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Artigo 311 Cpc

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Artigo 311, IV DO CPC – a petição inicial for instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
O inciso IV do artigo 311, acima transcrito, trata propriamente da tutela de evidência, uma das espécies das tutelas provisórias estabelecidas pelo Código, a partir do artigo 294. A tutela de evidência, como sinteticamente expressou com exatidão GAJARDONI, nada mais é do que “uma espécie de tutela antecipada satisfativa, embora sem o requisito da urgência.” 
Em si, a evidência da razão estar com o autor, preenchidos os pressupostos estabelecidos pelo Código (artigo 311), permite a antecipação da tutela pelo juiz, sem que seja necessário o concurso do tradicional periculum in mora. O rearranjo do tempo do processo aqui é pautado na evidência do direito, sem que o tempo da vida seja decisivo.
Porém, ainda que descreva uma das hipóteses em que se permite a concessão da tutela de evidência, o inciso IV do artigo 311 também requalifica o ônus da impugnação específica do réu.
É que o réu, acaso não queira estar sujeito a uma medida (tutela) provisória, em demandas cuja prova documental inicial demonstrou suficientemente os fatos constitutivos, deverá com sua impugnação opor prova capaz de gerar dúvida razoável (reasonable doubt).
O ônus da impugnação é redimensionado pela potencialidade de concessão da tutela de evidência.
Em demandas instruídas com prova documental suficiente, não basta ao réu impugnar especificamente os fatos constitutivos, devendo trazer prova capaz de gerar dúvida razoável, sob o risco da concessão da tutela de evidência.
O ônus da impugnação passa, em uma visão ampla, a exigir mais do réu, notadamente a impugnação específica dos fatos (para evitar a presunção de veracidade) e a demonstração da existência de dúvida razoável (afastando a tutela de evidência).
A partir do Novo Código, a valoração sobre o comportamento do réu será objeto de consideração tanto no plano probatório, quanto também na redistribuição do tempo do processo.
Portanto, não basta ao réu a atitude mecânica de apresentar manifestação específica sobre os fatos, já que onerado pela necessidade de trazer dúvida razoável quanto aos fatos articulados pelo autor, sob o risco de ser concedida a tutela de evidência.
Na estruturação do Código, existem pelo menos dois momentos marcantes para a análise da tutela de evidência, logo após a apresentação da inicial e depois da apresentação da resposta, talvez em sequência à manifestação da contestação (artigo 311, parágrafo único, do Código).
Justamente nesse segundo momento, não sendo o caso de julgamento antecipado (artigo 355 e 356), havendo prova documental suficiente dos fatos constitutivos (o dispositivo exige apenas a suficiência da prova), não tendo o réu erigido dúvida razoável, será o caso de concessão da tutela de evidência.
Presente a prova documental suficiente, o ônus da impugnação do réu passa a ser reforçado pela necessidade de demonstração da dúvida razoável, tendo em vista que premido pela potencialidade da tutela de evidência.
Não resta dúvida, que tal reforço do ônus representa certo refinamento da técnica, no que exige mais dos esforços do réu, em clara decorrência do princípio da cooperação processual.
Por vezes, da cooperação processual descendem medidas contra-factuais, exigindo dos atores processuais novas posturas processais, afastando, por exemplo, a postura passiva do réu em não contribuir com a atividade jurisdicional, apostando, quiçá, nas regras do ônus da prova.
Tal postura negativa impõe ao réu um novo preço, a possibilidade de sobre seus ombros ser depositado o tempo do processo, mediante a concessão da tutela da evidência, que leve em conta a ausência de dúvida razoável. Nada impede que o réu venha a se sagrar vencedor no processo (após o resultado probatório), o que não exclui a correção da tutela de evidência outorgada com base no déficit do cumprimento do ônus da impugnação específica.
A emergência do Novo Código exigirá mais de todos. O réu, normalmente senhor do tempo do processo, restará premido para uma postura mais ativa na refutação dos fatos articulados pelo autor, e baseados em documentos, pois seu ônus da impugnação específica restou reforçado.
Não há dúvida, a dúvida razoável é um dos objetivos a ser perseguido pelo réu.
http://genjuridico.com.br/2016/04/26/onus-da-impugnacao-especifica-duvida-razoavel-no-novo-cpc/
Petição inicial instruída com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Nessa hipótese do inciso IV, também expõe que a evidência do direito do autor, se caracteriza pelo preenchimento de dois requisitos cumulativos: que os fatos constitutivos do direito do autor estejam suficientemente documentados, e que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Assim como na hipótese do inciso I, essa hipótese do inciso IV não pode ser deferida de plano, ou melhor, antes da citação e da manifestação do réu, uma vez que pressupõe fase processual em que o réu esteja integrado formalmente à relação processual.
Não é coerente que o autor tenha de suportar eventuais ônus derivados da demora do processo, se os fatos que embasam a sua pretensão estão suficientemente documentados e o réu não contrapôs prova capaz de gerar dúvida razoável. E se os fatos que constituem os fundamentos do pedido do autor puderem ser comprovados apenas por documentos, que foram juntados, e não restar nenhuma dúvida nem houver provas que elidam esses documentos, o caso não será de tutela de evidência, mas sim de julgamento antecipado, total ou parcial.
A tutela de evidência implica em uma situação em que a probabilidade do direito do autor é elevada, já que ele comprovou o alegado por documentos, e o réu não trouxe dúvida razoável. Mas se presume que, em tese, com o prosseguimento do processo, essa situação possa, ainda que com pouca probabilidade, ser revertida ou alterada, senão, a decisão do juiz não deve ter natureza provisória, e sim definitiva. Nesse sentido, por exemplo, em casos em que o juiz esteja convicto da probabilidade do direito do autor, pois na contestação o réu não opôs provas razoáveis, mas não esteja ainda em condições de proceder ao julgamento, porque ainda é preciso dar ao réu a oportunidade de outras provas, na fase de instrução ele poderá valer-se da medida.
