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internação compulsória ou involuntária de dependentes químicos

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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP 
 
MICHELLE BALÓ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA OU INVOLUNTÁRIA DE DEPENDENTES 
QUÍMICOS E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
MICHELLE BALÓ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA OU INVOLUNTÁRIA DE DEPENDENTES 
QUÍMICOS E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do título de Graduação 
Direito apresentado à Universidade 
Paulista – UNIP. 
 
Orientadora: Profª. Dra. Camila Barreto 
Pinto Silva. 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
2014 
MICHELLE BALÓ 
 
 
 
A INTERNAÇÃO COMPULSÓRIA OU INVOLUNTÁRIA DE DEPENDENTES 
QUÍMICOS E A GARANTIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso para 
obtenção do título de Graduação 
Direito apresentado à Universidade 
Paulista – UNIP. 
 
 
 
 
Aprovado em: 
 
Local: ________________________ 
Data: ______/____/_____________ 
Nota final: ____________________ 
 
 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
_______________________/__/___ 
Profa. Dra. Camila Barreto Pinto Silva 
Universidade Paulista – UNIP 
_______________________/__/___ 
Universidade Paulista – UNIP 
_______________________/__/___ 
Universidade Paulista UNIP 
AGRADECIMENTOS 
 
 Dedico especial agradecimento à minha mãe Elva, meu pai László (in 
memoriam), aos meus irmãos Daniel e Tomas, ao meu tio Carlos por sempre me 
apoiarem e me incentivarem nas minhas batalhas acadêmicas e, à minha 
orientadora por acreditar em mim. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 
O presente trabalho foi desenvolvido a partir de pesquisa bibliográfica, 
vivências pessoais na área de dependência química como psicóloga clínica e 
análise dos episódios sobre o tema expostos na mídia. Atualmente, a dependência 
química corresponde a um evento vastamente divulgado e debatido, pois o uso 
nocivo de substâncias tornou-se um grave problema social e de saúde pública. A 
dependência química é caracterizada como o consumo sem controle, geralmente 
ocasionando sérios problemas para o usuário. Os critérios estabelecidos pela CID -
10 para diagnosticar dependência de substância auxiliam ao médico a diagnosticar a 
doença. Em 1938, o Decreto-Lei N° 89 já versava sobre internação sem 
consentimento do paciente em determinados casos. Hoje, a Lei n° 10.216, de 6 de 
abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de 
transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, é a lei que 
disciplina a internação dos dependentes químicos, ou seja, determina quando 
poderá ser realiza a internação e se ela será voluntária, involuntária ou compulsória. 
Em 26 de dezembro de 2002, a Portaria n.º 2391/GM foi publicada e regulamenta o 
controle das internações psiquiátricas involuntárias (IPI) e voluntárias (IPV) de 
acordo com o disposto na Lei 10.216, e os procedimentos de notificação da 
Comunicação das IPI e IPV ao Ministério Público pelos estabelecimentos de saúde, 
integrantes ou não do SUS. Existem normas que devem ser respeitadas e 
profissionais habilitados para diagnosticarem se é necessário ou não que faça a 
internação mesmo contra a vontade do dependente. O fato de uma pessoa ser 
dependente de alguma substância, por si só, não autoriza o médico, a família ou o 
poder judiciário a interná-lo indiscriminadamente. 
 
Palavras-Chave: Direito; Internação; Drogas. 
 
 
 
ABSTRACT 
 
This work was developed based on bibliographic research, personal 
experiences in the field of addiction as a clinical psychologist and analysis of 
episodes on the subject exposed in the media. Currently, chemical dependency 
corresponds to an event widely publicized and debated, since the use of harmful 
substances has become a serious social and public health problem. The addiction is 
characterized as uncontrolled consumption, usually causing serious problems to the 
user. The criteria established by the CID -10 to diagnose substance dependence 
assist the physicians in diagnosing the disease. In 1938, Decree-Law No. 89 already 
was about hospitalization without consent of the patient in certain circumstances. 
Today, Law No. 10.216, of April 6, 2001, which provides for the protection and rights 
of people with mental disorders and redirects the model of mental health care, is the 
law that regulates the admission of drug addicts and determines when 
hospitalization may be performed and whether it will be voluntary, involuntary or 
compulsory. On December 26th, 2002, Ordinance No. º 2391/GM was published and 
it regulates the control of involuntary psychiatric hospitalizations (IPI) and voluntary 
(IPV) in accordance with the provisions of Law 10,216, as well as reporting 
procedures of communication of IPI and IPV to prosecutors by health 
establishments, members or not of the SUS. There are rules that must be respected 
and skilled professionals to diagnose whether it is necessary or not to perform the 
hospitalization, even against the will of the addict. The fact that a person is 
dependent on some substance, by itself, does not authorize the physician, family or 
the judiciary to intern him indiscriminately. 
 
Key-words: Law; Hospitalization; Drugs 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7 
2 ORIGEM HISTÓRICA .............................................................................................. 9 
2.1 Surgimento e Evolução ....................................................................................... 9 
3 PRINCÍPIOS, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DA CF/88 ................ 15 
4 DEPENDÊNCIA QUÍMICA ..................................................................................... 17 
4.1 Uso, abuso e dependência ............................................................................... 21 
4.1 Internação e tipos de internação ..................................................................... 29 
5 LIBERDADE OU INTERNAÇÃO? ......................................................................... 39 
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 44 
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47 
ANEXOS ................................................................................................................... 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
 O presente trabalho tem como objeto a garantia dos direitos fundamentais do 
dependente químico em casos de internação compulsória. 
Foi realizada uma reflexão sobre a necessidade e eficácia da internação 
compulsória ou involuntária sendo que estas não garantem a recuperação do 
paciente podendo este voltar ao uso nocivo de substâncias químicas. 
O tema aqui tratado é de grande interesse acadêmico e social, uma vez que 
o índice de dependentes químicos que necessitam de tratamento, mas se negam a 
fazê-lo, tem crescido a cada ano. 
 A dependência química na atualidade corresponde a um acontecimento 
vastamente divulgado e debatido, uma vez que o uso abusivo e, muitas vezes, 
nocivo de substâncias psicoativas tornou-se um grave problema social e de saúde 
pública do presente momento. 
 O estado de dependência não é um estado como “tudo ou nada”, trata-se de 
um contínuo,de uma gradação entre um extremo e outro, entre a não dependência 
e a dependência. 
 É difícil estabelecer regras exatas e absolutas para avaliar a gravidade da 
dependência. Fatores como sintomas de abstinência graves e diários, juntamente 
com a tolerância, podem evidenciar um maior grau de dependência. 
 Na internação involuntária, o paciente não está de acordo com a internação, 
mas este será internado a pedido de terceiro quando autorizada por médico 
competente, igualmente a internação voluntária. 
 A internação involuntária só pode ser realizada se houver risco de vida para o 
paciente ou terceiros. 
 É de grande valia que os codependentes faça um acompanhamento para ser 
auxiliado na forma de lidar e conviver com o dependente. 
 
8 
 
Os pedidos de internação compulsória solicitados por familiares também tem 
crescido na esperança de “salvar” o ente das drogas que estão cada vez mais 
tóxicas e devastadoras. 
Deve-se ressaltar a importância e a necessidade da realização da política 
pública antidrogas e da informação a respeito dos danos que a droga causa à 
pessoa, à família e à sociedade quando seu uso é abusivo e nocivo. 
A dependência química é vista por muitos como “falta de vergonha na cara”, 
“bandidagem”, “vagabundagem” e não como uma doença que pode acarretar 
transtornos mentais. Deve haver maior conscientização da população de como lidar 
com a doença que não “escolhe” classe sócio econômica para acometer. É caso de 
política pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
2 ORIGEM HISTÓRICA 
 
2.1 Surgimento e Evolução 
 
 A partir da Revolução Francesa foi aprovada a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, que garante os direitos de liberdade, propriedade, segurança 
e resistência à opressão. Estes motivaram os teóricos e modificaram todo o modo de 
pensar ocidental. Os homens tinham plena liberdade (apesar de dificuldade na 
esfera econômica, destacados, posteriormente, pelo Socialismo), eram iguais, 
perante a lei, e deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros. 
 Com a barbárie da Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram 
da necessidade de não se admitir que monstruosidades, como aquelas, 
acontecessem novamente, de se prevenir os arbítrios dos Estados. 
 A Organização das Nações Unidas (ONU) foi criada, após as bombas 
atômicas serem lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki causando a morte de 200 mil 
civis, no intuito de instaurar a paz e acabar com o totalitarismo ainda existente. 
 A carta de fundação da ONU foi assinada por 51 países em 16 de junho de 
1945, na Conferência de São Francisco, nos Estados Unidos. 
 Em junho de 1948, a Comissão de Direitos Humanos da ONU finalizou o 
projeto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, porém, esta só foi concluída 
em 1966, por meio de dois pactos aprovados pela Assembleia Geral das Nações 
Unidas: um pacto tratava sobre direitos civis e políticos e o outro sobre direitos 
econômicos, sociais e culturais. 
 Esta Declaração visava resgatar a dignidade humana tendo em vista que 
basta ser um humano para ter dignidade e ser titular dos direitos. 
 Segundo Dalmo de Abreu Dallari¹1 a Declaração Universal traz características 
muito próprias: 
 
