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Aplicação do Direito Penal ao psicopata Yana Lopes Bezerra da Cruz Araçatuba - SP 2018 Aplicação do Direito Penal ao psicopata Trabalho de Conclusão do Curso de Direito Orientador: Prof. João Georgeton Barbosa da Silva Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium UniSALESIANO - Araçatuba Araçatuba - SP 2018 Aplicação do Direito Penal ao psicopata Acadêmico: Yana Lopes Bezerra da Cruz Trabalho de Conclusão do Curso de Direito Orientador: Prof. João Georgeton da Silva Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium UniSALESIANO - Araçatuba ______________________________________________ Prof. Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium - UniSALESIANO Data: _______________________________________________ Prof. Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium - UniSALESIANO Data: ______________________________________________ Prof. Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium - UniSALESIANO Data: DEDICATÓRIA Dedico este trabalho primeiramente a Deus, que com sua infinita bondade e sabedoria guia minha trajetória. Aos meus pais, por todo amor e carinho que recebi no decorrer desse curso, meu irmão, família e amigos que me ofereceram todo suporte necessário para que a faculdade se tornasse um sonho possível. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus, o centro e o fundamento de tudo em minha vida, por renovar a cada momento a minha força e disposição e pelo discernimento concedido ao longo dessa jornada. Aos meus amados pais, que sempre me apoiaram em todas as minhas decisões e nunca saíram do meu lado. Por fim, ao caríssimo orientador, Prof. João Georgeton Barbosa da Silva, por toda dedicação e atenção, dignas de um grande amigo e ao Dr. Rodrigo Mendes Delgado que me coorientou em todo esse percurso. A virtude, como o vício, se acha em nosso poder, porque onde estiver em nosso poder o fazer, aí também se acha o poder de não fazer; onde depende de nós o “não”, aí depende de nós o “sim”. Se está em nós a prática do que é honesto, igualmente está o que seja desonesto. De nós depende o ser probo ou perverso. As causas, cujo princípio depende de nós, são voluntárias.(Aristóteles) RESUMO O presente trabalho tem como objeto de estudo o indivíduo diagnosticado com a psicopatia, serão realizadas pesquisas no âmbito psicológico e psiquiátrico a fim de estabelecer o conceito de psicopatia, demonstrando seus principais aspectos e características para que desta maneira possa determinar quem é o psicopata dentro do Direito Penal Brasileiro. Posteriormente será analisada a teoria do crime, para que se possa extrair o conceito de crime, voltado com uma atenção especial para a culpabilidade, imputabilidade e inimputabilidade, para determinar os indivíduos que podem ser responsabilizados pelos atos cometidos. Por fim, a psicopatia será abordada perante o Direito Penal Brasileiro, definindo a responsabilidade ou a falta dela para os indivíduos diagnosticados com a psicopatia e, quando criminosos, qual a medida tomada para a aplicação da pena. Palavras-chave: psicopatia, direito penal, culpabilidade, imputabilidade, inimputabilidade. ABSTRACT This monograph studies the individual diagnosed with psychopathy, psychological and psychiatric research will be carried out in order to establish the concept of psychopathy demonstrating its main aspects and characteristics so that in this way it can determine who is the psychopath within Brazilian criminal law. Later, the theory of crime will be analyzed, so that the concept of crime can be extracted with special attention to guilt, imputability and inimputability, aimed at determining the individuals who may be held responsible for the acts committed. Finally, psychopathy will be approached before Brazilian Criminal Law, defining responsibility or lack thereof for individuals diagnosed with psychopathy and, when they are criminals, what action is taken to apply the sentence. Key-words: psychopathy, criminal law, guilt, imputability, inimputability. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I – A PSICOPATIA 13 1.1 História da psicopatia 13 1.2 Conceito de psicopatia 14 1.3 Métodos para diagnóstico 20 1.4 Tratamento 24 CAPÍTULO II – O DIREITO PENAL E O PSICOPATA 27 2.1 Direito penal 27 2.2 Teoria do crime 30 2.3 Fato típico 33 2.4 Ilicitude 34 2.5 Culpabilidade 35 2.6 Imputabilidade 37 2.7 Inimputabilidade 42 2.8 Semi-imputabilidade 45 CAPÍTULO III – A SANÇÃO PENAL APLICADA AO PSICOPATA 47 3.1 Origem da pena 47 3.2 Conceito da pena 49 3.3 Teorias da pena ou teorias da sanção penal 51 3.3.1 Teoria absoluta, teoria da retribuição ou teoria do castigo 51 3.3.2 Teoria da prevenção 52 3.3.3 Teoria mista, unificada ou eclética 53 3.3.4 Teoria agnóstica 54 3.4 Das sanções penais 55 3.5 Medida de Segurança 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS 60 REFERÊNCIAS 64 � INTRODUÇÃO Este trabalho estudará o que é a psicopatia, quem é o psicopata e como o Ordenamento Jurídico Brasileiro lida com esse indivíduo. No primeiro capítulo estudaremos, brevemente, sobre o que é a psicopatia, sua origem, quais as definições que os estudiosos atribuíram ao seu conceito, fatos verídicos que ocorreram para que hoje pudéssemos definir se a Psicopatia é uma doença mental ou um transtorno de personalidade. Em seguida iremos falar sobre a questão “insanidade X crueldade”, onde estudaremos, a princípio, os conceitos de dois estudiosos e, em seguida, veremos o que a Organização Mundial de Saúde define como psicopatia. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) a psicopatia é chamada de Transtorno de Personalidade Dissocial, e é definida, in suma, pelo [...] Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros [...]. Ante as discordâncias entre os pesquisadores e a Organização Mundial de Saúde, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (CID-10 – DSM-V), buscou uniformizar os pontos de vistas e combinar todos, trazendo a psicopatia como um Transtorno da Personalidade Antissocial, e a definindo por [...] um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo. (DSM-5, 2013, p. 645). A discordância do assunto é justificada pelo alto grau de complexidade e à extrema dificuldade do assunto em definir um perfil que é voltado a um quadro emocional, comportamental e interpessoal. A conclusão é sempre semelhante, os termos, apesar de diferentes, descrevem um mesmo perfil, que é o psicopático, perfil este voltado a um indivíduo transgressor das normas sociais, com sentimentos deficitários, tudo sobreposto a um desajuste nas relações interpessoais. Atualmente, existem duas correntes lidando sobre o tema. A primeira considera a psicopatia como doença mental e a segunda é consistente em um transtorno de personalidade. O psicopata age friamente para conquistar os seus objetivos. É egocêntrico e não aceita frustrações, utilizando-se das pessoas para seu prazer e satisfação imediatos, sendo isto o que o leva a cometer seus crimes. Em seguida estudaremos as técnicas utilizadas pelo Ordenamento Jurídico para avaliar a pessoa do psicopata. O sistema penal brasileiro adotou o Pshychopathy Checklist Revised (PCL-R) como exame padrãopara avaliar o grau da psicopatia e o nível de reincidência criminal do preso. A técnica consiste em uma entrevista que avalia o grau de psicopatia dentro de uma escala e é está destinada especificamente para populações forenses (ACHÁ, 2011). Temos também Escala Hare de Triagem (The Hare Psychopathy checklist: Screening Verson) – (PCL:SV) que é baseada na PCL-R, podendo ser usada em pessoas a partir dos 16 (dezesseis) anos, independente se será utilizada na área forense ou não. Ela funciona da mesma forma que a Escala PCL-R e suas fontes de informações são as mesmas. Por fim temos a PCL-YV (Hare Psychopathy checklist: Youth Version) que é utilizada para diagnosticar adolescentes de 12 (doze) a 18 (dezoito) anos, que se envolveram precocemente com a justiça. Essa é diferente das outras Escalas Hares, pois seu meio de avaliação da PCL-YV é través de tais fatores: insensibilidade emocional, impulsividade; e narcisismo. Ainda no primeiro capítulo, estudaremos se existe possibilidade de tratamento ou não. Estudos demonstram que, em alguns casos, a psicoterapia traz uma evolução danosa no problema, então analisaremos se existe a possibilidade de a ciência médica proporcionar curas. O psicopata pode se apresentar em três fases: a primeira delas é a psicopatia leve, a segunda é a psicopatia moderada e, a terceira e última fase é a psicopatia em sua forma mais elevada, ora psicopatia grave, aqui se encontram os popularmente conhecidos por “serial killers”. As características do psicopata podem ser reconhecidas desde seu início, o que torna o transtorno algo passível de controle. No segundo capítulo falaremos sobre a relação: Direito Penal x Psicopata. Estudaremos o que é o Direito Penal, qual é sua função no Ordenamento Jurídico Brasileiro e quais são seus objetivos. O Direito Penal é o ramo do Ordenamento Jurídico que se destina a regulamentar e estabelecer sanções a quem atenta contra a Legislação Brasileira na esfera criminal, seja pela prática de delitos ou contravenções penais, sendo conhecido como o conjunto de normas que regulamenta as condutas humanas a fim do bom e harmonioso convívio em sociedade. O que o Direito Penal evita e pune é o que chamamos de crime, portanto é o que estudaremos na sequência. A definição analítica do que é crime é fracionada em duas linhagens: a teoria bipartida e a teoria tripartida. Para a teoria bipartida o crime é um fato típico e antijurídico, não incluindo a culpabilidade. Já para a teoria tripartida, o crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Ou seja, a culpabilidade é fração que define o conceito de crime. Precisamos saber que: 1) fato típico é toda ação humana a qual se encaixa, com perfeição em um tipo legal; 2) conduta é o comportamento humano, consciente e voluntário, destinado a um fim; 3) resultado é a consequência provocada pela conduta; 4) nexo de causalidade consiste no elo entre a conduta e o resultado; e, por fim, 5) tipicidade é o perfeito amoldamento entre a conduta realizada e o tipo legal descrito. Para que haja crime a lei deve existir anteriormente ao fato; portanto descreverá minuciosamente o que o ordenamento jurídico entende por crime e uma vez realizada a conduta descrita no tipo como criminosa haverá a tipicidade. Ao tratarmos do psicopata, sua conduta é inegavelmente dolosa (o dolo consiste na vontade e a consciência de realizar determinadas condutas), o psicopata age conscientemente, ele possui o “animus” (vontade de realizar determinada conduta criminosa), visto que é através do crime que ele obterá o resultado que lhe trará satisfação. A conduta delituosa do psicopata é meramente o meio para alcançar sua pretensão: o desejo de maltratar; ou sua “necessidade” de mostrar que está no comando. O segundo elemento do conceito analítico de crime trata-se da ilicitude, que consiste no ato contrário à lei. Uma das características comportamentais do psicopata é o desrespeito às normas. Após esboçarmos os elementos analíticos do crime, chegaremos ao terceiro elemento, que é a culpabilidade. A culpabilidade consiste na reprovabilidade da conduta, é o juízo de censurabilidade, isto é, a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de um ilícito penal. Quando um sujeito imputável pratica um ato com potencial consciência da ilicitude ou que poderia agir de outra forma e causa dano a outrem, este deverá ser responsabilizado pelo ato praticado. Embora a culpabilidade seja formada por três elementos normativos (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa), neste presente trabalho o estudo será realizado apenas acerca do primeiro. A imputabilidade pode ser compreendida como a capacidade de o agente entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se conforme aquele entendimento. Ela se apresenta pela formação de dois aspectos: o intelectual e o volitivo. Feito toda essa explanação a respeito da imputabilidade e a conjugando com os aspectos do psicopata, conclui-se que o portador da psicopatia é imputável. O caso da psicopatia não é o desconhecimento da lei, nem o desentendimento do caráter ilícito do fato, tampouco descontrole da própria vontade, pois, como já foi visto, tudo isso o psicopata compreende perfeitamente. A psicopatia é relativa aos sentimentos e ter empatia pelo próximo que, no psicopata, percebe-se ausente. Por fim, no terceiro capítulo, entenderemos qual é a sanção penal cabível ao psicopata. Veremos que a pena é uma forma de punição, disseminada pelas sociedades politicamente organizadas através do Direito Penal, sendo a última instância legitimada a possuir todo o seu controle. Também estudaremos sobre as teorias da pena e a pretensão de cada uma delas, seja apenas punir, punir e prevenir, dentre outras. E, por fim, veremos o que é a medida de segurança, suas diferenças em relação a pena e o motivo deste trabalho não a adotar como a melhor sanção penal cabível ao psicopata. In suma, entenderemos que o psicopata é um indivíduo resultado do meio, que sofre de transtornos de personalidade crônicos, o que não faz deles doentes mentais. Esse indivíduo tem capacidade de fazer escolhas e, na maioria das vezes, opta por praticar aquilo que não é permitido, portanto deve ser punido. � CAPÍTULO I A PSICOPATIA Psicopatia é a palavra utilizada quando se reconhece um indivíduo com uma inclinação para assassinar, praticar crimes absurdos e brutais. As ilegalidades cometidas demonstram gradativamente a elevação do nível da doença, o que instiga profissionais como psicólogos, psiquiatras, dentre outros, a estudarem esses indivíduos de forma minuciosa. A história da psicopatia A palavra “psicopatia” vem do grego “PSYKHÉ e PATHÓS”, que significam, respectivamente, alma e enfermidade, ou seja, uma alma enferma, um indivíduo psiquicamente enfermo. É extremamente complexo e dificultoso conceituar certeiramente a definição de psicopata no ordenamento jurídico, visto que se trata de um indivíduo com transtornos emocionais e subjetivos. Girolano Cardamo (1993) teve seu filho decapitado por ter envenenado sua esposa. Então Cardamo passou a se dedicar à definição do psicopata, concluindo que existem os indivíduos ímprobos e psicopatas. Para Girolano, os indivíduos ímprobos possuem sua insanidade parcial, mantendo seu controle e conduzindo suas vontades. Já os psicopatas, aos olhos do referido professor, não possuem controle de si. Em 1801, Philippe Pinel publicou o Tratado Médico Filosófico sobre a alienação mental e descreveu as manias que todas as pessoas possuem, mas não criam a face ao delírio. Pinel chamava de mania aos estados de furor persistentes e comportamento florido, distinto do conceito atual de mania. (BERRIOS, 1993, p. 98). Berrios (1993, p. 101) ainda expõe: No tratado relatava, que se admirava de ver muitos loucos que, em nenhum momento, apresentavam prejuízo algum do entendimento, e que estavam sempre dominados por uma espécie de furor instintivo, como se o únicodano fosse em suas faculdades instintivas. A falta de educação, uma educação mal dirigida ou traços perversos e indômitos naturais, podem ser as causas desta espécie de alteração. O historiador G. Berrios, baseado em James Cowles Prichard, discute o conceito da Insanidade Moral como conceito de psicopatia. Koch Schneider (1980, p. 58-59, traduzido) fala de Inferioridades Psicopáticas, referindo-se a elas no aspecto social e não moral. Para ele: As inferioridades psicopáticas eram congênitas e permanentes e divididas em três formas: a) disposição psicopática; b) tara psíquica congênita; e c) inferioridade psicopática. [...] Kraepelin, quando faz a classificação das doenças mentais em 1904, usa o termo Personalidade Psicopática para referir-se, a este tipo de pessoas que não são neuróticos nem psicóticos, porém não estão incluídas no esquema de mania-depressão, mas que se mantêm em choque contundente com os parâmetros sociais vigentes. Incluem-se aqui os criminosos congênitos, a homossexualidade, os estados obsessivos, a loucura impulsiva, os inconstantes, os embusteiros e farsantes e os querelantes. O autor supracitado descarta atributos como a inteligência, instintos e sinais corporais, da definição de Psicopata. Ele alega que a Personalidade Psicopática é formada por elementos avindos do grupo de sentimentos e valores dados ao indivíduo (1980). Até a atualidade, a Psicopatia tem sido definida por diversos pesquisadores de inúmeras formas diferentes, no entanto, restou uma característica-núcleo: a ausência de sentimentos afetuosos e de adaptação social. 