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v0.00% Associação de Moradores do Conjunto dos Professores da UFRN Conselho Comunitário de Cooperação da Defesa Social – CCCDS - Capim Macio I Vizinhança Solidária Projeto de Polícia de Proximidade (interativa). Implementação do Projeto de Polícia Comunitária com Videomonitoramento Colaborativo em Capim Macio I (esse trabalho foi anexado ao PLANESP1) Natal/RN 2019 1PLANESP. PLANO ESTRATÉGICO DO SISTEMA ESTADUAL DA SEGURANÇA PÚBLICA CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 1 Autor: 2º Sargento Policial Militar Janildo da Silva Arante 2 Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo Trabalho elaborado a partir do estudo de caso análise feito através de observações cotidianas no que tange à Polícia de Proximidade nos bairros da Zona Sul de Natal, área de atuação do 5º BPM, ator público responsável pelo policiamento ostensivo da Zona Sul de Natal. A aplicabilidade em Capim Macio vai depender da aprovação popular. Natal – RN 2019 2Janildo da Silva Arante, 2º Sargento QPMP-0 - PMRN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e pós-graduando em Polícia Comunitária (UNYLEYA) e em Criminologia (Faculdade Futura). Possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já ministrou, junto ao CFAPM (CFS e CAS), além dessa Polícia de Proximidade (CAS 2019.2), as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM), Sistema e Gestão em Segurança Pública (CAS), Polícia Comunitária (CAS), Polícia Interativa (CAS – Nova Cruz), Fundamentos da Gestão Pública Aplicados à Segurança Pública (CFS – Nova Cruz), Sistemas de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (CFS – CFAPM e Nova Cruz) e Didática Aplicada à segurança Pública (CFS - CFAPM). CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 2 v0.00% Associação de Moradores do Conjunto dos Professores da UFRN Conselho Comunitário de Cooperação da Defesa Social – CCCDS - Capim Macio I PROJETO PARA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍCIA DE PROXIMIDADE NA ÁREA DE CAPIM MACIO I (CONJUNTOS: CIDADE JARDIM, VILLAGE DOS MARES E DOS PROFESSORES DAS UFRN) Comissão responsável pela elaboração do Projeto: Professor Janildo da Silva Arante - 1º SECRETÁRIO DO CCCDS (Autor) Membro da Comissão Fátima Rafael Maciel - PRESIDENTE DO CCCDS Membro da Comissão Marco Antônio Fonseca Jorge – VICE-PRESIDENTE DO CONSELHO FISCAL Membro da Comissão Gustavo Ribeiro Júnior (Guga)- VICE-PRESIDENTE DO CCCDS Membro da Comissão Tuca - PRESIDENTE DO CONSELHO FISCAL Membro da Comissão Jorian Matias da Silva - 2º SECRETÁRIO DO CCCDS Membro da Comissão CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 3 1. APRESENTAÇÃO Esta obra foi idealizada por um grupo formado em reuniões realizadas nas Comunidades de Capim Macio I (Conjunto dos Professores da UFRN – Village dos Mares e Cidade Jardim). A partir dessas reuniões foram traçadas as metas de implantação estadual de polícia de proximidade. Nesses encontros lançamos mãos de metodologias e técnicas de ensino como o brainstorming/brainwriting (utilizados para gerar novas ideias, buscar soluções para um determinado problema. Todas as ideias surgidas devem ser registradas, a seguir categorizadas e analisadas com o auxílio de um coordenador. Ao final, o grupo toma as decisões para a resolução do problema) , Estudo de casos [técnica que compreende a discussão em pequenos grupos de casos verídicos ou baseados em fatos relacionados a situações que farão parte do cotidiano da área de segurança pública. Os casos deverão vir acompanhados do máximo de informações pertinentes para que o estudante possa analisá- los (caso análise – no nosso caso específico escolhemos por unanimidade o projeto Comunidade Segura: Batalhão participativo da comunidade de Morro Branco e, por que não, o Policiamento de Proximidade utilizado pelo 5º BPM) ou apresentar possíveis soluções (caso problema). Esta técnica permite que os estudantes analisem a situação apresentada e apliquem os conhecimentos aprendidos], a Abordagem estrutural, policiamento orientado por problemas (a resolução de problemas deve se basear na análise de causas estruturais, na consideração de todos os fatores subjacentes e nos meios disponíveis de criação de segurança), Painel de discussão (caracteriza-se pela apresentação de especialistas que expõem a sua visão sobre determinado tema a ser debatido. Pode ser coordenado por um moderador que controlará o tempo de exposição e de debate e organizará a síntese dos pontos abordados no painel) e Discussões em grupos (apresentação de um tema a ser discutido a cada grupo). Ao final do tempo estipulado, os grupos apresentam a síntese da discussão, a partir desses artifícios pedagógicos ficamos de elaborar esse relatório que abrange as atividades de Polícia Interativa na Zona Sul de Natal. INTERAÇÃO Para uma boa interação com a comunidade o policial militar tem de participar de cursos de extensão para que possa atender melhor a população. Segundo o Portal do Governo do Estado do Ceará: O tenente-coronel Castelo Branco, que atualmente é comandante do 5° Batalhão da Polícia Militar do Rio Grande do Norte, foi a Fortaleza para participar do Seminário Internacional promovido pela AESP3. O oficial, que já desenvolve ações de polícia comunitária em sua unidade, conta que esta é uma oportunidade única de trocar experiências e ampliar seus conhecimentos. “O objetivo principal é adquirir conhecimento, conhecer as experiências do Japão e do Ceará, que já são referências. Eu creio que a polícia comunitária é o futuro, eu tenho dito ao meu efetivo que a gente não trabalha por produtividade e sim pelo grau de satisfação que a comunidade recebe dos nossos serviços. Claro que a pronta resposta tem que ser dada, a força reativa tem que ser utilizada, mas, o contato principal com a comunidade, saber o que a comunidade está passando, interagir é fundamental e eu desejo que não seja uma tendência não só no Ceará ou no Rio Grande do Norte, mas em todo Brasil”, declarou o policial potiguar. FÓRUM PERMANENTE DE SEGURANÇA PÚBLICA: Policiamento Comunitário e Estratégias de Segurança Pública do Ceará são temas de Seminário Internacional. Disponível em:<https://www.aesp.ce.gov.br/2019/08/12/policiamento- comunitario-e-estrategias-de-seguranca-publica-do-ceara-sao-temas-de- seminario-internacional/ >. Acesso em 01 out 2019. Filosofia de Polícia Comunitária (Interativa ou de Proximidade) A filosofia de polícia comunitária vem ganhando força ao redor do mundo, a ideia de aproximação do policial com a comunidade vem produzindo resultados positivos nas regiões onde é aplicada e se mostra uma importante ferramenta dos órgãos de segurança na estratégia contra o crime. Dessa forma, considerando-se um assunto de relevante importância para a preservação da ordem pública, o tema deve ser constantemente desenvolvido nos debates sobre estratégias de segurança pública. O problema é consequência do aumento exagerado nos níveis de violência e criminalidade no país, que, por certo, reflete em toda comunidade. O Estado, através de seus órgãos, não pode ficar inerte a tal situação. No entanto, deve compreender que o controle da criminalidade não pode mais ficar 3Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 4 restrito as ações repressivas da polícia. Mais que realizar o policiamento ostensivo, deve-se buscar entender as circunstâncias diretasdo problema, para então poder efetivar ações sobre as causas. O Modelo Interativo de Polícia (A Polícia Interativa ou de proximidade) ostenta-se como um serviço completo de policiamento (proativo/preventivo e repressivo/reativo), através da parceria com as comunidades; na identificação, priorização e resolução de problemas de segurança pública e outros. O policiamento interativo baseia-se numa filosofia inovadora no campo da Segurança Pública, onde as comunidades participam da elaboração das políticas voltadas para as ações policiais, através da visão preventiva, junto aos órgãos oficiais da Polícia, de maneira permanente e organizada. (Adaptado de TROJANOWICZ, BUCQUEROUX;1994) Deve ser implementado de forma descentralizada e personalizada, buscando a participação comunitária por meio de discussões, informações, sugestões e críticas. Seu objetivo principal pauta-se na melhoria da qualidade de vida de todo o grupo social, através da diminuição dos índices de criminalidade. Devem ser abolidos os sectarismos sociais e econômicos. OS DEZ PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA Para uma implantação do sistema de Policiamento Comunitário é necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios, praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. Conforme Moreira (2005), estes princípios são universais e estão correlacionados aos mesmos fundamentos da atividade policial moderna; são eles: 1. Filosofia e Estratégia Organizacional - A base desta filosofia é a comunidade. Para direcionar seus esforços, a Polícia, em vez de buscar ideias preconcebidas, deve buscar, junto às comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança; 2. Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade - Dentro da comunidade, os cidadãos devem participar, como plenos parceiros da polícia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na identificação, priorização e solução dos problemas; 3. Policiamento Descentralizado e Personalizado - É necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade, conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades; 4. Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazo - A ideia é que o policial não seja acionado pelo rádio, mas que se antecipe à ocorrência. Com isso, o número de chamadas do COPOM deve diminuir; 5. Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança – O Policiamento Comunitário pressupõe um novo contrato entre a polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no rigor do respeito à ética policial, da legalidade dos procedimentos, da responsabilidade e da confiança mútua que devem existir; 6. Extensão do Mandato Policial - Cada policial passa a atuar como um chefe de polícia local, com autonomia e liberdade para tomar iniciativa, dentro de parâmetros rígidos de responsabilidade. O propósito, para que o Policial Comunitário possua o poder, é perguntar-se: - Isto está correto para a comunidade? - Isto está correto para a segurança da minha região? - Isto é ético e legal? - Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar? - Isto é condizente com os valores da Corporação? Se a resposta for Sim a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o! 7. Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas - Valorizar as vidas de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias, pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso inalienável do Policial Comunitário; 8. Criatividade e apoio básico - Ter confiança nas pessoas que estão na linha de frente da atuação policial, confiar no seu discernimento, sabedoria, experiência e sobretudo na formação que recebeu. Isso propiciará abordagens mais criativas para os problemas contemporâneos da comunidade; 9. Mudança interna - O Policiamento Comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a organização. É fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus quadros de pessoal. É uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos; 10. Construção do Futuro - Deve-se oferecer à comunidade um serviço policial descentralizado e personalizado, com endereço certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na polícia como um recurso a ser Utilizado para ajudá-las a resolver problemas atuais de sua comunidade. OS DEZ PRINCÍPIOS DA POLÍCIA COMUNITÁRIA. Disponível em: <http://www.policiacomunitaria.ms.gov.br/principios-do-policiamento-comunitario/ >. Acesso em 02 out 2019. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Apresentar informações e ferramentas objetivas aos discentes a fim de viabilizar a prática do CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 5 Policiamento de Proximidade, bem como analisar os seus pontos fortes e avaliar a utilização de técnicas específicas que modifiquem a própria realidade e da comunidade em que se estar inserido. 2.2. Objetivos Específicos ➢ Aumentar a sensação de segurança na sociedade; ➢ Consolidar o policiamento preventivo mais eficiente, como u meio capaz de elevar a sensação de segurança da comunidade, bem como fortalecer a imagem da Policia Milita, tornando-a mais visível. ➢ Contribuir para o fortalecimento da imagem da Polícia Militar, tornando-a mais visível aos olhos da população, através das ações desenvolvidas por um policiamento comunitário eficiente, eficaz e efetivo, capaz de elevar a sensação de segurança da comunidade. ➢ Desenvolver ações de responsabilidades sociais, em parceria com os demais órgãos públicos do estado e município, que visem diminuir os índices de violência. ➢ Desenvolver ações educativas que visem a consolidação da doutrina de Polícia Comunitária e de gestão de pessoas, envolvendo o público interno e externo. ➢ Diminuir os índices de criminalidade nas regiões atendidas pelo policiamento. ➢ Empregar recursos tecnológicos avançados para a captura de áudio e imagens que auxiliarão as forças policiais na preservação da ordem pública proporcionando mais segurança à população da Zona Sul de Natal. ➢ Envolver todos os segmentos organizados da sociedade e o povo em geral na construção da segurança pública: “ (…) dever do Estado, direito e responsabilidade de todos...”. Conscientizar o Policial Militar como um agente prestador de serviço público de segurança comunitária que prioriza a qualidade, e não como mero integrante de uma força pública da repressão organizada. ➢ Estabelecer parcerias com a Comunidade acadêmica visando ampliar às oportunidades de cursos de formação para os colaboradores da polícia militar do Rio Grande do Norte; ➢ Estimular a criação dos Conselhos Comunitários de Segurança Pública, com o objetivo de elevar o grau de comprometimento do Cidadão-Policial e do Cidadão-cliente, nas questões de Segurança Pública, de forma a estabelecer um relacionamento íntimo e efetivo, suficientemente capaz de auxiliar nas soluções compartilhadas dos problemas. ➢ Garantir o bem comum acima de todos os interesses particulares ou de classes, sem discriminação de qualquer ordem; ➢ Incrementar a mentalidade de uma polícia cidadã; ➢ Inserir os princípios de qualidade e produtividade, de maneira coerente, na prestação do serviço policial. O cidadão como cliente da Polícia Militar; ➢ Melhorar a imagem da Polícia Militar, baseada na credibilidade em seus profissionais e serviços; ➢ Priorizar as ações de caráter preventivo enfatizando as ações educativas (preditivas). ➢ Promover a aproximação recíproca entre a sociedade e a Polícia; Interação permanente e organizada com os vários segmentos da sociedade; ➢ Promover a Descentralização do poder e das responsabilidades da Segurança Pública entre os policiaise as comunidades; ➢ Promover a melhoria da qualidade de vida na sociedade; ➢ Promover o respeito e promoção de todos direitos do ser humano/cidadão 3. A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira4 “Numa sociedade democrática, a responsabilidade pela manutenção da Paz e a observância da Lei da Comunidade, não é somente da Polícia. É necessário uma polícia bem treinada, mas o seu papel é o de complementar e ajudar os esforços da comunidade, não de substituí-los”. Patrick V. Murphy P olicial Comunitário no Japão O P olicial Japonês O P olicial Comunitário P oliciais de um KOBAN no patrulhamento, visitas rotineiras a residências, atividades c omunitárias e reuniões com a comunidade A E xpansão da Id e ia, Sua Aplicabilidade e viabilidade em São Paulo 4Miguel Libório Cavalcante Neto. (Major PM – Polícia Militar do Estado de São Paulo). Possui mestrado em Ciências Policiais de Segurança, Ordem Pública e Defesa Civil realizado no Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores em 1996 (Curso de aperfeiçoamento de Oficiais - Polícia Militar do Estado de São Paulo - Comando Geral) ( e doutorado em Ciências Policiais de Segurança, Ordem Pública e Defesa Civil realizado no Centro de Aperfeiçoamento e Estudos Superiores em 1998 (Curso Superior de Polícia - CSP - Polícia Militar do Estado de São Paulo - Comando Geral). CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 6 Possuindo características de um Estado moderno, com um alto grau de participação social, muito diferente do modelo brasileiro, o Japão possui um sistema de policiamento fardado baseado na estrutura da Polícia Nacional Japonesa. Desenvolve um dos processos mais antigos de policiamento comunitário no mundo (criado em 1879), montado numa ampla rede de postos policiais, num total de 15.000 em todo o país, denominados KOBANS E CHUZAISHOS. A estrutura básica voltada à prevenção do crime tem seu alicerce de sustentação focado no policiamento comunitário fardado da Polícia Nacional do Japão, através do qual a vida pacífica e calma da comunidade é mantida pelo sistema “Koban”, montada numa ampla rede de postos policiais, num total superior a 15.000 em todo o país. Só na cidade de Tóquio tem aproximadamente 1000 “Kobans” e 240 “Chuzaishos”. O Chuzaisho5 (um local onde o policial reside e trabalha) localiza-se normalmente nos bairros residenciais e conta atualmente com mais de 8.500 postos nesta modalidade; É uma casa que serve de posto policial 24 horas, onde o policial reside com seus familiares, e na sua ausência a esposa atende aqueles que procuram o posto. O Koban6, por sua vez, localiza-se normalmente nos locais onde haja grande fluxo de pessoas, como zonas comerciais, turísticas, de serviço, próximo às estações de metrô, etc., sendo que, nesse tipo de posto trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme o fluxo de pessoas na área delimitada como circunscrição do posto, funcionando 24 horas por dia, existindo atualmente mais de 6.500 Kobans em todo o país. POLICIAL COMUNITÁRIO NO JAPÃO Para se ter uma avaliação da importância dada ao sistema de policiamento comunitário fardado no Japão, a partir de 1998 o efetivo policial passou a contar com 263.600 pessoas , sendo: Agência Nacional de Polícia com 7.600 pessoas (1.400 policiais; 900 Guardas Imperial e 5.300 funcionários civis). 