 
 
1
 DALLARI, D. de A. Elementos da Teoria Geral do Estado. 22ª Ed. Atual. São Paulo: Saraiva 2001, p. 212. 
 
10 
 
O exame dos artigos da Declaração revela que ela consagrou três objetivos 
fundamentais: a certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e 
clara dos direitos e deveres, para que os indivíduos possam gozar dos 
direitos ou sofrer imposições; a segurança dos direitos, impondo uma série 
de normas tendentes a garantir que, em qualquer circunstância, os direitos 
fundamentais serão respeitados; a possibilidade dos direitos, exigindo que 
se procure assegurar a todos os indivíduos os meios necessários à fruição 
dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico e mentiroso da 
afirmação de igualdade de direitos onde grande parte do povo vive em 
condições subumanas 
 
 No período entre 1945 e 1990, dez documentos foram aprovados, 
documentos, que juntos, formam um sistema global de proteção dos direitos 
humanos e foram, todos, ratificados pelo Brasil. Entre 1992 e 1995, quatro 
documentos foram aprovados numa Conferência Interamericana em San José – 
Costa Rica, e pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos 
(OEA), e aprovado pelo Brasil, criaram um Sistema Regional Interamericano de 
Proteção dos Direitos Humanos que não pode ferir a unidade essencial dos direitos 
humanos, aprovada por 171 países durante a II Conferência Mundial de Direitos 
humanos, realizada em Viena, em 1993 que, no artigo 5° do documento, expõe: 
Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis e interdependentes e 
estão relacionados entre si. A comunidade internacional deve tratar os 
direitos humanos de maneira global e de maneira justa e equitativa, em pé 
de igualdade e dando a todos o mesmo peso. Deve-se ter em conta a 
importância das particularidades nacionais e regionais assim como os 
diversos patrimônios históricos, culturais e religiosos, porém os Estados têm 
o dever, sejam quais forem seus sistemas políticos, econômicos e culturais, 
de promover e proteger todos os direitos humanos e as liberdades 
fundamentais. 
 
 Compõe o sistema global de proteção os seguintes documentos 
internacionais, ratificados pelo Brasil: 
1. Carta das Nações Unidas, adotada e aberta à assinatura pela Conferência de São 
Francisco em 26.6.1945 e assinada pelo Brasil em 21.9.1945; 
2. Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela 
Resolução n. 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10.12.1948 
e assinada pelo Brasil nesta mesma data; 
3. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, adotado pela Resolução n. 
2.200 A (XXI) da Assembleia Geral das Nações Unidas em 16.12.1966, assinada 
pelo Brasil em 24.1.1992; 
 
11 
 
4. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado pela 
Resolução n. 2.200-A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 
16.12.1966, assinada pelo Brasil em 24.1.1992; 
5. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos 
ou Degradantes, adotada pela Resolução n. 39/46, da Assembléia Geral das 
Nações Unidas em 10.12.1984, assinada pelo Brasil em 28.9.1989; 
6. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a 
Mulher, adotada pela Resolução n. 34/180 da Assembléia Geral das Nações 
Unidas em 18.12.1979, assinada pelo Brasil em 1.2.1984; 
7. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, 
adotada pela Resolução n. 2.106 A (XX) da Assembléia Geral das Nações Unidas 
em 21.12.1965, assinada pelo Brasil em 27.3.1968; 
8. Convenção sobre os Direitos da Criança, adotada pela Resolução L.44 (XLIV) da 
Assembléia Geral das Nações Unidas em 20.11.1989, assinada pelo Brasil em 
24.9.1990. 
 Compõem o sistema regional interamericano: 
1. Convenção Americana de Direitos Humanos, adotada e aberta à assinatura na 
Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José 
da Costa Rica, em 22.11.1969, assinada pelo Brasil em 25.9.1992; 
2. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, adotada pela 
Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, em 9.12.1985, 
assinada pelo Brasil em 20.7.1989; 
3. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a 
Mulher assinada pelo Brasil em 09.06.1994 e ratificada em 27.11.1995. 
 O sistema internacional e os sistemas regionais que asseguram os direitos 
humanos atribuíram aos indivíduos como tais a condição jurídica de sujeitos de 
direito internacional, o que compreende não somentea proteção frente a violação 
dos seus direitos, como também, especialmente, o direito legal de denúncia e 
apelação aos foros internacionais. 
 Em países democráticos – que são minoria, há liberdade de expressão, 
violências públicas e privadas, podem e, são denunciadas pela mídia e podem sofrer 
 
12 
 
sansão pelo judiciário, tem mais propensão a defender os direitos humanos quando 
se confronta com a realidade dos países conduzidos pelo regime autoritário, 
ditatorial, onde não há clareza pública para que os indivíduos e ONGs possam 
assegurar os direitos humanos. 
 Apesar da similaridade existente entre os significados de raça e etnia, esta 
última possui um sentido mais amplo, incluindo fatores culturais, como a idéia de 
nacionalidade, língua, religião e tradições. 
 É evidente que a questão dos direitos humanos envolve inúmeros fatores 
culturais, distinguidos de um país para outro. Todos os seres humanos, 
independente das diferenças biológicas e culturais que os diferenciam entre si, 
merecem igual respeito. 
 Existe uma polêmica muito grande a respeito do fundamento e a natureza dos 
direitos humanos, alguns os reconhecendo como direitos naturais, deste modo, 
natos, outros os entendendo como direitos positivos. Os direitos humanos, hoje, são 
universais, cabendo, antes de qualquer coisa, efetivá-los e protegê-los. 
 Enquanto a Declaração Universal foi elaborada e adotada em menos de dois 
anos, a elaboração e a aprovação dos pactos internacionais, que a completariam, 
levaram vinte anos, e mais dez passaram para sua entrada em vigor. Com efeito, a 
formulação do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, bem assim o Pacto 
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, foi permeada de intenso 
debate. A discussão se voltava à questão da conveniência de serem editados dois 
pactos ou um único, contemplando todos esses direitos. 
 Os países ocidentais defendiam a adoção de dois pactos distintos, 
sustentando que, segundo Anderson Orestes Cavalcante Lobato2: 
enquanto os direitos civis e políticos eram auto-aplicáveis e passíveis de 
cobrança imediata, os direitos sociais, econômicos e culturais eram 
 
 
 
2
 LOBATO, A. O. C. Os Desafios da Proteção Jurisdicional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais 
em http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/textos_dh/ protjurisd_desc.htm acessada em 20 de Dezembro de 
2013. 
 
 
13 
 
programáticos e demandavam realização progressiva”. Em contrapartida os 
países socialistas acreditavam que “não era em todos os países que os 
direitos civis e políticos faziam-se auto-aplicáveis e os direitos sociais, 
econômicos e culturais não auto-aplicáveis. A depender do regime, os 
direitos civis e políticos poderiam ser programáticos e os direitos sociais, 
econômicos e culturais auto-aplicáveis. 
 
 A ideia da montagem de dois pactos internacionais prevaleceu, no entanto 
essa separação foi artificial, pelo fato de que os documentos apreciam direitos 
humanos indissociáveis, indivisíveis, que formam um todo harmônico. 
 O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos reconheceu, em relação 
à Declaração Universal, uma classificação muito maior de direitos civis e políticos. 
Esse tratado internacional segundo Carlos Weis3 expõe, 
referente aos direitos humanos relacionados à liberdade individual, à 
proteção da pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada, bem 
como à participação popular na gestão da sociedade. São os chamados 
direitos humanos liberais ou liberdades públicas 
 
 Carlos Weis4 ainda em seu texto reitera os direitos dispostos na Declaração 
Universal (artigos III a XXI), como o direito à vida; a não ser submetido à tortura ou 
tratamentos cruéis desumanos ou degradantes; de não ser escravizado ou ser 
submetido à servidão; à liberdade e segurança pessoal - incluindo não ser sujeito à 
prisão ou detenção arbitrárias; à igualdade perante a lei; a um julgamento justo; às 
liberdades de locomoção, consciência, manifestação do pensamento, religião, 
associação (inclusive de fundar sindicatos e a eles aderir), reunião pacífica; a casar 
e constituir uma família; a ter uma nacionalidade; à reunião pacífica; e de votar, 
tomar parte no governo - diretamente ou por meio de representantes - e ter acesso 
às funções públicas de seu país. 
 Os direitos humanos são um conjunto de condições, de garantias e de 
comportamentos, predispostos a garantir a característica essencial do homem 
(dignidade da pessoa humana). 
 
 
 
3WEIS, C. - Os Direitos Civis e Políticos. Disponível em: http://www.dhnet.org.br/direitos/novosdireitos 
/direitoscivis /weiss_direitos_civis_politicos.pdf - página 4 acessada em 20 de Dezembro de 2013. 
4
 Idem. 
 