1.2 Conceito de psicopatia Ao pensarmos no psicopata, a primeira ideia que vem em nossa mente é a de um sujeito com aspectos explícitos de uma pessoa má, com olhar maldoso e evidências de desvios comportamentais e de condutas, características essas similares a de um assassino. Pode-se, assim, associar essa formação à teoria de Lombroso do seu livro “Delinquente Nato”, de 2007, na qual, para ele o criminoso nato possui características próprias, tais como: crânio quase sempre assimétrico, preponderante na parte superior e pequeno em relação ao desenvolvimento da face, cabelo abundante, mas barba rala, orelhas volumosas. Essa percepção é um erro, pois, os psicopatas têm aspectos bons, são inteligentes, educados, convincentes, charmosos, sabem enganar e dissimular muito bem. Usam da dissociação para poder ter contato humano sem que seu verdadeiro perfil seja demonstrado, trazendo, assim, dificuldades em identificar estes indivíduos na sociedade. Nesta ideia, Robert D. Hare, em sua obra Um Psicopata na Prisão (2013, p. 37), esclarece: Ele vai lhe escolher, vai desarmá-la com palavras, vai controlá-la com sua presença. Ele vai encantá-la com sua inteligência e planos. Vai lhe mostrar o que realmente significa se divertir, mas é você quem sempre vai pagar a conta. Ele vai sorrir e enganar você, vai assustá-la com um simples olhar. E, quando ele estiver cheio de você, e ele vai ficar cheio de você, vai abandoná-la, vai levar embora sua inocência, seu orgulho. Você vai se transformar em uma pessoa muito mais triste, mas não vai ficar mais esperta; durante muito tempo, ficará lembrando o que aconteceu, tentará entender o que você mesma fez de errado. E, se outro desse tipo aparecer e bater à sua porta, você vai abrir? De um ensaio assinado. É comum essas pessoas estarem ao nosso lado, seja no trabalho, escola, família, e não só em prisões como muitos imaginam. Além dessas informações que temos a respeito do psicopata, nos indagamos sobre os fatores (sociais, biológicos, psíquicos, traumas infantis, influências, etc.) que os levaram a ser assim ou a cometerem tamanhas barbaridades. Questiona-se, então, sobre um binômio: insanidade ou crueldade? O uso do termo “Psicopatia” surgiu no início do século XX, através da Escola de psiquiatria Alemã. O vocabulário foi determinado por Kurt Schneider como indivíduo portador de uma personalidade anormal, que sofre por causa de sua anormalidade ou que, impelido por ela, faz sofrer a sociedade. Penteado Filho (2012, p. 166) traz sua concepção sobre o assunto: Esse tipo de transtorno específico de personalidade é sinalizado por insensibilidade aos sentimentos alheios. Quando o grau de insensibilidade se apresenta extremado (ausência total de remorso), levando o indivíduo a uma acentuada indiferença afetiva, este pode assumir um comportamento delituoso recorrente, e o diagnóstico é de psicopatia (transtorno de personalidade antissocial, sociopatia, transtorno de caráter, transtorno sociopático ou transtorno dissocial. Em contrapartida, o Jurista, Nelson Hungria, em conferência realizada na Sociedade Brasileira de Criminologia (HUNGRIA apud PIEDADE, 1942 p.140) também discorre sobre o tema, afirmando: Portadores de psicopatia - a escala de transição entre o psiquismo normal e as psicoses funcionais”. Seus portadores são uma mistura de caracteres normais e caracteres patológicos. São os inferiorizados ou degenerados psíquicos. Não se trata propriamente de doentes, mas de indivíduos cuja constituição é “ab initio”, formada de modo diverso da que corresponde ao “homo medius”. Em consulta a Instituições com especialidade no assunto, buscando definições, também é possível encontrar divergências sobre o assunto. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) a psicopatia é chamada de Transtorno de Personalidade Dissocial e a definição dada por esta é: Transtorno de personalidade caracterizado por um desprezo das obrigações sociais, falta de empatia para com os outros. Há um desvio considerável entre o comportamento e as normas sociais estabelecidas. O comportamento não é facilmente modificado pelas experiências adversas, inclusive pelas punições. Existe uma baixa tolerância à frustração e um baixo limiar de descarga da agressividade, inclusive da violência. Existe uma tendência a culpar os outros ou a fornecer racionalizações plausíveis para explicar um comportamento que leva o sujeito a entrar em conflito com a sociedade. (OMS, 2010). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (CID-10 – DSM-V), buscando uniformizar os pontos de vistas e combinar todos, traz a psicopatia como um Transtorno da Personalidade Antissocial, onde é definida como: Um padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou no início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuízo (DSM-5, 2013, p. 645). As duas instituições mais conceituadas acerca do tema trazem distinções entre si devido ao alto grau de complexidade e à extrema dificuldade do assunto em definir um perfil que é voltado a um quadro emocional, comportamental e interpessoal. Há estudiosos que preferem o título de “sociopata”, por julgarem questões sociais desfavoráveis como os fatores criadoras da doença. Outros, o termo psicopata enfatizando os fatores genéricos, biológicos e psicológicos como causadores da doença. Assim, a primeira instituição citada trata a psicopatia como um Transtorno de Personalidade Dissocial. A segunda trabalha o mesmo tema como um Transtorno da Personalidade Antissocial. São apenas termos diferentes descrevendo um mesmo perfil, que é o psicopático, perfil este voltado a um indivíduo transgressor das normas sociais, com sentimentos deficitários, tudo sobreposto a um desajuste nas relações interpessoais. Atualmente, existem duas correntes lidando sobre o tema. A primeira considera a psicopatia como doença mental, inata, que é existente desde sua gestação, vindo aflorar em sua personalidade posteriormente. E a segunda (majoritária), é consistente em um transtorno de personalidade, o qual em algumas vezes, justificam o seu desencadeamento como produto do meio, ou seja, questões sociais desfavoráveis, principalmente traumas vivenciados na infância. Vejamos o pensamento doutrinárioneste sentido: Doença mental pode ser compreendida como a perturbação mental ou psíquica de qualquer ordem, capaz de eliminar ou afetar a capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou a de comandar a vontade de acordo com esse entendimento e engloba uma infindável gama de moléstias mentais, tais como epilepsia condutopática, psicose, neurose, esquizofrenia, paranoias, epilepsias em geral, etc. (CAPEZ 2007 apud JESUS, 2009, p.237). Conforme o estudo acima mencionado, a psicopatia é incapaz de se amoldar ao campo da doença mental, visto que para este diagnóstico é necessário a existência de sofrimento emocional, perda de consciência ou ruptura com a realidade, juntamente a uma perturbação mental ou psíquica com capacidade de excluir a consciência. Como demonstra Ilana Casoy, a psicopatia é apenas uma questão de fantasia e necessidade de estar no controle: Em homicídios seriais, o assassinato aumenta a sensação de controle do criminoso sobre sua vítima. Ele estabelece um comportamento que demonstra, sem sombra de dúvida, que está no controle. Um dos meios de o serial killer estabelecer o controle é degradar e desvalorizar a vítima por longos períodos de tempo. Esse objetivo pode ser alcançado fazendo-a seguir um roteiro verbal, através de sexo doloroso e/ou forçado e pela tortura. (2004). Para a Psiquiatra Ana Beatriz Silva, trata-se de uma forma de ser: Os psicopatas apresentam em sua história de vida alterações comportamentais sérias, desde a mais tenra infância até os seus últimos dias, revelando que antes de tudo a psicopatia se traduz numa maneira de ser, existir e perceber o mundo. (2008, p. 89. Grifo nosso). O psicopata age friamente para conquistar os seus objetivos. É egocêntrico e não aceita frustrações, utilizando-se das pessoas para seu prazer e satisfação imediatos, sendo isto o que o leva a cometer seus crimes. Sua luxúria grotesca e a sua necessidade de estar no controle não são oriundas de doença mental. Também não é ele impelido por qualquer inconsciência, mas sim pela sua natureza, que é voltada ao mal. É da sua natureza não ter compaixão, nem laços afetivos, porém, pela necessidade de convívio social, ele aprende a imitar uma pessoa de bons sentimentos, passando, assim, a imagem de normalidade. De acordo com a visão de Ballone (2006) todo comportamento do psicopata, quando capturado, é enganoso, visto que, como ele é extremamente inteligente e racional, nesse momento específico (da caputra), o “serial killer” finge insanidade, demonstrando várias personalidades, desde esquizofrenia a qualquer outro tipo de doença mental que possa isentá-lo da responsabilidade. Assim, fica evidenciado e demonstrado a integral capacidade de racionalização e manipulação do psicopata em enganar e dissimular para conseguir vantagens e não sofrer a devida penalidade. Ele age cruel e maldosamente, conhece a antijuridicidade dos atos praticados, utiliza-se de seu charme para seduzir suas vítimas. Ao matar, o “serial killer” tem como objetivo básico humilhar a vítima, demonstrar controle sobre a situação. Para ele, “o crime é secundário, e o que interessa, de fato, é o desejo de dominar e de se sentir superior”, segundo assevera Ballone. A psiquiatra Ana Beatriz Silva, também define a palavra psicopatia: A palavra psicopatia poderia levar à impressão de que se trata de uma patologia, pois a partir de sua etimologia extrai-se o significado de doença mental (do grego, psyche=mente; e pathos=doença). (2008, p. 37, grifo nosso). Vislumbra-se, então, uma falsa impressão, pois a psicopatia não está denominada no campo das doenças mentais, tampouco, são considerados, a quem ela acomete, como loucos ou portadores de doenças que acarretam em alucinações ou delírios. Os atos praticados por pessoas portadores da psicopatia são de tamanha inteligência, controle e preparação que parecem provir de mentes totalmente sadias. E é exatamente o que acontece com o psicopata. Sua parte racional é perfeita e íntegra. Sua dificuldade é relacionada aos sentimentos, que os falta. Ainda sobre o discernimento normal de um psicopata, aduz Roland: Nenhum dos psicopatas que tive oportunidade de estudar ou examinar era legalmente insano. Contudo, nenhum era uma pessoa normal. Todas eram pessoas com distúrbios mentais. Mas, a despeito de seus distúrbios, que estavam relacionados às índoles e às compulsões sexuais, eram pessoas cientes de seus atos, tinham noção de que o que faziam era errado, e decidiram fazer de qualquer forma. (2010, p. 152. Grifo nosso): Ilana Casoy (2004) apresenta em sua obra uma pesquisa realizada em homens com históricos violentos e uma característica comum, que é a redução da massa cinzenta no córtex pré-frontal, vejamos: Pesquisas científicas, feitas pelo Dr. Adrian Raine14, em 21 homens com histórico de atos criminosos violentos, de assalto à tentativa de assassinato, mostraram um resultado no mínimo intrigante: todos apresentaram o mesmo defeito cerebral, uma reduzida porção de matéria cinzenta no lobo pré-frontal, justo atrás dos olhos. Indivíduos que são antissociais, impulsivos, sem remorso e que cometem crimes violentos têm, em média, 11% menos matéria cinzenta no córtex pré-frontal do que o normal. Os estudos de Raine são os primeiros a ligar comportamento violento e antissocial com uma anormalidade anatômica específica no cérebro humano. Mas, segundo seus esclarecimentos, sua teoria diz que o “defeito no cérebro não está inter-relacionado com o comportamento violento. A reduzida massa cinzenta apresentada por alguns apenas aumenta a sua probabilidade de vir a ser um indivíduo violento. (grifo nosso). Conforme o estudo ora mencionado, a massa cinzenta apresentada nas pesquisas realizadas em homens com históricos criminosos não indica a existência de uma doença mental, ou, tão logo, um diagnóstico de psicopatia, mas sim que, estes indivíduos têm uma predisposição a ações violentas, porém, não os caracteriza de imediato a um quadro psicopático. Hare psiquiatra canadense e especialista no assunto, em seus estudos já demonstrou que o psicopata tem total conhecimento dos seus atos, visto que: A sua parte racional ou cognitiva funciona perfeitamente. Assim, é conhecedor das regras sociais e também conhecedor de que seus atos estão as desrespeitando. O problema está voltado aos sentimentos, afeto e emoções que esses seres são incapazes de sentir. Por tanto, ferem, magoam, chegam a matar, sem sentir nenhum sentimento de culpa, compaixão ou remorso. (HARE, 1976 apud SILVA, 2008, p.60. Grifo nosso) Em maior profundidade, Hare traz as principais características do psicopata, que são: Eloquente e superficial – Os psicopatas com frequência são espirituosos e articulados. Sua conversa pode ser divertida e envolvente; podem ter sempre uma resposta inteligente na ponta língua [...] Falta de empatia – [...] Eles parecem incapazes de se colocar no lugar do outro, de “estar na pele” do outro, a não ser no sentido puramente intelectual. Os sentimentos das outras pessoas não preocupam nenhum um pouco [...]. Emoções “rasas” – Os psicopatas parecem sofrer de um tipo de pobreza emocional que limita a amplitude e profundidade de seus sentimentos. Impulsivo – Os psicopatas não costumam passar muito tempo pensando prós e contras de determinada ação ou considerando possíveis consequências. Necessidade de excitação – Os psicopatas têm necessidade contínua e excessiva de excitação; eles almejam viver “em alta velocidade”, no limite, onde está a ação. Em muitos casos, a ação envolve quebrar regras. Falta de responsabilidade – Obrigações e compromissos não significam nada para os psicopatas. Suas boas intenções – “Eu nunca mais vou trair você” – são promessas levadas pelo vento. Problemas de comportamento precoce – [...] mentiras persistentes, fraudes, roubo, incêndio criminoso, vadiagem, perturbação de aula na escola, abuso de substancias, vandalismo, violência, bullying, figa e sexualidade precoce. Comportamentoadulto antissocial – [...] regras e expectativas da sociedade como inconvenientes e insensatas, verdadeiros obstáculos à expressão comportamental de suas inclinações e desejos. (2013. p.59/81). A exemplo de todo o exposto, apresenta-se o caso do Rodrigo Filho, conhecido como “o Pedrinho Matador” (REVISTA ÉPOCA, 2002, apud SILVA, 2008, p. 86): “O ‘Pedrinho Matador’ é um ‘serial killer’ que afirma com orgulho ter matado mais de 100 pessoas, inclusive seu próprio pai. Na Penitenciária do Estado, em São Paulo, ele é temido e respeitado pela comunidade carcerária. A primeira vez que matou, Pedrinho tinha apenas 14 anos e nunca mais parou. Com vários crimes nas costas, Pedro Rodrigo foi preso aos 18 anos, em 1973, e continuou matando dentro da própria prisão. Ele é considerado o maior homicida da história do sistema prisional e diz que só na cadeia já matou 47 pessoas. Mata sem misericórdia quem atravessa o seu caminho ou simplesmente porque não vai com a cara do sujeito. Pedrinho sabe que matar é errado, mas justifica seus atos como algo que vem de família: pais e avós também foram matadores. Para "Pedrinho Matador", tirar a vida de alguém é somente mais um trabalho bem-sucedido. E para que ninguém se esqueça do que é capaz, tatuou no braço a frase ‘Mato por prazer’. Por derradeiro, o psicopata é simplesmente assim: age de forma a visar apenas o próprio benefício. É desprovido de emoções, sendo impossível de se colocar no lugar de outrem ou até mesmo ter laços afetivos. Ele não é portador de uma doença mental, como já estudado, não é como um indivíduo com um resfriado, detentor de uma doença temporária, ele é apenas um psicopata. É a psicopatia uma maneira de ser, forma de ver o mundo, escolha de viver pertinentemente em uma insensibilidade moral total. 