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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ CURSO DE ENGENHARIA CIVIL RAFAEL COSTA THIAGO CARVALHO DE MEDEIROS FERES AVALIAÇÃO DE BENS EM IMÓVEIS URBANOS UTILIZANDO O MÉTODO COMPARATIVO DIRETO DE DADOS DE MERCADO Niterói 2015 Rafael Costa Thiago Carvalho de Medeiros Feres AVALIAÇÃO DE BENS EM IMÓVEIS URBANOS UTILIZANDO O MÉTODO COMPARATIVO DIRETO DE DADOS DE MERCADO Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Engenharia Civil da Universidade Estácio de Sá, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Engenharia Civil. Orientadora: Prof.ª Paula Fernanda Scovino de Castro Ramos Gitahy, MSc. Niterói 2015 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradecemos aos nossos familiares, principalmente aos nossos pais, pelo apoio incondicional durante esses longos cinco anos. Agradecemos às nossas companheiras pela compreensão e abdicação de vários momentos de lazer devido aos compromissos de estudo. Agradecemos à nossa Orientadora Professora Paula Scovino por nos direcionar neste árduo trabalho e à Professora Vanessa Azevedo, da disciplina Trabalho de Conclusão de Curso 2 por ter mostrado alguns caminhos a seguir. Aos professores em geral que através de suas aulas nos incentivaram pela busca do conhecimento. Aos profissionais da CEF que nos ajudaram a formular ideias fornecendo materiais para nossa pesquisa. Aos nossos amigos, tanto de fora da faculdade, quanto aos aqui conquistados, que nos ajudaram em momentos de estudos e dificuldades durante todo esse percurso. RESUMO COSTA, R.; FERES, T. C. M. Avaliação de bens em imóveis urbanos utilizando o método direto de dados de mercado. 2015. 95 f. Monografia - Universidade Estácio de Sá, Niterói, Rio de Janeiro, 2015. A área de Avaliação de Bens é o ramo da engenharia responsável por estimar um valor de um bem. É uma área pouco explorada que, de acordo com as leis brasileiras, deve ser praticada por engenheiros, arquitetos e agrônomos devidamente registrados em seus conselhos e habilitados para a atividade. Considerando ser uma área de extrema importância e de grande interesse a diversos agentes do mercado imobiliário, a avaliação é uma ferramenta que proporciona segurança ao serem elaborados laudos técnicos através de metodologias, normas e tratamentos de dados, chegando à um valor estimado de um bem. No presente trabalho, foram abordados os fundamentos da avaliação, utilizando o Método comparativo direto de dados de mercado, tendo um laudo técnico de avaliação em um prédio residencial como estudo de caso. Palavras chaves: Avaliação de bens, Metodologias, Método comparativo direto de dados de mercado, Laudo técnico de avaliação. ABSTRACT COSTA, R.; FERES, T. C. M. Avaliação de bens em imóveis urbanos utilizando o método comparativo direto de dados de mercado. 2015. 95 f. Monografia - Universidade Estácio de Sá, Niterói, Rio de Janeiro, 2015. The area Evaluation of Assets is the Engineering sector responsible for estimate the value of the asset. It is an undiscovered area that, according with the Brazilian laws, they must be practiced by engineers, architects and agronomists properly registered in their councils and enabled to the activity. Considering this to be an extremely important area and with huge interest for many agents in the property market, the evaluation is a tool that provides safety when technical reports are elaborated through methodologies, rules and data treatments, reaching an estimate value of an asset. In the currently paper, they were addressed the fundamentals of evaluation, using the Direct comparative market data method and having a appraisal report in a residential building as the case study. Key words: Asset Evaluation, Methodologies, Direct comparative market data method, Technical appraisal report. LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Curva de oferta ......................................................................................... 27 Figura 2 - Curva de demanda.................................................................................... 27 Figura 3 - Curva de oferta e demanda constante ...................................................... 28 Figura 4 - Propriedades do Programa SisDea........................................................... 43 Figura 5 - Informações do Software SisDea .............................................................. 44 Figura 6 - Observação de mercado por sumarização ............................................... 45 Figura 7 - Reta de regressão..................................................................................... 46 Figura 8 - Estimativa média ....................................................................................... 46 Figura 9 - Distribuição de probabilidade .................................................................... 51 Figura 10 - Gráfico da curva normal .......................................................................... 51 Figura 11 - Curva t de Student .................................................................................. 53 Figura 12 - Gráfico comparativo: Curva t de Student e Normal ................................. 53 Figura 13 - Gráfico da distribuição de F Snedecor .................................................... 54 Figura 14 - Curva de Snedecor ................................................................................. 55 Figura 15 - Intervalo de confiança ............................................................................. 55 Figura 16 - Gráfico da Equação de Regressão y= A + Bx ......................................... 59 Figura 17 - Gráfico da Equação de Regressão y= A + Bz ......................................... 60 Figura 18 - Histograma dos resíduos ........................................................................ 61 Figura 19 - Gráfico dos resíduos padronizados versus valores ajustados ................ 62 Figura 20- Modelos homocedástico e heterocedástico ............................................. 63 Figura 21 - Outlier ..................................................................................................... 64 Figura 22 - Mapa de Microlocalização ....................................................................... 70 Figura 23 - Modelo escolhido .................................................................................... 71 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Grau de Fundamentação ......................................................................... 66 Tabela 2 - Enquadramento no grau de fundamentação ............................................ 67 Tabela 3 - Grau de precisão ...................................................................................... 67 Tabela 4 - Classificação do coeficiente ..................................................................... 68 LISTA DE EQUAÇÕES Equação 1 - Estimativa média ................................................................................... 47 Equação 2 - Distribuição normal ............................................................................... 50 Equação 3 - t de Student ........................................................................................... 52 Equação 4 - Regressão linear ................................................................................... 57 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR Norma Brasileira CEF Caixa Econômica Federal CEET Comissão de Estudos Especiais Temporários CREA Conselho Regional de Engenharia e AgronomiaCONFEA Conselho Federal de Engenharia e Agronomia ONS Organismos de Normalização Setorial CB Comitês Brasileiros ONS Organismo de Normalização Setorial CE Comissões de Estudo COBREAP Congresso Brasileiro de Avaliações e Perícias IBAPE Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia CRECI Conselho Regional de Corretores de Imóveis SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 14 1 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 17 1.1 Engenharia de avaliação ........................................................................................ 17 1.1.1 Normas técnicas ...................................................................................................... 17 1.2 Mercado imobiliário ................................................................................................. 18 1.3 Avaliação de imóveis ............................................................................................... 19 1.4 Laudos de avaliação ................................................................................................ 20 2 AVALIAÇÃO DE BENS DE IMÓVEIS URBANOS .................................................. 21 2.1 Histórico de avaliações de bens imóveis no brasil ......................................... 21 2.2 Conceitos gerais ....................................................................................................... 23 2.2.1 Valores ...................................................................................................................... 24 2.2.2 Mercado .................................................................................................................... 25 2.2.2.1 Concorrência perfeita .......................................................................................... 25 2.2.2.2 Mecanismos do mercado ................................................................................... 