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ATELIÊ DE ARTES VISUAIS: Relações Intertextuais Andréa Maria Giannico de Araújo Viana Consolino ATELIÊ DE ARTES VISUAIS: relações intertextuais 1ª Edição Taubaté Universidade de Taubaté 2014 Copyright©2014.Universidade de Taubaté. Todos os direitos dessa edição reservados à Universidade de Taubaté. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio, sem a prévia autorização desta Universidade. Administração Superior Reitor Prof.Dr. José Rui Camargo Vice-reitor Prof.Dr. Marcos Roberto Furlan Pró-reitor de Administração Prof.Dr.Francisco José Grandinetti Pró-reitor de Economia e Finanças Prof.Dr.Luciano Ricardo Marcondes da Silva Pró-reitora Estudantil Profa.Dra.Nara Lúcia Perondi Fortes Pró-reitor de Extensão e Relações Comunitárias Prof.Dr. José Felício GoussainMurade Pró-reitora de Graduação Profa.Dra.Ana Júlia Urias dos Santos Araújo Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação Prof.Dr.Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira Coordenação Geral EaD Profa.Dra.Patrícia Ortiz Monteiro Coordenação Acadêmica Profa.Ma.Rosana Giovanni Pires Coordenação Pedagógica Profa.Dra.Ana Maria dos Reis Taino Coordenação Tecnológica Profa. Ma. Susana Aparecida da Veiga Coordenação de Mídias Impressas e Digitais Profa.Ma.Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Coord. de Área: Ciências da Nat. e Matemática Profa. Ma. Maria Cristina Prado Vasques Coord. de Área: Ciências Humanas Profa. Ma. Fabrina Moreira Silva Coord. de Área: Linguagens e Códigos Profa. Dra. Juliana Marcondes Bussolotti Coord. de Curso de Pedagogia Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Gestão e Negócios Coord. de Cursos de Tecnol. Área de Recursos Naturais Revisão ortográfica-textual Projeto Gráfico e Diagramação Autor Profa. Dra. Ana Maria dos Reis Taino Profa. Ma. Márcia Regina de Oliveira Profa. Dra. Lídia Maria Ruv Carelli Barreto Profa. Ma. Isabel Rosângela dos Santos Ferreira Me.Benedito Fulvio Manfredini Andréa M. Giannico de Araújo Viana Consolino Unitau-Reitoria Rua Quatro de Março,432-Centro Taubaté – São Paulo CEP:12.020-270 Central de Atendimento:0800557255 Polo Taubaté Polo Ubatuba Polo São José dos Campos Avenida Marechal Deodoro, 605–Jardim Santa Clara Taubaté–São Paulo CEP:12.080-000 Telefones: Coordenação Geral: (12)3621-1530 Secretaria: (12)3625-4280 Av. Castro Alves, 392 – Itaguá – CEP: 11680-000 Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 13h às 17h / 18h às 22h Av Alfredo Ignácio Nogueira Penido, 678 Parque Residencial Jardim Aquarius Tel.: 0800 883 0697 e-mail: nead@unitau.br Horário de atendimento: 8h às 22h Ficha catalográfica elaborada pelo SIBi Sistema Integrado de Bibliotecas / UNITAU C755a Consolino, Andréa Maria Giannico de Araújo Viana Ateliê de artes visuais: relações intertextuais / Andréa Maria de Araújo Viana Consolino. Taubaté: UNITAU, 2012. 72p. : il. ISBN 978-85-65687-15-7 Bibliografia 1. Arte contemporânea. 2. Linguagens da arte. 3. Intertextualidade. 4. Linguagens híbridas. 5. Propostas pedagógicas. I. Universidade de Taubaté. II. Título. v PALAVRA DO REITOR Palavra do Reitor Toda forma de estudo, para que possa dar certo, carece de relações saudáveis, tanto de ordem afetiva quanto produtiva. Também, de estímulos e valorização. Por essa razão, devemos tirar o máximo proveito das práticas educativas, visto se apresentarem como máxima referência frente às mais diversificadas atividades humanas. Afinal, a obtenção de conhecimentos é o nosso diferencial de conquista frente a universo tão competitivo. Pensando nisso, idealizamos o presente livro- texto, que aborda conteúdo significativo e coerente à sua formação acadêmica e ao seu desenvolvimento social. Cuidadosamente redigido e ilustrado, sob a supervisão de doutores e mestres, o resultado aqui apresentado visa, essencialmente, a orientações de ordem prático-formativa. Cientes de que pretendemos construir conhecimentos que se intercalem na tríade Graduação, Pesquisa e Extensão, sempre de forma responsável, porque planejados com seriedade e pautados no respeito, temos a certeza de que o presente estudo lhe será de grande valia. Portanto, desejamos a você, aluno, proveitosa leitura. Bons estudos! Prof. Dr. José Rui Camargo Reitor vi vii Apresentação A arte existe desde que o mundo existe, pois o homem primitivo já se expressava por meio de manifestações artísticas. As pinturas rupestres são exemplos dessa arte. Sabe-se que as manifestações artísticas possuem linguagem própria. Arte é conhecimento, é linguagem e, portanto, dialoga com as outras artes e manifestações. Ela aproxima indivíduos com culturas diferentes, trabalha com as semelhanças e diferenças, indo muito além de um texto escrito. Portanto, para compreender este diálogo, apresentaremos neste livro-texto os principais conceitos das linguagens da arte. Ao longo dos tempos, a forma de produzir arte se transformou; na arte contemporânea não foi diferente. Uma das mudanças mais significativas foi, sem dúvida, a utilização de materiais e suportes não convencionais na produção artística; os objetos passam a ter novos significados e novas funções. O uso de materiais do cotidiano ou da natureza, ou até mesmo o próprio corpo, contribui para a sustentabilidade e para os modos de produção de arte na contemporaneidade. Neste livro-texto, você terá não só a oportunidade de ampliar seus conhecimentos como também de apreciar melhor as obras da atualidade, bem como compreender o processo de produção e a inter-relação entre as artes visuais, as musicais, a dança, o teatro e as híbridas. A autora viii ix Sobre a autora ANDRÉA MARIA GIANNICO DE ARAUJO VIANA CONSOLINO: é graduada em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas e Música pela Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba, especialista em Didática do Ensino Superior pela Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba e mestranda em Desenvolvimento humano pela Universidade de Taubaté. Foi curadora da Galeria Tangará vinculada à Faculdade Santa Cecília em Pindamonhangaba. Tem experiência na área de educação como professora do ensino superior na graduação do curso de Educação Artística com habilitação em Artes Visuais e Música da Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba, como professora no curso de bacharelado em Música da Faculdade Santa Cecília de Pindamonhangaba e como professora no curso de licenciatura em Artes Visuais, na modalidade Educação a Distância, da Universidade de Taubaté. x xi Caros(as) alunos(as), Caros (as) aluos(as O Programa de Educação a Distância (EAD) da Universidade de Taubaté apresenta-se como espaço acadêmico de encontros virtuais e presenciais direcionados aos mais diversos saberes. Além de avançada tecnologia de informação e comunicação, conta com profissionais capacitados e se apoia em base sólida, que advém da grande experiência adquirida no campo acadêmico, tanto na graduação como na pós-graduação, ao longo de mais de 35 anos de História e Tradição. Nossa proposta se pauta na fusão do ensino a distância e do contato humano-presencial. Para tanto, apresenta-se em três momentos de formação: presenciais, livros-texto e Web interativa. Conduzem esta proposta professores/orientadores qualificados em educação a distância, apoiados por livros-texto produzidos por uma equipe de profissionais preparada especificamente para este fim, e por conteúdo presente em salas virtuais. A estrutura interna dos livros-texto é formada por unidades que desenvolvem os temas e subtemas definidos nas ementas disciplinares aprovadas para os diversos cursos. Como subsídio ao aluno, durante todo o processo ensino-aprendizagem, além de textos e atividades aplicadas, cada livro-texto apresenta sínteses das unidades, dicas de leituras e indicação de filmes, programas televisivos e sites, todos complementares ao conteúdo estudado. Os momentos virtuais ocorrem sob a orientação de professores específicos da Web. Para a resolução dos exercícios, como para as comunicações diversas, os alunos dispõem de blog, fórum, diários e outras ferramentas tecnológicas. Em curso, poderão ser criados ainda outros recursos que facilitem a comunicação e a aprendizagem. Esperamos caros alunos, que o presente material e outros recursos colocados à sua disposição possam conduzi-los a novos conhecimentos, porque vocês são os principais atores desta formação. Para todos, os nossos desejos de sucesso! Equipe EAD-UNITAU xii xiii Sumário Palavra do Reitor ............................................................................................................ v Apresentação ................................................................................................................. vii Sobre a autora ................................................................................................................ ix Caros (as) aluos(as ......................................................................................................... xi Ementa ............................................................................................................................. 