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07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 1/9 jusbrasil.com.br 7 de Abril de 2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras O Instituto da Liquidação Extrajudicial CONCEITUAÇÃO DO INSTITUTO DA LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL Certas empresas, diante da essencialidade e especificidade de sua atividade comercial, estão sujeitas a regimes normativos especiais, criados com o objetivo de evitar que sua instabilidade financeira ou administrativa provoque graves efeitos colaterais à sociedade e à economia do país como um todo. Entre tais regimes especiais, encontra-se estabelecida a liquidação extrajudicial, aplicada aos empreendimentos que operam no chamado mercado supervisionado, no qual há a interferência e regulação estatal de órgãos específicos, tais como: Banco Central do Brasil – BACEN (instituições financeiras em geral), a Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS (operadoras de saúde) e a Superintendência de Seguros Privados – SUSEP (companhias seguradoras e de previdência). Com efeito, a criação da figura da liquidação extrajudicial ocasiona o afastamento do procedimento falimentar comum. É o que disciplina o inciso II, do artigo 2º da Lei nº 11.101/05, que regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária. In verbis: 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 2/9 Art. 2o Esta Lei não se aplica a: II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. Isso porque, caso tal procedimento fosse integralmente aplicado às empresas do mercado supervisionado, certamente haveria considerável repercussão negativa à sociedade, possibilitando a ocorrência de crises financeiras e sociais de âmbito nacional. No entanto, insta frisar que o procedimento comum de recuperação judicial e falência configura-se como a fonte do regime de liquidação extrajudicial, sendo, inclusive, aplicado de forma subsidiária quando este for omisso ou insuficiente. Nesta toada, a liquidação extrajudicial, por ter sido edificada sob o alicerce do instituto falimentar, determinou que os efeitos de sua aplicação seriam semelhantes, de modo que em ambos ocorre (i) a paralisação total das atividades da empresa, com sua consequente exclusão do mercado empresarial; e (ii) apuração de haveres para satisfação de seus credores. Entretanto, há que se ressaltar que o procedimento de liquidação extrajudicial possui caráter administrativo, não sendo necessário socorrer ao poder Judiciário para efetivar suas pretensões. E não poderia ser diferente, a especificidade do tema, aliada à urgência que a questão usualmente demanda, não poderia ser condicionada à morosidade e falta do devido conhecimento técnico do Judiciário. Existindo órgão com maior capacidade de gerir o procedimento, como é o caso da liquidação extrajudicial, este se torna legitimamente mais eficaz que o Juiz comum. 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 3/9 Ainda, o fato da liquidação extrajudicial restar configurada como um regime especial, sob o qual incidem disposições contidas em leis próprias1, possibilita que o próprio órgão supervisionador decrete o estado de liquidação, situação que não se faz possível no procedimento falimentar comum, posto que o poder Judiciário é inerte, devendo agir somente quando provocado. É neste contexto que insere a liquidação extrajudicial das instituições financeiras, tema do presente trabalho, que será especificamente aprofundado nos capítulos posteriores, nos quais haverá abordagem detalhada do procedimento, da legislação aplicável, e dos efeitos decorrentes da execução deste especial regime saneador. 1 Nos casos relacionados: (i) às operadoras de saúde: Art. 24 da Lei nº 9.656/98 e Resolução de Diretoria Colegiada - RDC nº 47; (ii) instituições financeiras: Lei nº 6.024/74; (iii) companhia seguradoras e de previdência: Art. 94 e seguintes do Decreto-Lei nº 73/66 A Liquidação Extrajudicial das Instituições Financeiras BREVE INTROITO: OS REGIMES ESPECIAIS APLICÁVEIS ÀS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS Antes de adentrarmos no âmbito da liquidação extrajudicial das instituições financeiras, de mister importância se faz ressaltar que este procedimento compõe um dos três regimes especiais de resolução aplicáveis às instituições financeiras. Em conjunto com a liquidação, há a possibilidade de decretação do Regime de Administração Especial Temporária – RAET (Decreto-Lei nº 2.321/87); e de