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Agentes anti-inflamatórios Anti-inflamatórios não esteroidais Os fármacos anti-inflamatórios podem ser divididos, de forma conveniente, em sete grandes grupos: Fármacos que inibem a enzima ciclo- oxigenase (COX) – os anti- inflamatórios não esteroides (AINE) e os coxibes Fármacos antirreumáticos – os chamados antirreumáticos modificadores da doença (ARMD), incluindo alguns imunossupressores Glicocorticoides Anticitocinas e outros agentes biológicos Anti-histamínicos utilizados para o tratamento da inflamação alérgica Fármacos usados especificamente para controlar a gota. Os AINEs são tradicionalmente agrupados por suas características químicas. Podendo ser divididos em AINEts, que inibem tanto COX-1 quanto COX-2, e AINEs seletivos para COX-2. Neste último entram os coxibes, diclofenaco, meloxicam, nimesulida... Outras classificações de AINEs foram desenvolvidas com base na meia-vida, tais como aqueles com meias- vidas mais curtas (< 6 h) ou mais longas (> 10 h). A classe inclui os derivados do ácido salicílico (por exemplo, ácido acetilsalicílico, diflusinal), ácido propiônico (p. ex., naproxeno, ibuprofeno, fl urbiprofeno, cetoprofeno), ácido acético (p. ex., indometacina, etodolaco, diclofenaco, cetorolaco), ácido fenólico (p. ex., piroxicam, fenilbutazona), ácido fenâmico (p. ex., ácido mefenâmico, ácido meclofenâmico), alcanonas (nabumetona) e compostos diaril-heterocíclicos (p. ex., celecoxibe, valdecoxibe, rofecoxibe, etoricoxibe). A maioria dos compostos AINEts é de ácidos orgânicos com valores de pKa relativamente baixos. Assim como os ácidos orgânicos, os compostos em geral são bem absorvidos por via oral, altamente ligados às proteínas plasmáticas e excretados por filtração glomerular e por secreção tubular. Eles também se acumulam em locais de inflamação. Tanto os AINEts quanto os AINEs seletivos para COX-2 geralmente são fármacos hidrofóbicos, uma característica que possibilita que eles acessem o canal de ligação hidrofóbico de aracdonato e resulta em características farmacocinéticas partilhadas. Entretanto, o ácido acetilsalicílico e o paracetamol são exceções dessa regra. Mecanismo de ação Farmacologia ´ Por: ANA CLARA MELO Compreende tanto os AINEts como os AINEs seletivos para COX-2. Esses fármacos proporcionam alívio sintomático de febre, dor e edema em artropatia crônica, como ocorre na osteoartrite, na artrite reumatoide e em afecções inflamatórias mais agudas, como fraturas, entorses, traumas esportivos e outras lesões de partes moles. Eles são também úteis no tratamento de dores pós-operatórias, odontológicas, menstruais e para o alívio de cefaleias e enxaqueca. Sua ação farmacológica é inibir a enzima COX de ácidos graxos, inibindo, desse modo, a biossíntese de prostaglandinas e tromboxanos. A primeira enzima na via sintética das prostaglandinas é COX, também conhecida como PG G/H sintase. Essa enzima converte o ácido araquidônico nos intermediários instáveis a prostaglandina G2 e prostaglandina H2, além de promover a produção de prostanoides, TxA2 e de uma variedade de PG. Há duas isoformas comuns dessa enzima, COX-1 e COX-2 (mas podem existir outras isoformas ainda por caracterizar). A COX- 1 é uma enzima constitutiva expressa na maioria dos tecidos, inclusive nas plaquetas do sangue. Ela desempenha funções de “manutenção” no organismo, estando envolvida em especial na homeostase dos tecidos, e é responsável, por exemplo, pela produção de prostaglandinas com funções em citoproteção gástrica, agregação plaquetária, autorregulação do fluxo sanguíneo renal e no início do parto. Já a COX-2 é induzida nas células inflamatórias quando ativadas pelas citocinas inflamatórias – interleucina (IL)-1 e fator de necrose tumoral (TNF)-α – estresse de cisalhamento e promotores de tumor. Deste modo, a isoforma COX-2 é a principal responsável pela produção dos mediadores prostanoides da inflamação. Contudo, existem algumas exceções significativas. A COX-2 é expressa constitutivamente no rim, gerando prostaciclina, que tem um papel na