Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução do Campo da Tanatologia Profa. Mhariza Araújo 1 Tanatologia “É o estudo da morte e dos processos emocionais e psicológicos que envolvem a reação à morte, incluindo o luto e a perda”. VIDA É o equilíbrio, a homeostasia das funções vitais, funcionamento orgânico ideal. VIDA: tem a ver com amor, solidariedade, vigor, dignidade, construção de si mesmo e do mundo, criatividade, preocupação com o bem de si e dos outros. MORTE É a parada das funções vitais, que se instala com uma velocidade variável, não sendo um fenômeno momentâneo, súbito ou abrupto. MORTE: tem haver com ódio, destrutividade, inveja, competição ambiciosa, desrespeito, indignidade, corrupção, desumanidade, guerra. Quando a morte entra na vida do homem? Há correntes, com base na Bíblia, que dizem que a morte foi consequência do pecado da desobediência (Gên 3:19) e alguns teólogos entendem que a morte biológica ocorreria de qualquer maneira. A morte traz as seguintes questões ao pensamento humano: De onde viemos e para onde vamos? Será a morte o final da existência, ou somente transição, o final do corpo físico, a libertação da alma? Haverá outras vidas? Será a alma imortal? O corpo se mantém tal como o conhecemos? Será a nossa existência um caminhar para a evolução de cada ser? Chegaremos à perfeição divina? Como preparar pessoas para esse fato tão presente na existência? Considerando nossa existência terrena, quanto tempo viveremos e como será nossa vida? Teremos controle e poder sobre o nosso existir? Teremos o direito de saber sobre a nossa morte, como e quando será? Podemos nos preparar para esse momento? Por que pessoas jovens e saudáveis morrem antes de pessoas idosas? Por que pessoas adormecem e morrem no silêncio do sono, e outras lutam e se debatem até o último momento, com dores e sofrimentos atrozes? Por que pessoas se escondem da morte e não querem nem ouvir falar sobre o assunto? E por que outras riem, fazem piada sobre temas escatológicos? Por que tantos filmes sobre a morte, nos títulos ou na sua temática? Por que a morte exerce tanto fascínio sobre algumas pessoas, a ponto de seduzi-las? Por que é musa inspiradora de tantos: músicos, poetas, escritores, profissionais de saúde e educação? O tema da morte se torna interdito no século XX (Ariés, 1977). O desenvolvimento da tecnologia médica, os diagnósticos e tratamentos cada vez mais sofisticados trazem o prolongamento da vida, mesmo que seja sem qualidade, em especial entre os idosos. Paradoxalmente, a morte está cada vez mais perto das pessoas nos séc. XX e XXI, em função do desenvolvimento das telecomunicações que trazem notícias de epidemias, desastres naturais, guerras, desastres aéreos, etc A morte torna-se companheira cotidiana, invasiva e sem limites. Embora esteja tão próxima (real ou simbolicamente), reina uma conspiração do silêncio. Crianças e adolescentes convivem com essas imagens diariamente, ao mesmo tempo em que se tenta "poupá-los" para não os entristecer. A importância de enfocar o tema da morte está ligada ao fato de que, ao falar dela, estamos falando de vida e, ao falar de vida, pensamos na qualidade que devemos dar à nossa própria vida. Tanatologia: área de conhecimentos e de aplicação, envolvendo cuidados a pessoas que vivem processos de morte pela perda de pessoas significativas; processos de adoecimento; em decorrência de comportamentos autodestrutivos; suicídio; ou por causas externas: pela violência presente principalmente nos centros urbanos. Tipos Morte aparente: parece que a pessoa está morta, são quadros diversos que aparentam ou simulam a morte; era o estado conhecido de Catalepsia; Morte relativa: parada das funções respiratórias, circulatória e/ou nervosa, pode ser feita a reanimação. Morte absoluta: desaparecimento definitivo das atividades biológicas. Alguns autores falam de: Morte clínica: momento que ocorre a parada cardiorrespiratória, quando se pode intervir a modo de restabelecer as funções vitais. Morte cerebral: é a ausência total e irreversível da função do córtex e do tronco cerebral. Morte real: parada da atividade biológica de todas as células que ocorre em média, oito horas após a parada cardiorespiratória. Morte pode ser definida como sendo o cessar irreversível do: Funcionamento de todas as células, tecidos e órgãos; Fluxo espontâneo de todos os fluidos, incluindo o ar e o sangue. Funcionamento espontâneo de coração e pulmões; Funcionamento espontâneo de todo o cérebro, incluindo o tronco cerebral; Capacidade corporal da consciência. Nos EUA, a ADEC (Association for Death Education), fundada em 1970, é fonte importante de consulta na área da Tanatologia e tem os seguintes objetivos: (a) estabelecer redes de interação com profissionais que lidam com o tema; (b) promover encontros, workshops e material escrito para divulgar o assunto; (c) incrementar a educação para a morte e o preparo de profissionais para atuação na área. No Brasil as fontes de referência são: Laboratório de Estudos sobre o Luto na PUC/SP e o Laboratório de Estudos sobre a Morte no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, cujos objetivos são muito semelhantes aos da ADEC. Wilma Torres foi a primeira psicóloga brasileira que se dedicou à sistematização da área da Tanatologia no Brasil. Criou no Instituto de Pesquisas Psicossociais da FGV/RJ. Coordenou o I Seminário sobre a Psicologia e a Morte na FGV/ RJ, cujos resultados foram reunidos no livro Psicologia e morte. Em 1984, foi realizado em Minas Gerais, o I Congresso Internacional de Tanatologia e Prevenção do Suicídio, sob coordenação de Evaldo D’Assumpção, que resultou na publicação da obra Morte, suicídio, uma abordagem multidisciplinar (D’Assumpção, D’Assumpção, & Bessa, 1984). Na área da enfermagem cabe destacar os trabalhos de Magali Roseira Boemer e Elizabeth Ranier Martins do Valle, docentes da EERP da USP. Fernandes e Boemer (2005) trazem importante contribuição na questão da educação para a morte no livro “O tema da morte em sua dimensão pedagógica”. HISTÓRICO 1904: Willian Osler publica A Study of Death: uma discussão sobre os aspectos físicos e psicológicos da morte com o objetivo de minimizar o sofrimento das pessoas no processo de morte (Kovács, 2002)., abordava temas como suicídio, luto e eutanásia. 1982: Debates sobre o tema na reunião da Association for Death Education, na Suécia. 1987: Lançamento do periódico Omega, Journal of Death and Dying – histórico e primeiras avaliações sobre tanatologia. 1997: Kastenbaum & Costa apontam estudos sobre morte no livro Little Book of Life after Death (1836) de Fechner; um trabalho de William James sobre imortalidade e uma pesquisa de Stanley Hall (1915) sobre tanatofobia. A década de 60 é marcada por mudanças nos estudos sobre a morte trazidas por Kübler-Ross, que revolucionou o trabalho com pacientes terminais. A principal obra sobre cuidados com pacientes terminais é “Sobre a morte e o morrer”, em 1969. O termo tanatologia foi usado pela primeira vez por Maeterlink em estudos que falavam dos horrores da morte, as torturas e as memórias insuportáveis da dor. “O próprio viver é morrer, porque não temos um dia a mais na nossa vida que não tenhamos, nisso, um dia a menos nela”. Fernando Pessoa Soneto da Fidelidade (Vinicius de Moraes) De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento. E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
Compartilhar