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HANS JONAS E A FILOSOFIA DA TECNOLOGIA

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Hans Jonas e a Filosofia da tecnologia
		HANS JONAS AND THE PHILOSOPHY OF TECHNOLOGY
RESUMO:
Este trabalho pretende apresentar a reflexão do autor Hans Jonas a respeito da tecnologia como objeto de estudo da Filosofia. Com os avanços da ciência desde os séculos XVI e XVII a tecnologia passa a fazer parte de todas as ações do homem moderno, tornando-se assim, um problema da própria existência humana e em consequência disso deve ser analisado a partir de uma perspectiva filosófica. Hans Jonas tem notável importância nesta área por realizar uma análise descritiva da técnica moderna, tornando-se assim, um filósofo de extrema importância na chamada Filosofia da tecnologia. 
Palavras Chave: Tecnologia, Filosofia, progresso.
Abstract
This work intends to present the author's reflection Hans Jonas regarding technology as the object of study Philosophy. With advances in science since the sixteenth and seventeenth centuries the technology becomes part of all actions of modern man, becoming thus a problem of human existence and as a result must be analyzed from a philosophical perspective. Hans Jonas has notable importance in this area to perform a descriptive analysis of modern technology, thus becoming a philosopher of utmost importance in the call philosophy of technology.
Key words: Technology, Philosophy, progress.
Introdução 
Hans Jonas propõe um programa para uma Filosofia da técnica, buscando compreender sua evolução, seus efeitos e sua interferência no agir humano e também nas outras formas de vida como um todo. O filósofo parte, assim, de uma pergunta filosófica sobre a técnica moderna, com o intuito de diagnosticar o seu avanço enquanto poder e de avaliar suas consequências associadas ao perigo e risco. Sua pesquisa prioriza uma crítica ao ideal utópico que a técnica moderna herda, em especial, das teorias de Bacon e Karl Marx. 
O autor busca apresentar um prognóstico para a superação desta dimensão utópica. Em sua obra o Princípio Responsabilidade: ensaio de uma ética para a civilização tecnológica rebate o paradigma unânime de sua época (a ideia de evolução da humanidade promovida pelo progresso tecnológico) e propõe a responsabilidade como garantia de existência das formas de vida no futuro.
	
Hans Jonas e o cenário da revolução científica 
No decorrer do século XX, percebe-se um grande interesse dos estudiosos em examinar as transformações ocorridas na humanidade, sobretudo, a temas ligados à ascensão da Ciência Moderna e à constituição da chamada Era tecnológica. Esse interesse tem suas origens em fatos ocorridos no século XVIII e XIX, um período marcado por grandes ideais: a maioria dos filósofos confiava, na razão e os cientistas de forma geral entusiasmavam-se com avanços obtidos pela ciência moderna. Desta forma os séculos XVIII e XIX podem ser caracterizados como um tempo de grandes promessas, como por exemplo, prolongamento da vida, melhores condições para a humanidade relacionados a facilidade de comunicação, locomoção e ao conforto. Para Jonas, esse projeto tem início nos séculos XVI e XVII, com o modelo cartesiano e o programa baconiano. Ou seja, a preocupação de Hans Jonas não se limita ao século XVIII e XIX, pois ele procura entender as transformações no agir humano também nos séculos anteriores, “a partir do surgimento da nova ciência e cosmologia nos século XVII, com o qual começou verdadeiramente uma revolução de escala secular” (JONAS, 2011, p. 75).
Em seu texto Seventeenth century and after: the meaning of the scientific and technological revolution, de 1974, Jonas elabora uma reflexão sobre o significado da Revolução Científica e tecnológica, que se tornou global, esta revolução, de acordo com o autor “remodela as condições externas de nosso ser” (JONAS, 2011, p. 75) já que as transformações causadas pela técnica alteram o mundo, o pensamento e as condições da vida. O que Jonas pretende demonstrar é que as bases da revolução científica encontram-se na modernidade, tendo assim, seu início no século XVII, pois neste período ocorreu uma nova “ruptura ontológica” que, segundo o autor, “estabelece as bases sobre as quais o edifício da ciência moderna foi erguido” (JONAS, 2011, p. 76). Em outras palavras, para compreender a Revolução científica e tecnológica deve-se seguir um encadeamento de episódios históricos que acarretaram mudanças no modo de pensar, agir, e fazer:
Esta realmente é a sequência da revolução científica e tecnológica para a qual essas reflexões são dedicadas. A revolução científica mudou os modos do homem de pensar, pelo pensamento, antes de alterar substancialmente, embora afetado, seus modos de vida. Foi uma mudança na teoria, na visão de mundo, na perspectiva metafísica, na concepção e método de conhecimento. Ela não fez de início - e por um longo tempo - preocupar-se com o domínio da prática, embora alguns de seus mais eloquentes profetas filosóficos atribuíssem a ela este papel cedo o bastante: essa atribuição em si foi no domínio do pensamento (JONAS, 2011, p. 76).
Neste texto, Jonas aponta para o denominado programa baconiano, que tem em seu cerne a pretensão de alterar a interação entre homem e natureza. Desta forma a Ciência moderna começa com uma nova perspectiva da totalidade do cosmos e do fenômeno natural. Uma noção de utilização em benefício da humanidade (uma das espécies “do todo da vida”). Neste contexto, a tecnologia aparece como um subproduto de um período que tem como encargo ser um agente da dominação do meio natural em benefício da humanidade.
Sendo assim, a tecnologia ganha notoriedade quando passa a produzir melhorias concretas para a humanidade, como por exemplo, na comunicação móvel, na qual as pessoas comunicam-se facilmente através de aparelhos celulares. Porém, na primeira metade do século XX alguns acontecimentos, como as duas guerras mundiais, que causaram terror na humanidade, o mau uso da razão durante o Nazismo, a Guerra fria, as desigualdades sociais, entre outros, começaram a mudar o cenário almejado e proposto no século anterior. De um lado, depois da Segunda Guerra Mundial, a tecnologia avançou promovendo inovações em todas as dimensões ligadas ao homem, destacando-se em pesquisas espaciais, como por exemplo, satélites artificiais, e novas observações que possibilitam um nova observação do universo. Por outro lado, a tecnologia trouxe novas possibilidades para a corrida armamentista, como por exemplo, à ameaça de destruição atômica, à possibilidade de esgotamento dos recursos naturais e também a questão da produção do lixo, que até então não eram cogitadas. Todos esses fatores começaram a abalar as convicções das pessoas do século XIX, caracterizando o século XX como uma “era de incertezas”�.
