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FARMACOLOGIA Anti-inflamatórios não esteroidais AINEs Profa: Paula A. Borges e-mail: paula.borges@iff.edu.br Inflamação Essencial para a sobrevivência dos organismos → é sua habilidade para ficar livre dos tecidos danificados ou necróticos e invasores estranhos, tais como os micro-organismos. A resposta do hospedeiro que executa esses objetivos é chamada de inflamação. → é uma resposta fundamentalmente protetora, destinada a livrar os organismos tanto da causa inicial da injúria celular (p. ex., microorganismos, toxinas) quanto das consequências de tal injúria (p. ex., células e tecidos necróticos). Sem a inflamação, as infecções poderiam passar despercebidas, ferimentos poderiam nunca cicatrizar e os tecidos injuriados poderiam ficar com permanentes feridas infeccionadas. Inflamação A inflamação é uma reação complexa em tecidos que consiste principalmente nas respostas dos vasos sanguíneos e leucócitos. Sinais cardinais da inflamação Inflamação Inflamação aguda é rápida no início e de curta duração, persistindo por horas ou poucos dias. Suas principais características são a exsudação de fluido e proteínas do plasma (edema) e a migração de leucócitos, predominantemente neutrófilos. Quando a inflamação aguda é bem-sucedida na eliminação dos agentes agressores, a reação reduz-se, mas se a resposta falha em limpar os agentes invasores, ela pode progredir para a fase crônica. Inflamação crônica pode se seguir à inflamação aguda ou ser insidiosa no início. Ela é de longa duração e está associada à presença dos linfócitos e macrófagos, proliferação de vasos sanguíneos, fibrose e destruição tecidual. Inflamação Resposta benéfica Se não houvesse inflamação, microorganismos estariam livres para penetrar nas mucosas e feridas, não existiria cicatrização... Resposta maléfica Quando a inflamação interfere seriamente na função de um órgão acometido pode ocorrer uma ameaça maior que a inicial. Exemplos: cirrose hepática, artrites reumatoides e choque anafilático. Mediadores inflamatórios Eicosanóides → representam uma família quimicamente distinta de autacóides derivados do ácido araquidônico. As pesquisas sobre os eicosanoides continuam revelando funções críticas na fisiologia cardiovascular, inflamatória e reprodutiva. Numerosas intervenções farmacológicas nas vias dos eicosanóides — incluindo os agentes antiinflamatórios não-esteróides (AINE) e os inibidores da ciclo-oxigenase-2 (COX-2) mostram-se úteis no manejo clínico atual da inflamação, da dor e da febre. Mediadores inflamatórios - Mediadores inflamatórios ativam a enzima fosfolipase A2. - A enzima fosfolipase A2 cliva os fosfolipídios liberando o ácido araquidônico. O ácido araquidônico é o precursor comum dos eicosanoides. Fosfolipídios Ácido araquidônico Fosfolipase A2 Mediadores inflamatórios O ácido araquidônico é rapidamente convertido pelas enzimas ciclo- oxigenase ou lipo-oxigenase; a enzima específica envolvida é que determina a classe específica de eicosanóides locais produzidos. Fosfolipídios Fosfolipase A2 Ácido araquidônico Prostaglandinas, prostaciclina e tromboxanos Leucotrienos e lipoxinas Lipo-oxigenase Ciclo-oxigenase A via da ciclo-oxigenase leva à formação de prostaglandinas, prostaciclina e tromboxanos; as vias da lipoxigenase levam aos leucotrienos e lipoxinas. Mediadores inflamatórios Ciclo-oxigenases Nos seres humanos, são encontradas duas isoformas da ciclo-oxigenase, designadas como COX-1 e COX-2. Biossíntese das prostaglandinas pelas COX Em consequência das diferenças na sua localização celular, perfil de regulação, expressão nos tecidos e exigência de substrato, a COX-1 e a COX-2 produzem diferentes conjuntos de produtos eicosanoides. Ações das prostaglandinas Sigla Prostanoide Produção Ação Papéis biológicos dos produtos da COX COX-1 Constitutiva COX-2 Induzida COX-2 Constitutiva Classes e agentes farmacológicos A intervenção farmacológica na biossíntese e na ação dos eicosanóides mostra-se particularmente útil no controle da inflamação e das respostas imunes aberrantes. Inibidores da ciclo-oxigenase Os inibidores da via da ciclo-oxigenase estão entre alguns dos fármacos mais frequentemente prescritos em medicina. Os agentes anti-inflamatórios não-esteróides (AINE) e o acetaminofeno