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Manejode pragas de fruteiras de clima temperado, subtropical e tropical 41 Maneio integrado de insetos e ácaros-praga na cultura do pessegueiro Marcos Botton', Dori Edson Naua/, Cristiano João Ariolr, Alexandre Carlos Menezes-Netto", Fernando de Amorim Mascaro" Resumo - O pessegueiro é uma das culturas do grupo denominado minor crops ou Culturas com Suporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI).Os produtores dessa frutífera, predominantemente cultivada na região de clima temperado do Brasil, possuem um grande desafioao planejar a estratégia de manejo fitossanitário, especialmente dos insetos e ácaros-praga, que será adotada. Diversos inseticidas amplamente empregados no cultivo foram recentemente proibidos e/ou retirados do mercado, reduzindo as ferramentas de manejo e levando,muitas vezes, a uma ilegalidade involuntária dos produtores. Nos últimos anos, diferentes alternativas de controle, tanto para a mosca-das-frutas quanto para a mariposa-oriental, foram pesquisadas, devendo ser incorporadas ao sistema produtivo. Palavras-chave: Prunus persica. Mosca-das-frutas-sul-americana. Mariposa-oriental. Manejo Integrado de Pragas. Monitoramento. Integrated management of insect and mite pests in peach Abslract- Peach crop is one of the principal minor crops cultivated in temperate region of Brazil. The growers face a major challenge when planningthe plant health management strategy, specially insect and mite pests. Many insecticides widely used for peach crop protection inthepast were recently banned andy or removed from the market, reducing management tools. In recent years, altematives to the control of the fruit flies and the oriental fruit moth were developed, being necessary to introduce these strategies into the production system. Keywords:Prunus persica. South American fruit fly, Oriental fruit moth. Integrated Pest management. Monitoring. INTRODUÇÃO A cultura do pessegueiro pode ser hos- pedeirade diversas espécies de insetos e ácaros-praga que prejudicam tanto a qualida- dequantoa quantidade de produto colhido. O pessegueiro é uma das culturas do grupodenominado minor crops ou Cultu- rascomSuporte Fitossanitário Insuficiente (CSFI), indicando que há necessidade de legalizardiversas ferramentas para o ma- nejode pragas no cultivo. A mosca-das-frutas-sul-americana Anastrephafraterculus, a mosca-do-medi- terrâneoCeratitis capitata e a mariposa- oriental Grapholita molesta são as de maior importância econômica, nas diferen- tes regiões produtoras. Essas espécies são consideradas pragas-chave, enquanto as demais assumem importância secundária. No entanto, espécies-praga de importância secundária podem assumir posição de praga-chave, quer pelo manejo adotado para o controle das pragas primárias, o qual pode incrementar a população dos insetos fitófagos em detrimento dos ini- migos naturais, quer pela localização do pomar. Como exemplo da importância do manejo adotado nos pomares, pode-se citar o aumento da ocorrência da cochonilha- branca do pessegueiro Pseudaulacaspis pentagona, em decorrência das frequentes pulverizações de inseticidas do grupo dos piretroides para o controle da mariposa- oriental. Por outro lado, a importância da localização do pomar na dinâmica das pragas secundárias pode ser exemplificada com o aumento da incidência do gorgulho- do-milho Sitophilus zeamays nos frutos, na época da pré-colheita, favorecido pela presença de lavouras ou armazéns de milho próximos aos pomares. Outro grupo de insetos favorecido pela presença de lavou- ras próximas aos pomares são os tripes, das mais diversas espécies e que podem provocar danos significativos em pêssegos 'Eng.Agrônomo,D.Se., Pesq. EMBRAPAUva e Vinho/Bolsista CNPq, Bento Gonçalves, RS, mareos.botton@embrapa.br 2Eng.Agrônomo,D.Se., Pesq. EMBRAPAClima Temperado/Bolsista CNPq, Pelotas, RS, dori.edson-nava@embrapa.br 3Eng.Agrônomo,D.Se., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de