É neste cenário que a tecnologia torna-se um problema filosófico, ou seja, diversos filósofos� começaram refletir sobre as transformações na vida humana, por meio da tecnologia, preconizando assim uma nova disciplina: a Filosofia da tecnologia. Segundo Cupani (2004, p. 493) esta disciplina é relativamente recente e possui um campo de estudo vasto, sendo que o próprio objeto de estudo é muito variável. Porém, de acordo com o autor, este estudo converge para uma mesma direção:
Apesar da heterogeneidade, a disciplina encontra a sua unidade na preocupação por um aspecto ou dimensão da vida humana impossível de ignorar e particularmente marcado na sociedade contemporânea: a atividade eficiente, racionalmente regrada, no que diz respeito às suas motivações, desenvolvimento, alcance e consequências (CUPANI, 2004, p. 493).
Diante do pensamento de Cupani, percebe-se que apesar dos diferentes enfoques para a abordagem do tema da técnica moderna, é possível identificar uma tentativa de compreensão comum: a tecnologia deve ser entendida como um modo de vida, sobretudo, na medida em que afeta o modo de toda a humanidade.
Jonas, com sua obra, se destaca nesse âmbito de discussão e passa a ser citado como um dos mais significativos pensadores nesta área. Este filósofo deorigem judaica, que nasceu em Mönchengladbach, na Alemanha, sua base filosófica parte da Fenomenologia, pois teve como mestres Edmund Husserl e também Martin 
Referente à chamada filosofia da tecnologia, Jonas encontra-se entre os denominados teóricos da técnica. Além de Jonas, encontram-se com destaque, Heidegger e Marcuse, que se posicionam sobre à chamada “virada empírica”� da Filosofia da tecnologia.
 A trajetória filosófica de Jonas pode ser dividida em três momentos estreitamente interligados: o primeiro ocorre na elaboração de uma tese sobre a gnose no cristianismo primitivo, estudo que também o ajudou em sua compreensão e análise sobre a técnica moderna. No segundo momento, Jonas fundamenta uma Filosofia da Biologia que é apresentada na sua obra The the phenomenon of life, toward philosophical biology, na qual realiza uma reflexão sobre a precariedade da vida e mostra o alcance filosófico dessa abordagem da Biologia (cf. BINGEMER in JONAS, 2006, p. 17) e em que medida a História da ciência moderna seria a história de um equivoco sobre a interpretação do fenômeno da vida. Nesta fase, Jonas propõe uma inversão na forma de repensar a vida, afirmando a a espécie humana não pode ser entendida desvinculada das outras formas de existência e reduzida ao âmbito material. Partindo desta formulação, Jonas chega ao seu terceiro momento no qual busca bases para uma nova ética: esta nova formulação traz como ponto fundamental a questão da responsabilidade, ou seja, a proposta é tornar a natureza objeto da responsabilidade humana, ampliando assim o campo tradicional da ética. Esta necessidade surge da ameaça da própria ação humana por meio dos avanços tecnológicos que estabelecem a vulnerabilidade da natureza. Na apresentação do seu livro O princípio responsabilidade. Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica, encontra-se a justificativa para esta nova formulação:
Em tempos como os que vivemos, quando vemos o ser humano e o planeta perigosamente ameaçados, a reflexão de Hans Jonas é extremamente pertinente e iluminadora. Só uma ética que nos responsabilize a todos pode cumprir o papel de apontar os valores e os fins a serem perseguidos e utilizar os meios como aquilo que realmente são, sem transformá-los em fins em si mesmos (BINGEMER, in JONAS, 2006, p. 17).
É neste contexto, marcado por transformações tecnológicas, que Jonas propõe um estudo desta nova forma de poder adquirido pela humanidade. Seu trabalho em relação à Filosofia da tecnologia tem como principal objetivo elaborar uma reflexão ética sobre o uso da técnica e suas consequências futuras, realizando, para isso, um diagnóstico do cenário tecnológico da era pré-moderna e moderna. O objetivo de Jonas tem como fundamento uma teoria da responsabilidade voltada para o futuro, assim, realiza uma análise descritiva da técnica, “pela qual ele almejou obter analiticamente alguns aspectos que explicam a dignidade filosófica do problema” (OLIVEIRA, 2012, p. 5).
Jonas, analisando e descrevendo as características da técnica moderna, percebe que ela provocou alterações extremamente relevantes na forma como o homem vive, ou seja, o próprio “existir humano” passou por grandes mudanças, todas elas motivadas pelas promessas realizadas por aquele que é considerado um dos fundadores da ciência moderna (Francis Bacon) e pelo consequente surgimento de utopias relacionadas ao progresso da ciência e da tecnologia a partir do século XVII. O pensamento de Hans Jonas segue com a tematização de assuntos abordados por outros autores da filosofia contemporânea, como por exemplo, as implicações da técnica para a sociabilidade, tema tratado pelos autores da Escola de Frankfurt, que teve Theodor Adorno como um dos principais pensadores. Para Adorno a industrialização da cultura e a educação dominada pelos meios de comunicação formam indivíduos apáticos, e através do constante desenvolvimento da técnica, levaria à "coisificação" do indivíduo e à "consciência coisificada" (ADORNO, 1995. p. 115) Esse fato justifica uma das principais características do homem moderno: a indiferença referente às ameaças, perigos e situações que podem perder o controle, como por exemplo, a explosão das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki , na qual técnica foi utilizada de forma desastrosa do domínio da necessidade. Em 6 de agosto de 1945 caiu a primeira bomba atômica em Hiroshima e três dias depois a segunda bomba atômica em Nagasaki. Foram quase 200 mil mortos nestes que foram os piores e mais cruéis ataques de todos os tempos. Esse é um exemplo usado por Jonas para demonstrar que o homem com a tecnologia em seu favor passa a ser ameaça para a continuidade da Vida. Dessa forma, a humanidade necessita de princípios que abordem, no existir humano, preocupações que passam despercebidas, como por exemplo, a preocupação de zelar pelo futuro da uma humanidade e de todas as formas de vida. 