14 
 
 Fábio Konder Comparato5 diz que 
todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e 
culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos 
entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. 
 
 Em razão desse reconhecimento universal, conclui: 
ninguém – nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou 
nação – pode afirmar-se superior aos demais. 
 
 Hoje, não há discussão, pois é reconhecido que toda pessoa tem direitos 
fundamentais, decorrendo daí a imprescindibilidade da sua proteção para 
preservação da dignidade humana. 
 O conceito de Direitos Humanos é muito amplo. Para o Prof. Fernando 
Sorondo6, pode ser considerado sob dois aspectos: 
1. Constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as 
nações, seria então um sistema de valores; e 
2. Este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade 
humana acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de 
justiça dos povos. Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma 
dimensão histórica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5
 COMPARATO, F. K. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 2.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p.1 
6SORONDO, F. Os Direitos Humanos através da História. Disponível em: http://www.dhnet.org.br 
/dados/livros/edh/mundo/sorondo/sorondo2.htm Acessado em 20 de Dezembro de 2013. 
 
15 
 
3 PRINCÍPIOS, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DA CF/88 
 
 O princípio da dignidade da pessoa humana estabelece o critério unificador 
de todos os direitos fundamentais, o qual todos os direitos do homem se 
reproduzem, em maior ou menor grau. 
 Conforme exposto da Constituição Federal (CF) de 19887 em seu Artigo1°, 
inciso III: 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
III - a dignidade da pessoa humana; 
 
 Esse princípio é utilizado para a identificação dos típicos direitos 
fundamentais, em atenção ao respeito à vida, à liberdade e à igualdade de cada ser 
humano, de modo que esses direitos, de forma ampla, podem ser considerados 
consolidações das exigências do princípio da dignidade humana. Dessa forma, o 
princípio da dignidade da pessoa humana pode, ser tido como base para a 
construção de um conceito material de direitos fundamentais. 
 O direito absoluto é inexistente no sentido de uma total imunidade a qualquer 
espécie de restrição. Cada ser humano, em benefício de sua dignidade, merecedor 
de igual respeito e consideração no que diz com sua condição de pessoa, e que tal 
dignidade não poderá ser violada ou sacrificada, nem mesmo para preservar a 
dignidade de terceiros. 
 Apesar disso, é necessária a análise da dignidade diante da observação de 
um caso concreto, pois, só assim seria possível considerar cada norma de direito 
fundamentalde modo objetivo e subjetivo. 
Diante do Artigo 5°8 da CF em seu caput é exposto: 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
 
 
 
7
 BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 18 de Janeiro de 2013. 
8
 Idem. 
 
16 
 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
 Vale ressaltar, para uma discussão futura deste trabalho, duas garantias 
presentes no caput que são: direito à vida e à liberdade. 
 Em seus incisos, há o princípio da legalidade que versa sobre a garantia de 
ninguém ser obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei. Neste 
aspecto, pode-se observar que, em virtude de lei, um direito, mesmo que previsto 
nesta constituição como inalienável, indisponível e intangível, pode ser “violado”. 
 Já o Artigo 6º9, que versa sobre os direitos sociais, traz o seguinte texto: 
São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a 
moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta 
Constituição. 
 
 O direito a ser destacado, será também o da saúde, uma vez que, por mais 
que o indivíduo possua livre arbítrio para suas escolhas e direcionamento na vida, o 
uso nocivo de substâncias psicoativas influencia diretamente em sua saúde e 
consequentemente num maior risco de morte. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9
 BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em 18 de Janeiro de 2013. 
 
17 
 
4 DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
 
 A dependência química na atualidade corresponde a um acontecimento 
vastamente divulgado e debatido, uma vez que o uso abusivo e, muitas vezes, 
nocivo de substâncias psicoativas tornou-se um grave problema social e de saúde 
pública do presente momento. Entretanto, falar sobre o uso de drogas, mais 
especificamente sobre a dependência química, faz com que questões relacionadas 
diretamente ao campo da saúde surjam, o que implica na necessidade de uma reflexão 
sobre esse fenômeno no que se refere ao entendimento sobre saúde e doença, 
vigentes ao longo da história do homem, bem como no momento atual. Os temas 
saúde, doença e drogas sempre estiveram presentes na história da humanidade, 
ainda que cada período apresente uma maneira característica de encarar e lidar com 
esses acontecimentos, de acordo com os conhecimentos e interesses de cada 
época. 
 Conforme expõe Ribeiro10: 
 
Apenas a partir da segunda metade do século, o conceito de dependência 
deixou ser considerado um desvio de caráter ou um conjunto de sinais e 
sintomas físicos para ganhar características de transtorno mental. 
 
 O uso de substâncias psicoativas é uma prática milenar e universal, não 
sendo um acontecimento particular da época em que vivemos. O consumo de 
drogas sempre existiu ao longo dos tempos, desde as épocas mais antigas e em 
todas as culturas e religiões, com determinadas finalidades. O homem sempre 
buscou maneiras de adicionar prazer em suas vidas e diminuir o sofrimento 
subjetivo de cada um. 
 Hábitos e costumes de cada sociedade direcionavam e ainda direcionam o 
uso de drogas em cerimônias coletivas, rituais, festas e comemorações, sendo que, 
na maioria das vezes, esse consumo estava restrito a pequenos grupos, 
característica essa que deixou de existir no momento atual, pois hoje se pode 
observar o uso dessas substâncias em qualquer circunstância e por pessoas de 
 
 
 
10
 RIBEIRO, M.. Organização de serviços para o tratamento da dependência do álcool. Rev. Bras. 
Psiquiatr., São Paulo, 2013. Available from <http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S1516-
44462004000500015&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 18 de Janeiro de 2013. 
 
18 
 
diferentes grupos, classes sociais, níveis culturais e realidades. 
 Segundo Bucher11 
A droga, como qualquer outro elemento presente na sociedade, segue a 
evolução das culturas, ou seja, os padrões, a frequência de utilização e os 
tipos de drogas consumidos mudam de uma época para outra de acordo 
com as condições socioculturais existentes. O que diferencia o uso das drogas 
no passado e o uso atual, é que este deixou de ser um elemento de 
integração, um fator de coesão social e emocional da população, passando a 
constituir-se num elemento de doença social, de desintegração. 
 
 O tratamento dos usuários de drogas tinha como fundamento, no final do 
século XIX e primeira metade do século XX, o modelo biomédico, estando ligado à 
assistência psiquiátrica. Os indivíduos que apresentassem problemas com álcool ou 
outras drogas eram conduzidos para instituições psiquiátricas com o intuito de retirá-
los do convívio social e cessar o uso de substâncias psicoativas, utilizando as 
mesmas técnicas empregadas com outros internos, não havia tratamento 
diferenciado para doentes mentais com surtos psicóticos e dependentes químicos. 
O tratamento era generalizado. 
 A Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs, em sua Carta Magna de 7 
de abril de 1948, um conceito de saúde que ainda hoje gera discussões e 
controvérsias por ser um assunto de alta complexidade e subjetividade. 
 Para a OMS, saúde é um estado de perfeito bem estar físico, mental e social, e 
não apenas a simples ausência de moléstia ou doenças. Esse conceito, segundo 
alguns teóricos é visto como algo subjetivo e até mesmo utópico. A utopia relatada é 
em relação ao termo “perfeito” que foge em meio às possibilidades e deficiências 
humanas, tornando o perfeito bem estar físico, mental e social, praticamente 
inalcançável. 
 É interessante frisar que saúde não é antônimo de doença, uma vez que 
saúde é algo mais amplo e complexo, que não depende somente de uma questão 
biológica. Quando se fala em saúde versus doença, é de suma importância que 
esses fenômenos sejam considerados como processos, algo dinâmico e mutável, 
 
 
 
11
 Bucher. R, Drogas e Drogadição no Brasil. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. 
 
 
19 
 
que pode surgir em qualquer ambiente sob a presença e/ou ausência de diversos 
fatores intrínsecos à própria condição humana. 
 Nesse aspecto, tornou-se claro a relação que existe entre a saúde e a doença 
e os fatores psicológicos, sociais, políticos, familiares, econômicos e ambientais, uma 
vez que condições impróprias do meio desempenham influência direta na 
possibilidade de um indivíduo manter ou não a saúde. 
 O processo saúde versus doença está inteiramente relacionado à própria 
complexidade e subjetividade do existir do ser humano, a singularidade de cada um 
deve ser observada, considerada e respeitada. 
 Nasce, dessa forma, a necessidade de se adotar uma perspectiva abrangente 
e dinâmica, levando à compreensão do processo saúde/doença como sendo um 
modelo biopsicossocial, o qual acarreta a ideia de conexão, considerando saúde 
uma produção social, relacionada com o biológico, mas que depende de uma série 
de outros fatores sociais que são presentes na vida de cada ser humano, como 
cultura, lazer, transporte, alimentação, educação, âmbito familiar, trabalho, 
saneamento básico entre outros. 
 Para Mendes12, “Esses determinantes são coerentes com uma discussão 
sobre melhoria na qualidade de vida, encarando a própria saúde como expressão 
dessa qualidade”. 
 Com essavisão, o profissional precisou rever seu posicionamento frente ao 
paciente, desenvolvendo maior sensibilidade para com o sofrimento do outro. 
 Segundo Ayres13: 
Nesse sentido, um dos maiores desafios que se nos é colocado como 
partícipes do diálogo sanitário é superar as barreiras linguísticas que o 
jargão técnico interpõe a uma autêntica interação entre profissionais e 
população. 
 