25 2.2.2.3 Lei da oferta e da procura .................................................................................. 26 2.2.2.4 Mercado imobiliário ............................................................................................. 28 2.2.2.5 Agentes do mercado ........................................................................................... 29 2.3 ABNT NBR 14.653-2:2011 ....................................................................................... 30 3 METODOLOGIA ............................................................................................................. 32 3.1 Método comparativo direto de dados do mercado ................................................ 33 3.1.1 Vistoria do bem avaliando ..................................................................................... 33 3.1.2 Identificação das variáveis influenciantes ........................................................... 34 3.1.3 Levantamento de dados do mercado .................................................................. 34 3.1.4 Tratamento dos dados ........................................................................................... 35 4 DESENVOLVIMENTO ................................................................................................... 36 4.1 Atividades na avaliação de imóveis urbanos ................................................... 36 4.2 Vistoria do bem avaliando ...................................................................................... 37 4.2.1 Caracterização da região ....................................................................................... 37 4.2.2 Caracterização do terreno avaliando ................................................................... 38 4.2.3 Caracterização das benfeitorias ........................................................................... 38 4.2.4 Complementação da caracterização do bem avaliando ................................... 38 4.3 Levantamento de dados do mercado .................................................................. 38 4.3.1 Importância da pesquisa ........................................................................................ 39 4.3.2 Fontes de informação ............................................................................................. 39 4.3.3 Entrevista .................................................................................................................. 39 4.3.4 Vistoria dos elementos de amostra ...................................................................... 40 4.3.5 Cuidados na coleta ................................................................................................. 40 4.4 Construção de variáveis ......................................................................................... 41 4.5 Modelagens de dados ............................................................................................. 42 4.5.1 Inferência estatística ............................................................................................... 47 4.5.1.1 Objetivo ................................................................................................................. 49 4.5.1.2 Distribuição de frequência .................................................................................. 49 4.5.1.3 Distribuição de probabilidade ............................................................................ 50 4.5.1.4 Intervalo de confiança ......................................................................................... 55 4.5.1.5 Propriedade dos estimadores ............................................................................ 56 4.5.2 Análise de regressão linear ................................................................................... 56 4.5.2.1 Pressupostos básicos ......................................................................................... 58 4.5.2.2 Poder de explicação ............................................................................................ 65 4.5.2.3 Precisão e fundamentação do modelo ............................................................ 65 4.5.2.4 Análise de correlação ......................................................................................... 67 4.6 Validação dos resultados ....................................................................................... 68 4.7 Determinação do valor de mercado .................................................................... 68 4.8 Elaboração do laudo de avaliação ....................................................................... 69 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 92 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 93 14 INTRODUÇÃO A avaliação significa o ato ou efeito de avaliar. A Engenharia de Avaliações é um ramo da engenharia pouco conhecida e pouco difundida, que auxilia as tomadas de decisões a respeito de valores, custos e alternativas de investimentos, envolvendo bens de qualquer natureza. Avaliação de bens é uma análise técnica, realizada por profissional habilitado para identificar o valor do bem, de seus custos, frutos e direitos, assim como determinar indicadores de viabilidade de sua utilização econômica, para uma determinada finalidade, situação e data (Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT NBR 14653-1:2001). A avaliação de imóveis urbanos, normalmente é utilizada para se chegar a um determinado valor através de estimativas e comparações de dados e com isso ter o conhecimento do valor mais provável de um bem em relaçãoao mercado imobiliário para que se possa negociar esse bem de forma consciente. As avaliações de imóveis urbanos têm uma grande importância para a economia do país, pois decisões gerenciais são tomadas com base nestas avaliações. Citado por Dantas (2012) a Engenharia de Avaliações é de grande interesse para os diversos agentes do mercado imobiliário, tais como: imobiliárias, bancos de crédito imobiliário, compradores e vendedores de imóveis. Ainda para empresas seguradoras, o poder judiciário, os fundos de pensão, os incorporadores, os construtores, prefeituras, investidores, etc. Hoje, o Governo Federal por intermédio da Caixa Econômica Federal (CEF), é o maior demandante de serviços de avaliação em todo o país chegando a um total de laudos que superam a marca de 1 milhão ao ano. Estes laudos são produzidos, na maioria das vezes, para subsidiar operações de crédito imobiliário, onde o valor adotado para o imóvel servirá de base para construir a garantia da operação ou para sinalizar a viabilidade na produção de unidades habitacionais. As avaliações de imóveis urbanos podem ser realizadas com base em normas técnicas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com metodologias específicas para tal. A principal norma é a ABNT NBR 14.653:2001 – Norma Brasileira de Avaliação de Bens – que é uma ferramenta de extrema importância para os serviços 15 de avaliação de bens no país, pois padroniza os procedimentos, aplica conceitos e exigências técnicas dando diretrizes para que o trabalho seja executado com uma fundamentação e precisão. Existem métodos utilizados para identificar o valor de um bem e esse deve ser justificado conforme a parte 1 da ABNT NBR 14.653:2001 e sempre que possível, o Método Comparativo Direto de Dados de Mercado deve ser escolhido. Considerando a importância da avaliação e com o grande crescimento do mercado imobiliário no Brasil, empresas buscam cada vez mais profissionais qualificados no mercado. Devido a exclusividade desta atividade se faz necessário o conhecimento e aperfeiçoamento a respeito do assunto, já que o assunto é pouco abordado na graduação. A presente pesquisa tem como objetivo geral analisar os processos da Engenharia de Avaliações em imóveis urbanos e exemplifica-los. Para entender melhor seus aspectos técnicos e sua metodologia cientifica será necessário pesquisar sua origem, seu conceito, etapas e fases existentes, quais leis e normas que definem como devem ser elaboradas as avaliações, entender o que é mercado imobiliário e como se procede a elaboração de um laudo. No Brasil, consta na Lei nº 5.194, de 24/12/1966, art. 7º, inciso “c”, do exercício profissional da engenharia, arquitetura e agronomia, que as atividades como estudos, projetos, analises, avaliações, vistorias, pericias, pareceres e divulgação técnica, são atribuições profissionais do engenheiro civil, do arquiteto e do engenheiro agrônomo. A pesquisa foi dividida em capítulos distintos, tendo em seu primeiro capítulo a revisão teórica que consiste em realizar uma revisão de trabalhos existentes sobre o tema abordado. O segundo capítulo falará sobre o histórico da avaliação de imóveis no Brasil, tendo em vista seu surgimento e aperfeiçoamento, avaliação de imóveis segundo a ABNT NBR 14.653-2:2011, englobando o Mercado Imobiliário dando entendimento deste e seu funcionamento, bem como compreender os mecanismos existentes. O terceiro capítulo trará a metodologia básica aplicável na elaboração de avaliações de bens de imóveis urbanos utilizando como base o Método Comparativo Direto de Dados de Mercado, tendo em vista a vistoria do bem avaliando (nomenclatura utilizada para o bem que está sendo avaliado), identificação das 16 variáveis influenciantes, do levantamento de dados do mercado e o tratamento dos dados. O quarto capítulo trará a análise dos laudos de avaliações, tendo como objetivo o conhecimento da sua metodologia científica, as conclusões com base em medidas estatísticas, a técnica adequada para estudar o comportamento de suas variáveis e como exemplo a elaboração de um laudo técnico. No quinto e último capitulo serão descritas as conclusões pertinentes aos capítulos descritos. 