Isso significa que temos de estar vigilantes não tanto em relação ao direito dos homens do futuro – o seu direito à felicidade (um critério precário, dada a incerteza inerente ao conceito de felicidade), mas em relação ao dever desses homens futuros, ou seja, o dever de ser uma humanidade verdadeira: com a alquimia da nossa tecnologia utópica, podemos lhes subtrair a capacidade e cumprir esse dever e até mesmo a capacidade de se atribuir esse dever. Zelar por isso, tal é nosso dever básico para com o futuro da humanidade, a partir do qual podemos deduzir todos os demais deveres para com os homens futuros (JONAS, 2006, p. 93).
Jonas demonstra, assim, uma preocupação com o futuro, sobretudo referente à continuidade da vida no planeta, pois todas as formas de vida, inclusive a dos seres humanos, passam a ser ameaçadas pelos avanços tecnológicos humano, uma vez que na mesma proporção em que cresce a força de transformação da natureza por meio da tecnologia aumenta o perigo de descontrole. É a partir desta preocupação que Jonas busca realizar sua análise descritiva da técnica, na qual elabora dois conceitos que são fundamentais para entender a sua preocupação em fundamentar uma teoria que ofereça suporte para uma mudança no agir humano: trata-se dos conceitos de magnitude e de ambivalência, os quais resumem o novo poder da técnica moderna. Esses dois conceitos “estão intimamente ligados ao seu [do homem] fazer e produzir e é essa união que lhe doa novas dimensões espaço-temporais, novos conteúdos e formas quantitativa e qualitativamente significativas” (OLIVEIRA, 2012, p. 5).
Por meio desses conceitos, Jonas analisa a técnica moderna como poder de intervenção, que apresenta uma ação diferenciada em relação ao que ocorria em período pré-moderno, no qual a técnica não alterava a natureza de forma significante. Essa constatação motiva o autor a realizar um exame moral a fim de elaborar bases para uma nova ética e fundamentar o princípio da responsabilidade�, “uma vez que a técnica moderna introduziu ações de uma tal ordem inédita de grandeza, com tais novos objetos e consequências, que a moldura ética antiga não consegue mais enquadrá-la” (JONAS, 2006, p. 39). Com essa afirmação Hans Jonas não pretende romper com os legados éticos do passado: sua intenção, é fornecer novos elementos para a ética, que possam ajudar na reflexão das ameaças do agir humano trazidas pela ascensão da técnica moderna.
A Razão pela qual Jonas Considera a Técnica Moderna um Tema Filosófico
Em sua obra Técnica, Medicina y Ética, Jonas demonstra porque a técnica moderna pode ser objeto de estudo da Filosofia. Nessa obra, o autor expõe as grandes mudanças no agir humano decorrentes do advento da técnica moderna. As dimensões ligadas à vida humana foram, segundo o autor, de forma geral atingidas pelas novidades da técnica moderna que passa a ser uma questão própria da existência humana e, nesses termos, passa a se constituir como um problema filosófico de primeira grandeza. Nas palavras de Jonas:
Dado que hoje em dia a técnica alcança tudo o que diz respeito ao ser humano, vida e morte, pensamento e sentimento,desejos e destinos, presente e futuro, em resumo se convertem em um problema central da existência humana sobre a terra, é um assunto da filosofia (JONAS, 1997, p. 13). 
Segundo o autor, a técnica torna-se um problema filosófico porque ela representa uma força de transformação em diversas áreas da humanidade como, por exemplo, a comunicação, locomoção, produção de alimentos, saúde e, sobretudo, na relação entre o homem e a natureza, que passa a ter uma perspectiva de dominação, transformação e destruição.
Para Jonas, a técnica moderna pode ser apresentada a partir de duas perspectivas: aquela que ele chama de dinâmica formal e outra, chamada de conteúdo substancial. A sua Filosofia da tecnologia, portanto, passa pela análise dessas duas perspectivas.
O primeiro tema formal contempla a tecnologia como um conjunto abstrato de um movimento; o segundo contempla seu múltiplo uso concreto e seu efeito sobre nosso mundo e nossa vida. O acesso formal quer reconhecer as condições do processo, permanentes com as quais a moderna tecnologia rompe mediante nossa ação, naturalmente acima da novidade seguinte e superadora em cada momento. O acesso material quer examinar as formas de novidade da mesma, tentar classificá-las e obter uma imagem dos aspectos do mundo equipado por elas (JONAS, 1997, p. 15).
Jonas explica que a primeira se apresenta como um conjunto de formas abstratas com um movimento próprio que avança num esforço de constante auto-superação. Ou seja, a técnica torna-se um movimento continuado indiferente das necessidades da humanidade. Passa a representar um poder autônomo sobre a vontade humana. Esta dinâmica formal faz com que os limites não sejam respeitados. Em outras palavras a técnica passa a buscar sempre o novo seguindo a ideia de que “pode haver um progresso ilimitado, porque sempre haverá algo novo e melhor que possa ser encontrado” (JONAS, 1997, p. 22).
A segunda, chamada de conteúdo substancial, refere-se ao conteúdo material da técnica, ou seja, está ligada aos fatores de uso dos seres humanos, os quais interferem, portanto, na formulação da conduta humana a partir de um “conteúdo” próprio: os objetos da técnica que se espalham pelas mãos humanas. O acesso aos produtos da técnica, tornaram-se possíveis graças a uma sucessão de avanços que ocorrem em diferentes áreas, como por exemplo: mecânica, química, eletricidade, e a biotecnologia. Todas estas áreas passam a produzir utensílios equipando os homens, aumentando seu poder de dominação sobre a natureza. Para Jonas, (JONAS, 1997, p. 15) a técnica em sua dimensão substancial deu a humanidade o poder de interferir em todas as estruturas do planeta.