homeostase renal e no SNC, em que a sua função ainda não está clara. Em concentrações mais elevadas, os AINEs também são conhecidos por reduzir a produção de radicais superóxido, induzir apoptose, inibir a expressão de moléculas de adesão, diminuir a NO sintase, diminuir as citocinas pró-inflamatórias (p. ex., TNF-α, IL-1), modificar atividade linfocítica e alterar as funções in vitro da membrana celular. O ácido acetilsalicílico e os AINEs não inibem as vias da lipo-oxigenase (LOX) no metabolismo do AA e por isso não suprimem a formação de LT. Os glicocorticoides suprimem a expressão induzida de COX-2 e, portanto, a produção de prostaglandinas mediada por COX-2. Eles também inibem a ação da PLA2, que libera AA a partir das membranas celulares. Tais efeitos contribuem para as ações anti- inflamatórias dos glicocorticoides As enzimas COX são bifuncionais, com duas atividades catalíticas distintas. Uma etapa de dioxigenase é seguida por uma segunda reação, peroxidase. A COX-1 e a COX-2 são enzimas contendo heme que existem em forma de homodímeros anexados a membranas intracelulares. Curiosamente, apenas um monômero está cataliticamente ativo de cada vez. A ligação dos AINE a um monômero da COX consegue inibir a atividade catalítica de todo o complexo dimérico. A COX-1 e a COX-2 são estruturalmente semelhantes; ambas contêm um canal hidrofóbico no qual se ancoram o ácido araquidônico ou outros substratos de ácidos graxos para que a reação de oxigenação possa prosseguir. A maioria dos AINE inibe apenas a reação de dupla oxigenação inicial. São geralmente inibidores “competitivos reversíveis” rápidos de COX-1, mas existem diferenças na cinética. A inibição de COX-2 é mais dependente do tempo e costuma ser irreversível. Para bloquear as enzimas, os AINE penetram no canal hidrofóbico, formando pontes de hidrogênio com um resíduo de arginina na posição 120, impedindo, desse modo, que os substratos (ácidos graxos) entrem no domínio catalítico. No entanto, a alteração de um único aminoácido (isoleucina por valina na posição 523) na estrutura da entrada desse canal na COX-2 forma uma “protuberância” no canal que não é encontrada na COX-1. Isso é importante para compreender por que alguns fármacos, especialmente aqueles com grupos laterais grandes contendo enxofre, são mais seletivos para a isoforma COX-2. O ácido acetilsalicílico modifica de maneira covalente a COX-1 e a COX-2, dessa forma, a duração dos efeitos do ácido acetilsalicílico relaciona-se com a taxa de rotatividade das COXs em diferentes tecidos alvo. A rotatividade é mais notável nas plaquetas que, não sendo nucleadas, têm uma capacidade notavelmente limitada de síntese proteica. Assim, as consequências da inibição da COX-1 nas plaquetas (a COX-2 é expressa em megacariócitos e talvez em formas plaquetárias imaturas) persistem por toda a vida da plaqueta. A inibição da formação de TXA2 dependente de COX-1 nas plaquetas é, portanto, cumulativa com doses repetidas de ácido acetilsalicílico e levam 8-12 dias para desaparecer completamente após o tratamento ser interrompido. O ácido acetilsalicílico entra no local ativo, acetila uma serina na posição 529 na COX- 1 e 516 na COX-2 e inativa irreversivelmente. A interposição de um volumoso resíduo acetilado impede a ligação do AA com o local ativo da enzima, impedindo assim que ela elabore as prostaglandinas. Esta é a base dos efeitos prolongados do ácido acetilsalicílico sobre plaquetas. A COX-2 inativada pelo ácido acetilsalicílico pode ainda produzir alguns hidroxiácidos, mas não consegue produzir o intermediário endoperoxidase necessáriopara a síntese de prostanoides. Ao contrário do ácido acetilsalicílico, o ácido salicílico não tem a capacidade de acetilar, sendo um inibidor competitivo reversível e fraco da COX. Os inibidores seletivos de COX-2 foram desenvolvidos com base na hipótese de que eles iriam promover eficácia semelhante aos AINEts, porém com melhor tolerabilidade GI. Entretanto, não estão nem perto de serem tão bem tolerados como esperado. Em parte, isso ocorre devido ao fato de muitos