2 Objetivos .......................................................................................................................... 3 Introdução ....................................................................................................................... 4 Unidade 1. Trabalhando Conceitos ............................................................................... 6 1.1 Intertextualidade ......................................................................................................... 6 1.1.1 - Paródia ................................................................................................................. 11 1.1.2 - Paráfrase .............................................................................................................. 12 1.1.3 Estilização .............................................................................................................. 13 1.1.4 Apropriação ........................................................................................................... 13 1.1.5 Citação ................................................................................................................... 14 1.1.6 Releitura................................................................................................................. 15 1.2 Linguagens............................................................................................................... 16 1.2.1 Artes Visuais.......................................................................................................... 19 1.2.2 Música .................................................................................................................. 20 1.2.3 Dança ..................................................................................................................... 21 1.2.4 Teatro ..................................................................................................................... 22 1.2.5 Linguagens Híbridas ............................................................................................. 22 1.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 24 1.4 Atividades ................................................................................................................. 24 1.5 Para saber mais ......................................................................................................... 24 Unidade 2. As Linguagens da Arte.............................................................................. 26 2.1 Artes Visuais............................................................................................................. 26 2.1.1 Breve histórico das Artes Visuais .......................................................................... 27 2.1.2 Artes Visuais na Escola ........................................................................................ 27 2.2 Música ...................................................................................................................... 28 2.2.1 Breve relato histórico da Educação Musical no Brasil .......................................... 29 xiv 2.2.2 Musicalização ........................................................................................................ 30 2.3 Dança ........................................................................................................................ 31 2.3.1 Breve histórico da Dança ....................................................................................... 32 2.3.2 Dança na Escola..................................................................................................... 34 2.4 Teatro ........................................................................................................................ 35 2.4.1 Breve Histórico do Teatro ..................................................................................... 35 2.4.2 O Teatro na Escola ................................................................................................ 36 2.5 Outras Linguagens .................................................................................................... 37 2.5.1 Fotografia............................................................................................................... 37 2.5.2 Cinema ................................................................................................................... 39 2.5.3 Televisão ................................................................................................................ 39 2.5.4 Instalação ............................................................................................................... 40 2.5.5 Arte Digital ............................................................................................................ 40 2.5.6 Arte Urbana ........................................................................................................... 41 2.5.7 Arte Performática .................................................................................................. 42 2.5.8 Land Art ................................................................................................................. 43 2.6 Síntese da Unidade ................................................................................................... 44 2.7 Atividades ................................................................................................................. 45 2.8 Para saber mais ......................................................................................................... 45 Unidade 3. Pesquisa de Materiais e Suportes: criatividade e sustentabilidade na produção artística ......................................................................................................... 48 3.1 Materiais Expressivos ............................................................................................... 48 3.1.1 Materiais Líquidos ................................................................................................. 49 3.1.2 Materiais do cotidiano e da natureza ..................................................................... 50 3.1.3 Materiais Tecnológicos.......................................................................................... 50 3.2 Suportes ................................................................................................................... 51 3.2.1 Corpo ..................................................................................................................... 51 3.2.2 Objetos do cotidiano .............................................................................................. 53 3.2.3 Suportes da natureza .............................................................................................. 54 3.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 55 3.4 Atividades ................................................................................................................ 56 3.5 Para saber mais ......................................................................................................... 56 xv Unidade 4. Propostas Pedagógicas .............................................................................. 58 4.1 Territórios da Arte .................................................................................................... 58 4.1.1Territórios: linguagens artísticas ............................................................................ 61 4.1.2 Outros territórios da arte ........................................................................................ 62 4.1.3 Trabalhando os territórios da arte .......................................................................... 63 4.2 Intertextualidade entre as artes ................................................................................. 65 4.2.1 Música ................................................................................................................... 66 4.2.2 Dança ..................................................................................................................... 67 4.2.3 Teatro ..................................................................................................................... 67 4.2.4 Artes Visuais.......................................................................................................... 68 4.3 Síntese da Unidade ................................................................................................... 68 4.4 Atividades ................................................................................................................. 68 4.5 Para saber mais ......................................................................................................... 69 Referências complementares .......................................................................................... 