17 1 REFERENCIAL TEÓRICO Este capítulo visa apresentar de forma simples a Engenharia de Avaliações e explica de forma resumida a avaliação de imóveis e o mercado imobiliário. 1.1 Engenharia de avaliação A Engenharia de Avaliações é uma especialidade da engenharia que reúne um conjunto amplo de conhecimentos na área de engenharia e arquitetura, bem como em outras áreas das ciências sociais, exatas e da natureza, com objetivo de determinar tecnicamente o valor de um bem, de seus direitos, frutos e custos de reprodução (DANTAS, 2012). A Engenharia de Avaliações pode ser praticada por engenheiros, arquitetos e agrônomos, cada um atuando em sua habilitação profissional, conforme normas e regulamentos do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA), Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), leis municipais, estaduais e federais. 1.1.1 Normas Técnicas A ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas é o Fórum Nacional de Normalização. As Normas Brasileiras, cujos conteúdos são de responsabilidade dos Comitês Brasileiros (ABNT/CB) e dos Organismos de Normalização Setorial (ABNT/ONS) e das Comissões de Estudos Especiais Temporários (ABNT/CEET), são elaboradas por Comissões de Estudo (CE), formadas por representantes dos setores envolvidos, delas fazendo parte: produtores, consumidores e neutros, universidades, laboratórios e outros (ABNT NBR 14.653-1:2001 – Avaliação de bens: Procedimentos gerais). 18 1.2 Mercado imobiliário O mercado imobiliário é o setor que negocia bens imóveis em terrenos tendo ou não edificações, tais como prédios e casas. Dantas (2012) afirma que quando se trata de bens de imóveis três componentes tem que ser levados em conta, são eles: os bens levados ao mercado, as partes desejosas em vendê-lo e as partes interessadas em adquiri-los. Os bens no mercado imobiliário são heterogêneos, fazendo que seus empreendedores ajam como monopolistas, assim sua a formação do valor não segue uma lei específica da oferta e procura o que dificulta a determinação do valor de um bem. Sato (2012) cita que a Engenharia de Avaliações é de grande interesse para o mercado imobiliário, tais como: imobiliárias, bancos de crédito imobiliário, compradores e vendedores de imóveis, prefeituras, construtoras e outros ligados no ramo. Saboya (1996) apud Rodrigues (2006) diz que para caracterizar a estrutura do mercado devem ser analisados os seguintes aspectos: a) grau de concentração dos vendedores - descrito pelo número e distribuição dos mesmos, no mercado; b) perfil do universo de compradores - caracterização da população de possíveis compradores, inclusive do seu grau de concentração (se tal aspecto for relevante), ou do nível de pulverização, classes de renda, estratos sociais, em condições de participarem do mercado; c) grau de diferenciação do produto - no elenco dos diversos produtos, oferecidos pelos vendedores, diferenciados sob a ótica dos compradores; d) condições de entrada - identificação das facilidades e dificuldades de entrada no mercado por vendedores e compradores. Com respeito à conduta do mercado, conforme Rodrigues (2006), são aspectos relevantes observar: a) as políticas de preços dos vendedores, se atuando isoladamente, ou em cartel, ou de ambas as formas - os objetivos perseguidos e métodos empregados, 19 estabelecendo que preços e formas de pagamento adotam, que novos produtos oferecem, que alterações introduzemnos novos produtos, que custos absorvem em campanhas promocionais. b) os processos e mecanismos de interação e coordenação das políticas de vendedores competindo e interagindo-se em qualquer mercado. 1.3 Avaliação de imóveis A avaliação é uma aferição de um ou mais fatores econômicos especificamente definidos em relação a propriedades descritas com data determinada, tendo como suporte a análise de dados relevantes. Abunahman (2014) define avaliação como sendo o processo e resultado de uma tentativa de responder a uma ou mais perguntas específicas sobre os valores definidos das partes de um imóvel, sua utilidade ou conformação e possibilidades de venda. A avaliação também pode ser feita pelo corretor de imóveis, mas com certo limite. Pimentel (2011) apud Ribeiro (2011) afirma que a avaliação realizada por corretor de imóveis não é suficiente, sendo necessária a qualificação do perito como engenheiro ou arquiteto, devidamente registrado no órgão de classe (CREA), pois como já deixou descrito a 4ª Câmara do extinto 2º TAC, "avaliação de imóvel, pela relevância dos efeitos da expropriação judicial, constitui tarefa de engenheiro ou arquiteto, técnico habilitado, não de corretor de imóvel, que tem conhecimento limitado e empírico”. O custo da tarefa haverá de ser compatível com o interesse econômico da lide. Moreira (1994) apud Alves (2005) diz que avaliar é a arte de estimar valores apropriados e específicos, em que o conhecimento técnico e o bom-senso são condições fundamentais. Assim se tem uma visão geral do que realmente pode ou deve ser adotado para uma melhor avaliação. 20 1.4 Laudos de avaliação O laudo é um relatório técnico escrito e fundamentado, emitido por um especialista, relatando resultado de exames e vistorias assim como eventuais avaliações com ele relacionados (FIKER, 2007). Para Dantas (2012) o laudo de avaliação é a etapa final de uma pesquisa devendo conter todos os elementos relevantes considerados no seu desenvolvimento, desde a caracterização do objeto da avaliação, a metodologia da coleta de dados, a modelagem de dados e as devidas interpretações e conclusões fundamentadas. Para Rodrigues (2006) o esclarecimento de aspectos essenciais para a definição do método avaliatório, tais como níveis de fundamentação e precisão, finalidade, objetivo, prazo para a apresentação do laudo e condições a serem utilizadas, no caso de laudos de uso restrito. Rodrigues (2006) ainda cita que é recomendado consultar as legislações municipais, estaduais e federais, inclusive passivo ambiental, ou incentivos que possam influenciar no valor de imóvel. 21 2 AVALIAÇÃO DE BENS DE IMÓVEIS URBANOS O principal objetivo desse capítulo é apresentar a avaliação de imóveis urbanos como um todo, trazendo seu histórico no Brasil, forma de seguimento e construções de dados e variáveis para seu entendimento. 2.1 Histórico de avaliações de bens imóveis no Brasil O surgimento da Engenharia de Avaliações no Brasil deu-se a partir da promulgação da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850, conhecida como a Lei das Terras, por extinguir o Sistema de Concessões de Terras, instituído pelo governo português desde 1375 (PELLI NETO, 2015). Por essa lei foi criada a figura da propriedade particular, dando origem aos proprietários imobiliários, os quais registravam seus imóveis nos Assentamentos Paroquiais. Segundo os Anais do I Congresso de Engenharia de Avaliações, a atividade pode ser considerada relativamente nova. As primeiras publicações sobre avaliação de imóveis datam de 1918. Quando o Engenheiro Vitor da Silva Freire, diretor de Obras e Viação da Prefeitura de São Paulo, publicou um artigo sobre avaliação racional de terrenos, o que já se fazia em outros países desde meados do século anterior. Foram também publicados artigos nos Boletins do Instituto de Engenharia da Revista Politécnica e da Revista Engenharia Mackenzie, além dos Boletins de Engenharia da Revista do Arquivo Municipal e da Revista Engenharia Municipal. No início do século XX, foram publicados os primeiros trabalhos sobre avaliações de terrenos. Segundo Maia (2015) durante as décadas de 20 e 30, diversos trabalhos procuraram difundir a nova técnica, sendo destaque aqueles assinados pelos engenheiros Anhaia Melo, Lysandro Pereira, Ernani Nogueira e Luiz Carlos Berrini. Em 1937, o Prof. Lysandro Pereira da Silva, publicou o trabalho Avaliação de Terrenos, na edição nº 129 da Revista Engenharia Municipal, onde abordou noções fundamentais sobre avaliação de terrenos, dando ênfase ao princípio de que eles decorrem basicamente da capacidade de produzir renda. 