pacientes já terem sido expostos a fármacos menos seletivos e já terem sofrido certo comprometimento GI. Dado que a COX-2 também parece ser importante para a cura e a resolução da inflamação, podem-se antecipar os problemas que ainda podem vir a ocorrer. Também existe uma preocupação sobre os efeitos cardiovasculares de todos os AINE quando estes são utilizados cronicamente. Efeitos farmacológicos A maioria dos AINE tradicionais inibe ambas as enzimas COXs, embora a sua potência relativa para cada isoforma seja diferente. Acredita-se que a ação anti- inflamatória (e provavelmente a maioria das ações analgésicas e antipiréticas) dos AINE esteja relacionada à inibição de COX-2, enquanto seus efeitos indesejáveis – particularmente os que afetam o TGI – resultem sobretudo de sua inibição de COX- 1. Farmacocinética dos AINEs A maioria dos AINEs é rapidamente absorvida após ingestão oral e as concentrações plasmáticas de pico geralmente são atingidas em 2-3 h. A baixa solubilidade aquosa da maioria dos AINEs frequentemente é refletida por um aumento inferior ao proporcional da área sob a curva (AUC) das curvas de concentração plasmática-tempo, devido à dissolução incompleta, quando a dose é aumentada. A ingestão de alimentos pode retardar a absorção e às vezes diminuir a disponibilidade sistêmica. Antiácidos, comumente prescritos para pacientes em terapia com AINEs, variavelmente atrasam, mas raramente reduzem a absorção. Há pouca informação sobre a biodisponibilidade oral absoluta de muitos AINEs, como soluções adequadas para a administração intravenosa, frequentemente não estão disponíveis. Alguns compostos (p. ex., diclofenaco, nabumetona) sofrem primeira passagem ou a eliminação pré- sistémica. O paracetamol é metabolizado em pequena escala durante a absorção. O ácido acetilsalicílico começa a acetilar plaquetas a poucos minutos de entrar na circulação pré-sistêmica. A maioria dos AINEs está extensamente ligada às proteínas plasmáticas (95-99%), geralmente a albumina. A ligação às proteínas plasmáticas com frequência é dependente da concentração (ou seja, naproxeno, ibuprofeno) e saturável em altas concentrações. As condições que alteram a concentração da proteína plasmática podem resultar em uma fração livre do fármaco com potenciais efeitos tóxicos. Os AINEs altamente ligados à proteína têm o potencial de deslocar outros fármacos, se eles competirem pelos mesmos locais de ligação. A maioria dos AINEs é amplamente distribuída por todo o corpo e penetra imediatamente nas articulações artríticas, produzindo concentrações no líquido sinovial no intervalo de metade da concentração plasmática (ou seja, ibuprofeno, naproxeno, piroxicam). Algumas substâncias produzem concentrações semelhantes do fármaco na sinóvia (ou seja, indometacina), ou mesmo concentrações plasmáticas superiores (ou seja, tolmetina). A maioria dos AINEs atinge concentrações suficientes no SNC para ter um efeito analgésico central. O celecoxibe é particularmente lipofílico, por isso se acumula na gordura e é facilmente transportado para o SNC. O lumiracoxibe é mais ácido do que outros AINEs seletivos para COX-2, o que pode favorecer seu acúmulo em locais de inflamação. Vários AINEs são comercializados em formulações para aplicação tópica nas articulações inflamadas ou lesionadas. No entanto, o transporte direto de AINEs de aplicação tópica nos tecidos e articulações inflamados parece ser mínimo, e as concentrações detectáveis no líquido sinovial de alguns agentes (ou seja, o diclofenaco) após uso tópico é primariamente atingida via absorção dérmica e circulação sistêmica. A meia-vida plasmática varia consideravelmente entre os AINEs. Por exemplo, ibuprofeno, diclofenaco e paracetamol têm eliminação relativamente rápida (meia-vida de 1-4 h), enquanto o piroxicam tem uma meia-vida de aproximadamente 50 h em estado estacionário, que pode aumentar para até 75 h em idosos. Estimativas publicadas da meia-vida dos AINEs seletivos para COX-2 variam. A biotransformação hepática e a excreção renal são as principais vias de eliminação da maioria