76 11 22 ORGANIZE-SE!!! Você deverá usar de 3 a 4 horas para realizar cada Unidade. ATELIÊ DE ARTES VISUAIS: relações intertextuais Ementa EMENTA Estudo, pesquisa e produção das diferentes linguagens da arte contemporânea: música, dança, teatro, performance, instalação, intervenção de espaço, happining, entre outras. Pesquisa sonora no diálogo com o visual. Elaboração e aplicação de um projeto visual. Aspectos metodológicos das interfaces contemporâneas da linguagem visual na educação básica. 33 Objetivo Geral Elaborar e desenvolver um projeto visual considerando as diferentes linguagens da arte contemporânea. Objetivos Objetivos Específicos Realizar pesquisas de materiais visando à criatividade e à sustentabilidade na produção artística. Pesquisar as especificidades de cada suporte da arte contemporânea. 44 Introdução Vivemos numa sociedade que preza a comunicação e a informação, que ocorre de forma tão acelerada, sendo necessária a recriação de informações já ditas e re-elaboração de textos já escritos, dando a este uma nova perspectiva ou imitando-o para algum fim. Dessa forma, observa-se que a fusão de textos é comum e necessária. (BORGES, 2009) Caro(a) aluno(a), este livro-texto está dividido em quatro Unidades, nas quais serão tratadas as diferentes linguagens da arte, assim como a intertextualidade entre elas e a utilização de diferentes materiais e suportes. Na Unidade 1, serão discutidos os conceitos de intertextualidade e linguagens, tanto conceituais como artísticas. Na Unidade 2, serão discutidas as linguagens da arte, que compreendem várias categorias de expressão como Artes Visuais, Música, Dança, Teatro, além de outras manifestações artísticas, também conhecidas como Linguagens Híbridas, tais como fotografia, cinema, televisão, performance, arte digital, etc. Na Unidade 3, serão apresentados em um primeiro momento os materiais não convencionais, como líquidos e da natureza entre outros, além dos convencionais, como a tinta, o papel e o barro. Em um segundo momento, os suportes utilizados a partir da arte contemporânea considerados inusitados por fazerem uso da experimentação, como o corpo, os objetos do cotidiano e alguns materiais da natureza. Na Unidade 4, os estudantes, dentro das propostas pedagógicas, serão levados a compreender que é possível trabalhar com a intertextualidade entre as linguagens por meio dos territórios da arte. Conheceremos estes territórios, bem como sugestões de como trabalhar com eles. Bons estudos 55 66 Unidade 1 Unidade 1. Trabalhando Conceitos O ser humano que não conhece arte tem uma experiência de aprendizagem limitada, escapa-lhe a dimensão do sonho, da força comunicativa dos objetos à sua volta, da sonoridade instigante da poesia, das criações musicais, das cores e formas, dos gestos e luzes que buscam o sentido da vida. (PCN, 1997) Quando se fala em Relações Intertextuais na Arte, torna-se primeiramente necessário compreender os conceitos que estão por trás deste assunto. As Artes se relacionam uma com as outras, dialogam; é neste sentido que iremos entender esta relação intertextual, isto é, o diálogo entre as artes. Nesta Unidade, apresentaremos as definições referentes às diferentes linguagens da arte e sua relação intertextual, o que discutiremos ao longo deste livro-texto. 1.1 Intertextualidade A intertextualidade teve sua origem na Teoria Literária, na Década de 60, pela crítica literária Julia Kristeva. A autora afirmava que cada texto se constitui em um intertexto, isto é, numa sucessão de textos já escritos ou que ainda serão escritos (TURCO, 2009). Kristeva (1974, p. 64 apud CEIA, 2011) conceitua intertextualidade explicando que “[...] todo texto se constrói como mosaico de citações, todo texto é absorção e transformação de um outro texto”. 77 Segundo Robert Stam (2000, apud, ZANI, 2003), Kristeva se baseou no Dialogismo de Mikahail Bakhtin na Década de 20, que entendia que é permitido se observar em qualquer texto ou discurso artístico um diálogo com outros textos e também com o público que o prestigia, valorizando a palavra como mediadora entre o social e o individual. Zani (2003) ainda afirma que existe uma relação entre a intertextualidade e a arte moderna brasileira. Para os modernistas brasileiros, como Mário de Andrade, tal relação era denominada antropofagia. A noção de “antropofagia” simplesmente reconhece a inevitabilidade da intertextualidade, para usar o termo de Kristeva, ou do “dialogismo”, para usar o de Bakhtin. O artista de uma cultura dominada não pode ignorar a presença estrangeira; é preciso que dialogue com ela, que a engula e a recicle de acordo com objetivos nacionais (STAM, 2000, p. 55 apud ZANI, 2003, p. 123). As teorias de Bakhtin contribuíram não só nos campos da Teoria Literária e da Linguística, como também no campo das Artes (artistas da contemporaneidade) e Ciências Humanas. Para o cientista, uma imagem remete a outra imagem, um livro remete a outro livro, uma obra de arte remete a outra obra, e assim por diante, resultando em uma outra obra ou imagem ou um outro livro (KEHRWALD, 2009). Murilo Mendes, ao escrever sua Canção do Exílio no Século XX, usou como referência o texto de Gonçalves Dias do Século XIX (Quadro 1.1), isto é, há uma relação de intertextualidade entre as duas obras. 88 Quadro 1.1 - Intertextualidade entre Canção do Exílio de Gonçalves Dias e a de Murilo Mendes – Fonte: http://www.brasilescola.com/redacao/intertextualidade.htm - Acesso em 26 dez. 2011 Krisvera (2005, p.104 apud KEHRWALD, 2009, p. 102) aponta que no campo das artes, onde realizou diversas experiências em Artes Visuais, a linguagem poética é um diálogo de dois discursos, em que um texto estranho entra na rede da escrita, é absorvido, fazendo com que em um mesmo texto funcionem todos os textos lidos pelo leitor. Já Genette (2001, p.256 apud KEHRWALD, 2009, p. 105) comenta em seu livro A obra de arte: imanência e transcendência que identificar uma obra é diferente de 99 identificar um texto, pois depende do repertório do observador quanto ao universo da arte e sua apreciação crítica. A intertextualidade tem como destaque dois tipos: Intertextualidade Explícita: e o tipo mais conhecido e ocorre quando no próprio texto é feita uma menção à fonte do intertexto, ou seja, quando o fragmento citado é atribuído diretamente a seu enunciador ou quando por meio da memória discursiva seu texto é reportado como já dito e por outros mencionados (TURCO, 2009, p. 1956). Ex: citações, referências, resumos, traduções, resenhas entre outros. Intertextualidade Implícita: o produtor do texto espera que o leitor seja capaz de por meio de sua memória reconhecer nele a presença do intertexto, ou seja, remeter-se ao texto-fonte. Elas são retiradas de trechos de músicas populares conhecidas, bordões de programas de rádio ou TV, provérbios e frases feitas que geralmente estejam inseridas na memória coletiva da comunidade (TURCO, 2009, p.1956). Ex: paráfrases e paródias entre outros. Segundo Borges (2009), ainda existem outros tipos de intertextualidade como a temática (textos com um tema comum), a estilística (quando o autor imita estilos ou variedades linguísticas), a intergenérica (relacionada ao gênero que exerce a função de outro produzindo diversos efeitos de sentido e dando ao texto certa flexibilidade) e a tipológica (ligada a elementos dêiticos que coordenam determinados tipos textuais em uma classe). Tomemos como exemplo a Paródia de Maurício de Sousa (Figura 1.2), que retrata os costumes do caipira do interior paulistano remetendo ao diálogo com a obra de Almeida Júnior (figura 1.1). Se as duas obras não estivessem lado a lado, por meio da memória reconheceríamos a presença do intertexto implícito. 1100 Figura 1.1 – Almeida Júnior - Caipira picando fumo (estudo), 1893 óleo sobre tela, c.i.d. 70 x 50 cm Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo/Brasil Foto Eduardo Castanho/Itaú Cultural Fonte: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclop edia_IC/index.cfm?fuseaction=obra&cd_verbete=93 &cd_obra=936 – Acesso em 26 dez. 2011 Figura 1.2 – Paródia - Chico tirando palha do milho - Quadro Caipira Picando Fumo, de Almeida Júnior. Fonte: http://pitaquinhos.blogspot.com/2008/02/dica- de-livro-para-iniciar-semana.html Acesso em 26 dez. 2011 Nas Artes Visuais, os diálogos entre textos ocorrem sob várias formas e denominações e, segundo Zani (2003), o escritor para construir um texto faz uso de três processos: citação, alusão e estilização. Citação: confirma ou altera o sentido do discurso mencionado. É um elemento dentro do outro, como no teatro que cita as Artes Plásticas, no cinema que recorre ao teatro e nas Artes Plásticas que cita a própria História da Arte. Alusão: é uma construção que reproduz a ideia central de algo já discursado, isto é, um discurso já conhecido do público em geral. Estilização: reproduz os elementos de um discurso já existente, como uma reprodução estilística do conteúdo formal ou textual, com o intuito de re-estilizá- lo. 1111 Figura 1.3 – Charge de O Grito de Edvard Munch – Amâncio Disponível em: http://www.casadehistoria.com.br/galerias-de-imagens/charges/ficha-limpa Acesso em: 25 dez. 2011 Segundo Kehrwald (2009), a intertextualidade se dá, tanto na produção como na recepção da grande rede cultural, de que todos participam. A intertextualidade pode ser nomeada de diversas formas como a paródia, paráfrases, entre outros que serão vistos a seguir. 