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AULA 4 NEUROCIÊNCIA DA LINGUAGEM Profª Tammy Ribeiro 2 CONVERSA INICIAL A posse da linguagem distingue os humanos de outros animais. É verdade que outros animais também se envolvem em comunicação vocal, como acontece com alguns tipos de macacos que têm a capacidade de transmitir algumas informações simples usando chamadas de alerta. No entanto, a comunicação vocal de tais animais carece da gramática complexa e da alta expressividade que caracterizam a linguagem humana. Por que apenas os humanos têm uma linguagem sofisticada? Essa é uma das questões centrais para entender a identidade humana. Nesta aula, exploramos a evolução da linguagem no contexto da evolução biológica dos traços fundamentais subjacentes à interação comunicativa. Desde os primeiros hominídeos que realizavam uma comunicação por meio de uma protolinguagem, que estava longe de ser considerada como linguagem, até o momento em que, juntamente com a explosão tecnológica, constatada pelos paleontólogos, surgem evidências de produções humanas que somente poderiam ter se realizado mediante a capacidade da linguagem. Juntam-se a isso as teorias que compreendem o desenvolvimento linguístico da criança pequena, com a evolução linguística da espécie, trazendo o entendimento de que tal quais os ancestrais humanos, as crianças precisam passar por etapas para conseguir alcançar a capacidade linguística. Diante disso, começamos nosso estudo, nesta aula, buscando compreender como evoluiu a linguagem humana, desde os ancestrais comuns dos humanos até os dias de hoje, e ao mesmo tempo fazendo comparações entre a comunicação humana e de outros animais. Em seguida, partimos para uma discussão sobre a filogênese da linguagem humana, buscando um paralelo com sua ontogênese. Logo após, buscamos compreender como funcionam os mecanismos da linguagem no homem, para posteriormente fazermos um paralelo, objetivando entender como os mecanismos motores estão atrelados à aquisição da linguagem pela criança pequena. Por fim, fazemos um estudo sobre os mecanismos da função ideacionária da linguagem, procurando compreender como essa função influencia na vida das pessoas. 3 CONTEXTUALIZANDO A linguagem é uma das propriedades humanas que são extensamente estudadas ultimamente e, com o avanço da tecnologia, têm aumentado os estudos e resultados sobre como essa propriedade humana tem surgido nos homens e como ela se processa. Uma das vertentes científicas que busca compreender como a linguagem surge no ser humano está ligada a estudos sobre como viveram seus ancestrais. Ciências como a paleontologia, arqueologia, estudos pré-históricos buscam entender em que ponto da história o homem se torna homem utilizando-se da linguagem. Comumente, esses estudos são chamados de filogenéticos. Outro estudo importante que tem crescido nos últimos anos é o estudo da ontogenia, que busca fazer um paralelo entre o desenvolvimento da criança pequena e da evolução da espécie. Tudo isso na busca de compreender como a propriedade humana da linguagem tem se desenvolvido no ser humano. TEMA 1 – COMPREENDENDO A EVOLUÇÃO DA LINGUAGEM HUMANA Por vários séculos tem se especulado sobre a evolução da linguagem no ser humano. Como estudamos em aulas anteriores, essa área de estudo não é tão fácil de ser estudada, tendo em vista que muito raramente existem evidências diretas. Normalmente, os estudiosos dessa área do saber realizam suas pesquisas buscando deduções em outras formas de evidências, como é o caso das evidências arqueológicas, da busca de informações nos fósseis, nos estudos das lesões cerebrais e suas causas nos processos comunicativos humanos e também pelos estudos da comunicação realizada pelos homens em comparação com os sistemas comunicacionais de outros animais como o dos primatas, primos próximos do ser humano na escala evolutiva. Segundo Seyfarth e Cheney (2017), alguns grupos de animais têm algo que à primeira vista parece se assemelhar a um vocabulário primitivo, como é o caso de algumas espécies de macacos que possuem um pequeno conjunto de chamadas de alarme distintas, cada uma produzida em resposta a um predador diferente. Nesse caso, podemos apresentar como exemplo o Chlorocebus pygerythrus, espécie de macaco que tem sons bem conhecidos para predadores como águia, leopardo e cobra. 