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Geografia-Sistemas MIGRAÇÕES E MOVIMENTOS POPULACIONAIS NO BRASIL 1 Sumário Introdução .................................................................................................................................... 2 Objetivos ....................................................................................................................................... 2 1. Migrações no Brasil .......................................................................................................... 2 1.1. A entrada de estrangeiros ............................................................................................ 2 1.2. Migrações internas ....................................................................................................... 4 1.3. Movimentos populacionais no Brasil .............................................................................. 4 1.3.1. Movimentos populacionais até o século XX ................................................................. 4 1.3.2. Movimentos populacionais após o século XX .............................................................. 5 Exercícios ...................................................................................................................................... 8 Gabarito ........................................................................................................................................ 8 Resumo ......................................................................................................................................... 9 2 Introdução O Brasil é conhecido pela sua miscigenação cultural e da sua população. A diversidade de pessoas e culturas demonstra o tamanho da influência dos povos que aqui habitavam e habitam nas diversas atividades humanas e socioeconômicas. Graças aos diferentes movimentos migratórios que chegaram ao Brasil a partir do século XVIII, com o objetivo de ocupar as terras e construir uma nova vida em um território recém descoberto, houve o estabelecimento de núcleos regionais. Esses núcleos, que abrigavam as características da terra natal, interagiram com os núcleos existentes no Brasil, e até os dias atuais temos vários exemplos da influência e da miscigenação de culturas. Nesta apostila aprenderemos sobre os principais fluxos migratórios que chegaram ao Brasil a partir do século XIX e suas influências na economia nos movimentos internos da população brasileira. Objetivos • Conhecer os principais fluxos migratórios que chegaram ao Brasil no século XIX; • Entender sobre os principais motivos pelos movimentos migratórios internos no Brasil; • Compreender os movimentos populacionais no território brasileiro a partir das suas relações com os ciclos econômicos do Brasil. 1. Migrações no Brasil 1.1. A entrada de estrangeiros Podemos definir a migração como a mudança de residência de uma grande quantidade de pessoas, que mudam de um lugar para outro, e muitas vezes por questões políticas, econômicas e religiosas. Bom, mas por que os migrantes se interessaram pelo Brasil? Devido as guerras que haviam acontecido na Europa, além do período do pós-guerra, agravaram a situação político-econômica dos países europeus, obrigando muitas pessoas a abandonarem seus países em busca de um futuro melhor. Por volta de 1824 já acontecia um dos primeiros fluxos migratórios vindos da Europa para o Brasil, que eram de alemães. Entre 1872 e 1886 chegaram, ao Brasil, os primeiros italianos, russos, poloneses e ucranianos. Mas foi entre 1887 e 1914 que o Brasil recebeu o maior número de imigrantes europeus, por volta de 2.700.000 pessoas, cuja maioria era italiana. Esse fluxo 3 migratório da Itália para o Brasil foi incentivado pelo governo brasileiro, em virtude da necessidade de mão de obra nas lavouras de café. FIQUE ATENTO! Os japoneses chegaram ao Brasil a partir de 1908, sendo esse fluxo fortalecido entre os anos de 1920 e 1934. Outros grupos menores também fizeram parte do fluxo migratório, como os espanhóis, os sírio-libaneses, os coreanos, os israelenses, os franceses, os chineses, os holandeses, os austríacos, os belgas, os indonésios e os estadunientes. A partir de 1934, o governo brasileiro passou a impor uma série de restrições à imigração estrangeira, entre elas (Guerino, 2013): • Cada país só poderia enviar até 2% do total de imigrantes que já estavam em território brasileiro. • Da quantidade de imigrantes que ingressassem no Brasil, 80% deveriam trabalhar nas áreas rurais. E nos tempos atuais, ainda recebemos imigrantes? Os fluxos de imigrantes que atualmente buscam o Brasil são dos países sul-americanos, especialmente da Bolívia, da Colômbia, do Peru, do Chile, do Uruguai, da Argentina e da Venezuela. EXEMPLO Com a abolição da escravatura em 1889, houve uma queda da força de trabalho nas lavouras de café. Além disso, os cafeicultores da época precisavam de mão de obra mais “especializada”, ou seja, com algum entendimento sobre técnicas agrícolas. Um dos movimentos migratórios mais marcantes e quem têm causado muitos problemas sociais, especialmente nos estados brasileiros que se localizam na fronteira com a Venezuela, são os fluxos migratórios de venezuelanos. Devido a grave crise econômica e social que este país vem atravessando nos últimos anos, muitos cidadãos desse país tem visto o Brasil como um novo lugar para recomeçar. 