47 Províncias ( como se fossem Estados ) com 256.000 pessoas (226.000 policiais e 30.000 funcionários civis). Dos 226.000 policiais, cerca de 40% estão destinados ao policiamento comunitário fardado, sendo que, destes, 65% estão prestando serviços nos Kobans e Chuzaishos, 20% no policiamento motorizado e 15% no serviço administrativo do Sistema, incluindo o staff de comando, sistema de atendimento e despacho de viaturas para ocorrências e comunicação como um todo. O POLICIAL JAPONÊS O Policial japonês através de suas atitudes demonstra claramente sua formação cultural, ou seja, extremamente educado, polido e disciplinado, cumprindo integralmente suas obrigações com determinação e zelo. Possuindo, no mínimo, formação de 2º grau e até mesmo universitária, sentindo-se perfeitamente à vontade quando da utilização dos mais avançados recursos tecnológicos, na área de comunicações e informática, o que aliado a sua formação técnica policial lhe possibilita alcançar resultados positivos em seu serviço, agindo na maior parte das vezes isoladamente. O Juramento do Policial Como membro da Polícia, eu aqui prometo: - Servir a nação e a sociedade com orgulho e um firme sentido de missão. - Prestar o devido respeito aos direitos humanos e realizar minhas obrigações com justiça e gentileza. - Manter estreita disciplina e trabalhar com o máximo de cooperação. - Desenvolver meu caráter e a capacidade para minha autorrealização. - Manter uma vida honesta e estável. O POLICIAL COMUNITÁRIO O Policiamento Comunitário é o centro das atividades policiais de segurança no Japão. 40% do efetivo da polícia é destinado ao Policiamento Comunitário. Os outros 60% estão exercendo suas funções em atividades administrativas, investigações criminais, segurança interna, escolas, bombeiros, trânsito, informações e comunicações, bem como para a Guarda Imperial. A importância dada ao Policiamento Comunitário pela Polícia Japonesa a qual é seguida à risca, se deve a algumas premissas tidas como imprescindíveis: 5No Japão, existem os “chuzaishos”, que se localizam normalmente em bairros residenciais. É uma casa que serve de posto policial 24 horas, onde o policial reside com seus familiares. 6A kōban é um modelo de posto policial japonês, que remonta ao século XIX. É a base física da estrutura de polícia comunitária no Japão, adotado por diversos países, entre eles: Estados Unidos, Taiwan, Brasil e Coreia do Sul. Nestes pequenos postos urbanos, trabalham entre três a quatro oficiais de polícia, que agem preventivamente aconselhando a comunidade local sobre criminalidade, visitando domicílios habitados por pessoas que carecem de atenção especial e fomentando reuniões com os mais velhos e as lideranças da comunidade. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 7 a) a impossibilidade de investigar todos os crimes pressupõe um investimento de recursos na prevenção de crimes e acidentes, para aumentar a confiança da população nas leis e na polícia. b) impedir o acontecimento de crimes e acidentes é muito mais importante do que prender criminosos e socorrer vítimas acidentadas. c) a polícia deve ser levada aonde está o problema, para manter uma resposta imediata e efetiva aos incidentes criminosos individuais e às emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas preventivas, visando a resolução do problema antes de que eles ocorram ou se tornem graves. Para tanto descentralizar é a solução, sendo que os maiores e melhores recursos da polícia devem estar alocados na linha de frente dos acontecimentos. d) as atividades junto às diversas comunidades e o estreitamento de relações polícia e comunidade, além de incutir no policial a certeza de ser um “mini-chefe” de polícia descentralizado em patrulhamento constante, gozando de autonomia e liberdade de trabalhar como solucionador dos problemas da comunidade, também é a garantia de segurança e paz para a comunidade e para o seu próprio trabalho. Seguindo estas ideias básicas, a Polícia Japonesa descentralizou territorialmente suas bases de segurança em mais de 15.000 bases comunitárias de segurança, denominados Koban ou Chuzaisho, funcionando nas 24 horas do dia. Os Kobans e os Chuzaishos são construídos pelasprefeituras das cidades onde estão localizados, responsabilizando-se também pela manutenção do prédio, pagamento da água, luz, gás, etc. O critério para sua instalação e localização é puramente técnico e é estabelecido pela Polícia de tal forma que garanta o atendimento cuidadoso e atencioso às pessoas que procurem a polícia. Estes postos policiais (Kobans e Chuzaishos) estão subordinados aos “Police Stations”. Chuzaisho: Instalação e Funcionamento O policial é instalado numa casa, juntamente a sua família. Esta casa, fornecida pela Prefeitura, é considerada um posto policial, existindo mais de 8.500 em todo o Japão; cada Chuzaisho está vinculado diretamente a um “Police Station” (Cia) do distrito policial onde atua. O policial trabalha no horário de expediente, executando suas rondas fardado. Na ausência do policial, sua esposa auxiliará em suas atividades, atendendo ao rádio, telefone, telex e as pessoas, sem que, para isso, seja considerada funcionária do Estado, mas essa sua atividade possibilita ao marido policial o recebimento de uma vantagem salarial. Quanto aos gastos com energia, água, gás e a manutenção do prédio ficam a cargo da prefeitura da cidade onde o posto está localizado. Koban: Instalação e Funcionamento Os Kobans, em número superior a 6.500 em todo o Japão, estão instalados em áreas de maior necessidade policial (critério técnico). Os Kobans são construídos em dimensões racionais, em dois ou mais pavimentos, com uma sala para o atendimento ao público, com todos os recursos de comunicações e informática, além de compartimentos destinados ao alojamento (com camas e armários), cozinha, dispensa e depósito de materiais de escritório, segurança, primeiros socorros, etc. No Koban, trabalham equipes compostas por 03 ou mais policiais, conforme seu grau de importância, cobrindo às 24 horas do dia em sistema de rodízio por turnos de 08, 12 ou até mesmo 24 horas, o que é mais comum. Há também reuniões com a comunidade, chamados conselhos comunitários (similar aos Conselhos Comunitários de Segurança – CONSEGs ou Conselhos Comunitários de Cooperação para a Defesa Social - CCCDSs), os quais se reúnem de 2 a 3 vezes por ano, isto porque, enquanto um ou mais problemas apresentados pela comunidade não forem solucionados, não se discute novos problemas, para evitar que um problema se acumule sobre outro e não se resolva nenhum. As atividades num Koban são intensas e existe uma rotina estabelecida, que varia de dia para dia e de acordo com a situação. Adaptado de: A Polícia Comunitária no Japão: Uma Visão Brasileira Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/codetica/codetica_diversos/pc_japao.htm >. Acesso em 02 out 2019. - atendimento às pessoas; - recebimento e transmissão de mensagens; - preenchimento de relatórios de serviço; - faxina e manutenção do material; - patrulhamento a pé, de bicicleta ou motocicleta nas áreas abrangidas pelo Koban; - visitas às residências, casas comerciais e escritórios de serviço; - visitas a pessoas idosas, escolas, etc. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 8 4. INTRODUÇÃO 4.1.PLANO NACIONAL DE POLÍCIA COMUNITÁRIA (PNPC) 4.1.1.CONCEITO Constitui-se o Plano Nacional de Polícia Comunitária como instrumento institucional coordenado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública para implementar políticas públicas de segurança no Brasil, com foco na estratégia de Polícia Comunitária, bem como articular as esferas de poder para uma ação sinergética, cooperativa, corresponsável, e eficaz em prol da sociedade brasileira. 4.1.2. COMPOSIÇÃO 4.1.2.1. Órgão Central do Plano Nacional de Polícia Comunitária A Diretoria de Políticas de Segurança Pública da SENASP é responsável pela interlocução junto aos órgãos regionais para a efetivação da Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social no tocante à Polícia Comunitária. 4.1.2.2. Órgãos Regionais do Plano Nacional de Polícia Comunitária As Coordenações Estaduais de Polícia Comunitária representam suas unidades federativas no tocante ao planejamento e implementação de programas e projetos de Polícia Comunitária, podendo utilizar o canal técnico junto à SENASP para a efetivação de iniciativas comuns. Recomenda-se que o policial indicado possua capacitação e experiência profissional no contexto da aplicação da filosofia de polícia comunitária. 