4 Podemos utilizar como exemplo, também, as galinhas, que, além de ter sons de alarme distintos para diferentes predadores, um sistema tão sofisticado quanto o dos macacos, têm, ainda, alguns sons específicos para informar sobre alguns tipos de alimentos. Outro animalzinho que utiliza sistema de comunicação parecido com os aqui apresentados é o cão da pradaria, animal roedor que emprega, talvez, o sistema mais sofisticado de sons de alarme de animais (Gibson, 2012). Mamíferos empregam um extensivo processo comunicativo entre os de sua espécie, normalmente utilizando sons, mas também se valendo de outros artifícios como a exibição visual, mensagens químicas e até comunicação tátil. Para Burling (2011), nós, humanos, não somos exceção: nosso antigo sistema de comunicação primata engloba muitos sinais não verbais, incluindo risos, choro, sorrisos, gritos de dor e posturas de agressão ou apaziguamento. Buscando uma comparação entre a linguagem humana e os sistemas de comunicação de alguns primatas, Gibson (2012) e Knight e Power (2012), afirmam que, embora todas as espécies de grandes símios tenham capacidades mentais e comunicativas suficientes para usar protolinguagens rudimentares, nenhum o faz na natureza. Assim, segundos essas autoras, a protolinguagem quase com certeza data de um período subsequente à separação filogenética hominina de chimpanzés e bonobos, por volta de 5 a 8 milhões de anos atrás, no período geológico chamado Mioceno. Segundo Wood e Bauernfeind (2012), a linguagem é uma inovação nos homininis, tribo de primatas hominídeos, antepassado comum dos homens e chimpanzés. Embora um número de hominídeos e possíveis fósseis de hominídeos datem do longo período que dura de 2 a 7 milhões de anos, não sabemos com certeza se algum desses primeiros hominídeos, como o Paranthropus, o Ardipithecus, o Australopithecus ou o Homo habilis eram nossos ancestrais diretos e, muito menos, podemos dizer se algum desses homininis tinha alguma forma de protolinguagem ou qualquer coisa que reconheceríamos como fala. Se o fizeram, não há como saber com base na anatomia dos fósseis, mas se sabe que a maioria das espécies tinha tamanhos de cérebro um pouco maiores que os macacos e possuíam o osso hioide. Diante disso, é perceptível que quase todos os australopitecinos e formas primitivas do gênero Homo fizeram avanços definidos na direção de adaptações semelhantes às humanas. Há claras evidências de que, por volta de 2.6 milhões de anos atrás, esses ancestrais já fabricavam ferramentas de pedras afiadas que eram 5 usadas para cortar carne e tendões. Achados paleontológicos de ossos longos e crânios indicam que alguns artefatos ancestrais em formato de martelo foram usados ainda mais cedo e que possíveis marcas de corte nos ossos sugerem que ferramentas de pedra fabricadas ou com bordas afiadas também podem ter sido usadas antes de 3 milhões de anos atrás (McPherron et al. 2010). Embora a maioria mantivesse algumas adaptações para um estilo de vida arbóreo, como é o caso dos macacos, todas também eram bípedes em algum grau. O bipedismo é uma característica frequentemente formulada para servir como uma pré-adaptação à laringe descendente que caracteriza os humanos modernos (MacLarnon, 2012). A maioriadesses hominídeos também apresentava dentes molares aumentados com camadas de esmalte mais espessas do que geralmente está presente nos macacos, sugerindo adaptações na dieta (Wood; Bauernfeind, 2012). Segundo Whangham (2009), entre 2 e 4 milhões de anos atrás os hominídeos primitivos iniciaram sua longa jornada evolucionária em busca da adaptação alimentar, que acabou sendo caracterizada pela culinária e pela exploração de alimentos com alta densidade de nutrientes, que eram difíceis de adquirir pelas vias da caça ou da extração. Essas estratégias alimentares alteradas permitiram e foram acompanhadas por grandes mudanças na história de vida e na estrutura social. Por exemplo, os seres humanos são menos maduros no nascimento do que os macacos, têm um período mais longo de crescimento e maturação e vivem mais. Além disso, os adultos humanos, ao contrário dos adultos macacos, formam laços de compartilhamento de comida entre homens e mulheres. Possivelmente, essas dietas, história de vida e mudanças sociais desempenharam