4 1.2. Migrações internas As migrações internas referem-se ao movimento de pessoas, de qualquer classe social, do seu local de nascimento para qualquer outro lugar dentro do seu próprio país. O fenômeno migratório interno apresenta como motivos principais a situação social e econômica de um determinado lugar, que provocam alterações políticas e econômicas dentro de um país, que reflete nos estados e municípios. No Brasil, estes movimentos migratórios foram estimulados pelos ciclos de desenvolvimento econômico, que foram os responsáveis por estruturar a nossa economia. Estes movimentos migratórios ocorreram principalmente nos ciclos econômicos como o da cana-de-açúcar (entre os séculos XVI e XVIII), da mineração (entre os séculos XVII e XVIII), da extração da borracha (entre os séculos XIX e XX), do cultivo do café (entre os séculos XIX e XX), do processo de industrialização (entre os séculos XIX e XX) e da expansão das fronteiras agrícolas (a partir do século XX) (Guerino, 2013). Dessa forma, podemos dizer que os ciclos econômicos foram os responsáveis por promover, em parte, os movimentos populacionais no Brasil. 1.3. Movimentos populacionais no Brasil 1.3.1. Movimentos populacionais até o século XX Os movimentos populacionais estavam intimamente relacionados aos ciclos econômicos no Brasil. A partir do século XVII foi iniciada a ocupação da região Nordeste por criadores de gado, que saíram da Zona da Mata e foram até os vales de rios como o São Francisco, estimulados pelo ciclo da cana de açúcar (que se iniciou na segunda metade do século XVI e perdurou até o final do século XVII). Com a descoberta do ouro em Minas Gerais, e o início deste ciclo, no século XVIII, e com a decadência do ciclo da cana-de-açúcar no Nordeste, grandes movimentos populacionais oriundos do Nordeste e do Sudeste foram para a zona da mineração. A decadência do ciclo da mineração, por volta dos séculosXVIII e XIX, e do ciclo da cana-de-açúcar que ainda resistia no estado do Rio de Janeiro, levou muitas pessoas a migrarem em busca de oportunidades em um novo ciclo econômico, o ciclo do café, que iniciou-se por volta de 1870 e durou até o início do século XX no Estado de São Paulo. O ciclo do café no Vale do Paraíba logo entrou em declínio, em virtude das técnicas agrícolas rudimentares utilizadas no cultivo, que esgotaram rapidamente a 5 fertilidade do solo. Ao mesmo tempo em que este ciclo entrava em crise, no interior paulista o ciclo do café se fortalecia, graças à presença de solos mais férteis. Mais um movimento migratório se iniciou, levando pessoas de Minas Gerais, do Nordeste e do Vale do Paraíba, em São Paulo, para o interior paulista. Entre 1890 e 1910, mais um ciclo econômico começou no Brasil, o ciclo da borracha, na região Amazônica. Este ciclo atraiu milhares de pessoas, e proporcionou um dos maiores movimentos populacionais no país. Só o número de nordestinos que tenham saído do Nordeste para trabalhar nos seringais foi de aproximadamente 500.000 (Guerino, 2013). O ciclo da borracha, que começou no final do século XVIII e perdurou até meados do século XX, entrou em decadência na segunda metade do século XIX, devido à concorrência das colônias inglesas no Sudeste Asiático, que também passaram a produzir a borracha, e provocaram uma queda do preço deste produto no mercado internacional, originando muitos prejuízos para a região Amazônica. 