença penal condenatória transitada em julgado, sentença arbitral, sentença estrangeira homologada pelo STJ e decisão interlocutória estrangeira com concedido pelo STJ (art. 515, incisos VI a IX), deve-se instaurar um � para liquidar o título. \ Atenção ͳ Não se pode esquecer, ainda, das sentenças em processos coletivos onde se discute direito individual homogêneo. Apesar de não estarem listadas no art. 515 do CPC, a liquidação e a execução se dá também individualmente, em pro- cesso autônomo. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino62 Quando houver um �� a comunicação do re- querido para integrar o processo dar-se-á, naturalmente, através de citação. Após a citação aplicam-se, por regramento residual, todas as regras relativas à liquidação tratadas nos arts. 509 a 512. 3.3. Liquidação incidental É possível que haja a necessidade de integração do título durante o cumprimento de sentença ou processo de execução. Assim, o cha- mado �� pode ocorrer tanto em relação ao título executivo judicial, quanto ao extrajudicial; tanto na � (=cumprimento de sentença) do processo quanto no �Ø- �� . Há diversas situações em que há necessidade de se liquidar inciden- talmente, por exemplo: a) conversão em perdas e danos de prestação específica que se torna impossível supervenientemente; b) apuração de benfeitorias na execução para entrega de coisa. (Zavascki, Comentários, RT, 2000. p. 333). Como já há um processo aperfeiçoado previamente, a comunicação dos atos a respeito da liquidação se dará por . 4. LEGITIMIDADE Podem promover a liquidação tanto o credor quanto o devedor (art. 509). O credor tem o direito de receber e o dever de aceitar o pagamento perfeito e completo. O devedor tem o direito de pagar de forma perfeita e completa e o direito de ver aceito seu pagamento. É preciso que fique claro: não somente o credor, mas também o devedor tem legitimidade ativa para pedir a liquidação do título. \ Exemplo ͳ Ao devedor pode ser interessante pagar a dívida pecuniária para que seja levan- tado protesto ou inscrição de seu nome em cadastro de inadimplentes. Indepen- dentemente das razões, o devedor tem direito de apurar o valor para adimplir espontaneamente. Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 63 5. COMPETÊNCIA Na ausência de disposição expressa quanto à liquidação, apli- ca-se aqui o artigo 516 do CPC, que regula a competência para o cumprimento de sentença (e será trabalhado adiante). Tem-se, pois, o seguinte: • �� : a competência é do juízo que proferiu a decisão liquidanda. É competência funcional e, portanto, absoluta. • � �� : o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo. Incide aqui, na definição de competência, o art. 781 (competência para execução de título extrajudicial). • � �� : é competente o mesmo juízo que está a conhecer da execução. 6. ESPÉCIES DE LIQUIDAÇÃO Há, a depender das necessidades de do título executivo, várias espécies de . Em regra, cabe à decisão liquidanda de- finir, desde logo, a forma pela qual deverá ser liquidada. Todavia, ainda que definido na decisão, a liquidação por ou- tra espécie não fere a coisa julgada. A razão é simples: ainda que definido desde logo na decisão liquidanda, é possível que razões verificadas ao longo do processamento da demanda demonstrem que outra forma é mais adequada à liquidação. A jurisprudência é tranquila em admitir que a liquidação se dê de forma diversa da definida na decisão. \ Posição do STJ ͳ Nesse sentido, o Enunciado nº 344 da súmula do STJ: “A liquidação por forma diversa da estabelecida na sentença não ofende a coisa julgada.” Assim, apesar de se falar em diferentes espécies de liquidação há, de certa maneira, entre elas. O que rege a da forma pela qual se dará a liquidação é o À�� , consagrado como norma fundamental no novo CPC. Vejamos. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino64 6.1. Liquidação por arbitramento – arts. 509, I e 510 Sob a égide do CPC/73, na �� se exigia a participação de um Ǧ para a definição dos elementos ne- cessários à execução da decisão. Não é mais �, apesar de esta espécie se adequar à necessidade de aportar ao processo conhecimentos indisponíveis ao homem-médio. O novo CPC, no artigo 510, trouxe importante novidade: a liquidação por arbitramento pode se dar com a apresentação, pelas partes, de pareceres ou documentos elucidativos. Somente não sendo possível decidir “de plano” após analisar tais documentos, deverá ser nomeado perito técnico. Assim, a nomeação de um perito passa a ser exceção. \ Posição do STJ ͳ O STJ já decidiu, inclusive, ser desnecessária a liquidação por arbitramento face à natureza in re ipsa do dano moral decorrente do protesto indevido de título. Entendeu-se que o magistrado deveria fixar, desde logo, o valor da indenização (STJ, 3ª T. Resp. 782.696/PR. Rel. Min. Nancy Andrighi, DJ 04/09/06) Nos termos do art. 510 do CPC: Art. 510. Na liquidação