22 No final da década de 30 a utilização da estatística como ferramenta indispensável da pratica de engenharia de avaliações permitiu que os profissionais apresentassem estudos concretos, não só no que se referia ao valor médio, mas também quanto a distribuição amostral, saneamento de dados mercadológicos e intervalos de confiabilidade. Conforme Maia (2015) descreve, em 1941, Luiz Carlos Berrini, que trouxe conceitos utilizados nos Estados Unidos desde meados do século XIX, publicou seu primeiro livro denominado “Avaliações de Terrenos” e, em 1949, publicou o livro “Avaliações de Imóveis”, no qual desenvolveu teses e conceitos, que despertou grande interesse no meio técnico. Foi a primeira e maior obra no gênero em língua portuguesa, escrita no Brasil, que passou a ser chamada de “Bíblia” da Engenharia de Avaliações, como é conhecida até hoje. Alves (2005) conta que em meados de 1950 surgiram as primeiras normas de avaliação de imóveis organizadas por entidades públicas e institutos. Devido à ocorrência de grande quantidade de desapropriações em São Paulo, ocasionado pela expansão da cidade e construção do metrô na década de 1960, as normas ganharam maior relevância. Porém, o primeiro anteprojeto de normas da ABNT na Engenharia de Avaliação data de 1957. O Congresso Brasileiro de Avaliações e Perícias – COBREAP – tiveram inicio em 1974 tornando-se referência nacional entre avaliadores, proporcionando a discussão técnica dos trabalhos e interação dos profissionais. No I COBREAP, realizado pelo Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias – IBAPE – em 1974, na cidade de São Paulo, foi apresentado o trabalho de Engenharia de Avaliações: Avaliações de Terras Conflagradas pelas Fraldas Urbanas propondo a utilização de Regressão Linear Múltipla e Interferência Estatística por influência do Engenheiro Saboya, tornando-se percursor na área. Em 1977, estudos feitos por comissões de profissionais dedicados às perícias e avaliações judiciais, em essência, deram origem à primeira Norma Brasileira para Avaliação de Imóveis Urbanos, a NB-502:77 da ABNT. Em 1978, estes estudos permitiram aos engenheiros que participavam das desapropriações acompanharem a evolução do mercado, em especial no que se referia às transações de imóveis. 23 Os IBAPE’s começaram a se estender em todo território nacional, com representações em cada estado. A partir destes, a Engenharia de Avaliações passou a contar com um novo suporte aos engenheiros que se especializavam na área, surgindo diversos seminários, cursos e simpósios visando a formação e reciclagem de engenheiros/arquitetos e peritos com a função de avaliar um bem. Alves (2005) diz que depois de passar por uma revisão em 1989, a Norma Brasileira para Avaliação de Imóveis Urbanos foi registrada no INMETRO como NBR 5.676. Os níveis de precisão foram transformados em níveis de rigor. Segue-se a ela a Norma para Avaliação de Servidões. Alguns institutos, com base na NBR 5.676, produziram, paralelamente, normas específicas de forma mais detalhada observando as características de cada região. No mesmo ano foi impulsionadoa adoção sistemática de computadores no processo avaliatório. Atualmente a Engenharia de Avaliações está completamente integrada aos sistemas computacionais, sem os quais a qualidade técnica tão desejada nestes trabalhos não poderia ser alcançada. Segundo Pelli Neto e Turino (2014) com esta nova visão foi lançado em 1998 o AVALIAR – evento com caráter eminentemente cientifico. Nesta ocasião o que mais se destacou foi a qualidade dos temas e dos palestrantes, tanto das matérias técnicas, quanto dos profissionais de planejamento e operação de empreendimentos. No mesmo ano iniciou-se a revisão da Norma Brasileira para Avaliação de Imóveis Urbanos da ABNT NBR 5.676:1989, a qual contou com uma ampla participação dos profissionais da área de engenharia. Como resultado, houve a incorporação das diversas normas que tratam de avaliações de bens em uma única, tendo como papel guia a ABNT NBR 14.653:2001, dividida em 7 partes, na qual a parte 2 é relativa a Imóveis Urbanos. 2.2 Conceitos gerais Dantas (2012) cita que a avaliação sendo uma especialidade em um conjunto amplo de conhecimentos servindo para subsidiar tomadas de decisões a respeito de valores, custos e alternativas de investimentos, a avaliação de bens de imóveis segue alguns conceitos com objetivos alinhados que serão descritos a seguir. 24 2.2.1 Valores Valor de um bem, dos seus custos, frutos ou direitos é o objetivo principal da Engenharia de Avaliações. Alves (2005) diz que o conceito de valor de um bem, de modo geral, é intuitivo e subjetivo, quer seja vendedor ou comprador deste bem, podendo variar entre os participantes de um mercado. Existem alguns tipos de valor que podem ser atribuídos a um bem, sendo ele potencial, comercial, valor de mercado, contábil, etc. Bráulio (2005) apud Alves (2005) diz que muitas medidas de valor podem estar relacionadas a um bem, dentre elas o custo de produção, estocagem e comercialização, desde o produtor até o produto final onde será formado o preço, quantidade de dinheiro paga pelo bem, e o valor de mercado, não havendo necessariamente uma relação matemática entre eles. O principal tipo de valor que se pretende determinar numa avaliação é o Valor de Mercado, sendo esse a quantia mais provável pela qual se negociaria voluntariamente e conscientemente um bem, numa data de referência, dentro das condições do mercado vigente. A estimativa do valor de mercado de um bem é feita com base na média de amostras de eventos representativos, sendo eles as condições de imperfeição em que o bem se encontra numa livre negociação entre pessoas conhecedoras do imóvel e do mercado. Fiker (2007) afirma que valor é a relação entre a intensidade das necessidades econômicas do homem e a quantidade de bens disponíveis para satisfazê-las, sendo determinado dependendo da oferta e da demanda do bem. Alves (2005) diz que atualmente o valor de mercado de um imóvel é atribuído pelo preço fixado pelo vendedor e comprador. Assim, não são forçados e não estão sujeitos a pressões anormais tendo pleno conhecimento das condições de compra e venda e de como este imóvel deve ser e será utilizado. Dessa forma, estima-se o preço médio de mercado, através de uma amostragem de preços que trazem todas as imperfeições deste mercado. 25 2.2.2 Mercado Dantas (2012) diz que o mercado se condiz de bens levados a ele, partes desejosas em vendê-los e partes interessadas em adquiri-los. Quando esses três estão tratando de bens imóveis forma-se o mercado imobiliário. Aspectos são levados em conta e atuantes agem na intermediação, todos claramente caracterizados. Alves (2005) afirma que cada mercado tem seu próprio comportamento e suas características específicas. No entanto, existem inúmeras divergências e desigualdades entre os imóveis, que faz o mercado imobiliário comportar-se de forma diferente de outros mercados de bens. Por sua localização fixa, qualquer alteração no ambiente provoca modificações no valor do imóvel. Como as influências não são iguais, as variações provocadas são claramente notáveis, causando progressivamente as diferenças. 2.2.2.1 Concorrência perfeita Dantas (2012) afirma que o aspecto quantitativo dos três componentes formadores do mercado é um fator determinante na formação de preços, sendo a situação ideal aquela onde existem muitos vendedores, muitos compradores e uma quantidade de bens equilibrada com o potencial do mercado, sem que compradores e vendedores possam interferir nos preços. Sendo assim nenhum participante tem tamanho suficiente para ter o poder de mercado para definir o preço de um bem. Logo, este mercado se condiz como concorrência perfeita. 2.2.2.2 Mecanismos do mercado O mercado tem seus mecanismos de definição conforme situações aplicadas de momento. Dantas (2012) cita que uma situação extrema do lado da parte vendedora seria aquele mercado comandado por um único vendedor, monopolizando os 26 preços. Neste caso estariam os preços praticados estariam acima do preço justo de uma concorrência perfeita, indicando um mercado monopolista. O mais comum é o mercado controlado por mais de um vendedor, que concorrem entre si, se dando o nome de mercado oligopolista. Ainda segundo o autor, podem haver também o mercado onde apenas um comprador detém o poder de compra, onde os vendedores teriam que se adequar e submeter às suas condições. Neste caso temos o mercado monopsônio. Sem dúvida, o mercado monopsônio é um caso raro no mercado imobiliário, mas nada como um caso de recessão econômica não a ative, onde poucos investidores terão os recursos necessários para fazer negócios e ditarem as regras. Nessa situação temos o mercado oligopsônio, onde as pessoas vendem seus imóveis abaixo do preço justo de mercado. 2.2.2.3 Lei da oferta e da procura Para Dantas (2012) a lei da oferta e da procura busca estabilizar a procura e a oferta de um determinado bem ou serviço. Oferta é a quantidade do produto disponível em mercado, enquanto procura é o interesse existente em relação ao mesmo. A lei da oferta e procura busca um entendimento por meio de gráficos com curvas bem definidas com comportamento gráfico dos preços (P), em função de uma quantidade (Q) com tendências lineares. Dado que esta relação é positiva, a curva da oferta tem, necessariamente, inclinação positiva, o que significa que quanto mais elevado for o preço do bem, maior será a quantidade que os produtores querem produzir e vender no mercado, como segue a Figura 1. 27 Figura 1 - Curva de oferta Fonte: Dantas (2012). Já a demanda representa a quantidade de bens e serviços que as pessoas querem comprar para cada nível de preços. Analisando o comportamento de sua curva, verifica-se que quando os preços se reduzem a quantidade de demanda aumenta, conforme Figura 2. Figura 2 - Curva de demanda Fonte: Dantas (2012). Mas o que consta na realidade é que esses efeitos ocorrem simultaneamente, tendo uma demanda constante, como podemos observar na Figura 3. 28 Figura 3 - Curva de oferta e demanda constante Fonte: Dantas (2012). Analisando a situação do mercado pelas curvas de oferta e demanda, observa-se que quando os preços estão mais baixos, indicados pelo nível 1, existe a maior procura de bens. Já quando o preço se encontra no nível 2 teremos maior número de ofertas. A tendência do mercado é encontrar um ponto de equilíbrio (Pe) para os preços que possam corresponder a uma quantidade de equilíbrio (Qe), indicando um preço justo ao bem, indicando seu verdadeiro valor de mercado. Deve- se lembrar de que o ponto de equilíbrio pode ser alterado conforme o deslocamento das curvas de oferta ou demanda, tendo como exemplo um aumento derenda pelo potencial comprador. 