Aula 4 - Teoria Geral do Processo

Material Teórico Teoria Geral do Processo (TGP) O Processo e sua s Peculiaridades Conteudista Responsável: Profª Marlene Lessa cod TGPCDSG1903 _a0 4 2 Introdução Entendemos em nossos estudos da T eoria Geral do Processo a importância da Jurisdição, o papel do Poder J udiciário e dos sujeitos que podem participar do processo e, agora, vamos abordar a estrutura do processo, conhecendo as etapas que levam o julgador a decidir a lide , a cau sa. O processo tem início, como vimos com o pedido do a utor, com a provocação (via de regra) da Jurisdição, pelo interessado. Então o primeiro momento processual é o da fase de pedir, postular: Fase Postulató ria (Compreende a propositura do pedido inicial até a resposta do réu ) Cada ação corresponde a um direito. Toda ação possui elementos que a identificam e individualizam . São eles: 1. Partes : sujeito ativo ( autor do pedido) que faz um pe dido ao Estado Juiz em face de um sujeito passivo (réu). Eles são as partes ou, no latim, partem . Estud amos as pessoa s que podem estar a treladas à demanda e fazerem parte da ação. 3 2. Causa de Pedir : é a na rrativa, a causa que gerou o pedido, as razões que suscitam a pretensão e a providência (causa de pedir - causa petendi ). A quem invoca uma providência jurisdicional quanto a um bem pretendido, cumpre dizer no que se funda o seu pedido . Ao autor impõe-se a narrativa d os fa tos que alega t er. O mesmo se dá quando contra a me sma p essoa pesam acusações por d ois delitos da mesma natureza, cometidos mediante ações diversas. O Ministério Público, autor da acusaç ão, deve fundamentar e narrar a causa que g era o pedido de condenação. Co mo nos lembra Fredie Didier Jr 1 para a Teoria da Substanciação a causa de pe dir é igual (=) f ato mais (+) relaçã o jurídica. 3. Pedido : providência formulada perante o juiz sob re uma pretensão (que é o objeto da ação, ou pedido, no latim petitum ). O ped ido d o autor da ação é o objeto a ser ana lisado pelo jui z . Não se concebe o ingresso de alguém em juízo a não ser que seja para p edir ao órgão jurisdicional uma medida , ou provim ento (imediatamente). De forma mediata abrange o bem d a vid a q ue se quer receber, na esfera cível. Para acionar e estar na ação a doutrina aponta que se jam presentes certos requisitos de admissibilidade do processo (anteriormente denominados de condições \u2013 no âmbito cível, e que p erduram na esfera penal), que explicitaremos de forma resumida: a) Legitimidade para a causa , ou seja, só pode figurar na ação como parte, aquele q ue está conectado com a lide. Ada Pellegrini diz q ue esta legitimidade é a \u201c pertinência subjetiva da ação na pessoa que a propõe, em confronto com a outra parte. Quando o autor não é o titular da ação ajuizada, falta-lhe legitimação para agir. É o que ocorre quando o Ministéri o Público propõe uma açã o em crimes que ela é da iniciativa do ofendido \u201d. O réu, por outro lado, se não for a pessoa correta, ou seja, não é q uem mo tivou a ação , t ambé m f az com que se configure a falta de legitimida de passiva. b) Interesse de Agir si gnifica que a ação deve ser útil e necessária . Se o autor ingressa com um pedido simplesmente para despejar um inquili no que j á saiu do imóvel verifica-se que a ação não tem utilidade e não é necessária. A máquina do Judiciário será movimentada para atender a alguém q ue não tem interesse na ação. O mesmo ocorre se j á foi realizado um acordo (antes do processo ser intentado) - não haverá necessidade da ação se o acordo f oi cumprido. Na esfera criminal pode ser caracteriz ada a falta de interesse de agir se a ação é proposta num caso de crime prescrito, ou seja, o prazo para punir o acusado j á se escoou, passando 20 ou 30 anos do crime , por exemplo... 1 DIDIER JR, Fredie. Op. cit p. 288. 