Diante da constatação dessas características próprias da técnica moderna (dinâmica formal e conteúdo substancial), surge o questionamento: qual é a distinção entre a técnica antiga (pré-moderna) e a técnica moderna? O conceito amplo de técnica, compreendido como uso de ferramentas e meios artificiais em benefício da vida, seria ainda suficiente para a definição da complexa forma de apresentação da técnica moderna? A resposta de Jonas para essas questões é, em geral, negativa (JONAS, 1997, p. 13), pois houve uma alteração importante entre o momento chamado pelo autor de “técnica pré-moderna” e as suas novas manifestações no período moderno.
A técnica pré-moderna� é apresentada por Jonas como vocação da humanidade. Tomada como tal, na Antiguidade ela estava ligada à satisfação de necessidades em vista da continuidade da espécie e representava, portanto, um meio com um grau finito de adequações com fins próximos, claramente definidos (JONAS, 2006, p. 43).
Segundo o autor, revoluções e renovações técnicas sempre ocorreram durante a História: os povos antigos buscavam renovar as ferramentas e as formas de transformar a natureza a seu favor, porém, os objetivos eram solicitados pela necessidade de sobrevivência da espécie. Desta forma, os avanços da técnica antiga, na perspectiva jonasiana “sempre ocorreram mais por casualidade que por intenção” (JONAS, 1997, p. 13). As ações humanas se limitavam apenas a satisfazer aquilo que era imposto pela natureza, de forma que as inovações técnicas não ameaçavam a continuidade de vidas futuras e o meio natural. Neste contexto, não havia a necessidade de questionar a vulnerabilidade da natureza, muito menos a preocupação com a impossibilidade de vidas futuras. Em outras palavras, diante da mínima violação da natureza por meio das técnicas antigas, o homem nunca pensou em ter que renunciar, ou minimizar as suas técnicas em nome de gerações futuras, pois, aos seus olhos os recursos naturais eram renováveis, sendo assim, infinitos. A humanidade, antes da técnica moderna, vislumbrava um horizonte que se reconstruía naturalmente a cada dia, sendo que as intervenções técnicas não produziam efeitos com profundidade e longitude por que o homem sentia-se integrada ao meio ambiente. Em suma, a natureza era alterada com sutileza muitas vezes conseguia reconstruir-se antes de novas intervenções.
Porém, com o surgimento da ciência moderna, houve uma mudança nesse cenário: ao contrário do que ocorria na era pré-moderna, percebe-se que a técnica avança sempre em direção a uma constante superação, ou seja, busca-se incansavelmente sempre novos meios para a transformação de fatores naturais em benefício da humanidade. No momento em que ocorre sucesso neste processo se constituem novas razões para outros passos em todas as direções possíveis (JONAS, 1997, p. 18). A técnica moderna desenvolve uma dinâmica própria de inovação e de superação, de forma que uma conquista surge com uma nova necessidade de continuidade, sempre enfatizando o lado positivo das descobertas. Para Jonas, então, esse êxito das descobertas prefigura o grande impulso para a continuidade inacabável da técnica: o sucesso das inovações impulsiona novas pesquisas e assim por diante. Desta forma, o que motiva o avanço tecnológico é a difusão rápida das inovações técnicas, como explica Jonas:
Cada inovação técnica está segura de difundir-se com rapidez pela comunidade tecnológica, como ocorre também com os descobrimentos teóricos nas ciências. A difusão tecnológica se produz, com escassa diferença temporal, tanto no plano do conhecimento quanto a apropriação prática: o primeiro vem se garantindo pela intercomunicação universal, por sua vez conquista complexo tecnológico; segundo, forçado pela pressão da competição (JONAS, 1997, p. 18).
Entretanto, a difusão imediata das inovações acarreta um empobrecimento na área do saber. Nos últimos anos, a revolução tecnológica atingiu a população em geral, inclusive na área da educação�. A informação passou a ser produzida com tal velocidade que é impossível um único ser humano absorver e assimilar todos os dados passados de forma momentânea pelos meios informativos, nesta perspectiva, o progresso pode ser relacionado com o tema: menos saber mais poder. A maioria das inovações técnicas são fabricadas para facilitar a vida humana, e para gerar lucros para empresas, buscando incansavelmente o poder do homem sobre as coisas extra-humanas. Essa afirmação, segundo Jonas causa um empobrecimento na busca do saber e da reflexão, sobretudo nas questões que dizem respeito ao futuro e às consequências do poder dado ao homem pela técnica moderna. “O saber torna-se um dever prioritário, mas além de tudo o que anteriormente lhe era exigido, o saber deve ter a mesma magnitude da dimensão causal do nosso agir” (JONAS, 1997, p. 41).
De acordo com Jonas, é necessário procurar o novo papel para o saber, ou seja, um saber que tenha como direção a instrução para o autocontrole diante do excessivo poder adquirido pelo homem. O homem é parte de um desenvolvimento progressivo que tem nele o seu auge, e é nele, portanto, "pelos maiores riscos vislumbrados, que se torna também visível a maior responsabilidade" (OLIVEIRA, 2010, p. 32).
Se o conhecimento e a própria educação são afetados pelas inovações tecnológicas, surge, segundo Jonas, a necessidade de reflexão filosófica,principalmente sobre a ideia de progresso�, que na atualidade se tornou um impulso que não é mais uma opção dos homens, mas é um movimento autônomo, que permeia todo o agir humano. Dito de outro modo, não se pode fugir da ideia de progresso, uma vez que esta ideia encontra-se no interior das famílias, escolas, empresas e demais instituições sociais. Para Jonas este movimento resiste à vontade humana e se caracteriza como um “impulso” de cunho automático: 
O progresso não é um enfeite da técnica moderna, nem tão pouco uma mera opção oferecida por ela, que podemos exercer se queremos, mas é um impulso inserido nela mesma, além da nossa vontade, repercute no automatismo formal de seu modus operandi; e sua oposição com a sociedade que o desfruta (JONAS, 1997, p. 19).
Desta forma, o progresso é inevitavelmente imposto ao agir humano de forma que, indiferente dos acertos ou erros, a pesquisa científica continua com objetivos utilitaristas e indefinidos, ou seja, apenas no momento em que uma pesquisa não oferece mais nenhuma possibilidade de pretensa evolução de lucratividade ou de melhorias na vida dos homens, ela é abandonada.
