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DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA NO NOVO CPC E O PAPEL DO 
JUDICIÁRIO 
 
Autor: NEHEMIAS DOMINGOS DE MELO1 
 
Sumário: 1. Da gratuidade da justiça. 2. A forma de pedir e o momento processual 
adequado. 3. A assistência por advogado particular não é motivo para negativa do 
pedido. 4. A parte contrária poderá impugnar a concessão do benefício. 5. A decisão 
que indefere ou revoga o benefício poderá ser atacada via agravo de instrumento. 6. 
Conclusões. 
 
1. Da gratuidade de justiça2 
 
 Importante inovação promoveu o legislador do Novo Código de 
Processo Civil brasileiro ao disciplinar a concessão dos benefícios da 
justiça gratuita no corpo do novo codex, revogando inclusive alguns 
dispositivos da Lei n° 1.060/50, com isso procurando dar mais 
efetividade à questão da gratuidade processual. 
 
1 O Autor é Advogado em São Paulo. Professor de Direito Civil nos cursos de Graduação e Pós-Graduação em 
Direito na Universidade Paulista (UNIP). É também Professor convidado da Escola Superior da Advocacia 
(ESA/SP), das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), da Escola Paulista de Direito (EPD), do Complexo 
Jurídico Damásio de Jesus, da Faculdade de Direito de SBCampo e de diversos outros cursos de Pós-
Graduação. É Doutorando em Direito Civil na Universidade de Buenos Aires (UBA), Mestre em Direitos 
Difusos e Coletivos; Pós-Graduado em Direito Civil e também, especialista em Direitos do Consumidor. É 
membro do conselho editorial da Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil (IOB - São Paulo). É 
palestrante do Departamento de Cultura e Eventos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP. Autor de 
várias obras jurídicas e, dentre estas, cabe destacar que o seu livro “Dano moral – problemática: do cabimento 
à fixação do quantum”, foi adotada pela The University of Texas School of Law (Austin,Texas/USA), como 
referência bibliográfica indicada para o estudo do “dano moral” no Brasil. 
2 Ver nossa obra NOVO CPC – ANOTADO, COMENTADO E COMPARADO. São Paulo: Editora Rumo 
Legal, 2015. 
 
 
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 Entendemos que é da maior importância o fato da gratuidade de 
justiça ser tratada no Código de Processo Civil. Vale lembrar que o 
CPC/73 era silente quanto à matéria que era regulado exclusivamente 
pela Lei n° 1.060/50. Nesse sentido, é importante deixar desde logo 
consignado que o Novo CPC acaba, por assim dizer, com a possibilidade 
de alguns magistrados negarem tal benefício confundindo o que seja 
gratuidade de justiça com assistência judiciária gratuita, fato 
comumente ocorrente por cômoda ignorância do real significado dos 
dois institutos. 
 Veja-se que o Novo CPC, ao tratar do tema, o faz de maneira 
adequada, denominando-o de “gratuidade de justiça”, afastando 
qualquer possibilidade de confusão que se possa fazer com a 
“assistência judiciária gratuita”. 
 Cumpre esclarecer que “assistência judiciária gratuita” (CF, art. 
5°, LXXIV), é um instituto de direito administrativo, posto à disposição 
do hipossuficiente como condição primeira para seu ingresso no 
judiciário, quando então, lhe é fornecido além das isenções de custas e 
atos processuais, também o defensor público. Já a “gratuidade de 
justiça”, de menor abrangência, é um instrumento eminente processual 
que pode ser solicitado ao juiz da causa tanto no momento inaugural da 
ação quanto no curso da mesma, significando dizer que a dispensa das 
despesas processuais é provisória e condicionada à manutenção do 
estado de pobreza do postulante, podendo ser revogada a qualquer 
tempo. 
 De longa data já vimos nos manifestando sobre a necessidade de 
melhor disciplinamento deste importante instituto tendo em vista a 
tendência atual da maioria dos magistrados, especialmente de primeiro 
 
