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Complicações da Terapia Nutricional Enteral em Pacientes Críticos

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Terapia nutricional enteral em pacientes críticos: complicações associadas ao estado nutricional
Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 86-90
87
Unitermos: 
Nutrição enteral. Unidades de terapia intensiva. 
Estado nutricional.
Keywords: 
Enteral nutrition. Intensive care units. Nutritional 
status.
Endereço para correspondência: 
Revilane P. de Alencar Britto
Serviço de Terapia Nutricional Enteral e Parenteral 
do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo 
Brandão Vilela
Av. Dr. Antônio Gouveia, 241/504 – Pajuçara – Ma-
ceió, AL, Brasil – CEP 57030-170. 
E-mail: rbrittof@uol.com.br
Submissão:
10 de dezembro de 2012
Aceito para publicação:
11 de abril de 2013
RESUMO
Introdução: Pacientes críticos que apresentam comprometimento nutricional têm sido relacio-
nados com maior incidência de complicações gastrintestinais, infecciosas, metabólicas e respi-
ratórias. O objetivo deste estudo foi investigar as complicações mais prevalentes em pacientes 
graves sob uso de terapia nutricional enteral exclusiva e verificar sua influência sob o estado 
nutricional. Método: Estudo longitudinal prospectivo, realizado na Unidade de Terapia Intensiva 
do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela, em Maceió, AL. Foram avaliados 
parâmetros antropométricos, bioquímicos e semiologia nutricional, tipo de dieta enteral utilizada, 
ocorrência de complicações gastrointestinais e metabólicas. Os resultados foram considerados 
estatisticamente significantes quando a probabilidade de erro foi inferior a 5% (p<0,05). Resul-
tados: Dos 38 pacientes elegíveis, 73,7% eram do sexo masculino e 26,3% do sexo feminino, 
com idade média 43,1 ± 17,5 anos. Quanto ao estado nutricional, 50% dos pacientes eram 
eutróficos, 36,8% desnutridos e 13,2% apresentaram sobrepeso. A hiperglicemia e a insuficiência 
renal aguda (IRA) pré-renal foram as complicações metabólicas mais prevalentes. A hipergli-
cemia foi mais frequente nos eutróficos (p=0,04). Por outro lado, a IRA e a anemia foram mais 
prevalentes nos desnutridos (p=0,048). Dos pacientes analisados, 60,6% apresentaram resíduo 
gástrico elevado, 39,4%, distensão abdominal, 34,2%, diarreia e 21,1% apresentaram vômito. 
À exceção da diarreia, as demais complicações gastrointestinais não sofreram interferência 
do estado nutricional. Conclusão: Desnutrição, anemia, IRA, hiperglicemia e complicações 
gastrointestinais foram condições prevalentes na amostra estudada. A desnutrição interferiu 
negativamente na prevalência de azotemia, diarreia e anemia.
ABSTRACT
Introduction: Critical ill patients with compromised nutritional status have been associated with 
higher incidence of gastrointestinal complications, infectious, metabolic and respiratory. The 
aim of this study was to investigate the complications more prevalent in patients under severe 
use of exclusive enteral nutritional therapy and determining its influence on nutritional status. 
Methods: Longitudinal prospective study, conducted at the Intensive Care Unit of the Hospital 
Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela, in Maceió, AL. We evaluated anthropometric, 
biochemical and nutritional semiology, type of enteral feeding used, occurrence of gastrointes-
tinal complications and metabolic diseases. Results were considered statistically significant when 
the probability of error was less than 5% (p <0.05). Results: Of the 38 patients studied, 73.7% 
were male and 26.3% female, mean age 43.1 ± 17.5 years. Regarding nutritional status, 50% of 
patients were normal weight, 36.8% malnourished and 13.2% were overweight. Hyperglycemia 
and acute renal insufficiency (ARI) were the most prevalent metabolic complications. Hyper-
glycemia was more frequent in eutrophic (p = 0.04). On the other hand, the ARI and anemia 
were more prevalent in malnourished (p = 0.048). Of the patients studied, 60.6% had high gastric 
residue, bloating 39.4%, 34.2% and 21.1% had diarrhea and vomiting. The exception of diarrhea, 
other gastrointestinal complications were not affected nutritional status. Conclusion: Malnutrition, 
anemia, ARI, hyperglycemia and complications were gastrointestinal conditions prevalent in the 
study sample. Malnutrition prevalence prejudicial to azotemia, diarrhea and anemia.