dos AINEs. Alguns têm metabólitos ativos (p. ex., fembufeno, nabumetona, ácido meclofenâmico, sulindaco). As vias de eliminação frequentemente envolvem a oxidação ou hidroxilação. Vários AINEs ou seus metabólitos são glicuronidados ou conjugados de outro modo. Os AINEs geralmente não são removidos por hemodiálise, devido à sua extensa ligação às proteínas plasmáticas; o ácido salicílico é uma exceção a esta regra. Em geral, os AINEs não são recomendados em caso de doença renal ou hepática avançada, devido a seus efeitos farmacodinâmicos adversos. Efeitos terapêuticos Os AINE reduzem aqueles componentes em que as prostaglandinas, principalmente as derivadas de COX-2, desempenham um papel significativo. Entre esses componentes estão não só a vasodilatação característica (pela redução da síntese de prostaglandinas vasodilatadoras), mas também o edema da inflamação, pois a vasodilatação facilita e potencializa a ação dos mediadores que aumentam a permeabilidade das vênulas pós-capilares, como a histamina. Apresentam pouca ou nenhuma atividade sobre a doença crônica de base propriamente dita. Como uma classe, eles geralmente não apresentam efeito direto sobre outros aspectos da inflamação como liberação de citocinas/quimiocinas, migração de leucócitos, liberação de enzimas lisossômicas e produção de radicais tóxicos de oxigênio, todos contribuindo para o dano tecidual de condições inflamatórias crônicas como artrite reumatoide, vasculite e nefrite. Os radicais de oxigênio reativos produzidos por neutrófilos e macrófagos estão implicados em danos aos tecidos em algumas condições, e alguns AINE (p. ex., sulindaco) têm efeitos de eliminação de radicais de oxigênio, bem como atividade inibidora de COX; portanto, podem diminuir os danos nos tecidos. O ácido acetilsalicílico também inibe a expressão do fator de transcrição NFκB, que tem papel fundamental na transcrição dos genes dos mediadores inflamatórios. Costumam ser eficazes apenas contra dores de baixa a moderada intensidade, especialmente aquela originada de inflamação ou lesão tecidual. Foram identificados dois locais de ação. Na periferia, os AINE reduzem a produção de prostaglandinas que sensibilizam os nociceptores para mediadores da inflamação como a bradicinina e são, portanto, eficazes no tratamento de artrite, bursite, dores de origem muscular e vascular, odontalgia, dismenorreia, a dor do pós-parto e a dor por metástases ósseas. Todas as afecções estão associadas a aumento da síntese local de prostaglandinas como resultado de indução da COX-2. Isoladamente ou em combinação com opioides, diminuem a dor do pós-operatório e, em alguns casos, podem reduzir a necessidade de opioides em até um terço. Sua capacidade de aliviar a cefaleia pode estar relacionada à redução do efeito vasodilatador das prostaglandinas sobre a vasculatura cerebral. Além desses efeitos periféricos, há uma segunda ação central, na medula espinal e possivelmente em outro local no SNC, menos bem caracterizada. As lesões inflamatórias periféricas aumentam a expressão da COX-2 e a liberação de prostaglandinas na medula,facilitando a transmissão das fibras de dor aferentes para os interneurônios no corno posterior. Embora sua eficácia máxima seja menor do que a dos opioides, os AINEs não têm os efeitos adversos indesejáveis dos opiáceos sobre o SNC, incluindo depressão respiratória e potencial desenvolvimento de dependência física. Eles são particularmente eficazes quando a inflamação causa sensibilização periférica e/ou central de percepção da dor, ao passo que a que surge de uma víscera oca em geral não é aliviada. Uma exceção a isso é a dor menstrual devido a liberação de prostaglandinas pelo endométrio durante a menstruação. São comumente utilizados como terapia de primeira linha para tratar ataques de enxaqueca e podem ser combinados com fármacos de segunda linha, como os triptanos, ou com antieméticos para auxiliar no alívio das náuseas associadas. Os AINEs não possuem eficácia na dor neuropática. A febre ocorre quando os neurônios do hipotálamo não conseguem controlar