1.1.1 - Paródia É uma linguagem que transgride o convencional, aproxima-se do deboche e, segundo Ferreira (2008), é uma imitação cômica e burlesca de uma composição literária. A paródia já existia na antiga Grécia, porém, seu uso foi intensificado a partir dos movimentos de vanguarda da segunda metade do Século XIX e início do século XX, com o Futurismo e o Dadaísmo (HUTCHEON, 1995 apud KEHRWALD, 2009, p. 108). Para a autora, a interpretação exige mais do que somente o texto e o receptor. O texto tem um contexto, promove uma mudança entre aquele que aprecia e aquele que produz, modificando o conceito de obra única e fechada, tornando-se um texto plural e aberto. 1122 Figura 1.4 – Pietá – Michelangelo Disponível em: http://rquadrinhos.blogspot.com/2011/04/i magens-crista-no-universo-dos.html Acesso em 25 dez. 2011 Figura 1.5 – Pietá - Sam Taylor- Wood, 2008 Disponível em: http://wwwdosublime.blogspot.com/2009_11_0 1_archive.html Acesso em: 25 dez. 2011 Segundo Kehrwald (2009), existe uma confrontação estilística, uma recodificação moderna estabelecendo a diferença no coração da semelhança, em que o diálogo entre a charge (figura 1.3) e a obra O Grito gera um novo texto, convocando um olhar, alterando os sentidos, substituindo elementos dentro do texto. A autora explica ainda que na paródia o texto resultante fica numa relação inversa ou incongruente com o texto que lhe serve de inspiração. Para Sant’Anna (1985, p. 28) falar de paródia é falar de intertextualidade das diferenças. 1.1.2 - Paráfrase Está próxima da cópia, da imitação; segundo Sant’Anna (1985, p.28), a paráfrase é como uma intertextualidade das semelhanças (figuras 1.4 e 1.5). 1133 1.1.3 Estilização É um artifício para chegar a um resultado, com a finalidade de simplificar, sintetizar (SANT’ANNA, 1985). A figura 1.6 constitui um exemplo de figura estilizada/simplificada e com contornos indefinidos. 1.1.4 Apropriação Surgiu com as experiências Dadaístas – caracterizadas pela apropriação de objetos do cotidiano, seguida de sua reapresentação em outro espaço – a partir de 1916 e nos anos 60; este conceito retorna com a pop art, que se apropria de objetos da sociedade industrial (KEHRWALD, 2009). Segundo a autora, a apropriação é uma espécie de plágio, visto que o sujeito não cria sua obra, mas sim se apodera de uma já existente. Figura 1.6 - Elvis Presley estilizado para anúncio da Bose Disponível em: http://www.gizmodo.com.br/conteudo/elvis- estilizado-em-anuncio-da-bose/ Acesso em: 26 dez. 2011 1144 1.1.5 Citação Segundo Barbosa (1975), é a produção que se alimenta de imagens de outros artistas. Os objetos do cotidiano podem se inter-relacionar com a arte, com um olhar crítico e intertextual. Figura 1.7 - A Fonte - Marcel Duchamp Disponível em: http://tamiresmazin.wordpress.com/2010/09/25/ 38/ Acesso em: 25 dez. 2011 Figura 1.8 - Roda de Bicicleta - Marcel Duchamp Disponível em: http://tamiresmazin.wordpress.com/2010/09/25/ 38/ Acesso em: 25 dez. 2011 Figura 1.9 - Sopas Campbells - Andy Warhol Disponível em: http://pinturasfamosass.blogspot.com/2010/07/an dy-warhol.html Acesso em: 25 dez. 2011 1155 A citação se distingue da imitação, na medida em que se constitui em um ato crítico, deliberado e conscientemente assumido. 1.1.6 Releitura É o processo de produção de um trabalho em qualquer das modalidades da arte, tendo como ponto de partida o estudo de uma obra de arte (KEHRWALD, 2009, p.125). Segundo a autora, nas escolas a releitura é observar, interpretar o texto e produzir um trabalho artístico que tenha relação com a imagem, como a escultura abaixo de Batman e Super Homem que é uma releitura de “A Criação do Mundo”, de Michelangelo. Figura 1.10- A Criação do Homem – Michelangelo Disponível em: http://historiacolegiao.wordpress.com/2010/03/23/origens-da-humanidade/ Acesso em 25 dez. 2011 Figura 1.11 - Capa Revista Época de 11 out 2010 Disponível em: http://esteticaarte2009.blogspot.com/ Acesso em: 25 dez 2011 1166 A intertextualidade faz parte do nosso cotidiano, do que lemos, falamos, pensamos e cantamos. Para entender a relação intertextual com a arte e suas linguagens, veremos a seguir o conceito de linguagem e sua importância para o homem e para o mundo. 1.2 Linguagens A intertextualidade contribui para a difusão da cultura, quando permite o diálogo entre as linguagens verbais e não-verbais. Quando falo em linguagem verbal, refiro-me a um texto, uma carta, uma reportagem de jornal entre outros. Já a linguagem não-verbal está ligada a uma imagem, um vídeo, uma música, uma dança e placas de sinalização entre outros. A linguagem também pode ser verbal e não-verbal ao mesmo tempo, como nos cartazes de publicidade, nas histórias em quadrinhos e as charges. Figura 1.12 - Modern Heroes – Escultura de Mauro Perucchetti Disponível em: http://mais1bg.blogspot.com/2010/11/artista-cria-escultura-com-batman-e.html Acesso em 25 dez. 2011 Figura 13- Capa Revista Veja – Linguagem Verbal e não-verbal Disponível em: http://www.lago.com.br/vitoria_regia/portugues/pr_pag.htm Acesso em: 14 jan 20111 1177 A linguagem permeia o conhecimento e as formas de conhecer, o pensamento e as formas de pensar, a comunicação e os modos de comunicar, a ação e os modos de agir. Ela é a roda inventada que movimenta o homem e é movimentada pelo homem. Produto e produção cultural nascida por força das práticas sociais, a linguagem é humana e, tal como o homem, destaca-se pelo seu caráter criativo, contraditório, pluridimensional, múltiplo e singular, a um só tempo (PCNEM, 2002, p. 125). Desde que o mundo existe, sabemos que a arte está presente como forma de registrar o que está na mente e na alma do ser humano, assim como a linguagem. Segundo Gombrich (1999) “ignoramos como a arte começou, tanto quanto desconhecemos como teve início a linguagem”. A arte é inerente ao homem, faz parte do ser e do sentir-se humano, é patrimônio cultural da humanidade. Assim, se arte é linguagem, permite/obriga a leitura e a produção de textos: sonoros, visuais, gestuais, corporais, audiovisuais entre outros (GUERRA, 2010, p.12). Figura 1.14 – Semáforo - Linguagem não-verbal Disponível em: http://www.infoescola.com/comunicacao /linguagem-verbal-e-nao-verbal/ - Acesso: 26 dez 2011 Figura 1.15 - Abapuru – Tarsilia doAmaral – Linguagem não-verbal na pintura Disponível em: http://www.infoescola.com/comunicacao /linguagem-verbal-e-nao- / Acesso: 26 dez 2011 1188 O termo Linguagem possui diversos sentidos e para Ferreira (2008) é a formação de palavras pelo uso da voz e outros sons que se articulam, é a comunicação entre pessoas. A forma de expressão pela linguagem, ou pela sua representação escrita, e que é própria de um indivíduo, grupo, classe etc. A linguagem também é: Um instrumento com o qual os seres humanos podem se desligar parcialmente da experiência corrente e recordar, evocar, imaginar, jogar, simular. Assim eles decolam para outros lugares, outros momentos e outros mundos. Não devemos esses poderes às línguas, mas igualmente às linguagens plásticas, visuais, musicais, matemática, etc. (LÉVY, 1996 apud MARTINS, PICOSQUE e GUERRA, 1998, p. 41). Portanto, cada pessoa possui sua linguagem, que é constituída por códigos e signos que transmitem significados e, sendo a arte uma linguagem, ela é também uma palavra que fala e transmite mensagens. Pintura, escultura, gravura e desenho eram considerados linguagens da arte, porém, com a Revolução Industrial, assistimos a uma multiplicação de códigos e a fundação de novas linguagens como o cinema, cartaz, fotografia, televisão e propaganda entre outros (CARAMELLA, 1998). A autora ainda fala que a ciência de toda a linguagem é a semiótica, que se ocupa do signo enquanto representação do objeto e do intérprete como elemento essencial do conhecimento. Para a semiótica ou lógica da linguagem, conhecer os limites/inter-relações de uma linguagem implica conhecer as possibilidades lógicas e analógicas de associações sígnicas. Acontece, porém, que uma linguagem não se esgota nela mesma. [...] o significado de uma linguagem é sempre outra linguagem, dado que uma linguagem não se satura nela mesma (CARAMELLA, 1998, p.76). Azevedo Junior (2007) explica que a comunicação humana, enquanto perpetuação do conhecimento, é entendida como uma troca de informações (estímulos, imagens, símbolos, mensagens) possibilitada por um conjunto de regras explícitas ou implícitas, chamado de código. 