um papel na seleção de vários aspectos de protolinguagem, balbuciação ou fala (Falk, 2012; Locke, 2012; Parker; Gibson 1979; Deacon, 1997; Hrdy, 2009). Segundo Ferreira et al. (2000, p. 189): O desenvolvimento de múltiplos processos gestuais, faciais e sonoro- verbais, acompanhados de especializações hemisféricas elaboradas, já claramente presentes nos primatas inferiores, proporcionaram, ao longo da evolução, o surgimento da linguagem humana nos padrões que conhecemos e utilizamos atualmente. Todavia, é importante destacar que, mesmo diante de toda essa evolução compartilhada entre os hominídeos, nenhum desses sistemas de comunicação, incluindo a própria sinalização não verbal utilizada por estes, pode ser considerado 6 como linguagem. Esses sistemas, aqui citados, não podem combinar sinais para produzir novos significados, e, para a linguagem, essa propriedade é fundamental (Tallerman; Gibson, 2011). O princípio combinatório, explorado em diferentes níveis de organização, é um atributo crucial e distintivo da linguagem: A propriedade abrangente, compartilhada por nenhum outro sistema animal, é a produtividade aberta da linguagem: os seres humanos combinam sinais para produzir um conjunto infinito de significados distintos e incomparáveis, além de poder transmitir qualquer tópico que possa ser pensado, inclusive ausente, hipotético, e eventos e entidades fictícios, (Tallerman; Gibson, 2011, p. 2, tradução livre) Vários autores, entre estes Chomsky, acreditam que a linguagem somente tenha surgido no homem muito recentemente, por volta de 35 a 40 mil anos atrás, num período conhecido como o Paleolítico Superior. Como evidência dessa crença está o aumento massivo de sofisticação tecnológica constatado no registro arqueológico europeu. Essa tecnologia levou a ferramentas compostas, como arpões, lanças, lâminas de pedra, além de uma variedade maior de materiais utilizados, incluindo marfim, osso e chifre, bem como uma explosão em formas de arte, incluindo ornamentos pessoais, um aumento no uso de pigmentos, esculturas em vários materiais, pinturas rupestres, instrumentos musicais e outros, todos associados à cognição simbólica (Tattersall, 2010), necessidade básica para a existência da linguagem. TEMA 2 – DA FILOGÊNESE À ONTOGÊNESE DA LINGUAGEM A filogenia é uma área do saber que busca conhecer os conceitos de ancestralidade e descendência dentro de um processo evolutivo, baseado nas teorias de Darwin. Valendo-se de estudos morfológicos, moleculares, comportamentais, genéticos e outros, essa área de estudo considera hipóteses sobre as relações de ancestralidade entre as espécies, tendo em vista que todos os seres humanos tiveram um ancestral monocelular em comum. Quando se fala em seres humanos, a filogenia busca compreender as diferenças e semelhanças que estes têm com seus parentes genéticos próximos, os símios. Já a ontogenia, que tem por finalidade estudar os processos biológicos de desenvolvimento dos seres vivos, desde a fecundação até a vida adulta, busca compreender as transformações que ocorrem no organismo durante as etapas do seu desenvolvimento. Segundo Haeckel (1866), a ontologia seria determinada pela 7 filogenia, pois cada fase do desenvolvimento de uma pessoa representa uma das formas adultas que aparecem em sua história evolutiva, ou seja, do desenvolvimento embrionário à vida adulta, o homem repete as etapas do seu processo evolutivo. Diante disso, o autor ficou muito conhecido pela frase icônica: “A ontogenia recapitula a filogenia”. Diante disso, para compreender como os seres humanos adquiriram a linguagem, os estudiosos da filogenia buscam nos ancestrais próximos do Homo sapiens, com base em estudos anatômicos, comportamentais e outros, em que ponto da evolução esses indivíduos começaram a esboçar características próximas daqueles que são dotados de linguagem. Cruzando dados anatômicos e sociais adquiridos por pesquisas arqueológicas, pode-se notar que um processo lento e gradual de aumento do crânio a partir dos arcantropos proporcionou o desenvolvimento cerebral das regiões frontais inferiores e ampliou o crescimento em leque das regiões fronto- têmporo-parietal, fundamentais aos mecanismos da linguagem em seus aspectos verbais, gestuais e motores (Ferreira et al., 2000). Ainda segundo Ferreira et