o equilíbrio entre a produção e a perda de calor, realizado por meio de mecanismos reguladores como dilatação de vasos superficiais, sudorese etc. Os AINE exercem sua ação antipirética fundamentalmente por meio da inibição da produção de prostaglandinas no hipotálamo. Durante a infecção, endotoxinas bacterianas provocam a liberação da IL-1 dos macrófagos. No hipotálamo, essa citocina estimula a geração de prostaglandinas do tipo E que elevam o ponto de ajuste da temperatura. A COX-2 pode ter participação no processo, porque a IL-1 induz essa enzima no endotélio vascular no hipotálamo. Há evidências de que as prostaglandinas não sejam os únicos mediadores de febre e, por isso, os AINE podem ter um efeito antipirético adicional por mecanismos ainda desconhecidos. De acordo com estudos em animais, a infusão de PGE2 mantém a patência do ducto após o nascimento. A ingestão de ácido acetilsalicílico prolonga o tempo de sangramento. Esse efeito é causado por acetilação irreversível da COX plaquetária e consequente inibição da função plaquetária até que números sufi cientes de novas plaquetas não modificadas sejam liberados de megacariócitos. É a supressão permanente e completa da formação de plaquetas TxA2 que é considerada a base do efeito cardioprotetor do ácido acetilsalicílico, reduzindo o risco de eventos vasculares graves em pacientes de alto risco (p. ex., aqueles com infarto do miocárdio anterior) em 20-25%. No entanto, experimentos controlados por placebo mostram que o ácido acetilsalicílico aumenta a incidência de hemorragias gastrintestinais graves, refletindo a supressão não apenas de tromboxano plaquetário, mas também a redução de PGE2 e PGI2. Ela também aumenta a incidência de hemorragias intracranianas. Outros usos clínicos: mastocitose sistêmica, tolerabilidade á niacina, síndrome de Bartter, quimioprevenção de câncer (ainda sob investigação) e doença de Alzheimer. Efeitos adversos A idade em geral se correlaciona a uma probabilidade maior de desenvolver reações adversas sérias aos AINEs, e em pacientes idosos é necessário o cuidado de instituir uma menor dose inicial. São os mais comuns. Acredita-se que resultem principalmente da inibição da COX-1 gástrica, que sintetiza as prostaglandinas que normalmente inibem a secreção de ácido e protegem a mucosa. A lesão na mucosa gástrica provoca leves sintomas de desconforto gástrico (“dispepsia”), anorexia, náuseas, dispepsia, dor abdominal e diarreia, o que em alguns casos progride para a manifestação de hemorragia e ulceração gástrica. As úlceras podem ser únicas ou múltiplas e as ulcerações podem ser complicadas ou não por sangramento, perfuração ou obstrução. A perda de sangue pode ser gradual, ocasionando anemia com o tempo, ou aguda e fatal. O risco é ainda maior nos infectados por Helicobacter pylori, quando há consumo excessivo de álcool ou na presença de outros fatores de risco para lesão de mucosa, incluindo o uso concomitante de glicocorticoides. No seguimento do tratamento com AINE, pode ocorrer também lesão do intestino delgado. Não é claro se um mecanismo dependente da COX está envolvido. A administração oral de análogos de prostaglandina de “reposição”, como o misoprostol, diminui a agressão gástrica produzida por esses agentes, e, em certas ocasiões, ambos são coprescritos ou combinados em um único comprimido. Os rashes cutâneos são efeitos indesejáveis peculiares comuns dos AINE, particularmente com o ácido mefenâmico e o sulindaco. Os efeitos vão desde reaçõeseritematosas leves, urticária e fotossensibilidade até doenças mais graves e potencialmente fatais, incluindo a síndrome de Stevens-Johnson (um rash bolhoso que se estende para o intestino), e sua forma mais grave, a necrólise epidérmica tóxica (felizmente muito rara). O mecanismo é incerto. Doses terapêuticas de AINE em indivíduos saudáveis praticamente não interferem na função renal, mas, em pacientes suscetíveis, causam insuficiência renal aguda, que é reversível por suspensão da terapia. Isso ocorre devido à inibição da biossíntese dos prostanoides (PGE2 e