constituem os agentes mais comumente utilizados dessa classe. Inibidores Não-Seletivos Tradicionais: AINE Os AINE são importantes em virtude de suas propriedades anti- inflamatórias, antipiréticas e analgésicas combinadas. O objetivo final da maioria das terapias com AINE consistem em inibir a geração de eicosanoides pro inflamatórios mediada pela COX e em limitar a extensão da inflamação, febre e dor. A atividade antipirética desses fármacos provavelmente está relacionada com a redução dos níveis de PGE2, particularmente na região do cérebro que circunda o hipotálamo. Com exceção da aspirina, todos os AINE atuam como inibidores competitivos e reversíveis da ciclo-oxigenase. Inibidores Não-Seletivos Tradicionais: AINE Esses fármacos bloqueiam o canal hidrofóbico da ciclo-oxigenase ao qual se liga o substrato ácido araquidônico, impedindo assim o acesso do ácido araquidônico ao sítio ativo da enzima. Os AINE tradicionais inibem tanto a COX-1 quanto a COX-2 em diferentes graus. Inibidores Não-Seletivos Tradicionais: AINE A classificação clínica dos AINE baseia-se na estrutura de um componente-chave em cada subclasse de fármacos. Os AINE são classificados de acordo com a estrutura química. - Salicilatos - Derivados do Ácido Propiônico - Derivados do Ácido Acético - Derivados do Oxicam - Derivados do Fenamato - Cetonas - Acetaminofeno Salicilatos Os salicilatos incluem a aspirina (ácido acetilsalicílico) e seus derivados. Aspirina - Mais antigo dos AINE - Amplamente utilizada no tratamento da dor leve a moderada, cefaléia, mialgia e artralgia. Ao contrário de outros AINE, a aspirina atua de modo irreversível, acetilando a COX-1 e a COX-2. Acetilação da COX-1 destrói a atividade de ciclo-oxigenase da enzima, impedindo a formação de prostaglandinas, tromboxanos e prostaciclina derivados da COX-1. Salicilatos Atividade antitrombogênica da aspirina A aspirina, em baixas doses, diariamente é utilizada como agente antitrombogênico para profilaxia e manejo do infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral pós-evento. A aspirina é antitrombogênica, devido à inibição irreversível da COX, que impede a biossíntese de TxA2 pelas plaquetas. Dentro de 1 hora após a administração oral de aspirina, ocorre destruição irreversível da atividade COX-1 nas plaquetas. As plaquetas, que carecem de núcleo, são incapazes de sintetizar novas proteínas. COX-1 irreversivelmente acetilada não pode ser substituída por proteínas recém-sintetizadas, e essas plaquetas são inibidas de modo irreversível durante o seu tempo de sobrevida (~ 10 dias). Salicilatos Efeitos adversos da Aspirina A aspirina é, em geral, bem tolerada. Suas principais toxicidades consistem em: - gastropatia e nefropatia (todos os AINE) A terapia a longo prazo com aspirina pode resultar em ulceração e hemorragia gastrintestinais, nefrotoxicidade e lesão hepática. Síndrome de Reye Caracterizada por encefalopatia hepática e esteatose hepática em crianças de pouca idade. A terapia com aspirina durante o curso de uma infecção viral febriltem sido implicada como etiologia potencial da lesão hepática. Derivados do Ácido Propiônico Ibuprofeno Naproxeno Cetoprofeno Flurbiprofeno Ibuprofeno é um analgésico relativamente potente, utilizado no tratamento da artrite reumatóide, osteoartrite, espondilite, gota e dismenorréia primária. Naproxeno possui meia-vida plasmática longa, é 20 vezes mais potente do que a aspirina. Provoca efeitos adversos gastrintestinais menos graves do que a aspirina. Derivados do Ácido Acético Indometacina Sulindaco Etodolaco Diclofenaco Cetorolaco Diclofenaco é um anti-inflamatório mais potente do que a indometacina e o naproxeno. Cetorolaco é primariamente empregado pelas suas propriedades analgésicas fortes, particularmente para pacientes no pós- operatório. Derivados do Ácido Acético Os AINE derivados do ácido acético são principalmente utilizados para aliviar os sintomas no tratamento a longo prazo: - Artrite reumatóide - Osteoartrite - Espondilite - Outros distúrbios musculoesqueléticos Efeitos adversos - Ulceração gastrintestinal - Raramente: hepatite e icterícia Derivados do Oxicam Piroxicam Tão eficaz quanto a aspirina, o naproxeno e o ibuprofeno no tratamento da artrite reumatóide e osteoartrite, mas pode ser mais bem tolerado. Em virtude