Intervenção, também constante da Lei nº 6.024/74. Em que pese suas divergências procedimentais, todos os referidos regimes podem ser aplicados às instituições financeiras. Há, portanto, a necessidade de se conceituar no que se consiste esta modalidade de 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 4/9 instituição. A melhor resposta é a legislativa, de modo que a o artigo 17 da Lei nº 4.595/64 estabelece que: [...] consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiro. Configurando-se todas as modalidades de regimes especiais como atos administrativos, ao Banco Central é conferida a discricionariedade técnica para decidir qual instrumento será mais adequado e eficaz ao saneamento da questão, dentro dos limites impostos pela legislação aplicável. Tal discricionariedade, inclusive, permite que o Banco Central realize a extensão do regime para as empresas e entidades cujas atividades ou interesses sejam conexos à instituição principal, com o objetivo de preservar a integridade financeira da população2. O REGIME DE LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS A análise específica do regime de liquidação extrajudicial das instituições financeiras requer-se tenha sempre presente o que já fora apontado no capítulo inicial, isto é, que o instituto da liquidação (i) constitui-se como medida administrativa de caráter especial; (ii) afasta a aplicação da legislação falimentar, a qual somente será utilizada de forma subsidiária, quando a Lei nº. 6.024/74 mostrar-se insuficiente ou omissa; (iii) aplica-se às empresas que operam no mercado supervisionado. Frise-se, ainda, que em razão da liquidação extrajudicial possuir a mesma finalidade do processo de falência, seu objetivo se caracteriza pela extinção da instituição, com a instauração de um regime 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 5/9 executório no qual há a apuração do passivo e do ativo, para que se promova a venda deste, e consequentemente, se realize o pagamento dos credores. Em razão da importância e gravidade da questão, a lei não conferiu a qualquer um o poder de decretar, ou requerer a decretação do regime de liquidação extrajudicial nas instituições financeiras, mas tão somente àquelesdispostos no rol do artigo 15 da Lei nº 6.024/74, sejam eles: a) Pelo Banco Central, em ato ex oficio, quando: (i) a instituição financeira, em razão de ocorrências que comprometam sua situação econômica ou financeira, especialmente quando deixar de satisfazer, com pontualidade, seus compromissos; (i) se caracterizar qualquer dos motivos que autorizem a declararão de falência; (ii) a administração violar gravemente as normas legais e estatutárias que disciplinam a atividade da instituição bem como as determinações do Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central do Brasil, no uso de suas atribuições legais; 2 Artigo 51 da Lei nº 6.024/74 (iv) a instituição financeira sofrer prejuízo que sujeite a risco anormal seus credores quirografários; (v) cassada a autorização para funcionar, a instituição não iniciar, nos 90 (noventa) dias seguintes, sua liquidação ordinária, ou quando, iniciada esta, verificar o Banco Central do Brasil que a morosidade de sua administração pode acarretar prejuízos para os credores. 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 6/9 b) A requerimento dos administradores da instituição financeira, quando o respectivo estatuto social lhes conferir esta competência. c) Por proposta do interventor, devendo ser expostos, circunstanciadamente, os motivos justificadores da pretensão de instauração da medida. Nesse sentido, a decretação do regime de liquidação extrajudicial pode ser condensada, basicamente, em duas hipóteses macro, sejam elas: O sério comprometimento da situação econômica ou financeira da instituição; A grave violação das normas legais e estatutárias, bem como das determinações do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central. O PROCEDIMENTO DE LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL O legislador, quando da elaboração da Lei nº 6.204/74, estabeleceu não ser a liquidação extrajudicial de instituições financeiras, efetivamente executada pelo próprio Banco Central, mas sim por um liquidante nomeado, alheio à questão. A priori, pode parecer estranho a condução do regime ficar sob a tutela de alguém que não possua poderes de supervisão sobre o mercado financeiro, no entanto, ao Banco Central é conferida esta possibilidade de delegação, devendo este nomear indivíduo com capacidade técnica e idoneidade moral para atuar no caso. Veja-se que, estabelecendo uma analogia, somente para fins didáticos, na liquidação extrajudicial, o Banco Central seria equivalente ao poder Judiciário, enquanto que o liquidante se configura como o Juiz deste procedimento especial. Por esta razão, a própria Lei nº 6.204/74 equipara o liquidante ao Juiz da Falência: Art. 34. Aplicam-se a liquidação extrajudicial no que couberem e não colidirem com os preceitos desta Lei, as disposições da Lei de Falencias (Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945), equiparando-se ao síndico, o liquidante, ao juiz da falência [...] 