 
 
12
 Mendes, E. V. Um novo paradigma sanitário: a produção social da saúde. São Paulo: Hucitec, 1996. Pg 233. 
13
 Ayres, J. R. C. M. Sujeito, intersubjetividade e práticas de saúde. Ciênc. saúde coletiva v.6 n.1 Rio de 
Janeiro, 2001. 
 
 
20 
 
 O paciente deixou de ser visto como um objeto para a intervenção médica, 
passando a ser visto como um sujeito singular, ativo, integral, autêntico, com 
necessidades, valores, ideais, que vive, contesta e altera o encontro clínico 
juntamente com o médico. 
 O consumo de substâncias psicoativas cresceu de forma avassaladora a 
partir da segunda metade do século XX, tornando-se um acontecimento de massa e 
uma questão de saúde pública. Em decorrência da complexidade desse fenômeno 
na atualidade, a dependência química é um problema que vem recebendo crescente 
atenção, mobilizando tanto o sistema de saúde quanto a sociedade como um todo. 
Esse assunto está sendo cada vez mais enfatizado, uma vez que, discussões e 
reflexões sobre o tema em questão, estão presentes em vários meios de 
comunicação, à vista e ao acesso de todos. 
 A abordagem estabelecida para a dependência química é coerente com o 
modelo psicossocial de saúde em foco na atualidade. Tratar a questão do uso 
abusivo, e muitas vezes nocivo, de substâncias psicoativas e a questão da provável 
dependência que pode surgir em alguns casos, implica discutir além das questões 
orgânicas e psicológicas envolvidas. Os aspectos sociais, políticos, econômicos, 
legais e culturais inerentes a esse fenômeno, assim como as consequências físicas, 
psíquico e social da mesma. 
 O vício é uma doença complexa, porém, tratável que afeta o funcionamento 
do cérebro e comportamento. Drogas de abuso alteram a estrutura e função do 
cérebro, o que resulta em alterações que persistem por muito tempo após a 
suspensão do consumo de drogas. 
 Isso esclarece porque as pessoas que tiveram problemas com drogas estão 
em risco de recaída, mesmo após longos períodos de abstinência e apesar das 
consequências potencialmente prejudiciais. 
 O processo de mudança segue um modelo “em espiral” no qual a recaída do 
paciente é previsível e faz parte do tratamento. 
 Nenhum tratamento é adequado para todas as pessoas. É muito importante 
para conseguir uma combinação apropriada de tipo de ambiente, intervenções e 
 
21 
 
serviços de tratamento com os problemas e necessidades de cada paciente, de 
modo que a pessoa consiga alcançar o sucesso final, retornando para o 
funcionamento produtivo na família, no trabalho e sociedade. 
 O tratamento deve ser acessível em todos os momentos. Como as pessoas 
com problemas de drogas podem ter dúvidas sobre a possibilidade de iniciar o 
tratamento, é muito importante usar os serviços disponíveis quando eles indicam 
que estão prontos para o tratamento. Há uma grande chance de perder potenciais 
pacientes se os tratamentos não estão disponíveis ou não são facilmente 
acessíveis. Assim como ocorre com outras doenças crônicas, quanto mais cedo se 
inicia o tratamento, maior possibilidade de obter um prognóstico positivo. 
4.1 Uso, abuso e dependência 
 
 Não existe uma demarcação clara entre o uso, abuso e dependência. O uso 
pode ser definido como qualquer consumo de substâncias, seja ele para 
experimentar, seja esporádico ou episódico. O Abuso, também chamado de uso 
nocivo, é definido como o consumo de substâncias que geram algum prejuízo, seja 
ele biológico, psicológico, ou social. Já a dependência é caracterizada como o 
consumo sem controle, geralmente associado a problemas sérios para o usuário. 
 Isso dá uma imagem de continuidade, como uma evolução progressiva entre 
os níveis de consumo vistos anteriormente, o que não determina que sempre haja 
essa evolução. Estudos mostram que das pessoas que fazem uso nocivo do álcool, 
60% não progredirão para a dependência nos próximos dois anos, 20% voltarão 
para o uso considerado normal e 20% ficarão dependentes. 
 Segundo Figlie; Bordin; Laranjeira14: 
Na verdade, não existe qualquer fator que determine, de forma definitiva, 
que as pessoas se tornarão dependentes; uma combinação de fatores 
contribui para que algumas pessoas tenham maiores chances de 
desenvolver problemas em relação às substância durante algum período de 
suas vidas. 
 
 
 
 
14
 FIGLIE NB; BORDIN S; LARANJEIRA R. (Org.). Aconselhamento em dependência química. 2 ed. São 
Paulo: Roca, v. 1, 2010, pg 5. 
 
 
22 
 
 Sabe-se que o uso nocivo é uma condição clínica muito comum, os 
organizadores do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, 
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) e da Classificação 
Internacional de Doenças (CID) desenvolveram critérios para identificá-lo e 
diferenciá-lo da dependência, como será explanado a seguir: 
 Os Critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 
(DSM-IV15, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV) para 
dependentes de substâncias estão abaixo no Quadro 1. 
Quadro1 - Critérios do DSM-IV para Dependência de Substância 
 DSM-IV - Critérios para dependência de substâncias 
Um padrão de uso disfuncional de uma substância, levando a um 
comprometimento ou desconforto clinicamente significativo, manifestado por 
três (ou mais) dos seguintes sintomas, ocorrendo durante qualquer tempo, 
num período de 12 meses: 
 
1. Tolerância, definida por um dos seguintes critérios 
a. necessidade de quantidades nitidamente aumentadas de substâncias para 
atingir intoxicação ou o efeito desejado 
b. efeito nitidamente diminuído com o uso contínuo da mesma quantidade da 
substância 
 
2. Abstinência, manifestada por um dos seguintes critérios 
a. síndrome de abstinência característica da substância 
b. a mesma substância (ou outra bastante parecida) é usada para aliviar ou 
evitar sintomas de abstinência 
 
3. A substância é freqüentemente usada em grandes quantidades, ou por 
período maior do que o intencionado 
 
4. Um desejo persistente ou esforço sem sucesso de diminuir ou controlar a 
ingestão da substância 
 
5. Grandes períodos de tempo utilizados em atividades necessárias para obter 
a substância, usá-la ou recuperar-se de seus efeitos 
 
6. Reduzir ou abandonar atividades sociais, recreacionais ou ocupacionais por 
causa do uso da substância 
 
7. Uso continuado da substância, apesar do conhecimento de ter um problema 
físico ou psicológico ou recorrente que tenha sido causado ou exacerbado pela 
substância 
 
 
 
15
 DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Disponível em: http://www.psiqui 
atriageral.com.br/farmacoterapia/diagnostico_dep_quimica.htm. Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
 
 
23 
 
 Os Critérios da Classificação Internacional de Doenças – Décima Edição 
(CID-1016) para dependência de substâncias encontram-se no Quadro 2. 
Quadro 2 - Critérios da CID-10 para Dependência de Substâncias 
 CID-10 - Critérios para dependência de substâncias 
O diagnóstico de dependência deve ser feito se três ou mais dos seguintes são 
experienciados ou manifestados durante os últimos 12 meses: 
 
1. Um desejo forte ou senso de compulsão para consumir a substância 
 
2. Dificuldades em controlar o comportamento de consumir a substância em 
termos de início,término ou níveis de consumo 
 
3. Estado de abstinência fisiológica, quando o uso da substância cessou ou foi 
reduzido, como evidenciado por: síndrome de abstinência característica para a 
substância, ou o uso da mesma substância (ou de uma intimamente 
relacionada) com a intenção de aliviar ou evitar os sintomas de abstinência 
4. Evidência de tolerância, de tal forma que doses crescentes da substância 
psicoativa são requeridas para alcançar efeitos originalmente produzidos por 
doses mais baixas 
 
5. Abandono progressivo de prazeres alternativos em favor do uso da 
substância psicoativa: aumento da quantidade de tempo necessário para obter 
ou tomar a substância ou recuperar-se de seus efeitos 
 
6. Persistência no uso da substância, a despeito de evidência clara de 
conseqüências manifestamente nocivas, tais como dano ao fígado por consumo 
excessivo de bebidas alcoólicas, estados de humor depressivos conseqüentes a 
períodos de consumo excessivo 
 