A capacidade de produzir mais em vista de melhores condições de vida, menos sofrimento, exclusão da dor, mais facilidade, comodidade e agilidade são resumidos no termo progresso. A difusão desta ideia, entretanto, muitas vezes ocasiona a exclusão da reflexão sobre os riscos que acompanham este movimento progressivo, e muitas questões são esquecidas, como: Quais são os riscos à natureza e ao homem? Quais são as calamidades futuras que podem acontecer? E a questão fundamental: quais são os valores que indicarão a direção desse progresso? Não se trata, portanto, de posicionar-se contra o progresso simplesmente, mas de evitar que o seu impulso evolua de forma descontrolada (sem reflexão ética) e que seu êxito contínuo coloque a vida em risco.
Para Jonas (JONAS, 1997, p. 21), tais questões são encobertas pelas imposições e impulsos acerca do progresso técnico, que têm uma explicação causal, chamada por ele de forças motrizes, a pressão da competição humana (benefício, poder, segurança e prestígio), como um perpetuum movens (apropriação universal das melhorias técnicas). Essas cobranças e pressões que são exercidas sobre as melhorias humanas são motivadas por interesses econômicos, ou seja, grandes grupos aproveitam a ideia de progresso tecnológico e se apropriam dos utensílios produzidos por inovações tecnológicas transformando-os em mercadorias. Desta forma, há uma pressão em tornar rápido o acesso às inovações tecnológicas, pois o grupo que consegue em menos tempo disponibilizar uma nova ferramenta tecnológica sempre está em vantagem de uma competição que não tem limites, E isso pode ser percebido quando grandes grupos empresariais e grandes marcas, que outrora eram concorrentes, acabam juntando-se para obter maior poder econômico.
Além do impulso econômico, Hans Jonas menciona outro fator que impulsiona o progresso tecnológico: este fator é a dominação e O controle das grandes áreas da sociedade como a comunicação, a informação e o transporte, que necessitam de tecnologia avançada para progredirem. Esta ideia surge claramente em seu texto Técnica, Medicina y Ética:
Menciono um fator também não econômico de estímulo tecnológico: as necessidades de domínio ou “controle” dos grandes e povoados estados de nosso tempo, esses gigantescos superorganismos territoriais que dependem para a sua mera coesão de uma técnica avançada (por exemplo, nos campos da informação, da comunicação e do transporte) e têm, portanto, interesse em seu desenvolvimento; tanto mais quanto mais centralistas forem. Naturalmente isso vale tanto para sistemas socialistas quanto sociedades de livre mercado (JONAS, 1997, p. 21).
Com os impulsos mencionados por Jonas, o progresso tecnológico se fortalece em poder, porém se fragiliza em reflexões e questionamentos acerca de seu verdadeiro objetivo, ou seja, o que o sustentará no futuro? Quais serão as novas dimensões da humanidade que vão explorar na tentativa ininterrupta de evolução? Diante da ameaça de esgotamento de recursos naturais, conseguirá o homem sempre ter técnicas meios para corrigir seus próprios erros?
Para Jonas, o progresso científico não ocorre de forma desligada do progresso técnico (este não é um subproduto daquele): a ciência passa a demandar uma “tecnologia cada vez mais refinada e fisicamente forte como ferramenta que se produz a si mesma” (JONAS, 1997, p. 23). A tecnologia é o apoio para que a ciência avance, principalmente no que tange ao desenvolvimento de seus aparatos técnicos. “Trabalhando no mundo” a tecnologia fornece à ciência a possibilidade de ampliar o seu campo de experiências o que, por sua vez, gera novas perguntas e novos desafios, segundo Jonas, num “circuito sem fim” (JONAS, 1997, p. 23). Com o crescente poder do progresso tecnológico, a técnica e a ciência se inter relacionam programadas para o uso excessivo da natureza. "Em resumo, há entre ambas uma mútua relação de feedback que as mantém em movimento; cada uma necessita e impulsiona a outra” (JONAS, 1997, p. 23). Sendo assim, da união indissolúvel que ocorreu entre técnica e ciência modernas desenvolve-se a ascensão da tecnologia como uma das tarefas principais da vida humana: “o progresso do homem se estende como avanço de poder à poder” (JONAS, 1997, p. 24). Para o autor, há um elemento de “infatigabilidade” da relação entre ciência e técnica que leva ao progresso infinito de seu trabalho: é isso o que alimenta a dinâmica da tecnologia. Jonas cita a existência um “eros teórico” (JONAS, 1997, p. 23) que não se alimenta mais “do delicado apetite pela verdade” senão que “é animado por seu rebento mais robusto, a técnica, que lhe transfere impulsos desde o campo de batalha, mais amplo, esforçado e vigoroso, da vida”. (JONAS, 1997, p. 23). Entre ciência e técnica, portanto, há uma retroalimentação que favorece a sempre crescente marcha do progresso.
Este impulso às novas tecnologias é possível pela evolução da ciência em suas novas formas de poder: mecânica, química, eletrodinâmica, física nuclear, biologia - estas novas formas representam concretamente a dinâmica material da técnica, ou seja, são as formas concretas que o homem recebe da ciência e técnica modernas. Nesta perspectiva surge o questionamento: como ocorreu a evolução dessas novas formas de poder? Segundo Jonas, essas novas formas de poder passam por fases, que se inicia no século XVII, passa pela Revolução Industrial no final do século XVIII, pelo surgimento da mecânica e a era das máquinas, até a tecnologia atômica e a biotecnologia dos séculos XX e XXI. Na sua fase inicial, a intenção da tecnologia era apenas substituir a força do trabalho humano, sendo assim, ainda assemelhava-se aos objetivos da técnica antiga, pois estava a serviço das necessidades básicas e isoladas de cada localidade, como alimentação, e transporte. Porém, com o avanço da mecânica e o surgimento de novas máquinas ocorre um fenômeno: as próprias máquinas representam uma nova indústria, ou seja, passaram a depender de outras máquinas para sua fabricação e manutenção posterior, iniciando uma dinâmica de dependência de novas técnicas, tendo como principal característica um desenvolvimento não mais linear, como em tempos passados, mas adquire um crescimento exponencial. Hans Jonas exemplifica este fenômeno nas seguintes palavras:
As bombas de água movidas a vapor facilitaram a extração do carvão, porém exigiram carvão extra para esquentar suas caldeiras, mais carvão para os altos fornos e forjas que fabricam essas caldeiras, mais para extrair o necessário mineral de ferro, mais para o transporte dos fornos, mais de ambas coisas: carvão e ferro, para os necessários trilhos das locomotivas que se fabricam nos mesmos fornos ... dessa forma, o desenvolvimento de modo algum seria linear, sendo uma intrínseca rede de reciprocidade, tem sido desde então próprio da técnica moderna um crescimento exponencial (JONAS, 1997, p.25-26).