4.1.3. ATRIBUIÇÕES DO PLANO Visando dotar o Sistema Nacional de Polícia Comunitária de competências específicas para disseminar a filosofia de Polícia Comunitária no Brasil, encontram-se abaixo algumas de suas atribuições: - acatar as diretivas previstas na Matriz Curricular da Secretaria Nacional de Segurança Pública no tocante à disciplina de Polícia Comunitária, com vistas ao alinhamento nacional em doutrinas que estejam convergentes com as práticas de direitos humanos, polícia comunitária e ética policial; - desenvolver programas, projetos e ações que estejam alinhados à filosofia de polícia comunitária; - dotar, atualizar e disponibilizar informações às Instituições integrantes do SNPC de programas, projetos e ações que estejam em desenvolvimento no âmbito nacional e internacional com foco na temática de polícia comunitária, utilizando-se para isso de plataforma adequada a este fim; - fomentar a capacitação de todos os profissionais de segurança pública na filosofia e práticas de polícia comunitária, nos planos de formação, habilitação e aperfeiçoamento; - incentivar a troca de experiências na área entre todos órgãos integrantes do Sistema Único de Segurança Pública. - incentivar às Instituições integrantes do SNPC a implementar e aprimorar as atividades correlatas a temática de Polícia Comunitária e - zelar pela continuidade de processos que propiciem medidas efetivas e permanentes que gerem sensação de segurança e qualidade de vida à sociedade atendida; 4.1.4. DIRETIVAS BASILARES Constituem o norte fundamental que fornece parâmetros que devem permear as instituições de segurança pública que integram o sistema: Diretiva 1: Visão sistêmica da Polícia Comunitária Entendida como filosofia e estratégia organizacional que deve permear toda a instituição policial e não apenas constituir um programa de policiamento ou fração de efetivo. Diretiva 2: Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento Conteúdo obrigatório nas malhas programáticas dos cursos de formação e aperfeiçoamento, com aulas a serem ministradas por multiplicadores formados nas capacitações estaduais, nacionais ou internacionais. Diretiva 3: Preferência pelo emprego de todos policiais recém-formados na atividade de Policiamento Comunitário Fixação de seu emprego por período que propicie o estabelecimento de laços de confiança com a comunidade local. Diretiva 4: Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento comunitário e não como fim Utilização de ações policiais sociais como meio de aproximação comunitária, de forma a contribuir com o policiamento comunitário e não como fim, e por prazo certo, dentro da dinâmica operacional de cada instituição, tendo em vista que estas oneram efetivo profissional imprescindível para a atividade policial e devem ter sua continuidade preferencialmente empreendida por voluntários oriundos da comunidade, prática que deve ser incentivada e valorizada na sociedade. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 9 Entende-se ação policial social aquela empreendida em prol da comunidade local, mas que não demande para sua implementação deprofissional com formação e experiência na área de segurança pública, como, por exemplo, o ministério de aulas de música ou esportes. Não estão inclusas nesta classificação as ações de policiais em escolas quanto à conscientização da prevenção do uso de drogas (PROERD) e outras similares, as quais requerem expertise em segurança pública por parte do agente, a fim de que seja propiciado ao público alvo um completo panorama do problema sob perspectiva institucional. Destaca-se que neste programa os policiais atuam realizando, concomitantemente, policiamento comunitário escolar, aplicação de lições em salas de aula e constante interação junto às comunidades locais atendidas, sendo, portanto, considerado atividade de policiamento comunitário. Diretiva 5: Estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança Importância da estruturação e normatização dos Conselhos Comunitários de Segurança, ou organismo congênere, para a integral implementação do Sistema, por meio de fórum de comunicação presencial entre os gestores de segurança pública, municipalidade e a comunidade, de forma que seus anseios sejam ouvidos e levados em consideração quando do planejamento e ação operacional das instituições, bem como seja incentivada a consciência de corresponsabilidade na construção de uma sociedade segura, meta a ser alcançada pela ação sinérgica de todos os atores envolvidos. Os Conselhos Comunitários de Segurança Pública são espaços adequados para debates e discussões necessárias visando o bem-estar da coletividade, devendo seus integrantes manterem a imparcialidade e isenção político-partidária em suas colocações e medidas adotadas. Diretiva 6: Colaboração federativa Implementação de mecanismos de inter-relação e colaboração federativa para multiplicação de boas práticas e aperfeiçoamento do Sistema, por intermédio de mecanismos como as visitas técnicas e os seminários. Diretiva 7: Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária Disseminação e uniformização da filosofia de polícia comunitária entre todos atores do Sistema de Segurança Pública brasileiro, preferencialmente a partir de profissionais multiplicadores capacitados. Devem as unidades da federação primar por manter uma identidade mínima de policiamento comunitário que mantenha, como princípio básico de atuação norteadora de toda estrutura, a fixação do efetivo na área de atuação, a realização de visitas comunitárias e solidárias, a realização de reuniões comunitárias, a mobilização comunitária e, sobretudo, que se dê autonomia de ação ao policial comunitário dentro de sua esfera de atribuições. Cabe destacar que a presente diretiva deve ser entendida como uma meta a ser alcançada por meio de esforços institucionais de todos atores envolvidos na área de segurança pública, não constituindo obrigação exclusiva de uma instituição. Diretiva 8: Mobilização e ação sinérgica com os atores responsáveis pela implementação de Políticas Sociais Participação de Organizações Sociais, Instituições Públicas e/ou Privadas de todas as esferas para criar e fortalecer, de forma transversal, o sistema com foco no cidadão. Diretiva 9: Mensuração das ações de Polícia Comunitária Sistematizar modelos de mensuração das ações de Polícia Comunitária, proporcionando a valorização de ações preventivas e melhorando a motivação do profissional de segurança pública, com reconhecimento e/ou premiação periódica. Diretiva 10: Comunicação ágil entre as esferas federal, estadual e municipal, Comunicação ágil das esferas de poder, propiciando o fluxo de informações pelo canal técnico, devendo ser mantido atualizado o nome do Coordenador Estadual de Polícia Comunitária junto à SENASP. Diretiva 11: Eficácia da polícia é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de desordem Eficácia da polícia é medida pela percepção de segurança e ausência de crime e de desordem e não, tão somente, por meio de quantificações de prisões, apreensões de produtos ilícitos, operações, dentre outras. Diretiva 12: Retroalimentação da gestão operacional Avaliações periódicas alicerçadas não só em dados estatísticos criminais, mas também com as contribuições advindas da interação com a comunidade. Diretiva 13: Cidadão cliente O cidadão é o “cliente” por excelência das instituições de segurança pública, que devem manter seu esforço e foco em prol da sociedade, materializando o conceito de que a Segurança Pública é um bem imaterial. Diretiva 14: Prestação de contas O policial presta contas de seu trabalho aos respectivos superiores hierárquicos e a instituição policial à comunidade por meio de reuniões comunitárias. Diretiva 15: Manutenção permanente de desafios Visão interacionista deve ser enfatizada como mudança de foco dos conflitos, encorajando-os com vistas a estabelecer grupos harmoniosos, pacíficos e cooperativos, controlando comportamentos estáticos e apáticos. Nesse sentido, os líderes de grupos (funções de chefias em geral) deverão manter um nível mínimo constante de conflitos – o suficiente para manter o grupo viável. O conflito, aqui, refere-se aos desafios que provocam mudanças institucionais e asseguram a viabilidade, autocrítica e criatividade dos grupos. Diretiva 16: Respeito mútuo CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 10 O relacionamento institucional junto às comunidades deverá pautar-se por meio de características fundamentais que permeiam o processo de comunicação e mútuo respeito devidos, por meio da empatia, alteridade, bom senso, cooperação, probidade, dentre outros aspectos que agreguem valores positivos necessários às Instituições policiais envolvidas. Diretiva 17: Responsabilidade territorial O policiamento comunitário, no âmbito das Instituições Policiais envolvidas, será implementado aproveitando-se quaisquer processos de policiamento desenvolvidos in loco de forma a garantir a fixação do efetivo e a responsabilidade territorial, adaptável a cada realidade local no âmbito das Unidades da Federação. As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da comunidade, por meio de estudos locais que venham atender adequadamente os cidadãos, dentro de planejamento prévio e exequível. Diretiva 18: Engajamento dos mais altos níveis As altas direções deverão primar pela continuidade dos serviços prestados com foco voltado à aproximação institucional com a sociedade, por meio de tecnologias administrativas e operacionais sustentáveis. Bem como incentivar seus subordinados ao desenvolvimento contínuo de práticas de polícia comunitária. Fonte: PORTARIA Nº 43, DE 12 DE ABRIL DE 2019. Institui as Diretrizes Nacionais e o Manual de Polícia Comunitária. Disponível em: <http://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/ content/id/72119545>. Acesso em 30 set 2019. ANEXO I MANUAL DE POLÍCIA COMUNITÁRIA (Hiperlink) 4.1.5. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Por derradeiro, para efetivação do processo de implantação, importante que se implante um mecanismo de Diagnóstico de Polícia Comunitária, necessário para que os entes federativos estabeleçam critérios para examinar o desenvolvimento da Diretriz em seus Estados. Nessa esteira, recomenda-se a aplicação dos “Sete Processos de Polícia Comunitária” (BORGES, Luciano Quemello, Diagnóstico de Polícia Comunitária, no prelo), pelos quais as instituições são capazes de evidenciar seus pontos fortes e não-conformidades de aplicação, sendo: (1) Conhecer: para sedimentar Polícia Comunitária é preciso, antes de tudo, entender seu conceito, contemporaneamente, como sendo a cultura da união entre comunidade e polícia, objetivando o desenvolvimento de ações eficazes para a reduçãode fatores ofensivos à segurança pública; (2) Analisar: é fundamental que os policiais saibam como foi acolhida a cultura de Polícia Comunitária em outras polícias, para que os detalhes sejam ponderados. Todas as polícias têm seus desafios, logo, nenhuma instituição tem know-how incontestável para ser padrão absoluto, mas uma polícia um pouco mais experiente e exitosa, como a do Japão, pode e deve compartilhar com outras as suas boas práticas e os erros que forem cometidos, para que o nível de gerenciamento policial local, que tem dirigentes capacitados, analise e julgue se as ferramentas sugeridas são aplicáveis ou não as suas circunstâncias populacionais e institucionais. Essa análise também deve ser feita dentro da própria instituição, já que, muitas vezes, parte da força policial não analisa o que a outra parte da própria instituição executa; (3) Aceitar: as instituições policiais devem aceitar a filosofia de Polícia Comunitária com ações práticas e mudança de cultura, afastando retóricas inócuas; (4) Implantar: não é possível implantar Polícia Comunitária sem uma base legal e sem doutrina. A normatização é basilar, além dos estímulos à produção literária do tema; (5) Conscientizar: essa fase vai desde a capacitação das lideranças até os mecanismos de avaliação de desempenho e sistema de premiação dos policiais; (6) Difundir: a comunicação midiática e interna das boas práticas deve ser contínua, eficiente e capilar nas organizações; e (7) Monitorar: significa acompanhar, observar o decurso, avaliar dados e verificar constantemente qualidade do serviço prestado, para poder aperfeiçoar e sedimentar Polícia Comunitária. Nesse sentido, a definição de indicadores nesse processo é a base que possibilita verificar eficiência, eficácia e efetividade da estratégia, sendo que os indicadores de esforço nos orientam na compreensão dos processos implementados, como por exemplo o número de ações, projetos e beneficiários atendidos e os indicadores de resultados, efetivo mecanismo de avaliação, os quais dizem respeito a concretização de metas estabelecidas, como a redução de indicadores criminais, os índices de sensação de segurança, a satisfação com os serviços prestados e a própria imagem institucional. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 11 5. PROJETO VIZINHANÇA SOLIDÁRIA: BATALHÃO PARTICIPATIVO 5.1. Introdução Esse projeto une a vizinhança com o intuito de fazer a diferença e já está presente em vários bairros da Zona Sul de Natal: O Projeto Vizinhança Solidária:Batalhão Participativo. Uma iniciativa simples, mas eficaz. Placas são fixadas nos postes das ruas que fazem parte da área de vigilância do Vizinhança Solidária e do Batalhão Participativo! Qualquer suspeita pode ser acionada pela vizinhança graças a um sistema de comunicação simples. É a maior participação da sociedade no combate à insegurança que possibilita uma melhor atuação da policia na proteção ao bem comum. O programa acumula uma significativa melhora no combate aos crimes contra o patrimônio com média de 58% de redução e o resgate da sensação de segurança. 5.2. Mobilização Social A doença que mais incomoda a sociedade nos dias de hoje chama-se, com toda a certeza, criminalidade e quando o assunto é Segurança Pública, todos os olhares se voltam para as polícias como se elas fossem as únicas culpadas pela insegurança que aflora pelo país. É preciso saber que quando as polícias, o Ministério Público, o Judiciário e o sistema carcerário precisam agir, é porque os mecanismos informais de controle da sociedade falharam. É bem verdade que não existe sociedade sem crime, mas é preciso controlá-lo em patamares aceitáveis de convivência. Verificamos que aquela que é mais visível, devido a seu caráter ostensivo, no sistema da Segurança Pública, acaba sendo a mais atacada, mesmo com seus componentes sendo as maiores vítimas no combate à criminalidade. Antes a população não conhecia e a única acusada como culpada pela insegurança era a polícia (principalmente a Militar). Pessoas importantes e até muitos representantes de outros órgãos corresponsáveis ficavam, covardemente, no anonimato, apontando as acusações para as polícias. Com a participação da comunidade e do envolvimento de todos os seguimentos, as polícias deixaram de ser acusadas e sim respeitadas e apoiadas, sendo os problemas resolvidos ou encaminhados pelos verdadeiros responsáveis, pois quando a comunidade conhece, ela confia respeita e auxilia a corrigir as falhas. Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade venha atingir os seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos: a comunidade geográfica e a comunidade de interesse. Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma população. Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário porque o crime, a desordem e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica. Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os residentes trabalhem em parceria com o policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade. (TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994) Foto 1- Reunião do comando do 5º BPM com as lideranças comunitárias (Janildo da Silva Arante). Nesta ótica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa aproximação. A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça, passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultados decididos e desejados por todos. Mobilizar é convocar vontades para atuar na busca de um propósito comum, sob uma interpretação e um sentido também compartilhados. Participar ou não de um processo de mobilização social é um ato de escolha. Por isso se diz convocar, porque a participação é um ato de liberdade. As pessoas são chamadas, mas participar ou CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 12 não é uma decisão de cada um. Essa decisão depende essencialmente das pessoas se verem ou não como responsáveis e como capazes de provocar e construir mudanças. Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade venha atingir os seus objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos: a comunidade geográfica e a comunidade de interesse. Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma população. Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário porque o crime, a desordem e o medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica. Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os residentes trabalhem em parceria com o policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade. (TROJANOWICZ e BOUCQUEROUX, 1994) Fonte:http://www.aracati.org.br/portal/pdfs/13_Biblioteca/Publicacoes mobilizacao_social.pdf Foto 2 - Reunião do comando do 5º BPM com as lideranças comunitárias(Fonte: https://5bpmzonasuldenatal.blogspot.com/p/programa-vizinhanca-solidaria-batalhao.html – Sargento Janildo). Organização comunitária Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidadee os diversos segmentos favoreça uma melhor integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da cidadania aos cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das relações, amplia a percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de conflito que exigem ações de caráter repressivo das instituições policiais. Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas experiências de organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social. Fonte:(SENASP,2007,P.255) Envolvimento dos cidadãos Qualquer tentativa de trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir necessariamente a comunidade. Embora a primeira vista possa parecer simples, a participação da comunidade é um fator importante na democratização das questões de segurança pública e da implementação de programas comunitários que proporcionam a melhoria de qualidade de vida e a definição de responsabilidades. São poucas as comunidades que mostraram serem capazes de integrar os recursos sociais com os recursos do governo. Existem tantos problemas sociais, políticos, e econômicos envolvidos na mobilização comunitária que muitas comunidades se conformam com soluções parciais, isoladas ou momentâneas (de caráter paliativo), evitando mexer com aspectos mais amplos e promover um esforço mais unificado com resultados mais duradouros e melhores. A participação do cidadão, muitas vezes, tem-se limitado às responsabilidades de ser informado das questões públicas (ações da polícia), votar pelos representantes em conselhos ou entidades representativas, seguir as normas institucionais ou legais sem dar sugestões de melhoria do serviço. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 13 Outro problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois uma comunidade rica tem comportamento e anseios diferentes de uma comunidade pobre e comunidades de grandes centros urbanos são diferentes de comunidades de pequenas cidades do interior, independente de serem ricas ou pobres agrícolas ou industriais. O que importa é descobrir seus anseios, seu desejo de participação no processo, sua motivação para se integrar com a polícia. Fonte:(SENASP, 2007, P.253 e 255) ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidade e os diversos segmentos favoreça uma melhor integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da cidadania aos cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das relações, amplia a percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de conflito que exigem ações de caráter repressivo das instituições policiais. Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas experiências de organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social. Fonte: (SENASP, 2007, P. 255) A AUTONOMIA DAS ORGANIZAÇÕES EM RELAÇÃO À POLÍCIA Um aspecto essencial a ser considerado na avaliação das experiências de organização comunitária é o nível de autonomia dos grupos em relação aos interesses político-partidários, de Governo (federal, estadual ou municipal) ou da polícia. Em regra, os grupos comunitários, assumem uma postura passiva e acrítica em relação às ações de governo e da polícia, respaldando apenas as suas práticas, mesmo quando claramente impróprias ou ilegais. É preciso respaldar as boas ações da polícia, de interesse coletivo, de respeito aos direitos humanos, dentro da legalidade e dos valores morais e éticos. Mas deve-se criticar e vilipendiar ações violentas, ilegítimas, que desrespeitam a dignidade humana e que fogem ao interesse coletivo, responsabilizando o mau profissional e não a instituição como um todo. Os representantes comunitários frequentemente temem a polícia e se ressentem da forma como esta exerce sua autoridade. As ações comunitárias focam mais para o controle da polícia do que para o controle do crime, pois o medo é predominante. Acredita-se que a polícia não sabe os problemas do bairro, pois só existe para “caçar bandidos”. Uma organização comunitária que depende do apoio policial para garantir a mobilização de seus membros e viabilizar as suas ações acaba convertendo-se em uma mera extensão civil da instituição policial, e não um instrumento efetivo de participação comunitária. Organizações que não dependem da polícia para a sua existência podem trazer significativos desafios para a polícia. No pensamento institucional pode significar entraves administrativos, restringindo a sua discricionariedade; no pensamento social amplia o controle da polícia; na filosofia de polícia comunitária amplia e aprimora as ações conjuntas, tanto da polícia como da sociedade. Fonte: (SENASP, 2007, P. 219 e 220) FATORES INTERVENIENTES Na aproximação da polícia com a comunidade, verificam-se perigos que necessitam ser debelados, conforme abaixo: · A instrumentalização de pequenas tarefas pode causar apatia da comunidade, favorecendo os marginais da área e grupos de interesse que desejam o insucesso de ações coletivas no bairro; · A polícia determina tarefas para dissuadir ações participativas sem nenhum resultado prático; · A polícia não consegue mais atuar na área sem críticas da comunidade. · As campanhas têm um forte conteúdo político em detrimento da prevenção porque é apoiado por um político ou comerciante; · Como o apoio governamental é pouco, apenas pequenas ações fazem surgir lideranças com perfil político e eleitoral, deturpando o processo; · Membros das comunidades expostos a marginalidade, colocando em risco suas vidas porque são interlocutores dos problemas locais; · O planejamento equivocado e sem orientação culminando no surgimento de alternativas econômicas: segurança privada, sistema de comunicações entre cidadãos de posse (paralelo a polícia); O certo é procurar os caminhos que abaixo se apresentam: CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 14 · As ações de autoajuda são acompanhadas por policiais. As iniciativas locais são apoiadas. Trabalhos preventivos, não apenas campanhas devem ser estimuladas. · Demonstrar a participação da comunidade nas questões, determinando o que é da polícia e o que é da sociedade; · Promover uma ampla participação da comunidade, discutindo e sugerindo soluções dos problemas; · Proteger os reais parceiros da polícia, não os utilizando para ações de risco de vida (não expondo) com ações que são da polícia ou demonstrando eventualmente que eles são informantes; Fonte: (SENASP, 2007, P. 224 e 225) 5.3. Mediação Comunitária 5.3.1. As conflitualidades e a emergência do social e comunitário Os mesmos modelos convencionais que não conseguem mais lidar de forma eficaz com a escalada da violência e do crime, adicionados às conflitualidades, estão impulsionando transformações mais amplas na vida social contemporânea, principalmente nas diferentes formas de os indivíduos se organizarem, governarem a si mesmos e os outros para dar conta da complexidade e da fragmentação da realidade social. Daí, a necessidade emergente de compreensão das novas modalidades de ações coletivas, com lutas sociais e diferentes pautas de reivindicações. Estamos em presença de um social heterogêneo, no qual nem indivíduos nem grupos parecem reconhecer valorescoletivos. Esse contexto dá origem a múltiplos arranjos societários, a múltiplas lógicas de condutas. Predominando tal situação é válido falar em sociedade fragmentada, plural, diferenciada, heterogênea. (GROSSI PORTO apud TAVARES DOS SANTOS, 1999). É importante ressaltar que a necessidade de mudança dos modelos não é tão nova assim. A própria Constituição Federal de 1988 já trazia em seu artigo 144 o princípio de um modelo de segurança com foco no cidadão, chamando a atenção para a “responsabilidade de todos”. Importante! – A coesão social é representada pelo grau de conexão existente entre os membros da comunidade e a capacidade de promover desenvolvimento local, ou seja, pelo seu capital social. O capital social(fazer um hint para: o valor que os indivíduos adquirem por participar de uma rede social) é verificado de acordo com o grau de coesão social existente na comunidade e pode ser observado a partir das relações entre as pessoas ao se organizarem e estabelecerem redes que facilitem a coordenação e a cooperação para promoção de benefícios mútuos. (BRASIL, 2006) Segundo Chaskin (s.d apud BRASIL, 2006), a coesão social de uma comunidade pode ser aferida a partir da análise de quatro elementos: 1. Senso de comunidade ou grau de conectividade e reconhecimento recíproco; 2. Comprometimento e responsabilidade de seus membros pelos assuntos comunitários; 3. Mecanismos próprios de resolução de conflitos; 4. Acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locais ou não. Se há coesão social, há identidade compartilhada. A criação dessa identidade depende da mobilização social e do envolvimento com os problemas e soluções locais. (BRASIL, 2006). Esses pontos são essenciais para a compreensão e instauração da mediação comunitária. 5.3.2. Mediação comunitária: estudando algumas definições Definições Definição 1. A mediação comunitária atua visando à mudança dos padrões do comportamento dos atores comunitários através do fortalecimento dos canais de comunicação, com vistas à administração pacífica dos conflitos interpessoais entre os integrantes da comunidade (REDE EAD, curso de Polícia Comunitária, módulo 5, aula 4). Definição 2. A mediação comunitária representa o exercício real da cidadania mediante a busca da paz social. Como forma preventiva de conflitos, promove ambientes propícios à colaboração entre as partes, com o intuito de possibilitar que as relações continuadas perdurem de forma positiva, criando vínculos.(DANIEL, A. et al.http://www.ua.pt/incubadora/). Definição 3. A mediação comunitária é uma forma de pensar a resolução de problemas dentro da própria comunidade, utilizando a sabedoria e a força dos(as) moradores(as), através de suas lideranças. É acreditar na busca de uma cultura de paz em que as comunidades tidas como violentas mudem as suas realidades. (SEJDH). Definição 4. A mediação comunitária é uma importante ferramenta para a promoção do empoderamento e da emancipação social. Por meio dessa técnica, as partes direta e indiretamente envolvidas no conflito têm a oportunidade de refletir sobre o contexto de seus problemas, de compreender as diferentes perspectivas e, CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 15 ainda, de construir em comunhão uma solução que possa garantir, para o futuro, a pacificação social. (BRASIL, 2006). CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 16 5.3.3. Características da Mediação Comunitária 5.3.3.1. Mediação como ferramenta Ferramentas são objetos que auxiliam a transformar, construir ou a consertar algo. Observe que as definições ressaltam que o processo de mediação comunitária possibilita a construção de algo novo, orientado para a resolução de problemas e buscando a pacificação social. 