O inc. IV trata, por fim, de outra situação na qual se opera a probabilidade de certeza do direito alegado. Não há necessidade de se aguardar a finalização do processo para a satisfação do interesse do demandante quando a prova documental for suficientemente idônea e o demandado não trouxer aos autos qualquer elemento capaz de rebatê-la. Trata-se de uma espécie de prova documental pré-constituída, cuja relevância é capaz de atingir o convencimento do julgador sem que haja necessidade de prévia instrução.
Tal como ocorre na hipótese do inc. I, aqui também a concessão da tutela evidência fica na dependência de um comportamento do réu. No inc. I depende de uma conduta comissiva, de um agir, de forma que caracterize abuso do direito de defesa ou protelação. Aqui, a conduta pode ser omissiva ou comissiva. Omissiva, quando não apresenta qualquer prova no sentido de infirmar as alegações do demandante. Comissiva, quando apresenta prova frágil, incapaz de gerar pelo menos dúvida quanto à cognição levada a efeito pelo juiz. 
O demandante apresenta provas de fatos que, se comprovados, conduziriam à conclusão de que ele tem razão, ou seja, dos fatos pode-se extrair a consequência jurídica almejada. Quanto à consequência jurídica do fato, não há dúvida. Cabe ao juiz perquirir sobre a demonstração desse fato, para aferir a evidência do direito. O autor apresentou provas com a inicial. Como já afirmamos, nada obsta que a prova seja feita em outro momento processual, por exemplo, na fase instrutória. A essa conduta positiva do autor/demandante deve-se somar a conduta “negativa”do réu/demandado. A tutela, com base no inc. IV somente pode ser concedida depois da manifestação (ou ausência dela) do demandado acerca da situação de evidência invocada pelo demandante.
Nessa hipótese, também manifesta-se a evidência do direito do autor, que se traduz pelo preenchimento de dois requisitos cumulativos: que os fatos constitutivos do direito do autor estejam suficientemente documentados, e que o réu não oponha prova capaz de gerar dúvida razoável.
Aqui também se vale o legislador de critérios de proporcionalidade. Não é razoável que o autor tenha de suportar eventuais ônus derivados da demora do processo, se os fatos que embasam a sua pretensão estão suficientemente documentados e o réu não opôs prova capaz de gerar dúvida razoável. Mas a evidência não se confunde com a certeza. Se os fatos que constituem os fundamentos do pedido do autor puderem ser comprovados apenas por documentos, que foram juntados, e não restar nenhuma dúvida nem houver provas que elidam esses documentos, o caso não será de tutela de evidência, e sim de julgamento antecipado, total ou parcial.
A tutela de evidência pressupõe uma situação tal em que a probabilidade do direito do autor é elevada, pois ele comprovou o alegado por documentos, e o réu não trouxe dúvida razoável. Mas pressupõe, também, que, em tese, com o prosseguimento do processo, essa situação possa, ainda que com pouca probabilidade, ser revertida ou alterada, pois, do contrário, a decisão do juiz não deve ter natureza provisória, e sim definitiva. Em casos, por exemplo, em que o juiz esteja fortemente convencido da probabilidade do direito do autor, pois na contestação o réu não opôs provas razoáveis, mas não esteja ainda em condições de proceder ao julgamento, porque ainda é preciso dar ao réu a oportunidade de outras provas, na fase de instrução ele poderá valer-se da medida.
O inc. IV do art. 311 do CPC/2015 refere-se à hipótese em que, fundando-se a pretensão do autor em fatos suficientemente comprovados documentalmente, não se desincumbe o réu de “gerar dúvida razoável” a respeito, com as provas que opuser.
Não exige a lei que a prova oposta pelo réu seja infundada. Basta que não tenha aptidão para demover o grau de certeza que a prova documental que instruiu a petição inicial foi capaz de incutir. De certo modo, a fragilidade da prova apresentada pelo réu “fortalece” aquela que, antes, havia sido apresentada pelo autor. Pode-se dizer que o autor ostentava algo muito provável, que, face a debilidade da prova apresentada pelo réu, passou a adquirir mais veemência, passando a ser considerada “evidente” pela lei processual.
De modo similar, no direito comparado, merecem menção as hipóteses de référé previstas na legislação francesa, que, em casos de ausência de “contestação séria” (“contestation sérieuse”), dispensam a exigência de demonstração de periculum.
A redação do inc. IV do art. 311 do CPC/2015 parece induzir a que esse dispositivo se aplicaria sempre que o réu não opuser defesa de mérito direta, ainda que opusesse defesa indireta. Não nos parece, contudo, que seja assim. Ex.: caso o réu não oponha prova ao fato constitutivo do direito do autor (p.ex., existência do contrato do qual decorre a obrigação de fazer), mas demonstre, cabalmente, haver um fato extintivo (por exemplo, quitação, cf. art. 320 do CC/2002, ou outra defesa de mérito indireta), haverá espaço para a concessão da tutela de evidência? A resposta à questão, a nosso ver, é negativa. Afinal, a veemência da defesa de mérito indireta, nesse caso, conduz a que muito provavelmente o pedido, ao final, será julgado improcedente. Por outro lado, caso o réu apresente defesa de mérito indireta com base em frágeis elementos probatórios, poderá haver espaço para a incidência do inc. IV do art. 311 do CPC/2015.

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