al. (2000), nessa evolução, o crescimento das regiões frontais médias, particularmente o das regiões pré-centrais e dos giros frontal médio e inferior, possui grande importância nos mecanismos de expressão da linguagem. É importante destacar que o desenvolvimento dessas regiões ocorre num processo concomitante e associado, promovendo o crescimento neural simultâneo das áreas de linguagem, dos centros de planejamento motor complexo, área pré-motora e motora suplementar, e das áreas motoras da mão e da face localizadas no giro pré-central, em íntimo contato anatômico com as anteriores. Na análise do crânio do Australopithecus anamensis, nota-se, apesar de seu pequeno volume, uma base craniana e um forame magno já bastante próximos do padrão humano, demonstrando uma conexão entre tronco e medula e uma estrutura crânio-cervical, sede do aparelho fonador, bem próxima aos padrões morfológicos atuais. Tudo isso propiciando a organização da linguagem no homem (Ferreira et al., 2000). Para explicar como o homem conseguiu alcançar a capacidade da linguagem, atentar somente aos limites da biologia é insuficiente. Há que se buscar as origens da linguagem humana nas condições externas que os descendentes diretos dos humanos viveram. Um fator a ser observado é que as modificações cranianas, acompanhadas do crescimento da massa encefálica, principalmente 8 fronto-têmporo-parietal, possibilitaram o fabrico de ferramentas e outros produtos da indústria paleolítica, de grande interesse ao estudo neurofisiológico dos ancestrais do homem (Ferreira et al., 2000). Segundo Clarindo, Borela e Castro (2014), é na atividade do trabalho que as ações são designadas, e nesse processo nasce a linguagem. De início, toda relação da ação com a linguagem está intimamente ligada com o caráter prático dessa ação. O sentido dos sons e gestos dependia das situações práticas realizadas. Já Ferreira et. al. (2000) enfatizavam que o aumento significativo do número de instrumentos fabricados e sua padronização, pelo Homo erectus, por exemplo, é um fato de suma importância ao estudo da linguagem, pois indica a hipótese de transmissão dos conhecimentos e das técnicas de fabricação de instrumento, fato que somente é possível com a presença de uma linguagemeficiente. Do exposto, tem-se que, é na atividade humana fundamental, ou seja, o trabalho social, que se cria no homem a necessidade de se comunicar, assim a linguagem é um dos fatores decisivos para passagem da conduta instintiva animal do homem para a conduta consciente. (Clarindo; Borela; Castro, 2014) É consenso entre os estudiosos que o surgimento da linguagem no homem é concomitante ao avanço das técnicas de fabricação de instrumentos. Segundo Leroi-Gourhan (1990), é proposto por cientistas e estudiosos dos processos filogenéticos da linguagem humana que existe uma sintonia evolutiva entre as atividades de fabricação de objetos e a linguagem, o que permite inferir, pela análise dos utensílios fabricados pelos pré-hominídeos, que a linguagem, provavelmente, já se mostrava presente, de forma rudimentar, nos arcantropos mais primitivos. O nascimento da linguagem levou a que, progressivamente, fosse aparecendo todo um sistema de códigos que designava objetos e ações e suas relações. Finalmente, formaram-se códigos sintáticos complexos de frases inteiras, as quais podiam formular as formas complexas de alocução verbal. (Luria, 1986, p. 22). Em parte, compreendida essa evolução da linguagem humana, e comparando-a com o desenvolvimento da criança em relação à sua linguagem, estudiosos perceberam que há, em alguns pontos, uma equiparação entre estes. Segundo o linguista contemporâneo Derek Bickerton (1990), existe uma protolinguagem identificável que é compartilhada por macacos treinados e crianças. Essa protolinguagem equivale a uma concepção tradicional, porém 9 imprecisa, da sub-linguagem dos dois, um código telegráfico sem morfemas gramaticais, com base na ordem das palavras como dispositivo gramatical básico e expressando uma coleção de conceitos básicos pré-linguísticos. Para Montes (1971), essa primeira manifestação da linguagem na criança é o balbuciar, expressão não linguística que somente tem em comum com a língua os órgãos e as funções fisiológicas que são empregados para a produção do idioma. Para o autor, a criança, ao