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CURSO TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES Monografia do TCC 2014 Gabriela Arau jo nº 9 Guilherme Silva nº 11 Marcos Margaroto nº 17 Luciano Pedreira nº 14 Sebastião Firmino S.Sobrinho nº 23 ii ESCOLA TÉCNICA ESTADUAL CARLOS DE CAMPOS TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES Autores Gabriela Araujo, Guilherme Silva, Marcos Margaroto, Luciano Pedreira, Sebastião Firmino Monografia de Projeto Arquitetônico apresentado ao curso de Edificações da ETEC Carlos de Campos como parte dos requisitos para Obtenção do titulo de Técnico em Edificações. Orientador:Prof. Renato Andrade. Curso Técnico em Edificações/ETEC-SP SÃO PAULO, SP – BRASIL MAIO DE 2014 Curso Técnico em Edificações/ETEC-SP iii Apresentada ao corpo docente do Curso Técnico em Edificações da Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, São Paulo – SP para obtenção do título de: TÉCNICO EM EDIFICAÇÕES Por: Gabriela Araújo, Guilherme Silva, Marcos Margaroto, Luciano Pedreira, Sebastião Firmino. BANCA EXAMINADORA Orientador: Nome do orientador Nome da Instituição do orientador Co-orientador: Nome do co-orientador Nome da Instituição do co-orientador Avaliador: Nome do avaliador Nome da Instituição do avaliador NOTA: ______________________________________ Aprovada Aprovada com restrições Reprovada Coordenador do Curso Técnico em Metrologia São Paulo, de Maio de 2014. SÃO PAULO – BRASIL iv Agradecimentos Agradecemos em primeiro lugar a Deus pela oportunidade de estarmos concluindo nosso curso, aos nossos familiares pelo apoio e incentivo aos professores da ETEC Carlos de Campos em especial ao Prof.Pedro , que nos mostrou o caminho e nos encorajou em todas as etapas desta caminhada, um exemplo a ser seguido por nós e a Prof(a) Dalva e ao Prof.Josevan que disponibilizaram o tempo da sua matéria para nos ajudar a concluir os trabalhos do TCC. Aos colegas de turma, pelo aprendizado, pela atenção, pelas sugestões e pela boa convivência. Muito obrigado. v RESUMO Este trabalho apresenta todas as pesquisas realizadas pelo grupo no primeiro e segundo semestre do curso e tem como objetivo apresentar uma reflexão e uma fonte de consulta sobre os temas propostos e sobre o desenvolvimento de um projeto de Condomínio residencial na Zona Norte de São Paulo com 300 unidades habitacionais. Entre os temas propostos para pesquisa estão: a historia da habitação e da verticalização principalmente em São Paulo com um estudo de caso sobre o tema, a sustentabilidade na construção civil e as classes sociais com suas preferências habitacionais, tipos de financiamento habitacional e um estudo de caso dos condomínios para a classe C. O trabalho contempla também a pesquisa com um estudo sobre a Zona Norte de São Paulo com ênfase na área do empreendimento Vila Maria e Vila Guilherme tendo como destaque uma pesquisa com dados quantitativos sobre a área e a legislação local da mesma. Concluímos os trabalhos de pesquisa com três estudos de caso sobre condomínios residenciais, um internacional e dois nacionais e com a descrição e justificativa das metodologias construtivas adotadas no projeto. ABSTRACT This work presents all the searches made by the group in the first and second half of the course and aims to present a reflection and a source of consultation on the proposed themes and the development of a residential condominium project in the northern zone of São Paulo with 300 housing units . Among the proposed topics for research are : the history of housing and vertical mainly in São Paulo with a case study on the topic , sustainability in construction and social classes with their housing preferences , types of housing finance and a study of case of condominiums for Class C The work also includes research with a study of the northern zone of São Paulo with an emphasis on the development and Vila Maria Vila Guilherme highlighted as having a survey of quantitative data on the area and the local law in the same area . Completed research papers with three case studies , one national and two international residential condominiums and a description and justification of the construction methods adopted in the design . vi Epígrafe Construções O espaço da moradia é obtido através de regulamento. A casa é feita à base de pedras. O lar é formado pela educação. A subsistência é mantida com trabalho. A família é sustentada nos alicerces do respeito. A vida feliz é construída na consciência tranquila com a bênção do amor. ( Emmanuel ) vii SUMÁRIO RESUMO...................................................................................................................05 PARTE I HISTORIA DA HABITAÇÃO..................................................................................08 Introdução..........................................................................................................09 Do pré-histórico ao contemporâneo...................................................................09 Conclusão...........................................................................................................11 Breve histórico do crescimento vertical na cidade de São Paulo.......................11 PARTE II ESTUDO DE CASO SOBRE VERTICALIZAÇÃO.................................................15 Os condomínios residenciais horizontais e as transformações na paisagem do Morro do Imperador em Juiz de Fora/MG.......................................................16 Condomínios no Brasil.....................................................................................17 Condomínios em Juiz de Fora/MG..................................................................19 Os condomínios em Juiz de Fora e as transformações na paisagem do Morro do Imperador.........................................................................................................21 Considerações Finais........................................................................................25 PARTE III SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL(CONCEITO) .............................................................. ....................................................................27 O conceito de sustentabilidade em empreendimentos da construção civil.......28 Estudo de caso edifício sustentável-Edifício Eldorado Business Tower..........30PARTE IV CLASSES SOCIAIS..................................................................................... .43 Classes sociais – Conceito..................................................................................44 Desigualdade social.............................................................................................44 Panorama descritivo da Economia Brasileira e Conceitos Básicos....................46 Financiamento habitacional.................................................................................47 PARTE V ESTUDO DE CONDOMINIO CLASSE C................................................................51 Condomínio voltado para a classe C...................................................................52 viii PARTE VI HISTORIA DA ZONA NORTE DE SÃO PAULO – VILA MARIA........................54 Histórico..............................................................................................................55 PARTE VII PESQUISA QUANTITATIVA E LEGISLAÇÃO – ZONA NORTE VILA MARIA/VILA GUILHERME.............................................................................................................59 Pesquisa quantitativa – Zona Norte de São Paulo...............................................60 Legislação local...................................................................................................72 PARTE VIII ESTUDO DE CASO - CONDOMINIOS RESIDENCIAIS.......................................73 1º Primeiro Estudo de caso-Projeto Box House - Brasilândia, Zona Norte da cidade de São Paulo............................................................................................74 2º Segundo Estudo de caso Equipe brasileira ganha Prêmio Alacero................79 3º Terceiro Estudo de Caso Internacional: Eslovênia ..............................................83 PARTE IX METODOLOGIA CONSTRUTIVA DO PROJETO –DETALHES E JUSTIFICATIVAS.......................................................................................................87 Fundações profundas hélice continua-conceito e justificativa.............................88 Superestrutura alvenaria convencional- conceito e vantagens.............................89 PARTE X CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................92 PARTE XI BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................94 PARTE XII ANEXOS........................................................................................................................97 ix PARTE I HISTORIA DA HABITAÇÃO x INTRODUÇÃO Uma habitação serve, em termos mais programáticos, para providenciar abrigo contra a precipitação, vento, calor, e frio, além de servir de refúgio contra ataques de outros animais (ou de outros seres humanos). Uma habitação é normalmente uma estrutura artific ial (ainda nos primórdios o ser humano tenha utilizado, para o mesmo efeito, formações naturais, como cavernas), constituída essencialmente por