1.3 Métodos para diagnóstico O sistema penal brasileiro adotou o Pshychopathy Checklist Revised PCL – R como exame padrão para avaliar o grau da psicopatia e o nível de reincidência criminal do preso. O responsável pela criação do PCL-R foi o Robert D. Hare que, com base nos estudos de Hervey Milton Cleckley, dedicou sua vida profissional a estudar e reunir características comuns de pessoas com esse tipo de comportamento, onde conseguiu montar um teste denominado de “escala Hare” que é o instrumento de maior aceitação para diagnóstico da psicopatia. Segundo Manuel de Juan Espinosa (2013), Robert D. Hare foi o responsável da ilustração do conceito de psicopatia. O método supracitado, é utilizado em diversos países no combate à violência e melhoria ética da sociedade, como explica Ana Beatriz Barbosa Silva, [...] o PCL-R examina de forma detalhada aspectos da personalidade psicopática, tanto aqueles ligados aos sentimentos e relacionamentos interpessoais quanto ao seu estilo de vida e comportamentos antissociais. (2008, p. 67-68) A técnica consiste em uma entrevista que avalia o grau de psicopatia dentro de uma escala e é está destinada especificamente para populações forenses (ACHÁ, 2011). Segundo Barros (2011, p. 167) a pontuação é realizada com base em dois fatores, sendo: fator 1 (um) – caracterizado pela frieza, ausência de remorso, crueldade, falsidade; fator 2 (dois) – dificuldade de autocontrole, versatilidade criminal e repertório de atitudes antissociais. Tais fatores traduzem a subdivisão em que o fator 1 (um) se refere aos psicopatas primários protótipo da psicopatia e sua condição seriam inatos, enquanto o fator 2 (dois) relaciona-se aos psicopatas secundários, resultantes da influência do meio, com características de serem menos frios e com maior tendência ao arrependimento No contexto nacional o PCL-R é utilizado no Sistema Penal Brasileiro com o fim de avaliar a personalidade do detento, a previsão de reincidência criminal, a reabilitação social e a concessão de benefícios penitenciários. Hilda Clotilde Penteado Morana (2004, p. 74), responsável pela validação do método para uso em português, em sua tese de doutorado sob o título “Identificação do ponto de corte para a escala PCL-R (Psychopathy Checklist Revised) em população forense brasileira: caracterização de dois subtipos de personalidade; transtorno global e parcial”, concluiu que: o instrumento é adequado para avaliar a psicopatia na população forense brasileira. Diante de dados como o do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em 2003, que considerou a reincidência criminal para o Brasil em 82% (oitenta e dois por cento), A autora alerta, ainda, para o fato de que se faz ausente o treinamento adequado às Comissões Técnicas de Classificação e nesse aspecto é que se perpetua a importância do PCL-R, visto que projetado para a realização dos exames criminológicos de maneira segura e objetiva (2003). A revista Super Interessante, traz um estudo resumido sobre como funciona o teste psicológico “Escala de Hare” A PCL-R utiliza-se de uma entrevista direta com o psicopata e busca também obter informações em prontuários médicos, processos e sempre que possível de pessoas que convivem ou conviveram com o indivíduo, o teste apresenta 20 (vinte) tópicos que formam o questionário avaliativo, onde os psiquiatras dão de 0 até 2 pontos para cada tópico; assim, a soma da pontuação será comparada na escala Hare e determinará o grau de psicopatia. A pontuação máxima é 40 pontos, porém Hare já afirmou em seus estudos que quando a pontuação for igual ou superior a 30 pontos pode-se diagnosticar com total segurança o individuo como portador da psicopatia. Alguns dos tópicos apresentados pela revista (2011) são: Boa lábia: o psicopata é bem articulado e ótimo marketeiro pessoal. Como um ator em cena, conquista a vítima bajulando e contando histórias mirabolantes de si. Com meia dúzia de palavras difíceis, se passa por sociólogo, médico, filósofo, escritor, artista ou advogado. Ego inflado: ele se acha o cara mais importante do mundo. Seguro de si, cheio de opinião, dominador. Adora ter poder sobre as pessoas e acredita que nenhum palpite vale tanto quanto suas ideias. Lorota desenfreada: mente tanto que às vezes não se dá conta de que está mentindo. Tem até orgulho de sua capacidade de enganar. Para ele, o mundo é feito de caças e predadores, e não faria sentido não se aproveitar da boa-fé dos mais fracos. Sede por adrenalina: não tolera monotonia e dificilmente fica encostado num trabalho repetitivo ou num casamento. Precisa viver no fio da navalha, quebrando regras. Alguns se aventuram em rachas, outros nas drogas e, uma minoria, no crime. Reação estourada: reage desproporcionalmente a insulto, frustração e ameaça. Mas o estouro vai tão rápido quanto vem, e logo volta a agir como se nada tivesse acontecido. É tão sem emoções que sequer rancor consegue guardar. Impulsividade: embora racional, não perde tempo pesando prós e contras antes de agir. Se estiver com vontade de algo, vai lá e consegue tirando os obstáculos do caminho. Se passar a vontade, larga tudo. Seu plano é o dia de hoje. Comportamento antissocial: regras sociais não fazem sentido para quem é movido somente pelo prazer, indiferente ao próximo. O que se torna criminoso, em geral não tem preferência: gosta de experimentar todo tipo de crime. Falta de culpa: por onde passa deixa bolsos vazios e corações partidos. Mas por que se sentir mal se a dor é do outro, e não dele? Para o psicopata, a culpa é apenas um mecanismo para controlar as pessoas. Sentimentos superficiais: emoção só existe em palavras. Se namorar, será pelo tesão e pelo poder sobre o outro, não por amor. Se perder um amigo, não ficará triste, mas frustrado por ter uma fonte de favores a menos. Falta de empatia: não consegue se colocar no lugar do próximo. Para o psicopata, pessoas não são mais que objetos para usar para seu próprio prazer. Não ama: se chegar a casar-se e ter filhos, vai ter a família como posse, não como entes queridos. Irresponsabilidade: compromisso não lhe diz nada - tende a ser mau funcionário, amante infiel e pai relapso. Porém, como a família eos amigos são fonte de status e bens materiais, para cada mancada já tem uma promessa pronta: "Eu mudei. Isso nunca mais vai acontecer de novo". Má conduta na infância: seus problemas aparecem cedo. Já começa a roubar, usar drogas, matar aulas e ter experiências sexuais entre 10 (dez) e 12 (doze) anos. Para sua maldade, não poupa coleguinhas, irmãos, nem animais. Temos também Escala Hare de Triagem (The Hare Psychopathy checklist: Screening Verson) – (PCL:SV) que é baseada na PCL-R, podendo ser usada em pessoas a partir dos 16 (dezesseis) anos, independente se será utilizada na área forense ou não. A Escala Hare de Triagem funciona da mesma forma que a Escala PCL-R, suas fontes de informações são as mesmas, sendo elas: entrevista direta, registros escritos e informações de fontes colaterais. Por fim temos a PCL-YV (Hare Psychopathy checklist: Youth Version) que é utilizada para diagnosticar adolescentes de 12 (doze) a 18 (dezoito) anos, que se envolveram precocemente com a justiça. Diferente das outras Escalas Hares, o meio de avaliação da PCL-YV é través de tais fatores: insensibilidade emocional, impulsividade; e narcisismo. Já para as crianças com idade entre 6 (seis) a 13 (treze) anos, foi elaborado um questionário mais simples denominado de o Antissocial Process Screening Decive (APSD) a qual será respondido por pais e professores a fim de diagnosticar qualquer comportamento voltado ao psicopático. A diferença entre as escalas supracitadas é o resultado de cada uma delas, pois, diferente da PCL-R, a Escala Hare de Triagem (PCL-SV) pode obter resultado variável de até 24 (vinte e quatro) pontos, alcançada a pontuação igual ou superior a 18 (dezoito) pontos, restando segura a indicação de psicopatia. Além das “Escalas Hares”, há ainda as avaliações psicológicas, que se tratam de observações realizadas pelos psicólogos a fim de estudarem o funcionamento cognitivo do ser humano e o seu comportamento. Na área forense existe a necessidade de perícia legal em saúde mental, que é o exame pelo qual se comprova a sanidade mental do sujeito, ou seja, sua capacidade de entender o caráter ilícito de sua conduta, sendo esta fundamental para o âmbito jurídico, visto que trata-se do meio de prova de ausência de qualquer perturbação mental. Os outros exames citados – Escala Hare e avaliações psicológicas – são determinantes para o grau de psicopatia e transtorno da personalidade. Conforme o Art. 149, do Código de Processo Penal, é imprescindível o exame médico legal, o que interliga a ciência Jurídica e a ciência Médica, especificamente na área psicológica e psiquiátrica. Artigo 149. Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, que seja este submetido a exame médico legal. (BRASIL, 1940) Portanto, todos os exames citados são de extrema importância, visto que por meio da ciência médica tem-se o estudo do funcionamento psicológico, do qual se extrairá o respectivo laudo a respeito da sanidade mental do indivíduo, documento esse que irá embasar, na área do Direito Penal, qual deverá ser o tratamento jurídico adequado ao caso, isto é, qual deve ser o tipo de pena, sanção ou medida repressiva aplicada à pessoa no caso concreto. 1.4 Tratamento A psicopatia é um transtorno da personalidade que gera a incapacidade de sentir pelo próximo empatia ou qualquer sentimento fraternal. Há um déficit na pessoa do psicopata em sentir boas emoções, o que impossibilita a ciência médica em proporcionar curas, pois não se trata de uma doença e sim de uma forma de subsistir. No mais, os tipos de tratamento proporcionados são a terapia biológica (uso de medicamentos) e a psicoterapia. Por vezes, a psicoterapia é direcionada às pessoas que buscam tratamento emocional e/ou que sofrem, por exemplo e dentre outras doenças, de depressão, ansiedade, baixa autoestima; não sendo indicado para o psicopata, já que ele não vê suas condutas como erradas, não se frustra quando é descoberto em mentiras, trapaças, intitula-se por autossuficiente, não possui o anseio de progredir, tampouco suas condutas trazem-lhe algum tipo de sofrimento; logo, o tratamento é ineficaz, pois o mesmo é direcionado a algum tipo de sofrimento emocional, sentimento este inexistente no psicopata. Ao contrário disso, suas atitudes proporcionam-lhe prazer e satisfação. Estudos demonstram que, em alguns casos, a psicoterapia traz uma evolução danosa no problema, pois nestas sessões o psicopata tende a aperfeiçoar sua arte da manipulação e trapaças, assim como aprende profundamente sobre as boas emoções, o que o traz para mais perto da realidade em fingir sentimentos. Ainda no curso da psicoterapia, muitos dos psicopatas se utilizam do conhecimento obtido em sessões para justificar seus erros, alegar loucura ou traumas vivenciados na infância para assim se beneficiarem de Laudo Técnico que implicará na aplicação de uma sanção menos gravosa, visto que eles sempre carregam consigo problemas no âmbito judicial e legal. Conforme todo estudo explanado, a psicopatia não tem cura e, pelo contrário, possui graus de elevação. Muitas vezes os sinais da psicopatia se apresentam desde a infância, apresentando a vulnerabilidade desse indivíduo a tornar-se um psicopata leve, podendo se envolver em crimes como estelionato, fraude, dentre outros. Esse mesmo indivíduo pode tornar-se, a posteriori, um psicopata moderado, envolvendo-se nos mesmos crimes anteriormente citados, mas com um número maior de pessoas lesadas. Já no último grau da psicopatia (sua forma mais elevada), considerada como psicopatia grave, o indivíduo se comporta como um assassino em série, popularmente conhecido como “serial killer”. Conforme a psiquiatra Ana Beatriz Silva (2008, p. 82) [...] há uma porcentagem de 4% da população que sofre de psicopatia, onde 1% porta a psicopatia em nível grave, enquanto que 3% sofre de psicopatia leve e moderada. A autora ainda ressalva: É importante ressaltar que os psicopatas possuem níveis variados de gravidade: leve, moderado e severo. Os primeiros se dedicam a trapacear, aplicar golpes e pequenos roubos, mas provavelmente não “sujarão as mãos de sangue” ou matarão suas vítimas. Já os últimos, botam verdadeiramente a “mão na massa”, com métodos cruéis sofisticados, e sentem um enorme prazer com seus atos brutais. Mas não se iluda! Qualquer que seja o grau de gravidade, todos, invariavelmente deixam marcas de destruição por onde passam, sem piedade (2008, p. 17). Silva (2008, p. 167) também elenca características apresentadas na infância que podem ser tidas como sinais de psicopatia. Entre elas estão: • Mentiras frequentes (às vezes o tempo todo); • Crueldade com animais, coleguinhas, irmãos, etc.; • Condutas desafiadoras às figuras de autoridade (pais, professores, etc.); • Impulsividade e irresponsabilidade; • Baixíssima tolerância à frustração, com acessos de irritabilidade ou fúria quando são contrariados; • Tendência a culpar os outros por erros cometidos por si mesmos; • Preocupação excessiva com seus próprios interesses; • Insensibilidade ou frieza emocional; • Ausência de culpa ou remorso; • Falta de empatia ou preocupação pelos sentimentos alheios; • Falta de constrangimento ou vergonha quando pegos mentindo ou em flagrante; • Dificuldades em manter amizades; • Permanência fora de casa até tarde da noite, mesmo com a proibição dos pais. Muitas vezes podem fugir e levar dias sem aparecer em casa; • Faltas constantes sem justificativas na escola ou no trabalho (quando mais velhos); • Violação às regras sociais que se constituem em atos de vandalismo como destruição de propriedades alheias ou danos ao patrimônio público; • Participação em fraudes (falsificação de documentos), roubos ou assaltos; • Sexualidade exacerbada, muitas vezes levando outrascrianças ao sexo forçado; • Introdução precoce no mundo das drogas ou do álcool; • Nos casos mais graves, podem cometer homicídio. É importante se atentar à essas características, já que quando a psicopatia é em um grau mais moderado e descoberta precocemente, é passível de controle. Isso se faz através dos pais, com uma educação mais rígida, fornecimento de um ambiente familiar bem estruturado e com bons comportamentos, buscando-se, também, ajuda profissional para orientação de como tentar regular o problema, impedindo sua evolução. Silva (2008, p. 37) discorre sobre o assunto, explanado: A psicopatia não tem cura, é um transtorno da personalidade e não uma fase de alterações comportamentais momentâneas. Porém, temos que ter sempre em mente que tal transtorno apresenta formas e graus diversos de se manifestar e que somente os casos mais graves apresentam barreiras de convivência intransponíveis. Segundo o DSM-IVTR, a psicopatia tem um curso crónico, no entanto pode tornar-se menos evidente à medida que o indivíduo envelhece, particularmente a partir dos 40 anos de idade. Todavia, devido a falta de cura à psicopatia, é viável falarmos sobre tratamento para as vítimas desses seres humanos, pois são essas pessoas que sofrem a maior violação de direitos, isto quando não é ceifado o seu maior direito humano: a vida. Muitas vezes os sobreviventes não conseguem retornar ao seu convívio comum e natural com a sociedade, já que carregam consigo grandes traumas e sofrimentos deixados pelas descobertas de golpes e de que, na verdade, lidavam com um “monstro” em forma humana. � Capítulo II O DIREITO PENAL E O PSICOPATA Antes de adentrar ao tema proposto, faz-se necessário extrair algumas apreciações e conceitos básicos da área penal para assim compreender melhor o que irá se tratar neste capítulo. 2.1 Direito Penal A princípio, convém destacar a relevância do Direito Penal, que é uma das ramificações do Direito em si, que limita comportamentos, visa extinguir delitos, e garante às vítimas a punibilidade do sujeito ativo da ilegalidade penal; e, também, no ordenamento jurídico brasileiro, é uma das modalidades de Direito Público, por tratar da proteção de interesses da coletividade, denominados por direitos indisponíveis. O Direito Penal é o ramo do Ordenamento Jurídico que se destina a regulamentar e estabelecer sanções a quem atenta contra a Legislação Brasileira na esfera criminal, seja pela prática de delitos ou contravenções penais, sendo conhecido como o conjunto de normas que regulamenta as condutas humanas a fim do bom e harmonioso convívio em sociedade. Existem duas características principais do Direito Penal: a primeira é a formal e a segunda é a material. No Direito Penal formal se encontram as normas emitidas pelo Poder Legislativo, atribuindo consequências aos sujeitos que praticarem ilegalidades penais e, mais do que a visão de punir, busca-se lecionar ao indivíduo que ele não deve fazer aquilo que a lei proíbe. Corroborando com isto, temos o artigo 5°, em seu inciso II, da Constituição Federal Brasileira de 1988, ordenando que [...] ninguém será obrigado a cumprir ou deixar de cumprir alguma coisa, senão por meio de lei. (BRASIL, 1988) No plano material, o Direito Penal se apresenta coibindo comportamentos e atitudes extremamente renegadas e agressivas à sociedade em seus fragmentos, isto é, aos indivíduos que, unidos, formam a sociedade em geral. Aqui encontramos os bens mais valorosos e fundamentais à paz pública. O principal objetivo deste Direito é a proteção dos bens jurídicos, nas palavras de Zaffaroni e Pierangeli (2006, p.397): bem jurídico penalmente tutelado é a relação de disponibilidade de um indivíduo com um objeto, protegida pelo Estado, que revela seu interesse mediante a tipificação penal de condutas que o afetam. Desta forma, a norma proíbe condutas que lesam ou expõem a perigo bens jurídicos penalmente tutelados e estabelece a respectiva sanção. Janaína Conceição Pascoal (2003, p. 25), inteligentemente, observa: Antes de pensar em penas, devemos pensar em qual é a missão que o Direito Penal tem. O direito é considerado uma regra de conduta que surgiu junto com a sociedade, sendo um instrumento aplicado pelo Estado para combater a criminalidade, e um dos meios que mais privam a liberdade dos indivíduos, pois priva o contato com familiares, da participação da vida politica, e até mesmo de acompanharem o desenvolvimento de seus filhos. Eugenio Raúl Zaffaroni (2004, p.99), sustenta: O direito penal tem como caráter diferenciador, o de procurar cumprir a função de promover à segurança jurídica mediante a coerção penal, e esta, por sua vez, se distingue das restantes coerções jurídicas, porque aspira assumir caráter especificamente preventivo ou particularmente reparador. Luiz Luisi (2003, p.168-171) explica: Para controlar os excessos criminalizadores, o direito penal cuida não só dos direitos subjetivos, mas também tutela os bens jurídicos. É a partir da cultura, que cada sociedade valora seus bens, por isso que algumas classes de bens são valoradas por diversas sociedades, enquanto outras não. Desta