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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL MÓDULO INADIMPLEMENTO Professora: Elisabete Vido 1. Material pré-aula a. Tema Recuperação de Empresas b. Noções Gerais A recuperação judicial de empresas tem o objetivo de permitir a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, de modo que a fonte produtora de empregos e de interesses dos credores seja preservada. Em outras palavras, busca-se a preservação da empresa tendo em vista o reconhecimento da sua função social e do seu papel de estímulo à atividade econômica. No entanto, como adverte Fábio Ulhôa Coelho, nem toda empresa merece ou deve ser recuperada, pois essa reorganização é custosa e este custo, claro, não é suportado só pela empresa em recuperação, e sim pelos credores e por toda sociedade. Ulhôa Coelho explica1: Em outros termos, somente as empresas viáveis devem ser objeto de recuperação judicial (ou mesmo a extrajudicial). Para que se justifique o sacrifício da sociedade brasileira presente, em maior ou menor extensão, em qualquer recuperação de empresa não derivada de solução de mercado, o empresário que a postula deve se mostrar digno do benefício. Deve mostrar, em outras palavras, que tem condições de devolver à sociedade brasileira, se e quando recuperado, pelo menos em parte o sacrifício geral feito para salvá- la. 1 COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de Direito Comercial – Direito de Empresa. 28 Ed. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2016. P. 202. A Recuperação Judicial está prevista na Lei de Falências (Lei nº 11.101/2005), e seu art. 47 positiva dois de seus princípios fundamentais: o princípio da função social da empresa e o princípio da preservação da empresa. Elenca como finalidades da recuperação da empresa a preservação i) da fonte produtora, ii) do emprego dos trabalhos e iii) dos interesses dos credores. Gladston Mamede, amparado na percepção de Tiago Fantini, destaca a importância da ordem de grandeza e prioridade dessas referências2. Segundo o autor, essa observação é adequada. O primeiro fim visado pela recuperação é a preservação da fonte produtora ao passo que a preservação dos empregos e dos interesses dos credores, estão compreendidos como grandezas de segunda e terceira ordem, respectivamente. Mamede destaca3: Embora a recuperação da empresa possa atender aos interesses e direitos patrimoniais do devedor ou da sociedade empresária, não é essa a finalidade da recuperação judicial da empresa: não se defere a recuperação para proteger o empresário ou a sociedade empresária (nem os sócios e administradores desta).” O procedimento da Recuperação Judicial é dividido em três fases distintas4: i) fase postulatória; ii) fase deliberativa; e iii) fase de execução. Abordaremos cada uma delas. • Fase postulatória. Nela é apresentado o requerimento de Recuperação Judicial. Tem início com a petição inicial de recuperação e se encerra com o despacho do juiz mandando processar o pedido. Os requisitos da petição inicial da Recuperação estão elencados no art. 51 da Lei 11.101/2005 e, dentre eles, podemos citar: exposição da situação patrimonial da empresa, explicando a crise econômico- financeira com as demonstrações contábeis dos últimos três anos (incisos I e II), a relação nominal dos credores com os vencimentos das respectivas obrigações (III), relação de empregados com suas 2 MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro – Falência e Recuperação de Empresas. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016, v. 4. P. 123. 3 Idem, ibidem. P. 123. 4 COELHO, Fábio Ulhôa. Op. Cit., P. 206. respectivas funções e salários (IV), relação das ações judiciais em andamento, que figure como parte (IX), certidões de protestos (VIII), relação de bens dos sócios controladores e dos administradores (VI), e outros documentos. A recuperação judicial somente pode ser requerida por empresários ou sociedades empresárias. Justifica-se essa restrição devido à distinção entre sociedades empresárias e sociedades simples. Vale lembrar que as cooperativas são sempre sociedades simples e as sociedades por ações são sempre sociedades empresárias. Por razões ligadas à regulação econômica de suas atividades, os seguintes tipos empresariais não têm acesso à Recuperação judicial5: as instituições financeiras, integrantes do sistema de distribuição de títulos ou valores mobiliários no mercado de capitais, corretoras de câmbio (Lei 6.024/74, art. 53), seguradoras (Decreto-Lei 73/66, art. 26) e as operadoras de planos privados de assistência à saúde (Lei 9.656/98, art. 23) e concessionárias de energia elétrica (Lei 12.767/12). Ainda, diferentemente da falência, na recuperação judicial, credores, trabalhadores, sindicatos ou órgão governamental que vier a ter um plano para reorganizar as finanças da empresa em estado crítico, pré-falencial, não poderá dar início ao processo contra a vontade da empresa. Ou seja, na Recuperação Judicial parte da empresa a iniciativa. Ainda, existem requisitos objetivos e subjetivos para que o devedor possa pleitear a recuperação judicial. Elisabete Vido os lista6: a) Exercer atividade empresarial de forma regular há mais de dois anos; A empresa só pode requerer o pedido de recuperação judicial se a sociedade estiver devidamente constituída e se a atividade empresária for exercida regularmente por mais de dois anos7. A Lei 5 COELHO, Fábio Ulhôa. Op. Cit., P. 206. 