paredes, geralmente com fundações e uma cobertura que pode ser, ou não, um telhado. Sendo assim, desde a Pré-História, passando pela Idade dos Metais, até os dias atuais, o ser humano desenvolveu técnicas para a construção de estruturas de habitação formando, desta forma, grupos familiares e pequenas aldeias a habitação rural e urbanização. DO PRÉ-HISTORICO AO CONTEMPORANEO No período Paleolítico (500.000 a.C. até cerca de 10.000 a.C.) os homens eram essencialmente nômades caçador-coletores, tendo que se deslocar constantemente em busca de alimentos. Foi no período Paleolítico Inferior (500 mil a 150 mil a.C.) que surgiram às primeiras espécies de hominídeos, provavelmente na África. Nesta época a temperatura era muito baixa, obrigando os humanos e outros animais a viver em cavernas. A sociedade era comunal, já possuíam certa organização social e a família já tinha importância no contexto da sociedade. Eram nômades e dominaram o fogo. No Paleolítico Médio (150 mil a 40 mil a.C), definido pelo homem de Neandertal, surgem os primeiros sambaquis encontrados principalmente nas regiões litorâneas da América do Sul. No Paleolítico Superior os humanos ainda habitavam em cavernas, devido ao resfriamento intenso do planeta e o norte da Europa ter ficado coberto de gelo como conseqüência da quarta glaciação. xi . O Mesolítico (12 mil a 10 mil a.C), caracterizado pelo recuo das geleiras do hemisfério Norte onde, portanto, novos habitats foram oferecidos ao homem, com a flora e a fauna enriquecidas de novas espécies. Desenvolveram a pesca, na qual favoreceu um inicio de aglomerações permanentes (sedentarismos) nas localidades ao longo do litoral, onde também se instalaram. A necessidade de um abrigo nessas regiões gerou a palafita, habitação sobre estacas construída sobre lagos. O Neolítico inicia em torno de 10 mil a.C e prolonga até a Idade dos Metais, é caracterizada pela coleta sistemática de vegetais e domesticação de animais e, portanto, de formação de aldeias sedentárias (aglomerados humanos) que mais tarde se transformaram em vilas e cidades (urbanização). As habitações construídas com tijolos crus eram redondas, ovais e posteriormente retangulares. A descoberta da Metalurgia na Europa e no Oriente há 3.000 a.C (Idade dos Metais) ofereceu importantes vantagens estratégicas como armas mais cortante com a capacidade de talhar pedras grandes para construção. Na Idade Média a habitação e o local de trabalho se confundiam, convivendo não apenas pessoas com laços de parentesco, mas subordinados ao Mestre artesão proprietário dos meios de produção, moravam sua família, seus empregados assalariados e seus aprendizes, todos sob o mesmo teto, ás vezes num único cômodo. Ao longo do século XVIII, a partir do processo de industrialização, o cenário da habitação foi sendo modificado gradativamente. A casa da sociedade industrial não abriga mais o trabalho, apenas pessoas ligadas umas as outras por estreitos laços de parentesco, consolidando a família nuclear como modelo familiar moderno. Depois da Segunda Guerra Mundial, com a cultura norte-americana se tornando referencia de sociedade moderna, a habitação se tornou bem de consumo. A partir de então a casa setorizada por funções específicas (social, intima e de serviços) passou a ser modelo de moradia para a classe média. Já para população pobre não havia cômodos setorizados nem privacidade em espaços pequenos. Os que não tinham condições de morar próximo de seus trabalhos devido a especulação imobiliária, surgida depois de processos de renovações urbanas, acabavam adensando em favelas e periferias. xii CONCLUSÃO As habitações foram evoluídas muito com o passar dos tempos. Em primeiro lugar o homem começou por se abrigar em abrigos naturais como cavernas e abrigos. Os abrigos naturais tinham vários inconvenientes porque eram fixos e por vezes mal situados, como o homem andava sempre a movimentar-se para a caça acabaram por fazer abrigos artificiais com madeira, ramos de árvores, todo o tipo de materiais que tinham disponíveis na altura. Com o evoluir dos tempos o homem começou a fazer as casas com os materiais disponíveis, as técnicas de construção dominadas por certos grupos e a sua realização de planejamento e arquitetura era funçãodas atividades econômicas, do gênero de vida e dos padrões culturais. Habitação rural é muito influenciada em função do meio geográfico em que se encontra porque os habitantes têm um contato direto com a natureza e também por serem grupos menores e serem menos equipados tecnicamente e mais ligados á tradição. As mais simples utilizavam materiais vegetais praticamente sem elaboração, são construídas basicamente por troncos e ramos de arvores entrelaçados e amarrados por fios, forrados ou não com barro, esteiras ou folhas, a cobertura é feita de palha, folhas ou nas zonas mais evoluídas eram em telha. Com o evoluir dos tempos e a necessidade de mais construção, a falta de espaço principalmente nos grandes centros urbanos começou-se a utilizar outros tipos de matéria já industrializados como o tijolo, cimento, ferro, alumínio etc. tudo isto adaptado a novas técnicas de construção, tendo em conta a sua localização geográfica e climática. Em muitos locais deixaram de haver casas e passaram a haver os conhecidos arranha-céus, porque a falta de espaço para construção começa a ser escassos. BREVE HISTÓRICO DO CRESCIMENTO VERTICAL NA CIDADE DE SÃO PAULO Do livro : São Paulo : Crise e Mudança - Ed. Brasiliense e Prefeitura Municipal de São Paulo ( Gestão Luiza Erundina - ano 1991 - pág. 110 e 111) xiii São Paulo é amplamente conhecida por seus arranha-céus e congestionamentos viários. No entanto, quando analisamos sua forma de ocupação, constatamos que, em relação a outras metrópoles, a cidade é vertical e não efetivamente densa. Os seus congestionamentos podem ser explicados pela histórica prioridade ao transporte individual, o que resulta numa ocupação irracional do território, com as conhecidas influências sobre o transporte público. A ação municipal, através da legislação urbanística, vem atuando no processo de verticalização no sentido de limitar os coeficientes de aproveitamento permitidos. A justificativa sempre se fundamentou na necessidade de controle das densidades, isto para evitar, de um lado, os problemas advindos da saturação do sistema viário e da infraestrutura, e, de outro, para estabelecer um mecanismo de controle dos valores fundiários. Há que se dizer, no entanto, que o estabelecimento de coeficientes não determina necessariamente a densidade demográfica: o coeficiente de aproveitamento determina a densidade construída, mas a demográfica será muito influenciada pelos padrões de urbanização e pela própria renda média da população que habita determinada área. Por outro lado, é preciso também enfatizar que os preços da terra urbana em São Paulo variam muito mais em função da conjuntura econômica do que através de mecanismos e instrumentos propostos pelo Poder Público. Do ponto de vista histórico, o processo de verticalização de São Paulo teve início por volta de 1910. Assumindo maior intensidade na década seguinte. Seu surgimento esteve estreitamente vinculado, a exemplo de outras grandes metrópoles, tanto às novas necessidades da divisão técnica do trabalho, como à otimização dos terrenos urbanos situados nas áreas centrais, já supervalorizados em relação ao resto da cidade. O início da verticalização é constituído de edifícios de escritórios localizados no Centro de São Paulo. Essa tendência se transforma a partir dos anos 40, quando a verticalização assume um caráter residencial e passa a ocupar os bairros próximos ao Centro, expandindo-se ao Sudoeste, onde se localizaram os principais investimentos públicos em sistema viário, com a concretização do Plano de Avenidas de Prestes Maia. A legislação de condomínio criada em 1928, ao tornar possível a divisão e, portanto, a venda dos edifícios e terrenos em frações ideais de copropriedade, contribui certamente para acelerar esta modalidade de edificação. Até a Segunda Grande Guerra, era um fenômeno tipicamente central e predominantemente terciário: 70% dos edifícios estavam localizados nesta área e 65% eram de uso comercial. Até então, construir para aluguel representava opção segura de investimento, e a grande maioria dos imóveis era construída para este fim. A legislação do inquilinato de 1942, ao congelar os aluguéis num período de inflação alta para a época, desestimulou acentuadamente esta modalidade de empreendimento, gerando a primeira grande crise da história da habitação no Brasil. Até 1957, quando a Lei 5261 limita pela primeira vez os coeficientes de aproveitamento em seis vezes a área do terreno para uso comercial e quatro para residencial, a verticalização assumia as mais variadas formas. A média dos coeficientes de xiv aproveitamento variava entre 8 a 10 vezes a área do terreno, mas, em certos casos, chegava até a 22 vezes, como no caso do Edifício Martinelli, que por muito tempo foi o maior edifício da América Latina. Dos edifícios construídos entre 1940 e 1957, 71% estavam ainda localizados em torno da área central, mas apenas 25% foram destinados ao comércio. Quanto á condição de propriedade, cerca de metade das unidades era de aluguel, enquanto, no período anterior, 79% tinham esta