5.3.3.2. Ambiente propício à colaboração O processo de mediação facilita o estabelecimento de cooperação para construir de forma conjunta a solução do conflito. Os protagonistas do conflito, quando interagem em um ambiente favorável, podem tecer uma solução mais sensata, justa e fundamentada em bases satisfatórias, tanto em termos valorativos quanto materiais.(BRASIL, 2006). 5.3.4. Locus Privilegiado Os atores são da comunidade, a mediação ocorre na comunidade e é realizada por membros da comunidade. A comunidade é o locus privilegiado e também o ponto central da caracterização da mediação comunitária. Figura 1. Disponível em:<http://aluznamente.com.br/as-novas- midias-como-locus-privilegiado-para-divulgacao-espirita/ > Acesso em 01 out 2019. LOCUS: A COMUNIDADE A complexidade e a fragmentação da realidade social são traços da contemporaneidade impressos nas esferas mundial e local. Em toda sociedade, porém, há agrupamentos humanos unidos por diversas identidades, dentre elas a territorial, que confere à comunidade o status de locus privilegiado para o desenvolvimento de programas de transformação social. Essa identidade territorial, segundo Kisil, é vivenciada .onde os indivíduos ou grupos sociais mais facilmente reconhecem como pertencentes a uma mesma comunidade (...). A fonte mais imediata de autorreconhecimento e organização autônoma é o território. As pessoas identificam-se com os locais onde nascem, crescem, vão à escola, têm seus laços familiares, enfim se socializam e interagem em seu ambiente local, formando redes sociais com seus parentes, amigos, vizinhos, organizações da sociedade civil e autoridades do governo..7 No mesmo sentido, o Programa Justiça Comunitária adota a comunidade como esfera privilegiada de atuação, porque concebe a democracia como um processo que, quando exercido em nível comunitário, por agentes e canais locais, promove inclusão social e cidadania ativa, a partir do conhecimento local. É na instância da comunidade que os indivíduos edificam suas relações sociais e podem participar de forma mais ativa das decisões políticas. É nesse cenário que se estimula a capacidade de autodeterminação do cidadão e de apropriação do protagonismo de sua própria história. O conceito de comunidade Em meio à vasta literatura sociológica dedicada a conceituar comunidade, a definição talhada por Lycia e Rogério Neumann revela-se bastante útil para este trabalho, considerando a sua objetividade: .Comunidade significa um grupo de pessoas que compartilham de uma característica comum, uma .comum unidade., que as aproxima e pela qual são identificadas.8 Conforme os próprios autores alertam, em geral, a unidade comum é a região onde as pessoas vivem, mas nada impede que uma comunidade seja constituída a partir de interesses e/ou causas partilhados. De qualquer sorte, no núcleo do conceito está localizada a ideia de identidade compartilhada. Neste trabalho, a denominação comunidade será atribuída aos agrupamentos humanos que vivem na mesma localização geográfica e que, nessa condição, tendem a partilhar dos mesmos serviços (ou da ausência deles), problemas, códigos de conduta, linguagem e valores. A partilha territorial, entretanto, não leva necessariamente à construção de uma comunidade coesa socialmente. Essa característica vai depender do grau de conexão entre seus membros e de sua capacidade de promover desenvolvimento local, ou seja, de seu capital social. O capital social se verifica de acordo com o .grau de coesão social que existe nas comunidades e que é demonstrado nas relações entre as pessoas ao estabelecerem redes, normas e confiança social, facilitando a coordenação e a cooperação para o benefíciomútuo.9 7KISIL, Marcos. Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado. São Paulo: Global; Instituto para o DesenvolvimentoSocial (IDIS), 2005. p. 38. 8NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns. Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004. p. 20-21. (Coleção Investimento Social). CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 17 Segundo Robert C. Chaskin10 , a aferição da coesão social de uma comunidade se dá a partir da análise de quatro elementos, a saber: 1) senso de comunidade ou grau de conectividade e reconhecimento recíproco; 2) comprometimento e responsabilidade de seus membros pelos assuntos comunitários; 3) mecanismos próprios de resolução de conflitos; 4) acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locais ou não. Onde há coesão social, há identidade compartilhada, cuja criação depende da mobilização social e do envolvimento com os problemas e soluções locais. Há, portanto, segundo Putman11 , um ciclo virtuoso entre capital social e desenvolvimento local sustentável. Nesse sentido, desenvolver comunidade é um processo que agrega valores éticos à democracia e constrói laços de solidariede.12 Para o Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, a identificação das organizações sociais é fundamental para servir de referência para: a) o processo de seleção de novos agentes comunitários; b) o encaminhamento dos participantes para a rede social, quando a solução do conflito assim o demandar; c) o conhecimento das circunstâncias que envolvem os problemas comunitários; e, d) a constituição de novas redes sociais ou o fortalecimento e a animação das já existentes, quando a demanda ostentar potencial para tanto. No decorrer da execução do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, as dificuldades enfrentadas na confecção desse mapeamento foram inúmeras, desde a carência de recursos humanos . em especial na fase inicial . até a dificuldade de se traçar uma estratégia de animação de redes sociais, quando toda a prioridade do Programa estava voltada para a capacitação dos agentes comunitários nas técnicas de mediação.13 Apesar das dificuldades, o Programa conseguiu reunir, com a colaboração de alguns agentes comunitários, informações relevantes para a confecção do mapa, sem contudo estabelecer uma conexão entre elas. Na ausência de um planejamento prévio aliado a uma clara estratégia metodológica de conexão entre essas informações, os dados coletados não se comunicaram. Com o propósito de suprir essa lacuna, o Programa está desenvolvendo um passo a passo 14 como estratégia para a confecção permanente do mapeamento social das duas cidades-satélites, o qual contém as seguintes fases: a) definir a área geográfica a ser mapeada com limites claros; b) definir as fontes de informação e a metodologia adequada (documentos de órgãos oficiais, visitas às instituições, entrevistas pessoais ou por telefone, entre outras); c) recrutar os agentes comunitários para a coleta dos dados e estimular que o façam com o auxílio de alguns moradores;15 d) criar um formulário para a identificação e o cadastramento;16 e) organizar um banco de dados apto a promover o cruzamento dessas informações. A fim de adotar uma metodologia coerente com a estrutura do Programa, a equipe interdisciplinar reduziu a área . e as suas expectativas . objeto do mapeamento, transformando essa tarefa de difícil execução em algo viável, envolvente e eficiente. A partir dessa redução e da consciência de que a cartografia social é uma atividade em permanente construção, adequaram-se as etapas desse processo à capacidade estrutural, para não gerar novas frustrações. 9 AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, Social capital and social wellbeing, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 47. 10CHASKIN, Robert J. Defining community capacity: a framework and implications from a comprehensive community initiative, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 24. 11PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2005. p. 186. 12 kISIL, Marcos, Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado, cit., p. 51. 13Hoje, a avaliação é a de que o fato de o Programa ostentar três pilares não significa necessariamente que eles devam ser construídos um a um. Havendo uma estrutura mínima, o ideal é que os três sustentáculos de um programa de justiça comunitária sejam desenvolvidos em conjunto, uma vez que há íntima relação entre eles. A título de exemplo, é a partir de uma programação eficiente das atividades voltadas à animação de redes sociais que se podem atrair demandas para a mediação efetivamente comunitária, com largo impacto social. 14A formulação desse passo-a-passo foi uma adaptação da experiência desenvolvida pela equipe psicossocial do Programa Justiça Comunitária da sistematização sugerida por Lycia Tramujas Vasconcellos Neumann e Rogério Arns Neumann (Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais . ABCD. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004). 15O Programa Justiça Comunitária conta com alguns .amigos do Programa.. Em geral, são ex-agentes comunitários que, por alguma razão, desligaram-se do Programa sem, contudo, deixarem de contribuir para a realização de atividades pontuais. 16bidem, p. 24. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 18 A definição territorial da área mapeada e de suas limitações obedeceu ao critério de local de moradia de cada agente comunitário, o que possibilitou, inclusive, maior inserção dos agentes em sua comunidade. Optou-se por localizar deficiências e necessidades, mas, também, talentos, habilidades e recursos disponíveis. Essa estratégia possibilita que o mapeamento sirva de espelho para a comunidade que, ao se olhar, tenha consciência de seus problemas, mas também conheça as suas potencialidades, o que é essencial para a construção de uma identidade comunitária. Esse método também torna possível investigar em que medida as soluções para os roblemas comunitários já existem ali mesmo, exatamente naquela comunidade que, por razões histórico- estruturais de exclusão social, não enxerga nenhuma solução para os seus problemas, senão por meio do patrocínio de uma instituição externa àquele habitat. Essa conexão entre problemas e soluções promove um senso de responsabilidade pela comunidade como um todo, o que cria uma espiral positiva de transformação social.17 Para que essa conexão efetivamente aconteça, é indispensável que o processo de mapeamento não tenha por objetivo tão-somente a confecção de um banco de dados, repleto de informações úteis, porém sem ligação entre si. A construção permanente do banco de dados é, sobretudo, um meio de fortalecer relações e criar parcerias. Segundo Lycia e Rogério Neumann, .ao identificar os recursos locais, os moradores passam a conhecer o potencial de sua comunidade e começam a estabelecer novas conexões, ou fortalecer as já existentes, entre os indivíduos, seus grupos e as instituições locais, assim como entre esses atores, e as causas que são importantes para o desenvolvimento daquela comunidade.18 Nesse sentido, apresenta-se a seguir as informações a serem coletadas para o mapeamento social do Programa Justiça Comunitária. Esse processo, sob essa nova formatação, teve início em 25 de agosto de 2006.19 RECURSOS DISPONÍVEIS20 Associação de Moradores Estas organizações são fundamentais por suacapilaridade e pelo potencial de produzir capital social e protagonismo comunitário, ou seja, por sua capacidade de mobilização em torno de interesses e valores comuns. É um contraponto à cultura de dependência de apoio institucional externo. É interessante que a identificação das associações inclua a informação sobre seu funcionamento (local, periodicidade de reuniões, dentre outros) bem assim as suas realizações. Instituições em geral Entidades públicas = escolas, hospitais, postos de saúde, parques, bibliotecas, etc.; Associações e instituições = igrejas, clubes, cooperativas, centros comunitários, etc. O elenco destas instituições deve ser acompanhado de um levantamento quanto ao acervo de recursos que cada uma delas pode oferecer. Por exemplo, é importante registrar se uma escola pública possui . e/ou está disposta a oferecer . salas para reuniões abertas aos finais de semana, computadores, cursos de alfabetização de adultos, quadras de esportes, educadores voluntários, conselhos de pais e mestres, sinergia entre a escola e a comunidade, organização estudantil, etc.21 Habilidades pessoais Em toda comunidade, é possível identificar líderes, voluntários, bordadeiras, cozinheiras, artistas, educadores, mediadores .natos. de conflitos, etc. Essas pessoas, entretanto, muitas vezes estão .soltas. e poderiam potencializar seus talentos se firmassem parcerias ou simplesmente se tivessem maiores oportunidades de expressar as suas habilidades. O mapeamento pode auxiliar no desencadeamento desse processo. DIFICULDADES É indispensável que o formulário de informações coletadas para a confecção do mapa tenha um espaço destinado ao registro dos problemas da comunidade, segundo a perspectiva da própria comunidade. Além disso, é interessante classificar o problema de acordo com a sua natureza: estrutural, social, pessoal22 . Essa classifica ção, quando efetuada pelo próprio agente comunitário, em comunhão com as pessoas entrevistadas, pode provocar uma reflexão importante sobre o contexto nos quais repousam os conflitos . individuais ou coletivos . daquela comunidade. 17NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais . ABCD, cit., p. 26.3. 18 Ibidem, p. 23. 19Nessa data teve início o semestre letivo de 2006 da Escola de Justiça e Cidadania, oportunidade em que se apresentou a nova metodologia de captação das informações relativas à comunidade, a fim de que os agentes comunitários possam contribuir de maneira mais efetiva para a confecção do mapeamento social. 20NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcelos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais . ABCD, cit., p. 53-61. 21 Ibidem, p. 64. 22 Ibidem, p. 24. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 19 Assim, problemas como desemprego, analfabetismo, ausência de saneamento, falta de hospitais e escolas, violência doméstica, crianças de rua, crime organizado, gangues de jovens, alcoolismo, evasão escolar, crimes, abuso infantil, problemas psicológicos, dentre outros, comporão um mosaico útil para impulsionar uma reflexão coletiva acerca de suas circunstâncias. Embora não haja um momento de conclusão do mapeamento social, eis que se trata de um processo permanente na mesma medida da dinâmica social, é fundamental que os resultados parciais sejam objeto de partilha e debate na comunidade. Além disso, é importante que, periodicamente, sempre que possível, haja uma análise dos resultados alcançados a partir da confecção do mapa, tais como parcerias, empreendimentos ou eventos desencadeados a partir desse processo. Comunicação A comunicação entre as partes é algo que deverá ser estimulado durante todo o processo de mediação. Essa comunicação não envolve somente o diálogo, mas as condições criadas para que as partes possam estabelecer ou restabelecê-lo (Exemplos: ambiente propício, vontade das partes e mediador capacitado, entre outros), apresentando as suas visões, refletindo sobre o conflito, expressando seus sentimentos, construindo uma solução solidária e executando o que ficou acordado. Pacificação Social A mediação comunitária estimula a reflexão, amplia as possibilidades de diálogos, incentiva a solidariedade e favorece a cooperação entre partes, contribuindo assim para a mobilização social, a cidadania e a paz social. Importante! – Observe que na ‘definição 4’ aparecem os termos “empoderamento e emancipação social”. Esses dois termos advêm da justiça comunitária, que vê no processo de mediação comunitária algo muito maior do que simplesmente a possibilidade de dar celeridade aos processos, pois, à medida que capacita os membros da comunidade para auxiliar na resolução dos conflitos, estimula a forma de expressão social, amplia o desenvolvimento das capacidades de emancipação, possibilita o fortalecimento individual e grupal e empodera a comunidade para “dar respostas comunitárias aos problemas comunitários”. (LITTLEJONH, 1995 apud BRASIL, 2006, p. 47). 5.3.5. Mediação comunitária e as redes sociais A resolução de conflitos no ambiente e em grupos não é algo socialmente novo. É possível encontrar exemplos em diversas culturas, como por exemplo, nas culturas religiosas. Hoje as redes sociais ajudam a traduzir as estruturações advindas dos grupos. Nesse ponto, você estudará o papel das redes na mediação comunitária. 5.3.5.1. Animação de redes sociais 5.3.5.1.1. As redes sociais As redes sociais são a expressão dos contornos da contemporaneidade. Para Manuel Castells, .redes constituem a nova morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos processos produtivos e de experiência, poder e cultura23. O padrão de organização em rede caracteriza-se pela multiplicidade dos elementos interligados de maneira horizontal. Os elos de uma rede se comunicam voluntariamente, sob um acordo intrínseco que revela os traços de seu modus operandi: .o trabalho cooperativo, o respeito à autonomia de cada um dos elementos, a ação coordenada, o compartilhamento de valores e objetivos, a multiliderança, a democracia e, especialmente, a desconcentração do poder.24 Há um processo simbiótico entre participação política, exercício da autonomia e solidariedade entre os membros de uma comunidade organizada em rede. As redes permitem maximizar as oportunidades para a participação de todos, para o respeito à diferença e para a autoajuda em um contexto de mútua assistência. Participação traz mais oportunidade para o exercício dos direitos políticos e das responsabilidades. Para se ter acesso aos recursos comunitários, o nível de atividade e de compromissos dos grupos sociais aumenta e a auto-estima cresce, após a conquista de mais direitos e recursos. Há uma reciprocidade entre os vários componentes dessa cadeia .ecológica., na medida que implica retroalimentação.25 23CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venancio Mayer com a colaboração de Klauss Brandini Gerhardt. 3. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 497 (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1). 24MARTINHO, Cássio. O projeto das redes: horizontalidade e insubordinação. Aminoácidos, Brasília, Agência de Educa- ção para o Desenvolvimento (AED), n. 2, p. 101, 2002. 25FOLEY, Gláucia Falsarella, Justiça comunitária: por uma justiça da emancipação, cit., p. 123-127. CCCDS-Capim Macio I - Projeto Vizinhança Solidária: Batalhão Participativo – Professor Janildo da Silva Arantes 20 Castells declara que .o principal agente da mudança atual é um padrão de organização e intervenção
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