2.2.2.4 Mercado imobiliário O mercado imobiliário é a jurisdição de determinação dos preços de imóveis urbanos que, como quaisquer outras mercadorias, passam pela medida da oferta e da demanda. Alves (2005) diz que cada mercado tem seu próprio comportamento e suas características específicas. No entanto, existem inúmeras divergências e desigualdades entre os imóveis, que faz o mercado imobiliário comportar-se de forma acentuadamente diferente de outros mercados de bens, devido às características especiais dos imóveis. O mercado imobiliário, por não atender aos pressupostos de caracterização do mercado descrito acima, se enquadra nos mercados ditos de concorrência 29 imperfeita. Os bens no mercado imobiliário são heterogêneos e os grandes incorporadores e/ou empreendedores agem, claramente, como monopolistas. Uma vez tendo estudado criteriosamente a estrutura de mercado, a conduta e planejado o marketing, tem-se uma demanda caracterizada, que passa a ser conhecida e práticas de monopólio são colocadas em ação. Assim, a formação do valor não segue uma lei específica da oferta e da procura o que dificulta o estudo do mercado imobiliário e a determinação do valor do bem. Alves (2005) ainda afirma que por sua localização fixa, qualquer alteração no ambiente provoca modificações no valor do imóvel. Como as influências não são análogas, as variações provocadas são claramente notáveis, causando progressivamente as diferenças. O processo de formação de valores, ou seja, como os valores dos imóveis são compostos vem das transações imobiliárias, onde identificam-se alguns fenômenos como o dinamismo da atividade imobiliária e o processo de estruturação interna das áreas urbanas. Esses valores muitas vezes sofrem transformações como condições de mercado e também valores que são praticados, devido à falta de ordenação entre empreendedores, intermediários, poder público e também a própria população. Muitos fatores de divergências diferenciam os imóveis em si: vida útil, localização, singularidade, custos das unidades e tudo isto faz com que o mercado imobiliário tenha um comportamento diferente de outros mercados de bens. O preço de um imóvel é conhecido integralmente. Nele estão orçados os atributos como localização, terreno, área e vida útil. 2.2.2.5 Agentes do mercado Os agentes atuantes no mercado imobiliário atualmente se dão por todos que tem interesse no mesmo tais como: imobiliárias, bancos de crédito imobiliário, corretores de imóveis, compradores e vendedores, etc. Conforme cartilha (UNIVERSIDADE CORPORATIVA, 2015), tem-se a CEF como um dos principais agentes do governo Federal no segmento habitacional, como um dos maiores bancos de crédito imobiliário do país, contribuindo para reduzir o déficit habitacional. 30 Sabendo da atuação da CEF, no seguimento habitacional, pelo processo de financiamento, a partir do momento do interesse da pessoa jurídica ou física na compra de um imóvel são elaboradas avaliações técnicas do imóvel selecionado. Essas avaliações são elaboradas por um engenheiro indicado pela CEF, normalmente de empresas terceirizadas. A avaliação informa se o imóvel atende os quesitos para o financiamento, se ele serve como garantia, e também o seu valor de mercado. O valor financiado pela CEF será o maior dos valores entre a oferta, a proposta e a avaliação técnica do imóvel. Ribeiro (2011) cita que é importante também o parecer do avaliador quanto ao imóvel servir ou não como garantia, pois se o cliente não conseguir pagar, o imóvel ficará para a CEF como quitação dos débitos. Os corretores geralmente são ligados a empresas do mercado imobiliário, como imobiliárias, e exercem papel importante no campo das avaliações de imóveis, mas a avaliação realizada por corretor de imóveis não é suficiente, sendo necessária a qualificação do perito como engenheiro ou arquiteto. O custo da tarefa haverá de ser compatível com o interesse econômico do contratante. O Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI) habilita os corretores de imóveis ao exercício de avaliações de exclusivo valor de mercado não podendo emitir laudos técnicos. 2.3 ABNT NBR 14.653-2:2011 A ABNT NBR 14.653-2:2011 é a segunda parte da ABNT NBR 14.653:2001 que condiz apenas com imóveis urbanos. Essa parte da norma indicada visa detalhar os procedimentos gerais da norma de avaliação de bens no que se diz respeito à avaliação de bens de imóveis urbanos, inclusive glebas urbanizáveis, unidades padronizadas e servidões urbanas. Ela complementa os conceitos, métodos e procedimentos gerais para os serviços técnicos. Seu objetivo é fixar as diretrizes quanto a: • Classificação de sua natureza; • Instituição de terminologia, definições, símbolos e abreviaturas; • Descrição das atividades básicas; 31 • Definição da metodologia básica; • Especificação das avaliações; • Requisitos básicos de laudos e pareceres técnicos de avaliação. Tem por efeito de aplicação as definições de aproveitamentos, áreas, códigos para construção, domínios das propriedades, referências, gabaritos, loteamento, variáveis, entre outros. A ABNT NBR 14.653-2:2011 especifica as classificações dos imóveis quanto ao uso e quanto ao tipo. A norma em questão recomenda que o avaliador designado a uma operação de avaliação especifique e esclareça aspectos de definição de métodos aplicados e suas finalidades, objetivos, solicitando documentações, caracterizações, se há situações especiais, como vistorias por amostragem, impossibilidade de vistorias, planta de valores. Seus processos metodológicos indicam alguns procedimentos gerais, tratamento de dados, fatores e cientifico e suas especificações de avaliações precisam de generalidades, onde se relaciona ao empenho do engenheiro tanto com o mercado, quanto as informações que possam ser extraídas dele. 32 3 METODOLOGIA Cada avaliação tem uma metodologia adequada, sendo ela indicada da forma mais simples na qual o engenheiro ou arquiteto possam dar seguimento a seu estudo avaliatório. Esse estudo avaliatório deve ser fundamentado numa condição mercadológica com que os profissionais se defrontam, tais como as informações coletadas de mercado, bem como pela natureza do serviço que se pretende desenvolver. Os métodos disponíveis, previstos pela ABNT NBR 14.653:2011 – Norma de Avaliação de Bens, podem ser empregados para estimar o valor de um bem, de seus frutos e direitos, o seu custo ou ainda determinar indicadores de viabilidade, conforme descrições a seguir: a) Métodos para identificar o valor de um bem, de seus frutos e direitos: • Método comparativo direito de dados de mercado; • Método involutivo; • Método evolutivo; • Método da capitalização da renda. b) Métodos para identificar o custo de um bem: • Método comparativo direto de custo; • Método da quantificação de custo. c) Métodos para identificar indicadores de viabilidade. Os únicos métodos diretos são os de comparativo de dados de mercado e o comparativo de custos, que são usados quando o valor do resultado da avaliação independe de outros, sendo os demais indiretos. Dantas (2012) diz que os métodos utilizados para identificar indicadores de uma viabilidade de um empreendimento são baseados em seu fluxo de caixa projetado, a partir do qual são determinados critérios de decisão baseados no valor presente líquido, na taxa interna de retorno e no tempo de retorno. 33 Para a criação do laudo apresentado neste trabalho foi utilizado um método direto, que seria o Método Comparativo de Dados do Mercado. 3.1 Método comparativo direto de dados do mercado É um método que define o valor de comparação com dados de mercado que são semelhantesquanto a características peculiares ou não. É o método mais indicado para trabalhos de avaliação, porém para a sua aplicação, existe uma condição fundamental que é a existência de um conjunto de dados que possa ser utilizada, estatisticamente, como amostra de mercado imobiliário. As características e os atributos dos dados pesquisados que exercem influência na formação dos preços devem ser ponderados por homogeneização ou por dedução estatística, respeitados os níveis de rigor definidos nessa norma. Assim podem ser avaliados imóveis em geral, tendo sua aplicação dividida em etapas que serão faladas a seguir. 3.1.1 Vistoria do bem avaliando Conforme Dantas (2012) para se avaliar é preciso conhecer e para se conhecer é necessário vistoriar. Vistoriar é inspecionar, examinar, de forma feita por profissional qualificado. Logo, a vistoria é, de forma cuidadosa, um exame daquilo tudo que se possa interferir num valor de um bem, tanto internamente como externamente. Deve-se conhecer da melhor maneira possível o imóvel a ser vistoriado e o contexto urbano a que ele pertence para que o resultado tenha condições adequadas para sua orientação na coleta de dados. Sua coleta de dados deve ser dividida em etapas no qual sua indicação seja bem desenvolvida. 34 3.1.2 Identificação das variáveis influenciantes As variáveis que influenciam são estabelecidas com base em teorias existentes e em conhecimentos adquiridos em trabalhos anteriores. Dantas (2012) diz que ao desenvolver novos trabalhos sempre haverá novas variáveis que possam ser reveladas como novos fatores importantes. O essencial é o conhecimento mútuo do seu objeto de pesquisa, que é o bem avaliando, se dando com a necessidade de um conhecimento preliminar com objetivo de identificação de possíveis variáveis responsáveis pela formação de preços de bens da mesma natureza. 