finalidade. É interessante notar que até 1957 a legislação urbanística se referia apenas ao controle da altura dos edifícios, apesar de ter como discurso o controle da verticalização. O estabelecimento de alturas máximas permitidas, se avaliado corretamente, estimulava muito mais do que restringia o crescimento vertical. Por exemplo, fora da zona central ela era de 80 metros, ou seja, 25 andares, o que para a época não representava restrição efetiva, uma vez que até hoje existem poucos edifícios em São Paulo com essas dimensões. Como já mencionado, a restrição aparece em 1957, com coeficientes de aproveitamento máximo 6 e 4. Os promotores imobiliários, num primeiro momento, opuseram-se ao projeto, mas seguiram a recomendação de aprovar imóveis residenciais como comerciais e, desse modo, o coeficiente de aproveitamento máximo real passou a ser 6. O projeto de lei estabeleceu também uma densidade demográfica máxima de 600 habitantes por hectare, através da fixação de uma cota mínima de 35 m² de terreno por unidade. A conjunção desses dois fatores redundou na construção de grandes apartamentos. Como a área mínima de apartamento passou a ser 210 m², o acesso a este tipo de propriedade limitou-se a um segmento extremamente restrito, pois os segmentos mais pobres foram, a partir desta época, definitivamente excluídos do mercado de apartamento. O autor da lei, Anhaia Mello, alardeava que o objetivo era remediar os males provenientes dos edifícios verticais. Dentre esses males, o legislador destacava o crescimento desordenado da cidade de São Paulo e a especulação imobiliária. Além disso, a lei buscava resolver o congestionamento provocado pelo crescimento vertical e, fundamentalmente, proteger a família dos "pardieiros" (sic) que proliferam na cidade, discurso, aliás, nada novo, pois desde o final do século passado ele já está presente na visão elitista dos burocratas da cidade. Após a promulgação desta lei, com a exigência da cota mínima, as quitinetes, típicos da década de 50 em São Paulo, deixaram de ser construídos. Outra consequência da limitação do coeficiente de aproveitamento em 6 foi a expansão da área verticalizada, predominantemente em direção do Setor Sudoeste. A expansão se deve ao fato de que, com a limitação da possibilidade de construir, uma base fundiária maior passou a ser necessária. Outra correlação sugestiva: a indústria automobilística se instala em 1956 em São Paulo. A decisão de suspender a construção do metrô, anunciada pelo então prefeito Adhemar de Barros, juntamente com a promulgação da Lei 5261/57 e a expansão da verticalização, voltada especificamente para os segmentos de maisalta renda, imprimiram, sem dúvida, novo impulso ao mercado nascente da indústria automobilística. A criação do BNH em 1967 transforma estruturalmente a construção de edifícios, na medida em que financiava a produção e a compra de apartamentos. É sobejamente conhecido que o BNH, criado inicialmente para abastecer o mercado de habitação popular, xv voltou-se para mercados de renda alta, capazes de dar maior garantia de retorno ao investimento. Até 1969, 41% das unidades financiadas destinavam-se a um mercado popular (conjuntos Cohab - 3 a 5 salários mínimos), 29% ao econômico (7 a 10 salários mínimos) e 30% ao médio. Entretanto, à medida que se ampliava o fenômeno da insolvência e, de modo particular, se alterava o modelo de acumulação econômica caracterizada pelo assim chamado milagre brasileiro, o objetivo inicial se modifica, pois, entre 1970 e 1974, 63% das unidades financiadas destinavam-se ao mercado médio, 25% ao econômico e apenas 12% ao popular. Com a lei de zoneamento de 1972, nova limitação dos coeficientes de aproveitamento se concretiza desta vez de forma diferenciada na trama urbana. Em 4% da área de São Paulo, nas zonas estritamente residenciais, o coeficiente máximo é 1; em 86%, o coeficiente máximo é igual a 2; e em apenas 10% da cidade atinge quatro vezes a área. A legislação de 1972 decorre dos preceitos estabelecidos pelo Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do ano anterior, que propunha extensa malha de vias expressas. Em decorrência da histórica penúria dos recursos públicos, essas vias não foram construídas. Ou seja: a lei de zoneamento foi desenhada com base nessa malha viária inexistente. Mas essa não é a única crítica que pode ser feita à lei de zoneamento. Sob o aspecto do meio ambiente, a legislação de uso e ocupação do solo, por estar calcada no sistema de vias expressas, simplesmente desconsiderou a base física da cidade, incidindo sem diferenciação sobre áreas que apresentam problemas na sua ocupação, tais como fundos de vales e áreas de solo erosivo. Além disso, em apenas 10% de São Paulo é permitido o índice máximo de coeficiente de aproveitamento, correspondendo a quatro vezes a área do terreno, e em 90% da cidade se pode chegar a construir no máximo até duas vezes a área do terreno. Esse fato cria artificialmente uma escassez de terrenos com coeficiente de aproveitamento igual a 4, provocando elevação dos preços fundiários, obtida através do monopólio estabelecido nesses 10% de terrenos da cidade. Não se tem notícia de que essa diferenciação do potencial construtivo permitido tenha sido calculada com base na potencialidade da infraestrutura ou na saturação do sistema viário. Em síntese, verifica-se que a ação do Estado em relação ao processo de crescimento vertical favoreceu uma ocupação menos racional. Em primeiro lugar, porque a verticalização não apresenta os níveis de densidade construída das outras grandes metrópoles. Como vimos apenas em 10% dos terrenos o coeficiente de aproveitamento permitido pela lei de zoneamento é 4. Em Nova Iorque ou Chicago, cidades também reconhecidas pela sua verticalização, os coeficientes máximos ultrapassam os índices de 18 a 20 vezes a área do terreno. Outra característica do crescimento vertical do Município é que ele historicamente foi apropriado pelos segmentos de mais alta renda e se localizou principalmente na área mais bem equipada da cidade. É certo que São Paulo comportaria níveis de densidade e de verticalização mais altos, otimizando melhor os recursos públicos já investidos no espaço urbano. Será necessário, no entanto, uma análise acurada da capacidade da infraestrutura e do sistema viário para que se estabeleçam novos índices urbanísticos. xvi PARTE II ESTUDO DE CASO SOBRE VERTICALIZAÇÃO xvii OS CONDOMINIOS RESIDENCIAIS HORIZONTAIS E AS TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DO MORRO DO IMPERADOR EM JUIZ DE FORA/MG Nelson Paes Leme Domingues de Araújo Geógrafo, especialista em Gestão Ambiental e mestrando em Arquitetura e Urbanis mo pela Universidade Federal Fluminense. Resumo O presente trabalho mostra como os agentes sociais de uma cidade podem organizar e transformar o espaço urbano e suas paisagens de acordo com seus interesses. Essas transformações criam novos valores para os imóveis de determinado setor e podem trazer inúmeros impactos ambientais, quando não é respeitada a legislação ambiental em cada área em que estão inseridas. O estudo de caso escolhido mostra as transformações na paisagem do Morro do Imperador, em Juiz de Fora e os impactos ambientais causados pela proliferação dos condomínios residenciais horizontais na região. Palavras chaves: Paisagem, Impactos Ambientais e Condomínios Residenciais. Introdução Ao longo da história da humanidade o homem vem transformando a paisagem do espaço terrestre com a finalidade de organizá- lo. Com a evolução das tecnologias, o meio natural passou a ser modelado pelo homem. Milton Santos (2002) já afirmava que o meio natural está ficando cada vez mais técnico. As transformações da paisagem da superfície da Terra podem ser observadas na maior parte do mundo e nos mais diversos tipos de organizações sociais. Ocorre tanto em áreas rurais como em áreas urbanas. Porém, é no espaço das cidades onde são observadas as maiores modificações, pois sobre este é que acontece a maior concentração das atividades humanas. Para o geógrafo Roberto Lobato Corrêa (1989), o espaço urbano capitalista é fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, cheio de símbolos e campos de luta, ou seja, é um produto social, resultado de ações acumuladas através do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaço. Ao considerar o espaço urbano e, por conseguinte, a transformação de sua paisagem como fruto de um produto social, é importante considerar as ações dos agentes sociais nesse processo de transformação. O arquiteto e urbanista Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1988) destaca a importância dos agentes na produção do espaço urbano, comparando a cidade como resultante de um jogo de cartas. Ele defende a ideia de que o ideal seria fazer com que toda a população dominasse as regras básicas de conformação da sua cidade. Portanto, as modificações na paisagem estão relacionadas à maneira com que os agentes sociais organizam o espaço. Sendo assim, à mudança desses agentes segundo as intervenções antrópicas, pode corresponder também uma mudança na forma de organização do espaço. No sistema capitalista os agentes transformam o espaço e a paisagem em função da lógica do mercado, bastante empreendida pelos agentes imobiliários, valorizando e desvalorizando lugares e