forma, podemos observar que o critério utilizado para a proteção de bens, não é absoluto, variando em diversos países. Carmen Silvia de Moraes Barros (2001, p. 69-70), leciona: Assim, no Estado democrático de direito, o direito penal só pode intervir quando se mostrar imprescindível para a proteção dos cidadãos. Vale dizer, legitimada a intervenção penal na necessidade de proteção de bens jurídicos, o direito penal intervém exclusivamente de forma subsidiária – quando não for possível a utilização de outros meios de controle – e fragmentária – só nos casos de ataques especialmente graves –, visando a proteção dos bens cuja tutela é necessária. Johan Michael Franz Birnbaum (2005, p. 32) (primeiro estudioso a tratar do conceito de bem jurídico) alega que [...] o Direito penal pretendia garantir a proteção de bens jurídicos, como coisa ou objeto e não direitos subjetivos. Janaína Conceição Paschoal (2003, p. 27-29) informa que: Para Binding não é qualquer bem jurídico que o direito penal ira proteger, somente aqueles que demonstram uma maior importância jurídica ao legislador. Franz Von Liszt, para contrariar o pensamento de Binding, alega que quem criava o bem jurídico penal não era o legislador e sim a norma penal. Atualmente, os bens jurídicos que necessitam da guarda do direito penal dispõem de essência diferente daqueles que, fracionados, formavam o núcleo de sua preocupação. O direito penal, popularmente conhecido, zelava pelos bens extremamente individuais, cujos danos eram claramente reconhecidos e resolvidos. Assim, José de Faria Costa (2005, p. 89), sustenta: Quando todos os outros ramos do direito não forem capazes de responder as necessidades de tutela dos bens jurídicos desprovidos de proteção, devem ser empregados os mecanismos de tutela pelo direito penal. Até porque ele equivale ao ultimo poder legitimo para ofender o próprio corpo. Ainda temos a inteligência trazida por Copetti (2000, p. 100): Compreendendo-se a atuação estatal penal como a ultima ratio para a solução dos conflitos nominados como criminais, quando num Estado Democrático de Direito decidem os poderes públicos incriminar uma conduta – o que significa definitivamente o reconhecimento do fracasso de sua política social -, o objeto de proteção da norma penal deve ser estritamente individualizado. Isto significa assinalar claramente, livre de qualquer encobrimento ideológico, o que realmente deve ser protegido pela norma penal. Nas palavras de Capez (2011, p. 19): O Direito Penal é o seguimento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência,as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação. Zaffaroni e de Pierangeli (2006, p. 77 e 78) ensinam, em seu livro Manual de Direito Penal Brasileiro, o que seria o Direito Penal: Com a expressão “direito penal” se designam – conjunta ou separadamente – duas entidades diferentes: 1) o conjunto de leis penais, isto é, a legislação penal; e 2) o sistema de interpretação desta legislação, isto é, o saber do direito penal. Tendo em conta esta duplicidade, e sem pretensões de dar uma definição – e sum uma simples noção prévia -, podemos dizer provisoriamente que o direito penal (legislação penal) é o conjunto de leis que traduzem normas que pretendem tutelar bens jurídicos, e que determinam o alcance de sua tutela, cuja violação se chama “delito”, e aspira a que tenha como consequência uma coerção jurídica particularmente grave, que procura evitar o cometimento de novos delitos por parte do autor. No segundo sentido, direito penal (saber do direito penal) é o sistema de compreensão (ou interpretação) da legislação penal. Ao estabelecer a sanção, igualmente limita o Estado de exercer o seu poder de punição sobre o indivíduo que praticou a infração penal, pois ele fica vinculado ao que a norma estabeleceu como punição. O Direito Penal também busca a proteção da ordem e da paz social, porém ele age como ultima ratio, isto é, o último meio de controle, só podendo ser acionado quando os outros meios legais que regulamentam o convívio humano e protegem bens jurídicos fracassarem. 2.2 Teoria do crime O conceito de crime é o primeiro elemento que deve ser estudado para a compreensão de outros institutos do Direito Penal. A Lei de introdução ao Código Penal (Decreto-lei de nº. 3.914/41) em seu artigo 1º, traz o conceito legal de crime, in verbis: Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, penas de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou cumulativamente. (BRASIL, 1940). Como visto, este Decreto apenas oferece as distinções sobre as penalidades aplicadas para o cometimento de um crime e para o cometimento de uma contravenção penal. Percebe-se um abismo quanto ao conceito de crime, restando vago, sendo, então, necessário que os doutrinadores conceituassem crime. Segundo Cleber Masson (2013, p.63), o crime pode ser prestigiado por três critérios, sendo eles: Critério material ou substancial: De acordo com esse critério, crime é toda ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. (...) com efeito, esse conceito de crime serve como fator de legitimação do Direito Penal em um Estado Democrático de Direito. O mero atendimento da reserva legal se mostra insuficientes. Não basta uma lei para qualquer conduta ser considerada penalmente ilícita – somente se legitima o crime quando a conduta proibida apresentar relevância jurídico-penal, mediante a provocação de dano ou ao menos exposição à situação de perigo em relação a bens jurídicos penalmente relevantes. Critério legal: Segundo esse critério, o conceito de crime é o fornecido pelo legislador. Em que pese o código penal não conter nenhum dispositivo estabelecendo o que se entender por crime, esta tarefa ficou a cargo do art. 1º da Lei de introdução ao código penal – LICP (Decreto-lei 3914, de 9 de dezembro de 1914): considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina isoladamente, pena de prisão simples ou de multa ambas, alternativa ou cumulativamente”. Critério legal e sistema dicotômico: O Direito Penal brasileiro acolheu um sistema dicotômico, ao fracionar o gênero infração penal em duas espécies: crime ou delito e contravenção penal. Os termos crime e delito se equivalem, embora em algumas situações a CF e a legislação ordinária utilizem a palavra delito, impropriamente, como sinônima de infração penal, tal como se verifica no art. 5º, XI, da Lei Suprema, e nos arts. 301 e 302 do CPP. A definição analítica do que é crime é fracionada em duas linhagens: a teoria bipartida e a teoria tripartida. Para a teoria bipartida o crime é um fato típico e antijurídico, não incluindo a culpabilidade. Esta última participa apenas na dosagem da pena. Cleber Masson (2010, p.163) que apoia a teoria bipartida diz: Em primeiro lugar, no Título II da Parte Geral o Código Penal trata “Do Crime”, enquanto logo em seguida, no Título III, cuida “Da Imputabilidade Penal”. Dessa forma, crime é o fato típico e ilícito, independentemente da culpabilidade, que tem a imputabilidade penal como um dos seus elementos. O crime existe sem a culpabilidade, bastando seja o fato típico e revestido de ilicitude. Em igual sentido, ao tratar das causas de exclusão da ilicitude, determina o Código Penal em seu art. 23 que “não há crime”. Ao contrário, ao relacionar-se às causas de exclusão da culpabilidade (arts. 26, caput, e 28, § 1º, por exemplo), diz que o autor é “isento de pena”. Assim sendo, é necessário que o fato típico seja ilícito para a existência do crime. Ausente a ilicitude, não há crime. Por outro lado, subsiste o crime com a ausência da culpabilidade. Sim, o fato é típico e ilícito, mas o agente é isento de pena. Em suma, há crime, sem a imposição de pena. O crime se refere ao fato (típico e ilícito), enquanto a culpabilidade guarda relação com o agente (merecedor ou não de pena). Já para a teoria tripartida, o crime é um fato típico, antijurídico e culpável. Ou seja, a culpabilidade é fração que define o conceito de crime. Apesar de, atualmente, a doutrina bipartida ter sido amplamente utilizada, a doutrina majoritária, bem como a jurisprudência brasileira adotam a teoria tripartida para o conceito analítico de crime. Conceitua o ilustre doutrinador Luiz Augusto Freire Teotônio (2002, p.63): Não é correta a afirmação de alguns doutrinadores de que o finalismo apenas se afina com a corrente, bipartida, que considera a culpabilidade como mero pressuposto de aplicação da pena. Welzel considerado o pai do finalismo, seus discípulos, bem assim os autores que introduziram a doutrina no Brasil, João Mestieri, Heleno Fragoso e Assis de Toledo, entre outros nunca disseram que o crime formava-se apenas pelo fato típico e ilícito, considerando a culpabilidade como um dos seus elementos ou requisitos. Francisco Assis de Toledo (1999, p.80), adota a teoria tripartida, e posiciona-se: Substancialmente, o crime é um fato humano que lesa ou expõe a perigo bem jurídico (jurídico-penal) protegido. Essa definição é, porém, insuficiente para a dogmática penal, que necessita de outra mais analítica, apta a pôr à mostra os aspectos essenciais ou os elementos estruturais do conceito de crime. E dentre as várias definições analíticas que têm sido propostas por importantes penalistas, parece-nos mais aceitável a que considera as três notas fundamentais do fato crime, a saber: ação típica (tipicidade), ilícita ou antijurídica (ilicitude) e culpável (culpabilidade). O crime, nessa concepção que adotamos, é, pois, ação típica, ilícita e culpável. José Frederico Marques (1997, p.201) também defende o conceito tripartido. O autor afirma: Para que o fato típico constitua crime não basta que seja antijurídico. O agente que praticou o fato lesivo de um bem jurídico, só terá cometido um crime se procedeu culposamente. A culpabilidade é inquestionavelmente um dos elementos do crime, e precisamente aquele elemento como diz Bettiol, que exprime, mais que qualquer outro a base humana e moral em que o delito tem suas raízes. A teoria tripartida demonstra, de início, ser a mais isenta de falhas e considera a culpabilidade como sendoum dos elementos inquestionáveis do crime. Apesar de autores dessa teoria defenderem que não existe crime quando o indivíduo é inimputável ou quando o autor do delito estava sob coação moral irresistível. 2.3 Fato Típico O fato típico é toda ação humana a qual se encaixa, com perfeição, em um tipo legal, isto é, há uma perfeita subsunção da conduta humana aos elementos descritos no tipo penal incriminador. Conforme o doutrinador Fernando Capez (2011, p. 136), os elementos do fato típico são: Conduta (dolosa ou culposa) Resultado Relação de causalidade Tipicidade Conforme a teoria final ou finalista, o conceito de conduta parte do pressuposto de que o homem é livre e isto o torna responsável pelos seus atos. Welzel (2015, p. 31 e 32) traz que o ponto principal da teoria finalista é a vontade consciente do fim, o que a transforma em conduta dirigida a um fim. Vejamos: A ação humana é exercício de uma atividade final. A ação é, portanto, um acontecimento final e não puramente causal. A finalidade, o caráter final da ação, baseia-se no fato de que o homem, graças ao seu saber causal, pode prever, dentro de certos limites, as possíveis consequências de suas condutas, designar-lhe fins diversos e dirigir sua atividade, conforme um plano, à consecução desses fins. Graças ao seu saber causal prévio, pode dirigir seus diversos atos de modo que oriente o suceder causal externo a um fim e o domine finalisticamente. A atividade final é uma atividade dirigida conscientemente em razão de um fim, enquanto o acontecer causal não está dirigido em razão de um fim, mas é a resultante causal da constelação de causas existentes em cada momento. A finalidade é por isso – dito graficamente – “vidente”, e a causalidade, “cega.” A médica Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, p. 25) nos traz a descrição de consciência, definindo o estar consciente e o ser consciente: Estar consciente é fazer o uso da razão ou da capacidade de raciocinar e de processar os fatos vivenciados. Estar consciente é ser capaz de pensar e ter ciência das nossas ações físicas e mentais. Na clinica médica, podemos averiguar o estado de aleta ou lucidez de uma pessoa apresenta num determinado momento. Assim, podemos perceber num exame clínico o estado ou nível de consciência, no qual podemos encontrar as seguintes palavras: lúcido, vigil, hipovigil, hipervigil, confuso, coma profundo etc. Todas elas atestam o nível de percepção que remos em relação ao mundo. [...] Ser consciente não é um estado momentâneo em nossa existência [...]. Ser consciente refere-se à nossa maneira de existir no mundo. Está relacionado à forma como conduzimos nossas vidas e, especialmente, às ligações emocionais que estabelecemos com as pessoas e as coisas no nosso dia-a-dia. Ser dotado de consciência é ser capaz de amar! Portanto, conduta é o comportamento humano, consciente e voluntário, destinado a um fim. Fernando Capez traz o conceito de conduta (2013, p. 122-123): É a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, dirigida a uma finalidade. Os seres humanos são entes dotados de razão e vontade. A mente processa uma série de captações sensoriais, transformadas em desejo. O pensamento, entretanto, enquanto permanecer encastelado na consciência, não representa absolutamente nada para o Direito Penal (pensiero non paga gabella; cogitationis poena nemo patitur). Somente quando a vontade libera do claustro psíquico que a aprisiona é que a conduta se exterioriza no mundo concreto e perceptível, por meio de um comportamento positivo, a ação (“um fazer”), ou uma inatividade indevida, a omissão (“um não fazer o que era preciso”). Para o Direito Penal, meros processos causais são irrelevantes. A conduta precisa ser oriunda de dolo ou culpa. Zaffaroni (2006, p. 352) defende que [...] o princípio nullum crimen sine conducta é uma garantia jurídica elementar, pois sem ele, qualquer ato poderia ser considerado crime, desde o pensamento até a forma de ser. Fernando Capez (2011, p.147) também alude sobre o tema: Ao Direito Penal não interessam os resultados produzidos sem dolo ou culpa, porque sua razão maior de existir funda-se no princípio geral da evitabilidade da conduta, de modo que só se devem considerar penalmente relevantes as condutas propulsionadas pela vontade, pois só essas poderiam ter sido evitadas. Em vista disso, conduta típica é o que está escrito na norma, na qual incrimina aquele determinado ato, ou seja, o seu resultado amolda-se perfeitamente a descrição do tipo penal, surgindo então a conduta típica ou fato típico. Quanto ao resultado, genericamente, este é a consequência provocada pela conduta, é a modificação no mundo exterior. O nexo de causalidade consiste no elo entre a conduta e o resultado, é a ação sem a qual o crime não existiria. Conclui-se por tipicidade o perfeito amoldamento entre a conduta realizada e o tipo legal descrito. No entanto, a tipicidade é uma garantia ao direito de liberdade, ela deriva da reserva legal, prevista na Constituição Federal, art. 5º, inciso XXXIX (BRASIL) onde esta prescreve que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Assim, para que haja crime a lei deve existir anteriormente ao fato; portanto descreverá minuciosamente o que o ordenamento jurídico entende por crime e uma vez realizada a conduta descrita no tipo como criminosa haverá a tipicidade. Ao tratarmos do psicopata, sua conduta é inegavelmente dolosa (o dolo consiste na vontade e a consciência de realizar determinadas condutas). Conforme todo o explanado, o psicopata age conscientemente, ele possui o “animus” (vontade de realizar determinada conduta criminosa), visto que é através do crime que ele obterá o resultado que lhe trará satisfação. Logo, a conduta delituosa do psicopata é meramente o meio para alcançar sua pretensão: o desejo de maltratar; ou sua “necessidade” de mostrar que está no comando. 