1199 Para o autor existem vários tipos de símbolos ordenados pela linguagem sendo que estas podem ser conceituas ou visuais. Linguagem Conceitual É a linguagem oral e escrita, isto é, formada por textos denotativos (não codificados) e objetivos. Ex: Língua Portuguesa. Linguagem Visual A linguagem visual é simbólica, isto é, conotativa. Ex: Artes Visuais, música, dança teatro e outras manifestações artísticas como o cinema, televisão, propaganda entre outros. Ela pode ser reduzida aos elementos básicos como ponto, linha, forma, textura, dimensão, linha entre outros, porém não serão discutidos neste livro-texto. Veremos a seguir o conceito de algumas linguagens visuais que serão mais detalhadas no decorrer deste livro-texto: 1.2.1 Artes Visuais As artes visuais, além das formas tradicionais como a pintura, a escultura, o desenho e a gravura, incluem outras manifestações artísticas que resultam dos avanços tecnológicos e transformações estéticas do século XX, como fotografia, moda, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação, performance, holografia entre outros ( BRASIL, 1997). No início era conhecida como Artes Plásticas; ganha nova dimensão, sendo denominada como Artes Visuais: Integram o círculo das Artes Visuais aquelas formas de expressão artística que, tendo como centro a visualidade, gerem – por quaisquer instrumentos e ou técnicas – imagens, objetos e ações (materiais ou virtuais) apreensíveis, necessariamente, através do sentido da visão, podendo ser ampliado a outros sentidos. Partindo desse centro, o círculo se expande, agregando suas diversas manifestações, até que a circunferência das Artes Visuais alcance (e interpenetre) outros círculos das artes, centrados por outros valores, gerando zonas de intersecção que abrigam manifestações mistas, que não deixam de ser “visuais”, mas obedecem, com igual ou maior ênfase, a outras lógicas. 2200 Este círculo e suas intersecções compõem o campo das Artes Visuais (FUNARTE, 2006, p.14). Segundo a Funarte (2006), as Artes Visuais estão presentes em todas as dimensões de nossa existência, desde os objetos que nos circundam, nas paredes, nas ruas, enfim em todos os espaços. Ela consegue fazer uma espécie de inter-relação entre o sujeito e o seu ambiente, não ficando apenas resumida a objetos palpáveis. Enfim, ela envolve um universo ilimitado desde os primórdios do mundo até os dias de hoje. As imagens visuais estão presentes no nosso cotidiano, até mesmo quando estamos de olhos fechados. Somos produtores, decodificadores e intérpretes de imagens e o mundo contemporâneo nos oferece estas imagens com uma velocidade alucinante. O homem, para se comunicar, utiliza-se de signos, sendo as Artes Visuais um destes símbolos. Veremos em outra Unidade deste livro-texto um pouco mais sobre as Artes Visuais e a relação intertextual com as outras linguagens na arte. 1.2.2 Música Segundo Ferreira (2008), música é a Arte e ciência de combinar os sons de modo agradável ao ouvido. Para Cage (1985), a música não é só uma técnica de compor sons (e silêncios): [...] mas um meio de refletir e de abrir a cabeça do ouvinte para a música [...] com sua recusa a qualquer pré-determinação em música, propõe o imprevisível como lema, um exercício de liberdade que ela gostaria de ver estendido à própria vida, pois “tudo o que fazemos” (todos os sons, ruídos e não sons incluídos) é música (CAGE, 1985, p.5). Porém, Jeandot (1993) completa que: A música é estreitamente vinculada às emoções, através das quais os homens se comunicam entre si e com os cosmos. Expressa aspectos psicológicos, abstratos, diferentemente do pensamento conceitual. É uma linguagem universal, com muitos dialetos que variam de cultura para cultura (JEANDOT, 1993, p.12). 2211 O ser humano, mesmo antes do seu nascimento, encontra-se imerso em um mundo de sons e silêncios que são a matéria prima da linguagem musical, presente em todas as culturas existentes no planeta e de maneira absoluta na contemporaneidade (CAZNOK, 2010). A música faz parte da vida do ser humano. Existe um diálogo (intertextualidade) entre ela e a sociedade humana, portanto, música é linguagem. 1.2.3 Dança A dança é fruto da necessidade de expressão do homem e é uma das formas de linguagem corporal elaborada pelas sociedades ao longo da história. É através da dança que o corpo comunica emoções e sentimentos. Desde os homens das cavernas o homem dança, porém por razões diferentes, que vão desde práticas religiosas até a necessidade de se comunicar ou de lutar por seus ideais. Ela fala com o corpo, não depende de palavras e constrói significados na vida das pessoas (COLL e TEBEROSKY, 2002). Para Rangel (2010): Dança é área de conhecimento, um modo cognitivo de se relacionar com o mundo, de entendê-lo e senti-lo. O corpo que dança deve ser entendido como uma relação física, emocional e intelectual, que capta e transmite informações em um processo de comunicação constante com o ambiente, com o próprio corpo, com outros corpos. Mente e corpo não se dissociam: a experiência do corpo que dança não é separada de pensamentos, idéias. A experiência corporal é a base primeira do que podemos dizer, pensar, comunicar (RANGEL, 2010, p.61). Ela não está restrita apenas ao aprendizado de passos e entretenimento. Ela é pensada como Arte. Esta forma de expressão possibilita o reconhecimento de diferentes culturas, fazendo com que esta linguagem corporal dialogue consigo mesmo, com os outros e com a sociedade. 2222 1.2.4 Teatro É a arte de o homem representar, com diferentes histórias escritas por autores, nas quais atores interpretam diferentes papéis diante de um público em um local construído especialmente para isso (COLL e TEBEROSKY, 2002). É uma arte que usa como instrumento sua voz, seus movimentos, suas emoções e como combustível o aplauso da plateia. Segundo Guerra (2010), o Teatro permite a reflexão sobre os conflitos, medos e angústias da vida contemporânea. Como todas as outras linguagens da Arte, esta também é uma área de conhecimento que socializa, compartilha, dialoga, tolera, argumenta, respeita, enfim, faz com que o homem se reconheça ao mesmo tempo único e universal, e que respeite as diferenças, penetrando em novos mundos de cultura e de possibilidades. Hoje o teatro é visto como um sistema de significação com vários códigos, como gestualidade, cenário, figurino, iluminação entre outros. 1.2.5 Linguagens Híbridas Além das formas tradicionais de linguagens como as citadas anteriormente, existem também outras linguagens que surgiram com a contemporaneidade. Nelas, a presença constante da materialidade, efemeridade, desmaterialização, virtualidade, visibilidade, encontradas em vários tipos de suportes, sugerem uma reflexão sobre os territórios da arte, desde a arte urbana que trabalha diretamente com os espaços públicos, os lugares afetivos e sensoriais e os não-lugares entre outros (WANNER et al, 2010). Carvalho (2009) afirma que a Arte Contemporânea, além de ser caracterizada como uma arte Híbrida, é marcada pela miscigenação de práticas e conceitos que apontam para a reestruturação das relações entre observadores e imagens. Todas as linguagens que necessariamente não têm como base o desenho e a pintura, podemos dizer que são linguagens híbridas, pois misturam duas ou mais linguagens. 2233 Segundo Santaella (2005), as linguagens híbridas podem ser divididas em: Verbal-visual: gesto, mímica, dança, performance, happening; Verbal-sonoro: canto, literatura oral, poesia sonora, rádio; Visual-sonoro: arquitetura, dança, computação gráfica; Visual-verbal: escritura, poesia, publicidade impressa, charge, poesia visual; jornal; enciclopédia; Sonoro-verbal: canção; Sonoro-visual: música instalação, teatro experimental, vídeo, vídeo dança; Sonoro-verbal-visual: circo, teatro, ópera, cinema, TV, hipermídia. Na próxima Unidade, discutiremos sobre as linguagens tradicionais da arte e algumas linguagens híbridas, que segundo alguns autores também podem ser consideradas manifestações artísticas. Figura 1.16 - Vídeo sobre imagem adesiva de Eriel Araújo, Victor Venas e Melquiades José de Araújo Neto – Arte Híbrida Disponível em: http://grupoartehibrida.blogspot.com/2010/06/video-sobre- imagem-adesivada-eriel.html Acesso em: 09 jan 2012 2244 1.3 Síntese da Unidade Nesta Unidade, discutimos sobre alguns conceitos de intertextualidade, das linguagens e sua relação com a arte. 1.4 Atividades 1- Observe em sua cidade as imagens de sinais de trânsito e placas, liste aquelas cujo significado você consegue identificar e responda as perguntas abaixo: Você prefere se comunicar por meio oral ou escrito? Você acha que os meios de comunicação que só usam imagens são mais fáceis de serem compreendidos do que os que utilizam somente a escrita? Justifique sua resposta. Você identifica rapidamente e consegue compreender o significado de todas as imagens que observa em cartazes, outdoors ou muros? O que é comunicação? O que é linguagem? 2- A intertextualidade pode ser percebida de diversas formas. Escolha uma obra de arte e procure fazer uma pequena intervenção resultando em uma Paródia, Paráfrase, Apropriação, Estilização, Citação e Releitura. Pode usar qualquer suporte ou material para a execução do exercício. Lembre-se de que deverá elaborar várias cópias da mesma imagem. 