PGI2; prostaciclina) envolvidos na manutenção do fluxo sanguíneo renal, especificamente na vasodilatação compensatória mediada por PGE2 que ocorre em resposta à ação da norepinefrina ou da angiotensina II. O risco é maior em recém-nascidos e idosos, assim como em pacientes com doenças cardíacas, hepáticas ou renais ou com redução do volume de sangue circulante. O consumo crônico de AINE, especialmente seu uso abusivo, pode causar nefropatia analgésica, caracterizada por nefrite crônica e necrose papilar renal. O ácido acetilsalicílico é usado como antiplaquetário de longa duração e outros AINEs contrapõem-se aos efeitos de alguns fármacos anti-hipertensivos, elevando, portanto, a pressão arterial em pacientes que não estejam sob medicação anti- hipertensiva e levando a eventos cardiovasculares adversos, como acidente vascular encefálico (AVE) e infarto agudo do miocárdio (IAM). As prostaglandinas são importantes na regulação da liberação da renina pelas células na região da mácula densa e, logo, para a pressão arterial. Uma explicação alternativa recente é a de que a COX-2 renal controla o sistema metilarginina, suprimindo a liberação da dimetil-arginina assimétrica pela enzima constitutiva óxido nítrico sintase. Outros efeitos adversos muito menos comuns dos AINE incluem efeitos no SNC, distúrbios na medula óssea e alterações hepáticas, sendo estas últimas mais prováveis se já houver comprometimento renal. A superdosagem de paracetamol causa insuficiência hepática. Todos os AINE (exceto os inibidores da COX2, incluindo paracetamol em doses terapêuticas) impedem a agregação plaquetária em certa medida, podendo, portanto, prolongar o sangramento. Nas horas que antecedem o parto, há indução da expressão de COX-2 no miométrio e os níveis de prostaglandina E2 e F2α no miométrio aumentam notavelmente durante o trabalho de parto. Alguns AINEs, em particular a indometacina, têm sido usados fora de suas indicações formais para interromper o trabalho de parto prematuro. Entretanto, esse uso associa-se ao fechamento do canal arterial e ao comprometimento da circulação fetal in útero, particularmente em fetos com mais de 32 semanas de gestação. Os inibidores seletivos da COX-2 já foram usados como agentes tocolíticos; tal uso associou-se à estenose do canal arterial e oligodrâmnio. Por fim, o uso dos AINEs e de ácido acetilsalicílico no final da gestação pode aumentar o risco de hemorragia pós- parto. Portanto a gestação, em especial quando próxima ao termo, é uma contraindicação relativa ao uso de todos os AINEs. Certos indivíduos exibem hipersensibilidade ao ácidoacetilsalicílico e aos AINEs, manifestada por sintomas que variam desde rinite vasomotora, urticária generalizada e asma brônquica até edema de laringe, broncoconstrição, rubor, hipotensão e choque. A intolerância ao ácido acetilsalicílico é uma contraindicação ao tratamento com qualquer outro AINE. Apesar da semelhança com a anafilaxia, tal reação não parece ser de natureza imunológica. Interações Medicamentosas Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) agem, pelo menos em parte, evitando a degradação das cininas que estimulam a produção de prostaglandinas. Portanto, os AINEs atenuam a eficácia dos inibidores da ECA ao bloquear a produção de prostaglandinas vasodilatadoras e natriuréticas. Devido à hiperpotassemia, a combinação de AINEs e inibidores da ECA também pode provocar bradicardia notável que resulte em síncope, especialmente em idosos e pacientes com hipertensão, diabetes melito ou doença cardíaca isquêmica. Os corticosteroides e os ISRSs podem aumentar a frequência ou a gravidade das complicações GI quando combinados com AINEs. Os AINEs podem aumentar o risco de sangramento em pacientes que usam varfarina, porque quase todos os AINEts suprimem a função plaquetária normal temporariamente durante o intervalo entre doses e aumentam os níveis de varfarina interferindo em seu metabolismo. Muitos AINEs são altamente ligados às proteínas plasmáticas e assim podem deslocar outros fármacos dos seus locais de ligação. Ácido Acetilsalicílico