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Resumo - Imprensa, Cultura e Anarquismo

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Universidade Metodista de São Paulo
 Imprensa, Cultura e Anarquismo:
 Curso de Jornalismo
 	 Arthur Almeida
 Enzo Cardoso
 Gabriel Carvalho
 Lucas Henrique
 Marcus Vinícius
 Vinícius Manja
 2°Semestre – 2019
 Jornalismo: Meios e Linguagens
 São Bernardo do Campo
 2019
Para entender a embrulhada mental sul-americana, Oswald, em seus tempos de anarquista, dizia que os Boêmios eram o contrário de burguês e eram aliados acadêmicos dos parnasianos, além de uma espécie de mensageiros (arautos). Oswald estava nesse grupo e logo viu que o caminho do panfleto e do humor, que já então antecipavam a nota inventiva de sua escrita, não era aquele, e que o texto libertário que buscava teria pouco a dizer sobre os parnasianos, que só escreviam para impressionar a Academia. 
“O mal –reconhecerá depois no prefácio do Serafim Ponte Grande– “foi ter medido o meu avanço sobre o cabresto metrificado de duas remotas alimárias –Bilac e Coelho Neto. O erro, ter corrido na mesma pista inexistente”. E num daqueles desabafos impiedosos e cheios de verve: “O anarquismo da minha formação foi incorporado à estupidez letrada da semicolônia. Frequentei do repulsivo Goulart de Andrade ao glabro João do Rio, do bundudo Martins Fontes a o bestalhão Graça Aranha. Embarquei, sem dificuldades, na ala molhada das letras, onde esfusiava gordamente Emílio de Menezes”
Tal desabafo não foi uma provocação isolada, e sim uma senha em plena trincheira de certa imprensa anarquista onde muitos daqueles boêmios, acadêmicos e poetas viveriam o sonho de converter-se, ainda que por um momento, em militantes comunistas
Oswald de Andrade talvez tenha sido o único anarquista das nossas letras a converter a rebeldia política em expressão literária de vanguarda. Um modo de compreender a distância que desde logo o separa dos boêmios insubmissos daquele tempo é acompanhar a “aventura do sonho efêmero” em que estes últimos se envolveram nas ideias igualitárias do novo século devido uma onda de revolta trazida pela República.
Sabe-se que, para os anarquistas, o esclarecimento do homem comum nunca foi uma questão de doutrinação sistemática. Na verdade, a ação intelectual anarquista diz que os indivíduos devem “formar consciências, despertar energias, coordenar vontades” e desenvolver a solidariedade.
No Brasil, diferentemente do que ocorria por exemplo com a Itália, a expansão dessas ideias exigiu um esforço gigante dos pequenos jornais que a articulavam. O trabalhador pobre no Brasil daquele tempo: desinformado, destituído dos direitos mais elementares e, em geral, excluído do precário sistema educacional.
Três outros aspectos impediam a ação emancipadora da imprensa anarquista na São Paulo provinciana dos primeiros anos do século XX.
O primeiro deles: pequeno grupo de autores e leitores que difundiam as ideias anarquistas, agravado também pela escassa tradição editorial. Além disso, mantidos à custa de assinaturas e de contribuições obtidas por festas e a atos sociais, os jornais e revistas anarquistas refletiam, de um lado, os problemas de identidade do imigrante europeu no continente americano (Novo Mundo). De outro, uma espécie de resposta a esse exílio.
Em São Paulo, por exemplo, é fácil constatar esse processo quando observamos a influência com que o “Risorgimento”, posterior à unificação italiana alimentou o imaginário e a produção intelectual dos grupos filo dramáticos espalhados pelo estado de São Paulo em torno das projeções da “nova Itália”, cujas referências estéticas ligavam os ideais de expressão e leitura do imigrado italiano aos grandes símbolos de sua cultura.
Outro elo identitário para esses imigrantes foi uma imprensa escrita em língua italiana expressando seus interesses, suas dificuldades, seus anseios, além de manter uma imagem positiva do país de origem, mesmo que, muitas vezes, ocultando verdades. Percebe-se que esse papel de mediação exercido pela imprensa acelerou o processo de integração dos imigrantes na sociedade brasileira.