 
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grau, em negar tal benefício aos requerentes, escudando-se muitas 
vezes em argumentos sem nenhum fundamento legal. 
 O ilustre professor Gabriel de Rezende Filho, já nos idos do século 
passado, preconizava que “a justiça deve estar ao alcance de todos, 
ricos e poderosos, pobres e desprotegidos, mesmo porque o Estado 
reservou-se o direito de administrá-la, não consentindo que ninguém 
faça justiça por suas próprias mãos. Comparecendo em juízo um 
litigante desprovido completamente de meios para arcar com as 
despesas processuais, inclusive honorários de advogado, é justo seja 
dispensado do pagamento de quaisquer custas...”.3 
 Talvez por isso o legislador do Novo CPC, no capítulo que trata da 
gratuidade de justiça, começa por dizer claramente que tanto a pessoa 
“natural” quanto a “jurídica” pode ser beneficiária da gratuidade de 
justiça se provar insuficiência de recursos para arcar com as despesas 
processuais (NCPC, art. 98, caput). Essa previsão legal é de 
fundamental importância porque para muitos magistrados os benefícios 
da gratuidade de justiça somente poderiam ser concedidos a pessoa 
natural e jamais para a pessoa jurídica. Tanto é verdade que foi 
necessário o Superior Tribunal de Justiça editar a súmula n° 481 de 
seguinte teor: “Faz jus ao benefício da justiça gratuita a pessoa jurídica 
com ou sem fins lucrativos que demonstrar sua impossibilidade de arcar 
com os encargos processuais”. 
 Importante deixar claro que qualquer um que seja parte, tanto 
como autor, quanto réu ou mesmo interveniente, pode se beneficiar da 
gratuidade de justiça. 
 
3 REZENDE FILHO, Gabriel de. Curso de direito processual civil, 4a. ed. São Paulo: Saraiva, 1954, v. 1. 
 
 
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 Embora a lei fale em “pessoa” natural ou jurídica, entendemos que 
este benefício também pode ser concedido aos entes despersonalizados 
como, por exemplo, o espólio, o condomínio e o nascituro, dentre 
outros. 
 A gratuidade da justiça isenta o beneficiário de diversas despesas 
processuais, todas elas relacionadas nos vários incisos do § 1°, do art. 
98, incluindo custas iniciais, as despesas com citações (por cartas, 
oficial de justiça ou mesmo editalícia), as despesas e emolumentos 
cartorários e honorários periciais. 
 De outro lado, embora a lei consigne expressamente que a 
concessão de gratuidade não afasta a responsabilidade do beneficiário 
pelas despesas processuais e pelos honorários advocatícios da parte 
contrária, decorrentes de sua sucumbência, na prática isso é uma meia 
verdade porque nos termos do § 3°, do já citado art. 98, essa 
condenação ficará sob condição suspensiva de exigibilidade pelo prazo 
prescricional de 5 (cinco) anos. Quer dizer, o ganhador da demanda 
somente poderá executar as despesas e honorários sucumbenciais se 
provar que houve mudança na situação do beneficiário e somente pelo 
lapso temporal de 5 (cinco) anos, contados do trânsito em julgado. 
Passado esse prazo, nada mais se poderá fazer. 
 A concessão de gratuidade não afasta o dever de o beneficiário 
pagar, ao final do processo, as multas processuais que lhe sejam 
impostas. 
 Outro aspecto que releva comentar é que a gratuidade pode ser 
concedida para a totalidade dos atos processuais ou pode ser concedida 
para algum ato específico do processo, podendo ainda consistir na 
redução do percentual de despesas processuais que o beneficiário tiver 
 
 
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de adiantar no curso do procedimento ou até mesmo no parcelamento 
destas despesas. 
 