balbuciar, se torna consciente de suas possibilidades fonéticas e tem o prazer de usá-las sem função aparente que não seja puramente expressiva ou lúdica: Parece muito provável que o balbucio se constitua na imitação da forma linguística ouvida dos adultos, ou que pelo menos a linguagem destas, condicione, molde ou transforme, à sua imagem, o balbucio da criança. Se é assim, então fica claro que a “forma” é o primeiro parâmetro no aprendizado da língua. Mas se trata de uma forma elementar e rudimentar, bastante diferente do que é a “forma" de qualquer linguagem desenvolvida. Para que esta “forma” elementar se transforme na “forma” elaborada e estruturada da língua, é necessário que a criança penetre o conteúdo, em detrimento de distinguir um número cada vez maior de realidades. (Montes, 1971, p. 22, tradução livre) Balbuciar, com base nessa interpretação, é imitar, e imitação não pode ser considerada como linguagem, mas se apresenta como um primeiro passo para a aquisição processual da linguagem na criança. É nesse processo que a criança distingue as realidades que lhe são impostas e desenvolve progressivamente o núcleo de seu balbucio primitivo, adequando-o ao sistema fonológico de sua língua, à norma fonética de seu ambiente, mas para que isso possa acontecer, a mera imitação é insuficiente; é necessário que a criança se aproprie do conteúdo, ou seja, dos significados de cada palavra e é nesse ponto que surge a linguagem na criança. Ontogeneticamente falando, não há diferenças formais substantivas entre os enunciados de macacos treinados e a fala realizada por crianças pequenas. A evidência do balbucio poderia, portanto, ser tratada como consistente com a hipótese de que o desenvolvimento ontogenético da linguagem reproduz parcialmente seu desenvolvimento filogenético. Segundo Bickerton (1990, p. 115, tradução nossa), “A fala dos menores de dois anos assemelhava-se a um estágio no desenvolvimento da linha hominídea entre ancestrais remotos, sem palavras e ancestrais com línguas muito parecidas com as de hoje”. Saiba mais 10 Continuaremos a discutir nesta aula sobre como se processa a linguagem nas crianças pequenas, mas para que você compreenda melhor as discussões que aqui estão sendo feitas, sugerimos a leitura do texto a seguir: FERREIRA, R. G. F. et al. A filogênese da linguagem: novas abordagens e antigas questões. Arquivos de Neuropsiquiatria, v. 58, n. 1, p. 188-194, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004- 282X2000000100030&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 14 jun. 2018. TEMA 3 – OS MECANISMOS DA LINGUAGEM NA CRIANÇA PEQUENA Embora demorado, é possível descrever os comportamentos que as crianças produzem quando adquirem a linguagem, isto é, o que as crianças fazem quando aprendem a língua. A tarefa mais difícil é descobrir como eles fazem isso. Muitas teorias foram oferecidas para explicar como as crianças aprendem a língua. Embora haja discordância nos detalhes, todos os relatos modernos aceitam o fato de que elas chegam ao aprendizado de idiomas preparadas para aprender. A discordância central está no que cada teoria leva a criança a ser preparada. A maioria delas adquire a linguagem com relativa facilidade e, em linhas gerais, adquire a linguagem de acordo com uma trajetória comum. No entanto, dentro das semelhanças notáveis que caracterizam o aprendizado de línguas em crianças, existem igualmente diferenças individuais na taxa e no tempo do crescimento léxico e sintático (Goldin-Meadow, 2015). Segundo Kuhl (2010), para entender melhor estas questões, a última década produziu avanços rápidos em técnicas não invasivas que examinam o processamento de linguagem em crianças pequenas, entre estas se incluem a eletroencefalografia; os potenciais relacionados a eventos; o magnetoencefalograma; a ressonância magnética funcional; e a espectroscopia de infravermelho, entre outras. Esses estudos cerebrais e comportamentais indicam um conjunto muito complexo de sistemas cerebrais em interação na aquisição inicial da linguagem, muitos dos quais parecem refletir o processamento da linguagem adulta, mesmo no início da infância. Na idade adulta, a linguagem é altamente modularizada, o que explica os padrões muito específicos de déficits de linguagem e danos cerebrais em pacientes adultos após acidente vascular cerebral (Dehaene-Lambertz et al., 2006; Kuhl, 2010). 