1.5 Para saber mais Filmes Deu a louca na Chapeuzinho Vermelho. Duração: 80 min. Ano: 2005. Gênero: Animação-Comédia. Sinopse: Animação que faz uma sátira 2255 (intertextualidade) da clássica história da garotinha conhecida como Chapeuzinho Vermelho. O filme começa pelo final. Aqui, policiais do reino animal investigam a casa da vovozinha, uma garota, um lobo e um machado suspeito. As acusações são várias: invasão de domicílio, distúrbio da paz, intenção de comer e carregar um machado sem permissão. Livros BRAIT, B. (Org.) Bakhtin, dialogismo e construção de sentido. 2 ed. Campinas-SP: Editora da Unicamp, 2005. CALABRESE, O. A linguagem da arte. Rio de Janeiro: Globo, 2002 SCHAFER, R.M. O ouvido pensante. São Paulo:UNESP, 2000. Sites Os links abaixo sugeridos são de vídeos que apresentam como tema básico a intertextualidade: Intertextualidade na pintura: http://www.youtube.com/watch?v=BQIYmU7rclA&feature=related Tipos de intertextualidades: http://www.youtube.com/watch?v=i2-MOahuiIM&feature=related Intertextualidade: http://www.youtube.com/watch?v=4JycSG17KQw&feature=related Maurício de Sousa faz paródias de obras de arte famosas em “História em Quadrões”- http://www.monica.com.br/mural/alcance.htm 2266 Unidade 2 As Linguagens da Arte Quando falamos em arte como linguagem, pensamos em dança, teatro, música e artes visuais que se ramificam em escultura, gravura, pintura e desenho. Porém, cada linguagem da arte tem seu código e se pensarmos então em arte contemporânea fica ainda mais difícil distinguir nela as divisões citadas, pois muitas obras podem ser ao mesmo tempo, por exemplo, uma pintura, uma instalação, uma dança e até mesmo uma música. É por isso que hoje falamos de linguagens híbridas, sem desmerecer as outras linguagens. Existe um diálogo entre elas que podemos denominar de intertextualidade, pois o que importa neste momento é o significado que a obra quer transmitir, seja qual for a linguagem escolhida. Portanto, abordaremos nesta Unidade, além das linguagens tradicionais, também as linguagens híbridas. 2.1 Artes Visuais Vivemos em um mundo visual e com muitos estímulos visuais. As imagens são partes do cotidiano e é preciso que saibamos ler a obra de arte para poder atribuir-lhe sentidos (PEREIRA, 2007). As artes visuais, sendo uma linguagem, promovem este estímulo e fazem com que ela dialogue com as outras artes. 2277 2.1.1 Breve histórico das Artes Visuais A história das Artes Visuais segue a mesma cronologia da História da Arte, porém, abordaremos apenas a arte contemporânea que faz parte da ementa deste livro-texto. Fonseca (2007) afirma que para compreendermos o conceito de Arte Contemporânea é preciso saber identificar os movimentos artísticos na arte ocidental e as transformações provocadas por eles na produção artística de cada época histórica, do renascimento ao moderno e consequentemente ao pós-moderno. Segundo a autora, a Arte Contemporânea é aquela que propõe um novo sobre o novo proposto pela Arte Moderna, ou seja, experimenta novas técnicas, suportes e manifestações na atualidade. Ela está em desenvolvimento, em construção e em formação. 2.1.2 Artes Visuais na Escola O ensino das Artes Visuais nas escolas sofre há décadas de uma falta de compreensão do real significado desses saberes na educação. As aulas têm sido usadas como momentos para elaboração de objetos de decoração de salas e corredores, execução de cartazes, preparação de festas comemorativas, sem falar dos inúmeros desenhos mimeografados, presentinhos para o dia das mães entre outros – tudo em nome da “Arte”. Segundo Guerra (2010), o que se pretende hoje é um ensino de Arte visto como área de conhecimento e linguagem, com objetivos próprios, isto é, artísticos e estéticos, e com o dever de formar produtores e leitores competentes nos códigos visuais. A autora ainda afirma que o aluno deve aprender a operar com os códigos da linguagem visual, conhecer o universo dos elementos das artes visuais (ponto, linha, cores, forma, luzes, volumes etc.), desenhar, pintar e esculpir; ou seja, além da produção/criação também é fundamental a reflexão sobre as Artes Visuais como produto de uma época, de uma cultura, de um povo. A escola deve também permitir ao aluno relacionar a obra de arte com a história, com a política, religião, cultura, filosofia, assim como estimular, por meio das imagens do passado e da produção contemporânea, um olhar sensível e a construção de significados. 2288 Pereira (2007) esclarece que na sala de aula as propostas para trabalhos com artes visuais devem fazer uso de diferentes linguagens, não privilegiando apenas o desenho e a pintura. As formas contemporâneas que saem do papel, tais como objetos, instalações e assemblagens, também fazem parte da grande área das visualidades e possibilitam uma maior liberdade de criação. Portanto, os conteúdos de artes visuais devem estar centrados na produção e a observação artística visual, em espaços diversos, por meio das manifestações artísticas. 2.2 Música Para que serve a Música? Por que temos que estudar música? Ela mexe com as pessoas. Provoca emoções. Faz parte de nossas vidas, dos acontecimentos mais marcantes. A Lei Federal 11.769/2008 altera a Lei 9.394/1996, tornando obrigatório o ensino de música na educação básica. Hentschke et al (2006) mencionam que a música, na Grécia antiga, já tinha função educativa e era considerada uma importante ferramenta para a formação de crianças e jovens, contribuindo para a socialização; o desenvolvimento intelectual, estético e afetivo; assim como para a construção de valores pessoais e sociais. A música é uma linguagem que possibilita ao ser humano criar, expressar-se, conhecer e até transformar a realidade; todavia, para se apropriar dessa linguagem é necessário que seus sentidos sejam educados, formados e sensibilizados, a fim de que sua percepção sobre o mundo musical seja ampla e ele possa apreciar inúmeras manifestações musicais e criar suas próprias músicas (TAVARES e CIT, 2009). Para Granja (2006, p.56), linguagem é qualquer tipo de sistema de signos que produza algum sentido para o ser humano. Portanto, a semiótica (ciência que estuda os diferentes tipos de linguagem) não se restringe às linguagens verbais ou simbólicas, englobando uma ampla gama de linguagens. É um tipo de linguagem com signos próprios, cujo entendimento não passa necessariamente pelo crivo do verbal. A linguagem é forma mais apta para promover a aproximação entre o percebido e a percepção, ou, dito de outra forma, entre a sensação e a interpretação conceitual. Ela fala diretamente aos sentidos e, por essa razão, está intimamente ligada à percepção. Trata-se de uma percepção elaborada e complexa, envolvendo uma enorme gama de 2299 recursos cognitivos. Importante notar que os animais ouvem tão bem quanto os homens, mas somente estes podem atribuir significado aos sons, em particular àqueles que chamamos música. Quando se fala de música como função educativa, não se está pensando em um aprendizado musical para a formação de músico, mas sim no desenvolvimento do gosto pela música e da criatividade, da coordenação motora, da lateralidade, da lógica, da estética e da socialização entre outros. A música tem uma relação intertextual muito grande com o corpo, pois é impossível escutar qualquer tipo de música sem fazer qualquer movimento. Segundo Granja (2006), existe uma forte relação entre a pulsação rítmica da música e os ritmos corporais como respiração, batimento cardíaco, piscar de olhos etc. A dança é, de certa forma, a expressão corporal da música; podemos citar como exemplo a capoeira e o maracatu. 2.2.1 Breve relato histórico da Educação Musical no Brasil A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser humano (WILLEMS, 1970 apud LOUREIRO, 2001, p.108). A história da Música e da Educação Musical existe desde a criação do homem, porém foi se modificando ao longo do tempo. É na primeira metade do Século XX que surgem métodos para auxiliar no ensino da música, modificando o jeito de ensiná-la. A maioria dos métodos de música empregados na primeira metade do Século XX – a Dalcroze, Orff, Kodály, Willems, Suzuki – preocupou-se em estimular e desenvolver a capacidade criadora da criança. No entanto, hoje o educando tem total liberdade para explorar e descobrir suas próprias formas de expressão, suas próprias regras de jogo, novos materiais e até técnicas e estilos. Na segunda metade do Século XX surgem novas propostas para educadores musicais como George Self, John Payter, Murray Schafer, Hans-Joachin Koellreutter, que buscaram libertar-se dos métodos em seu sentido tradicional. Entretanto, tanto a primeira quanto a segunda metade do século XX, cada uma com suas características, 3300 enfatizaram a permanente construção do aprendizado, a busca de novos materiais sonoros e a utilização da música de vanguarda (VALIENGO, 2005). O Brasil após seu descobrimento ficou marcado pela educação musical introduzida pelos Jesuítas, com a