2. A forma de pedir e o momento processual adequado 
 
 No art. 99 do Novo CPC o legislador se preocupou com o momento 
em que o benefício da gratuidade de justiça deve ser requerido, 
deixando claro que tanto pode ocorrer com a petição inicial, na 
contestação, na petição para ingresso de terceiro no processoou mesmo 
na fase recursal. 
 Caso o pedido seja feito no curso do processo, deverá o 
requerente fazê-lo por meio de petição simples nos próprios autos e 
será avaliado pelo juiz sem suspensão do processo. 
 Já o § 2°, do retro citado art. 99, estabelece que o juiz somente 
poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que 
evidenciem a falta dos pressupostos legais para a concessão de 
gratuidade. Mesmo havendo elementos que possam indicar certa 
capacidade financeira do requerente, ainda assim, o magistrado não 
poderá pura e simplesmente indeferir o pedido. Deverá antes 
determinar que o requerente comprove nos autos o preenchimento dos 
requisitos exigidos, para só depois disso se manifestar. Quer dizer, o 
juiz não poderá negar o benefício ao seu livre arbítrio. 
 As pessoas físicas ou naturais fazem jus ao benefício da 
gratuidade processual sem a necessidade de realizar qualquer espécie 
de prova (NCPC, art. 99, § 3°). Quer dizer, basta a pessoa física 
declarar que carece de recursos para enfrentar a demanda judicial que 
 
 
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essa alegação será suficiente para a concessão do benefício, tendo em 
vista que sua declaração goza de presunção de veracidade (NCPC, art. 
99, § 3° c/c art. 374, IV). Isso não impede que a parte contrária possa 
fazer a prova no sentido oposto, isto é, oferecendo impugnação 
instruída com os elementos hábeis ao convencimento do juiz da causa. 
Oferecida a impugnação, caberá ao juiz analisar e decidir. 
 Já no que diz respeito à pessoa jurídica e aos entes 
despersonalizados, diferentemente da pessoa natural, deverá provar a 
priori que não tem recurso para fazer frente às despesas processuais, 
sob pena de indeferimento. 
 
3. A assistência por advogado particular não é motivo para 
negativa do pedido 
 
 O Novo CPC traz em seu bojo uma importantíssima previsão, qual 
seja, o fato de a parte estar assistida por advogado particular não pode 
ser motivo apto e suficiente para impedir a concessão dos benefícios da 
gratuidade da justiça. Só quem milita nos fóruns da vida para saber 
avaliar a importância dessa previsão (NCPC, art. 99, § 4°). Acredito que 
muitos magistrados vão ficar frustrados com isso, tendo em vista que 
não mais poderão utilizar esse falso argumento para dizer que a parte 
tem condições de arcar com os custos do processo, pois se assim não 
fosse, estaria assistido pela Defensoria Pública. 
 Por exemplar e oportuno, trago à baila um trecho de voto lapidar 
do Des. Palma Bisson, do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferido em 
agravo de instrumento que foi manejado em face da negativa ao pedido 
 
 
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de justiça gratuita. Em resumo: o peticionário era um menino menor, 
filho de um marceneiro vitimado de morte em atropelamento, que 
residia em conjunto habitacional da periferia de Marília (SP). O menino, 
representado pela mãe, veio postular em juízo através de patrono 
particular, uma pensão mensal e vitalícia de um salário mínimo e 
indenização por dano moral. O magistrado de primeiro grau indeferiu o 
pedido de gratuidade alegando que o menino não provou que era pobre 
e por não ter peticionado por intermédio de advogado integrante do 
convênio OAB/PGE. O relator diz, em determinado trecho de seu voto: 
“faz jus aos benefícios da gratuidade de Justiça menino filho de 
marceneiro morto depois de atropelado na volta a pé do trabalho e que 
habitava castelo só de nome na periferia, sinais de evidente pobreza 
reforçado pelo fato de estar pedindo aquele u'a pensão de comer, de 
apenas um salário mínimo, assim demonstrando, para quem quer e 
consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, que o que nela 
tem de sobra é a fome não saciada dos pobres - a circunstância de estar 
a parte pobre contando com defensor particular, longe de constituir um 
sinal de riqueza capaz de abalar os de evidente pobreza, antes revela 
um gesto de pureza do causídico; ademais, onde está escrito que pobre 
que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para 
defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos (...).4 
 Cabe ainda anotar que no caso da parte beneficiaria da justiça 
gratuita estiver assistida por advogado particular e for ganhadora da 
ação, mas o advogado não se contentar com o valor dos honorários 
sucumbenciais fixados na sentença, o eventual recurso a ser interposto 
somente com base neste particular estará sujeito a preparo, exceto se o 
 