6 VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. P. 155-156. 7 O prazo de dois anos exigido pelo legislador tem a finalidade de coibir o pedido de recuperação judicial por empresas recém constituídas que, logo no início de suas atividades, revelam-se inviáveis ou pouco viáveis. 12.873/2013 inseriu o § 2°, no art. 48, da LF, permitindo que a comprovação deste prazo no exercício de atividade rural fosse realizada por meio de Declaração de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica – DIPJ. Os legitimados para pedir recuperação judicial são8: • empresário (firma individual); • sociedade empresária, representada por seu administrador; • gerente, no caso de outorga de poderes especiais e expressos para tanto, por meio de procuração escrita; • sociedades empresárias contratuais, se o contrato social expressamente outorgar o poder para requerer a recuperação judicial da empresa; caso contrário deverá obter a aprovação dos quotistas; • sociedade limitada, em caso de urgência, o administrador poderá requerer a recuperação judicial da empresa mediante autorização de mais da metade do capital social; • sociedades por ações, compete privativamente à assembleia geral conceder a autorização para os administradores; em caso de urgência, o pedido poderá ser realizado pelos administradores mediante a concordância do acionista controlador e a convocação de assembleia geral para deliberação sobre a matéria. No que diz respeito às hipóteses de legitimação ativa extraordinária, relacionadas ao evento morte, podem requerer recuperação judicial: • cônjuge sobrevivente, herdeiros ou inventariante do empresário; e • sócio remanescente, na hipótese de falecimento do sócio majoritário. b) Não ter sofrido falência, mas se tiver ocorrido, que possua declaraçãoda extinção das obrigações (art. 158 da Lei 11.101/2005). O mais importante desse requisito é saber que, uma vez que a falência seja decretada, não é possível sua 8 Leia-se: legitimidade ativa ordinária. conversão em recuperação judicial, como acontecia na concordada suspensiva; c) Não ter obtido a concessão da recuperação judicial nos últimos cinco anos; d) Não ter obtido a concessão da recuperação judicial com fundamento no plano especial nos últimos oito anos (arts. 70 e 72 da Lei 11.101/2005); e) Não ter sido condenado em crime falimentar (art. 48 da Lei 11.101/2005). O polo passivo da recuperação judicial é ocupado pela universalidade de credores. A Lei 11.101/2005 também traz uma lista exemplificativa dos meios de recuperação da atividade econômica da empresa. Da lista do art. 50, Elisabete Vido destaca os seguintes meios9: a) concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações; b) cisão, fusão, incorporação, transformação, cessão de cotas ou ações; c) alteração do controle societário; d) substituição total ou parcial dos administradores ou modificação dos seus órgãos administrativos; e) aumento de capital social; f) trespasse ou arrendamento do estabelecimento; g) redução salarial, compensação de horários e redução de jornada, mediante acordo ou convenção coletiva; h) dação em pagamento ou novação das dívidas; i) venda parcial de bens; j) emissão de valores mobiliários; k) usufruto da empresa. Cabe frisar que a lista do art. 50 é exemplificativa e que existem algumas limitações que devem ser respeitadas pelo plano de recuperação e dizem respeito às obrigações trabalhistas10: 9 VIDO, Elisabete. Op. Cit., P. 156-157. 10 VIDO, Elisabete. Op. Cit., P. 157. a) não é possível a previsão de pagamento no prazo superior a um ano para os créditos trabalhistas e os provenientes de acidentes de trabalho; b) não é possível a previsão de pagamento no prazo superior a 30 dias para os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial, com valor de até cinco salários mínimos, vencidos nos três meses anteriores ao pedido de recuperação judicial (art. 54 da Lei 11.101/2005). Todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos, se submetem à recuperação judicial, conforme art. 49 da Lei de Falências e de Recuperação de Empresas: Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos. Porém, existem exceções. Os seguintes credores/créditos não estão sujeitos à recuperação judicial11: a) o credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis; b) o credor de contrato de arrendamento mercantil; c) o proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias; d) o proprietário em contrato de venda com reserva de domínio; e) o crédito decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação (arts. 49, § 3.° e 86, II, da Lei 11.101/2005); f) o credor tributário (art. 187 do CTN). Como exposto, por força do art. 187 do CTN, a cobrança de créditos tributários não se sujeita ao concurso de credores12: Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento. 11 Idem, ibidem. P. 156. 12 Assim como os créditos de natureza fiscal, há outros créditos de natureza cível que não se submetem aos efeitos da recuperação judicial. Exemplos: Art. 75, §§ 3° e 4°; Art. 49, § 3°. Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem: I - União; II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata; III - Municípios, conjuntamente e pró rata. A Recuperação, grosso modo, é uma renegociação das dívidas da empresa, mas em função do princípio da indisponibilidade do interesse público, a lei tributária não admite qualquer tipo de negociação do crédito fiscal, e por isso este não integra a recuperação judicial e não está sujeito ao concurso de credores. Ou seja, deve ser regularizado (pago ou parcelado) independentemente do plano de recuperação. Inclusive, para que seja concedida a Recuperação Judicial, conforme previsão dos artigos 57, Lei 11.101/2005, e 191-A, CTN, a empresa deverá apresentar certidões negativas de débitos tributários (arts. 151, 205 e 206 CTN). • Fase deliberativa. Após a verificação da documentação apresentada com a inicial da Recuperação Judicial, há a discussão e aprovação de um plano de reorganização. Esta fase tem início com o despacho que manda processar a Recuperação e é concluída com a decisão que homologa o plano aprovado pela Assembléia Geral de Credores. “A assembleia dos credores é o órgão colegiado e deliberativo responsável pela manifestação do interesse da vontade predominante entre os credores sujeitos aos efeitos da RJ.”13 Pode ser convocada pelo juiz ou pelos credores, respeitados os critérios legais (art. 36, Lei 11.101/2005). E, em princípio, todos os credores admitidos na Recuperação Judicial têm direito a voz e voto na Assembleia. Outro órgão deliberativo na Recuperação Judicial é o Comitê, mas tem caráter facultativo e dependem do tamanho da atividade 13 COELHO, Fábio Ulhôa. Op. Cit., P. 203. econômica em crise. Se não houver um comitê, suas atribuições serão assumidas pelo administrador ou pelo juiz (art. 28, Lei 11.101/2005). No mesmo despacho em que determina o processamento da Recuperação Judicial, o juiz nomeia o Administrador Judicial, determina a suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor (ressalvadas as exceções legais) e a intimação do MP e comunicação por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos Estados e Municípios em que a requerente estiver estabelecida14. É temporária a suspensão das ações e execuções em virtude do despacho que manda processar o pedido de recuperação judicial. Cessa esse efeito quando verificado o primeiro dos seguintes fatos: aprovação do plano de recuperação ou decurso do prazo de 180 dias15. O Administrador deverá ser um profissional idôneo e terá seus honorários fixados pelo juiz (arts. 21 e 24 da Lei 11.101/2005). Conforme ensinamento de Elisabete Vido 16 , são atribuições do administrador na Recuperação Judicial: a) enviar correspondências aos credores, prestar informações, elaborar a relação dos credores e consolidar a respectiva classificação, convocar a assembleia geral de credores e contratar profissionais especializados, mediante autorização judicial, para auxiliá-lo na continuação da atividade empresarial, dar extrato dos livros do devedor e exigir informações dos credores; e b) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação, requerer a falência no caso de descumprimento da recuperação, apresentar relatório sobre a execução do pedido de recuperação e das atividades do devedor. Voltando aos efeitos da Recuperação Judicial, é importante frisar o listado no art. 49 da lei 11.101. Todos os créditos existentes à datado pedido estão sujeitos à recuperação, mesmo os que não estejam vencidos. 14 Idem, ibidem. P. 207. 15 Idem, ibidem. P. 208. 16 VIDO, Elisabete. Op. Cit., P. 151. Outros efeitos da Recuperação Judicial17: • Mesmo com a homologação do plano de recuperação judicial, o devedor permanecerá na administração dos bens da empresa; contudo, após a distribuição do referido pedido, o devedor não poderá alienar ou onerar bens ou direitos, a não ser que o juiz reconheça a utilidade da negociação e depois da manifestação do comité de credores, contando com a presença e a fiscalização constante do administrador judicial (art. 66 da Lei 11.101/2005). • Outra consequência importante é que os créditos decorrentes de obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial serão considerados extraconcursais no caso de falência, ou seja, serão pagos antes dos créditos concursais (créditos que deram origem à falência, por exemplo: créditos trabalhistas, quirografários etc.). • os créditos quirografários sujeitos à recuperação judicial pertencentes a fornecedores de bens ou serviços que continuarem a provê-los normalmente após o pedido de recuperação judicial terão privilégio geral de recebimento em caso de decretação de falência, no limite do valor dos bens ou serviços fornecidos durante o período de recuperação (art. 67 da Lei 11.101/2005). • O plano de recuperação judicial constitui novação dos créditos anteriores ao pedido, mas não libera as garantias admitidas anteriormente (art. 59 da Lei 11.101/2005). • Fase de Execução. Trata-se aqui da fase em que se fiscaliza o cumprimento do plano que foi aprovado. Tem início com a decisão que homologa o plano de recuperação judicial e termina com o encerramento do processo. 