Cynthya Katarynny de Lima Almeida1
Renata Reis de Lima e Silva2
Revilane Parente de Alencar Britto3
1. Mestre em Nutrição e Desenvolvimento Fisiológico pela Faculdade de Nutrição Universidade Federal de Alagoas (FANUT/UFAL), Maceió, AL, 
Brasil.
2. Residente em Nutrição Clínica pelo Pronto Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (PROCAPE/UPE), Recife, PE, Brasil.
3. Doutoranda em Ciências Endocrinológicas pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), Nutricionista do Serviço de Terapia Nutri-
cional do Hospital Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela, Maceió, AL, Brasil.
Terapia nutricional enteral em pacientes críticos: 
complicações associadas ao estado nutricional 
Enteral nutritional therapy in critical patients: complications associated with nutricional status
AArtigo Original
Rev Bras Nutr Clin 2013; 28 (2): 86-90
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Almeida CKL et al.
INTRODUÇÃO
A maioria dos pacientes internados em unidades de 
terapia intensiva (UTIs) são vítimas de traumatismos (acidentes 
de trânsito, quedas, agressões físicas etc.), acidente vascular 
encefálico (AVE) e complicações decorrentes de doenças 
crônicas1. 
No pós-estresse imediato, ocorre uma série de alterações 
hormonais, visando à manutenção da homeostase hemodi-
nâmica. Há aumento da atividade de mediadores de fase 
aguda, como catecolaminas, glucagon, cortisol, hormônio do 
crescimento e interleucinas ou citocinas, particularmente IL-1, 
IL-6 e TNF-α, que induzem ao hipermetabolismo, proteólise, 
resistência à insulina e hiperglicemia2, comumente cursando 
com desnutrição e imunossupressão, aumentando a morbi-
mortalidade, o tempo de internamento e custos hospitalares3. 
Segundo Soguel et al.4, a desnutrição hospitalar tem sido 
uma condição frequente, particularmente em UTIs. Nesse 
sentido, o uso de terapia nutricional precoce tem sido cada 
vez mais documentado, com o objetivo de manter e/ou 
recuperar o estado nutricional, restaurar e manter a função 
imunológica e sistêmica, reduzir o número de complicações 
clínico-cirúrgicas e infecciosas, manter o trofismo intestinal 
e, consequentemente, melhorar o prognóstico do paciente3,4. 
Estudos realizados em pacientes críticos em uso de terapia 
nutricional enteral (TNE) demonstram que as complicações 
gastrointestinais são as mais incidentes, seguidas pelas 
infecciosas, metabólicas e respiratórias1, e estas tendem a ser 
mais frequentes naqueles pacientes com comprometimento 
do estado nutricional3. 
O aparecimento de complicações durante a nutrição 
enteral impõe o diagnóstico diferencial das possíveis causas 
etiológicas e, consequentemente, uma intervenção corretiva 
precoce. O presente estudo pretende investigar as compli-
cações mais prevalentes em pacientes críticos em uso de 
TNE exclusiva, e verificar a influência do estado nutricional 
sobre as mesmas.
MÉTODO 
Estudo longitudinal prospectivo realizado na UTI do Hospital 
Geral do Estado Professor Osvaldo Brandão Vilela (HGE), loca-
lizado na Cidade de Maceió – Alagoas, conduzido no período 
de julho a setembro de 2009. O projeto foi previamente apro-
vado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Universidade Federal 
de Alagoas, sob nº 021750/2009-11.