4 (TJSP, AI n° 0084039-57.2005.8.26.0000, Comarca de Marília, Rel. Des. Palma Bisson, 36" Câm. Direito 
Privado., j. 19/01/06, vu). 
 
 
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patrono da parte requerer e provar que também faz jus aos benefícios 
da gratuidade. 
 Cumpre também consignar que o benefício da gratuidade de 
justiça é um direito de caráter personalíssimo, de sorte a afirmar que 
concedido tal benefício à parte, o mesmo não será estendido 
automaticamente ao litisconsorte ou ao sucessor do beneficiário. Não 
quer com isso dizer que o litisconsorte ou o sucessor não possam 
também se beneficiar de tal instituto. O que a lei deixa claro é que tal 
direito não se transfere automaticamente, mas pode ser concedido a 
estes intervenientes se requererem e preencherem os requisitos legais. 
 Mesmo o benefício seja requerido no recurso contra eventual 
sentença, o recorrente estará dispensado de comprovar o recolhimento 
prévio do preparo, incumbindo ao relator, neste caso, apreciar o 
requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do 
recolhimento. 
 
4. A parte contrária poderá impugnar a concessão do benefício 
 
 O contraditório com relação ao pedido de justiça gratuita só vai 
existir se for concedido o beneficio à parte requerente. A parte contrária 
pode impugnar o deferimento como preliminar na contestação, na 
réplica ou nas contrarrazões de recurso. Se o pedido for superveniente 
ou formulado por terceiro, deverá ser impugnado por meio de petição 
simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do 
próprio processo, sem suspensão de seu curso. 
 
 
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 No parágrafo único do art. 100, o legislador fez constar que se o 
benefício for revogado, a parte deverá arcar com as despesas 
processuais que tiver deixado de adiantar e pagará, se agiu de má-fé, 
até o décuplo de seu valor a título de multa, que será revertida em 
benefício da Fazenda Pública estadual ou federal e poderá ser inscrita 
em dívida ativa. 
 
5. A decisão que indefere ou revoga o benefício poderá ser 
atacada via agravo de instrumento 
 A decisão que negar o pedido de gratuidade ou acolher o pedido 
de sua revogação desafia agravo de instrumento, a não ser que a 
questão seja resolvida na sentença quando, então, caberá apelação 
(NCPC, art. 101 c/c art. 1.015, V). 
 No eventual recurso, o recorrente estará dispensado do 
recolhimento de custas até decisão do relator sobre a questão, que 
deverá ocorrer preliminarmente ao julgamento do recurso. 
 Caso seja confirmada a denegação ou a revogação da gratuidade, 
deverá o relator ou o órgão colegiado determinar ao recorrente o 
recolhimento das custas processuais, assinalando prazo de 5 (cinco) 
dias para cumprimento, sob pena de não conhecimento do recurso. 
 Encerrando o tópico atinente à gratuidade de justiça, o legislador 
fez consignar que no caso da decisão que revoga o benefício ter 
transitado em julgado, a parte deverá efetuar o recolhimento de todas 
as despesas de cujo adiantamento foi dispensada, inclusive as relativas 
ao recurso interposto, se houver, no prazo fixado pelo juiz, sem prejuízo 
de aplicação das sanções previstas em lei. 
 
 
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 Se aparte não realizar o recolhimento no prazo assinalado, o 
processo será extinto sem resolução de mérito, tratando-se do autor. 
Nos demais casos, não poderá ser deferida a realização de nenhum ato 
ou diligência requerida pela parte enquanto não efetuado o depósito. 
 