3.1.3 Levantamento de dados do mercado Ao se iniciar um levantamento de dado de mercado, primeiramente leva-se em conta uma investigação sobre o mercado imobiliário. Seus dados servirão de base para o estudo e seu tratamento estatístico. É descrita por Dantas (2012) como a parte mais importante do processo avaliatório. Para sua amostragem deve-se ter conhecimentos de suas tecnologias, utilizar entrevistas como técnicas de conhecimento, procurando sempre obter amostras válidas e confiáveis para explicar o mercado, numa forma de trabalho de campo. Sato (2012) indica que características como área total construída, setor urbano, número de pavimentos, renda média, padrão de acabamento, data em que as amostras foram coletadas e os valores unitários dos imóveis também formam as varáveis. Métodos, tanto qualitativos quanto quantitativos, devem ser usados e significam a escolha dos procedimentos sistemáticos para a explicação e descrição de fenômenos. Caracterizam-se pelo emprego de qualificações e por não empregar um instrumento estatístico como base do processo. Dantas (2012) cita que geralmente, o pesquisador está interessado em procurar soluções para o problema de investigação formulado, observando os fatos e buscando explica-los. As hipóteses, sendo elas de dependência, de pesquisa, de nulidade ou alternativas, questionam o ponto “x” da veracidade de uma questão levantada. Elas 35 devem ser conceitualmente claras e compreensíveis, e seus critérios precisos e rigorosos. 3.1.4 Tratamento dos dados A ABNT NBR 14.653-2:2011 recomenda, preliminarmente, a sumarização das informações obtidas sob a forma de gráficos que mostrem as distribuições de frequência para cada uma das variáveis, bem como as relações entre elas. Nesta etapa, verifica-se o equilíbrio da amostra, a influência das possíveis variáveis-chave sobre os preços e a forma de variação, possíveis dependências entre elas, identificação de pontos atípicos, entre outros. Depois de colher os dados que servirão de base para a avaliação o avaliador tem amostras formadas com características heterogêneas, alternando em relação as funções da qualidade e da quantidade de dados e informações disponíveis. Para buscar esses resultados usa-se o tratamento cientifico ou o tratamento por fatores. 36 4 DESENVOLVIMENTO Neste capítulo serão apresentados os conceitos empregados no laudo de avaliação como a vistoria do bem avaliando, levantamento de dados, indicação de modelagem dos dados encontrados, conceitos sobre a inferência estatística e regressão linear e a elaboração de um laudo técnico de avaliação. 4.1 Atividades na avaliação de imóveis urbanos A ABNT NBR 14.653:2001 estabelece diferentes métodos avaliativos que serão escolhidos conforme o imóvel a ser avaliado e os dados disponíveis em mercado. Para cada um deles seguem diferentes procedimentos. Nesta pesquisa será utilizado o Método Comparativo Direto de dados do mercado, conforme explicado no capítulo anterior, utilizando a estatística inferencial e a regressão linear, e será visto o seu significado mais à frente no capítulo. O capítulo tem como objetivo orientar o avaliador ajudando a escolher informações, o modo como se vai coletar, analisar e tratar para que esses modelos possam apresentar de forma satisfatória a variação dos preços que se observa no mercado. Ao receber a demanda para a avaliação de um bem, caberá ao avaliador solicitar ao contratante ou interessado o fornecimento da documentação necessária à realização do trabalho e tomar conhecimento de toda documentação disponível. Após o levantamento da documentação necessária, as próximas etapas são: • Vistoria do bem avaliando; • Levantamento de dados do mercado; • Construção de variáveis; • Modelagem de dados; • Validação dos resultados; • Determinação do valor de mercado; • Elaboração do Laudo de Avaliação. 37 4.2 Vistoria do bem avaliando Conhecer o objeto de pesquisa é extremamente importante para a avaliação. Para tal, deve-se ser realizada uma vistoria para se levantar toda a característica do bem avaliando. A ABNT NBR 14.653-1:2001 determina que nenhuma avaliação poderá prescindir da vistoria. Em casos excepcionais, quando for impossível o acesso ao bem avaliando, admite-se a adoção de uma situação paradigma desde que acordada entre as partes e explicitada no laudo. A situação paradigma é uma situação hipotética adotada como referencial para a avaliação de um bem. É durante a vistoria que permite ao engenheiro de avaliações conhecer melhor o imóvel avaliando e assim identificar as necessidades para a coleta de dados. O ideal é que seja elaborada uma ficha de vistoria contendo os principais tópicos relevantes à formação dos valores. Identificar suas características que são explicitadas na ABNT NBR 12721:2006 que identificam os diferentes tipos de edificações e seus padrões. Em seguida apresentamos alguns aspectos relevantes, segundo Dantas (2012): 4.2.1 Caracterização da região a) Aspectos físicos – condições topográficas, natureza predominante do solo, condições ambientais, ocupação existente e tendências de modificação a curto e médio prazo; b) Aspectos ligados à infraestrutura urbana – sistema viário de coleta de lixo e redes de abastecimento de água potável, energia elétrica, telefone, esgotamento sanitário, águas pluviais e gás canalizado; c) Equipamento comunitário e indicação de níveis de atividades existentes – sistema de transporte coletivo, escolas, mercado de trabalho, comércio, rede bancária, segurança, saúde e lazer; d) Aspectos ligados às possibilidades de desenvolvimento local, posturas legais para o uso e ocupação do solo, restrições físicas e legais condicionantes ao aproveitamento. 38 4.2.2 Caracterização do terreno avaliando a) Aspectos físicos – Topografia,superfície, solo, porte, forma, localização e divisas definidas de acordo com a posição do observador, a qual deve ser obrigatoriamente explicitada; b) Infraestrutura urbana; c) Equipamento comunitário disponível; d) Utilização atual, legal e econômica. 4.2.3 Caracterização das benfeitorias a) Físicos – construtivos, qualitativos, quantitativos e tecnológicos; b) Funcionais – arquitetônicos, de projetos e paisagísticos; c) Ambientais – adequação da edificação em relação aos usos recomendáveis para região e preservação do meio ambiente. 4.2.4 Complementação da caracterização do bem avaliando Apresentação de desenhos, fotografias, plantas, escrituras, certidões, e outros documentos que esclareçam aspectos relevantes. 4.3 Levantamento de dados do mercado A ABNT NBR 14.653-2:2011 diz que: O levantamento de dados do mercado tem como objetivo a obtenção de uma amostra representativa para explicar o comportamento do mercado no qual o imóvel avaliando esteja inserido e constitui a base do processo avaliatório. Cada informação obtida é chamada de elemento, por exemplo: área, vagas de garagem, número de quartos, etc. 39 4.3.1 Importância da pesquisa Pelli Neto e Turino (2014) dizem que a pesquisa é a fase do processo de avaliação onde é realizado o levantamento dos dados no mercado no qual é recomendado levantar a maior quantidade possível, desde que sejam de bens com atributos comparáveis aos do avaliando. É a fase mais importante da avaliação, pois seus dados servirão como base para o tratamento estatístico a ser utilizado. Nessa fase da avaliação verificam-se as teorias e abordagens a serem empregados os conceitos e hipóteses que devem ser levados em consideração e os métodos a serem empregados. É nessa fase também que são eleitas as variáveis que irão explicar a formação do valor. 4.3.2 Fontes de informação Dantas (2012) afirma que as fontes de informação devem ser as mais diversas possíveis e devem ser esgotadas todas as possibilidades possíveis. Para Pelli Neto e Turino (2014) as fontes utilizadas normalmente são: imobiliárias, corretores, sites de negociação de imóveis, banco de dados, jornais, visita ao campo, construtores e incorporadores, investidores, bancos, prefeituras, cartórios de notas e registro geral de imóveis, etc. 4.3.3 Entrevista É o contato realizado com as fontes de informação com o intuito de retirar informações confiáveis da região e do bem avaliando. Para Dantas (2012) é extremamente importante, pois pode-se retirar desses contatos informações confiáveis e válidas para explicar o comportamento do mercado em análise. Para Gil (1999) a entrevista, enquanto técnica de coleta de dados, é bastante adequada para a obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes. 40 Gil (1999) também diz que não se tem uma fórmula ou regras para uma entrevista, mas algumas recomendações interessantes podem ajudar na hora da entrevista. São elas: 1) Uma entrevista não deve ocupar muito tempo do informante. Em média, o ideal é cerca de 15 minutos, não devendo se prolongar além de meia hora, pois isso pode causar desconforto e até gerar informações incorretas. 2) Não dirigir o entrevistado, apenas guia-lo e manter-se interessado no que ele fala. 3) Levar o entrevistado a precisar, desenvolver e aprofundar os pontos que coloca espontaneamente. 4) Esclarecer a importância do problema para o entrevistador. 5) Deve-se evitar fazer perguntas que dirijam a resposta do entrevistado ao que o entrevistador considera desejável. Em outras palavras, deve-se evitar perguntas dirigidas. 