1.3.2. Movimentos populacionais após o século XX Um dos principais fluxos migratórios brasileiros começou a acontecer por volta de 1930, em direção à região Sudeste, especialmente para o estado de São Paulo. Graças ao ciclo do café, um elevado volume de capital estava sendo movimentado, e parte desse capital estava sendo investido nas primeiras indústrias, o que possibilitou um intenso crescimento industrial. Como essas duas atividades econômicas necessitavam de muita mão de obra, o governo do estado de São Paulo iniciou uma grande campanha para atrair migrantes internos. Os principais grupos populacionais que migraram para São Paulo foram os mineiros e os nordestinos. No intuito de incentivar a ocupação do Centro-Oeste, a partir de 1940 o governo federal passou a incentivar os movimentos migratórios para esta região. Muitos migrantes de Minas Gerais e do Nordeste foram para o Centro-Oeste do Brasil para desenvolver a pecuária extensiva em grandes propriedades. Com a inauguração de Brasília, em 1960, e a construção de novas estradas de acesso a nova capital do país, o fluxo migratório para o centro-oeste brasileiro ficou mais intenso, com pessoas de todas as regiões do Brasil. Até 1970, com a instalação de grandes indústrias no estado de São Paulo, os melhores empregos passaram a estar nessa região. Isso atraiu uma grande quantidade de pessoas que estavam no campo, para as cidades, movimento este conhecido como êxodo rural. 6 No final do século XX, foi observado uma diminuição da movimentação populacional entre os estados, além de uma diversificação dos destinos dos migrantes. Por exemplo, nos primeiros anos da década de 1990 outros estados do Brasil se constituíram como polos de atração de pessoas, como Tocantins, Amapá e Goiás (Guerino, 2013). Nesta mesma década, destaca-se o papel da região Centro-Oeste como polo de atração de migrantes. Devido ao desenvolvimento da região como uma nova frente de expansão econômica, com o agronegócio, muitas pessoas foram para esta região em busca de oportunidades. Outros movimentos populacionais importantes, que nem sempre se caracterizam como mudança definitiva são as migrações pendulares, migração campo – campo, migração cidade – campo e migração cidade - cidade. A migração pendular ou movimento pendular é o deslocamento diário realizado por pessoas que moram em uma cidade, mas trabalham em outro município ou até mesmo em outro estado. EXEMPLO A migração campo – campo é o deslocamento de pessoas de uma área rural para outra área rural. A migração pendular também traz à tona o termo cidades-dormitórios, que geralmente são as cidades localizadas no entorno dos grandes centros urbanos. Devido ao custo de vida dos centros urbanos, muitas pessoas optam por morar nas periferias, realizando o deslocamento pendular diariamente. Elas retornam para suas cidades para “dormir”, reiniciando sua jornada no dia seguinte. 7 EXEMPLO A migração cidade - campo refere-se ao movimento de pessoas que vivem nas periferias das pequenas e médias cidades, e são contratadas por um período determinado para trabalhar nas fazendas e em obras da construção civil (Figura 01). 01 Trabalhadores da construção civil. SAIBA MAIS! Trabalhadores nordestinos de outras áreas rurais migram para São Paulo, por exemplo, para trabalharem na colheita da cana-de-açúcar. Ao término da colheita, esses trabalhadores retornam para o seu local de origem. Você já ouviu falar no termo boia-fria? Os boias-frias são trabalhadores temporários, que saem das cidades para trabalharem em fazendas, geralmente em condições precárias de trabalho e sem direitos trabalhistas. O termo boia fria é devido as marmitas com as refeições que eles levavam de suas casas. Como não havia lugar para esquentá-las, comiam a comida fria. 8 A migração cidade – cidade também é definida como migração pendular. Ou seja, é o deslocamento diário realizado por pessoas que moram em uma cidade, mas trabalham em outro município ou até mesmo em outro estado. E atualmente, como estão os movimentos populacionais? Os movimentos populacionais no Brasil caracterizam-se pela diminuição da migração para a região Sudeste e também no número de migrantes que deixam os estados da região Nordeste (IBGE, 2011). Ainda, os movimentos populacionais estão cada vez mais curtos em duração e em distância da cidade de origem. Além disso, surgiram novos eixos de deslocamento da população, como, por exemplo, os movimentos populacionais de grandes cidades para cidades médias no interior do país. As cidades médias são caracterizadas como cidades que possuem menos de 500 mil habitantes. Outro dado interessante que foi observado é a tendência de retorno dos migrantes aos estados de origem. Os motivos pelos quais esse tipo de movimento tem ocorrido é a diminuição dos postos de trabalho nos grandes centros urbanos; a expansão das oportunidades de trabalho e renda em outras regiões do país; e o aumento da violência e do custo de vida. Exercícios 1. (Autora, 2019) Quais foram os principais fluxos migratórios internacionais que o Brasil recebeu? 