 No caso de uso nocivo, tanto o DSM-IV17 quanto a CID-1018 possuem critérios 
para o diagnóstico que segue abaixo nos quadros 3 e 4: 
Quadro 3 - Critérios do DSM-IV para Abuso de Substâncias 
 DSM-IV Critérios para uso nocivo de substâncias 
 
A. Padrão de uso disfuncional de uma substância, levando a um compromisso 
ou desconforto clinicamente significativo, manifestado por um ou mais dos 
seguintes aspectos, ocorrendo dentro de um período de 12 meses: 
 
1. Uso constante da substância, resultando no fracasso em cumprir obrigações 
 
 
 
16
 CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento. Disponível em:< http://www.datasus 
.gov .br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
17
 DSM-IV-TR. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Disponível em: http://www.psiqui 
atriageral.com.br/farmacoterapia/diagnostico_dep_quimica.htm Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
18
 CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento. Disponível em:< http://www.datasus 
.gov .br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
 
24 
 
no trabalho, na escola ou em casa 
 
2. Uso constante da substâncias em situações fisicamente comprometedoras 
 
3. Problemas legais constantes relacionados com o uso da substância 
 
4. Uso contínuo da substância, apesar de ter um problema social ou 
interpessoal persistente ou constante, ou que seria exacerbado pelos efeitos da 
substância 
 
B. Nunca preencher os critérios para dependência desta substância 
 
Quadro 4 - Critérios da CID-10 para Uso Nocivo de Substâncias 
 CID-10 Critérios para uso nocivo de substâncias 
 
O diagnóstico requer que um dano real tenha sido causado à saúde física e 
mental do usuário 
 
Padrões nocivos de uso são freqüentemente criticados por outras pessoas e 
estão associados a conseqüências sociais adversas de vários tipos 
 
Uso nocivo não deve ser diagnosticado se a síndrome de dependência, um 
distúrbio psicótico ou outra forma específica de distúrbio relacionado com o 
álcool ou drogas estiver presente 
 
 As classificações de uso nocivo e dependência de substâncias do DSM-IV e 
CID - 1019 fornecem critérios gerais para o diagnóstico, independente da substância 
consumida, e tendem a considerar o uso nocivo como categoria residual, isto é, 
abrangem aqueles indivíduos cujos quadros clínicos não caracterizam claramente a 
dependência. 
 A CID-1020 define a Síndrome de Dependência a substâncias ou álcool da 
seguinte forma: 
Síndrome de dependência é o conjunto de fenômenos comportamentais, 
cognitivos e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de 
uma substância psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de 
tomar a droga, à dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente 
apesar das suas conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao 
uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações, a um 
 
 
 
19
 CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento. Disponível em:< http://www.datasus 
.gov .br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
20
 CID-10. Classificação de transtornos mentais e de comportamento. Disponível em:< http://www.datasus 
.gov .br/cid10/V2008/cid10.htm>. Acesso em 10 de janeiro de 2014. 
 
25 
 
aumento da tolerância pela droga e por vezes, a um estado de abstinência 
física. 
 
 Conforme consta no DSM-IV, a característica essencial da dependência de 
substâncias é a presença de um agrupamento de sintomas cognitivos, 
comportamentais e fisiológicos indicando que o indivíduo continua utilizando uma 
substância, apesar de problemas significativos relacionados a ela. 
 Existe um padrão de auto-administração repetida que geralmente resulta em 
tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um 
diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de 
substâncias, exceto cafeína. Os sintomas de Dependência são similares entre as 
várias categorias de substâncias, mas, para certas classes, alguns sintomas são 
menos salientes e, em uns poucos casos, nem todos os sintomas se manifestam 
(por ex., sintomas de abstinência não são especificados para Dependência de 
Alucinógenos). 
 O DSM-IV e o CID-10 possuem classificações e critérios similares para 
dependência química. O mesmo não acontece, no entanto, com o diagnóstico de 
uso nocivo. Um ponto comum entre estas classificações é a inviabilidade do 
diagnóstico de uso nocivo em um indivíduo que atualmente possui os critérios para 
dependência. Por outro lado, o DSM-IV afasta o diagnóstico de uso nocivo num 
indivíduo que alguma vez foi dependente, enquanto a CID-10 não impede o 
diagnóstico posterior de uso nocivo em um indivíduo com diagnóstico de 
dependência no passado. 
 Edwards e Gross21 formularam elementos para o diagnóstico de dependência 
de álcool, e que pode ser utilizado para diagnosticar dependência de outras drogas, 
forma menos restritiva das descritas na CID-10 e no DSM-IV que são: 
 Síndrome da dependência de álcool: elementos chave 
• Estreitamento de repertório: o repertório pessoal torna-se cada vez mais 
restritivo com padrões cada vez mais fixos: o indivíduo passa a ingerir a 
mesma bebida ou droga, nos mesmos horários e nas mesmas condições; 
 
 
 
21
 EDWARDS, G.; MARSHALL, E. J.; COOK, C. C. H. Tratamento do Alcoolismo – Um Guia para 
Profissionais da Saúde. 4 ed. – Porto Alegre: Artmed, 2005. P.57 
 
26 
 
as companhias, o estado de humor, ou as circunstâncias vão se tornando 
cada vez menos relevantes. 
• Saliência do uso: o consumo passa a ser mais importante que a família, que o 
trabalho, que a casa, que a saúde. O indivíduo passa a viver em função da 
droga, organizando sua vida e seus compromissos conforme a existência ou 
não dela. 
• Aumento de tolerância: o sistema nervoso é capaz de desenvolver tolerância 
ao álcool e às drogas, isto é, ocorre a diminuição da sensibilidade aos 
efeitos da droga. Clinicamente, a tolerância se manifesta quando há a 
ingestão de grande quantidade de substâncias e ainda sim é capaz de 
realizar atividades que um consumidor tolerante não conseguiria. 
• Síndrome de abstinência: os sintomas da abstinência de adaptações feitas 
pelo cérebro à interrupção ou redução do uso das substâncias. Alguns 
exemplos: Tremores, náuseas, sudorese entre outros, são característicos da 
abstinência do álcool. Depressão, ansiedade e paranoia são características 
de abstinência de cocaína. 
• Alívio ou evitação dos sintomas de abstinência pelo aumento do consumo: o 
indivíduo pode tentar manter um nível de consumo estável da substância, 
que aprendeu a reconhecer como confortávele acima de um nível perigoso. 
Assim, agora seu consumo é desencadeado com o objetivo de evitar ou 
aliviar os desagradáveis sintomas de abstinência. 
• Percepção subjetiva da compulsão para o uso: é a percepção que o indivíduo 
tem de sua falta de controle frente à substância. Em muitas ocasiões em 
que se emprega a compulsão como sinônimo de perda de controle, trata-se, 
na verdade, de uma desistência do controle e não a sua perda. 
• Reinstalação após a abstinência: é o processo por meio do qual uma 
síndrome que levou anos para se desenvolver pode se reinstalar dentro de 
72h de ingestão. A dependência ressurge como se houvesse uma 
“memória” irreversível instalada. Quanto mais avançado tiver sido o grau 
prévio de dependência, mais rapidamente o paciente exibirá níveis elevados 
de tolerância. 
 O estado de dependência não é um estado como “tudo ou nada”, trata-se de 
um contínuo, de uma gradação entre um extremo e outro, entre a não dependência 
e a dependência. 
 É complicado estabelecer regras exatas e absolutas para avaliar a gravidade 
da dependência. Fatores como sintomas de abstinência graves e diários, juntamente 
com a tolerância, podem evidenciar um maior grau de dependência. 
 Pode-se dizer que o grau de dependência pode ser maior quando há a 
experiência de sintomas de abstinência, de forma mais ou menos diária, por um 
período de seis a doze meses e que consome substâncias para aliviar esses 
sintomas durante o mesmo período. 
 Um caso inicial de dependência pode ser diagnosticado quando o sujeito 
experienciou sintomas de abstinência apenas em algumas ocasiões e que percebeu 
que a substância traz alívio. 
 