17 VIDO, Elisabete. Op. Cit., P. 157-158. Durante toda a fase de execução a empresa acrescentará à sua razão social os termos “em Recuperação Judicial”, para que todos que com ela se relacionam tenham conhecimento. Tal condição também deve ser levada à inscrição na Junta Comercial. Fábio Ulhôa Coelho ressalta a importância dessas providências 18 : “A omissão dessas expressões implica responsabilidade civil direta e pessoal do administrador que tiver representado a sociedade em recuperação no ato em que ela se verificou”. O Processo de Recuperação Judicial pode se encerrar em razão do efetivo saneamento das finanças da empresa (foco principal da Recuperação Judicial) ou com a convolação da recuperação em falência. O juiz poderá convolar a recuperação judicial em falência pelas seguintes razões19: a) por deliberação da assembleia geral de credores; b) pela não apresentação do plano de recuperação no prazo de 60 dias, contados da publicação da decisão que deferiu o processamento da recuperação judicial; c) quando houver sido rejeitado o plano de recuperação judicial pela assembleia dos credores; d) por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de recuperação (art. 73 da Lei 11.101/2005). Ainda, com a convolação, de acordo com o art. 74 da Lei 11.101/2005, todos os atos de administração, endividamento, oneração ou alienação realizados no curso da recuperação judicial são considerados válidos para a falência. Da mesma forma ocorre com os créditos que foram habilitados na Recuperação Judicial: serão considerados como habilitados no juízo universal falimentar (art. 80, Lei 11.101/2005). Por fim, para concluir o tema Recuperação Judicial, cumpre abordar de forma breve mais dois temas: Plano Especial de Recuperação Judicial: o procedimento de Recuperação é simplificado para microempresas (ME) ou empresas de pequeno porte (EPP). Ao optar por este plano, a empresa devedora 18 COELHO, Fábio Ulhôa. Op. Cit., P. 209. 19 VIDO, Elisabete. Op. Cit., P. 161. terá direito a parcelar em até 36 vezes suas dívidas existentes na data da distribuição do pedido (com vencimento da primeira parcela 180 dias a contar desta data). Está previsto nos artigos 70 a 72 da Lei 11.101/2005. Recuperação Extrajudicial: neste caso a nomenclatura extrajudicial se deve apenas ao procedimento de parte da estruturação da recuperação, já que a homologação judicial é obrigatória. Os requisitos são os mesmos da Recuperação Judicial, mas, se por algum motivo algum credor resiste a qualquer proposta de renegociação de seu crédito, colocando em risco a recuperação da empresa (e os créditos dos demais), os outros credores podem se reunir e estruturar a recuperação extrajudicial (com a posterior homologação judicial obrigatória). Está prevista nos artigos 48 e 161 da Lei 11.101/2005. A Nova Lei de Falências – PL 10.220/2018 Após treze anos da promulgação da atual lei falimentar, houve a propositura do Projeto de Lei nº 10.220/2018 ou Nova Lei de Falências – visando alterar a Lei nº 11.101/2005, objetivando, principalmente, sua modernização. De acordo com a proposta de alteração da Lei de Falências (LRJEF), cinco foram seus princípios norteadores20: 1. preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos produtivos da empresa, incluídos aqueles considerados intangíveis; 2. viabilizar a superação da situação de crise econômico- financeira de devedor viável, a fim de permitir a preservação da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos direitos dos credores; 3. fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica; 20 BASTOS, Athena. Lei de Falências e Recuperação Judicial: confira todas as mudanças. In: SAJ ADV. Publicado em: 18.03.2019. Disponível em: < https://blog.sajadv.com.br/lei-de-falencia-e-recuperacao- judicial/>. Acesso em: 24.08.2019. 4. permitir a liquidação célere das empresas inviáveis com vistas à realocação eficiente de recursos na economia; e 5. preservar e estimular o mercado de crédito atual e futuro. De acordo com o PL, a mudança já começa no art. 1º: Evidencia-se, neste primeiro artigo, a adoção do Regime de Cooperação Internacional e Insolvência Transnacional de que trata a Lei modelo da Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional. Quanto à Recuperação Judicial de Empresas, tema desta aula, em que pese o art. 47 não tenha alterações no PL, e o objetivo principal da Recuperação permaneça o mesmo, o inciso II do art. 48 do projeto traz alteração significante: na lei atual, a condição para requerimento de Recuperação é a não concessão de pedido de Recuperação Judicial há pelo menos 05 (cinco) anos. Pelo projeto de Lei nº 10.220/2018, este prazo cai para 02 (dois) anos. De acordo com os autores do Projeto, esta proposta trará maior dinamismo ao sistema econômico, permitindo aos empresários tentarem, mais de uma vez, obter sucesso em seus empreendimentos. Outras alterações propostas têm relação com a suspensão das ações e execuções movidas contra o devedor em recuperação judicial21: 21 COSTA, Daniel Carnio. Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas – Análise Crítica da Suspensão das Ações e Execuções movidas contra o Devedor em Recuperação Judicial. Publicado em: 19.03.2019.Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/InsolvenciaemFoco/121,MI298341,51045- Nova+Lei+de+Falencias+e+Recuperacao+de+Empresas+Analise+critica+da>. Acesso em: 25.08.2019. a) o termo inicial da suspensão: se daria já a partir da distribuição do pedido de recuperação judicial e não mais somente a partir do deferimento judicial do processamento do pedido; b) a amplitude da suspensão - quaisquer atos de constrição ou retenção judiciais e extrajudiciais – ações judiciais e arbitragens: o projeto deixa claro que o credor também está impedido de exercer qualquer tipo de retenção, arresto, penhora ou constrição judicial ou extrajudicial contra o devedor, incluídas aquelas dos credores particulares do sócio solidário; c) suspensão do despejo: a suspensão das ações também passaria a suspender a realização de despejo do devedor em recuperação, conforme o projeto; d) suspensão das execuções trabalhistas contra responsável subsidiário: e) o prazo da suspensão: até o encerramento do processo de recuperação judicial – antes o stay period era de 180 (cento e oitenta) dias contados do deferimento do pedido; f) créditos fiscais, FGTS, penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho e contribuições sociais e seus acréscimos legais: também estes créditos ficariam imunes aos efeitos da recuperação; Por fim, talvez a maior alteração trazida pelo projeto22: a extinção das quatro classes de credores existentes no sistema atual, transferindo à recuperanda o poder de classificar seus credores, de acordo com critérios estabelecidos no próprio plano de recuperação. Legislativamente, ainda há um longo caminho a percorrer, mas os debates estão fervilhando há muito, em razão das críticas da doutrina. Apesar de acreditarem que o projeto realmente corrige algumas distorções, alguns doutrinadores também vêm alguns equívocos. Alberto Camiña Moreira aponta um deles23: 22 CONCEIÇÃO, Vitor D. Projeto da Nova Lei de Falências e Recuperação Judicial extingue as quatro classes de credores. In: Migalhas. Publicado em: 28.03.2019. Disponível em: <https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI298947,91041- Projeto+da+nova+lei+de+falencias+e+recuperacao+judicial+extingue+as>. Acesso em: 25.08.2019. 23 MOREIRA, Alberto C. Nova Lei de Recuperação e Falências objetiva salvar empresas. In: OAB/SP. Publicado em: 04.12.2017. Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/noticias/2017/12/nova-lei-de- recuperacao-e-falencias-objetiva-salvar-empresas.12124>. Acesso em: 26.08.2019. Caso o projeto do governo seja aprovado, as instituições financeiras e demais credores de empresas em processo de restabelecimento terão a possibilidade de apresentar suas propostas para os planos de recuperação, saindo da posição de meros espectadores. “Manter o devedor como único capaz de apresentar um plano de recuperação gera desequilíbrio no processo. O credor deve ter o direito de apresentar um plano que considere melhor”, defende Moreira. Atualmente, o projeto de Lei tramita em regime de prioridade na Câmara dos Deputados24. c. Legislação • Lei de Falências e Recuperação de Empresas (Lei n° 11.101/2005) – Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária; a. Projeto da Nova Lei de Falências (PL nº 10.220/2018) – visa alterar a atual lei falimentar e de recuperação de empresas. • Código Civil (Lei n° 10.406/2002) – Art. 966; Art. 966, parágrafo único; Art. 971; • Súmulas do Superior Tribunal de Justiça: Súmula 264: É irrecorrível o ato judicial que apenas manda processar a concordata preventiva. Conforme frisa Elisabete Vido, o disposto deve ser aplicado para a recuperação judicial. Súmula 480: O juízo da recuperação judicial não é competente para decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa. 24 Projeto de Lei nº 10.220/2018: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2174927. Súmula 581: A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória. • Enunciados das Jornadas do Conselho de Justiça Federal: I Jornada de Direito Comercial: Enunciado 44: A homologação de plano de recuperação judicial aprovado pelos credores está sujeita ao controle judicial de legalidade. II Jornada de Direito Comercial: Enunciado 73: Para que seja preservada a eficácia do disposto na parte final do § 2º do artigo 6º da Lei n. 11.101/05, é necessário que, no juízo do trabalho, o crédito trabalhista para fins de habilitação seja calculado até a data do pedido da recuperação judicial ou da decretação da falência, para não se ferir a par condicio creditorum25 e observarem-se os arts. 49, caput, e 124 da Lei n. 11.101/2005. Enunciado 74: Embora a execução fiscal não se suspenda em virtude do deferimento do processamento da recuperação judicial, os atos que importem em constrição do patrimônio do devedor devem ser analisados pelo Juízo recuperacional, a fim de garantir o princípio da preservação da empresa. Enunciado 77: As alterações do plano de recuperação judicial devem ser submetidas à assembleia geral de credores, e a aprovação obedecerá ao quorum previsto no art. 45 da Lei n. 11.101/05, tendo caráter vinculante a todos os credores submetidos à recuperação judicial, observada a ressalva do art. 50, § 1º, da Lei n. 11.101/05, ainda que propostas as alterações após dois anos da concessão da 25 Princípio da par conditio creditorum ou Princípio da Paridade: tratamento igual a todos os credores de uma mesma categoria. Em que pese o CJF tenha grafado “condicio”, também é admitida a grafia “conditio”, que corresponde à forma clássica do latim. recuperação judicial e desde que ainda não encerrada por sentença. Enunciado 81: Aplica-se à recuperação judicial, no que couber, o princípio da par condicio creditorum. d. Julgados/Informativos INFORMATIVO Nº 548. ADI e Nova Lei de Falências – 1, Processo: ADI 3934. O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo Partido Democrático Trabalhista - PDT contra os artigos 60, parágrafo único, 83, I e IV, c, e 141, II, da Lei 