6. Conclusões. 
 
 Depois de mais de meio século que nos separa da aprovação da 
Lei n° 1.060/50, o legislador do novel codex reaviva o instituto da 
justiça gratuita, agora de forma atualizada. 
 Como não basta só a lei para alterar os costumes, é preciso que 
haja uma mudança na mentalidade dos operadores do direito, em 
especial dos magistrados que amiúde dificultam ou denegam a 
concessão dos benefícios da gratuidade de justiça muitas vezes atendo-
se a parâmetros estáticos de renda que nem sempre traduzem a 
realidade sócio-econômica da população brasileira. 
 A nosso sentir o acesso a justiça deveria ser totalmente gratuito 
não se justificando o recolhimento de taxas e custas para o ingresso ao 
judiciário, na exata medida em que sabemos que o conjunto de tributos 
incidente sobre a população brasileira ultrapassa os 36% (trinta e seis 
por cento) da renda nacional, dinheiro este que seria mais que 
suficiente, se bem aplicado, para custear não somente a rede pública de 
saúde, educação, segurança pública, transportes, como também os 
serviços da justiça. 
 Entendemos que o dinheiro público que sobra da pilhagem levada 
a cabo pelos políticos não dá para prover a extensão dos benefícios de 
forma ampla, geral e irrestrita. Contudo o que se espera de qualquer 
 
 
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julgador é que, frente ao caso concreto e, com base nas máximas de 
experiência de vida, possa melhor aquinhoar àqueles que, necessitando 
fazer valer seus direito, não sejam obstados tão somente por um 
preconceito ou capricho daqueles a quem cabe ofertar a prestação 
jurisdicional. 
 A luta hoje a ser encetada por todos os cidadãos brasileiros é a de 
que a justiça, assim como outros serviços públicos, deve ser totalmente 
gratuita não mais se justificando o pagamento de custas como pré-
requisito de ingresso no judiciário. 
 Como bem deixou assinalado o professor paulista Estevão Mallet, 
em passagem memorável, quando afirmou que "tudo se resume à 
seguinte idéia tirada de uma analogia do direito com a medicina (e são 
muito freqüentes as semelhanças entre as duas ciências: a lide é uma 
doença e o juiz atua como médico, curando a doenças, etc.): ao doente 
pobre ninguém imagina oferecer tão somente a possibilidade de se 
tratar por si mesmo; cabe, sim, a assistência médica pública e gratuita. 
Ao litigante pobre, da mesma forma, o que se deve dar é assistência 
jurídica gratuita e não permitir que, postulando por sua conta em juízo, 
faça com que se perca seu direito”. 
 Contudo, enquanto isso não acontece, o que se espera é que o 
judiciário possa dar sua contribuição criando condições para que seus 
membros possam rever a forma pela qual tem sido analisada a 
concessão de tão nobre benefício. Espera-se que os juízes, como 
agentes da dinâmica social, postem-se como o homem médio da 
sociedade e, a partir de máximas de experiências, atue com 
sensibilidade e consciência, fugindo do excessivo e cômodo formalismo 
processual, passando a ver no processo um instrumento de realização 
 
 
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dos anseios de cidadania, sem o que não se alcançará a tão almejada 
justiça.5 
 Como muitos já disseram, o magistrado não é um mero autômato, 
um frio aplicador da norma ao caso concreto, mas um agente da 
dinâmica social, de sorte que deve assumir uma postura ativa na busca 
da justiça processual. Cabe-lhe dar efetividade aos direitos 
fundamentais consagrados na Constituição do Brasil, especialmente o 
direito à igualdade, ao devido processo legal material, à ampla defesa e 
o acesso à justiça, tendo em vista que a pobreza não pode ser obstáculo 
ao exercício de um direito legitimamente reconhecido. 
 
 
5 Conforme meu artigo “Da Justiça gratuita como Instrumento de Democratização do Acesso ao Judiciário”, 
publicado na Revista Juris Síntese, Porto Alegre, n° 48, jul./ago. 2004.

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