de sua meia-vida extremamente longa, o piroxicam pode ser administrado uma vez ao dia. Efeitos adversos: - Gastrintestinais como ulceração - Prolonga o tempo de sangramento, devido a seu efeito antiplaquetário. Derivados do Fenamato Mefenamato Meclofenamato Ambos inibem as ciclo-oxigenases. Como os fenamatos possuem menos atividade anti-inflamatória e são mais tóxicos do que a aspirina, existe pouca vantagem no seu uso. O mefenamato é apenas utilizado para a dismenorréia primária, enquanto o meclofenamato é utilizado no tratamento da artrite reumatóide e osteoartrite. Cetonas Nabumetona Profármaco cetona que é oxidado in vivo à forma ácida ativa. Em comparação com outros AINE não seletivos, a nabumetona possui atividade preferencial contra a COX-2. Efeitos Adversos - Baixa incidência de efeitos adversos gastrintestinais - Cefaléia - Tonteira Acetaminofeno Acetaminofeno Embora o acetaminofeno exerça efeitos analgésicos e antipiréticos semelhantes aos da aspirina, o efeito anti-inflamatório do acetaminofeno é insignificante, devido à inibição fraca das ciclo- oxigenases. O tratamento com acetaminofeno pode ser valioso em certos pacientes, como as crianças, que correm risco relacionado aos efeitos adversos da aspirina. Efeitos adversos - Hepatotoxicidade constitui o efeito adverso mais importante do acetaminofeno. Seleção do AINE Apropriado Os efeitos anti-inflamatórios, analgésicos e antipiréticos dos AINE variam entre os numerosos agentes que compõem essa classe. Todavia, apesar das diferenças observadas na química, seletividade tecidual, seletividade enzimática, farmacocinética e farmacodinâmica, as diferenças na sua eficácia podem não ser clinicamente significativas. O tratamento para cada paciente deve ser orientado para obter os efeitos: - Anti-inflamatórios - Analgésicos - Antipiréticos → Mínimos efeitos adversos Inibidores não seletivos da COX Inibidores não seletivos da COX Devido à inibição da COX-1, o tratamento a longo prazo com AINE apresenta muitos efeitos deletérios. As funções citoprotetoras dos produtos eicosanóides da COX-1 são eliminadas, levando a um espectro de gastropatia induzida por AINE, incluindo dispepsia, gastrotoxicidade, lesão e hemorragia subepiteliais, erosão da mucosa gástrica, ulceração franca e necrose da mucosa gástrica. A regulação do fluxo sanguíneo para os rins também é afetada, diminuindo a TFG e causando potencialmente isquemia renal, necrose papilar, nefrite intersticial e insuficiência renal. Estudos epidemiológicos sugerem que 20 a 30% das internações de pacientes com mais de 60 anos de idade devem-se a complicações do uso de AINE. Inibidores seletivos da COX-2 Devido aos efeitos adversos gastrintestinais algumas vezes graves associados à terapia prolongada com AINE, que se acredita sejam causados pela inibição da COX-1, foram desenvolvidas estratégias recentes para inibição das vias da ciclo-oxigenase, enfocando a inibição seletiva da COX-2. Vantagem teórica - Inibição dos mediadores químicos responsáveis pela inflamação - Manutenção dos efeitos citoprotetores dos produtos da atividade da COX-1 Inibidores seletivos da COX-2 Inibidores Seletivos da COX-2 Celecoxibe Rofecoxibe Valdecoxibe Meloxicam A inibição relativa das duas isozimas da ciclo-oxigenase em qualquer tecido também é uma função do metabolismo do fármaco, da farmacocinética e, possivelmente, de polimorfismos da enzima. Os inibidores seletivos da COX-2 possuem propriedades anti- inflamatórias, antipiréticas e analgésicas semelhantes aos AINE tradicionais, porém não compartilham as ações antiplaquetárias dos inibidores da COX-1. 100 vezes mais seletivos para COX-2 do que para COX-1 Inibidores Seletivos da COX-2 Em relação a outros AINE, o perfil de segurança dos inibidores seletivos da COX-2 é incerto. No momento atual, apenas o celecoxibe foi aprovado para uso. Recentemente, o rofecoxibe foi retirado do mercado, devido a um aumento da trombogenicidade com o seu uso prolongado. Os perfis de segurança a longo prazo dos inibidores da COX-2 constituem um assunto questionável, e existe a preocupação de que esses fármacos tenham efeitos deletérios sobre os sistemas cardiovascular e renal ao induzir: - Hipertensão - Insuficiência renal - Insuficiência cardíaca
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