2.4 Ilicitude O segundo elemento do conceito analítico de crime trata-se da ilicitude, que consiste no ato contrário à lei. No conceito de Capez (2011, p. 293): Ilicitude é a contradição entre a conduta e o ordenamento jurídico, pela qual a ação ou omissão típicas tornam-se ilícitas. Em primeiro lugar, dentro da primeira fase de seu raciocínio, o interprete verifica se o fato é típico ou não. Na hipótese de atipicidade, encerra-se, desde logo, qualquer indagação a respeito da ilicitude [...] Pode-se assim dizer que todo fato penalmente ilícito é, antes de mais nada, típico. Se não fosse, nem existiria preocupação em aferir sua ilicitude. No entanto, pode suceder que um fato típico não seja necessariamente ilícito, ante a concorrência de causa excludentes de ilicitude. É o caso do homicídio praticado em legitima defesa, o estado de necessidade e o estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito. O fato, portanto é típico, mas não é ilícito, daí resultando que não há crime. Welzel (2015, p.109) demonstra a relação de antijuridicidade (ilicitude) e culpabilidade: O conceito de culpabilidade acrescenta ao de ação antijurídica – tratando-se de uma ação dolosa ou não dolosa – um novo elemento, que a transforma em delito. A antijuridicidade é, como vimos, uma relação de discordância entre a ação e o ordenamento jurídico: a realização da vontade não é como objetivamente espera o Direito que sejam as relações no âmbito social. A culpabilidade não se conforma com essa relação de discordância objetiva entre a ação e o ordenamento jurídico, mas lança sobre o autor a reprovabilidade pessoal por não haver omitido a ação antijurídica apesar de tê-la podido omitir. A culpabilidade contém, pois, dupla relação: a reação do autor não é como exige o Direito, apesar de o autor ter podido realiza-la de acordo com a norma. Nessa dupla relação, do não dever ser antijurídica com o poder ser licita, consiste o caráter especifico de reprovabilidade da culpabilidade. Uma das característicascomportamentais do psicopata é o desrespeito às normas. Ele não gosta de regras e não as obedece, sejam elas de caráter jurídico ou de convívio social. Sua conduta sempre será oposta ao ordenamento jurídico – ilícita – isto por escolha própria. Muitos psicopatas procuram nos atos perigosos, proibidos ou ilegais que praticam o suspense e a excitação que tais ações causam. Para eles, tudo isso não passa de mero prazer e diversão imediatos, sem qualquer outra conotação. A prática de seus crimes é sempre para a sua autossatisfação. Eles querem praticar o crime e nunca estão acobertados por uma excludente de ilicitude, pois, embora seja um fato típico, não é ilícito, isto por derivarem de uma legítima defesa, um estado de necessidade, que são casos totalmente distintos da realidade do psicopata. Portanto, conclui-se que o psicopata, mesmo compreendendo o caráter ilícito do fato, isto é, mesmo entendendo que sua atitude é contrária à lei, é tipificada como criminosa, ainda assim ele escolhe pela sua prática. 2.5 Culpabilidade Após esboçar sobre os elementos analíticos do crime, finalmente chegamos ao terceiro elemento que é a culpabilidade, originária de uma evolução histórica e constante. Na antiguidade, a culpa tratava-se do simples ato lesivo praticado pelo autor. Não se apreciava a culpa como forma de responsabilização. Assim, bastava que o ato praticado causasse algum dano para que o sujeito fosse responsabilizado. Foi com o decorrer do tempo e da evolução histórica que hoje se adquiriu a possibilidade de aplicar uma penalidade somente a quem, com sua conduta, poderia ter evitado o resultado, não o culpando, assim, de imediato, pelo resultado de seu comportamento. A culpabilidade consiste na reprovabilidade da conduta, é o juízo de censurabilidade, isto é, a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de um ilícito penal. Capez (2011, p. 317) traz um breve senso sobre a culpabilidade: Quando se diz que “Fulano” foi o grande culpado pelo fracasso de sua equipe ou de sua empresa, está atribuindo-se-lhe um conceito negativo de reprovação. A culpabilidade é exatamente isso, ou seja, a possibilidade de se considerar alguém culpado pela prática de uma infração penal. Ainda sobre os ensinamentos do Fernando Capez (2011, p. 327), apresenta-se o conceito de culpabilidade: A culpabilidade é vista como a possibilidade de reprovar o autor de um fato punível porque, de acordo com as circunstâncias concretas, podia e devia agir de modo diferente. Funda-se, portanto, na possibilidade de censurar alguém pela causação de um resultado provocado por sua vontade ou inaceitável descuido, quando era plenamente possível que o tivesse evitado. Sem isso, não há reprovação e, por conseguinte, punição. Sem culpabilidade não pode haver pena (nulla poena sine culpa), assim como sem dolo ou culpa não existe também o crime (nullum crime sine culpa). Nas palavras de Nucci (2011, p. 300): Trata-se de um juízo de reprovação social, incidente sobre o fato e seu autor, devendo o agente ser Imputável, atuar com consciência potencial de ilicitude, bem como ter a possibilidade e a exigibilidade de atuar de outro modo, seguindo as regras impostas pelo Direito (teoria normativa pura, proveniente do finalismo). Quando um sujeito imputável pratica um ato com potencial consciência da ilicitude ou que poderia agir de outra forma e causa dano a outrem, este deverá ser responsabilizado pelo ato praticado. Segundo a teoria adotada pelo Código Penal (teoria limitada da culpabilidade) os elementos normativos da culpabilidade são três: 1.) Imputabilidade 2.) Potencial consciência da ilicitude , 3.) Exigibilidade de conduta diversa Embora a culpabilidade seja formada por três elementos normativos (imputabilidade, potencial consciência da ilicitude do fato e exigibilidade de conduta diversa), neste presente trabalho o estudo será realizado apenas acerca do primeiro, pois na complexidade do tema psicopatia destaca-se a imputabilidade, sendo neste elemento que se encontram divergências de tipificação tanto na doutrina, quanto na jurisprudência. A tipificação dada ao psicopata no caso concreto é de extrema importância, visto que ela acarretará qual sanção deve ser imposta a ele. Existem correntes que entendem que o psicopata é imputável, assim responderá pelo crime normalmente e a sua sanção é a restrição de liberdade comum, como de qualquer outro criminoso. Em contrapartida, algumas correntes defendem que o psicopata é semi-imputável, portanto, está excluído um dos elementos normativos da culpabilidade, qual seja, a imputabilidade. Em torno disto, a ele caberá uma pena de medida de segurança – absolvição imprópria – ou uma diminuição da pena se for condenado à restrição de liberdade. 2.6 Imputabilidade A imputabilidade, sendo um dos elementos da culpabilidade, pode ser compreendida como a capacidade de o agente entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se conforme aquele entendimento. Consequentemente, em decorrência do ato praticado irá sofrer as sanções cabíveis ao delito. Portanto, imputabilidade é a possibilidade de responsabilizar alguém pela prática de um fato típico e ilícito. Assim, o sujeito que praticar um fato típico e ilícito só sofrerá uma sanção se este for imputável. Acerca do conceito de imputabilidade, Cleber Masson (2013, p. 183) discorre que: É a capacidade mental, inerente ao ser humano de, ao tempo da ação ou omissão, entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Dessa forma a imputabilidade penal depende de dois elementos: 1º) intelectivo: é a integridade biopsíquica, consistente na perfeita saúde mental que permite ao indivíduo o entendimento do caráter ilícito do fato; e 2º) volitivo: é o domínio da vontade, é dizer, o agente controla e comanda seus impulsos relativos à compreensão do caráter ilícito do fato, determinando-se de acordo com esse entendimento. Esses elementos devem estar simultaneamente presentes, pois, na falta de um deles, o sujeito será tratado como inimputável. O Brasil adotou um critério cronológico. Toda pessoa, a partir do início do dia em que completa 18 anos de idade, presume-se imputável. Nas palavras de Fernando Capez (2011, p. 331) a imputabilidade é: A capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. O agente deve ter condições físicas, psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal. Mas não é só. Além dessa capacidade plena de entendimento, deve ter totais condições de controle sobre sua vontade. Em outras palavras, imputável é não apenas aquele que tem capacidade de intelecção sobre o significado de sua conduta, mas também de comando da própria vontade, de acordo com esse entendimento [...] A imputabilidade apresenta, assim, um aspecto intelectivo, consistente na capacidade de entendimento, e outro volitivo, que é a faculdade de controlar e comandar a própria vontade. Faltando um desses elementos, o agente não será considerado responsável pelos seus atos. O doutrinador Damásio de Jesus (2000, p.143) aduz sobre os fundamentos da imputabilidade: Imputar é atribuir a alguém a responsabilidade de alguma coisa. Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente capacidade para lhe ser juridicamente imputada a pratica de um fato punível, e ainda, imputável é o sujeito mentalmente são e desenvolvido que possui capacidade de saber que sua conduta contraria os mandamentos da ordem jurídica. Desta maneira, a imputabilidade apresenta-se pela formação de dois aspectos: um é o intelectual, consistente na capacidade de entendimento; e o outro é o volitivo, que é a capacidade de controlar e comandar a própria vontade. Feito toda essa explanação a respeito da imputabilidade e a conjugando com os aspectos do psicopata, conclui-se que o portador da psicopatia é imputável, visto que: ele atende ao elemento intelectual, bemcomo o volitivo, isto é, entende o caráter ilícito do fato, sabe que a sua conduta é errada, mas ainda assim prefere fazê-la. Quanto ao elemento volitivo, o psicopata também tem controle. Isto é visível ao notar o quanto ele planeja um crime antes de cometê-lo. É um exemplo claro de controle da vontade, pois ele a tem para praticar determinado crime, mas, se há possibilidade de ser flagrado, ou não ter êxito, ele deixa para um novo momento, no qual seu plano será executado perfeitamente. Dando um exemplo real de que o psicopata tem controle da sua vontade temos o caso do maior serial killer da história brasileira, que é Francisco de Assis Pereira, conhecido popularmente como “O Maníaco do Parque”. Edílson Mogenot Bonfim, então promotor de justiça do caso, disponibilizou para a matéria do G1 um vídeo do último julgamento do réu, realizado no dia 24 de julho de 2002, no qual Francisco respondia por mortes e estupros de 16 mulheres em 1998. Em debates orais o representante do Ministério Público pede aos jurados que votem pela imputabilidade do agente, para que assim ele possa responder normalmente pelos atos cometidos e, consequentemente, ir para uma prisão comum. O laudo psiquiátrico do autor atestou que ele tinha transtorno de personalidade antissocial, que é uma das nomenclaturas dadas à psicopatia. Em plenário, Edílson contestou o documento dizendo que: o laudo dele é um dos mais belos erros psiquiátricos e médico-legais que eu já vi na minha vida (MOGENOT, 2002). Quanto à autodeterminação, no laudo constou que o domínio da vontade do réu era parcial. Então, asseverou o promotor, discordando: Eu tenho muitos psiquiatras no Brasil e fora do Brasil para dizer que esse homem tem controle de seus atos e deve ser punido na integralidade da pena que permite a legislação brasileira. Como que aquela moça, diz para ele que está com Aids, ele vai a estuprar e se controla? É...?! Ai ele pode ser entendido como normal? Pode. (MOGENOT, 2002). O Promotor de Justiça ainda alegou em suas falas que: É no momento de frustração de perda de emprego, que uma das moças está no Parque do Estado, sem ninguém para conversar, rezando para aparecer um emprego, e aparece ele, com uma proposta, com boa lábia, oferecendo para ir ao Parque do Ibirapuera, ai ele pode ser entendido como anormal?(MOGENOT, 2002). Ainda em protesto à semi-imputabilidade do motoboy, Mogenot afirmou [...] eu conheço réu como esse. Não vai sarar. Não vai se curar. Porque não tem doença. Sabe muito bem controlar a sua vontade. É capaz até de enganar psiquiatras desavisados. (MOGENOT, 2002) A psicopatia é totalmente distinta do caso de dependentes químicos, que apesar de entenderem o caráter ilícito do fato, não têm a capacidade de comandarem e controlarem a sua própria vontade. Assim, chegam a praticar roubos em qualquer momento e contra quem quer que seja para obterem recursos financeiros e adquirirem os entorpecentes. Tornam-se escravos das suas vontades, sem liberdade de autodeterminação e comando sobre elas. O caso da psicopatia não é o desconhecimento da lei, nem o desentendimento do caráter ilícito do fato, tampouco descontrole da própria vontade, pois, como já foi visto, tudo isso o psicopata compreende perfeitamente. A psicopatia é relativa aos sentimentos e ter empatia pelo próximo que, no psicopata, percebe-se ausente. É comum dizer que o psicopata tem uma predisposição a atos violentos e ao crime, mas isso não se confunde com a falta de controle da própria vontade, pois até mesmo quando eles cometem seus crimes impelidos por alguma emoção, estas são poucas e não são verdadeiras. Assim sendo, a respeito do entendimento do psicopata sobre o caráter ilícito do fato e ao controle da própria vontade, destaca SILVA (2011, pg. 80. Grifo nosso.): Quando um psicopata apresenta um ataque de "fúria", chegamos a pensar que ele teve um "ataque súbito de loucura". Mas não se iluda, ele sabe exatamente o que está fazendo. Suas demonstrações de agressividade, ao mesmo tempo em que são intensas na expressão, são pobres na emoção. Rapidamente eles se recompõem, até porque lhes falta a verdadeira emoção vivenciada pelas pessoas comuns quando estas perdem a cabeça e realmente perdem o controle, o psicopata nunca perde o controle. Já Hare aduz que (2013, p. 38.): [...] Os psicopatas não são pessoas desorientadas ou que perderam o contato com a realidade; não apresentam ilusões, alucinações ou a angústia subjetiva intensa que caracterizam a maioria dos transtornos mentais. Ao contrário dos psicóticos, os psicopatas são racionais, conscientes do que estão fazendo e do motivo que agem assim. Seu comportamento é resultado de uma escolha exercida livremente. Portanto, quando uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia desrespeita as normas sociais, digamos, mata alguém que está passando na rua, em resposta a ordens “recebidas de um marciano em uma espaçonave”, concluímos que essa pessoa não é responsável “por motivo de insanidade”. Já quando alguém com diagnostico de psicopata desrespeita essas mesmas normas, ele é considerado uma pessoa sã e mandado para a prisão. Conforme estes dois especialistas da área da saúde mental, os psicopatas são extremamente inteligentes, sua parte cognitiva é perfeita, assim como o seu intelectual, ou seja, eles entendem perfeitamente o que fazem; e possuem o elemento volitivo íntegro. Então, todo ato é por escolha, agem com vontade de praticar o crime e ferir direitos alheios. Além das citações dos especialistas da área psiquiátrica, ainda atesta o Jurista Nucci (2005, p. 256) que: não há que se falar de excludente de culpabilidade, mormente porque não afeta a inteligência e a vontade do agente psicopata. Por fim, o psicopata é inteiramente capaz de entender e de querer o que faz, ele tem total compreensão de que o que está realizando é errado e tem também capacidade de se motivar de acordo com esse entendimento. Porém o que ele faz é vituperar todos estes elementos. Vejamos o posicionamento da jurisprudência do ilustríssimo Tribunal de Justiça do Estado de Tocantins: APELAÇÃO CRIMINAL. HOMICÍDIO QUALICADO CONSUMADO E HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. ALEGAÇÃO DE VEREDICTO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIO À PROVA DOS AUTOS. NÃO RECONHECIMENTO DA SEMI-IMPUTABILIDADE PELOS JURADOS. RÉU DIAGNOSTICADO COMO PISCOPATA. IRRELEVÂNCIA. EXISTÊNCIA DE LAUDO PSIQUIÁTRICO INDICANDO QUE O RÉU TINHA CAPACIDADES COGNITIVA E VOLITIVA PRESERVADAS. VEREDICTO DOS JURADOS AMPARADO EM PROVA CONSTANTE DOS AUTOS. VEREDICTO MANTIDO. 1. A doutrina da psiquiatria forense é uníssona no sentido de que, a despeito de padecer de um transtorno de personalidade, o psicopata é inteiramente capaz de entender o caráter ilícito de sua conduta (capacidade cognitiva). 2. Amparados em laudo psiquiátrico atestando que o réu possuía, ao tempo da infração, a capacidade de entendimento (capacidade cognitiva) e a capacidade de autodeterminar-se diante da situação (capacidade volitiva) preservadas, os jurados refutaram a tese da semi-imputabilidade, reconhecendo que o réu era imputável. 3. Não merece qualquer censura a sentença proferida pelo Presidente do Tribunal do Júri que deixou de reduzir a reprimenda pela causa prevista no art. 26, parágrafo único, do Código Penal, se o soberano conselho de sentença não afastou a tese da semi-inimputabilidade do réu. Precedentes do TJDFT. 4. Existindo duas teses contrárias e havendo plausibilidade na escolha de uma delas pelo Tribunal do Júri, não pode a Corte Estadual cassar a decisão do conselho de sentença para dizer que esta ou aquela é a melhor solução, sob pena de ofensa ao princípio constitucional da soberania dos veredictos (art. 5º, XXXVIII, CF). 5. O Júri é livre para escolher a solução que lhe pareça justa, ainda que não seja melhor sob a ótica técnico-jurídica, entre as teses agitadas na discussão da causa. Esse procedimento decorre do princípio da convicção íntima. 6. Pretensão recursal de cassação do julgamento improvida. ALEGAÇÃO DE VEREDICTO MANIFESTAMENTE CONTRÁRIOÀ PROVA DOS AUTOS, PELA INEXISTÊNCIA DE PROVAS QUANTO ÀS QUALIFICADORAS. DESCABIMENTO. PROVAS SUFICIENTES QUANTO À CONFIGURAÇÃO DAS QUALIFICADORAS REFERENTES AO MOTIVO TORPE E À DISSIMULAÇÃO. 1. Adequada a incidência da qualificadora do motivo torpe, em razão da existência de provas dando conta de que o crime foi praticado pelo ciúme obsessivo nutrido pelo apelante em razão do relacionamento de sua prima e ex namorada com outrem. Precedentes. 