4.3.4 Vistoria dos elementos de amostra Para Dantas (2012) os elementos da amostra devem apresentar maior equilíbrio e similaridade possíveis. Atenção a toda e qualquer informação encontrada para posteriormente averiguar. Os elementos que constituirão a amostra devem ser avaliados pelo mesmo avaliador para evitar interpretações diferentes. 4.3.5 Cuidados na coleta São considerados dados de mercado os elementos dos imóveis que estão em oferta e dos que já tiveram sua venda efetivamente concretizada. Conforme Pelli Neto (2015) os que já tiveram sua venda concretizada, são mais recomendáveis, pois o valor final já foi definido. Os de oferta ainda terão modificações de acordo com os interesses de comprador e vendedor. 41 Quando na vistoria da região que envolve o bem avaliando é importante observar a estrutura e conduta do mercado. Verificar se o mesmo é formado por Monopólio, Oligopólio, se é comprador ou vendedor, etc. Para Pelli Neto e Turino (2014) não devem fazer parte da amostragem preços de negociações provenientes de: • Desapropriações; • Transmissões intervivos, resultantes de doação entre parentes; • Transmissões por morte; • Vendas de hasta pública; • Transações entre parentes ou sócios. 4.4 Construção de variáveis Segundo a ABNT NBR 14653-2:2011 variáveis, em avaliações de imóveis, são as características ou informações que descrevem o imóvel e contribuem para a formação de seu valor. Podem ser: área, idade, estado de conservação, localização, entre outros, e são divididas em dependentes ou independentes. Para Dantas (2012) entende-se como variável uma medida que assume valores diferentes em diferentes pontos de observação. Por isso é importante observar a relação nas suas escolhas buscando verificar a existência de dependências entre elas ou não. Escolha das variáveis se dá somente após a escolha da metodologia a ser aplicada ao modelo, os quais foram explicados no capítulo anterior. Usando o método comparativo direto de dados de mercado e fazendo o seu levantamento, será possível identificar as variáveis que serão utilizadas no processo de modelagem. Na Engenharia de Avaliações considera-se como variável dependente o preço praticado no mercado, segundo a ABNT NBR 14652-2:2011 variável cujo comportamento se pretende explicar pelas variáveis independentes, que pode ser uma oferta ou transação. As variáveis independentes são as características físicas (área, frente, padrão, etc.), segundo a ABNT NBR 14653-2:2011 são as variáveis 42 que dão conteúdo lógico a variação dos preços de mercado coletados na amostra do bem avaliando. As variáveis são classificadas em: a) Variáveis Quantitativas – são valores que representam os atributos quantitativos que podem ser contados ou medidos em cada elemento da amostra, como: área, número de pavimentos, número de dormitórios; b) Variáveis Qualitativas – variáveis que não podem ser medidas ou contadas, mas apenas ordenadas ou hierarquizadas, de acordo com atributos inerentes ao bem; representam a qualidade do imóvel. Estas variáveis possibilitam medir a diferença entre os dados, para conceituar o bem em estudo, tais como: padrão construtivo, estado de conservação, localização na malha urbana, etc. c) Variáveis Proxy – são utilizadas para substituir outras de difícil mensuração e que se presume guardar com elas a relação de pertinência, tais como: padrão construtivo através do custo unitário básico, localização expressa pelo índice fiscal, localização expressa pelo custo unitário básico da construção da tipologia mais apropriada para o local. d) Variáveis Dicotômicas, Binárias ou Dommy – são aquelas que assumem somente dois valores. São usadas para representar a presença ou ausência de determinado atributo na amostra. A ABNT NBR 14653-2:2011, em seu anexo “A”, diz que é usual a varável dicotômica assumir valores de 0 e 1 correspondendo respectivamentecom a importância da característica, por exemplo: possui elevador = 1, não possui = 0; 4.5 Modelagens de dados Após a coleta de dados é feita a sua análise e a escolha da metodologia a ser empregada em função da natureza do bem avaliando, da finalidade da avaliação, da disponibilidade, qualidade e quantidade de informações colhidas no mercado entre outras. Nesta pesquisa será utilizado o software SisDea Home para processar e modelar os dados com o uso da regressão linear e a inferência estatística, conforme 43 se pode verificar na Figura 4 suas propriedades e na Figura 5 com as informações do sistema. Figura 4 - Propriedades do Programa SisDea Fonte: Pelli Neto (2015). 44 Figura 5 - Informações do Software SisDea Fonte: Pelli Neto (2015). Nesta fase o engenheiro irá verificar o equilíbrio da amostra, podendo utilizar de gráficos para melhor visualização. Ele verifica as relações das variáveis independentes com a dependente, ou ainda as independentes entre si. Em seguida, o tratamento de dados pode ser executado, e pela ABNT NBR 14653-2:2011 em função da qualidade e da quantidade de dados e informações disponíveis podem ser: • Tratamento por fatores Segundo a ABNT NBR 14653-2, em seu anexo B, os fatores de homogeneização devem se apresentar, para cada tipologia, os seus critérios de apuração e respectivos campos de aplicação, bem como a abrangência regional e temporal. Os fatores de homogeneização não podem ser utilizados fora de sua tipologia, campo de aplicação e abrangências regional e temporal. 45 O tratamento por fatores é aplicável quando a amostra é composta por dados de mercado com as características mais próximas possíveis do imóvel avaliando. Consiste em homogeneização por fatores e critérios, e posterior análise estatística dos resultados homogeneizados. • Tratamento científico É o tratamento dos dados através da regressão, que permite obter a homogeneização dos dados de forma cientifica. Para Dantas (2012), pelo científico as tendências do mercado são extraídas dos dados de mercado, coletados especificamente na região em que se situa o bem avaliando. A melhor maneira de se observar o mercado é através de uma sumarização dos dados em eixos cartesianos. Tendo análise da variabilidade dos preços observados de terreno (qi) em relação as suas frentes (Fei), temos a função (Fei; qi) conforme Figura 6. Figura 6 - Observação de mercado por sumarização Fonte: Dantas (2012). Para a Figura 6 se tem a noção de importantes dados: tendência, intensidade, forma funcional da curva e a dispersão dos dados. Quanto a tendência se tem o acréscimo do valor unitário na medida em que a frente cresce. A intensidade da variável na explicação é indicada pela inclinação da reta. Quanto a forma da curva nota-se que os pontos apresentam características de linearidade. Já a dispersão dos dados verifica-se que, para o caso, os pontos apresentam dispersão constante, ou seja, aparenta condição de homocedasticidade, 46 que é termo utilizado para indicar que as variâncias de uma sequência de variáveis aleatórias são iguais. Conforme indicado por Dantas (2012) esta análise é fundamental para se formular um modelo aceitável para explicar o mercado imobiliário. O modelo procurado é aquele representado pela reta qual passa mais próxima a todos os pontos – a reta da regressão, conforme Figura 7. Figura 7 - Reta de regressão Fonte: Dantas (2012). Uma reta verdadeira traçada conforme dados de mercado representaria uma estimativa média da população, uma média que varia para cada frente considerada. Se fosse encontrado uma estimativa do preço médio para um lote com frente Fo, basta encontrar o correspondente preço q0, conforme Figura 8. Figura 8 - Estimativa média Fonte: Dantas (2012). 47 Para melhor explicar a Figura 8, faz-se uma indicação a partir de uma equação, que será do tipo: Equação 1 - Estimativa média q = b0 + b1 x Fe Fonte: Dantas (2012). Onde: b0 = coeficiente linear da reta b1 = coeficiente angular da reta Para se obter uma avaliação com esse processo científico, sua resolução vem por parte de laudos técnicos avaliatórios que esclarecem seu método aplicado por meio de dados de mercado aqui explicados. 4.5.1 Inferência Estatística A palavra inferir no dicionário tem o significado de: deduzir; tirar uma conclusão a partir da análise de alguma coisa, de fatos: inferiu um conceito baseando-se nos dados. Para Dantas (2012), inferir estatisticamente significa tirar conclusões com base em medidas estatísticas. Em Engenharia de Avaliações o que se pretende é explicar o comportamento do mercado que se analisa, com base em alguns dados levantados no mesmo. Neste caso a inferência estatística é fundamental para solucionar a questão, pois se conhecendo apenas uma parte do mercado pode-se concluir sobre o seu comportamento geral, com determinado grau de confiança. Para Dantas (2012) na avaliação de bens estimamos o valor do imóvel com base na média dos preços praticados no mercado imobiliário (população) comparando com imóveis semelhantes ao que pretendemos avaliar. A seguir apresentam-se algumas definições básicas para um melhor entendimento do tema, conforme Rodrigues (2006): 48 a) População Entende-se por população todas as observações possíveis de serem levantadas no segmento do mercado que se pretende analisar. b) Amostra Em geral é impraticável a obtenção de todos os dados que formam o segmento de mercado que se deseja estudar; seja porque o número de elementos é demasiado grande, os custos muito elevados ou também limitação de tempo para realização de um trabalho avaliatório. Assim, trabalha-se com um subconjunto de observações desta população, denominado amostra. c) Parâmetros As características numéricas de uma população são denominadas de parâmetros, geralmente representados por uma letra grega ou por uma letra latina maiúscula (por exemplo θ ou B). Os parâmetros mais importantes de uma população são a média e o desvio padrão. A média indica a tendência central; enquanto que o desvio-padrão a dispersão com que os dados estão dispostos em tomo da média. A média da população é geralmente indicada pela letra grega µ e o desvio- padrão por s. d) Estatísticas ou parâmetros estimados As características numéricas de uma amostra são denominadas de estatísticas ou mais usualmente conhecidas como parâmetros estimados. Isto é, uma amostra fornece os parâmetros estimados correspondentes à população de onde foi extraída. Geralmente são representados por uma letra grega com circunflexo ou por uma letra latina minúscula. e) Estimador Um estimador é uma fórmula que descreve o modo de calcular a estimativa de determinado parâmetro. 