finalidade de catequizar os Índios. Outro momento marcante foi a Semana de Arte Moderna de 1922, quando Mario de Andrade reflete sobre as relações da música com as Artes Visuais e Literárias e com a História do Brasil. Nesse contexto surge Heitor Villa-Lobos, introduzindo o Canto Orfeônico nas escolas, tendo como tema o folclore brasileiro (LOUREIRO, 2001). Com a queda de Vargas e o fim do Estado Novo, surge uma nova forma de ensinar, fundindo as diversas linguagens artísticas num todo e não apenas Canto Orfeônico. Nos anos 60 e 70, as artes rompem com a tradição modificando o processo de “fazer arte”, surgindo a Educação Artística, em que a música passa a ser considerada como uma entre as diversas formas de expressão artística. Todavia, gradativamente a música foi sendo excluída do conteúdo escolar, resumindo-se apenas a festas comemorativas entre outras ocasiões afins. A Lei 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) organiza o sistema escolar no Brasil com os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais). Entretanto, a educação musical foi inserida nas Artes de maneira equivocada; disso resultaram muitos anos de prática educacional no interior de nossas escolas com aspecto e função de atividade descartável (LOUREIRO, 2001). Com a promulgação da Lei 11.769/2008, essa situação se alterou. Todavia, de nada adiantará se o educador que for musicalizar a turma não tiver um bom entendimento dos objetivos desta proposta e da importância da música na formação da criança. 2.2.2 Musicalização O objetivo específico da educação musical é “musicalizar”, ou seja, tornar o indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro, promovendo nele, ao mesmo tempo, respostas de índole musical (GAINZA, 1988). Para compreender a importância da musicalização, primeiramente temos que entender a teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner – em número de sete; uma delas é a Inteligência Musical. 3311 Segundo Gardner (1995, p.21 apud FERRARI, 2012), as Inteligências Múltiplas são um conjunto de habilidades, chamadas de inteligências, que cada pessoa possui em grau e em combinações diferentes. A inteligência musical se caracteriza pela habilidade para reconhecer sons e ritmos, pelo gosto de cantar ou de tocar um instrumento musical; pode estar relacionada também ao interesse por vários tipos de artes, como dança e teatro entre outras. Ferrari (2012) afirma que a importância da música para o desenvolvimento do cérebro está cientificamente comprovada, sendo que ela estimula áreas do cérebro, facilitando o aprendizado. Para musicalizar, o educador pode fazer uso dos jogos musicais “não competitivos”, que serão discutidos na quarta Unidade deste livro-texto, dentro dos projetos educacionais. 2.3 Dança Desde o início das civilizações, homens e mulheres se expressam através de movimentos corporais, interagindo com o mundo. Sendo considerada uma linguagem, CURIOSIDADE Desvendando a mente humana Os anos 1990 ficaram conhecidos como a década do cérebro graças aos novos procedimentos de visualização do interior do corpo humano e, principalmente, ao grande número de estudos desafiadores sobre o assunto. "A teoria das inteligências múltiplas não poderia ter ganho as mesmas diversidade e dimensão sem as admiráveis conquistas das ciências da cognição nesse período", diz Celso Antunes. Alguns dos cientistas que mais contribuições trouxeram à área foram António Damasio, Oliver Sacks, Joseph LeDoux e Steven Pinker. Entre as descobertas recentes que contrariam crenças antigas estão a de que o cérebro mantém o potencial de evolução durante toda a vida e que funções de regiões lesionadas podem ser assumidas por outras, se estimuladas. Apesar dos avanços, a mente humana continua a ser um vasto território a explorar. A intensificação das pesquisas faz prever muitas novidades para os próximos anos. FONTE: Revista nova escola. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/cientista-inteligencias- multiplas-423312.shtml?page=2 - Acesso em 01 jan 2012. 3322 difere de outras como a música, uma vez que esta se expressa por sons e silêncio e aquela pelo movimento. A dança é também intertextual, pois dialoga com as outras artes. A dança está interligada ao corpo, mostra-nos as cores e as formas e leva-nos a tocar em algo para poder conhecê-lo, mostra-nos as sensações. Portanto, não é possível separar conceitos abstratos, ideias e/ou pensamentos, da experiência corporal; ela é a base primeira do que podemos dizer pensar e comunicar (RENGEL, 2006). Segundo Rengel (2006), a dança dialoga com as diversidades culturais e ensina a respeitar as diferenças. É a linguagem do movimento ou Arte do Movimento (termo criado por Rudolf Laban, mencionado adiante), sendo uma de suas funções acabar com o distanciamento entre o aprendizado intelectual e o aprendizado motor. 2.3.1 Breve histórico da Dança Uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi a dança. Utilizada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por todos os povos, desde o paleolítico superior (60.000 a.C.) (OLIVEIRA, 2001, p.14). É difícil determinar o surgimento da dança, mas a arqueologia indica sua origem ligada a cerimônias religiosas. Não vamos neste livro-texto discutir a linha do tempo da dança e sim a classificação de acordo com Faro (2001), pela qual a dança está dividida em três formas distintas: étnica, folclórica e teatral: Dança e etnia: danças provindas de determinados grupos étnicos; para a igreja católica, a dança era considerada pecado, profana. Dança folclórica: são as danças tradicionais que não foram teatralizadas, como os reels da Escócia ou as danças regionais da Espanha (Andaluzia, Navarra, Viscaya). Dança teatral: nasceu como privilégio de uma nobreza fútil, que encontrava em faustosos espetáculos uma forma de preencher o vazio de sua existência. Cem anos depois, durante o reinado de Luís XVI, a dança ganhou incremento. 3333 Faro (2001) ainda menciona que a dança folclórica apesar de ser muito rica é pouco executada. O maracatu, a congada, o Moçambique, entre outras, podem ter sido danças étnicas e se transformaram em folclóricas ao chegar ao Brasil. Mário de Andrade as denominou como dança dramática. Cronologia da História da Dança: Danças Primitivas: eram executadas pelos homens das cavernas e seus movimentos ficaram registrados nas paredes das cavernas (arte rupestre). Danças Milenares: eram as danças encontradas no Egito e Índia, ou que eram comuns na Idade Média, no Renascimento, no período do Romantismo, por exemplo. Dança Moderna: este período ficou marcado pela contribuição de três pesquisadores da arte do corpo: François Delsarte, para quem as emoções são transmitidas pelo tronco; Émile Jaques-Dalcroze, músico que constatou que o aprendizado da música fica mais fácil com a integração dos movimentos rítmicos e Rudolf Laban, que baseou sua proposta no princípio da linguagem corporal com movimentos simples do nosso cotidiano. A dança moderna também ficou marcada pelo surgimento da dançaria Americana Isadora Duncan que foi revolucionária e ousada para sua época, pois dançava descalça e sem as vestes tradicionais de bailarina. Dança Neoclássica: período que foi da década de 1940 a 1960. Dança Contemporânea: este período, da década de 1960 até os dias atuais, não impõe modelos ou etnias; isto é, os dançarinos podem ser gordos, magros, baixos, altos, etc; o que importa é a utilização do movimento para expressar toda e qualquer fonte de inspiração. Segundo Faro (2001), ser contemporâneo não significa necessariamente ser novo. Um espetáculo de “balé-pintura”, em que os bailarinos nus mergulham em vasos de tinta e rolam sobre imenso pano branco, revela uma das características principais da dança contemporânea, ou seja, ela pode ser dançada em qualquer lugar usando meios disponíveis. 3344 2.3.2 Dança na Escola Para Rengel (2010), o objetivo da dança na escola é de formar construtores e leitores de códigos da dança para a compreensão e a apreciação das inúmeras e variadas manifestações de movimento do corpo e do ambiente no qual eles se inserem. A autora ainda completa que este ensino possibilita o trabalho criativo com o corpo, a discussão sobre valores éticos e estéticos, além do desenvolvimento do pensamento crítico, da ampliação da visão de mundo e da formação da cidadania. Dança Educativa é um termo criado por Rudolf Laban (1879 – 1958), estudioso da movimentação humana que deixou um legado precioso para a ciência do movimento e criou um método de análise do movimento e de dança educacional. Laban foi coreógrafo e um dos fundadores da Dança Moderna. Seu método é eficaz para profissionais de diferentes áreas ligadas à expressão do corpo (RENGEL, 2006). Segundo Rengel (2006), a dança educativa vai além de um aprendizado de passos. Ela educa, artística e criativamente, para a compreensão, a prática e a apreciação das inúmeras e variadas manifestações de movimento, sejam eles gestos, posturas, passos, ou movimentos sucessivos, simultâneos, rituais, simétricos, assimétricos, entre outros tipos de movimentos. Teoria de Laban: em seus estudos sobre o movimento humano, Laban observou que o corpo humano executa três funções básicas: dobrar, esticar e torcer. Destacou também quatro fatores que compõem o movimento: fluência (contenção e continuação do movimento); espaço ( formas, volumes, linhas, caminhos e direções); peso (energia e força) e tempo ( duração, pulsação, ritmo) (RENGEL, 2010). 