2. Resta configurada a dissimulação quando o agente, a pretexto de falsa trégua, dissimuladamente atrai as vítimas com a finalidade de obter aproximação física com elas, viabilizando a prática dos homicídios, um tentado e o outro consumado. ALEGAÇÃO DE ERRO NA FIXAÇÃO DA PENA. PRIMEIRA FASE. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. ALEGAÇÃO DE FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. DESCABIMENTO. PROCEDIMENTO DE INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA CORRETO. OBSERVÂNCIA DO DISPOSTO NO ART. 59 DO CÓDIGO PENAL. FUNDAMENTAÇÃO VINCULADA E CORRETA. 1. Não há que se falar em reforma da dosimetria da pena quando referido 1/2 procedimento foi elaborado em total consonância com os artigos 59 e 68 do Código Penal, bem como com os artigos 5º, inciso XLVI; e 93, inciso IX, ambos da Constituição Federal. 2. O juiz sentenciante dispõe de discricionariedade na análise das circunstâncias judiciais e na fixação das penas, desde que o faça com estrita observância das diretrizes dos artigos 59 e 68 do Código Penal. 3. A circunstância judicial relativa à conduta social refere-se ao comportamento do agente no seio social, familiar e profissional. Revela-se por seu relacionamento no meio em que vive, tanto perante a comunidade, quanto perante sua família e seus colegas de trabalho. Assim, é suficiente para exasperação da pena-base o fato de o agente não estudar, não exercer qualquer ocupação lícita e levar vida desregrada. 4. As consequências do crime devem ser consideradas desfavoráveis ao agente quando um ente é brutal e intempestivamente retirado do seio familiar, gerando traumas e sequelas que dificilmente serão superadas. Alegar que o trauma e a sequela, carecem de maior fundamentação a justificá-las é atender a anseios demasiadamente garantistas, eis que somente a família da vítima pode dimensionar o sofrimento decorrente da perda da mesma. 5. A premeditação é elemento concreto apto a justificar a exasperação da penabase a título de circunstâncias do crime. Precedentes do STJ. 6. A circunstância judicial relativa à personalidade do agente pode ser aferida a partir do modo de agir do réu no evento delituoso. Assim, deve o juiz sentenciante avaliar a insensibilidade acentuada, a maldade, a desonestidade, a cupidez ou a perversidade demonstrada e utilizada pelo criminoso na consecução do delito, sendo dispensável, portanto, a submissão do réu a exame psiquiátrico ou psicológico para se chegar a tal conclusão. Precedentes do TJTO. 7. De acordo com a posição majoritária da doutrina e da jurisprudência, a continuidade delitiva é uma ficção jurídica, de modo que, a despeito da pluralidade de crimes, considera-se a existência de um só delito, conforme o preenchimento dos requisitos objetivos (delitos da mesma espécie, condições de tempo, lugar e modo de execução semelhantes) e, ainda, subjetivos (unidade de desígnios). Com isso, adotou-se a teoria mista ou objetivo-subjetiva. Precedentes STJ. 8. Não há que se falar em continuidade delitiva, no caso concreto, quando restou comprovado que o agente possuía desígnios autônomos. Mantido, pois, o concurso material (art. 69, CP). 9. Apelação conhecida e improvida. (AP 5004417- 64.2012.827.0000, Rel. Juíza convocada ADELINA GURAK, 5ª Turma da 1ª Câmara Criminal, julgado em 10/02/2015). 2/2 (TJ-TO - APR: 50044176420128270000, Relator: ADELINA MARIA GURAK) Conforme demonstrado, a defesa que pleiteava a diminuição da pena, não obteve êxito, mantendo-se a decisão do conselho de sentença, que entendeu o psicopata como imputável. 2.7 Inimputabilidade O Código Penal, a partir do artigo 26, trabalha a respeito da imputabilidade penal. No caput do respectivo texto normativo encontramos a figura dos inimputáveis e, no paragrafo único, localizamos os semi-imputáveis. Neste sentido, há três causas de inimputabilidade no Código Penal, que são encontradas no art. 26, in verbis: Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940) Neste sentido, sobre a inimputabilidade, explica Damásio E. de Jesus (1999, p. 499) que: Não havendo a imputabilidade, primeiro elemento da culpabilidade, não há culpabilidade e, em consequência, não há pena. Assim, em caso de inimputabilidade, o agente que praticou o fato típico e antijurídico deve ser absolvido, aplicando-se medida de segurança. Segundo o artigo supracitado, os inimputáveis são pessoas que possuem doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Na ciência Médica, o doente mental é portador de um sofrimento psíquico. Já para o Direito, é o sujeito que não consegue entender as regras impostas pela sociedade ou ordenamento jurídico. Em regra, ao completar 18 anos de idade todo agente é imputável. A exceção está nas causas dirimentes (causas que excluem a imputabilidade). Portanto, a capacidade penal é obtida por exclusão, sempre que não houver uma das causas excludentes da culpabilidade, que são: 1ª) Doença mental; 2ª) Desenvolvimento mental incompleto; 3ª) Desenvolvimento mental retardado; 4ª) Embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior. Masson (2013, p. 26) traz o seu entendimento sobre doença mental: A expressão doença mental deve ser interpretada em sentindo amplo, englobando os problemas patológicos e também os de origem toxicológica. Ingressam nesse rol (doença mental) todas as alterações mentais ou psíquicas que suprimem do ser humano a capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com esse entendimento. A doença mental pode ser permanente ou transitória, devendo existir ao tempo da pratica da conduta para acarretar no afastamento da imputabilidade. No quesito inimputável por desenvolvimento mental incompleto Masson (2013, p. 26) entende que: O desenvolvimento mental incompleto abrange os menores de 18 anos e os silvícolas. Para os menores de 18 anos de idade a regra é inócua, pois deles já cuidam o art 228 da Constituição Federal e o art. 27 do Código Penal. Os silvícolas, por outro lado, nem sempre serão inimputáveis. Depende do grau de assimilação dos valores sociais, a ser revelado pelo exame pericial. Destarte, dependendo da conclusão da perícia, o silvícola pode ser: a) imputável: se integrado à vida em sociedade ; b)semi-imputável: no caso de estar dividido entre o convívio na tribo e na sociedade ; e c) inimputável: quando completamente incapaz de viver em sociedade, desconhecendo as regras que lhe são inerentes. E no que tange a desenvolvimento mental retardado, Masson (2013, p. 27) aduz sobre: Desenvolvimento mental retardado é oque não se compatibiliza com a fase da vida em que se encontra determinado indivíduo, resultante de alguma condição que lhe seja peculiar. A pessoa não se mostra em sintonia com os demais indivíduos que possuem sua idade cronológica. De fato, o retardo mental é uma condição de desenvolvimento interrompido ou incompleto da mente, especialmente caracterizada por um comprometimento de habilidades manifestadas durante o período de desenvolvimento, as quais contribuem para o nível global da inteligência, isto é, aptidões cognitivas, de linguagem, motorase sociais. A expressão “desenvolvimento mental retardado” compreende as oligofrenias em suas mais variadas manifestações (idiotice, imbecilidade e debilidade mental propriamente dita), bem como as pessoas que, por ausência ou deficiência dos sentidos, possuem deficiência psíquica, como se dá com o surdo-mudo. A inimputabilidade é uma das formas que permite a exclusão da culpabilidade. Bitencourt (2015, p. 474) traz a definição desses sistemas: O sistema biológico condiciona a responsabilidade à saúde mental, à normalidade da mente. Se o agente é portador de uma enfermidade ou grave deficiência mental, deve ser declarado irresponsável, sem necessidade de ulterior indagação psicológica. O sistema psicológico não indaga se há uma perturbação mental mórbida: declara a irresponsabilidade se, ao tempo do crime, estava abolida no agente, seja qual for a causa, a faculdade de apreciar a criminalidade do fato (momento intelectual) e de determinar-se de acordo com essa apreciação (momento volitivo). E o sitema biopsicológico é a reunião dos dois primeiros: a responsabilidade só é excluída se o agente em razão de enfermidade ou retardamento mental, era no momento da ação, incapaz de entendimentos ético-jurídico e autodeterminação Como o Código Penal adotou a teoria biopsicológica, não basta tão somente que o agente sofra de uma enfermidade mental. É ainda necessário que esse transtorno, no tempo da ação ou da omissão, afete a sua capacidade de compreender o caráter ilícito do fato (requisito intelectual, que é a capacidade de entender as proibições) ou de determinar-se segundo aquele entendimento (requisito volitivo, que é o domínio da vontade). Portanto, para verificação da inimputabilidade é necessário a perícia médica que cuidará do biológico (existência de problema ou anomalia mental), e ao juiz caberá a valoração quanto ao psicológico. Assim, haverá uma junção das duas atividades: laudo médico e aferição psicológica realizada pelo juiz. Destarte, é necessário ressaltar a cautela que se deve ter quanto à valoração da parte psicológica dos psicopatas, não quanto à existência de qualquer tipo de doença mental, mas sim pelo fato de que uma das grandes características deles é a manipulação e dissimulação. Eles conseguem se passar por “loucos” em uma perícia psicológica, pois sabem exatamente como se posicionar para assemelharem-se a um portador de doença mental e não um portador de transtorno da personalidade, que é exatamente o que acontece no caso do psicopata. Uma das correntes existentes defende a psicopatia como doença mental, o que não se faz verdade, conforme Hare explica a respeito dos psicopatas: Não apresentam sinais de psicose de qualquer tipo. Seu pensamento é lógico e convincente. [...]. Expressam serenidade e bem estar físico. Não se observam indícios de angústia ou ansiedade, fenômenos histéricos ou atos obsessivos compulsivos. Comunicam impressão de absoluta tranquilidade. (2013, p. 38) Conforme todo o estudo já realizado, foi possível apresentar doutrinadores que mostraram que o psicopata não é portador de nenhuma doença mental, tampouco alguma anomalia. Ainda, ao discorrer sobre os conceitos dados por Cleber Masson quanto às causas dirimentes, mais uma vez é possível salientar que o psicopata é incapaz de se amoldar à figura do inimputável, vez que, à luz da Ciência Médica, ele não é um doente mental, e sim portador de um transtorno da personalidade (ausente, portanto, o elemento biológico). Quanto ao Direito Penal, presentes os requisitos intelectual e volitivo. Logo, os magistrados, ao analisarem a parte psicológica e sabendo tratar-se de um psicopata, entendem suas palavras e dissimulações como inócuas, não trazendo, assim, elas, o socorro necessário para que o réu seja amoldado ao caso do inimputável. 2.8 Semi-imputabilidade A semi-imputabilidade prevista no artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, é um dos ápices da discussão doutrinária e jurisprudencial. O debate centraliza-se no fato de não se considerar, o psicopata, imputável, mas sim, semi-imputável. Essa incógnita é devido às discordâncias de posicionamentos sobre o psicopata entender ou não o caráter ilícito do fato e agir conforme aquele entendimento. Capez (2011, p. 346) traz o conceito de semi-imputabilidade ou responsabilidade diminuída: É a perda de parte da capacidade de entendimento e autodeterminação, em razão de doença mental ou de desenvolvimento incompleto. Alcança os indivíduos em que as perturbações psíquicas tornam menor o poder de autodeterminação e mais fraca a resistência interior em relação à pratica do crime. Na verdade, o agente é imputável e responsável por ter alguma noção do que faz, mas sua responsabilidade é reduzida em virtude de ter agido com culpabilidade diminuída em consequência das suas condições pessoais. A semi-imputabilidade não exclui a imputabilidade, portanto o agente será condenado pelo fato típico e ilícito que tenha cometido. Porém, o fato de ter a capacidade de compreensão ou vontade reduzida acarretará em uma diminuição da pena de 1/3 a 2/3 ou poderá impor-se medida de segurança. Embora seja grande o número de pessoas que entendam a psicopatia como causa de semi-imputabilidade, desde do ponto de vista cientifico até o psicológico, o psicopata é tido como totalmente capaz, pois todas suas funções operam perfeitamente, sejam as funções do pensamento ou da percepção. Todas estão integralmente preservadas. Portanto, como já foi demonstrado em estudo anterior, o psicopata age friamente em busca do seu resultado, mas age consciente, entende que é errado, tem condição de controlar sua vontade e não fazer e, como essa capacidade é plena, impedido está de ser amoldado à figura da semi-imputabilidade, pois nela ele precisaria ter uma redução quanto ao entendimento do caráter ilícito ou de determinar-se conforme este entendimento. Diante de todo o explanado, Trindade ainda fomenta o tema (2009, p. 133): A semi-imputabilidade aplica-se a impulsos mórbidos, ideias prevalentes e descontrole impulsivo somente quando os fatos criminais se devem, de modo inequívoco, a comprometimento parcial do entendimento e da autodeterminação. Nos delitos cometidos por psicopatas – convém registrar – verifica-se pleno entendimento do caráter ilícito dos atos e a conduta está orientada por esse entendimento (premeditação, escolha de ocasião propícia para os atos ilícitos, deliberação consciente e conduta sistemática). Portanto, do ponto de vista psicológico-legal, psicopatas devem ser considerados imputáveis. Por fim, o psicopata não se enquadra à semi-imputabilidade, uma vez que seus sistemas volitivo e cognitivo funcionam integralmente em perfeito estado, ficando afastado, assim, o pressuposto que amolda a sua figura ao semi-imputável, que tem reduzido o entendimento do caráter ilícito do fato ou de determinar-se conforme aquele entendimento. � Capítulo III A SANÇÃO PENAL APLICADA AO PSICOPATA A função primordial do Ordenamento Jurídico é regular a conduta dos indivíduos passivos de sua orientação, visando uma sociedade em equilíbrio. Inteligentemente, Cesare Beccaria (2011, p 27), leciona: É melhor prevenir os crimes do que ter de puni-los; e todo legislador sábio deve procurar antes impedir o mal do que repará-lo, pois uma boa legislação não é senão a arte de proporcionar aos homens o maior bem estar possível e preservá-los de todos os sofrimentos que se lhes possam causar, segundo o cálculo dos bens e dos males da vida. A pena é consequência de natureza punitiva imposta pelo Estado para reprimir a prática de infrações penais, garantindo, outrossim, o equilíbrio social, reprimindo o indivíduo que cometer fato típico, ilícito e culpável. A fim de garantir o seu ius puniendi, o Estado considera preceitos constitucionais, visto que a Carta Magna garante alguns direitos de importância primordial para a dignidade do ser humano. Origem da pena Este tópico nos fará entender que a pena é umaforma de proteção. Historicamente, não é possível fixar uma data certa à origem da pena, pois seus locais de origem são diversos, sendo poena ou punere – origem latina, ou ponos poiné – origem grega. José Antônio Paganella Boschi (2006, p. 91) explicita uma importante opinião para o presente trabalho: No entanto, independentemente de sua origem, voltando ao passado mais distante do homem, o primeiro pecado que equivale a uma das primeiras formas de pena, foi o pecado de Adão e Eva, quando não resistiu e comeu o fruto proibido da arvore do bem e do mal; portanto, desde o tempo antigo nas Sagradas Escrituras, até os dias atuais, o homem sempre teve punições pelos delitos praticados, mudando apenas a forma e a quantidade da punição que os povos aplicavam. Os fundamentos que sustentam a pena foram inúmeras vezes alterados pelas sociedades, desde o tempo mais primórdio até atualmente, atravessando fases como a vingança divina, vingança privada, vingança pública e período humanitário. Francesco Carrara (2002, p. 53) expõe sobre as diversas formas de vingança que: Sempre, porém, em todo o curso de tal processo de ideias, perseverou-se em considerar a vingança como eixo dominante na punição dos delinquentes; e decorreram séculos sob a fórmula da vingança privada, divina ou pública, sem muito se preocupar com a legitimidade jurídica das punições. Segundo Oswaldo Henrique Duek Marques, o homem primitivo na sua fase mais elementar: Encontrava-se muito ligado à sua comunidade, pois fora dela sentia-se desprotegido dos perigos imaginários. Essa ligação refletia-se na organização jurídica primitiva, baseada no chamado vínculo de sangue, representado pela recíproca tutela daqueles que possuíam uma descendência comum. Dele se originava a chamada vingança de sangue, definida por Erich Fromm como um dever sagrado que recai num membro de determinada família, de um clã ou de uma tribo, que tem de matar um membro de uma unidade correspondente, se um de seus companheiros tiver sido morto. (DUEK MARQUES, 2008. p. 9-10). Com a organização política da sociedade, a pena ganhou também um fundamento político, passando a controlar o poder de punição do Estado. Nesta época, a pena era orientada à estabilidade do Estado e à segurança do Príncipe. Sua composição era formada pela força do Soberano e pelo alto índice de brutalidade