terrenos de acordo com os interesses dos agentes dominantes. O crescimento dos centros urbanos também traz relevantes conseqüências para a xviii transformação e organização de seus espaços, além de alterar a maneira de como a população se apropria desse espaço. Nos países em desenvolvimento como o Brasil o processo de aglomeração urbana e crescimento das cidades vem acompanhado de problemas, como violência e poluição; percebe-se, em contrapartida, o aumento pela busca da qualidade de vida em diferentes escalas desses aglomerados. Para fugir dos problemas causados pelo desenvolvimento insustentável das cidades, muitas pessoas, principalmente aquelas com renda mais elevada, procuram por moradias mais afastadas desses centros, com o desejo de contar com mais segurança e conviver mais próximos às áreas verdes. Surgem assim os condomínios residenciais, uma nova proposta de se morar; vende-se agora um novo estilode vida, mais saudável, em contato com a natureza, com conforto e a segurança pretendida. Tal fato pode ser observado em várias cidades brasileiras. Mas esses condomínios, como toda construção, transformam a paisagem local e, muitas vezes, geram grandes impactos ambientais, pelo fato de muitos não respeitaram as leis de proteção ambiental e de uso e ocupação do solo, e devido à falta de planejamento paisagístico e urbanístico, virando, por vezes, uma espécie de “favelas de luxo”. O termo se dá uma vez que encontramos um aglomerado de casas luxuosas que descaracteriza a paisagem local, impermeabiliza o solo, modifica o relevo e destrói quase toda a cobertura vegetal da área, afastando, assim, a possibilidade de resposta adequada, sustentável, na busca pela qualidade de vida, tanto procurada por seus moradores. Este trabalho procura contribuir para o entendimento sobre a transformação da paisagem, quando da criação e proliferação de condomínios residenciais, destacando as alterações ocorridas no Morro do Imperador, em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde as construções desses condomínios causam sérios impactos ambientais, pois a maioria de suas localizações se situa em topos de morros, em outras áreas de preservação permanente e em áreas de preservação ambiental ou próxima a elas. Condomínios no Brasil Os processos sociais acontecem com clareza nas cidades capitalistas, devido ao acúmulo de capital e da reprodução social no espaço. CORRÊA (1989) acredita que esses processos propiciam a criação de funções e formas espaciais, constituindo, assim, a distribuição e a organização espacial urbana. São esses processos sociais, como o da urbanização, que transformam a paisagem de um determinado local, de acordo com o interesse dos atores sociais envolvidos. Podemos observar uma mudança no processo de urbanização brasileira que começou a partir da década de 1970, primeiramente nas áreas metropolitanas e, posteriormente, nas cidades de médio porte. É relevante a observação que essas transformações advêm, principalmente, de processos sociais que impulsionam as transformações físicas. Segundo Nestor Goulart Reis (2006), essas mudanças se dão, entre outros, devido, aos seguintes fenômenos: “- a formação de áreas de urbanização dispersa, que se entende por esse vasto território, separada no espaço, mas mantendo estreitos vínculos entre si, como partes de um único sistema (urbano); - a adoção de novos modos de vida pela população, que adquire maior mobilidade; - a adoção de novas mobilidades de gestão do espaço urbano, com formas condominiais xix diversificadas, com loteamentos fechados, nos condomínios horizontais para residências ou fábricas e nos projetos de desenvolvimento urbano de maior porte, como de Alphaville ou Riveira de São Lourenço (SP); - novas formas de organização do mercado imobiliário, com o surgimento de empreendimento de usos múltiplos, que reúne residências, comércio, lazer, ensino, indústria e escritórios.” (2006, p.12) Com essas mudanças surgiram novas formas de uso do espaço, em áreas de expansão e de renovação do tecido urbano. Nestor Goulart Reis identifica essas áreas com a apresentação de características antes inexistentes, tais como: - Área com freqüência isolada do tecido urbano tradicional; - Empreendimentos que não incluem apenas loteamentos, mas também espaços coletivos, infra-estrutura, serviços e edificações; - Empreendimentos complexos com tratamento urbanístico, em boa parte, dos padrões do urbanismo moderno; - Ocorrência, muitas vezes, na periferia das cidades; - Atendimento na maior parte dos empreendimentos a múltiplas finalidades, incluindo residências, escritórios, indústrias, lazer, comércio e serviços diversos; - Substituição da gestão pública pela privada. Com esse novo processo de urbanização temos destaque para os condomínios residenciais que começaram a proliferar de forma mais significativa a partir dos anos 1990. O sucesso dos condomínios residenciais se deve ao crescimento dos centros urbanos e de seus problemas, como, entre tantos, o aumento da poluição e o crescimento econômico desigual, que têm como conseqüência o crescimento do desemprego, da violência e da marginalização nesses centros urbanos. Com o quadro presente na maioria das cidades grandes e de porte médio no Brasil, pessoas com maiores poderes aquisitivos procuraram formas de morar em locais onde a qualidade de vida e a segurança fosse o principal requisito. Aproveitando esses anseios, os empreendedores imobiliários passaram a vender não somente lotes, casa e apartamentos, mas sim um estilo de vida que tem como base o contato com a natureza e o conceito de “comunidade” e “unidade de vizinhança”, que segundo Nestor Goulart Reis, são as base desses grandes projetos urbanísticos. Segundo LEITÃO (1999): “Esses empreendimentos, de acordo com informes publicitários se propunham a resgatar a qualidade de vida comprometida pelo crescimento urbano desordenado, criando um novo modo de viver”. (1999, p.83) Como exemplos desses empreendimentos no Brasil, podemos destacar, além dos exemplos citados - o Alphaville na periferia de São Paulo e o Riviera de São Lourenço em Bertioga - os conjuntos da Barra da Tijuca no Rio de Janeiro. Com o crescimento desse tipo de empreendimentos, surge uma preocupação com a transformação da paisagem e, conseqüentemente, com a degradação ambiental dos locais onde estão inseridos, pois os espaços são de uso coletivo, mas de propriedade privada. Ainda segundo Nestor Goulart Reis (2006): “As normas de preservação não podem ser alteradas pelos proprietários isoladamente, pelas câmaras de vereadores ou por omissão de funcionários das prefeituras, uma vez que são objeto de contratos de direito privado, no momento da compra do imóvel. A conclusão possível é que as normas prevalecem quando há interesse dos próprios moradores (condôminos)”. (2006, p.151) Assim, mesmo os empreendimentos oferecendo normas para o direito de construir e para a preservação ambiental, sua preservação fica atrelada à vontade dos proprietários. xx Condomínios em Juiz de Fora/MG O município de Juiz de Fora está localizado na Zona da Mata Mineira, na Bacia do rio Paraíba do Sul. Com a população estimada em mais de 513 mil habitantes, de acordo com o Censo Demográfico do IBGE (2000), ele possui uma área de 1437 km², sendo aproximadamente 400 km² de área urbana. Pertencente à Região Mantiqueira Setentrional, Juiz de Fora se insere na Unidade Serrana da mencionada Zona da Mata Mineira, tendo como característica o relevo ondulado, apresentando grandes variações de altitude, próximas a 1.000 m nos pontos mais elevados, 670 a 750 m no fundo do vale do rio Paraibuna e níveis médios em torno de 800 m, de acordo com o Plano Diretor (1996). O clima da cidade é classificado como o tropical de altitude, que apresenta duas estações bem definidas: o período de verão brando ou moderadamente quente, destacado pela concentração de chuvas, com temperaturas médias em torno de 22ºC e o período de inverno frio e com estiagem, com temperaturas médias em torno de 16ºC. Favorece, assim, a formação da Floresta Estacional Semidecidual Montona, como vegetação original. Quanto à hidrografia, de acordo com o Plano Diretor (1996), a cidade está contida na bacia do Médio Paraibuna, tendo como afluentes principais os rios do Peixe e Cágado e pertencente à bacia do rio Paraíba do Sul. O Perímetro Urbano é drenado por 156 sub-bacias de diversas dimensões. O município de Juiz de Fora mantém seu destaque econômico no setor terciário. Com destaque para os serviços ligados à área de educação, segundo CREMONESE (2007) contamos com um universo composto por treze instituições de ensinosuperior, sendo a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a única instituição pública nesse nível. Devido aos processos históricos e de localização geográfica, somada ao destaque do setor terciário na região, principalmente em relação ao comércio local e aos serviços nas áreas de educação e saúde, Juiz de Fora continua na posição de cidade pólo da Zona da Mata Mineira, influenciando também as cidades fluminenses mais próximas à divisa estadual. Como a maioria das cidades de porte médio brasileiras, Juiz de Fora também sofreu as conseqüências do crescimento urbano e econômico. E, por conseguinte, os condomínios residenciais foram às soluções encontradas por muitas