por arbitramento, o juiz intimará as partes para a apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar, e, caso não possa decidir de plano, nomeará perito, observando-se, no que couber, o procedimento da prova pericial. Foi o À�� ��� , em sua vertente economicidade, que influenciou o legislador nesta alteração sensível no procedimento da liquidação por arbitramento. O “árbitro” agora deve ser o juiz, de plano. Somente se for necessário o aporte de conhecimentos especializados, entrará em cena o perito. Perceba-se: há previsão no artigo 510 de uma ordem de procedimento destinada ao magistrado: 1º) deve intimar as partes para apresentarem documentos ou pareceres elucidativos. Sendo suficiente, decide de pla- no; 2º) somente se insuficientes tais informaçõesserá nomeado perito. Ordenada a perícia, segue-se o regramento comum deste meio de prova. 6.1.1. Hipóteses É possível mencionar diversos exemplos em que a �� �é a forma adequada de integrar o título: a) necessidade Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 65 de atuação de engenheiro para quantificar dano decorrente do desaba- mento de prédio vizinho; b) necessidade de atuação do curador de um museu para quantificar o valor de uma obra de arte perdida objeto de ação de indenização; c) necessidade de atuação de engenheiro ambiental para a verificação dos custos de despoluição de área afetada atividade nociva ao meio ambiente. Todavia, o art. 509 do CPC elenca o rol legal de hipóteses em que o juiz se valerá deste procedimento. Veja-se: Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: I – por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação; (…) Vejamos: • ǤǤǤ���... Como dissemos, o magis- trado pode desde logo na sentença definir qual das espécies de liquidação adotará. • ǤǤǤ ��ǤǤǤ A convenção a respeito da liqui- dação por arbitramento pode se dar em qualquer momento anterior ao início da fase/processo/incidente de liquidação. Trata-se de hipótese típica de negócio processual. • ǤǤǤ������ ǤǤǤ Significa que, em certas situações, deve haver aporte de conhecimento novo ao processo para que seja possível verificar o quantum ou o quid. Em outros termos, as partes e o juiz não dispõem de co- nhecimento especializado suficiente à integração da decisão, como nos exemplos dados no início deste tópico. Trata-se de � , esclarecer elementos de fato já cons- tantes do processo. Não é necessário produzir prova, mas esclarecer, iluminar, aquelas que já foram produzidas. Esta “elucidação” se dá pela juntada de pareceres ou documentos apresentados pelas partes. Caso não sejam suficientes, por perícia. \ Atenção ͳ Se for necessária prova de fato novo, o arbitramento não é adequado. Será hipótese de liquidação “pelo procedimento comum”. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino66 6.1.2. Procedimento Apesar de o art. 510 afirmar que o juiz as partes a apre- sentarem documentos ou pareceres elucidativos, entende-se que o requerente pode, desde logo, apresentar tais elementos. Assim, não é necessário requerer a liquidação e depois aguardar a intimação do magistrado para apresentar os � . Tudo pode vir nos mesmos articulados. Intimado o requerido, deve – junto a eventual defesa – apresentar também os seus � que julgue relevantes para o deslinde da situação. Assim, é possível apresentar defesa Ȁ�do- cumentos e pareceres. Há um problema, todavia: o código ao mesmo tempo que não delimita prazo para defesa, impõe ao juiz a fixação do prazo para apresentação dos documentos/pareceres. A melhor solução é aplicar aqui o prazo do art. 511, qual seja, 15 dias para apresentar . O mesmo prazo parece razoável à apresentação dos elementos elucidativos, salvo situação especial que o justificar ou prazo diverso fixado pelo magistrado. Depois da apre- sentação de defesa ou de expirar o prazo sem manifestação, segue-se o procedimento comum. Não apresentada defesa, não incidem os efeitos materiais da revelia, pois não há fato novo, mas necessidade de elucidação de fato já atestados na causa. 6.2. Liquidação “por artigos” ou pelo procedimento comum – arts. 509, II e 511 A �� (como era no CPC/73) ou � - mento comum é adotada quando for necessário provar fato novo na liquidação. Está é sua característica marcante. Vejamos: Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou do devedor: (…) II – pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. (…) Conforme ensina a doutrina, “ ��é aquele relacionado com o valor, com o objeto ou, eventualmente, com algum outro elemento da obrigação, que não foi objeto de anterior cognição na fase ou no proces- so de formação do título. O novo não diz respeito necessariamente ao Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 67 momento em que o fato ocorreu, mas ao seu aparecimento no processo.” (DIDIER Jr. �. 