Foram incluídos no estudo, pacientes adultos de ambos 
os sexos, em uso de TNE exclusiva. Pacientes que durante a 
internação fizeram uso de nutrição parenteral total (NPT) e/ou 
dieta oral foram excluídos. 
A avaliação do estado nutricional foi realizada em até 72 
horas da internação, sendo analisados parâmetros antropomé-
tricos e laboratoriais e o exame físico nutricional. Para estimativa 
da altura, utilizou-se a altura do joelho,aplicando a equação 
de Chumlea et al.5. Em casos de impossibilidade de aferição da 
mesma, a medida da semibraçada foi utilizada. Para estimativa 
do peso corpóreo foi utilizada a compleição óssea. O peso 
médio estimado foi obtido por meio da tabela desenvolvida 
pela Metropolitan Life Insurance Company6. A circunferência 
do braço foi medida com auxílio de fita métrica inextensível no 
braço não-dominante do paciente. 
Diariamente registrou-se a presença de distúrbios gastroin-
testinais, dentre eles, vômitos, resíduo gástrico, considerando-
se elevado (RGE), quando superior a 150 mL no período de 
6 horas, diarreia (maior que três evacuações líquidas por dia 
em grande quantidade), distensão abdominal e presença de 
gastroparesia. 
Quanto à nutrição enteral instituída, a via de adminis-
tração foi a nasoentérica, com posicionamento pós-pilórico. 
Verificou-se o tipo de fórmula utilizada quanto à complexidade 
dos nutrientes. 
A análise estatística foi realizada com o auxílio do pacote 
estatístico Statistical Package for the Social Science (SPSS), 
versão 15.0. Por meio da análise univariada foram verificadas 
as frequências, média e a medida de dispersão (desvio padrão). 
Para determinar a associação entre as variáveis, foi utilizado o 
teste de correlação linear de Spearman, na comparação de 
frequência, o teste qui-quadrado, e para comparar as médias, 
o teste t de Student. O odds ratio foi utilizado como medida de 
risco. Os resultados obtidos foram considerados estatisticamente 
significantes quando a probabilidade de erro foi inferior a 5% 
(p<0,05).
RESULTADOS
Dos 60 pacientes internados na UTI no período do 
estudo, 36,6% foram excluídos por fazerem uso de NPT 
e dieta via oral, associadas ou não a nutrição enteral 
durante a internação. A casuística foi composta de 38 
pacientes, sendo 28 (73,7%) do sexo masculino, com 
idade média de 43,1 ± 17,5 anos. Destes, mais de 50% 
dos pacientes foram internados vítimas de politraumas. 
A desnutrição esteve presente em 36,8% dos pacientes. 
Quanto à complexidade dos nutrientes, a dieta polimérica 
foi mais prevalente, apenas 8% dos pacientes utilizaram 
dieta oligomérica exclusiva (Tabela 1).
Na Figura 1, verifica-se o motivo da internação segundo 
estado nutricional. Os traumatismos cranioencefálicos e 
distúrbios metabólicos estiveram mais presentes nos eutró-
ficos, enquanto os desnutridos foram mais acometidos por 
doenças crônicas e cirurgias gastrointestinais (p< 0,05). 
A Tabela 2 demonstra a associação entre os distúrbios 
metabólicos e o estado nutricional. Observou-se que, 
apesar dos desnutridos apresentarem maior incidência de 
hipernatremia, hipercalemia e hipercalcemia, não houve 
diferença significativa quanto ao estado nutricional. A 
anemia e a azotemia foram mais presentes nos desnutridos, 
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entretanto, a hiperglicemia foi mais frequente nos eutróficos. 
Quanto às complicações gastrointestinais, pode-se observar 
que o RGE foi o mais incidente, estando presente em 60,6% 
da amostra estudada, seguido pela distensão abdominal, 
diarreia e vômito. À exceção da diarreia (p=0,05), as 
demais complicações gastrointestinais não diferiram quanto 
ao estado nutricional. 