famílias de classe alta e média, para melhorarem sua qualidade de vida e segurança. Os primeiros condomínios em Juiz de Fora surgiram nos anos 1970, mas somente na década de 1990 os lotes vazios começaram a dar lugar às primeiras residências. Pela proximidade da capital fluminense e pelo histórico da cidade, sempre houve uma grande influência do Rio de Janeiro sobre Juiz de Fora. Isso explica o fato dos condomínios residenciais começarem a aparecer com freqüência a partir dos anos 1990 na cidade, uma vez que neste período ocorreu o boom dos condomínios na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Assim como os empreendedores da Barra da Tijuca, os empreendedores de Juiz de Fora também vendiam um novo estilo de vida, em contato com a natureza e com segurança para os juizforanos de classe alta e média, uma vez que os condomínios se localizam, conforme foi mencionado, mais afastado do centro da cidade e próximo à áreas de preservação ambiental. Mas os condomínios de Juiz de Fora possuem uma característica que os diferem dos condomínios da Barra da Tijuca. Na cidade mineira esses empreendimentos são xxi horizontais e não possuem serviços de comércio, clubes, escolas etc. “Estes empreendimentos estão instalados entre 1 e 8 kms de raio do centro urbano de Juiz de Fora. Normalmente, um loteamento-padrão tem acima de dez casas com área construída de 100 m² em média. A parte residencial é fechada por muros ou grades de 3 a 5 metros de altura. Sobre muros e cercas há cacos de vidro ou fios elétricos. Câmeras e guardas vigiam os limites da propriedade. Existe pelo menos uma portaria munida de guarita, cancela ou portão. Os seguranças ficam em contato por interfone com cada uma das casas, como nos edifícios residenciais. Nos condomínios fechados, é possível de se encontrar toda uma infraestrutura de lazer: são quadras esportivas, salão de festas, piscinas, churrasqueira, pista de corrida e sauna. Existem também jardineiros e outros funcionários que cuidam da manutenção e seguranças motorizados. Em alguns casos, os próprios moradores se organizam para criar mais serviços”. (Souza, 2003 p. 61) Figura 1: Condomínio em Juiz de Fora Foto: Do autor (2007) Até o final da década de 1990 a maioria dos condomínios de Juiz de Fora se localizava na Zona Oeste da cidade que, de acordo com o Plano Diretor de 1996, é a área de expansão urbana do município. Segundo o Plano Diretor de Juiz de Fora, 1996: “O Setor Urbano Oeste da cidade apresenta-se como área de “expansão urbana”, ou seja, representa uma área urbana que compreende espaços predominantemente vazios e xxii pouco adensados. Este setor é fruto de uma orientação que encontra seu principal marco na implantação da Av. Independência, na década de 1970. O acentuado desnível do relevo em relação ao centro da cidade lhe conferiu a determinação de “Cidade Alta”. O setor caracteriza-se por uma ocupação horizontalizada, alastrada pela totalidade do território, com predominância de residências unifamiliares de, no máximo, dois andares. O caráter dos bairros contido neste setor é predominantemente residencial.” Figura 2: Setor Oeste de Juiz de Fora. Fonte: SOUZA, 2003. A ocupação do Setor Oeste da cidade é facilitada pela disponibilidade de água, devido à represa de São Pedro que abastece a região e a disponibilidade de área plana, mesmo se tratando de uma área topograficamente mais alta em relação ao centro de Juiz de Fora; daí a denominação “Cidade Alta”. O interesse da população de renda mais elevada pelo Setor Oeste da cidade é impulsionado pelos equipamentos de lazer que a região oferece para a cidade, além das áreas verdes e do Campos da Universidade Federal de Juiz de Fora, no Setor Oeste ainda se encontram alguns clubes campestres, o aeroporto, o marco paisagístico constituído pelo próprio Morro do Imperador e seu Mirante e as cachoeiras do Córrego São Pedro. Os condomínios em Juiz de Fora e as transformações na paisagem do Morro do Imperador Criada pela Lei Federal 9985/2000, as Unidades de Conservação de Juiz de Fora, que são classificadas de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC são: Reserva Biológica Municipal do Poço D'Anta, Parque Municipal da Lajinha, Área de Proteção Ambiental Mata do Krambeck, Particular do Patrimônio Natural Vale de Salvaterra, Florestas Municipais que atualmente são 11 (onze). xxiii Juiz de Fora também possui algumas áreas tombadas: O Morro do Cristo, o Parque Halfeld e o Parque do Museu Mariano Procópio, que segundo a AGENDA JF, órgão responsável por atuar na proteção, conservação e promoção do meio ambiente no município são áreas protegidas por lei, mas que não possuem uma categoria de manejo específica, de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), mas foram tombadas devido ao seu aspecto cênico e paisagístico. Muitos dos condomínios residenciais que surgiram em Juiz de Fora na década de 1990 localizam-se no Morro do Cristo também conhecido como Morro do Imperador. Tombado pelo Poder Público nos decretos municipais 4312/90 e 4355/93, por exercer importante função paisagística, representativa do padrão e relevo do Município, o Morro do Cristo, com uma área aproximadamente 78 há, foi e ainda é alvo das ações de empreendedores imobiliários. Figura 3: Condomínios no Morro do Imperador Fonte: Google Earth (2007) A importância paisagística do Morro do Imperador para Juiz de Fora é de tal grandeza que em 1998 foi criada por lei uma Zona especial no seu entorno. A lei diz o seguinte: “LEI Nº 9204 - de 15 de janeiro de 1998:Cria Zona Especial na área resultante do entorno do "Morro do Imperador", acrescida da área compreendida entre o Parque Halfeld e o Morro do Imperador. A Câmara Municipal de Juiz de Fora aprova e eu sanciono a seguinte Lei: Art.1º - Fica definida como Zona Especial, de acordo com o art. 11 da Lei nº6910, de 31 de maio de 1986, a área de vizinhança do "Morro do Imperador", tombado nos termos do Decreto nº4312, de 24 de maio de 1990, alterado pelo Decreto nº 4355, de 17 de agosto de 1990, e a respectiva visibilidade, referida no Decreto nº4223 de 10 de novembro de 1989, que "Dispõe Sobre o Tombamento do Parque Halfeld". Art.2º - A Zona Especial fica subdividida nos Setores 1,2,3,4 e 5, este último subdividido em Sub-setores "A" e "B", delimitados em planta conforme anexo I e memorial descrito de acordo com o anexo II. xxiv Art.3º - O Setor 1 passa a ser considerado área "non aedificandi", sendo vedado o seu parcelamento. Parágrafo Único - A área abrangida pelo Setor 1 será objeto de projeto para correção do processo de erosão existente e de estudo paisagístico, visando a integração com área tombada. Art.4º - No setor 2 só será permitida a construção de edificações de até 02 (dois) pavimentos e altura igual a 8,00 (oito metros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal correspondente a última laje (forro) oucobertura de edificação, não se considerando telhados sobre lajes de forro, caixas d'àgua, casa de máquinas e assemelhados, com faixa "non aedificandi" de 25% da propriedade total do terreno, permeável, vedado o corte de árvores. Art.5º - No Setor 3, a altura das edificações não poderá ultrapassar a 9,00 m (nove metros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal correspondente ao último elemento construtivo. Parágrafo Único - Os projetos serão previamente apreciados e analisados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento - IPPLAN, através de seus diversos órgãos e/ou comissões, no âmbito das respectivas atribuições. Art.6º - Vetado. Art.7º - O Setor 5, que corresponde à área de vizinhança pertencente à UTI, será subdividido nos Sub-setores "A"e "B". § 1º - As edificações a serem construídas no Subsetor "A", terão até 04 (quatro) pavimentos e altura máxima igual a 11,70 (onze metros e setenta centímetros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal que contém o ponto mais alto da edificação. § 2º - As edificações a serem construídas no Subsetor "B" terão até 06 (seis) pavimentos e altura máxima igual a 17,10 (dezessete metros e dez centímetros), altura esta medida a partir do ponto mais alto do meio-fio, na linha de testada do terreno até o plano transversal que contém o ponto mais alto da edificação. § 3º - Não poderá ser utilizado o espaço sobre a laje do 4º (quarto) pavimento, conforme estabelece o § 1º deste artigo, e nem, a do 6º (sexto) pavimento, de acordo com o previsto no § 2º do mesmo artigo. Art.8º - Será exigido projeto paisagístico relativo às áreas abrangidas pelos setores de 1 a 4, incluindo, no mínimo, soluções para correção do processo de erosão, se verificado, assim, como reflorestamento destas áreas com espécies existentes ou de garantida adaptação ao local. Art.9º - Será observada, também no que couber, ou no que esta Lei se omitir, a legislação de Uso e Ocupação do Solo vigente. Art.10º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Paço da Prefeitura de Juiz de Fora, 15 de janeiro de 1998. a) TARCÍSIO DELGADO - Prefeito de Juiz de Fora a) GERALDO MAJELA GUEDES – Secretário Municipal de Administração.” Sabemos que o consumo do espaço está relacionado com a lógica do mercado. Assim, o Morro do Cristo, por possuir beleza cênica e paisagística e sendo envolvido pela Mata Atlântica, virou objeto de especulação imobiliária em Juiz de Fora. Com a