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 7/9 Estabelecida a legitimidade de atuação do liquidante, é necessário delimitar quais seriam suas atribuições no referido procedimento, dentre as quais é essencial destacar: (i) Levantamento de todos os créditos; (ii) arrecadação de ativos; (iii) realização de ativos, com o fito de quitar os créditos; (iv) levantamento de responsabilidades dos ex-administradores; (v) nomeação e demissão de funcionários, fixando-lhes os vencimentos; (vi) outorgar e cassar mandatos, propor ações e representar a massa liquidanda; e (vii) requerer autofalência, após autorização do Banco Central. Uma vez decretada a liquidação extrajudicial e nomeado o liquidante que executará o regime, há, além dos efeitos determinados pelo artigo 18 da Lei nº 6.204/74, o efetivo início do procedimento de liquidação. Inicialmente, o liquidante, no momento de sua posse, recolherá todos os livros contábeis, empresariais, bem como outras oportunas documentações da instituição. Com a análise de tais documentos, será elaborado um relatório geral direcionado ao Banco Central, o qual, de posse do relatório, autorizará o liquidante a prosseguir com a liquidação ou a requerer a autofalência da entidade. Superado este momento, com o prosseguimento da liquidação o liquidante convocará, através de publicação de edital no Diário Oficial da União e na impressa comum de grande circulação, os credores que desejam declarar seus créditos, devendo estes apresentar documentação apta a comprovar o direito de recebimento de valores. Uma vez em posse das declarações de crédito dos credores, o liquidante as analisará, elaborando sua decisão, a qual será encaminhada àqueles, podendo, em caso de determinação desfavorável ou insatisfatória, recorrer ao Banco Central. 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 8/9 Somente após o resultado dos julgamentos, pelo órgão supervisor, o liquidante elaborará o Quadro Geral de Credores, no qual devem estar relacionadas todas as importâncias dos créditos. Posteriormente à publicação do quadro, qualquer interessado, no prazo de dez dias poderá impugnar, por escrito, a legitimidade, valor, ou classificação dos créditos nele constantes. Ato contínuo, uma vez constituído em definitivo o Quadro Geral de Credores, mediante nova publicação no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação no local da sede da instituição, caberá ao liquidante a realização dos ativos e satisfação dos passivos para pagamento dos créditos havidos pelos credores. Enquanto a satisfação não for atingida, o procedimento de liquidação extrajudicial prosseguirá, de modo que somente se encerrará nos termos do artigo 19 da Lei nº 6.204/74, quando (i) os interessados, apresentando as necessárias condições de garantia, julgadas a critério do Banco Central do Brasil, tomarem a si o prosseguimento das atividades econômicas da empresa;(ii) houver transformação em liquidação ordinária; (iii) houver aprovação das contas finais do liquidante e baixa no registro público competente; (iv) decretada a falência da instituição. Bibliografia: Coelho, Fábio Ulhoa. Comentários À Lei de Falencias e de Recuperação de Empresas - 11ª Ed. Revista dos tribunais: 2016 Filho, Manoel Justino Bezerra. Lei de Recuperação de Empresas e Falências Comentada - Lei 11.101 / 2005 - 11ª Ed. Revista dos Tribunais: 2015 Lei 11.101 / 2005 07/04/2019 A Liquidação Extrajudicial nas Instituições Financeiras https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao-extrajudicial-nas-instituicoes-financeiras?ref=serp 9/9 Autores: Gabriela Guimaraes Nassyrios Raphael da Silva Rocha Disponível em: http://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/artigos/339311831/a-liquidacao- extrajudicial-nas-instituicoes-�nanceiras
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