4 c) Possibilidade Jurídica do Pedido significa que o pedido deve ser amparado pelo ordenamento jurídico . Se houver o pedido de um Promotor de Justiça para conden ar um cidadão à pena de reclusão por fumar em local proibido temos o caso de FALTA de possibili dade jurídica do pedido. Não há na lei a previsão de pena de reclusão para alguém q ue fuma em local proibido. Pode haver uma multa, uma pena administrativa, mas não a prisão rígida neste caso. Então o pedido não encontra amparo na lei. Outro exemplo seria pedir o divórcio alguém que não é casado. A lei não ampa ra com o divórcio os que estão juntos sem convolar núpcias. Se este pedido fosse a presentado ao juiz ele julgaria a ação i mprocedente com base na falta ou ausência de requisito de admissibilidade do processo, e ne garia a tutela pedida. Com o adv ento da nova lei processual civil ( CPC 2015 ) este item \u201cpossibi lidade jurídica do pedido\u201d foi deixado de lado, uma vez que a impossibili dade do pedido afasta rá a tutela jurisdicion al de per si, pelo mérito. A f alta de requisitos de admissibilidade do processo importará na extinção da ação, trazendo o provimento jud icial se m que se ja verificado o litígio, o conflito em si. O julgador extingue o processo e a ação sem apreciar o mérito do pedido. A lei p rocessual é o guia para a a presentação da ação a o Judiciário, sob pena de não ser conhecido e atendido o pedido feito a o juiz . Cada pedido inicial feito ao juiz deve obedecer aos requisitos da lei. Na lei processual civil há o detalhamento dos requisitos do pedido inicial: Como então saber quando a ação será recebida ? 5 Art. 319 . A petição inicial indicará: I - o juíz o a que é dirigid a; II - os nomes , os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro N acional da Pessoa Jurídi ca, o endereço eletrônico, o do micílio e a residência do autor e do réu ; III - o fato e os fundamentos jurídi cos do pedido; IV - o pedido co m as suas especificações ; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realiz ação ou não de audiência de conciliação ou de mediação. Na lei processual penal é o art. 41 do Código de Processo Penal qu e aponta os requisitos: Art. 41. A denúncia ou q ueixa conterá a exposiçã o do fato crimino so , com todas as suas cir cunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pel os quai s se possa identificá-lo, a classi ficação do crime e, quando nece ssário, o rol da s testemunhas . Na Justiça do T rabalho o s empregados e emp regadores poderão reclamar pessoalmente p erante esta Justiça Especial e acompanhar as suas Reclamações até o f inal (art. 791 CLT - \u201c jus postulandi \u201d). A reclamação (petição inicial) poderá ser escrita o u verbal. Sendo escrita, a reclamação deverá conter a design ação do Juiz do Trabalho a quem for dirigida, a qualificação do reclamante e do reclamado, uma breve exposição dos f atos de que res ulte o dissídio, o pe dido, a data e a assinatura do reclamante ou de seu representante (art. 840 da CLT e 319 do CPC). Assim toda ação, ao se r proposta, deve conter as formalidades necessárias para recebimento pelo julgador. Veja um ex emplo ou denúncia (pedido) do Ministério Público (autor) movido em face de alguém que cometeu um delito: 6 EXCELE NTÍSSIMO SENHOR DOUT OR JUIZ DE DIRE ITO DA .... V A RA CRIMINAL DA COMA RCA DE................. ......................... ..... O M INISTÉR IO P ÚBLICO ESTA DUAL , no e xercício de suas funções constitucionais e l egais, por i ntermédio de seu representante desi gnado a at uar perante es se douto Ju ízo v em, com o dev ido acato, co m base nos elementos constantes do incluso Inquérito Policial nº.............. e número ......... (judicial) oferecer DENÚN CI A contra X , brasilei ro, solteiro, estudante, filho de Y e Z, nascido na ci dade de ........... .., Estado de ..........., em .... de ...... de ....., portador da Carteira de Identidade RG No. ... ................ SSP/SP e C.P.F. No.............. .., residente na Rua ..... ..., No. ...., cidade de .............., Es tado de ........... .. 