11 Diferentemente dos adultos, as crianças pequenas devem começar a vida com sistemas cerebrais que lhes permitam adquirir qualquer língua a que estejam expostos. Segundo Petitto e Marentette (1991), estes podem adquirir linguagem na condição de vocal-auditivo ou de código visual-manual, aproximadamente na mesma época da vida. As pesquisas ainda estão em estágio inicial de compreensão dos mecanismos cerebrais subjacentes à flexibilidade inicial dos bebês em relação à aquisição de linguagem, sua capacidade de adquirir linguagem por olho ou ouvido e adquirir uma ou mais línguas, além da redução dessa flexibilidade inicial, que ocorre com o avançar da idade, o que diminui drasticamente nossa capacidade de adquirir uma nova linguagem quando adultos (Newport, 1990). O cérebro infantil está primorosamente preparado para “decifrar o código da fala” de uma forma que o cérebro adulto não pode. Descobrir como isso acontece é um quebra-cabeça muito interessante. Uma verdade compartilhada pelos principais estudiosos da linguagem na infância é que a língua apresenta um período “crítico” para o aprendizado (Kuhl, 2010). Este período equivale aum espaço de tempo no desenvolvimento da criança, no qual ela está mais propensa ao aprendizado de qualquer língua, conseguido aprender até mais de uma língua simultaneamente, sem prejuízos. No domínio da linguagem, crianças pequenas são aprendizes superiores quando comparados aos adultos, apesar da superioridade cognitiva destes. Ainda assim, nem todos os aspectos da linguagem exibem as mesmas “janelas” críticas temporalmente definidas. Para Kuhl (2010, em tradução livre), O tempo de desenvolvimento dos períodos críticos para aprendizagem de níveis fonéticos, lexicais e sintáticos da linguagem variam, embora os estudos ainda não possam documentar o momento preciso em cada nível individual. Estudos indicam, por exemplo, que o período crítico para a aprendizagem fonética ocorre antes do final do primeiro ano, enquanto o aprendizado sintático floresce entre 18 e 36 meses de idade. O desenvolvimento de vocabulário “explode” aos 18 meses de idade, mas não parece ser tão restrito pela idade quanto outros aspectos da aprendizagem de línguas – é possível aprender novos itens de vocabulário em qualquer idade. Compreendendo o momento em que, normalmente, a aprendizagem da linguagem é mais forte, pais, educadores, cientistas podem agir de forma mais incisiva na busca de melhorar a vida futura das crianças. Hoje já se sabe que, nos primeiros anos de vida, crianças estão mais propensas a aprender mais de uma língua simultaneamente. Para Kuhl (2010), um dos objetivos das pesquisas futuras 12 será documentar a “abertura” e o “fechamento” de períodos críticos para todos os níveis de linguagem e entender como eles se sobrepõem e por que diferem. Toda criança desprovida de alguma deficiência tem em si a capacidade de aprender a expressar sua linguagem, seja com base em uma língua falada, gestual, seja por expressões faciais ou gesticulares, seja pela ausência de gestos ou até pelo silêncio, independentemente de ter ou não recebido grandes quantidades de estímulos externos, ou estímulos escassos. Porém, quanto mais experiências educativas essa criança tiver, melhor expressão essa terá em sua linguagem. TEMA 4 – RELAÇÃO ENTRE MECANISMOS MOTORES E A LINGUAGEM HUMANA Se o surgimento da linguagem nas crianças é um dos grandes acontecimentos da infância, sua condição para movimentar-se é bem anterior. Na atualidade existe um renovado interesse pela análise de como o movimento na criança se relaciona com outras dimensões do desenvolvimento, incluindo a linguagem. Nessa busca, vários autores chegaram ao ponto de defender uma origem motora para o desenvolvimento cognitivo, concedendo ao corpo um papel ativo no desenvolvimento da cognição humana e assumindo que nossas ações e movimentos são chave para este desenvolvimento (Gallagher, 2011; Iverson; Braddock, 2010; Borghi; Cimatti, 2010). Segundo Rocha (1999), a linguagem é, antes de mais nada, uma mímica motora que as vezes necessita da produção do som para ser vinculada a outros indivíduos. Azcoaga (et al., 1981) preconizava que os elementos comunicativos da linguagem resultam de uma atividade biológica. Muitas