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FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 36 2.5 – ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS A abordagem humanística ocorre, de fato, com o apareci- mento da Teoria de Relações Humanas (ou Escola Humanística da Administração), nos Estados Unidos, a partir da década de 30 do século 20, em decorrência da onda de desemprego resultante da crise de 29, e foi impulsionada pelos resultados da pesquisa desenvolvida na Western Electric, uma fábrica de equipamentos telefônicos, no bairro de Hawthorne de Chicago. É importante ressaltar que A escola nasceu da necessidade de corrigir a forte tendência à desumanização no trabalho, pela aplicação de métodos excessi- vamente rigorosos, pautados em estudos científicos precisos pe- los quais os funcionários eram submetidos, sendo impedidos de dar a sua contribuição (Oliveira; Silva, 2006, p. 80). A experiência foi realizada por George Elton Mayo (1880 – 1949) e seus colaboradores, entre 1927 e 1932, em uma fábrica de Chicago, com o objetivo inicial de conduzir experimentos re- lacionados à luminosidade no ambiente de trabalho com a efici- ência dos operários medida pela produção. Andrade e Amboni (2007, p. 95), que recuperaram os fatos ocorridos nesse período, afirmam que “a partir dos primeiros re- sultados, a pesquisa se estendeu ao estudo da fadiga, dos aci- dentes de trabalho, à rotação de pessoal e ao efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos operários”. A experiência de Hawthorne teve quatro fase: a) os estudos da iluminação; b) os estudos da sala de teste de montagem de relés; c) o programa de entrevistas; d) os estudos da sala de observação de montagem de terminais. Maiores detalhes sobre a Escola de Relações Humanas você pode pesquisar nas referências bibliográficas fornecidas no item 2.2.5. Da mesma forma, pode assistir ao filme A classe operária vai ao paraíso, que permite aprender sobre conceitos da teoria das relações humanas. A Classe Operária vai ao Paraíso Adorado por seus superiores por ser um trabalhador extremamente dedicado, e odiado pelo mesmo motivo por seus colegas de trabalho, Lulu vive entregue aos sonhos de consumo da classe média, alienado em meio aos movi- mentos de protesto de sua classe, até que um aconteci- mento põe em xeque suas opiniões. Disponível em: <http://melhoresfilmes.com.br/ filmes/ a-classe-operaria-vai- ao-paraiso>. Acesso em: 20 jan. 2008. 37 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL As conclusões decorrentes das experiências são: a) o nível de produção não é determinado pela capacidade física do trabalhador, mas pela integração social, ou seja, “o homem é um ser social que necessita de outros para dialogar, trocar amor e carinho” (Andrade; Amboni, 2007, p. 97); b) o comportamento do indivíduo está apoiado no grupo e condi- cionado a normas e padrões sociais; c) o surgimento de grupos informais, que demonstrou ser um fa- tor determinante para o estabelecimento de relações de confi- ança entre os companheiros de trabalho; d) a interação social é importante, porque são seres humanos com sentimentos; e) conteúdo e natureza do trabalho devem estar de acordo com as aptidões dos trabalhadores, para que estes não se sintam frustrados e desmotivados; f) as emoções precisam ser consideradas no âmbito da organização. Como você avalia estes pontos apresentados a partir de uma observação empírica? Percebeu que estamos falando de uma prá- tica que se transformou em teoria a partir da observação para explicar ou compreender a realidade da organização, objeto de estudo? Na verdade, foram esses conhecimentos, construídos a partir da investigação da prática, que fundamentaram a teoria da escola de relações humanas! No entendimento de Motta e Vasconcelos (2006), as idéias centrais da Escola de Relações Humanas se resumem em três: a) homem social: é um ser complexo, cujo comportamento preci- sa ir além do esquema simples e mecanicista, considerando o sistema social em que o trabalho deve ser visto como processo coletivo e como uma atividade cooperativa; motivado a agir por necessidades biológicas e psicossociais; Grupos informais São aqueles que surgem espontaneamente nas organi- zações por questões de amizade, identificação e objetivos comuns. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 38 b) grupo informal: emerge dentro da organização quando as interações informais entre um determinado número de indivíduos começam a se intensificar pelo inter-relacionamento pessoal, de conduta e interesses pessoais; c) participação nas decisões: preocupada com a relação entre a moral e produtividade, colo- cou na motivação a grande possibilidade de levar o indivíduo a trabalhar para atingir os objetivos da organização formal, ou seja, poderia opinar sobre o próprio trabalho, contri- buindo para o seu aperfeiçoamento, bem como estaria sujeito a um controle por resulta- dos e não por supervisão cerrada. Agora vamos descobrir quem são os outros colaboradores de Elton Mayo no desenvol- vimento da Escola de Relações Humanas. a) Oliver Sheldon: apresentou, em 1923, uma filosofia de Administração enfatizando as responsabilidades sociais da empresa. b) Alfred J Marrow: introduziu os métodos de pesquisa da Psicologia aplicada à solução dos problemas organizacionais, defendendo a criação de um ambiente de trabalho capaz de atender às necessidades dos trabalhadores. c) Ordway Tead: defendia a compreensão do comportamento administrativo a partir de co- nhecimento da natureza humana. d) Mary Parker Follett (1868 – 1933): autêntica precursora da Escola de Relações Huma- nas, chamada de “profeta do gerenciamento” pelo fato de ter sustentado idéias muito à frente do seu tempo em relação à gerência, em especial às formas de liderança e traba- lho em equipe. Seus escritos são anteriores aos estudos de Hawthorne. Sua preocupa- ção acadêmica também voltava-se aos conflitos industriais e mostrou que a unidade da sociedade não se encontrava nos indivíduos, mas sim nos grupos sociais. Follett defen- dia que existem três formas de se lidar com o conflito: a dominação, a conciliação e a integração. e) Roethlisberger e Dickson: pelo imenso legado descritivo das primeiras experiências dessa escola. Ambos propuseram um modelo de organização como sistema social, contemplan- do a eficiência técnica e a social. f) Chester Barnard: sua contribuição foi o deslocamento da análise da organização formal para os grupos informais. Da mesma forma, enfatizou em sua obra as tensões entre o indivíduo e a organização. 39 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Assim como as demais abordagens e respectivas escolas, a Escola de Relações Huma- nas também recebeu suas críticas: a) O interesse da Administração nos problemas de cooperação é conseqüência da especiali- zação, mas a ciência de RH tem sido encarada como responsável pela justificativa ideo- lógica da estrutura institucional vigente, desviando a atenção para o ajustamento da estrutura individual. b) O movimento de relações humanas veio resolver, no plano teórico, o problema do conflito por meio de sua simples negação. c) Crítica é de natureza analítica. Tende a priorizar um campo muito pequeno de variáveis e a estudá-las sem levar em conta as demais. d) Concepção de homem é uma concepção estreita – continua sendo passivo e controlável por meio de estímulos, um ser simples e previsível. e) O mesmo tipo de lógica de análise que se refere à organização do trabalho da Escola Clássica. f) Cria uma dualidade em sua análise: a organização formal e lógica x a organização infor- mal e afetiva, que posteriormente são integradas em estruturas formais e informais da organização. g) A experiência de Hawthorne é limitada, pois não permite queseus resultados sejam gene- ralizados para outras empresas do setor por possuírem culturas e histórias diferentes. h) Ênfase excessiva nos grupos informais e pouco foco no trabalho. i) A participação dos funcionários nas decisões foi burlada pela empresa no intuito de espi- onar idéias e insatisfações do grupo funcional. Alguns autores afirmam que serviu como um lubrificante para reduzir a resistência à autoridade formal para atingir as metas organizacionais. j) Não apresentou uma visão socioeconômica realista das relações empresa-funcionário e não forneceu critérios de gestão claros para a obtenção de resultados. k) Os estudos de Hawthorne sugeriam que “empregados felizes serão empregados produti- vos”. Esta relação entre felicidade e satisfação no trabalho é inadequada porque repre- senta uma visão simplista da natureza do homem. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 40 l) A teoria falhou em reconhecer o conflito como uma força criativa da sociedade; os estudi- osos acreditavam que o conflito era ruim e devia ser minimizado. A ênfase era dada no alcance da paz e da cooperação. O conflito existe e se adequadamente tratado pode trazer ajustes e resultados mais eficazes. Desta forma, mesmo com erros e distorções, e ainda que formando uma corrente de oposição à abordagem clássica, a teoria das relações humanas nos apresenta uma série de enfoques novos, igualmente importantes, tanto quanto as contribuições de Taylor, Fayol e Weber. Posteriormente a teoria apresentada mereceu uma revisão em seus conceitos e funda- mentos, sendo apresentada como Teoria Comportamental. As críticas à concepção ingênua e romântica do funcionário e a ênfase exagerada nos grupos informais colaboraram rapida- mente para que ela fosse repensada e, nesse sentido, a administração das relações humanas precisou passar por uma reelaboração, concretizada a partir da Administração comportamental. Bem, aí nos perguntamos: – Afinal, o que aconteceu depois? Como a gestão era vista e desencadeada a partir desta problemática explicitada anteriormente? Vamos estudar isso na seção 2.2.6. 2.6 – ESCOLA COMPORTAMENTALISTA A abordagem ou Escola Comportamentalista, também denominada de novas relações humanas ou behaviorista da Administração, tem como origem um desdobramento da teoria das relações humanas e uma tentativa de consolidar o enfoque das relações humanas nas teorias das organizações, na década de 40 do século 20. Considerando as falhas na abordagem da escola de relações humanas e nas suas su- posições citadas nas críticas, que adotaram uma orientação mais psicológica, com foco no ajustamento pessoal do trabalhador nas organizações e nos efeitos dos relacionamentos intergrupais e estilos de liderança, ou seja, o foco era o estudo dos indivíduos e grupos nas organizações, surge a Escola Comportamentalista, ampliando a discussão e aperfeiçoando-a. A contribuição mais importante trazida para a Escola Comportamentalista foi do ale- mão Kurt Lewin (1890 – 1947), que se constituiu na passagem das relações humanas para um novo movimento dedicado à Administração e à Psicologia industrial na década de 60. 41 FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL Em 1935 lançou seu primeiro livro, intitulado Teoria dinâ- mica da personalidade, no qual desenvolveu vários pontos da di- nâmica de grupo. Lewin realizou estudos e conduziu experimen- tos de grupo para medir a atmosfera da liderança (nos três estilos – autocrática, liberal e democrática). Foi pioneiro nos estudos sobre a eficácia dos estilos gerenciais, defendendo o sistema participativo como sendo o mais eficaz. Esta temática será abor- dada na Unidade 4. Silva (2002) revela que os estudiosos apontaram para duas li- nhas dentro do comportamentalismo, associadas a alguns autores: a) ênfase no aspecto sociológico: Chester Barnard, Herbert Simon e Philip Selznick; b) ênfase no aspecto psicológico: Elton Mayo, Chris Argyris e Amitai Etzioni. Além destes, outros nomes importantes desenvolveram es- tudos que serão abordados mais adiante. O comportamentalismo pode ser definido como uma doutrina psico-sócio-filosófica, que visa explicar os fenômenos sociais por meio do comportamento dos indivíduos e o estudo das causas que influenciam tal comportamento (Silva, 2002, p. 220). Isto significa o rompimento com os enfoques normativos e prescritivos das escolas anteriores. O pesquisador de maior des- taque dessa escola foi Herbert Alexander Simon (1916 – 2001), cuja meta principal foi tentar desenvolver uma ciência do com- portamento humano isenta da consideração de valores, sendo apresentado pelo sistema de decisão. A publicação, em 1947, do seu livro O comportamento administrativo foi importante para impulsionar a abordagem comportamental. Outras figuras expoentes da Escola Comportamentalista são: Abraham Maslow e Fre derick Herzberg (teorias motivacionais), Douglas McGregor (Teoria X e Y), William Ouchi (Teoria Z) e Rensis Likert (estilos de Administração e sistemas de Administração). Teorias X e Y Procuram comparar dois estilos opostos e antagônicos de administrar, ou seja, de um lado, a concepção da teoria tradicional (Teoria X) e, de outro, um estilo baseado nas concepções modernas a respeito do comportamento humano (Teoria Y). A Teoria X valoriza a abordagem clássica de Administração e a Teoria Y defende que administrar representa um processo de criar e revitalizar oportunidades internas e externas para facilitar o alcance de objetivos (Andrade; Amboni, 2007, p. 126). ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria Geral da Adminis- tração: das origens às perspectivas contemporâneas. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2007. Teoria Z É um modelo de administração participativa, que proporcionou a base para todo o programa de Administração orientado para os recursos humanos das organizações. FUNDAMENTOS DA GESTÃO ORGANIZACIONAL 42 Os estudos da Escola Comportamental desencadearam uma série de abordagem, tais como: motivação, sistemas de adminis- tração, processo de tomada de decisão, comunicação, liderança. Alguns desses temas serão tratados nas Unidades subseqüentes. A Escola Comportamentalista ressalta o “homem adminis- trativo”, que procura a maneira satisfatória e não a ótima ou a melhor maneira para fazer algo. Este se comporta apenas com relação a um conjunto de dados característicos de determinada situação, porém procura enfatizar os aspectos teóricos e os práti- cos; o ambiente interno e externo para a análise das pesquisas; os aspectos da organização formal e informal; os aspectos cognitivos e afetivos. Como visualizamos no Quadro 1, ainda temos outras esco- las para conhecer e aprender. Considerando a profundidade das temáticas, entretanto vamos optar por apresentar a discussão das demais escolas em outra Unidade. Vamos, contudo, apresentar no Quadro 3 uma síntese das abordagens, com seus principais autores e suas contribuições para que você possa compreender o todo da teoria da Administração. Quadro 3: Quadro síntese das abordagens da Administração Fonte: Autora (2007). Se tiver oportunidade assista ao filme “Laranja mecânica” e poderá visualizar os conceitos da teoria comportamental. O anti-herói do filme é Alex DeLarge, um jovem líder de uma gangue de delinqüentes, amantes de leite drogado e música clássica. Tem por diversão bater, estuprar, matar... Enfim, cometer qualquer brutalidade que tenha vontade, não se importando com as leis ou o senso humanitário. Quando finalmen- te é pego pela polícia, sofre um tratamento duro de reabilita- ção. Quando Alex volta às ruas, totalmente regenerado, passa a sofrer com aqueles que antes eram as vítimas. Disponível em: <http://cineplayers.com/ filme.php?id=362>. Acessoem: 20 jan. 2008. Abordagens da Administração Principais autores Foco de discussão Administração Científica 1890 a 1925 Taylor Ford Estudo dos tempos e movimentos – aperfeiçoamento das regras e estruturas internas da organização – tarefas. Clássica 1890 a 1925 Fayol Centralização, divisão do trabalho, estrutura, em funções: POCC – planejamento, organização, coordenação e control e, normas e princípios. Relações Humanas – 1927 Elton Mayo Fatores emocionais interferem na eficiência do trabalho Comportamento Humano ou Behaviorismo 1932 a 1940 Simon McGregor Kurt Lewin Os indivíduos e grupos participam, tomam decisões e resolvem problemas. Teoria da Burocracia 1940 Max Weber Padronização, racionalidade burocrática, administração impessoal da organização como todo. Estruturalismo 1950 Etzioni Blau e Scott Argyris e Schein Retoma o estudo do conflito do indivíduo na organização. Analisa a organização como um fato social. Sistemas 1951 Ludwig Von Bertalanffy, Katz e Kahn Buscar a eficiência e eficácia em sistemas abertos e complexo. Administração por Objetivos (APO) ou Neoclássica – 1954 Peter Drucker Alinhar metas pessoais com a est ratégia do negócio, atividades fins – resultados. Desenvolvimento Organizacional (DO) – 1962 Thompson e Bates, Bennis, Schein Processo sistemático, administrado e planejado de mudança de cultura, sistemas e comportamentos. Contingencial – 1972 Lawrence e Lorsch, Thompson Estruturas e práticas administrativas situacionais. Variáveis: ambiente e tecnologia.
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