a ser empregado a seus subordinados. Segundo Mariano Ruiz Funes (1953, p. 45): As penas do passado são transpessoais. Ignoram o homem e só se propõem a sua destruição ou a sua mutilação. Tratam de associar o delito à representação duma dor física e à sua recordação. Deste modo, vingam pelo sofrimento o fato criminoso e pensam que a marca desse sofrimento será bastante para impedir as futuras condutas criminosas. Ante as formas supracitadas, as unidades sociais que compartilhavam de algo em comum empregavam as penas como algo natural, resultado de normas precedentes, sem considerar aquilo que era proporcional ou razoável, mas com grande preocupação quanto à necessidade de trazer aflição àquele indivíduo como forma de correção. Iserhard (2005, p. 31) afirma: A partir da pena de talião, foi que se deu o início da penalidade na origem do direito escrito dos povos, como forma de restrição a ofensa, onde se punia o condenado com um mal idêntico ao praticado. O tão conhecido olho por olho, dente por dente. Esse método foi adotado no Código de Hamurabi, na Lei das XII Tábuas e no Êxodo, e mesmo que atingisse somente o condenado, e a forma fosse proporcional ao crime praticado, ainda era rigorosa demais. Depois do talião, nasceu a pena de composição como uma alternativa às penas corporais e de vingança Essa é considerada uma das origens mais antigas, porém modernas, formas de indenização. Na composição, as pessoas poderiam adquirir pecuniariamente sua liberdade, fosse em dinheiro, fosse em bens economicamente valorosos para as famílias da vítima. As regras da época é que se aplicavam para a fixação de quantia. Segundo Inácio de Carvalho Neto (2013, p.9): Somente na Revolução Francesa foi que as penas cruéis tiveram fim, após a chegada deste novo período, chegou junto com ele princípios da liberdade, fraternidade e igualdade, dessa forma, a pena abandonou sua base teológica e adquiriu o fim utilitário, foi neste momento em que o homem passou a tomar ciência do problema penal. Antônio Maria Iserhard (2005, p. 38) sustenta: Uma figura extremamente importante neste meio é Cesare Bonesana, mais conhecido como Marques de Beccaria, nascido em Milão, em 1738, autor do famoso livro “Dei Delitti e dele pene”, filosofo e seguidor das ideias de Montesquieu e Rousseau, em seu ponto de vista, a pena servia como um meio de evitar que o indivíduo recaísse e cometesse o mesmo erro, e não como uma punição imposta por ter cometido o erro, desta forma, as penas seriam mais justa e útil quanto mais rápida e próxima estivesse do crime. Constatou que as penas teriam que ser proporcionais entre elas mesmas e os crimes praticados. A visão e ideais libertadores criaram um marco drástico no Direito Penal, dividindo passado e futuro. Suas características principais são os pressupostos da Filosofia e a sociedade portadora do direito de punir. Conceito de pena Pena é uma forma de punição, disseminada pelas sociedades politicamente organizadas através do Direito Penal, sendo a última instância legitimada a possuir todo o seu controle. Aníbal Bruno apresenta a pena como sendo [...] a sanção consistente na privação de determinados bens jurídicos, que o Estado impõe contra a prática de um fato definido como crime. (2005, p. 182). A pena é a aplicação jurídica consequente mais importante do delito, na qual passa a existir possibilidade de aplicação somente após a prática de ato violador da norma penal, ou seja, para existir o direito punitivo é absolutamente necessário que exista crime anterior. No instante em que o indivíduo comete o tipo descrito na Lei, o Estado adquire o direito de punir, pois cabe a ele a responsabilidade e obrigação de garantir a segurança, preservação e paz social. O Estado exerce esse direito de punir através da sanção penal, que por sua vez é executada através das penas restritivas de direito, privativas de liberdade ou multa, conforme o artigo 32, caput e seus incisos, todos do Código Penal Brasileiro vigente, in verbis: Art. 32. As penas são: I - privativas de liberdade; II - restritivas de direitos; III – multa. (BRASIL, 1940). Temos, também, o artigo 5°, caput, inciso XLVI e alíneas, todos da Constituição Federal Brasileira de 1988, que acrescenta outras espécies. Vide: Art. 5º, XLVI - A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e) suspensão ou interdição de direitos. (BRASIL, 1988) Rogério Lauria Tucci, a respeito do poder de punir, declara que: Por outro lado, o ius puniendi não se apresenta indiscriminado, sofrendo, pelo contrário, limitação ditada pelo denominado princípio da reserva legal, consubstanciado na parêmia nullum crimen nulla poena sine praevia lege, em que sobrelevada a inadmissibilidade da punição de ente humano, membro da comunidade, que não tenha praticado ato tido, na legislação específica, como infração penal. (TUCCI, 2011, p. 24-25). Atualmente, vivemos num Estado Democrático de Direito, onde a Constituição Federal brasileira, de 1988, regulamenta em seu artigo 5°, inciso XLVII, e alíneas que ao assegurar direitos e garantias, declara: Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; (BRASIL, 1988), Ante o exposto, conclui-se que a pena é o mecanismo pelo qual o Estado busca auxílio para promover a defesa da sociedade nos casos de ataque a bens jurídicos fundamentais e, também, trata-se da tentativa de privar o bem individual para proteger a ordem jurídica ameaçada. 3.3 Teorias da pena ou teorias da sanção penal Essas teorias buscam explicar como se realiza a aplicação de uma sanção penal ao indivíduo que incidiu em um delito. Aqui teremos respostas para perguntas como: a) A sanção é uma retribuição ao sujeito passivo do delito pelo mal causado a um bem jurídico tutelado?; e b) A sanção é uma tentativa de reeducar o indivíduo condenado, com o fim de sua ressocialização? As teorias buscam agregar motivos ao jus puniendi exercido pelo Estado, e explaná-los. 3.3.1 Teoria absoluta, teoria da retribuição ou teoria do castigo Conforme esta teoria, a pena tem função de castigo, é uma consequência pelo crime praticado, ou seja, é tida como uma compensação pelo mal cometido. Nas lições de Capez (2011, p. 223) nota-se que: A finalidade da pena é a de punir o autor de uma infração penal. A pena é a retribuição do mal injusto, praticado pelo criminoso, pelo mal justo previsto no ordenamento jurídico”. Quer dizer, pune-se porque é pecado (punitur quia peccatumm est). Esta teoria pertence a uma época em que religião e política estavam interligadas e para toda sanção haveria de ter a fundamentação religiosa para ser aceita. Está intrinsecamente ligada ao fato pretérito, ou seja, busca tão somente castigar o condenado através da retribuição do mal praticado, sem pensar no futuro ou em alterar a realidade. (MENEZES, 2018, p. 41) Kant e Hegel são teóricos estudiosos em busca da justificação do poder de punir do Estado. Para Kant (2003, p. 37), [...] o Estado não pode punir um cidadão para amedrontar os outros, isto é, o utilitarismo deve ser ignorado, baseando-se somente no imperativo categórico de dever. Em sua obra “Metafísica dos Costumes”, o autor (KANT, 2003, p.63) leciona que [...] é preciso impor a moral da lei (imperativo categórico) ao cidadão condenado. Ou seja, a pena é, exclusivamente, consequência do ato praticado pelo indivíduo. A diferença entre as justificativas de Kant e Hegel é que, o primeiro trata a reação como punição ética, já o segundo trata a pena como retribuição jurídica. Hegel (1997, p. 123), em sua obra Princípios da Filosofia do Direito, afirma que: [...] a pena também é da vontade do próprio criminoso, pois vem de um ser de razão, e o ato de aplicar uma sanção constitui uma universalidade que o próprio criminoso reconheceu, pois ela é necessária para que esse tenha liberdade. Portanto, segundo Hegel, a pena não é justa apenas em si mesma, mas também pela vontade do criminoso. O autor ainda afirma que [...] o Estado não é um contrato, e que sua essência é uma realidade superior e exige até mesmo que a propriedade e a vida lhe sejam sacrificadas. (1997, p.164) A presente teoria parte da retribuição e defende a justiça pela igualdade ou correspondência entre iguais. A teoria absoluta parte do pressuposto de retribuição, calcada na regra de justiça como igualdade, conforme defende Kant e Hegel (inclusive estes defendem a pena de morte como algo necessário à finalidade da pena) ou correspondência entre iguais, segundo a máxima de que é justo que quem realizou uma má ação seja atingido pelo mesmo mal que causou a outros, a exemplo da lei de talião, prevista no código de Hamurabi. (VIEIRA SANTOS & SILVA NARCIZO 2017, p. única): Conclui-se que a teoria absoluta não se importa com o futuro, bastando que o sujeito ativo do ato agressor contra o bem jurídico tutelado seja, consequentemente, punido. Teoria da prevenção Contrária a teoria retributiva, esta preocupa-se com o futuro. A presente teoria busca punir o indivíduo com base em dois fundamentos: 1) ensinar a sociedade de que não se deve cometer ilícitos, ou seja, utilizar a situação fática como exemplo para que os outros indivíduos da comunidade não pratiquem crimes; e 2) punir o próprio condenado, sob a máxima punitur et ne peccetur, isto é, pune-se para que não peque mais. Desta forma, restam dois meios de punição: a) Prevenção Especial; e b) Prevenção Geral. Na primeira o Estado visa evitar que o indivíduo não pratique mais crimes, já na segunda o foco está na sociedade, visando que ela não cometa a mesma atitude do condenado. As duas formas de punir subdividem-se em: a.1) Prevenção Especial Positiva; a.2) Prevenção Especial Negativa; b.1) Prevenção Geral Positiva ou Prevenção Integradora; e b.2) Prevenção Geral Negativa ou Prevenção por Intimidação. Günther Jakobs (2003, p. 37), em sua obra Ciência do Direito e Ciência do Direito Penal, analisa os pontos positivos e negativos da prevenção especial e geral, vide: Prevenção Especial Positiva: A pena é uma correção ao cidadão delinquente; Prevenção Especial Negativa: A pena é um castigo ao cidadão delinquente; Prevenção Geral Positiva: Um reforço de autoridade do Estado, restabelecendo a confiança da sociedade; Prevenção Geral Negativa: A sociedade convive sobre ameaça, pois tem o medo do castigo; Crítica à Teoria da Prevenção: As pessoas não deixam de cometer crimes simplesmente por medo de um castigo, tão pouco a pena é capaz de colocar no coração do condenado um sentimento de arrependimento duradouro. A Prevenção Geral Negativa dá à pena a intimidação da sociedade diante da punição aplicada, gerando na população uma reflexão antes de tomar suas decisões. Já a Prevenção Geral Positiva trabalha com a finalidade de infiltrar o respeito a valores intrínsecos na população. A Prevenção Especial Negativa faz, necessariamente, a individualização do agressor, neutralizando-o para evitar que ele comete novos ilícitos. Já a Prevenção Especial Positiva utiliza a pena pela sua função social, dando ao indivíduo agressor a oportunidade de se reinserir na sociedade, tratando, inclusive, seu círculo social, algo quase impossível no Brasil. Rogerio Greco (2016 p. 586), em seu Curso de Direito Penal, leciona: As teorias absolutas, que consideram a pena como um fim em si mesmo, voltam ao passado e procuram responder a seguinte indagação: Por que punir? Por outro lado, as teorias relativas, de cunho utilitarista, ou seja, ainda segundo autor, tem um raciocínio de que a aplicação da pena deve ser útil a fim de prevenir a comissão de delitos, tem seus olhos voltados para o futuro e buscam responder a seguinte pergunta: Para que punir? Eis uma lição a ser refletida. Teoria mista, unificadora ou eclética. Aqui a pena é castigo, coação e intimidação. Trata-se da junção de todas as teorias trabalhadas acima neste trabalho, lecionando que os conceitos delas não se repelem, mas se encaixam como quebra-cabeça, completando-se, e que a comunidade deve obter defesa do crime, porém o delinquente deverá ser, no futuro, reinserido na mesma, pois também é fração da sociedade inicialmente oprimida. Esta é a teoria mais aceita atualmente, inclusive é a que o Código Penal adotou. O artigo 59, caput, do referido Código, destaca: Fixação da pena Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: [...] (BRASIL, 1940) Importante destacar que a pena fixada deverá ser necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime, unificando as teorias. (GRECO, 2017). 3.3.4 Teoria agnóstica Pouco importante para a sociedade brasileira, pois, rompe com os fundamentos tradicionais da pena de prisão. A teoria Anóstica [...] rompe com os fundamentos tradicionais da pena de prisão, considerando-se uma negativaàs teorias tradicionais. Para a Teoria, a pena não passa de um ato político sem fundamento jurídico, um vez que ocorre um peremptório processo de decadência e falta de legitimidade do sistema penal, sobretudo nos países subdesenvolvidos, pois estes acabam por colidir com os interesses de qualquer teoria, transmutando em um efeito contrário paradoxalmente inconcebível com o realismo jurídico ora perseguido contemporaneamente, findando num verdadeiro mar de injustiças [...].(VIEIRA SANTOS E SILVA NARCIZO 2017, p. única) Zaffaroni (2004, p. 217), em discurso em solo brasileiro, lecionou: A fé na pena, é a fé em um falso Deus. Existem pessoas que acreditam que tudo na vida pode ser resolvido através da pena. Existe uma teoria agnóstica da pena: Os penalistas não sabem exatamente qual é o objetivo da pena e, como não o sabemos, sabemos sim que temos que conter o poder punitivo”. “A limitação do poder punitivo é indispensável como meio de contenção dos genocídios e de outras injustiças. A defesa de limites para o poder punitivo do Estado se faz necessária. Acredito que o poder punitivo é um fato político e não jurídico. Por violar os princípios do Ordenamento Jurídico Brasileiro, não trabalharemos em detalhes esta teoria, porém, para que não existissem lacunas sobre o subcapítulo, fez-se necessário citá-la. Falaremos, no próximo tópico, sobre a medida de segurança e suas características, para enxergarmos a razão de sua incompatibilidade com o psicopata. 3.4 Das Sanções Penais A sanção penal é considerada como a resposta do Estado para aquele que cometer algum ilícito penal, já que é ele o detentor do ius puniedi. De acordo com Eugenio Raúl Zaffaroni: [...] o sistema penal é um controle social punitivo, que surge a partir da pratica de um crime até o momento de sua execução, onde prevê a atividade normativa que estabelece a lei, e define sua maneira de atuação. (2004, p. 69) Esta sanção pode ser consistente na restrição de liberdade ou privação de um bem jurídico. Sua finalidade é punitiva, mas também busca a readaptação social do delinquente, bem como, prevenir novas infrações penais. A lei foi criada com o intuito de manter a paz na sociedade, e após o aumento da complexidade social, passou a ser usada como recurso para a manutenção. [...] Hoje, a finalidade da lei é buscar a máxima satisfação das necessidades humanas com um mínimo de sacrifício. (NUNES, 2004, p. 151-153). Num Estado Democrático de Direito, a lei é a regra jurídica criada pelo legislador através de mandato aprovado pela população, assim, tal lei é destinada a todos que vivem sob a jurisdição do Estado Brasileiro. Francesco Carrara (2002, p. 58) diz que: Se o homem está submetido à lei penal, enquanto é um ente dirigível, essa sua subordinação tem origem no próprio intelecto e na própria vontade. Mas a ninguém pode ser atribuída a vontade de violar uma lei inexistente ou que o agente não conheça. Consequentemente, não pode constituir delito qualquer ação sem que tenha sido promulgada e publicada a Lei que a proíba. Rizzato Nunes (2010, p. 149) ainda afirma que: A lei é um meio utilizado para determinar quais caminhos a sociedade deverá seguir. Toda elaboração de lei, deve ser guarida de princípios constitucionais sob a primazia da constituição, caso não seja, poderá ser declarada inconstitucional. Corroborando com o texto acima, vejamos os ensinamentos de Greco (2010, p. 461): Contudo, em um Estado Constitucional de Direito, para usarmos a expressão de Luigi Ferrajoli, embora o Estado tenha o dever/poder de aplicar a sanção àquele que, violando o ordenamento jurídico-penal, praticou determinada infração, a pena a ser aplicada deverá observar os princípios expressos, ou mesmo implícitos, previstos em nossa Constituição Federal. Em nosso país, depois de uma longa e lenta evolução, a Constituição Federal, visando proteger os direitos de todos aqueles que, temporariamente ou não, estão em território nacional, proibiu a cominação de uma série de penas, por entender que todas elas, em sentido amplo, ofendiam a dignidade da pessoa humana, além de fugir, em algumas hipóteses, à função preventiva, como veremos mais adiante. O inciso XLVII do art. 5º da Constituição Federal, diz, portanto, que não haverá penas: a) de morte, salvo no caso de guerra declarada, nos termos do seu art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. Mesmo o Estado sendo detentor do direito de punir e também garantidor dos direitos dos cidadãos, ele não pode ser arbitrário quanto à aplicação da sanção, haja vista que não pode ferir direitos