necessidade de explorar o Morro do Cristo, percebe-se o desrespeito ao Código Florestal (Lei Federal nº 4771/65) que estabelece proibições de corte de vegetação nos xxv topos dos morros (terço superior), nas declividades muito acentuadas (superiores a 45 graus). O não cumprimento do Código Florestal traz danos ambientais para o município, como alerta o Plano Diretor (1996): “Os desmatamentos e movimentos de terra são responsáveis pela reativação dos processos morfodinâmicos naturais. Já os deslizamentos e escorregamentos, agravados nos períodos de chuvas intensas e a forte erosão contribui para acelerar a instabilidade do relevo, sendo mais intensa a atuação da erosão laminar, presente extensivamente nas áreas não urbanizadas”. Com a criação dos condomínios residenciais, vem ocorrendo transformações na paisagem da área. Com isso, a vegetação original do topo dos morros vem aos poucos sendo substituída por loteamentos com infra-estrutura urbana e por casas luxuosas, que descaracterizam a paisagem local. Figura 4: Construção de condomínio Foto: Do autor (2007) Em muitos casos, principalmente em locais onde se encontra o relevo mais ondulado, esses novos empreendimentos necessitam de movimentação de terra para implantar sua ocupação ou para aumentar o número de lotes, fato que gera grande impacto ambiental, pois o material solto é arrastado pelas chuvas para o leito dos córregos gerando assoreamento. Essa amontoação de areias ou terras nos córregos diminui a sua capacidade de receber águas pluviais e diminuem sua velocidade de escoamento, podendo causar inundações nas localidades próximas aos córregos. Assim, além de transformar a paisagem do Morro do Imperador, os condomínios residenciais horizontais também causam diversos impactos ambientais no Setor Oeste de Juiz de Fora, principalmente no córrego de São Pedro e na Represa de São Pedro, responsável por abastecer parte da cidade, devido à falta de tratamento de efluentes e a degradação da mata ciliar, pode ser observado o assoreamento da represa e do córrego e a poluição de suas águas.De acordo com o Plano Diretor (1996): xxvi “O desequilíbrio das vertentes pode ser visualizado pelos elevados índices de movimentos de massa, principalmente em solos, além de processos erosivos tanto laminares como de escoamento concentrado”. Figura 5: Córrego de São Pedro Fonte: Do autor (2007) Além dos impactos já citados, a existência de um relevo cujos desníveis topográficos alcançam mais de 200 metros, associadas aos fatores antrópicos causados pela intensa urbanização, produz microclimas diferenciados dentro do próprio perímetro urbano. Segundo o departamento de climatologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) já foi registrado diferenças de temperatura de até 11º C em diferentes pontos da cidade. Considerações Finais Foi comprovado ao longo do trabalho que no sistema capitalista os agentes transformam o espaço e a paisagem de acordo com a lógica do mercado. Assim, essas transformações se relacionam com a maneira através da qual o espaço urbano é organizado pelos seus agentes sociais. A criação dos condomínios residenciais no Morro do Imperador em Juiz de Fora é um exemplo de como os atores sociais atuam, transformando e dando valor de mercado para determinado espaço. Mesmo com as transformações na paisagem natural, essas ações sobre o espaço podem valorizar a área no ponto de vista mercadológico, criando assim uma especulação imobiliária no local e atraindo consumidores desse espaço. Muitas vezes, essas ações são prejudiciais para a localidade se transformar em um habitat sadio e garantir sua vitalidade (uma das cinco dimensões básicas para a boa forma da cidade, segundo Lynch), trazendo para a população sustentação. A degradação ambiental causada pelos condomínios residenciais em Juiz de Fora traz para a população perda na qualidade de vida e no conforto ambiental nos próprios condomínios e em sua proximidade, uma vez que a impermeabilização do solo, a poluição, o desmatamento e modificações no relevo modificam o micro-clima local, prejudicando a qualidade ambiental da região. xxvii É preciso, portanto, uma melhor estruturação dos anseios de conceber um modelo de ocupação que atenda às necessidades (ou luxos) das populações de alta renda, de maneira a criar novas possibilidades para o modelo, tendo como referência as formas de como esses condomínios têm sido construídos em Juiz de Fora, em muitos momentos, não respeitando a declividade correta, o comprimento de rampa, a topografia, a vegetação etc. Segundo Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1988), o perímetro urbano não deve seguir modelos, dependerá de cada caso. Os condicionantes naturais devem ser observados com cuidado, pois apontam as direções lógicas por meio das quais podem ou não prosseguir o processo de urbanização. Assim, na construção dos condomínios, as áreas protegidas por leis deveriam ser de fato respeitadas, e determinado o potencial de desenvolvimento de cada lugar. Para minimizar esses problemas, muitas vezes gerado pelo interesse de algumgrupo econômico, é necessário consonância das leis ambientais e de uso e ocupação do solo, respeitando, assim os limites das áreas de proteção ambiental. Tal como, maior fiscalização e seriedade dos órgãos responsáveis por liberar certos empreendimentos. xxviii PARTE III SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL xxix O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE EM EMPREENDIMENTOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL O termo sustentabilidade aplicado à causa ambiental surgiu como um conceito tangível na década de 1980 por Lester Brown, que foi o fundador do Wordwatch Institute. A definição que acabou se tornando um padrão seguido mundialmente com algumas pequenas variações representa o seguinte: Diz-se que uma comunidade é sustentável quando satisfaz plenamente suas necessidades de forma a preservar as condições para que as gerações futuras também o façam. Da mesma forma, as atividades processadas por agrupamentos humanos não podem interferir prejudicialmente nos ciclos de renovação da natureza e nem destruir esses recursos de forma a privar as gerações futuras de sua assistência. Portanto, como podemos aplicar a sustentabilidade ambiental em empreendimentos? O empreendimento mais do que simplesmente favorável à natureza, tem que estar enquadrado no conceito de sustentabilidade, é preciso que ele esteja enquadrado em alguns parâmetros básicos. São eles: Ser ecologicamente correto; ser economicamente viável; ser socialmente justo e ser culturalmente aceito. Assim empreendimentos que se baseiem nessas premissas e que estejam enquadrados no conceito de sustentabilidade devem ser capazes de impactar positivamente os grupos humanos por ele afetados; imediatamente e no futuro. Através da interligação entre esses empreendimentos e a qualidade de vida das pessoas afetadas por eles, podem ser observadas através do uso racional dos recursos ambientais e com o trato dos resíduos decorrentes da implantação do referido empreendimento sustentável. A SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL Que a construção civil é uma das principais molas propulsoras da economia mundial, isso é inegável. Só para ter uma ideia de sua importância, no Brasil, ela é responsável por 63% da formação bruta de capital fixo e 15% do PIB. Além disso, movimenta por volta de 400 bilhões de reais por ano, sendo responsável por mais de 2.2 milhões de empregos diretos. Sem contar, ainda, a infinidade de empregos indiretos. Apesar de sua indiscutível importância para o desenvolvimento do país, a construção civil é apontada como uma das indústrias que mais impactam o meio ambiente. Para se ter uma ideia, o setor consome 2/3 da madeira natural e cerca de 50% dos recursos naturais do planeta, sendo grande parte de recursos não renováveis. Além da extração, o processo produtivo também é bastante nocivo. A fabricação de cimento, por exemplo, é responsável por 8% do total de emissões de GHG. Fora a quantidade de material desperdiçado e os resíduos gerados ao final de uma obra. Falando especificamente do Brasil, uma das maiores dificuldades para implementação da sustentabilidade no setor da construção civil, diz respeito à falta de iniciativas públicas de infra-estrutura, o que acaba elevando, e muito, o custo de uma casa ou um prédio sustentável. Como exemplo mais óbvio, há o fato de termos perfeitas condições climáticas xxx para a utilização de energias limpas, como a solar e eólica, mas concentrarmos o investimento em outros tipos, como a termoelétrica e até mesmo a nuclear. No mundo já pipocam certificações voltadas para construções sustentáveis, como a americana LEED (Leadership in Energy and Environment Design), mais famosa, e a francesa HQE (Haute Qualité Environment). Há, ainda, a certificação AQUA (Alta Qualidade Ambiental), baseada na HQE, e que vem a ser o primeiro referencial técnico para construções sustentáveis adaptado à nossa realidade. De modo geral, essas certificações se fundamentam no princípio de eficiência energética, uso racional de água, coleta seletiva, qualidade ambiental interna da edificação etc. Além de uma certificação brasileira, foi criado em agosto de 2007 o CBCS, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, que