2014. p. 136) O � deve respeitar à própria obrigação � À�� ��±. Não se trata de fato necessário à própria constituição da obrigação fixada no título, mas somente ao aperfeiçoamento dos seus elementos. \ Exemplo ͳ Tício propõe ação de ressarcimento de danos materiais em face de Mévio, tendo por objeto a verificação da culpa em acidente de veículo. Mévio é condenado a ressarcir os danos. O quantum pode ser objeto da liquidação por procedimento comum (onde será comprovado o valor do prejuízo); o fato de Mévio estar ou não a pilotar o veículo não pode ser discutido, pois objeto do procedimento ordinário, situação que exige definição prévia anterior à própria liquidação. O único � que pode ser discutido durante a liquidação é o fato extintivo ou modificativo superveniente, que poderá ser trazido como matéria de defesa pelo requerido. Há exemplos �� � : a) necessidade de provar a efetiva submissão a tratamento de saúde e as despesas para ressarcimento; b) tutela dos direitos individuais homogêneos em ação coletiva e a necessidade de comprovação do efetivo prejuízo individual de cada um dos beneficiados. 6.2.1. Procedimento Os fatos novos que precisam ser provados funcionam como a causa de pedir nesta espécie de liquidação. Dessa forma, no momento em que requer a liquidação, já deve o liquidante apontar quais serão objeto do procedimento. O requerido é intimado para, em 15 dias, apresentar contestação. Depois de apresentada defesa, segue o procedimento comum. Quer dizer o legislador: não há audiência prévia de conciliação e mediação na liquidação por artigos. Veja-se o art. 511: Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino68 Não apresentando defesa, incidem os efeitos materiais da revelia. Presumem-se (relativamente) verdadeiros os fatos novos alegados. Os efeitos processuais dependem de se tratar de liquidação ou � autônomo. Se o requerido já tiver procurador constituído nos autos, não se verificarão os efeitos processuais. A decisão sobre os � faz coisa julgada material. 6.3. Cálculos aritméticos – arts. 509, §§ 2º e 3º Há uma grande polêmica na doutrina a respeito de esta hipótese ser propriamente �ou não. Por questões didáticas abordaremos o tema neste tópico. Tratando sobre o CPC/73, Dinamarco (2009. p. 617) afirma que meros cálculos aritméticos não significam ; Didier Jr �Ǥ entendiam tratar-se de liquidação, conquanto hajam alterado o entendimento na versão mais recente do trabalho (DIDIER JR., �. 2017. P. 235). O CPC/15 parece ter acolhido a primeira opção: a necessidade de meros cálculos aritméticos não é liquidação. A decisão legislativa é confirmada no art. 786, parágrafo único: Art. 786, parágrafo único. A necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação cons- tante do título. Estaforma de do quantum ocorrerá sempre como in- cidente, face à autorização para que o credor promova, desde logo, o cumprimento da sentença. Iniciada a � �(=cumprimento de sentença), de forma incidental discutir-se-á a correção dos cálculos. Vejamos o disposto no art. 509, §§ 2º do CPC: Art. 509, § 2º Quando a apuração do valor depender apenas de cálculo arit- mético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da sentença. Não sem razão, a regulação da forma como se deve proceder aos cálculos está regulada no artigo 524 do CPC, que trata do cumprimento definitivo da sentença que reconheça obrigação de pagar quantia certa. O tema será tratado em capítulo adiante. Por fim, o novo CPC prevê no § 3º do art. 509, que o Conselho Na- cional de Justiça desenvolverá e colocará à disposição dos interessados programa de atualização financeira. Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 69 7. DEFESA NA LIQUIDAÇÃO Há de ser respeitado, sempre, o contraditório (Arts. 9º e 10 do CPC). Ainda que a cognição na seja limitada, deve-se permitir o debate processual e o exercício do direito de defesa. A defesa na liquidação, nesse sentido, é limitada pelo conteúdo do título. Matérias que foram ou deveriam ser objeto de debate durante a fase de conhecimento não podem ser discutidas ou rediscutidas na fase de liquidação. Há preclusão em relação a elas. Eminentemente, o objeto do contraditório a esta altura será limi- tado a questões processuais relacionadas à própria liquidação e ao procedimento de cada uma das espécies. É possível, todavia, alegar: i) fatos supervenientes à formação do título executivo e que prejudiquem a própria subsistência da obrigação liquidanda; ii) vícios transrescisórios. \ Atenção ͳ As matérias mencionadas acima, em tese, são objeto da defesa no cumprimen- to de sentença (=impugnação). Alegá-las logo na liquidação, todavia, respeita à eficiência e à razoável duração do processo. É possível, pois, trazer à tona fatos extintivos, modificativos ou constitutivos, desde que posteriores à decisão (art. 493 do CPC). \ Exemplo ͳ Pagamento, prescrição, transação, compensação, novação; nulidade da citação; decretação superveniente de inconstitucionalidade da norma em que se fundou a sentença; termo; condição resolutiva; liquidação com dano zero (=quando após a liquidação se verifica que não há resultado positivo a ser executado). Atente-se, todavia: quando a definição do � se der por meros cálculos aritméticos (art. 509, § 2º), a autorização para a promoção “desde logo”, do cumprimento de sentença faz com que a alegação das matérias de defesa seja para a fase executiva (art. 525). Assim, a impugnação dos cálculos será objeto de �� ��. 