dessas atividades podem ser ditas inatas, como a mímica facial, por exemplo, sendo a maioria aprendida muito cedo e outras mais tardiamente com o contato social intenso. A cada nova conquista motora, supõe-se uma intensa mudança na forma como a criança se relaciona e se comunica com seu entorno social e material. A capacidade motora exploratória das crianças pequenas é fundamental para seu futuro desenvolvimento, já que, segundo Bornstein, Hahn e Suwalsky (2013) permite prenunciar o rendimento acadêmico na adolescência, sendo que as informações e experiências que os pais oferecem aos seus filhos cada vez mais cedo aumentam as chances do rendimento cognitivo e motor futuro das crianças. Outra questão importante está na condição de que, antes de expressar a fala, a criança possui um pensamento pré-linguístico, que é caracterizado pela 13 seleção dos signos linguísticos, ou seja, palavras, que são capazes de exprimir o pensamento. O próprio cérebro seleciona também os padrões sensório-motores correspondentes à articulação verbal, mas, antes de falar, organiza o pensamento para que as ideias se juntem às ações motoras e as palavras sejam expressas com perfeição (Jakubovicz; Cupello, 2005). Outra linha de trabalho que analisa as relações entre motricidade e linguagem diz respeito aos estudos sobre a gesticulação infantil no desenvolvimento da linguagem e comunicação. Como resultado desses estudos, se constatou empiricamente que desde muito cedo as primeiras expressões verbais vêm acompanhadas de gestos com as mãos, braços e movimentos do corpo (Capone; McGregor, 2004). Vários estudos têm constatado que, de maneira muito natural, nas crianças pequenas, os movimentos rítmicos dos braços aumentavam com a aparição dos primeiros balbucios, o que levou os estudiosos a considerar que ambas as atividades compartilhavam propriedades similares e que os movimentos das mãos e dos braços se convertiam em uma forma de consolidar o efeito de seus balbucios para obter retroalimentações sociais que buscavam balbucios (Iverson et al., 2007). Inclusive, para alguns pesquisadores, essas habilidades motoras que ocorrem nos primeiros anos podem predizer melhor capacidade comunicativa posterior que as próprias habilidades comunicativas prematuras, assumindo a teoria de que conhecer a variedade de habilidades motores cada vez mais cedo é muito útil para compreender o desenvolvimento posterior da linguagem e da comunicação (Leonard; Hill, 2014). TEMA 5 – MECANISMOS IDEACIONAIS DA LINGUAGEM A metafunção ideacional está sobre o mundo natural no sentido mais amplo, incluindo nossa própria consciência, e se preocupa com cláusulas como as representações. Entende-se que a linguagem se desenvolveu com o propósito fundamental de satisfazer as necessidades de comunicação humana, isto é, de possibilitar ao homem a produção e troca de significados, isso porque não interagimos somente com o intuito de trocar sons, palavras ou sentenças (Santos, 2014). Para Halliday (1978), todo e qualquer uso que fazemos do sistema linguístico é funcional relativamente às nossas necessidades de convivência em 14 sociedade. Ao usarmos a linguagem, fazemos uma série de escolhas dentre as possibilidades que o sistema linguístico disponibiliza. Assim, precisamos desenvolver nossa consciência sobre os significados que as palavras e suas combinações em textos geram para alcançarmos efetivamente nossos propósitos em contextos específicos. Halliday (1978) ainda propõe que há uma multifuncionalidade no completo uso da língua. Para o autor, nas práticas comunicativas humanas a linguagem desempenha simultaneamente três metafunções básicas, que são: a produção de significados ideacionais, interpessoais e textuais, ou seja, os componentes linguísticos de uma mesma oração podem ser interpretados sobre diferentes enfoques. Para esse autor, essas metafunções não funcionam isoladamente, mas se integram e interagem entre si, na construção do texto, conferindo-lhes um caráter multifuncional (Halliday, 1978). Além disso, essas metafunções se refletem na estrutura da oração e se relacionam diretamente com a léxico-gramática de uma língua. Nesse ponto, os significados ideacionais são construídos com base na ideia de como representamos nossa experiência na linguagem, visto que estamos sempre falando sobre alguma