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Direito Penal I_Aula 2

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Direito Penal I
Aula 2
Evolução Histórica do Direito Penal
Introdução
Origem -> organização do homem em sociedade.
Tempos primitivos -> ausência de normas penais sistematizadas. O castigo não visava a justiça, mas a vingança (revide = penas cruéis e desumanas).
Vingança Penal: divina, privada e pública.
Vingança Penal
Vingança divina: 
O homem percebia o mundo de forma mitigada (misticismos e crenças em seres sobrenaturais).
Acreditava-se que os acontecimentos decorrentes das leis da natureza (ventanias, chuvas, secas, etc.) eram provocados por divindades, que premiavam ou castigavam os homens pelos seus comportamentos.
Sociedades totêmicas: os totens eram divindades com poderes infinitos que exerciam influência direta na vida das pessoas. A pena (cruel e degradante) era imposta pelo grupo ao indivíduo que descumpria as regras (ofensa ao “totem”), uma vez que temiam a retaliação por parte da divindade.
Vingança Penal
Vingança privada:
O crime ensejava uma reação punitiva por parte da própria vítima ou de pessoas ligadas ao seu grupo social (deixa de ter relação com as divindades).
Diante da ausência de regulamentação, a reação era normalmente desproporcional à ofensa (em muitos casos ultrapassava a pessoa do delinquente – conflitos entre coletividades).
Vingança Penal
Babilônia: o Código de Hamurabi (evolução social, mas ainda pautado na vingança) traz a regra do talião (punição graduada para se igualar à ofensa – ideia de proporcionalidade, mas sem evitar penas cruéis e desumanas). Havia distinção entre homens livres e escravos, estes tratados como objetos (maior rigor).
O talião também foi utilizado na Lei das XII Tábuas (Tábua VIII, Inciso II).
Vingança Penal
Vingança pública:
Maior organização societária e fortalecimento do Estado. Deixa-se de lado o caráter individual da punição (perturbador da paz social) para que as medidas sejam impostas pelas autoridades competentes.
Pena pública -> função principal de proteger a própria existência do Estado e do Soberano.
Delitos principais: os delitos de lesa-majestade, os crimes que atacassem a ordem pública, os bens religiosos ou públicos.
As penas permaneciam cruéis e por muitas vezes atingiam descendentes por diversas gerações.
Direito Penal Na Grécia Antiga
Algumas obras filosóficas possibilitam a análise da legislação penal então existente.
Evolução da vingança privada e religiosa para um período político (base moral e civil).
Fundamento do direito de punir e razão da pena são questões debatidas pelos filósofos (ex: Platão e Aristóteles).
Direito Penal em Roma
Roma também viveu as fases da vingança até chegar na vingança pública. Assim como os gregos, separou Direito e Religião.
Divisão dos delitos em públicos (crimina publica), que consistiam nas violações aos interesses coletivos (jus publicum – penas públicas), e privados (delicta privata), lesando apenas interesses particulares (jus civile – penas privadas).
Ainda fomentava penas cruéis e desumanas, mas em menor escala. 
Direito Penal Germânico
A doutrina considera como a fonte do Direito Penal da Transição (contribuição inestimável para a evolução do Direito Penal).
Frieldlosigkeit (pena mais grave – extremamente peculiar e não vista em outros ordenamentos): quando a infração ofendia os interesses da comunidade, o agente perdia o direito fundamental a vida (qualquer cidadão poderia matá-lo). Quando atingia apenas uma pessoa ou família, a paz social era fomentada por meio da reparação, admitindo, também, a vingança de sangue (faida). 
Direito Penal Germânico
Depois das invasões, o Direito Penal Germânico fica caracterizado pelo crescente poder do Estado (a autoridade pública substitui a vingança privada). A paz, até então uma faculdade do ofendido, passa a ser obrigatória e as condições são fixadas pelo Juiz-Soberano.
Direito Penal na Idade Média
Período de retrocesso -> penas mordazes (caráter eminentemente intimidador).
Tribunal da Santa Inquisição (cientistas e pensadores que divergissem do ideal católico eram perseguidos e condenados a penas cruéis).
Aspectos positivos -> penas privativas de liberdade (caráter reformador, embora não fosse o objetivo primário). Análise do elemento subjetivo do delito.
Direito Penal na Idade Média
Século XVIII (Iluminismo): busca pela evolução das normas sancionadoras (Beccaria – Dos Delitos e Das Penas).
Após o período, surgem as escolas penais.
Escolas Penais
Diversos doutrinadores ou conjunto de doutrinadores que, em dado momento histórico-político, investigaram alguns institutos (o crime, a pena, o delinquente, etc.). Pilares do sistema penal de sua época.
Em muitos casos a denominação “escolas” pode ser imprecisa ou generalizante (ex: pensamentos divergentes dentro de uma mesma escola).
Escola Clássica
Expoentes: 1. Gaetano Filangieri, Giovanni Carmignani, Domenico Romagnosi; 2. Pellegrino Rossi, Francesco Carrara e Enrico Pessina.
Crime -> ente jurídico (consiste na violação de um direito).
Delinquente -> ser livre que pratica o delito por escolha moral, alheia a fatores externos.
Escola Clássica
Pena: 1. prevenção de novos crimes (defesa da sociedade); 2. Necessidade ética (reequilíbrio do sistema – inspiração em Kant e Hegel).
Observação: reação ao absolutismo (fundada nos ensinamentos de Beccaria – humanização da resposta do Estado). 