Exemplo: La Colônia (1921), revista de língua italiana publicada em São Paulo na década de 1920, que reforçava os vínculos nacionalistas com a “nova Itália”, exaltando os grandes símbolos de sua civilização. Exemplo de um texto: "Pela primeira vez, desde os tempos da Roma antiga, a Itália está reunida; que seja realmente o que previram nossos pensadores, como cantaram nossos poetas"." A partir de hoje se inicia uma nova história para o nosso país”.
A intenção de incluir o leitor imigrado como um membro integrado, serve de estímulo às elites emergentes que vão assumindo postos na indústria e no comércio de São Paulo, orgulhosos de pertencerem a uma Itália reunificada e poderosa.
No oposto da frente libertária imigrante, estão as revistas mantidas pela colaboração de escritores, críticos e intelectuais. Um exemplo é o grupo de Kultur, revista internacional de estudos filosóficos e questões sociais, que circulou no Rio de Janeiro de 1904 a 1905. Em suas edições a revista trazia artigos voltados para a ciência, literatura, educação, anarquismo, movimentos sociais, entre outros assuntos. 
Kultur estabelece uma espécie de resumo entre os ideais libertários e a insatisfação de um grupo de intelectuais com as incertezas da modernidade (industrialização), os problemas sociais crescendo: carência de moradias, falta de condições sanitárias, alto índice de mortalidade, fome, desemprego e miséria, além dos tempos eufóricos da Belle Époque e a febre democrática da República. Nesse momento também que o movimento operário começa a florescer no Brasil e no Rio de forma mais específica, sendo o anarquismo a tendência política e ideológica que mais se adequava aos desejos do povo nesse primeiro momento.
Diferentemente do que ocorria com a maioria dos jornais e revistas anarquistas geridos por trabalhadores e militantes imigrantes, Kultur era mais um refúgio de escritores e intelectuais do que propriamente um centro de articulação e combate ideológico. O que prevalece é o anarquismo como ensaio e pesquisa. O Jornal Renovação (1921-1922), por exemplo, era composto por militantes mais comprometidos com o cotidiano operários e lutas sociais.
Outros Exemplos: A Plebe que se posicionava como um órgão dedicado à luta dos trabalhadores contra a opressão e a miséria no Brasil. Entre seus principais colaboradores estavam Astrogildo Pereira e José Oiticica. A Plebe publicou notícias sobre vários países, com destaque para os da América Latina e para a Espanha. Manteve uma coluna que tratava da organização e das ações de sindicatos em São Paulo. Também dedicou seções à recomendação de livros de tendência libertária. Trouxe, do mesmo modo, artigos que buscavam conceituar para o leitor o que era anarquismo, bolchevismo e comunismo. Seus editores utilizaram-se largamente de ilustrações, muitas vezes produzidas por trabalhadores, e de poesia para difundir a causa operária e libertária.
Jornal Spártacus: Nome em homenagem ao personagem Spartácus da História Romana, adotava uma linguagem mais acessível aos trabalhadores, além de incluir em suas páginas letras de música, poesias e charges. Criado pelo professor e um dos mais importantes militantes anarquistas da época: José Leite Oiticica. Servia Também para que o professor divulgasse suas ideias a respeito da educação, vista por ele como parte de um processo de aquisição de autonomia pela classe trabalhadora. 
Em um editorial do segundo número de Kultur, a revista diz que o objetivo é “produzir uma corrente de opinião, formar homensconscientes, fortificar o espírito de rebeldia individual, criar um ambiente próprio dos homens livres, estabelecer laços de solidariedade entre todos os anarquistas e inaugurar uma época inteiramente nova na história do movimento revolucionário no Brasil”.
A diferença, no caso, é que, ao contrário do programa diretor proposto pelos críticos, poetas e prosadores de Kultur, o que circulava nos jornais e revistas dirigidos diretamente aos trabalhadores era a ideia de que só era possível a existência de artistas porque antes deles já existia um povo artista como que articulando consciência e sensibilidade, luta e vocação para a liberdade.
A revista Kultur não foi apenas uma revista de filosofia, mas também um instrumento de militância política, que buscou conscientizar os seus leitores da proposta anarquista e de tudo que circundava o movimento libertário com o objetivo de emancipar/libertar o povo do capital.