8. REGIME RECURSAL NA LIQUIDAÇÃO Como afirmamos anteriormente, das decisões interlocutórias profe- ridas durante a liquidação o recurso cabível é o agravo de instrumento, vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino70 nos termos do art. 1.015, parágrafo único. Esta disposição não significa que contra �decisão proferida na liquidação de sentença caberá Agravo de Instrumento. É preciso perquirir a respeito do conteúdo da decisão. Vejamos: • Sendo acolhida a matéria alegada na defesa para extin- guir o processo, o recurso cabível é a Apelação (art. 1.009 do CPC). • Sendo rejeitada a matéria alegada na defesa para liquidar a obrigação e seguir à fase de cumprimento de sentença, o recurso cabível é o agravo de instrumento. Como já dito, a decisão que encerra esta fase, liquidan- do o título, é (em conteúdo) uma sentença, pois põe fim a uma fase cognitiva. Sua impugnação, todavia, se dá por agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único), pois o processo não é extinto e se mantém sendo processado pelo mesmo juiz. Para uma melhor compreensão do conceito de e de � ×, remetemos ao volume 7 desta coleção. \ Atenção ͳ O debate a respeito da natureza desta decisão não é tão relevante para efeitos de concurso público. O que é preciso compreender é o seguinte: tem-se uma sentença impugnável por agravo de instrumento. Trata-se de exceção à afirmação geral de que da sentença cabe apelação. 9. LIQUIDAÇÃO PROVISÓRIA A �×�é um incidente processual onde se liquida a obrigação antes da constituição definitiva do título executivo. Trata-se de uma espécie de �� . Veja-se o art. 512 do CPC: Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, proces- sando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes. Não é necessário aguardar o trânsito em julgado para iniciar a liqui- dação, podendo-se requerer desde logo. É desdobramento do princípio da razoável duração do processo e da eficiência. Cap. 2 • LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA 71 Para se proceder à liquidação provisória não importa se o recurso proferido contra a decisão liquidanda tem ou não efeito suspensivo. É possível iniciar o procedimento enquanto não houver o trânsito em julgado da decisão, independentemente dos efeitos do recurso inter- posto (DIDIER Jr. �, 2014. p. 121). De toda sorte, como a decisão liquidanda ainda não foi definitiva- mente julgada, aguardando-se a sorte do recurso interposto, os autos provavelmente estarão sendo processados em um Tribunal. Por isso, o processo estará inacessível ao juiz de primeiro grau competente para a liquidação e para o cumprimento de sentença. É esta a razão pela qual o legislador previu que a liquidação pro- visória se dará �� ���, ou seja, em autos , instruído o pedido com cópia das peças relevantes. Deve-se pensar, no mínimo, em cópia da decisão liquidanda e das procurações outorgadas aos advogados das partes. Por último, anote-se: a cognição aqui é provisória, assim como provisório é o título. Uma vez reformada a decisão liquidanda, a liquidação provisória perde seu objeto e o requerente arca com os ônus da sucumbência. ͳͲǤ�� �V����ǧ�A����� Tópico-Síntese: Liquidação de Sentença Sentença líquida É aquele que define o que, a quem e quanto se deve prestar. É a decisão que explicita o valor devido (prestações quantificáveis) ou a atividade necessária ao adimplemento (prestações individualizá- veis por um dar ou fazer), além de quem deve fazê-lo. Como regra, a sentença deve ser líquida. Técnicas de liquidação A liquidação pode se dar como fase do processo, processo autônomo, ou incidente processual. Legitimidade Tanto credor quanto devedor são legitimados para requerer a liquidação da decisão. Espécies de liquidação • Liquidação por arbitramento: decorre da necessidade de aportar ao processo conhecimentos indisponíveis ao homem- -médio. • Liquidação pelo procedimento comum: decorre da necessi- dade de provar fato novo na liquidação. vol. 8 – PROCESSO CIVIL • Murilo Teixeira Avelino72 Tópico-Síntese: Liquidação de Sentença Liquidação Provisória Liquidação por cálculo: decorre da necessidade de efetivação de cálculos aritméticos para definição do quantum. Há polêmica quanto à sua natureza. O novo CPC parece ter rejeitado a natureza de liquidação do procedimento. Trata-se de incidente processual onde se liquida a obrigação antes da constituição definitiva do título executivo.
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