São Joaquim, São Joaquim, SC, eristianoarioli@epagri.se.gov.br "Eng.Agrônomo,D.Se., Pesq. EPAGRI - Estação Experimental de Videira, Videira, SC, alexandrenetto@epagri.se.gov.br 5Eng.Agrônomo,Responsável Téen. SIGMAAgroambiental Pesquisa e Consultoria Ltda - ME, Paranapanema, SP, sigmagropesquisa@uol.eom.br Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.38, n.297, p.41·54, 2017 42 Manejo de pragas de fruteiras de clima temperado, subtropical e tropical durante a fase de floração e frutificação. Um terceiro exemplo de manejo que au- menta a incidência de pragas é o emprego elevado de adubos nitrogenados, o que tem favorecido o incremento populacional de ácaros fitófagos e pulgões. Neste artigo são apresentadas in- formações sobre a bioecologia, danos, monitoramento e estratégias de controle dos principais insetos e ácaros-praga do pessegueiro no Brasil. PRAGAS PRIMÁRIAS Mosca-das-frutas-sul- americana e mosca-do- mediterrâneo Anastrepha fraterculus (Wiedemann, 1830) e Ceratitis capitata (Wiedemann, 1824) (Diptera: Tephritidae) Amosca-das-fiutas-sul-americana (Fig. 1) é a principal praga da cultura do pessegueiro na Região Sul do Brasil. Nos pomares lo- calizados em regiões de clima subtropical e tropical, a mosca-do-mediterrâneo (Fig. 2) também causa prejuízos à cultura. As fêmeas realizam a postura abaixo da epiderme do fruto, originando as larvas que os depreciam e os tomam inadequados à comercialização (NAVA et aI., 2014). A duração das fases de desenvolvimento das duas espécies de moscas-das-frutas é variável em função da temperatura. O ciclo de vida (ovo a adulto) é de curta duração, sendo de aproximadamente 28 e 18 dias (a 30°C) para A.fraterculus e C. capitata, respectivamente (SALLES, 2000; RICALDE, 2010). Na prática, isso implica na ocorrência de várias gerações durante o ano, em diversos hospedeiros, incluindo o pessegueiro, no qual apresenta grande po- tencial de dano (NAVA; BOTTON, 2010). Danos Os danos causados decorrem do desen- volvimento larval das moscas-das-frutas e do aumento da incidência de doenças (principalmente a podridão-parda, causada pelo fungo Monilinia fructicola), associa- Figura 1 - Adultos da mosca-das-frutas-sul-americana Figura 2 - Adultos da mosca-do-mediterrâneo das à lesão causada pelas fêmeas durante a oviposição. As larvas constroem galerias na polpa, com consequente apodrecimento dos frutos. As fêmeas começam a ovipositar quando os frutos ainda estão verdes, logo após o raleio (SOUZA FILHO, 2006). No entanto, o desenvolvimento completo das larvas somente ocorre cerca de 30 dias antes da colheita (SALLES, 1995). Em pomares orgânicos foram registradas perdas na produção de até 100% (RUPP et al., 2006). Monitoramento O monitoramento pode ser feito com armadilhas do tipo McPhail (Fig. 3), is- cadas com proteína hidrolisada de origem animal (Cera Trap") ou vegetal (BioAnas- Figura 3 - Armadilha McPhail utilizada para o monitoramento dos moscas-dos-frutas Informe Agropecuário, 8elo Horizonte, v.38, n.297, p.41-54, 2011 Manejo de pragas de fruteiras de clima temperado, subtropical e tropical 43 trepha"), levedura Torula" ou suco de uva integral(LANG SCOZ et aI., 2006). Em cadaarmadilha são colocados, aproxima- damente,300 mL da solução, e a reposição ou substituição do atrativo é efetuada de acordocom a formulação (Quadro I). As armadilhas devem ser distribuídas emnúmero de duas a quatro nos pomares de até 2 ha. Acima dessa área, adicionar umaarmadilha a cada 2 ha. As armadilhas são fixadas entre 1,5 e 2 m de altura da planta,devendo ser instaladas nos pomares logoapós o raleio de frutos, nos locais com maiorprobabilidade de captura de moscas, comonas bordas e próximo das matas, per- mitindoidentificar o momento de entrada dosadultos nos pomares. Armadilhas nas áreas centrais do pomar também devem serinstaladas para diagnosticar a presença dosinsetos. A avaliação da população deve ser semanal ou duas vezes