O anarquismo da revista Kultur vira um programa para diletantes, muito próximo da insubmissão de um certo pessimismo anticlerical e antiburguês que se espalhou no sul do país em torno de revistas como Azorrague, Cenáculo, A Vanguarda e Nova Crótona, inspiradas em grande parte no movimento de rebelião pós-simbolista do Rio de Janeiro, entre os anos de 1890 e 1915.
Em Don Quixote, existem várias passagens que usam uma linguagem mais ágil e próxima do que seria usado pelos modernistas, ao mesmo tempo que amplia os recursos da luta ideológica, alarga as perspectivas de articulação com a literatura e as artes, numa direção oposta à do ranço acadêmico da revista Kultur. E isso sem que se perca o horizonte mais próximo da ação militante. A Aurora (1905), por exemplo, uma revista mensal que circulou em São Paulo, e que foi uma das primeiras a repensar a ação anarquista com as transformações radicais por quais passavam à questão operária, a imigração, o feminismo, o mercado de trabalho e a modernização do parque industrial, chega a estampar um editorial de combate ao lado de um ensaio literário (“Os novos”), em que o crítico Nestor Vítor desdenha dos escritores que então surgiam.
Na mesma linha, a revista quinzenal Na Barricada (1915) dirigida por Orlando Corrêa Lopes, implacável no ataque aos burgueses que dominavam a imprensa brasileira, ao arbítrio do comissário de polícia Aurelino Leal e à falta de “punição dos criminosos de Canudos e do Contestado”, serve-se igualmente da literatura e da crítica para repropor a leitura de Os Sertões e de tudo o que ele significava como forma de repúdio àquele gesto de barbárie: “Para descrever a campanha do Contestado há de aparecer um outro Euclides da Cunha”, cuja obra, acentua o texto, “está aí para perpetuar aquela ignomínia.
Esse “novo literato” exigido pela ação libertária de uma revista como Renascença (1923), por exemplo, já não é mais o intelectual ilustrado ou o “retórico acadêmico transformado em anarquista”, e sim o próprio militante. Um deles, Domingos Ribeiro Filho achava inadmissível que a incessante busca estética dos concursos de beleza humilhasse as outras mulheres e estabelecesse, em nome da beleza e da arte, um estranho mercado de escravas, o concurso de beleza. Outro militante histórico, Everardo Dias, acusará na revista os simbolistas por terem transformado a poesia numa mentira inatingível, já que, o que caracterizava a poesia simbolista eram cenários que tratavam realidades subjetivas, a oposição ao racionalismo e naturalismo, uso da imaginação, fantasias, contra o realismo, linguagem imprecisa e fuga da realidade.
Aqui, se o que marca é no fundo o peso inegável da ideologia, não há como negar que as referências à literatura e as artes mudam de contexto e passam a guardar uma relação mais próxima com os fatos do cotidiano e os problemas do homem das ruas.
É assim que, distanciados do preciosismo acadêmico da Kultur, os libertários das revistas militantes mergulham contra a violência da máquina e do progresso material à disposição dos ricos, igualmente interessados na renovação das artes, dos costumes e da própria fisionomia do capital.
Desde 1921, no entanto, os anarcóides de O Parafuso (1917-1921) vinham recusando a modernidade pela modernidade, que vinculavam às negociatas da classe política, à jogatina nas roletas dos hotéis e dos clubes fechados e ao esbanjamento da elite paulista no comando da economia do Estado.
A revista A Vida (1924-1928) lançará uma chamada sobre o que considerava “a escravidão moderna”, e reproduzirá no artigo “Sacco e Vanzetti, um diálogo de Nicola Sacco com o presidente da Corte que o condenou à morte”.
E um militante como Capllonch, dirigindo-se aos artistas modernos pelas páginas da revista Renovação, lembrará em que “a missão das gerações modernas e futuras não é injetar cafeína nem dar balões de oxigênio a um manequim articulado que agoniza”, num vivo repúdio à arte fútil, aristocrática e mórbida cujo único objetivo, em suas próprias palavras, era “recrear e estimular o ócio do privilegiado”.
Já então a literatura, engolfada nas contradições da sociedade industrial, abandonava a figuração acadêmica dos parnasianos e se afastava da linguagem retórica dos boêmios desgarrados da tradição e sem lugar definido no sistema da nova ordem.

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