3355 2.4 Teatro Por que fazemos teatro? É uma pergunta frequente; no decorrer deste livro-texto vamos perceber que o teatro dialoga com as outras artes e manifestações artísticas, assim como com as linguagens verbais e não-verbais. Fazemos teatro por gosto, por diversão, por prazer e até mesmo para socializar e ensinar, de forma divertida, a história de um povo. Teatro é linguagem, com códigos próprios, assim como toda forma de expressão artística. Ele permite a reflexão sobre os conflitos, medos e angústias da vida contemporânea (GUERRA, 2010). 2.4.1 Breve Histórico do Teatro O teatro é tão velho quanto a humanidade e, segundo os estudiosos, surgiu da necessidade dos seres humanos de representar para expressar suas alegrias e tristezas e também para se comunicar com os outros e com os deuses em rituais e celebrações. (COLL e TEBEROSKY, 2002). Os autores afirmam que a origem do teatro está na Grécia antiga, no séc. IV A.C., quando da organização de festivais em consagração a Dionísio, o deus do vinho e da alegria. Os participantes vestiam peles de animais, dançavam e entoavam cânticos repetidos pelos demais (RODRIGUES, 2012). No Brasil, o teatro foi implantado pelos jesuítas durante o processo de catequização dos índios; somente no século XIX ele nacionaliza-se com o início do Romantismo, tendo sido Martins Pena o responsável por isso (ENCENA, 2012). 3366 Em seu livro O que é Teatro, Fernando Peixoto (apud ENCENA, 2012) define bem a história do teatro no Brasil e no mundo e menciona que as tendências do teatro contemporâneo são infindáveis e incorporam uma as outras. 2.4.2 O Teatro na Escola O teatro na escola tem o objetivo de alfabetizar artisticamente e esteticamente na linguagem cênica com foco na produção e leitura dos signos gestuais, e não o de formar atores, pois já vimos anteriormente que é conhecimento e linguagem. A prática do teatro na escola possibilita que os participantes exprimam de diferentes maneiras, os seus pontos de vista, fomentando a capacidade dos alunos de manifestarem as suas sensações e posicionamentos, tanto no que se refere ao microcosmo das suas relações pessoais, quanto no que diz respeito às questões da sua comunidade e do seu país (DESGRANGUES, 2006, p.135). Desgrangues (2006) informa que nas instituições educacionais tem-se trabalhado preferencialmente com jogos de improvisação, por compreender que o prazer de jogar se aproxima do prazer de aprender a fazer e a ver teatro, estimulando os alunos a organizarem um discurso coerente e criativo, explorando a utilização de diferentes signos que constituem a linguagem teatral. Segundo o autor, o exercício teatral desenvolvido durante as aulas estimula os alunos a conhecerem e se apropriarem das possibilidades comunicacionais da arte teatral. Ele afirma ainda que a experiência com os jogos improvisados faz com que o aluno aprenda, de maneira livre e prazerosa, os diferentes aspectos que envolvem o exercício da linguagem teatral como a imaginação, a ação e a reflexão. O professor deve proporcionar a intertextualidade, isto é, o diálogo entre o teatro e as demais linguagens. Na última Unidade deste livro-texto veremos algumas possibilidades. 3377 2.5 Outras Linguagens A linguagem visual envolve uma série de categorias (desenho, pintura, vídeo, fotografia, escultura, modelagem, cerâmica, gravura, performance, instalação, cinema, artes aplicadas como a publicidade e o design) e manifestações que sustentam em seu bojo um pensamento próprio, com seus materiais específicos, com seus fazeres singulares (DERDYK, 2006). A partir do século XX, outras maneiras de visualizar a arte apareceram; os avanços tecnológicos ampliaram as nossas possibilidades e dinamizaram o processo, abrindo nossas mentes. Tecnologias, como TV, vídeo e computador, transformaram a representação da imagem, que ficou cada dia mais interessante e extremamente nova. Isto não significa que deixaremos de lado a pintura e o desenho entre outros, mas a arte contemporânea vem renovando as formas de expressão artísticas já existentes (BUENO, 2008). Como vimos na Unidade anterior, estas novas linguagens também são conhecidas como linguagens híbridas. Alguns autores como São Paulo (2010) mencionam também as linguagens convergentes que nem sempre são consideradas como arte, mas trabalham com seus códigos como Cenografia, Design, Figurino, Iluminação, Jingle, Moda, Música para jogos eletrônicos, Ourivesaria, Publicidade, Sons para celular, Trilha sonora e Videoclipe. Veremos algumas destas novas linguagens, porém não me aprofundarei, pois isto é assunto para outro livro-texto. 2.5.1 Fotografia A fotografia surgiu em 1822, na mesma época em que houve a ascensão da pintura impressionista e por este motivo, muitos artistas perderam muitos de seus trabalhos para os fotógrafos. Ela tirou a obrigação do artista de fazer o registro social, dando a ele uma liberdade maior de criação (BUENO, 2008). A fotografia “direta”, sem retoques, contou com defensores até a Segunda Guerra Mundial e depois cedeu lugar a uma utilização mais subjetiva, em que deixa de 3388 apresentar apenas a forma documental, para expressar sentimentos e manipular a realidade, para criar símbolos e fantasias (STICKLAND, 1999). Segundo a autora, nos anos sessenta com o advento da arte pop surge um novo estilo de fotografia, chamado “instantâneo estético” (fotografia de rua), em que os profissionais focalizam intencionalmente imagens casuais, sem pose, parecendo trabalho de amador, para eliminar traços de artifícios. Outro tipo de fotografia é o Fotorrealismo, mais conhecido como hiper-realismo, neste a fotografia é reproduzida fielmente em pintura. Schultze, Bentes e Brandão (2008) afirmam que pesquisas demonstram que a imagem é utilizada na escola, incluindo a fotografia, porém na maioria das vezes articulada a um texto ou como ilustração de conteúdos. Ela deveria ser trabalhada com conteúdos próprios ou como produto de uma linguagem expressiva. As autoras concluem que é preciso que a escola, como espaço de socialização e produção de saberes, possa contribuir com a apropriação da linguagem fotográfica na perspectiva de assegurar aos alunos experiências imagéticas. Hoje, com o surgimento de vários tipos de câmeras fotográficas, sendo a digital a mais atual, é preciso fazer com que o aluno veja a fotografia não apenas como uma forma de registrar um documento da realidade, mas sim como uma expressão artística. Figura 2.1- Manaus- AM Foto da autora 3399 2.5.2 Cinema Ficou conhecido como a Arte do século XX, com uma linguagem própria, isto é, a linguagem da imagem em movimento, que provoca no espectador sensações e emoções, refletindo o homem moderno e mostrando claramente sua maneira de compreender o mundo (BUENO, 2008). A relação entre cinema e educação, inclusive a educação escolar, faz parte da própria história do cinema. Desde os primórdios da produção cinematográfica a indústria do cinema sempre foi considerada, inclusive pelos próprios produtores e diretores, um poderoso instrumento de educação e instrução. A relação entre cinema e conhecimento, no entanto, extrapola o campo da educação formal (MIRANDA, COPPOLLA e RIGOTTI, 2012). Na educação, o cinema pode auxiliar na linguagem gestual, gráfica, visual entre outras. Ele estimula os sonhos e produz espectadores formadores de opinião. Não tem como trabalhar a linguagem do cinema sem a intertextualidade com a linguagem textual, isto é, a história do filme. 2.5.3 Televisão Depois da invenção do cinema e da fotografia, surge a televisão, pela necessidade de transmitir imagens a distância. Este aparelho invadiu os lares com tamanha força e poder que até hoje influencia opiniões e modifica o comportamento das pessoas (BUENO, 2008). Na sala de aula, a escola não pode ignorar esse importante meio de comunicação, porém, sua exploração em sala de aula ainda é pequena e muitas vezes de forma pouco didática. O professor precisa ensinar o aluno a reconhecer o que é real ou não, a conhecer os profissionais que atuam nos bastidores e a ser capaz de fazer leitura de imagem televisiva. Ainda para Bueno (2008), a linguagem da televisão e a leitura das imagens permitem uma diversidade de observações que possibilitam desenvolver as habilidades de interpretar, ver, classificar como boa ou ruim a qualidade dos meios de comunicação e até, possivelmente, selecionar melhor os programas antes de assistir a eles. 4400 2.5.4 Instalação A palavra “Instalação” entrou em uso no fim da década de 1960, mas sua origem pode ser atribuída aos ready-made
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