tem como objetivo induzir o setor da construção a utilizar práticas mais sustentáveis, melhorando a qualidade de vida dos usuários, dos trabalhadores e do entorno das edificações. O CBDS é composto por diversos comitês que tratam de assuntos específicos relacionados à sustentabilidade no setor, como materiais e finanças (além dos óbvios água e energia). Mesmo com o custo ainda elevado e o tempo de retorno relativamente longo, o setor de construção sustentável já tem grandes iniciativas. No Rio de Janeiro, na Cidade Nova, o prédio da Universidade Corporativa da Petrobras é o primeiro prédio brasileiro de grande porte com certificação LEED . E o bom da onda de construção verde é que ela não atinge apenas grandes empreendimentos ou é demandada apenas por grandes empresas. A construtora Vez das Árvores entregou no final de 2008 o primeiro prédio público sustentável de Santa Catarina, o posto da Polícia Militar e Ambiental da Praia do Rosa. Através da bioarquitetura, os responsáveis pelo projeto se focaram num design que aproveitou a ventilação natural, captação e aproveitamento da água da chuva, iluminação natural, telhado verde, painéis solares e tratamento de esgoto anaeróbico. Além disso, de olho na responsabilidade social, a empresa capacitou mão de obra local e se preocupou com a acessibilidade de toda população. Não podemos esquecer que nos próximos sete anos a cidade do Rio de Janeiro, principalmente, se tornará um canteiro de obras por conta da realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas. É uma grande chance que temos não apenas para fazer o que é certo, mas também para criar infra-estrutura e cultura orientadas para a sustentabilidade. Até lá, espero que o custo não seja mais desculpa. Além disso, espero, também, que a atitude da população seja, no mínimo, mais respeitosa ao meio ambiente. Afinal, qual o sentido de morar numa casa sustentável e continuar desperdiçando água, energia e gerando grandes volumes de lixo desnecessariamente? xxxi ESTUDO DE CASO EDIFICIO SUSTENTAVEL Edifício Eldorado Business Tower Mariana Feres dos Santos e Eunice Helena S. Abascal Arquitetura sustentável: um conceito em construção Os temas da arquitetura sustentável e sustentabilidade guardam relação com métodos e processos de racionalização do uso de recursos naturais e energéticos. Visando alcançar eficiência e eficácia energéticas, deposita-se esperanças em preservar o planeta dos efeitos perversos da ação humana sobre o ambiente. Como assinala James Lovelock, “O desenvolvimento sustentável, respaldado pelo consumo de energia renovável, é a atitude em voga na convivência com a Terra (...)” (1). Esse mesmo autor afirma ainda que o planeta sofre conseqüências das atividades e decisões humanas e começa a demonstrá- las. A preocupação com o meio ambiente se evidenciou com a Conferência de Estocolmo, em 1972, tendo sido a questão retomada vinte anos depois, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, quando o desenvolvimento sustentável entrou definitivamente em pauta. Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos Foto Daniel Ducci xxxii A World Comission on Environment and Development (WCED) define desenvolvimento sustentável como “Desenvolvimento econômicoe socia l que atenda às necessidades da geração atual sem comprometer a habilidade das gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.” (2). Mudanças de comportamento em busca desse desenvolvimento se fizeram inadiáveis e envolveram a construção civil, passando a objeto de atenção por consistir em um dos vilões do meio ambiente, responsável por 40% do uso de energia primária, 72% do consumo de eletricidade, 39% da emissão de gás carbônico e 13,6% do consumo de água potável (3). A indústria da construção c ivil e atividades correlatas são responsáveis pelo uso de significativa quantidade de recursos globais e emissão de resíduos; no entanto, tem grande importância no desenvolvimento sócio- econômico e qualidade de vida (4). Para enfrentar esses impasses, indústrias buscam maneiras de produzir edifícios com baixo impacto ambiental, procurando também reconhecimento por esse empenho. O mercado exige produtos e materiais comprometidos com o meio ambiente, enfatizando preocupação com baixo impacto e interesse em contribuir para a solução do problema ambiental, o que se tornaria vantagem competitiva e forma de conquistar um consumidor cada vez mais informado, exigente e consciente das necessidades do planeta. Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos Foto Daniel Ducci xxxiii O “consumidor verde” não busca apenas o produto mais barato, sequer está apenas preocupado em coleta seletiva e economia de água e energia. Verifica-se preocupação com o impacto ambiental que determinado produto pode causar ao meio ambiente e os efeitos desse impacto no consumo do bem, convertendo-se a questão ambiental em um dos fatores de opção pela compra. A dimensão ambiental interfere não somente nas formas e cadeias produtivas, mas se expressa também do lado do consumidor: “As empresas têm sido desafiadas à elaboração de novas estratégias competitivas que evitem a degradação ambiental ao mesmo tempo em que garantam a sobrevivência e a sustentabilidade financeira. Tais estratégias, denominadas de Marketing Verde, culminaram na exploração de um novo segmento: o de “produtos verdes”. Tais estratégias visam aumentar a produtividade, enquadrar as empresas na legislação vigente, melhorar a imagem institucional, garantir a lucratividade no processo produtivo por meio da oferta de produtos diferenciados e, principalmente, influenciar a decisão de compra dos consumidores.” (5). A fim de atender a consumidores preocupados com o meio ambiente e frente à necessidade de garantir- lhes qualidade de produto com baixo impacto ambiental, e levando em consideração que a construção civil é responsável por impactos significativos causados ao meio ambiente, surgiram as certificações verdes. Estas certificações são formas de avaliação expressa por meio da emissão de pareceres a edifícios que, dependendo de sua adequação a critérios e pré-requisitos propostos por tais instrumentos, podem alcançar o status de causadores do mínimo de impacto ambiental possível. Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos Foto Daniel Ducci xxxiv Tais sistemas de certificação são aplicados em diversos países e têm por objetivo avaliar o projeto, a obra e a manutenção dos edifícios; porém, “(...) todos estes sistemas concentram- se exclusivamente na dimensão ambienta l da sustentabilidade” (6). Um edifício a fim de atingir o qualificativo de sustentável deveria considerar também à sua interação, como proposta arquitetônica e urbanística, com o meio ambiente; aspectos sociais e econômicos envolvidos na produção do espaço arquitetônico deveriam, da mesma forma, fazer parte do universo da avaliação da sustentabilidade (7). O conceito de sustentabilidade contempla essa complexidade de determinantes, o que leva a indagar se a certificação é instrumento suficiente para avaliar a sustentabilidade de uma edificação. Um empreendimento se torna realmente sustentável quando atinge equilíbrio entre atendimento de demandas voltadas ao ambiente físico, processos econômicos e necessidades sociais, ao considerar o chamado tripé da sustentabilidade (8), pois ao contemplar a incorporação de soluções arquitetônicas voltadas a essas três dimensões, a construção pode se tornar instrumento de melhoria da qualidade de vida do indivíduo e comunidade. Edifício Eldorado Business Tower, projeto do escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos Foto Daniel Ducci xxxv No contexto das preocupações com a sustentabilidade, a certificação LEED, uma avaliação pautada em critérios classificatórios relacionados em um checklist, concede pontuação ao empreendimento dependendo do atendimento a critérios previamente estabelecidos. Dependendo da pontuação atingida, o empreendimento pode ser certificado, atingindo os níveis prata, ouro ou platina. O Processo de Certificação do Edifício Eldorado Business Tower Criada em 1998 nos Estados Unidos (9) a certificação LEED vem sendo aplicada em vários países, sendo reconhecida em todos eles como um indicador de qualidade. A certificação LEED ® C&S (for Core & Shell) essencialmente avalia e reconhece soluções e tecnologias que em tese contribuiriam para tornar as construções sustentáveis, identificando essas soluções no projeto e na obra, cuja aplicação teria por finalidade a redução de impactos ambientais advindos da edificação. São avaliados o corpo do edifício, todas as áreas comuns e fachadas. Eldorado Business Tower – foto da fachada frontal com a grela estrutural e vedação diferenciada de vidro Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em v isita técnica realizada em 16.03.2011 xxxvi O primeiro edifício da América Latina a receber certificação LEED foi uma agência do Banco Real, na Granja Viana, em São Paulo, em 2007. Hoje existem 23 empreendimentos certificados pelo LEED no Brasil e 211 empreendimentos em processo de certificação (10). O primeiro edifício a receber o certificado Platinum, o mais alto da categoria na América Latina, foi o Eldorado Business Tower (São Paulo), em 19 de agosto de 2009, atingindo 46 de um ranking de 61 pontos, com a versão 2.0 Platinum. O Eldorado Business Tower é um edifício de escritórios junto ao consagrado shopping center Eldorado, em São Paulo, tendo sido o novo conjunto inaugurado em novembro de 2007. A torre destinada a escritórios tem 32 andares de lajes em concreto protendido de espessura de 27 cm, que possibilitam plantas flexíveis com área de 2.000 m2, e pé-direito de 3,00 m. Os escritórios dispõem de piso elevado e forro. Com 141 metros de altura, o edifício dispõe ainda de quatro subsolos (1.805 vagas), edifício garagem com sete pavimentos, centro de convenções e heliponto, para até dois helicópteros de dez toneladas cada um. As categorias utilizadas para pontuar o empreendimento foram Sustentabilidade, Eficiência em Água, Energia e Atmosfera, Materiais e Recursos, Qualidade Ambiental interna, Inovação e Processos de Design. A cada uma dessas categorias foi atribuído um ponto, tendo o Eldorado obtido nota um (1,0) em vários itens do ranking o que permitiu sua classificação na categoria Platinum (11). Os resultados quanto aos itens utilizados para a pontuação são os seguintes (12). 