2. (Autora, 2019) Quais foram os principais movimentos populacionais que ocorreram no Brasil a partir do século XX? 3. (Autora, 2019) Diferencie os movimentos populacionais de caráter temporário. Gabarito 1. Por volta de 1824, um dos primeiros fluxos migratórios vindos da Europa para o Brasil, foram de alemães. Entre 1872 e 1886 chegaram, ao Brasil, os primeiros italianos, russos, poloneses e ucranianos. Entre 1887 e 1914, ocorreu um fluxo migratório de italianos. Os japoneses chegaram ao Brasil a partir de 1908, sendo esse fluxo fortalecido entre os anos de 1920 e 1934. Além desses grupos, o Brasil também recebeu os espanhóis, os sírio-libaneses, os coreanos, os israelenses, 9 os franceses, os chineses, os holandeses, os austríacos, os belgas, os indonésios e os estadunientes. Atualmente, o fluxo migratório para o Brasil são originadosdos países sul-americanos. 2. A partir do século XX, os principais movimentos populacionais que ocorreram no Brasil foram o movimento de pessoas do Nordeste e de Minas Gerais para São Paulo, devido ao ciclo do café e o processo de industrialização; e de pessoas de várias regiões do Brasil para o Centro-Oeste brasileiro, por causa da expansão agrícola. 3. Os movimentos populacionais de caráter temporário são a migração campo – campo, que é o deslocamento de pessoas de uma área rural para outra área rural. A migração cidade – campo, que se refere ao movimento de pessoas que vivem nas periferias das cidades, e são contratadas por um período determinado para trabalhar nas fazendas. E, por fim, a migração cidade – cidade ou migração pendular, que é o deslocamento diário realizado por pessoas que moram em uma cidade, mas trabalham em outro município ou até mesmo em outro estado. Resumo Nesta apostila, aprendemos sobre os fluxos migratórios internacionais que chegaram ao Brasil e os movimentos populacionais internos. Vamos recordar os principais pontos? A migração pode ser definida como a mudança de residência de uma grande quantidade de pessoas, que mudam de um lugar para outro muitas vezes por questões políticas, econômicas e religiosas. Por volta de 1824 já acontecia um dos primeiros fluxos migratórios vindos da Europa para o Brasil, que eram de alemães. Entre 1872 e 1886 chegaram, ao Brasil, os primeiros italianos, russos, poloneses e ucranianos. Outro fluxo migratório de italianos ocorreu entre 1887 e 1914, incentivado pela necessidade de mão de obra nas lavouras de café. Os japoneses chegaram ao Brasil a partir de 1908, sendo esse fluxo fortalecido entre os anos de 1920 e 1934. Além desses grupos, outros também fizeram parte do fluxo migratório, como os espanhóis, os sírio-libaneses, os coreanos, os israelenses, os franceses, os chineses, os holandeses, os austríacos, os belgas, os indonésios e os estadunientes. 10 Atualmente, o fluxo migratório para o Brasil são originados dos países sul- americanos, especialmente da Bolívia, da Colômbia, do Peru, do Chile, do Uruguai, da Argentina e da Venezuela. Os movimentos populacionais que ocorreram no Brasil estão relacionados aos ciclos econômicos. A partir do século XVII foi iniciada a ocupação da região Nordeste estimulada pelo ciclo da cana de açúcar. Depois foi o ciclo da mineração, no século XVIII, que levou os grandes movimentos populacionais para a zona da mineração. A decadência do ciclo da mineração e do ciclo da cana-de-açúcar, por volta do século XVIII e XIX, levou muitas pessoas a migrarem em busca de oportunidades em um novo ciclo econômico, o ciclo do café, no Vale do Paraíba, em São Paulo. O ciclo do café no Vale do Paraíba logo entrou em declínio, em virtude das técnicas agrícolas rudimentares utilizadas no cultivo, que esgotaram rapidamente a fertilidade do solo. Ao mesmo tempo em que este ciclo entrava em crise, no interior paulista o ciclo do café se fortalecia, levando pessoas de Minas Gerais, do Nordeste e do Vale do Paraíba, em São Paulo, para o interior paulista. Entre 1890 e 1910, foi o ciclo da borracha, na região Amazônica, o responsável pelos movimentos populacionais. Um dos principais movimentos populacionais brasileiros começou por volta de 1930, em direção à região Sudeste, especialmente para o estado de São Paulo, devido ao ciclo do café. Por volta de 1970, destaca-se o papel da região Centro-Oeste como polo de atração de migrantes, devido à expansão da agricultura. Outros movimentos populacionais importantes, que nem sempre se caracterizam como mudança definitiva são as migrações pendulares, migração campo – campo, migração cidade – campo e migração cidade-cidade. 11 Referências bibliográficas GUERINO, L. A. Geografia: a dinâmica do espaço brasileiro. Volume 2. Curitiba: Editora Positivo, 2013. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Reflexões sobre os deslocamentos populacionais no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Referências imagéticas Figura 01: PIXABAY. Disponível em: <https://pixabay.com/pt/photos/steelworkers-concreto-cofragem- 1029665//>. Acesso em: 02/07/2019 às 09h02min.
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