Seu uso clínico é sobretudo como um fármaco cardiovascular, dada sua capacidade de causar prolongada supressão da COX-1 plaquetária e, portanto, reduzir sua agregação. Enquanto a inibição da função plaquetária é uma característica da maioria dos AINE, o efeito do ácido acetilsalicílico é mais duradouro. Isso ocorre porque o ácido acetilsalicílico acetila de forma irreversível as enzimas COX, e enquanto essas proteínas podem ser substituídas em quase todas as células, as plaquetas, como não têm núcleo (e logo, sem a maquinaria celular para fazer novas proteínas), não são capazes de fazê-lo, permanecendo inativadas pelo seu tempo de vida (cerca de 10 dias). À medida que uma fração de plaquetas é substituída dia a dia na medula óssea, sua inibição gradualmente diminui. O uso de ácido acetilsalicílico também foi avaliado para outras indicações, sendo: Câncer – especialmente câncer do cólon e retal: o ácido acetilsalicílico (e alguns inibidores da COX-2) pode reduzir a incidência de vários tipos de câncer, embora seja necessário sempre alertar sobre o risco GI Doença de Alzheimer Diarreia induzida por radiação. Os salicilatos são capazes de inibir a produção de anticorpos, a agregação entre antígeno e anticorpo e a liberação de histamina induzida por antígeno. Os salicilatos também induzem uma estabilização inespecífica da permeabilidade capilar durante as agressões imunológicas. Os salicilatos também podem influenciar o metabolismo do tecido conjuntivo, efeito que pode estar envolvido em sua ação anti- inflamatória. Por exemplo, os salicilatos podem afetar a composição, a biossíntese ou o metabolismo dos mucopolissacarídeos da substância fundamental do tecido conjuntivo, que serve de barreira contra a disseminação de infecção e inflamação. Como ácido fraco, o ácido acetilsalicílico não está dissociado (não ionizado) no ambiente ácido do estômago, facilitando, assim, sua passagem pela mucosa. Contudo, a maior parte da absorção ocorre no íleo, em razão da extensa área de superfície das microvilosidades. O ácido acetilsalicílico é rapidamente hidrolisado por esterases no plasma e nos tecidos, em particular no fígado, produzindo salicilato. Cerca de 25% do salicilato é oxidado; uma parte é conjugada originando glicuronídio ou sulfato antes da eliminação, e cerca de 25% são eliminados inalterados, sendo que a urina alcalina acelera a eliminação. A meia-vida plasmática do ácido acetilsalicílico dependerá da dose, mas a duração de ação não está diretamente relacionada à meia- vida plasmática, em razão da natureza irreversível da reação de acetilação pela qual o fármaco inibe a atividade da COX. Com doses terapêuticas: sintomas GI, frequentemente, incluem algum sangramento gástrico (geralmente discreto e assintomático); Com grandes doses: tonturas, surdez e tinido (“salicilismo”); pode ocorrer alcalose respiratória compensada; Com doses tóxicas (p. ex., por autointoxicação): os salicilatos desacoplam a fosforilação oxidativa (sobretudo na musculatura esquelética), levando a hipertermia, aumento do consumo de oxigênio e, logo, aumento da produção de dióxido de carbono. Tal fato estimula a respiração, que também aumenta por uma ação direta dos fármacos no centro respiratório. A hiperventilação resultante causa alcalose respiratória, que é normalmente compensada por mecanismos renais envolvendo aumento da eliminação de bicarbonato. Doses maiores, de fato, causam depressão do centro respiratório, sendo exalada menor quantidade de CO2 e, portanto, aumentando o CO2 no sangue. Como isso acontece sobre uma redução do bicarbonato plasmático, ocorrerá acidose respiratória não compensada. O ácido acetilsalicílico está vinculado a uma encefalite pós-viral rara, porém grave (síndrome de Reye) em crianças e não é utilizado para fins pediátricos; Se administrado concomitantemente com varfarina, pode causar aumento potencialmente perigoso do risco de hemorragia. Além de interferir no efeito da varfarina, também antagoniza o efeito de alguns agentes anti-hipertensivos e uricosúricos. Como o ácido acetilsalicílico em baixas