coisa ou sobre alguém fazendo alguma coisa (Santos, 2014). Em uma perspectiva sistêmico-funcional da linguagem, a realização do significado ocorre dentro da oração.Consequentemente, tal perspectiva oferece uma gramática da oração que, dentro da dimensão ideacional do significado, compreende a “oração como representação”, a linguagem sendo usada para descrever a experiência humana, uma corrente de eventos ou acontecimentos. A metafunção ideacional é distinguida em dois componentes: o experiencial – relacionado com as opções dentro de um sistema de transitividade – e o lógico– relacionado com as inter-relações das orações que estão amparadas pelos processos (Halliday; Mathiessen, 2004). Na perspectiva experiencial, manifestamos nosso conhecimento de mundo no texto, o conhecimento das ideias. Assim, a metafunção ideacional da léxico- gramática organiza as ideias do indivíduo e as representam. As representações dos significados ideacionais estão sempre envolvidas com os construtos sociais e culturais e são realizadas por um sistema gramatical. Nesse viés, a linguagem reflete nossa visão de mundo como um construto de acontecimentos (processos) que envolvem entidades (participantes) com um pano de fundo de detalhes de 15 tempo, lugar, modo etc. (circunstâncias). Assim, os grupos verbais, nominais e preposicionais são os constituintes das orações respectivamente aos processos, participantes e circunstâncias (Santos, 2014). Halliday e Matthiessen (2004) propõem um sistema de transitividade da língua para ordenar e representar nossas experiências, o qual apresenta uma condição de entrada, chamada de experiencial, permitindo, para a representação de um fragmento da experiência, a escolha de um dos seis processos disponíveis (verbal, mental, comportamental, material, existencial ou relacional). Para os linguistas, a dimensão ideacional do significado permite ao leitor levantar questões sobre quem está agindo, que tipos de ações estão sendo empreendidas e quem ou o que está de acordo (Santos, 2014). FINALIZANDO Muitas são as vertentes que devem ser consideradas quando se estudam os complexos mecanismos inerentes à aquisição da linguagem nos seres humanos, quando ainda são pequenos. Estudá-las não é fácil, porém não é impossível. É importante compreender como o desenvolvimento da linguagem na criança está atrelado à evolução da linguagem na espécie humana. Cada mecanismo cerebral e motor realizado pelos pequeninos tem uma história no processo evolutivo da humanidade, e isso deve ser considerado nos estudos de como a criança adquire sua linguagem. Estudar sobre esses assuntos é imprescindível para aqueles que buscam compreender como a criança apreende sua linguagem e se relaciona com o mundo à sua volta. LEITURA OBRIGATÓRIA Texto de abordagem teórica FERREIRA, R. G. F.; SANTOS, L. C. C. dos; SILVA, A. S. S.; FARIA, E. S. A filogênese da linguagem: novas abordagens e antigas questões. In: Arquivos de Neuropsiquiatria, v. 58, n. 1, p. 188-194, 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/anp/v58n1/1279.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2018. 16 Saiba mais CLARINDO, C. B. S.; BORELLA, T.; CASTRO, R. M. de. O desenvolvimento da filogênese e da ontogênese da Linguagem: alguns aspectos, segundo a teoria histórico-cultural. Revista Ibero-americana de estudos em educação, v. 9, n. 3, p. 599-613, 2014. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6202455>. Acesso em: 14 jun.2018. 17 REFERÊNCIAS AZCOAGA, J. et al. Los retardos del lenguaje en el niño. Buenos Aires: Paidós, 1981. BICKERTON, D. Language and species. Chicago: University of Chicago Press, 1990. BORGHI, A. M.; CIMATTI, F. Embodied cognition and beyond: acting and sensing the body. Neuropsychologica, v. 48, p. 763-773, 2010. BORNSTEIN, M. H.; HAHN, C. H.; SUWALSKY, J. T. D. Physically developed and exploratory young infants contribute to their own long term academic achievement. Psychological Science, v. 24, n. 10, p. 1906-1917, 2013. BURLING, R. Words came first: adaptations for word‐learning. In: TALLERMAN, M.; GIBSON K. R. The Oxford handbook of language evolution. New York: Oxford University Press. 2012. CAPONE, N.; MCGREGOR, K. K. Gesture development: A review for clinical and research practices. 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