1. Consta das peças acostadas ao presente pedido q ue, no dia 1 o de agosto de ....... , por volta das 4:00 h, o acusado tr afegav a nesta comarca, com seu veículo D, placas FFFF, pe la Rua ABE , no sentido bair ro-centro, de senvolv endo v elocidade de 107 Km/h, conforme comp rova a foto emitida pelo radar local (Inquérito Policial \u2013 fls....). Tal fato demonstra, portan to, que conduzia o veí culo acima da velocidade permitida para o local (40Km/h) \u2013 o que t ambém pode ser visualiz ado no laudo pericial de f ls. 18 d o Inquérito Poli cial; 2. Ao passar pelo cruzamento da Rua ABE com a Avenida CDE, o acusado avançou o sinal de pa rada obrigat ória do trá fego (sinal v ermelho), atropel ando a senho ra J, brasileira, viúv a, empregada domésti ca, acarreta ndo-lhe sérios ferimento s; 3. Verifica-se do v ídeo digitaliz ado extraí do da câmera de vi gilância acostada ao inquérito (fls...), que o acusado não parou para socorrer a vítima, evadi ndo -se do local. Agindo assim, o denunciado incorreu nas sanções legais do artigo 303, caput e artigo 304, caput , ambos da Lei 9 .503/1997 (Código de T rânsito Brasileiro), motivo pelo q ual o Ministério Público requer q ue, após recebida e autuada a presente denúncia, seja o réu citado para responder até final condenaç ão , notificando-se as testemunhas abaixo arrol adas para comparecerem em Juíz o, sob as cominações legais. Cidade, dia..... de ............ do ano de ........ --------------- ---------------- MINISTÉRIO PÚ BLICO Rol de testemunha s: 1. K (fls. 10 do IP ) 2. L H (fls. 12 do IP ) 3. M (fls. 14 do IP) 7 Podemos visualizar a fase postulatória com as seguintes etapas... Na aula passada, entendemos o significad o da citação. Através da citação o réu e / ou acusado são formalmente cientificados de que contra eles pesa u m a demanda, uma ação. A citação dev e ser válida pa ra alcançar os efeitos que a lei determina. Para certos tipos de ação a lei processual determina critérios para a citação se efetivar (se deve ser pessoal, pelo correio, por edital, por meios e letrônicos, etc). O estudo das disciplinas process uais propiciará o conhecimento necessário para identificar como a citação deve ser realiz ada em cada caso. O fato é que a citação é imprescindível para a ação seguir seu curso. Na esfera criminal ela possui sua import ância a inda mais d estacada nos rela tos jurisprudenciais: \u201c a citação é o canal de comunicação aberto pelo E stado -Juiz e m direção ao acu sado para noticiá -lo da existência de uma imputação e convocá-lo para contrari á-la. Tal comunicação, que se traduz num do s enfoques do princípio constitucional do contraditório, deve ser efetiva, inque stionável, in duvidosa. Por isso, está cercada de formalidades que não p odem ser postergadas.A comunicação falha, deficiente, bloqueada, corresponde à falta de comunicação e vic ia de modo incu rável o processo \u201d (TACRIM -SP, HC 119.796, RT 578/364). A repercussão da citação (seja d eficiente ou válida) reflete na resposta do réu e afeta o contraditório proc essual. Muito falamos sobre est e princípio do contraditório. 8 Ele é embasame nto da audiência bilateral (como n os diz o velho broca rdo romano audiatur et altera pars). Em todo tipo de processo contencioso, vimos que duas partes e stão presentes, o autor e o réu. O autor instaura o processo (atua na f ase \u201cpostulatória\u201d, ou seja, na etapa de pedir, postular ao juiz), invocando a tutela jurisdicion al, mas o processo só e stá completo quando o réu é cham ado a comparecer em juízo. A doutrina (Ada Pellegrini Grinover 2 ) aponta que \u201c a Constituição eleva a nível constitucional os d ireitos d e ação e de defesa, fa ce e verso da mesm a moeda \u201d. Relata ainda que \u201c defesa e contraditório e stão indissoluvelmente ligados, porquanto é do contraditório (visto em seu primeiro momento, da informação) que b rota o