constitucionais, dentre eles a dignidade da pessoa humana. As penas existentes no Direito Penal são: a) Privativas de liberdade; b) Restritiva de direito; c) Pena de multa. Luiz Regis Prado (2015, p. 567) leciona sobre as finalidades da pena: Em síntese: a justificativa da pena envolve a prevenção geral e especial, bem como a reafirmação da ordem jurídica, sem exclusivismos. Não importa exatamente a ordem de sucessão ou de importância. O que se deve ficar patente é que a pena é uma necessidade social – última ratio legis, mas também indispensável para a real proteção de bens jurídicos, missão primordial do Direito Penal. De igual modo, deve ser a pena, sobre tudo em um Estado constitucional e democrático, sempre justa, inarredavelmente adstrita à culpabilidade (princípio e categoria dogmática) do autor do fato punível. (...) O que resta claramente evidenciado numa análise sobre a teoria da pena é que sua essência não pode ser reduzida a um único ponto de vista, com exclusão pura e simples dos outros, ou seja, seu fundamento contém realidade altamente complexa. Francesco Carnelutti (2008, p.325) prevê a pena como forma de aviso aos demais: Dizem, facilmente, que a pena não serve somente para a redenção do culpado, mas também para a advertência dos outros, que poderiam ser tentados a delinquir e por isso deve os assustar; e não é este um discurso que deva se tomar por chacota; pois ao menos deriva dele a conhecida contradição entre função repressiva e a função preventiva da pena: o que a pena deve ser para ajudar o culpado não é o que deve ser para ajudar os outros; e não há, entre esses dois aspectos do instituto, possibilidade de conciliação. [...] O mínimo que se pode concluir dele é que o condenado, o qual, ainda tendo caído redimido antes do término fixado para a condenação, continua em prisão porque deve servir de exemplo aos outros, é submetido a um sacrifício por interesse alheio; este se encontra na mesma linha que o inocente, sujeito a condenação por um daqueles erros judiciais que nenhum esforço humano jamais conseguirá eliminar. Bastaria para não assumir diante da massa dos condenados aquele ar de superioridade que infelizmente, mais ou menos, o orgulho, tão profundamente aninhado ou mais íntimo de nossa alma, inspira a cada um de nós, ninguém verdadeiramente sabe, no meio deles, quem é ou não é culpado e quem continua ou não sendo. Assim, as penas deverão ser estabelecidas por intermédio de Lei, promulgadas com procedimento constitucional e formulada pelo Poder Legislativo. No mais, a pena é uma forma de prevenção que busca atenuar o cometimento de novos ilícitos, punindo aquele que desobedecer ao mandamento legal. Medida de segurança Primeiramente iremos conceituar a medida de segurança, para, posteriormente, estudá-la a fundo. Para isso, leiamos o entendimento de Guilherme de Souza Nucci (2007, p. 479), para o qual a medida de segurança: Trata-se de uma forma de sanção penal, com caráter preventivo e curativo, visando a evitar que o autor de um fato havido como infração penal, inimputável ou semi-imputável, mostrando periculosidade, torne a cometer outro injusto e receba tratamento adequado. Agora entenderemos o que diferencia exatamente a Medida de Segurança da Pena, diferenças essas encontradas na essência das duas formas de punir.Explica Luis Regis Prado (2011, p. 644): [...] quanto ao fundamento, a pena baseia-se na culpabilidade do agente e a medida de segurança na periculosidade; quanto ao limite, a pena é limitada pela gravidade do delito, enquanto a medida de segurança, pela intensidade da periculosidade evidenciada pelo sujeito ativo e por sua persistência; quanto ao sujeito, a pena se aplica aos imputáveis e aos semi-imputáveis; a medida de segurança aos inimputáveis e semi-imputáveis necessitados de especial tratamento curativo; quanto ao objeto, a pena busca a reafirmação do ordenamento jurídico, bem como o atendimento de exigências vinculadas à prevenção geral e à prevenção especial; já a medida de segurança atende a fins preventivos especiais. Sobre os pressupostos da medida de segurança, a doutrina os classifica em dois: 1) a prática de crime; e 2) a periculosidade do sujeito ativo do fato considerado crime. Assim, afirma Damásio de Jesus (2003, p.157) que [...] a aplicação da medida de segurança pressupõe: 1º) a prática de fato descrito como crime; e 2º) a periculosidade do sujeito. No entanto, uma fração da doutrina tem defendido que existe um terceiro pressuposto, que é a ausência de imputabilidade plena. A periculosidade é um pilar fundamental das medidas de segurança, pois os inimputáveis não são responsabilizados por delitos cometidos (ausência de juízo de culpabilidade). Sobre o assunto, diz Cezar Bitencourt (2010, p. 234) que [...] a periculosidade pode ser definida como um estado subjetivo mais ou menos duradouro de antissociabilidade. É um juízo de probabilidade – tendo por base a conduta antissocial e a anomalia psíquica do agente – de que voltará a delinquir. Isto é, na medida que a pena é aplicada ante a fato pretérito, a medida de segurança se fundamenta em uma previsão sobre o futuro. O Código Penal prevê dois tipos de periculosidade: 1) a do artigo 26, caput; e 2) a do artigo 26, parágrafo único. Artigo 26, caput e parágrafo único, todos do Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940), in verbis: Inimputáveis Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984). A periculosidade tratada no caput do artigo supracitado é tratada por “Periculosidade Presumida” e são os casos em que o sujeito é inimputável. Já o parágrafo único do referido artigo é conhecida por “Periculosidade Real”, tratando-se de situações em que o juízo reconhece o agente como semi-imputável e reconhece a necessidade de “especial tratamento curativo”. É exatamente esse o motivo que não deveria dar ao psicopata a medida de segurança, visto que seu transtorno da personalidade não possui cura, pois não se trata de uma doença, mas sim de uma escolha de vivenciar o mundo. As medidas de segurança, segundo, ainda, o Código Penal Brasileiro, fracionam-se em duas espécies, nos termos do artigo 96, caput, incisos I e II, in verbis: Espécies de medidas de segurança Art. 96. As medidas de segurança são: I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II - sujeição a tratamento ambulatorial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (BRASIL, 1940). A primeira espécie é a medida detentiva, nos termos do inciso I, do artigo e livro supracitados. Trata-se de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, sendo que, na falta do nosocômio, pode ser cumprida em outro estabelecimento adequado. A segunda espécie é a sujeição a tratamento ambulatorial, nos termos do inciso II, do artigo e livro supracitados. Por meio desse tratamento são oferecidos cuidados à pessoa submetida ao mesmo, porém sem internação, que poderá tornar-se necessária para fins curativos, nos termos do § 4º do art. 97. Ocorre que a medida de segurança lida com indivíduos geneticamente deficientes, o que não é o caso do psicopata, pois este possui transtorno de personalidade que não tem cura, detendo ele consciência do mal que causa e para piorar, o psicopata tem prazer no ilícito que comete devendo ser tratado, portanto, como qualquer outro agressor que estivesse em suas condições normais. � CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve por objetivo denominar o que seria a psicopatia e qual o tratamento jurídico adequado para os indivíduos que apresentassem tais anormalidades. O objetivo fim da pesquisa era responder as seguintes perguntas: a) qual é a identidade do psicopata? Ele é doente mental, ou não? b) qual é sua tipificação no direito penal? Seria o psicopata, inimputável ou não? c) qual é a sanção penal cabível ao psicopata? Para tanto, foram utilizadas diversas doutrinas de renomados autores não só das disciplinas jurídicas, mas também de outros campos, os quais tratam do tema a fim de demonstrar a interdisciplinaridade do assunto. Também se utilizou de jurisprudência e análise de casos específicos. De início, demonstrou-se que a psicopatia é a palavra utilizada quando se reconhece um indivíduo com uma inclinação para assassinar, praticar crimes absurdos e brutais. Verificou-se, que a etimologia da palavra psicopatia vem do grego (psyche=mente; e pathos=doença), o que leva a impressão de que trata-se de uma doença mental. Após realizou-se uma análise das diferentes perspectivas acerca do indivíduo psicopata ao logo do tempo. Em consulta as duas instituições mais prestigiadas sobre o tema encontram-se duas definições distintas, quais sejam: a OMS (Organização Mundial de Saúde) entende a psicopatia como um Transtorno da Personalidade Dissocial, já o CID-10 – DSM-V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), traz a psicopatia como um Transtorno da Personalidade Antissocial. Demonstrou-se assim que até nos dias atuais há um dissenso acerca do tema, sendo inclusive formadas duas principais correntes, as quais sugerem que a psicopatia pode ser uma doença mental inata, bem como um transtorno de personalidade. Por conseguinte, buscou-se demonstrar que evidentemente a ideia de que a psicopatia seja uma doença deve ser completamente afastada, afinal o psicopata é perfeitamente capaz de entender o caráter ilícito de suas ações, apenas não se importa com as consequências. Assim como a OMS e o CID-10 – DSM a corrente majoritária também entende a psicopatia como um transtorno da personalidade, que consiste em um perfil voltado para o mal. Portanto, a psicopatia é apenas uma maneira de ser. Já a corrente minoritária considera a psicopatia como doença mental, inata, que é existente desde sua gestação. Na sequência, foi demonstrado um breve parâmetro dos métodos utilizados para realizar o diagnóstico do indivíduo que possivelmente apresenta características de um psicopata. O sistema penal brasileiro adotou o Pshychopathy Checklist Revised PCL – R como exame padrão para avaliar o grau da psicopatia e o nível de reincidência criminal do preso. A técnica se dá através de uma entrevista direta avaliatória do grau de psicopatia dentro de uma escala de 0 (zero) a 40 (quarenta) pontos, são 20 (vinte) questões a serem respondidas e cada questão levantada pode atribuir de 0 (zero) a 2 (dois) pontos, assim a soma será comparada na escala Hare e determinará o grau de psicopatia. A “Escala Hare”, é utilizada com o fim de avaliar a personalidade do detento, a previsão de reincidência criminal, a reabilitação social e a concessão de benefícios penitenciários,sendo imprescindível o exame médico legal, do qual se extrairá o respectivo laudo a respeito da sanidade mental do indivíduo. Como a psicopatia é um transtorno da personalidade, aflorado pela falta de qualquer sentimento fraternal e não uma fase de alterações comportamentais é impossível a Ciência Médica proporcionar curas, pois não se trata de doença, mas sim de uma forma de subsistir. Buscou-se demonstrar, assim, que não existe tratamento viável, nem mesmo cura, já que não se trata de uma enfermidade, mas sim de uma maneira de ser. Evidenciou-se, igualmente, que o psicopata sente prazer em suas condutas criminosas, sua parte racional ou cognitiva é perfeita e integra, não sofrem de alucinações, tampouco delírios, portanto as suas condutas não derivam de doenças mentais, mas sim da sua própria natureza que é voltada para o mal. O crime para o psicopata é secundário, o que realmente o interessa, é o desejo de domínio e de sentir-se “superior”. Após, buscou-se demonstrar como deveria ser o tratamento jurídico a ser aplicado em tais indivíduos. Para isso, foi necessário estabelecer algumas diretrizes acerca do Direito Penal. Assim, realizou-se uma sucinta análise acerca dos institutos mais importantes dentro do direito penal, até chegar imputabilidade, cerne da questão em tela, já que o objetivo final é demonstrar se o psicopata é ou não capaz de entender o caráter ilícito de suas atitudes. Destarte, buscou-se demonstrar que esse indivíduo é plenamente capaz de entender, inclusive ele tem sempre controle da situação, apenas ignora as consequências. Para o psicopata a maldade é algo natural. A confusão existente acerca de a psicopatia ser ou não uma doença, vem do fato de eles serem extremamente dissuasivos, capazes de ludibriar o sistema a fim de que acreditem que ele é louco, conseguindo assim se furtar das consequências criminais. Também, não há que se falar nem em semi-imputabilidade já que conforme ressaltado ele é plenamente capaz de entender seus atos. Por fim foi necessário identificar qual pena a ser aplicada a tais indivíduos. Para tanto realizou-se um parâmetro acerca da pena, a fim de demonstrar suas raízes e qual a sua função. Na sequência, demonstrou a diferença da pena em si e da medida de segurança, asseverando não ser esta última apta a ser aplicada aos psicopatas, em razão de eles não serem detentores de distúrbio mental, nem mesmo estarem sob influência de substâncias que tiram a capacidade de discernir, mas sim escolherem realizar suas ações de livre consciência. Portanto, conclui-se que o portador da psicopatia é imputável, visto que: ele atende ao elemento intelectual, bem como o volitivo, isto é, entende o caráter ilícito do fato, sabe que a sua conduta é errada, mas ainda assim prefere fazê-la. Quanto ao elemento volitivo, o psicopata também tem controle. Isto é visível ao notar o quanto ele planeja um crime antes de cometê-lo. É um exemplo claro de controle da vontade, pois ele a tem para praticar determinado crime, mas, se há possibilidade de ser flagrado, ou não ter êxito, ele deixa para um novo momento, no qual seu plano será executado perfeitamente. Assim, o caso da psicopatia não é o desconhecimento da lei, nem o desentendimento do caráter ilícito do fato, tampouco descontrole da própria vontade, pois tudo isso o psicopata compreende perfeitamente. A psicopatia é relativa aos sentimentos e ter empatia pelo próximo que, no psicopata, percebe-se ausente. A psicopatia não se enquadra ao campo dos inimputáveis pois estes são pessoas que possuem doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Na ciência Médica, o doente mental é portador de um sofrimento psíquico. Já para o Direito, é o sujeito que não consegue entender as regras impostas pela sociedade ou ordenamento jurídico. Também não é possível amoldar a semi-imputabilidade prevista no artigo 26, parágrafo único, do Código Penal, uma vez que seus sistemas volitivo e cognitivo funcionam integralmente em perfeito estado, ficando afastado, assim, o pressuposto que amolda a sua figura ao semi-imputável. Como a psicopatia é um transtorno da personalidade e não uma doença não há que se falar em curas médicas ficando descartada qual quer tipo de medida de segurança. O psicopata deve responder normalmente pelo crime cometido e consequentemente ter a sanção que caberia a qualquer outro indivíduo comum. O tema é bastante relevante tendo em vista a quantidade de indivíduos psicopatas existentes, não só em nosso país, mas em toda extensão do globo. Além disso, não é uma realidade atual, já que existem psicopatas desde os primórdios, sendo que até hoje não encontrou um consenso acerca da sua condição. Entender o que é a psicopatia é extremamente necessário para estabelecer o tratamento jurídico adequado a ser aplicado a cada caso, já que é comum existir tratamentos diversos pelo fato de não existir um consenso de ser ou não o psicopata uma pessoa doente. Dessa forma, de fundamental importância concluir pela aplicação de apenas uma medida a todas as situações que envolvem psicopatas a fim de preservar pela segurança jurídica. Diante disso, sugere-se que os indivíduos psicopatas sejam tratados todos como pessoas aptas a responderem por seus crimes, em razão de eles não só entenderem o caráter ilícito de suas ações, mas também por agirem com intuito premeditado, sempre visando o mal, não sentindo culpa alguma por isso. Assim, será reduzido em muito o número de psicopatas nas ruas ou em tratamentos ambulatoriais e de internação, desperdiçando tempo e dinheiro dos cofres públicos, já que, não se tratando de doença, não há que se falar em cura. Enfim, é necessário uniformizar a jurisprudência acerca do tema, para que seja dado tratamento igualitário aos psicopatas, tal como aos indivíduos em geral, removendo-se a psicopatia do CID empregado, já que não se trata de doença, mas sim de escolha de vida. A diferença entre o louco e o psicopata é que o psicopata faz as coisas em plena consciência, mas sem nenhuma emoção e o louco faz as coisas sem consciência devido ao excesso de emoções. (Ana Crws, 2012, p. 83). � REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHÁ, Maria F. F. Funcionamento executivo e traços de psicopatia em jovens infratores. 2011. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. Disponível em:. Acesso em: 25 mar. 2015. BARROS, Daniel M. de. O que é Psiquiatria Forense. São Paulo: Brasiliense, 2008. BALLONE. Geraldo. J. Personalidade Psicopática. Disponível em <http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=149&sec=91>. Acesso em 25/06/2018. BITENCOURT Cezar R. 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