Percebe-se pela exemplificação, que a partir do momento em que as máquinas superam sua primordial finalidade (diminuir o esforço nas atividades humanas), passam a exigir novas necessidades causando um aumento considerável no consumo de bens e reservas naturais, para a produção e o beneficiamento do produto final.
Do aperfeiçoamento da fabricação, chega-se a outra fase da evolução destas novas formas de poder: é a evolução da transformação de substâncias que é proporcionado pela química. Esta fase iniciou-se, segundo Jonas, com a produção dos famosos corantes sintéticos, depois pelas fibras têxteis sintéticas, avançando para novas substâncias nas quais não é usada nenhuma substância natural. Este fator é perceptível na atualidade quando, analisando as estatísticas, percebe-se que existem mais de 4,5 milhões de substâncias químicas� transformadas pelo homem e muitas das quais são espalhadas no meio ambiente. O que esse número comprova é a tendência da tecnologia em substituir o natural pelo artificial, uma ideia que aparece claramente nos escritos de Hans Jonas:
A diferença entre o artificial e o natural desapareceu, o natural foi tragado pela esfera do artificial; simultaneamente, o artefato total, as obras do homem que se transformaram no mundo, agindo sobre ele e por meio dele, criaram um novo tipo de natureza (JONAS, 2006, p. 44).
Desta forma, as transformações realizadas na natureza pelo homem, possibilitadas pelos avanços das substâncias químicas, se alastraram por toda a esfera extra-humana, fator este que traz, segundo o autor, uma dinâmica totalmente nova, pois até então, a natureza era entendida como renovável com uma totalidade imperecível, algo que na atualidade pode ser contestado por números e estatísticas que mostram que os recursos naturais são finitos e que a natureza é vulnerável. Sendo assim, questões que dificilmente eram refletidas sobre preceitos morais, na atualidade exigem ser pensados sob uma análise filosófica, sobretudo, quando o que está em perigo é a existência de um mundo para as próximas gerações.
Na explanação das fases de novas formas de poder oriundas da interação entre ciência e técnica, chegamos ao momento em que as próprias máquinas (que surgiram da necessidade de diminuir o esforço humano) se transformam em bens de uso individual e doméstico. Este fenômeno ocorre em várias áreas como transporte, comunicação, saúde, educação, nas quais as máquinas tornaram-se populares a partir de interesses econômicos. Nesta fase, segundo Jonas, as “máquinas passam a atingir os sentidos e a própria espiritualidade, por sua produção imaterial, dirigida à consciência” (JONAS, 1997, p. 28): esse fator tem relevância motivado pela ideia de diminuir a necessidade da força muscular e minimizar a fadiga do trabalho. 
De acordo com Jonas, o aumento do poder concedido ao homem através da união entre ciência e técnica tem um ponto decisivo com a eletricidade, que representa uma força universal da própria natureza, porém imaterial, incorpórea e invisível, sendo que o homem, por meio de técnicas, consegue materializá-la a seu favor, tornando assim a sua utilização prática. Sua primeira utilização foi com a telegrafia, sendo que pouco depois passou a ser usada para mover máquinas e para a produção térmica de luz. Em seu texto Técnica Medicina y Ética, (capitulo I) Jonas explica porque a eletricidade ganhou facilmente espaço como um novo poder da humanidade:
Sua distinção consistia em sua mobilidade única, a facilidade de sua transmissão e distribuição: uma realidade imaterial, sem volume e peso; transportada instantaneamente e através de qualquer distância até o ponto de consumo. Antes não havia nada similar na forma do homem tratar a matéria, em espaço e tempo (JONAS, 1997, p. 28).
Com todas estas qualidades, a eletricidade tornou-se um ponto fundamental na estruturação do poder buscado pelos homens, sobretudo quando foi descoberta a eletrônica, pois um dos fatores mais revolucionários desta descoberta é a possibilidade de transmissão elétrica de informações. Com isso, acontece uma verdadeira revolução técnico-científica, pois com essa técnica é possível transmitir dados abstratos, cálculos, imagens, sem restrições de distância, fenômeno esse que fica perceptível na tecnologia espacial de satélites, os quais perpassam as esferas planetárias e nos mandam informações permanentes de fora do nosso planeta. Segundo Hans Jonas (JONAS, 1997, p. 29) , as técnicas de energia e química estão mais ligadas às necessidades naturais do ser humano como alimentação, locomoção e as técnicas de comunicação, por sua vez, além das necessidades naturais, estão ligadas à necessidade de informação e controle� da humanidade.
Todos estes fatores discutidos estão relacionados com questões extra-humanas, ou seja, àquilo que está diante da humanidade e, por sua vez, é modificado para sua utilização. Além disso, a união entre ciência e técnica também possibilitou evoluções na área da biologia por meio da biotecnologia�. Nesta fase da evolução percebe-se, porque Jonas considera a técnica moderna um tema filosófico, pois nesta evolução da técnica a transformação ultrapassa a dimensão extra-humana e chega até a manipulação da vida, inclusive da vida humana. Dessa forma, se antes o poder de transformação e de manipulação estava agindo sobre a natureza, com a evolução da técnica moderna a própria natureza humana sofre influência desta dinâmica formal da técnica, ou seja, o próprio homem torna-se objeto da capacidade de manipulação – e, nesse caso, os perigos e riscos se ampliam consideravelmente. Todas estas novas formas de poder do homem refletem o que pode ser chamado de tecnologia.
