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Édipo em Colono

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“Édipo em Colono” é o segundo livro que compõe a trilogia Tebana (da qual fazem parte “Édipo Rei” e “Antígona”) escrita por Sófocles (496-406 a.C.). Antes de apresentarmos um ato da tragédia, é interessante falarmos rapidamente sobre “Édipo Rei”. Girada em torno da família de Édipo, a história é determinada pela profecia de que Édipo matará seu pai Laio para casar-se com a sua própria mãe Jocasta. Nessa primeira tragédia, há a culminância da profecia feita pelo Oráculo de Delfos, o que nos remete ao pensamento de que o homem não pode escapar do seu destino, mas são somente os seus atos que o levam a sua concretização.
Época da ação: idade heroica da Grécia.
Local: Colono, um povoado situado a pouca distância de Atenas. 
Primeira representação: 401 a.C., em Atenas
Adaptação
Participantes:
Ana Luíza Medeiros
Franci Júnior
Marília Silva
Nathalie Medeiros
Noemy
Rosângela Coutinho
Valeska Cornejo
“Édipo em Colono” versa sobre um Édipo velho, cego e expulso de Tebas que é abandonado por seus dois filhos homens Etéocles e Polinices, que apenas apreciavam o reinado de Tebas. Durante a disputa pelo trono real, Édipo amaldiçoa os filhos, profetizando que um mataria ao outro em busca do poder. Édipo vaga, como mendigo, até Colono, ao lado de Antígona, sua filha, onde pede asilo a Teseu, rei de Atenas, prometendo-lhe proteção contra Tebas. Mais tarde, acompanha-os na jornada Ismene, a outra filha de Édipo e Jocasta. Apenas Teseu acompanha Édipo até sua misteriosa morte, a quem confiou-lhe o segredo de onde havia desaparecido, em troca de proteção para Atenas. 
(Antígona e Ismene não puderam despedir-se do pai nem tampouco conseguiram que Teseu as contasse sobre o mistério.) 
Mensageiro:
Logo depois de ele ter a satisfação de sentir-se como queria, e no momento em que nada mais desejava, reboaram os trovões de Zeus Infernal; ouvindo o estrondo, as meninas tremeram e se prosternaram aos pés do pai, batendo sem cessar no peito enquanto soluçavam consternadamente. Ele, entretanto, ouvindo o pranto amargurado abraçou-as e disse-lhes:
“Ah! Minhas filhas! “De hoje em diante vosso pai já não existe; “de fato, agora acaba-se tudo que fui “e cessa o vosso encargo de cuidar de mim “— muito penoso, eu sei, minhas pobres crianças —; “uma palavra só, porém, vos recompensa “por tantos sofrimentos: de ninguém tivestes “amor maior que o deste homem sem o qual “ireis viver pelo resto de vossas vidas!”
Os três se estreitavam nos braços uns dos outros mas, quando seus gemidos chegaram ao fim e já não se podia ouvir-lhes os soluços, todos ficaram em silêncio absoluto. Subitamente uma voz se elevou, chamando-o; num instante os cabelos dos três se arrepiaram quando se ouviu a voz insistente do deus: “Por que tardamos tanto a pôr-nos a caminho, Édipo? Fazes-te esperar há muito tempo!” Quando ele percebeu que um deus o convocava, mandou chamar Teseu para perto de si e pressentindo-o nas proximidades disse-lhe: “Querido amigo! Dá agora às minhas filhas “a garantia jurada de tua mão “e vós, meninas, dai-lhe reciprocidade! “E tu, Teseu, promete agora que jamais “as abandonarás se depender de ti, “e tanto quanto permitir tua bondade “faze o possível para protegê-las sempre.” Provando que era realmente um homem nobre, Teseu, sem vacilar, jurou ao estrangeiro que atenderia ao seu pedido. Isto feito, Édipo se apressou em pôr sobre as meninas suas mãos cegas e lhes disse: “Agora, filhas, “deveis reanimar em vossos corações “toda a nobreza, abandonando este lugar “sem ter a pretensão de ver ou de escutar “o que não vos é permitido. Ide embora “neste momento, mas Teseu, o soberano, “deve ficar para presenciar os fatos.” Assim ele falou e todos nós ouvimos, e soluçando retiramo-nos com elas. Quando nos afastávamos, logo depois, olhamos para trás e notamos que Édipo já não estava lá; vimos somente o rei com as mãos no rosto para proteger os olhos diante de alguma visão insuportável. Pouco depois — quase no mesmo instante — vimo-lo fazendo preces e adorando juntamente a terra e o divino Olimpo com seus gestos. Mas nenhum dos mortais, salvo o próprio Teseu, pode dizer como Édipo chegou ao fim. Não o atingiu qualquer relâmpago de Zeus, nem um tufão vindo do mar naquela hora. Deve ter sido o mensageiro de algum deus, ou então os abismos sempre tenebrosos do mundo subterrâneo podem ter-se aberto para levá-lo sem lhe causar sofrimentos. O homem desapareceu sem lamentar-se e sem as dores oriundas de doenças, por um milagre inusitado entre os mortais. E se pareço estar falando loucamente, Não posso reprovar quem me chamar de louco.