doses pode, por si só, reduzir a eliminação de uratos, ele não deve ser usado na gota. Paracetamol Possui uma diferença com outros AINE: enquanto é um excelente analgésico e antipirético, sua ação anti-inflamatória é leve e parece estar restrita a alguns casos especiais (p. ex., a inflamação após extração dentária). Também está substancialmente livre dos efeitos gástricos e plaquetários colaterais dos outros AINE. Por estes motivos, o paracetamol por vezes nem é classificado como um AINE. As atividades antipiréticas e analgésicas podem ser atribuídas à inibição da síntese de prostaglandinas no SNC. Demonstrou-se que o paracetamol inibe a biossíntese de prostaglandinas em alguns ambientes experimentais (p. ex., no SNC durante a febre), mas não em outros. Isso decorre devido a possibilidade de existir uma isoforma COX mais sensível ao paracetamol no SNC ou este atua como agente redutor, inibindo as enzimas COX (a inibição seria mais eficaz no meio oxidante particular do SNC). O paracetamol é bem absorvido quando administrado por via oral, sendo alcançadas as concentrações plasmáticas máximas em 30 a 60 min. A meia-vida plasmática das doses terapêuticas é de 2 a 4 h, mas com doses tóxicas pode estender-se de 4 a 8 h. O paracetamol é inativado no fígado, sendo conjugado originando glicuronídio ou sulfato. Com doses terapêuticas: poucos e incomuns, porém pode dar reações alérgicas na pele. Com grandes doses: por um longo período possa causar lesão renal. Doses tóxicas: causam náuseas e vômitos e, decorridas 24 a 48 h, ocorre lesão hepática potencialmente fatal por saturação das enzimas normais de conjugação, fazendo com que o fármaco seja convertido por oxidases de função mista em N-acetil-p-benzoquinona imina. Caso não seja inativado por conjugação com glutationa, este composto reage com proteínas celulares, causando danos teciduais como necrose. O consumo crônico de álcool, mas não agudo, pode exacerbar a toxicidade do paracetamol ao induzir as enzimas hepáticas microssomais que produzem o metabólito tóxico. o Se o pacientefor avaliado suficientemente próximo do momento da ingestão, a lesão hepática poderá ser prevenida por administração de agentes que aumentem a formação de glutationa no fígado (acetilcisteína IV ou metionina VO). Coxibes São geralmente usadas em pacientes para os quais o tratamento com AINE convencionais traria uma grande probabilidade de efeitos GI adversos graves. No entanto, estes podem ainda ocorrer com coxibes, talvez porque a COX- 2 esteja implicada na cura de úlceras preexistentes, de modo que a sua inibição pode retardar a recuperação de lesões mais antigas. Nesse caso, o risco cardiovascular deve ser avaliado antes de iniciar tratamento de longa duração, bem como no caso de tratamento com todos os AINE. São usados para alívio sintomático no tratamento de osteoartrite e artrite reumatoide. Ambos são administrados por via oral e têm perfis farmacocinéticos semelhantes, sendo bem absorvidos com concentrações plasmáticas máximas obtidas em 1 a 3 h. São extensamente (mais de 99%) metabolizados no fígado, e a ligação a proteínas plasmáticas é alta (mais de 90%). Os efeitos adversos comuns podem incluir cefaleia, tontura, rashes cutâneos e edema periférico causado por retenção hídrica. Em virtude do papel potencial da COX-2 no fechamento de úlceras, pacientes com doença preexistente devem evitar os fármacos. É um pró-fármaco do valdecoxibe com uso no tratamento a curto prazo de dor pós- operatória. É empregado por via parenteral, intravenosa ou intramuscular e é rapidamente quase todo convertido (> 95%) em valdecoxibe ativo por hidrólise enzimática no fígado. Os níveis sanguíneos máximos são atingidos em aproximadamente 30 a 60 min, dependendo da via de administração. A ligação a proteínas plasmáticas é alta. O metabólito ativo, o valdecoxibe, é convertido no fígado em vários metabólitos inativos e tem meia-vida no plasma de cerca de 8 h. As reações adversas são reações cutâneas, insuficiência renal e anemia pós- operatória.
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