Para Jonas a técnica moderna tem uma dinâmica própria que constitui o modus operandi da sociedade tecnológica. É por representar um modo próprio de ação e de intervenção do homem que a técnica se torna um problema filosófico: “somos tentados a crer que a vocação dos homens se encontra no contínuo progresso desse empreendimento, superando-se sempre a si mesmo, rumo a efeitos cada vez maiores.” (JONAS, 2006, p. 43). O que ocorre é uma mudança na própria vocação do homem: de homo sapiens ele retornaria à sua condição de homo faber. Na evolução da humanidade a partir do desenvolvimento de técnicas e do uso de ferramentas surgem características que distingue o homem dos animais: "Homo faber mero produtor e usuário de ferramentas e o Homo Sapiens, homem do conhecimento" (JONAS, 2006, p 44) que tem um cérebro mais desenvolvido, com inúmeras capacidades como o raciocínio abstrato, a linguagem, e a resolução de problemas. Jonas no Princípio Responsabilidade alerta que a partir do domínio tecnológico a humanidade passa a utilizar técnicas e ferramentas sem reflexões filosóficas agindo com uma postura do Homo Faber. Em outras palavras, por meio da técnica moderna e da pouca reflexão filosófica sobre o seu poder, o homem retornou a sua ancestralidade em sentido negativo, quando ainda era capaz apenas de fabricar ferramentas. Essa constatação é evidente:
Assim, o triunfo do homo faber sobre o seu objeto externo significa, ao mesmo tempo, o seu triunfo na constituição interna do homo sapiens, do qual ele outrora costumava ser uma parte servil. Em outras palavras, mesmo desconsiderando suas obras objetivas, a tecnologia assume um significado ético por causa do lugar central que ela agora ocupa subjetivamente nos fins da vida humana (JONAS, 2006, p. 43).
No momento em que o Homo faber domina o Homo sapiens ocorre uma interferência do produzir no campo do agir, ou seja, altera-se a sua aptidão: de pensador, consciente de sua ação (animal racional) ele volta a compartilhar com os animais, parte de sua identidade de fazedor e usuário de coisas. Surge então a necessidade de uma reflexão filosófica provocando a necessidade do limite e da renúncia em relação ao uso de certas tecnologias. O medo seria uma forma de frear a compulsão e a onipotência prometeana de considerar o conhecimento científico ilimitado (ZANCANARO,1998, p. 57). que leve o a humanidade a agir de forma ponderada na esfera do produzir.
		Considerações Finais 
	
	Analisando os escritos de Jonas, percebe-se que a sua principal preocupação é com a continuidade da vida de forma geral. Seu estudo sobre técnica, sobretudo no que tange ao diagnóstico da transformação que diferencia a técnica antiga e a técnica moderna, leva-o a compreender que a continuidade da vida futura está ameaçada pela magnitude e pela ambivalência da técnica moderna, tornando-se um problema filosófico.
	Portanto, Jonas compreende que deve justificar a técnica como objeto da filosofia. Tal justificativa é fundamentada pelo autor em sua afirmação de que todas as dimensões ligadas à vida humana, vida e morte, pensamento e sentimento, desejos e destinos, presente e futuro foram, afetadas pelas novidades da técnica moderna, que passa a ser uma questão própria da existência humana e, nesses termos, passa a se constituir como um problema filosófico de primeira grandeza. 
REFERÊNCIAS
ADORNO, T.W, A educação após Auschwitz. In Palavras e Sinais. Modelos Críticos 2. Tradução de Maria Helena Ruschel. Petrópolis. Vozes, 1995 
BRITO, Gláucia da Silva. Educação e novas tecnologias: um re-pensar. Curitiba: Ibpex, 2008.
CUPANI, Alberto. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientstudia, São Paulo, v. 2, n. 4, p. 493-518. 2004.
DUPAS, Gilberto. O mito do progresso. São Paulo: Unesp, 2006.
FONSECA, Lilian Simone Godoy. Hans Jonas e a responsabilidade do homem frente ao desafio biotecnológico. 468 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Minas Gerais, 2009. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843 /ARBZ-7X4FBC>. Acesso em: 18 novembro. 2014.
	
JONAS, Técnica, medicina y ética: la práctica del principio responsabilidad. Trad. Carlos Fortea Gil. Barcelona: Paidos, 1997. 
______. O princípio da responsabilidade: ensaio de uma ética para civilização tecnológica. Contraponto Editora, PUC Rio, 2006.
______. Frontiere della vita, frontier della tecnica. Bologna: Società Editrice Il Mulino, 2011.
OLIVEIRA, Jelson Roberto. A transanimalidade do homem: uma premissa do princípio responsabilidade. In: Dissertatio - Revista do Departamento de Filosofia da UFPel, Pelotas, n. 32, p. 77- 97. 2010.
______. Da magnitude e ambivalência à necessária humanização da tecnociência segundo Hans Jonas. In: Cadernos IHU ideias, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Usinos, Rio Grande do Sul, Ano 10, n. 176. 2012.
______. Por que uma ética do futuro precisa de uma fundamentação ontológica segundo Hans Jonas. In: Rev. Filos. Aurora, Curitiba, v. 24, n. 35, p. 387-416, jul./dez. 2012.
_____, Jelson Roberto. Compreender Hans Jonas. Petrópolis: Vozes 2014 (série compreender)
�. A “era das incertezas” é o título de um livro do economista canadense John Kenneth Galbraith que analisa e compara as grandes certezas do pensamento econômico do século XIX com as incertezas com que os problemas foram enfrentados no século XX.
�. Encontra-se em Theodor Adorno (1903-1969), Peter Singer (1946), Edgar Morin (1921), Gilbert Hottois (1946) dentre outros, esforços paraum entendimento plausível desse problema. Martin Heidegger que evidencia em suas obras uma forte preocupação com o lugar que a técnica alcançou na vida humana nos últimos séculos. Pensando – Revista de Filosofia, v. 1, n. 2, 2010 ISSN 2178-843X.