Escola Positiva
Expoentes: Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garofalo.
Crime: Decorre de fatores naturais e sociais.
Delinquente: não é dotado de livre-arbítrio (ser anormal sob as óticas biológica e psíquica).
Pena: defesa social com o objetivo de prevenção. A pena é indeterminada, pois deve ser adequada ao criminoso para corrigi-lo.
Garofalo vê a pena como forma de eliminar o criminoso grave (defesa da pena de morte).
Observações: doutrina determinista (introduziu a ideia do criminoso nato).
Terza Scuola Italiana
Expoentes: Emanuele Carnevale, Berdardino Alimena e Giuseppe Impallomeni (ITA); Alessandre Lacassagne, Tarde e Manouvrier (FRA).
Crime: É fenômeno individual e social.
Delinquente: Não é dotado de livre-arbítrio; não é um ser anormal.
Pena: Função de defesa social (essência), embora também possua caráter aflitivo.
Observações: é uma escola eclética, pois amparada em conceitos clássicos e positivistas.
Escola Penal Humanista
Expoente: Vicenzo Lanza.
Crime: desvio moral de conduta (o que não viola a moral não deve ser crime).
Delinquente: o imputável (único passível de educação).
Pena: forma de educar o culpado (pena = educação).
Observações: Noção de “delinquência artificial” – o crime que não viola a moral. 
Escola Técnico-Jurídica
Expoentes: Karl Binding, Arturo Rocco, Vincenzo Manzini, Giacomo Delitala (1); Maggiore, Bettiol, Petrocelli, Battagliani (2).
Crime: relação jurídica de caráter tanto humano quanto social.
Delinquente: dotado de livre-arbítrio e responsável moralmente.
Pena: tem como objetivo castigar o delinquente (meio de defesa contra o perigo que o agente representa).
Observações: Aproxima-se da escola clássica; rechaça a filosofia no Direito Penal; restabelece o caráter jurídico da Ciência Penal.
Escola Moderna Alemã
Expoentes: Paulo Anselmo de Feuerbach, Franz Von Lizst, Van Hamel, Adolpho Prins.
Crime: é simultaneamente ente jurídico e fenômeno de ordem humana e social. Feuerbach – Nullum crimen sine lege; Nulla poena sine lege.
Delinquente: Ser livre, mas condicionado pelo ambiente que o circunda. Não há criminoso nato.
Pena: Instrumento de ordem e segurança social; função preventiva geral negativa (coação psicológica).
Escola Moderna Alemã
Observações: Também conhecida como escola da política criminal; grande contribuição para a repressão penal ao menor delinquente; distingue imputabilidade da liberdade de querer. Seguidores: Eberhard Schmidt e Graf Zu Dohna, Mezger.
Escola Correcionalista
Expoente: Karl David August Röeder.
Crime: Ente jurídico (criação da sociedade). Não é natural.
Delinquente: ser anormal (portador de uma vontade reprovável).
Pena: correção da vontade do criminoso e nãoretribuição ao mal, razão pela qual pode ser indeterminada. Pena e medida de segurança são institutos dependentes.
Observações: preconiza a ideia de ressocialização do delinquente. Adeptos na Espanha: Giner de los Ríos, Alfredo Calderón e Pedro Dorado Montero. 
Escola da Nova Defesa Social
Expoentes: Filippo Gramatica e Marc Ancel.
Crime: mal que desestabiliza o aprimoramento social.
Delinquente: ser que precisa ser adaptado à ordem social.
Pena: reação da sociedade com o objetivo de proteger o cidadão.
Observações: caráter humanista (a ressocialização do criminoso é responsabilidade da sociedade).
Direito Penal Brasileiro
Início da colonização: Ordenações Afonsinas (mesmo regime jurídico vigente em Portugal). Caráter religioso, com influência do Direito Romano.
1514: Ordenações Manuelinas. Manutenção das bases anteriores. Não define tipo ou quantidade de pena (ato discricionário do Juiz).
Compilação de D. Duarte Nunes Leão (Código de D. Sebastião ou Sebastiânico): Reúne as leis (até então separadas) de difícil compreensão e interpretação por parte dos cidadãos.
Direito Penal Brasileiro
Ordenações Filipinas: vigorou por mais de 200 anos (a partir do século XVII). Fundamentado em preceitos religiosos (Direito confundido com moral e religião). Punição rigorosa aos hereges, apóstatas, feiticeiros e benzedores. Penas cruéis e desumanas (objetivava infundir o temor pelo castigo).
Independência: Código Criminal do Império (1824). Direito Penal protetivo e humanitário (individualização da pena; agravantes e atenuantes; julgamento especial para os menores de 14 anos). A pena de morte ficou limitada aos crimes praticados por escravos. A ofensa à crença oficial do Estado foi tipificada como crime.
Direito Penal Brasileiro
Proclamação da República (1890): Código Criminal da República. Atentou para as restrições impostas pela Constituição de 1891 (proibição das penas de morte e de caráter perpétuo). Permitia as penas de prisão e de banimento (temporário), além da suspensão de direitos. Instalação do regime penitenciário de caráter correcional.
1932: Consolidação das Leis Penais (Desembargador Vicente Piragibe).
Direito Penal Brasileiro
1942: Código Penal (sistema básico de normas penais até os dias atuais, mas que teve a parte geral reformulada em 1984).
Sistemas de punição evoluíram para tornar mais humana a execução da lei penal. Observar a finalidade da pena.

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