11.101/2005, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. Sustentava o requerente ofensa aos artigos 1º, III e IV, 6º, 7º, I, e 170, VIII, da CF. Afastou-se, inicialmente, a alegada inconstitucionalidade formal dos dispositivos legais impugnados, por afronta à reserva constitucional de lei complementar. Asseverou-se que, nos termos do art. 22, I, da CF, compete privativamente à União legislar sobre direito do trabalho, a qual não está obrigada a utilizar-se de lei complementar para disciplinar a matéria, o que somente é exigido, de acordo com o art. 7º, I, da CF, para regrar a dispensa imotivada, assunto, entretanto, que não constituiria objeto da Lei 11.101/2005. No ponto, salientou- se que, não obstante a eventual recuperação ou falência de certa empresa ou a venda de seus ativos implique indiretamente a extinção de contratos de trabalho, esse efeito subsidiárionada teria a ver com a despedida arbitrária ou sem justa causa, que decorre sempre de ato volitivo e unilateral do empregador. ADI 3934/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.5.2009. (ADI-3934) INFORMATIVO Nº 548. ADI e Nova Lei de Falências – 2, PROCESSO: ADI - 3934. Rejeitou-se, em seguida, a alegação de que os artigos 60, parágrafo único, e 141, II, da lei em questão seriam inconstitucionais por estabelecerem que o arrematante das empresas em recuperação judicialnão responderia pelas obrigações do devedor, em especial as derivadas da legislação do trabalho. Considerou-se que a Constituição Federal não abrigaria nenhuma regra expressa sobre o eventual direito de cobrança de créditos trabalhistas em face daquele que adquire ativos de empresa em processo de recuperação judicial ou cuja falência tenha sido decretada. Além disso, não haveria ofensa direta a quaisquer valores implícita ou explicitamente protegidos pela Constituição Federal, podendo ocorrer, no máximo, uma colisão entre diferentes princípios constitucionais, sendo que, ainda assim, não se poderia falar em declaração de invalidade de um deles ou de instituição de uma cláusula de exceção, já que o legislador ordinário teria apenas estabelecido relações de precedência condicionada. Registrou-se que, no caso, o papel do legislador infraconstitucional teria se restringido a escolher dentre os distintos valores e princípios constitucionais, igualmente aplicáveis à espécie, aqueles que reputara mais idôneos para disciplinar a recuperação judicial e a falência das empresas, de forma a garantir-lhes a maior expansão possível, tendo em conta o contexto fático e jurídico com o que se defrontara. No ponto, observou-se que a Lei 11.101/2005 resultou de amplo debate com os setores socais diretamente afetados por ela, tendo surgido, também, da necessidade de se preservar o sistema produtivo nacional inserido em uma ordem econômica mundial caracterizada pela concorrência predatória entre seus principais agentes e pela eclosão de crises globais cíclicas altamente desagregadoras. Destarte, nesse contexto, o legislador teria optado por estabelecer que adquirentes de empresas alienadas judicialmente não assumiriam os débitos trabalhistas, por sucessão, porquanto isso não ensejaria prejuízo aos trabalhadores, já que a exclusão da sucessão tornaria mais interessante a compra da empresa e tenderia a estimular maiores ofertas pelos interessados na aquisição, o que aumentaria a garantia dos trabalhadores, em razão de o valor pago ficar à disposição do juízo da falência e ser utilizado para pagar prioritariamente os créditos trabalhistas. Além do mais, a venda em bloco da empresa possibilitaria a continuação da atividade empresarial, preservando empregos. ADI 3934/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 27.5.2009. (ADI-3934) PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE OS JUÍZOS TRABALHISTA E FALIMENTAR. EXECUÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA PROFERIDA CONTRA PESSOA JURÍDICA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LEGITIMIDADE DA CONSTRIÇÃO DE BENS DE PESSOA JURÍDICA QUE NÃO INTEGRAM O ACERVO DA MASSA FALIDA. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. 1. É de natureza infraconstitucional a controvérsia, fundada na interpretação da Lei 11.101/03, acerca da legitimidade da constrição, pelo Juízo Trabalhista, de bens pertencentes a pessoa jurídica do mesmo grupo econômico que empresa sob recuperação judicial, porém não integrantes da massa falida. 2. É cabível a atribuição dos efeitos da declaração de ausência de repercussão geral quando não há matéria constitucional a ser apreciada ou quando eventual ofensa à Carta Magna ocorra de forma indireta ou reflexa (RE 584.608-RG, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe de 13/3/2009). 3. Ausência de repercussão geral da questão suscitada, nos termos do art. 543-A do CPC. Decisão: O Tribunal, por unanimidade, reconheceu a inexistência de repercussão geral da questão. Ministro TEORI ZAVASCKI Relator. (Tema 878 - Legitimidade da execução na Justiça do Trabalho de bens que, a despeito de não integrarem a massa falida, pertencem a pessoa jurídica do mesmo grupo econômico de sociedade submetida a procedimento falimentar. RE 864264 RG/DF. Julgamento 17.03.2016). RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. APROVAÇÃO DE PLANO PELA ASSEMBLEIA DE CREDORES. INGERÊNCIA JUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE. CONTROLE DE LEGALIDADE DAS DISPOSIÇÕES DO PLANO. POSSIBILIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. A assembleia de credores é soberana em suas decisões quanto aos planos de recuperação judicial. Contudo, as deliberações desse plano estão sujeitas aos requisitos de validade dos atos jurídicos em geral, requisitos esses que estão sujeitos a controle judicial. 