�. Conforme a sugestão de Hans Archterhuis, organizador da obra que cunha a expressão: American Philosophy of Technology‬: The Empirical Turn‬ da qual participariam autores como Andrew Feenberg, Albert Borgmann, Hubert Dreyfus, Donna Haraway, Don Ihde e Langdon Winner.
� Jonas fundamenta uma nova abordagem do conceito de responsabilidade no seu livro 'Princípio Responsabilidade ensaio de uma ética para civilização tecnológica', no qual, utiliza dois exemplos para explicar o novo tipo de responsabilidade que é necessário para civilização tecnológica. Primeiro usa a responsabilidade do pai em relação ao filho, em segundo a responsabilidade de um governante em relação aos cidadãos de um Estado, em ambos, a responsabilidade entendida é de forma ampla. Para Jonas a responsabilidade é um princípio que tem como objetivo "evidenciar que o ser humano de agora é responsável tanto pela natureza quanto pela humanidade futura. Cabe a ele a responsabilidade pela continuação da vida" ( OLIVEIRA, 2014, p.144).
�. A técnica pré-moderna, podia ser considerada neutra em relação ao mundo extra-humano, ou seja, “porque a arte afetava superficialmente a natureza das coisas, que se preservava como tal, de modo que não se colocava em absoluto a questão de um dano duradouro ao objeto e a ordem natural em seu conjunto”. (JONAS, 2006 p. 35). Em outras palavras, a técnica estava ligada à necessidade e não a um fim em si mesma.
� A explosão de novidades tecnológicas atingiu todas as esferas da sociedade. Na esfera da comunicação, sobretudo, essas transformações atingem também de maneira acentuada a produção e as organizações industriais, visando a comercialização dos produtos produzidos pela tecnologia avançada. Sendo assim, a educação não escapa destas transformações, pois estas novidades modificam as mediações pedagógicas e metodológicas no processo educativo. Segundo Brito, a tecnologia vai muito além de meros equipamentos. Ela permeia toda a nossa vida, Assim, as tecnologias são classificadas didaticamente por Sancho em três grandes grupos: Físicos - São inovações físicas, tais como: caneta esferográfica, livro, telefone, aparelho celular, satélites, computadores. Organizacionais - São as formas como nos relacionamos com o mundo e como os diversos sistemas produtivos que estão organizados. Simbólicos- Estão relacionados com a forma de comunicação entre pessoas, desde o modo como estão estruturados os idiomas escritos e falados até as redes sociais de comunicação (BRITO, 2008, p. 32).
�. O que definitivamente consolidou a ideia contemporânea de progresso foi a revolução provocada por Darwin com sua Origem das espécies, publicada após muita hesitação em 1859. Galileu já havia abalado definitivamente a ideia narcisista e onipotente da Terra e do homem como centros do universo. Agora, mais uma degradação: o homem seria uma criação original de Deus, mas teria evoluído a partir do macaco; e só prometia um eventual futuro melhor por meio da evolução. A partir daí, e até um pouco antes do início da Segunda Guerra, o mundo produziu uma vasta literatura em ciência social em que o progresso era sempre suposto como axioma. A ideia de progresso permeou a quase totalidade da obra de Hegel, estruturada sobre a dialética. Finalmente, Marx também acreditou profundamente no progresso histórico e inexorável da humanidade (DUPAS, 2006, p. 32).
� DISPONÍVEL EM Química Nova: All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License – SBQ. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.phpscript=sci_serial&pid=0100-4042&lng=en&nrm=iso->. Acesso em: 28 nov. 2012.
� Jonas, quando aponta para este terma “controle da humanidade, refere-se à manipulação, ao controle psíquico por meio de agentes químicos ou pela intervenção direta por meio de implantação de elétrons” estes procedimentos podem ter como finalidade o controle de comportamento da humanidade e “manipulação social” (JONAS, 2006, p. 60).
� De Acordo com Lilian Fonseca, "embora a palavra biotecnologia tenha sido usada pela primeira vez, somente em 1919 por Karl Ereky - um engenheiro agrícola da Hungria -[...], as primeiras aplicações biotecnológicas pelo ser humano são muito antigas. Há fontes que datam de 1800 a.C., com o uso de leveduras (organismos vivos) para fermentar vinhos e pães, produzindo especialmente alimentos" (FONSECA, 2009, p. 24). Mesmo diante destes resquícios de que a aplicação da biotecnologia tenha suas origens na Antiguidade, ela teve notoriedadena segunda metade do séc. XX. Foi neste período que ela "passou a ser utilizada também em diferentes instituições científicas ocidentais para designar as técnicas de laboratório desenvolvidas em pesquisa biológica, ligadas aos processos de DNA recombinante ou à cultura de tecidos. (FONSECA, 2009, p. 25). Segundo a autora, a definição sobre biotecnologia que deve ser privilegiada é a "mais precisa de biotecnologia moderna, que emprega a informação genética do DNA e incorpora técnicas de várias disciplinas biológicas a outras de diferentes áreas da ciência, todas visando sua aplicação com os mais diferentes fins" (FONSECA, 2009, p. 25). É diante da aplicação sobre diferentes fins que reside a ambivalência desta técnica aplicada pela humanidade, pois tais aplicações podem futuramente afetar a constituição humana. Como afirma Fonseca: "algumas técnicas biológicas, como a manipulação de DNA, a produção de embriões humanos em laboratório, a clonagem para utilização em transplantes, a terapia gênica a manipulação de células germinativas a seleção de características genéticas (eugenia) nas primeiras divisões celulares no processamento da fecundação assistida, o diagnóstico precoce de doenças hereditárias tardias e cálculos atuariais nas empresas de seguro ou de emprego são apenas alguns exemplos das várias aplicações já em curso. Alguns desses usos levantam problemas por poderem ferir a dignidade humana, outros porque implicam consequências imprevisíveis ou incontroláveis ou ainda porque seus resultados previsíveis oferecem mais riscos do que benefícios. Sendo assim, antes de se estabelecer a sua aplicação são ainda necessárias muitas pesquisas". (FONSECA, 2009, p. 28), é diante da possibilidade de prejuízos a própria humanidade que Jonas propõe reflexões éticas que vigiem qualquer movimento de manipulação a autenticidade da vida humana.

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