49 f) Estimação É o processo pelo qual se obtém um estimador. Existem vários métodos de estimação, sendo os mais conhecidos o método dos mínimos quadrados e o da máxima verossimilhança. g) Estimativa O valor específico de um estimador é denominado de estimativa. 4.5.1.1 Objetivo O objetivo da inferência estatística, como falado anteriormente, é tirar conclusões sobre os parâmetros populacionais, com base nas estatísticas amostrais. Ela pode ser através de estimação ou testes de hipóteses. Em estimação, pode ser pontual ou intervalar. É pontual quando o resultado da estimativa é um único valor. A intervalar presume o conhecimento de uma distribuição de probabilidade para a população, que é inferida com base nos dados amostrais. Em Teste de hipóteses se leva em conta pressupostos a priori sobre o valor de determinadoparâmetro, podendo haver: • Aceitação – se a informação amostral fornecer evidências a favor da hipótese; • Rejeição – em caso contrário. 4.5.1.2 Distribuição de frequência Para Dantas (2012), é a organização dos dados amostrais em intervalos, geralmente iguais, denominados intervalos de classe, de onde se calculam as 50 frequências absolutas e relativas, com o objetivo de se inferir a distribuição de probabilidade da população da qual foi extraída a amostra. 4.5.1.3 Distribuição de probabilidade Para Pelli Neto (2015) é a associação de cada elemento de uma população à probabilidade de sua ocorrência na população. Existem diversas distribuições probabilísticas estudadas, onde Pelli Neto e Turino (2014) destacam as distribuições Normal, t de Student e F de Snedecor. a) Distribuição Normal Segundo Dantas (2012) e Pelli Neto (2015) a distribuição normal é uma das mais importantes distribuições de probabilidades conhecidas. Deve-se ao fato de que à medida que o tamanho da amostra cresce, independente da distribuição da população, a distribuição amostral das médias tende à distribuição Normal (Teorema do Limite Central), dada pela equação: Equação 2 - Distribuição normal Fonte: Dantas (2012). A forma gráfica da Distribuição normal (conhecida como Curva de Sino) é simétrica em relação à perpendicular no ponto µ central, onde coincidem a média aritmética, moda e mediana. A curva é assintomática na horizontal (caudas se aproximam, mas não se tocam), e a área total sob a mesma corresponde a 100% da probabilidade (somando as probabilidades de ocorrência de todos os valores possíveis resulta em 100%). A distribuição normal tem dois parâmetros: a média aritmética (µ) e a variância (σ²), correspondendo aos indicadores populacionais. A Figura 9 ilustra essa distribuição. 51 Figura 9 - Distribuição de probabilidade Fonte: Pelli Neto (2015). Segundo Pelli Neto e Turino (2014), existem infinitas Distribuições (e curvas) Normais, bastando a mudança de um dos parâmetros para alterar a distribuição. Este fato inviabiliza a utilização desta distribuição pois a (µ) e a (σ²) são desconhecidas. Contudo, por ser simétrica, apresenta uma propriedade que será útil pois a soma das probabilidades compreendidas entre intervalos definidos é igual em todas as curvas, quando a unidade de medida utilizada é o desvio padrão (σ) da distribuição. Isto significa que para os intervalos a seguir na Figura 10, as áreas sob a curva são constantes para todas as distribuições normais. Figura 10 - Gráfico da curva normal Fonte: Pelli Neto (2015). 52 Em engenharia de avaliações, seguindo-se a ABNT NBR 14653-2:2011, seu anexo “A” determina que seja analisada entre outros, os intervalos de [-1 e +1], [- 1,64 e +1,64] e [-1,96 e +1,96], com as probabilidades de distribuição Normal padrão correspondentes a 68%, 90%, e 95%. b) Distribuição t de Student É a mais importante das distribuições, para Dantas (2012), quando se deseja inferir sobre as médias populacionais com desvio padrão desconhecido. Segundo Ribeiro (2011) para pequenas amostras (n < 30) não é adequado utilizar a distribuição Normal, apenas a distribuição t de Student, que é recomendável também para quando se trata de desvio padrão amostral. Para se testar a hipótese através da distribuição t de Student, deve-se calcular a estatística t, verificar a área sob a curva para a abscissa t, ou ainda por fatores tabelados, desde que se conheça o nível de significância desejado e o número de graus de liberdade, que depende do tamanho da amostra, e a maneira que se calcula o desvio padrão: (n representa o número de dados da amostra e k a quantidade total de variáveis estudadas). Equação 3 - t de Student Fonte: Dantas (2012). Pelli Neto (2015) ressalta que o aspecto mais interessante é que esta distribuição não é padronizada como a distribuição normal. Ao contrário da distribuição Normal, ela depende do tamanho da amostra, apresenta maior área nas caudas, sua curva se aproxima da curva Normal quando n fica maior que 30, e também apresenta curva simétrica. Observar Figura 11 a seguir especificada: 53 Figura 11 - Curva t de Student Fonte : Ribeiro (2011). A Figura 12, a seguir, permite a comparação entre a normal (n), a curva t de Student para n = 10 (t(10)) e para n = 5 (t(5)), comprovando a teoria que a curva depende do número de dados utilizados. Pode-se perceber também que, quanto maior o número de dados, mais acentuada a curva será, provando que quando esse número for maior que trinta, a curva se aproximará da normal. Figura 12 - Gráfico comparativo: Curva t de Student e Normal Fonte: Ribeiro (2011). A ABNT NBR 14653-2:2011 estabelece em sua Tabela 1 que o nível de significância a (somatório do valor das duas caudas) máximo para a rejeição da hipótese nula de cada regressor pelo teste bicaudal de 10% para um grau de fundamentação III, 20% para o grau II, e 30% para I como grau de fundamentação. Esta verificação é feita para cada variável. 54 c) Distribuição F de Snedecor Segundo Dantas (2012), essa distribuição é utilizada na engenharia de avaliações para testar a significância global do modelo e regressão, utilizando-se também um teste conhecido como de análise de variância. É utilizada para testar a razão entre duas variâncias: a explicada sobre a não explicada. Considera-se a variância S1² com n graus de liberdade, e S2² com p graus de liberdade, as hipóteses a serem testadas são: H0: S1² = S2² H0: S1² ≠ S2² O teste é feito através da expressão: Fc = (S1²/n) / (S2²/p) demonstra-se que sob a hipótese nula Fc tem distribuição de Snedecor. A representação da curva está ilustrada na Figura 13 a seguir: Figura 13 - Gráfico da distribuição de F Snedecor Fonte: Pelli Neto (2015). Os graus de Fundamentação I, II, e III citados na ABNT NBR 14653-2:2011 em seu item 6 da Tabela 1, são estabelecidos níveis de significância máximo admitido, são eles: 5%, 2% e 1% respectivamente. 55 A distribuição de Snedecor e Fisher se dá por um teste F, ou seja, a razão entre as variâncias explicadas e as não explicadas, e compara-se com F tabelado por Fisher. Para as duas amostras independentes com variâncias S1² e S2², para a rejeição de hipótese nula de não existir regressão, utilizamos a distribuição F de Snedecor como representado na curva da Figura 14. Figura 14 - Curva de Snedecor Fonte: Pelli Neto (2015). 4.5.1.4 Intervalo de confiança Segundo Dantas (2012) é intervalo para o qual pode-se afirmar com determinada probabilidade que o verdadeiro valor do parâmetro populacional está nele contido. Esta estimação é feita geralmente utilizando-se a distribuição t de Student. A ABNT NBR 14653-2:2011 estabelece que este intervalo seja 80% em torno do valor central da estimativa para o imóvel avaliado. Figura 15 - Intervalo de confiança Fonte: Ribeiro (2011). 56 4.5.1.5 Propriedade dos estimadores As propriedades desejáveis dos estimadores são: não tendenciosidade, eficiência e consistência, sendo: a) Não tendenciosidade: Um estimador é não tendencioso quando a sua distribuição amostral possui média igual ao parâmetro a ser estimado. b) Eficiência: Não existe uma definição exata para a eficiência, contudo admite- se que para dois estimadores não tendenciosos de determinado parâmetro, aquele de menor variância é denominado de estimador eficiente. c) Consistência: se o estimador aproximar do verdadeiro valor do parâmetro, na medida em que a amostra cresce, então se pode afirmar que o mesmo é consistente. 4.5.2 Análise de regressão
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