27 
 
 Entre o estágio inicial da dependência e o grau elevado da mesma, como foi 
dito acima, há um espaço enorme, muitas graduações e não graus fixos. 
 Segundo a Organização Mundial da Saúde22 – OMS – droga é qualquer 
substância natural ou sintética que, ao ser fumada, inalada, ingerida ou injetada, 
provoca alterações psíquicas, sentidas como agradáveis numa primeira fase, mas 
que cria dependência, tornando as pessoas incapazes de viverem normalmente e 
integradas na sociedade. 
 As drogas atuam no cérebro afetando a atividade mental, sendo por essa 
razão, denominadas psicoativas. Basicamente, elas são divididas três tipos: 
• Drogas que diminuem a atividade mental (Depressoras): afetam o cérebro, 
fazendo com que funcione de forma mais lenta. Essas drogas diminuem a 
atenção, a concentração, a tensão emocional e a capacidade intelectual. 
Exemplos: Ansiolíticos (tranquilizantes), álcool, inalantes (cola), narcóticos 
(morfina, heroína). 
• Drogas que aumentam a atividade mental (estimulantes): afetam o cérebro, 
fazendo com que funcione de forma mais acelerada. Exemplos: tabaco, 
anfetamina, cocaína, crack. 
• Drogas que alteram a percepção (Alucinógenas): provocam distúrbios no 
funcionamento do cérebro, fazendo com que ele passe a trabalhar de forma 
desordenada. Exemplos: maconha, cogumelo, perturbadores sintéticos (LSD), 
anticolinérgicos (plantas e medicamentos). 
 O tratamento da Dependência Química é um processo que deve ser feito com 
uma equipe multiprofissional na qual poderá haver a psicoterapia, administração de 
medicamento, tratamento ambulatorial, necessidade ou não de internação etc. 
 Não são todas as pessoas que necessitam de todas as ações. O tratamento 
deve ser individualizado, ou seja, ele deve ser delineado de acordo com as 
necessidades do paciente e da família. Tratamento do tipo "protocolo", nos quais 
 
 
 
22
 TIPOS de Drogas. Disponível em: http://www.readpsiquiatria.com.br/tratamento-alcool-drogas.html. Acesso 
em 17 de janeiro de 2014. 
 
28 
 
todos os pacientes passam pelas mesmas ações invariavelmente e independente da 
substância que usam, dos problemas que têm, de suas experiências subjetivas, ou 
do grau de dependência pode funcionar para uma parcela de pessoas, mas não 
para todas. Não existe um tratamento único, uma “receita de bolo” que atenda e 
sirva a todos os dependentes químicos. Durante a “anamnese” (história do paciente), 
deve-se avaliar seriamente cada caso, discutir com o paciente e com a família o 
plano de tratamento mais adequado. Alguns precisarão tomar medicamentos, outros 
não. 
 A maior parte não precisa ser internada, mas alguns carecem de um 
tratamento mais “firme”. Outros terão como indicação uma psicoterapia, ou terapia 
familiar, assim por diante. Somente um profissional especializado na área poderá 
discutir com o paciente e avaliar qual é a melhor opção para ele. 
 A priori, deve-se começar com um tratamento ambulatorial. Como qualquer 
enfermidade as internações devem ser indicadas, somente para os casos mais 
graves. Pelo senso comum estabeleceu-se um estigma de que tratamento de 
dependência química é sinônimo de Internação. Por esse pré-conceito, muitos 
jovens têm receio, medo de ir ao médico ou psicólogo porque acham que já serão 
prontamente internados. 
 O tratamento ambulatorial é o tipo mais acessível e aceito de tratamento, não 
apenas pelo seu custo ser menor, mas também, pelas vantagens que ele apresenta. 
Diferente do que se imagina o tratamento ambulatorial, pode ser mais efetivo do que 
uma internação. Nesse tipo de tratamento, busca-se tratar a pessoa sem tirá-la do 
ambiente no qual ela vive e nem impedi-la de realizar suas das tarefas diárias. 
 Existe a possibilidade de desenvolver com o paciente um tipo de atendimento 
mais extenso que inclua reinserção social, técnicas de prevenção de recaída, 
planejamentos de pequeno e longo prazo etc. Quando o paciente inicia um 
tratamento ambulatorial, a família (codependente) deve estar envolvida no 
tratamento sendo que o paciente deve ter consciência que sua parcela de 
responsabilidade no processo é grande. A família deve ser orientada com relação à 
importância do tratamento, a gravidade do problema para que haja um prognóstico 
mais positivo para o paciente. 
 
29 
 
4.1 Internação e tipos de internação 
 
 A internação é a modalidade reservada aos casos mais graves, que exigem 
cuidados intensivos. Ocorre quando o profissional, que norteia o atendimento, 
entende que o paciente corre risco de morte, quando a própria pessoa escolhe ser 
internada para a realização do tratamento, quando as tentativas ambulatoriais 
fracassaram, quando o paciente não possui uma estrutura familiar e social que o 
auxiliará a ficar abstinente. A internação pode variar de alguns dias até meses, 
dependendo da necessidade, da adesão ao tratamento e do grau de dependência 
do paciente. 
 Internações acima de seis meses não necessariamente são mais eficazes 
que as internações mais breves. Preferencialmente a internação deve se reduzir ao 
período de crise e ser o mais breve possível. 
 Há duas modalidades de semi-internações que são o Hospital Dia e o 
Hospital Noite. No primeiro, o paciente passa o dia no hospital ou clínica 
especializada e dorme em casa. No segundo, dorme no hospital ou clínica 
especializada e passa o dia fora realizando suas atividades diárias. Apesar de 
obterem bons resultados, estas modalidades de tratamento não são as mais comuns 
no Brasil. 
 A internação domiciliar é uma solução utilizada pelos terapeutas para evitar a 
internação hospitalar ou em clínicas especializadas. O paciente deve ter um suporte 
social e familiar muito bem pré-estabelecido e concordar com a internação. Neste 
período ele fica dentro de sua própria casa, sem sair. Não vai à escola, ao trabalho, 
a festas, comemorações, eventos etc. Os afazeres fora do lar devem ser realizados 
por outra pessoa. Não pode ter contato com usuários de drogas. 
 Internação voluntária ocorre quando a própria pessoa deseja ser internada 
para tratamento, mas deve haver a autorização de médico competente. A Lei N° 
10.216,de 6 de abril de 200123, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas 
 
 
 
23
 BRASIL, LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
Leis/ LEIS_2001/L10216.htm. Acesso em: 31 de Janeiro de 2014. 
 
30 
 
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde 
mental. 
 Em seu Artigo 6° “caput”, parágrafo único e inciso I, define a internação 
voluntária: 
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo 
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. 
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica: 
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário. 
Art. 7o A pessoa que solicita voluntariamente sua internação, ou que a 
consente, deve assinar, no momento da admissão, uma declaração de que 
optou por esse regime de tratamento. 
No Artigo 7°, parágrafo único, a Lei determina que o término da internação deva 
ser solicitado por escrito pelo paciente ou determinado pelo médico assistente. 
Na internação involuntária, o paciente não está de acordo com a internação, 
mas este será internado a pedido de terceiro quando autorizada por médico 
competente, igualmente a internação voluntária, conforme exposto na Lei24 
supracitada: 
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo 
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. 
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica: 
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do 
usuário e a pedido de terceiro; 
Art. 8o A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por 
médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM 
do Estado onde se localize o estabelecimento. 
 A internação involuntária só pode ser realizada se houver risco de vida para o 
paciente ou terceiros. 
A internação involuntária deverá, no prazo de setenta e duas horas, ser 
noticiada ao Ministério Público Estadual pelo responsável técnico do 
estabelecimento (clínica especializada, hospital) no qual tenha ocorrido, devendo 
esse mesmo procedimento ser adotado quando ocorrer sua respectiva alta. 
 
 
 
24
 BRASIL, LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
Leis/ LEIS_2001/L10216.htm. Acesso em: 31 de Jan. de 2014. 
 
31 
 
O término da internação involuntária ocorrerá por meio de solicitação escrita do 
familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável 
pelo tratamento. 
Por último, a internação compulsória, tipo de internação mais rara, que é aquela 
determinada pela Justiça e é prevista legalmente na referida Lei25: 
Art. 6o A internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo 
médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. 
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica: 
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. 
Art. 9o A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação 
vigente, pelo juiz competente, que levará em conta as condições de 
segurança do estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos 
demais internados e funcionários. 
Neste caso não é necessária a autorização familiar. Será sempre determinada 
pelo juiz competente, depois de pedido formal, feito por um médico, atestando que a 
pessoa não tem domínio sobre a sua condição psicológica e física. 
No dia 11 de janeiro de 2013, o Estado de São Paulo fez uma parceria inédita 
no Brasil entre o Judiciário e o Executivo, entre médicos, juízes e advogados, com o 
intuito de tornar a tramitação do processo de internação mais rápida, para 
resguardar a vida daqueles que mais necessitam. Em muitos casos a demora na 
emissão da ordem judicial impede a equipe médica de manter o paciente no local. 
 Laranjeira26 diz que: 
No sistema compulsório, que é raramente utilizado, a pessoa pode passar 
até seis meses e o principal objetivo é motivá-la a se tornar voluntária no 
seu tratamento. A maioria do tratamento involuntário ocorre com 
adolescentes recalcitrantes. 
 
 O objetivo da parceria que o Estado está fazendo com o Judiciário, é aplicar 
a lei para salvar pessoas que não têm recursos e perderam totalmente os laços 
 
 
 
25
 BRASIL, LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
Leis/ LEIS_2001/L10216.htm. Acesso em: 31 de Jan. de 2014. 
26
 LARANJEIRA, R. Legalização de drogas e a saúde pública. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, 
n. 3, maio 2010 . Disponível em <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232010000300002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 18 de Jan. 2014. 
 