2. Recurso especial conhecido e não provido. (...) A apresentação, pelo devedor, de plano de recuperação, bem como sua aprovação, pelos credores, seja pela falta de oposição, seja pelos votos em assembleia de credores (arts. 56 e 57 da LFRJ) consubstanciam atos de manifestação de vontade. Ao regular a recuperação judicial, com efeito, a Lei submete à vontade da coletividade diretamente interessada na realização do crédito a faculdade de opinar e autorizar os procedimentos de reerguimento econômico da sociedade empresária em dificuldades, chegando-se a uma solução de consenso. Disso decorre que, de fato, não compete ao juízo interferir na vontade soberana dos credores, alterando o conteúdo do plano de recuperação judicial, salvo em hipóteses expressamente autorizadas por lei (v.g. art. 58, §1º,da LFRJ). (...) A vontade dos credores, ao aprovarem o plano, deve ser respeitada nos limites da Lei. A soberania da assembleia para avaliar as condições em que se dará a recuperação econômica da sociedade em dificuldades não pode se sobrepujar às condições legais da manifestação de vontade representada pelo Plano. Do mesmo modo que é vedado a dois particulares incluírem, em um contrato, uma cláusula que deixe ao arbítrio de uma delas privar de efeitos o negócio jurídico, o mesmo poder não pode ser conferido à devedora em recuperação judicial. A lei é o limite tanto em uma, como em outra hipótese”. (Rec. Especial 1.314.209-SP – Rel. Min. Nancy Andrighi – 3ª Turma – Julgado em: 22/05.2012) AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PREJUDICIAL DE SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA E OFENSA AO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. NÃO ACOLHIMENTO. PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL APROVADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DE CREDORES. INFRINGÊNCIA A DISPOSITIVOS LEGAIS E CONSTITUCIONAIS. INGERÊNCIA JUDICIAL. POSSIBILIDADE. CONTROLE DE LEGALIDADE. RECURSO PROVIDO. - Prejudicial de supressão de instância e ofensa ao duplo grau de jurisdição arguida em sessão de julgamento ao argumento de que a matéria não teria sido submetida ao juízo a quo. Não acolhimento, em face do efeito regressivo presente no recurso de agravo de instrumento, que enseja o conhecimento do pleito recursal pelo prolator da decisão, abrindo possibilidade, inclusive, do mesmo se retratar; - Agravo de Instrumento manejado em face de decisão que homologou plano de recuperação judicial aprovado em assembleia geral de credores; - Plano de recuperação que representa verdadeiro perdão da dívida, já que aplicado deságio de 90% sobre o valor nominal dos créditos, com pagamento do saldo remanescente (10%) em 120 parcelas mensais, iguais e consecutivas, após carência de 36 meses, sem incidência de qualquer encargos, a partir do mês subsequente ao da homologação do plano, com previsão inicial de pagamento para o mês de março/2015, contemplando ainda tratamentodesigual para credores da mesma classe pelo percentual de deságio adotado; - Violação a princípios constitucionais, a exemplo do princípio da razoabilidade, proporcionalidade e isonomia, além afronta ao art. 61 da Lei 11.101/05 e ao princípio da igualdade dos credores; - Necessidade de revisão dos posicionamentos do Poder Judiciário no sentido da soberania absoluta das Assembleias Gerais de Credores, devendo para tanto assumir seu papel precípuo de guardião dos princípios consagrados na Carta Política de 1988, atuando de maneira mais rigorosa e diligente, para que não continuem a ser homologados planos de recuperação judicial em flagrante descompasso com o ordenamento jurídico vigente; - Recurso provido, a unanimidade de votos. Primeiramente, há de se rechaçar por completo qualquer argumento no sentido da impossibilidade do Poder Judiciário proceder com tal revisão já que, provocado pela parte, não pode deixar de atuar, sob pena de malferir o princípio da inafastabilidade da função jurisdicional (art. 5º, XXXV da CF). Nesse diapasão, não se pode, sob o fundamento da soberania absoluta da Assembleia Geral de Credores retirar do Judiciário a possibilidade de aferir no caso em questão a compatibilidade das disposições contidas no plano, notadamente quando o mesmo se encontra de encontro a valores legais e constitucionalmente tutelados pelo ordenamento jurídico brasileiro. Portanto, só há de prevalecer a referida soberania quando em consonância com todo o ordenamento constitucional vigente. (Agravo de Instrumento 270857-4 - 3ª Câmara Cível do TJPE – J. 27.07.2012 – Des. Bartolomeu Bueno) Repercussão Geral em Direito Civil: Tema 885. Controvérsia alusiva à possibilidade do prosseguimento de ações de cobrança ou execuções ajuizadas em face de devedores solidários ou coobrigados em geral, depois de deferida a recuperação judicial ou mesmo depois de aprovado o plano de recuperação do devedor principal. A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei n. 11.101/2005. (REsp 1333349/SP, 2ª Seção, Relator LUIS FELIPE SALOMÃO. Julgado em: 26/11/2014. Publicado em: 02/02/2015). e. Leitura sugerida ABRÃO, Carlos Henrique; TOLEDO, Paulo F. Campos Salles. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. ALMEIDA, Amador Paes de. Curso de Falência e Recuperação de Empresa. 27. ed. rev. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2013. ANDRIGHI, Fátima Nancy; BENETI, Sidnei; ABRÃO, Carlos Henrique. 10 anos de vigência da lei de recuperação e falência (Lei 11.101/2005): retrospectiva geral contemplando a Lei 13.043/2014 e a Lei Complementar n. 147/2014. São Paulo: Saraiva, 2015. BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de Recuperação de Empresas e Falências Comentada - Lei 11.101/2005. 11. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. __________________________. Recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte: modificações introduzidas pela Lei Complementar nº 147, de 7 de agosto de 2014. Disponível em: <http://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/101590/recuperacao_m icroempresas_empresas_bezerra.pdf>. Acesso em: 25.08.2019. CAMPINHO, Sérgio. Falência e Recuperação de Empresa – O novo regime da insolvência empresarial. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Renovar, 2015. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial: direito de empresa. 17. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016, v.3. _____________. Manual Direito Comercial: direito de empresa. 28. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. _____________. Comentários à Lei de falências e de recuperação de empresas. 11. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. _____________ (Coord.). Tratado de Direito Comercial – Falência e Recuperação de Empresa e Direito Marítimo. São Paulo: Saraiva, 2015, v. 7. FAZZIO JÚNIOR, Waldo. Manual de Direito Comercial. 17. ed. São Paulo: Forense, 2016. (Parte IX) _____________. Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo: Atlas, 2015. MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro – Falência e Recuperação de Empresas. 8. ed. rev. e atual. São Paulo: Atlas, 2016, v. 4. (Capítulo 3; Capítulos 12 ao 20) MARTINS, Fran (atualizado por Carlos Henrique Abrão). Curso de Direito Comercial. 39. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Forense, 2016. (Capítulo 10) NEGRÃO, Ricardo. Aspectos Objetivos da Lei de Recuperação de Empresas e de Falências. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. PACHECO, José da Silva. Processo de Recuperação Judicial, Extrajudicial e Falência. 4. ed. São Paulo: Forense, 2013. REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 30. ed. rev. atual. por Rubens Edmundo Requião. São Paulo: Saraiva, 2013, v.2. SAAD DINIZ, Gustavo. Grupos Societários – Da formação à falência. São Paulo: Forense, 2016. SANTA CRUZ RAMOS, André Luiz. Direito Empresarial Esquematizado. 6. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Método, 2016. (Capítulo 7) SARHAN JÚNIOR, Suhel. Direito Empresarial – Manual Teórico e Prático. 2. ed. São Paulo: Del Rey, 2014. TEIXEIRA, Tarcísio. A recuperação judicial de empresas. Disponível em:<http://www.egov.ufsc.br/portal/sites/default/files/a_recuperaca o_judicial_de_empresas.pdf>. Acesso em: 25.08.2019. TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial – Falência e Recuperação de Empresas. 4. ed. rev. ampl. e atual. São Paulo: Atlas, 2016, v. 3 (Capítulo 2; Capítulos 3 ao 13) VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil – Direito Empresarial. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2016, v. VIII. (Parte IV) VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 4. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. g. Leitura complementar CRASTELO, Danilo Vicari. As empresas em recuperação judicial e falência e o procedimento arbitral. Revista dos Tribunais: RT, v. 103, n. 942, p. 55-67, abr. 2014. FRANCO, Vera Helena de Mello. Os meios para a recuperação judicial de empresas e problemas detectados. Revista dos Tribunais: RT, v. 104, n. 954, p. 217-235, abr. 2015. GONTIJO, Vinícius José Marques. Falência e recuperação de empresas: acordo de credores na Assembleia Geral. Revista de Direito Privado: RDPriv, v. 13, n. 49, p. 333-343, jan./mar. 2012. MENDES, Frederico Ribeiro de Freitas. Aspectos pontuais sobre a atuação do Ministério Público na Lei de Falências e Recuperação de Empresas. Revista de Processo: RePro, v. 37, n. 206, p. 397-412, abr. 2012. MENDONÇA, Saulo Bichara. Do comedimento à ineficácia do plano especial de recuperação judicial de microempresas e empresas de pequeno porte. Revista de Direito Empresarial: RDEmp, Belo Horizonte, v. 11, n. 2, p. 225-236, maio/ago. 2014. PIMENTA, Eduardo Goulart. Recuperação judicial de empresas, Cram Down e voto abusivo em Assembleia Geral de credores: estudo de casos. Revista de Direito Empresarial: RDEmp, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p. 129-144, jan./abr. 2013. SANTOS, Jonábio Barbosa dos; SOUSA, Nathália Guerra de. Falência e recuperação de empresas: contribuição para a materialização da funçãosocial = Bankruptcy and business recovery: contribution to the social function materialization. In: Revista Direito e Liberdade. Disponível em: <https://bdjur.stj.jus.br/jspui/bitstream/2011/94123/falencia_recupe racao_empresas_santos.pdf>. Acesso em: 25.08.2019.
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