exercício d e defesa; mas é essa \u2013 como poder correlato ao de ação \u2013 que garante o contraditório. A defesa, a ssim, g arante o contraditório, mas também por este se m anifesta e é garantida. Eis a íntima relação e interação da defesa e do contraditório \u201d. No esquema da fase postulatória pode mos observa r que o J uiz, antes de determinar a citação, verifica se o ped ido inicial possui os requisitos a pontados na lei proce ssual. Se o ped ido é confuso, contraditório, ou com deficiência nos requisitos de admissibilidade do proce sso, o juiz p ermite a emenda do pedido inicial ou o rechaça de vez. Some nte em condições de ser refutada pe la p arte contrária é que esta \u201cvestibular\u201d do processo seguirá seu trâmite normal. Tudo isto ocorre porque o juiz tem o dever de se r IMPARCIAL . Ele busca tratar com igualdade os sujeito s da ação, possibilitando que ambos exponham e demonstrem os argumentos e razões para convencimento e busca da decisão final. 9 Outro ponto importante, ainda no tema da citação, são os requisitos q ue a lei processual impõe a fim de que este ato seja válido. Diz, no caso do processo penal, o Decreto Lei 3.689/41 (CPP): Art. 351. A citação inicial far-se-á por mandado, quando o réu estiver no territóri o sujeito à jurisdição do juiz que a houver ordenado . Art. 352. O manda do de citação indicará : I - o no me do juiz ; II - o no me do quer elante nas ações inici adas por queixa; III - o no me do réu, ou, se fo r desconhecido, os seus sinais carac terísticos; IV - a residência do réu, se for conhecida; V - o fim para que é feita a ci tação; VI - o juíz o e o lugar, o dia e a hora e m que o réu deverá comparecer; VII - a subscri ção do escrivão e a rubrica do juiz . Art. 357. São requisitos da citação por mandado : I - leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se mencionarão dia e ho ra da citação ; II - declaração do oficial, na certidão, da en trega da contrafé , e sua aceitaç ão ou recusa. Das Respostas do Réu A citação garante ao réu o direito de pa rticipação na rela ção jurídica, possibilitando a sua resposta, em obediência ao princípio do contraditório e da ampla defesa. Há sempre a necessidade de ser tentada a con ciliação no processo. É dada a oportunidade das partes fazerem concessões mútuas com o escopo de final izar a demanda. Se forem infrutíferas estas tratativas, aí sim, p erdura a possibilidade de defesa do réu. 2 GRINOVER, Ada Pellegrini. Op. Cit., p. 84 - 85. 10 NO PROCESSO CIVIL Na lei processual civil o momento do of erecimento das manifestações do réu após a citação é detalhado a partir do art. 335 do Código de Processo Civil. Art. 335. O réu poderá oferecer con testação, por petição, no praz o de 15 (quinz e) dias, cujo termo inicial será a data: I - da audiênci a de concili ação ou de mediação , ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou , comparecendo, não houver autocomposi ção; II - do protocolo do pedido de cancela mento da audi ência de conciliaçã o ou de mediação ap resentado pelo réu, quando oc orrer a hipótese do art. 334, § 4 o , inciso I; III - prevista no a rt. 231, de acordo co m o modo como foi feita a citação , nos demais casos . De forma bastante superficial vamos conhecer as várias as manifest ações do réu, diante da citação: Contestação O réu, p erante a citação, também p ostula. Ele pede ao juiz que NÃO SEJA ACEITO O PEDIDO DO AUT OR , ou seja , ELE REFUTA O PEDIDO . O réu se DEFENDE. Nesta p eça process ual civil o réu de ve efetivar sua defesa, sendo a contestação o inst rumento imprescindível para exer cê-la. Determina o art. 336 do CPC, que a contestação é a defesa propri am ente dita: Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, t oda a matéria de defesa, expondo as r azões de fato e de direito com que impugn a o pedido do autor e especificando as provas que pr etende produzi r.

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