 
32 
 
familiares. Essas pessoas estão largadas, e é obrigação do Estado dar-lhes 
assistência. A presença do Judiciário visa preservar as garantias e os direitos dos 
dependentes químicos. 
 Em novembro de 1938 foi aprovado o DECRETO-LEI N° 89127, lei de 
Fiscalização de Entorpecentes, ainda vigente, que trata da classificação dos 
entorpecentes, da produção, do tráfico e do consumo, das infrações e suas penas, e 
também sobre a internação e interdição civil. 
 O capítulo III inicia-se com o Art. 27 e é o responsável por expor sobre a 
internação. 
 É uma legislação que reconhece que o usuário de drogas é doente, que é 
proibido tratá-lo em domicílio e cria e regulamenta a figura da internação obrigatória 
de dependentes químicos, quando provada a necessidade de tratamento adequado 
ao enfermo ou quando for conveniente à ordem pública. 
 O Art. 29, § 1º28, deixa clara a possibilidade de ocorrer internação sem 
consentimento do dependente: 
Art. 29. Os toxicômanos ou os intoxicados habituais, por entorpecentes, por 
inebriantes em geral ou bebidas alcoólicas, são passíveis de internação 
obrigatória ou facultativa por tempo determinado ou não. 
§ 1º A internação obrigatória se dará, nos casos de toxicomania por 
entorpecentes ou nos outros casos, quando provada a necessidade de 
tratamento adequado ao enfermo, ou for conveniente à ordem pública. Essa 
internação se verificará mediante representação da autoridade policial ou a 
requerimento do Ministério Público, só se tornando efetiva após decisão 
judicial. 
 
 O § 10 do Art. 29 estipula que a autoridade sanitária competente deverá ser 
sempre cientificada da concessão de alta ao toxicômano, e, por sua vez, comunicará 
o fato, reservadamente, à autoridade policial competente, para efeito de vigilância. 
 
 
 
27
 BRASIL. DECRETO-LEI No 891, DE 25 DE NOVEMBRO DE 1938. Disponível em: http://www2. 
camara.leg.br/ legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-891-25-novembro-1938-349873-publicacaooriginal-1-
pe.html. Acesso em 13 de Maio de 2014. 
28
 BRASIL. DECRETO-LEI No 891, DE 25 DE NOVEMBRO DE 1938. Disponível em: http://www2. 
camara.leg.br/ legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-891-25-novembro-1938-349873-publicacaooriginal-1-
pe.html. Acesso em 13 de maio de 2014. 
 
 
33 
 
 Veremos adiante que uma nova lei dispõe que o Ministério Público Estadual 
deverá acompanhar a internação quando esta for sem o consentimento do paciente. 
 No dia 6 de abril de 2001, foi sancionada uma a Lei n° 10.21629 que dispõe 
sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e 
redireciona o modelo assistencial em saúde mental. 
 Os dependentes químicos são considerados portadores de doenças mentais, 
pois o uso da droga de maneira abusiva e nociva altera a mente humana. 
 A lei supracitada garante aoportador de doença mental ter acesso ao melhor 
tratamento do sistema de saúde, considerando suas necessidades, ser tratado com 
humanidade e respeito com o intuito único de beneficiar sua saúde, visando alcançar 
sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade. 
 Garante também, ser protegido contra qualquer forma de abuso e exploração, 
o sigilo nas informações prestadas, ter direito à presença médica, em qualquer 
tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária ou 
compulsória. 
 A referida lei prevê que a internação, em qualquer de suas modalidades, só 
será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes, isto 
é, primeiramente deve-se tentar levar o paciente para tratamentos ambulatoriais e 
verificar se houve ou não aderência ao tratamento. 
 A internação involuntária ou compulsória são exceções, é a última alternativa 
a ser utilizada para salvaguardar a saúde, a dignidade e a vida do dependente 
químico. 
 Nesse aspecto da internação forçada que surge a questão sobre a violação 
do direito à liberdade, contudo, não há como deixar o direito à saúde, à dignidade e 
principalmente o direito à vida, a mais importante das cláusulas pétreas, o maior 
 
 
 
29
 BRASIL, LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br 
/ccivil_03/Leis/ LEIS_2001/L10216.htm>. Acesso em: 31 de janeiro de 2014. 
 
 
34 
 
bem que um ser humano possui, em segundo plano uma vez que se não estão 
presentes esses três direitos de suma importância, de que vale a liberdade? 
 A lei também versa sobre as internações psiquiátricas e dispõe que só serão 
realizadas mediante laudo médico circunstanciado que caracterize os seus motivos. 
 O artigo 6°30, parágrafo único e seus incisos tratam dos tipos de internação 
psiquiátrica que segue: 
Art. 6o 
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de internação 
psiquiátrica: 
I - internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; 
II - internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do 
usuário e a pedido de terceiro; e 
III - internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. 
 Em 26 de dezembro de 2002, a Portaria n.º 2391/GM31 foi publicada e 
regulamenta o controle das internações psiquiátricas involuntárias (IPI) e voluntárias 
(IPV) de acordo com o disposto na Lei 10.216, de 6 de abril de 2002, e os 
procedimentos de notificação da Comunicação das IPI e IPV ao Ministério Público 
pelos estabelecimentos de saúde, integrantes ou não do SUS. 
 Nesta portaria, há mais um tipo de internação psiquiátrica além dos três já 
mencionados pela Lei 10.216, trata-se da internação psiquiátrica voluntária que se 
torna involuntária, conforme expões o Art. 3°32 da portaria: 
Art. 3º Estabelecer que ficam caracterizadas quatro modalidades de 
internação: 
- Internação Psiquiátrica Involuntária (IPI); 
- Internação Psiquiátrica Voluntária (IPV), 
- Internação Psiquiátrica Voluntária que se torna Involuntária (IPVI), 
- Internação Psiquiátrica Compulsória (IPC). 
§ 1º Internação Psiquiátrica Voluntária é aquela realizada com o 
consentimento expresso do paciente. 
§ 2º Internação Psiquiátrica Involuntária é aquela realizada sem o 
consentimento expresso do paciente. 
 
 
 
30
 BRASIL, LEI N° 10.216, DE 6 DE ABRIL DE 2001. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
Leis/ LEIS_2001/L10216.htm>. Acesso em: 31 de janeiro de 2014. 
31
 Portaria n.º 2391/GM Em 26 de dezembro de 2002. http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2002/ 
Gm/GM-2391.htm. Acesso em 13 de Maio de 2014. 
32
 Idem. 
 
 
35 
 
§ 3º A Internação Psiquiátrica Voluntária poderá tornar-se involuntária 
quando o paciente internado exprimir sua discordância com a manutenção 
da internação. 
§ 4º A Internação Psiquiátrica Compulsória é aquela determinada por 
medida judicial e não será objeto da presente regulamentação. 
 
 A internação voluntária ou involuntária somente será autorizada por médico 
devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina - CRM do Estado onde 
se localize o estabelecimento. 
 Tanto a Lei 10.216/01 como a Portaria em questão versam sobre as 
notificações que devem ser feitas nos casos de internação involuntária, mas, o Art. 
4°33 da portaria é um pouco mais abrangente: 
Art.4º Estabelecer que as internações involuntárias, referidas no art. 3.º § 
2º, deverão ser objeto de notificação às seguintes instâncias: 
I – ao Ministério Público Estadual ou do Distrito Federal e Territórios onde o 
evento ocorrer, 
II – à Comissão referida no art. 10. 
 A atuação do Ministério Público tem grande importância no que tange a 
internação involuntária. No prazo de 72 horas da internação, o Ministério Público 
Estadual deverá ser notificado e este órgão deve acompanhar o paciente durante 
sua internação até o momento da alta. 
 O término da internação involuntária dar-se-á por solicitação escrita do 
familiar, ou responsável legal, ou quando estabelecido pelo especialista responsável 
pelo tratamento. 
 A internação compulsória é determinada, de acordo com a legislação vigente, 
pelo juiz competente, que levará em conta as condições de segurança do 
estabelecimento, quanto à salvaguarda do paciente, dos demais internados e 
funcionários. 
 
 
 
33
 Portaria n.º 2391/GM Em 26 de dezembro de 2002. http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2002/ 
Gm/GM-2391.htm. Acesso em 13 de Maio de 2014. 
 