33% de economia de no consumo de água potável, comparado ao padrão norte- americano; 100% de economia de água potável para irrigação; 18% de economia no consumo de energia; 74% de todo resíduo gerado na obra foi destinado a aterros; 30% de todo material empregado foi reciclado; 50% de todo material adquirido é de origem local; 95% de toda madeira certificada pelo FSC (Forest Stewardship Council); 25% de redução da vazão e volume de água lançada na rede pública durante as chuvas.A um primeiro exame, o edifício não demonstra diferenças expressivas em relação à arquitetura corporativa realizada na cidade, utilizando-se do sistema de grelha estrutural e fechamentos de vidro, sistema que possibilitou vedações utilizando generosos panos envidraçados. Mas, analisando mais detidamente o projeto, a obra construída e a tecnologia empregada, é possível notar que apresenta vantagens e diferenças significativas que os distinguem, em termos de eficiência energética e energias renováveis. É possível identificar ainda características arquitetônicas singulares relativamente a outras construções de tema similar. Essa análise sugere algumas indagações críticas sobre alguns dos itens que são objeto da certificação e que, talvez, demonstrem que o atendimento às categorias que conferem a classificação não seja uma condição suficiente para definir integralmente um edifício como sustentável. No edifício em estudo, o sistema de ar-condicionado é o VRV III (volume de refrigeração variável) que possibilita baixo consumo de energia, permitindo que empresas locatárias ali sediadas paguem somente pelo que consomem. O que consiste em vantagem significativa xxxvii frente aos dispêndios condominiais em edifícios similares não certificados. O sistema utiliza ainda gás refrigerante do tipo R-410 A, ecologicamente correto. A primeira impressão obtida em visita técnica realizada ao empreendimento (13), é que o sistema de refrigeração consta de um multi split, com metade das condensadoras instaladas na cobertura do edifício e a outra metade na cobertura ou laje de garagem. Ao contrário da maioria dos edifícios similares, nos quais evaporadoras e condensadoras estão instaladas no mesmo local dos respectivos escritórios, ocupando uma sala que se destina à casa de máquinas ou terraço técnico, essas condensadoras são mantidas pelo condomínio e o fato de não ser necessário um espaço para elas em cada planta tipo acarreta em economia de aproximadamente 15 m ² em cada meia laje o que permite uma distância de apenas 65 cm entre forro e laje. Por contar com um sistema de operação programado e inteligente, permite ligar o ar condicionado de cada compartimento ou escritório com autonomia. O controle é feito pelo condomínio, mediante o uso de programa de computador ou pelo próprio usuário, utilizando a Internet. Condensadoras na cobertura do edifício Foto Mariana Feres dos Santos, obtida em v isita técnica realizada em 16.03.2011 Toda a água utilizada nas áreas comuns, tanto para irrigação de áreas verdes quanto para limpeza, provém de chuva reutilizada e condensação gerada pelo funcionamento do ar condicionado. A água lançada na rede pública é também tratada para filtragem de particulados e todos os sanitários são dotados de medidores de água individualizados em cada andar, permitindo controle mais rigoroso do dispêndio do recurso. Um sistema inteligente de elevadores, com antecipação de chamadas, dispõe ainda de sistema de frenagem regenerativa, o que permite que o elevador que estiver descendo forneça energia para o outro, que está subindo. Lâmpadas e reatores despendem menos energia e todos os sistemas elétricos são divididos por segmentos, como, por exemplo, há xxxviii um sistema para os elevadores, outro para as bombas d´água e outro para cada setor do edifício, permitindo acompanhar qual o real consumo de energia de cada área. A fachada dispõe de 43% de área envidraçada, sendo que o vidro utilizado foi o low-e, caracterizado por melhor desempenho térmico e possibilidade de filtragem eficiente do calor que atinge o interior do edifício. A área envidraçada conta ainda com a preteção oferecida por um sistema de persianas automatizadas. Na medida em que o sol vai batendo nas fachadas, persianas vão descendo automaticamente. O condomínio organiza coleta seletiva do lixo, recolhido a um compartimento no térreo no qual os resíduos são triados. Há uma regra condominial em vigência de que não será coletado o lixo do andar que não cumprir com a necessária seletividade. A descrição anterior teve por objetivo demonstrar os diversos pontos positivos que, inegavelmente, ajudam a qualificar a performance do Eldorado Business Tower e o diferenciam de outros empreendimentos, mas alguns dos itens que garantiram a certificação são passíveis de observações críticas. A começar pela localização, o Eldorado Business Tower está implantado em terreno de privilegiada acessibilidade. Ao lado de um grande centro de compras e serviços de São Paulo, o Shopping Eldorado, apresenta passarela vedada por panos de vidro, conectando o edifício diretamente àquele shopping. Encontra-se ainda ao lado da estação ferroviária denominada Hebraica, o que em tese facilita o acesso de usuários e visitantes por transporte público. No entanto, como é ilustrado a seguir, o terreno faz fronteira, em um de seus lados, com uma via expressa bastante ruidosa e poluente pelo expressivo número de ve ículos que recebe diariamente, sem dizer que o terreno se encontra em rota de aviação. Na outra face do terreno, localiza-se o estacionamento do centro de compras, parceiro do empreendimento, o que gera necessariamente intenso afluxo de veículos motorizados ao conjunto. Embora a solução de elevar o térreo tenha sido competentemente proposta pelos arquitetos para que houvesse amenização do agravante de poluição sonora e ambiental, o potencial pleno do térreo como espaço coletivo e de permanência não foi exp lorado, dando-se ênfase ao uso de materiais como o vidro como fechamento da passarela indutora da ligação com o shopping. O vidro foi escolhido pela leveza visual e utilizado por seus resultados plásticos e, principalmente, pela resistência à deformação. O outro vizinho lateral é a estação ferroviária, cujo acesso pedestre não pode ser otimizado, pois uma via de proporções e capacidade de fluxo reduzida serve de conexão entre o edifício e a mencionada estação. A impossibilidade de realizar um sistema conector que permitisse de fato ligar a estação ao empreendimento se deveu ao fato de que, se a gestão do governo estadual de 2007 havia sinalizado positivamente para a implementação desse recurso, em seguida desconsiderou-a, sob alegação de que seria necessário um segundo controle de catraca (14). Neste caso, a materialização da arquitetura cujo conceito previa uma qualidade ambiental por meio de seu projeto não foi prioritária ou decisiva, e por essa razão é questionável a sustentabilidade do empreendimento pautada exclusivamente na obtenção do grau Platinum. xxxix Uma das razões alegadas pelo Green Building Council ao certificar o Eldorado foi o fato de que a organização reconheceu como positivo a obra estar localizada em área urbanizada e servida de comércio, com acesso à estação ferroviária e à futura estação de metrô Pinheiros facilitado, e também a pontos de ônibus e serviços básicos. O que possibilitaria que o conjunto pudesse servir à comunidade local, incluindo passarela para integração e acesso dos usuários e visitantes ao Shopping Center Eldorado. Observa-se que o discurso que antecipou a certificação em 2009 enfatizando não somente o local mas as conexões do conjunto arquitetônico com o espaço público não veio a se concretizar plenamente, não por omissão dos arquitetos, mas por razões técnicas e políticas, o que questiona o certificado LEED quando encarado como processo e não somente como um estado acabado. Considerando que a população usuária fixa e visitante no Eldorado Business Tower é de 7.000 pessoas/dia (15), à razão de 5.000 usuários e 2.000 visitantes, a rua que funciona como alça de acesso ao shopping center não possui escala adequada ao prédio e à sua população fixa e flutuante. Devido à dificuldade de fluxo e acesso estabelecer