ANTÍGONA Ai de nós! Sim, é somente a nós duas que desta vez, mais do que em qualquer outra, nos cabe deplorar a maldição de nosso sangue, do sangue de um pai que nos teve para nossa desgraça! Por ele, enquanto vivo, suportamos inumeráveis penas sem alívio e agora vamos ter de acrescentar-lhes a narração de fatos espantosos por nós presenciados e sofridos.
CORO Ele se foi?
ANTÍGONA Morreu, e da maneira mais desejável. Queres saber como? Ele não encontrou em seu caminho nem lutas nem o mar; arrebataram-no os prados onde só existem trevas num fim misterioso. Quanto a nós, uma noite mortal escureceu nossa visão. Ah! Como poderemos agora, errantes em terra distante, ou sobre as vagas do oceano, obter o pão do qual depende a nossa vida?
ANTÍGONA Ele morreu em solo estranho de acordo com sua própria vontade. Seu leito está oculto para sempre e ao nosso luto não faltarão lágrimas. Meus olhos, pai, não param de chorar sentidamente, e não sei — ai de mim! —se terá fim essa tristeza imensa que me deixaste. Querias morrer em solo estranho, mas, por que morreste assim, tão só, longe dos meus cuidados?
ISMENE Ah! Infeliz de mim! Que nos reserva a sorte, minha amiga, a mim e a ti, agora que perdemos nosso pai?
CORO Mas, já que sua vida terminou de maneira feliz, cessai, amigas, de lamentar-vos, pois ninguém na vida está a salvo da infelicidade. 
ANTÍGONA Voltemos ao local, irmã querida. Sinto o desejo...de ver a morada profunda
ISMENE Ele está morto, mas sem sepultura, afastado de todos os olhares.
ANTÍGONA Leva-me lá; matar-me-ei também.
ISMENE Ah! Infeliz de mim! Em que lugar irei viver, só e desamparada, minha vida repleta de infortúnios?
ANTÍGONA Ai! Ai de mim! Aonde iremos, Zeus? Com que esperança a sorte nos acena?
TESEU Cessai vossas lamentações, meninas! Quando contamos com a benevolência dos deuses infernais, por que gemer? Provocaríamos a sua cólera. 
ANTÍGONA Ajoelhamo-nos e suplicamos-te, filho de Egeu! Queremos ver, nós mesmas, o sepulcro de nosso pai. 
TESEU Mas isto é interdito! 
ANTÍGONA Que estás dizendo, rei, senhor de Atenas? 
TESEU O próprio Édipo deu-me a incumbência de não deixar qualquer mortal chegar às vizinhanças daquele lugar e de impedir que até com sua voz alguém pudesse perturbar a paz do túmulo sagrado onde ele jaz; terei, se respeitar a sua ordem, uma Pátria livre de provações. Dessas promessas foram testemunhas o nosso deus e o próprio Juramento, filho do grande Zeus que ouve tudo. 
ANTÍGONA Se é este o seu desejo, que assim seja. Manda-nos logo de retorno a Tebas, nossa antiga cidade, para que, se for possível, consigamos ambas deter a marcha da carnificina funesta para nossos dois irmãos. 
TESEU Vou tomar essa providência e todas que me competem para vos servir e para dar satisfação ao morto recém-partido; não descansarei enquanto não cumprir minhas promessas.

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