 
 
36 
 
 A portaria n.º 2391/GM34 estabelece normas a serem seguidas pelos médicos 
responsáveis pela internação involuntária. 
 Deve ser observado o sigilo das informações, em formulário próprio (Termo 
de Comunicação de Internação Psiquiátrica Involuntária), que deverá conter laudo 
de médico especialista pertencente ao quadro de funcionários do estabelecimento 
de saúde responsável pela internação. 
 O parágrafo único do Art. 5° da portaria n°. 2391/GM35 institui o que deverá 
conter na Comunicação de Internação Psiquiátrica Involuntária: 
Art. 5° Parágrafo único. O laudo médico é parte integrante da Comunicação 
de Internação Psiquiátrica Involuntária, a qual deverá conter 
obrigatoriamente as seguintes informações: 
I - identificação do estabelecimento de saúde; 
II - identificação do médico que autorizou a internação; 
III - identificação do usuário e do seu responsável e contatos da família; 
IV - caracterização da internação como voluntária ou involuntária; 
V - motivo e justificativa da internação; 
VI - descrição dos motivos de discordância do usuário sobre sua internação; 
VII - CID; 
VIII - informações ou dados do usuário, pertinentes à Previdência Social 
(INSS); 
IX - capacidade jurídica do usuário, esclarecendo se é interditado ou não; e 
X - informações sobre o contexto familiar do usuário; 
XI - previsão estimada do tempo de internação 
 No caso em que a internação voluntária se torne involuntária, o Ministério 
Público também deverá ser notificado, tendo que, igualmente ao caso da internação 
involuntária, acompanhar a internação do paciente até o momento de sua alta. 
 O Art. 1036 e seus parágrafos tratam a respeito da constituição de uma 
Comissão Revisora das Internações Psiquiátricas Involuntárias e a participação do 
Ministério Público Estadual no que se refere ao SUS (Sistema Único de Saúde): 
Art.10. Estabelecer que o gestor estadual do SUS constituirá uma Comissão 
Revisora das Internações Psiquiátricas Involuntárias, com a participação de 
integrante designado pelo Ministério Público Estadual, que fará o 
acompanhamento dessas internações, no prazo de setenta e duas horas 
após o recebimento da comunicaçãopertinente. 
 
 
 
34
 Portaria n.º 2391/GM Em 26 de dezembro de 2002. http://dtr2001.saude.gov.br/sas/PORTARIAS/Port2002/ 
Gm/GM-2391.htm. Acesso em 13 de Maio de 2014. 
35
 Idem. 
36
 Idem. 
 
37 
 
§ 1° A Comissão deverá ser multiprofissional, sendo integrantes dela, no 
mínimo, um psiquiatra ou clínico geral com habilitação em Psiquiatria, e um 
profissional de nível superior da área de saúde mental, não pertencentes ao 
corpo clínico do estabelecimento onde ocorrer a internação, além de 
representante do Ministério Público Estadual. É relevante e desejável que 
dela também façam parte representantes de associações de direitos 
humanos ou de usuários de serviços de saúde mental e familiares. 
§ 2° Se necessário, poderão ser constituídas Comissões Revisoras das 
Internações Psiquiátricas Involuntárias, em âmbito microrregional, municipal 
ou por regiões administrativas de municípios de grande porte. 
 Tais dispositivos foram criados, exatamente, para garantir que não haja 
internações involuntárias desnecessárias, violando assim, os direitos fundamentais 
do paciente. 
 O Ministério Público poderá solicitar informações complementares ao autor do 
laudo e à direção do estabelecimento, realizar entrevistas com o internado, seus 
familiares ou quem mais julgar apropriado, podendo permitir outros especialistas a 
examinar o internado, com vistas a oferecerem parecer escrito. 
 A Comissão Revisora realizará até o sétimo dia da internação, a revisão de 
cada internação psiquiátrica involuntária, dando laudo de confirmação ou suspensão 
do regime de tratamento adotado e remetendo cópia ao estabelecimento de saúde 
responsável pela internação, no prazo de vinte e quatro horas. 
 Já o Diretor do estabelecimento deverá enviar mensalmente ao gestor 
estadual do SUS, listagem contendo o nome do paciente internado e o número da 
notificação da Internação Psiquiátrica Involuntária (IPI e IPVI), ressalvados os 
cuidados de sigilo. 
 Há quase 7 anos, foi criada a Lei Nº 11.34337, de 23 de agosto de 2006, que 
Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad - prescreve 
medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários e 
dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não 
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. 
 
 
 
37
 LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb 
/prop_mostrarintegra?codteor=790351&filename=LegislacaoCitada+-PL+7663/2010. Acesso em 18 de maio de 
2014. 
 
 
38 
 
Art. 4o São princípios do Sisnad: 
I - o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente 
quanto à sua autonomia e à sua liberdade; 
 O Art. 4° da Lei N° 11.34338 mais uma vez reforça a garantia dos direitos 
fundamentais da pessoa humana e reforça o respeito à autonomia e liberdade. 
 
 
 
38
 LEI Nº 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006. Disponível em: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb 
/prop_mostrarintegra?codteor=790351&filename=LegislacaoCitada+-PL+7663/2010. Acesso em 18 de maio de 
2014. 
 
39 
 
5 LIBERDADE OU INTERNAÇÃO? 
 
 O tema principal abordado neste trabalho é causa de muitas opiniões 
controvertidas, tanto por profissionais da área da saúde e do direito como por 
familiares e populares usuários e não usuários de substâncias psicoativas. 
 A internação compulsória, quando não há a necessidade de autorização da 
família, é rara no Brasil. No dia 24 de maio, pela primeira vez, um dependente de 
crack foi internado compulsoriamente em São Paulo, desde que o plantão especial 
de juízes, advogados e médicos começou no Centro de Referência de Álcool e 
Drogas (Cratod), no dia 21 de janeiro. 
 Após uma análise clínica, e sem ter conhecimento sobre a família do 
dependente químico, o médico Dr. Ronaldo Laranjeira, especialista no tratamento 
contra drogas, solicitou à Justiça a internação compulsória de um dependente 
químico. A autorização do juiz foi proferida no dia 23 de maio. 
 Para que não ocorra a violação dos direitos fundamentais com a internação 
compulsória ou involuntária de um dependente químico, é necessário que se faça 
um laudo médico, uma avaliação clínica e anamnese (investigação sobre a história 
de vida) para cada indivíduo. 
 Os dispositivos legais existentes nos ajudam a entender que o dependente 
internado involuntariamente não será deixado à mercê da instituição que o acolheu, 
sempre haverá fiscalização da Comissão Revisora e do Ministério Público Estadual 
para averiguar se de fato a internação involuntária é adequada para aquele paciente, 
se deve ou não ser suspensa ou se alguma outra providência deve ser tomada. 
 A instituição acolhedora também deverá prestar contas ao Ministério Público 
Estadual mensalmente, relatando o desenvolvimento do paciente na internação e a 
necessidade de alguma providência a ser tomada. 
 Não há como proteger o direito à liberdade de uma pessoa se esta já não 
mais estiver viva, portanto, deverá primeiramente proteger o seu direito à vida e à 
saúde para depois o direito à liberdade ser prioridade. 
 
40 
 
 A desintoxicação é apenas o primeiro estágio do tratamento da dependência 
e, por si só faz pouco para mudar o abuso de drogas a longo prazo. Mas a partir da 
desintoxicação pode-se administrar com segurança os sintomas físicos agudos de 
abstinência e, em alguns casos, abrir o caminho para um tratamento efetivo da 
dependência química a longo prazo, a desintoxicação sozinha é incomunmente 
suficiente para ajudar dependentes a ficarem em abstinência por longo período. Por 
esta razão, os pacientes devem ser encorajados a continuar o tratamento após a 
desintoxicação. Se as estratégias de motivação e incentivo, iniciado quando o 
paciente foi internado para o tratamento são melhoradas, mas também pode 
melhorar a adesão ao tratamento. 
 Especialistas na área da saúde mostram que em alguns estágios da 
dependência, o dependente perde o discernimento do que é ou não adequado para 
ele. O uso nocivo e indiscriminado de uma ou mais substâncias pode ocasionar 
outras doenças crônicas e mentais, deixando-o à margem da morte, se colocando 
em risco e muitas vezes colocando outras pessoas em risco seja algum familiar, 
amigos e até mesmo desconhecidos, pois perdem a noção do perigo, do certo e do 
errado. Muitos cometem desde pequenos delitos até crimes mais graves por estarem 
sob o efeito da droga e/ou para obter recursos para adquiri-la. 
 A falta de esclarecimento sobre o assunto faz com que muitos sejam contra a 
internação involuntária ou compulsória por entenderem que os dependentes que 
forem submetidos a esse tipo de internação estarão “presos”, violando o direito à 
liberdade, contudo, deve-se refletir um pouco mais profundamente a respeito do 
assunto, pois a internação (vista como uma prisão para muitos) é para cuidar, para 
ajudar o dependente a conseguir ficar abstinente e sair da zona de risco a qual ele 
se encontrava no momento da internação. 
 
41 
 
 Arthur Guerra de Andrade39, presidente-executivo do CISA (Centro de 
Informações sobre Saúde e Álcool) e professor da FMABC (Faculdade de Medicina 
do ABC), diz: 
De forma geral, a internação involuntária é um procedimento médico 
realizada no mundo todo há muitos anos que obedece a critérios super 
objetivos. A visão médica não vai deixar esse paciente se matar. O médico, 
no mundo todo, não acha que é um direito do ser humano se matar, pois 
entende que esse paciente está doente e tem de ser internado. Depois 
daquele momento de fissura e excesso, quando estiver recuperado, o 
paciente vai dizer: ‘Obrigado, doutor’. A internação

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