Durante o tempo de uso de TNE, 73,7% dos pacientes 
suspenderam a dieta por até 24 horas, independente do 
estado nutricional, decorrente em sua maioria das compli-
cações gastrointestinais, como realização de exames e 
procedimentos, RGE, vômito e diarreia. Destes, 30% dos 
pacientes apresentaram interrupção da dieta por compli-
cações mecânicas, como obstrução de sonda ou retirada 
acidental da mesma e jejum para propedêutica, entre outros. 
O período médio de internação e de TNE foi similar em 
eutróficos e desnutridos (21 ± 11 dias; p>0,05). No que 
tange a evolução clínica, 64,6% dos pacientes evoluíram para 
alta da UTI. O percentual de óbitos foi inferior nos eutróficos 
(35,7%) em relação aos desnutridos (38,8%), entretanto sem 
diferença estatística significante (dados não demonstrados).
DISCUSSÃO
Os resultados do estudo evidenciaram o predomínio de 
adultos jovens do sexo masculino acometidos por traumas. 
Diversos estudos corroboram com este achado7,8, em 
decorrência da elevada incidência de acidentes de trânsito 
e violência com essa parcela da população8. 
Por outro lado, a desnutrição hospitalar vem sendo estu-
dada há décadas e vários estudos indicam que cerca de 20% 
Figura 1 – Motivos da internação, segundo o estado nutricional de pacientes 
críticos em uso de terapia nutricional exclusiva internos na UTI do Hospital 
Geral do Estado, Maceió, AL. PLT = politrauma; AVE = acidente vascular 
encefálico; DCNT = doença crônica não transmissível; CTGI = cirurgia do 
trato gastrointestinal; DM = distúrbios metabólicos. Valor p: qui-quadrado 
para frequências. *p <0,05.
Tabela 2 – Odds ratio e respectivos intervalos de confiança das compli-
cações metabólicas e gastrointestinais em pacientes críticos, segundo 
estado nutricional. Hospital Geral do Estado Prof. Osvaldo Brandão 
Vilela, Maceió, AL.
Variáveis Total Desnutridos
% Sim (%) Não (%) OR IC 95%
Anemia 69,3 68,6 31,4 2,1 2,01-1,55
Hiperglicemia 60,6 30 70 2,53 2,12-3,68
Azotemia 30 62,5 37,5 1,87 1,85-3,72
Hipernatremia 24,2 52,5 47,5 1,12 0,69-1,8
Hipercalemia 9,1 56,7 43,3 1,16 0,66-2,04
Hipercalcemia 3 0 100 1,48 0,46-2,72
RGE 60,6 35 65 1,01 0,66-1,61
Distensão abdominal 39,4 46,2 53,8 1,02 0,65-1,22
Diarreia 34,2 63,6 36,4 1,91 2,64-3,91
Vômito 24,2 47,5 52,5 1,05 0,42-1,76
OR = odds ratio. IC = intervalo de confiança. RGE = Resíduo gástrico elevado.
Tabela 1 – Caracterização de pacientes críticos em uso de terapia nutri-
cional exclusiva internos na UTI do Hospital Geral do Estado Prof. Os-
valdo Brandão Vilela, Maceió, AL.
Variáveis Média (DP) / %
Idade (anos) 43,1 ± 17,5
Sexo (%)
 Masculino 73,7
 Feminino 26,3
Diagnóstico clínico
 Politrauma 51,6
 AVE 27,27
 DCNT 9,09
 CTGI 9,09
 Distúrbios metabólicos 3,03
Diagnóstico nutricional 
 Desnutridos 36,8
 Eutróficos 63,2
Dieta enteral
 Polimérica 58
 Mista 34
 Oligomérica 8
AVE = acidente vascular encefálico. DCNT = doenças crônico não-transmissí-
veis. CTGI = cirurgias do trato gastrointestinal. Mista = dieta mista (polimérica + 
oligomérica; polimérica + oligomérica + elementar).
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a 50% dos pacientes hospitalizados apresentam algum grau 
de desnutrição9-11, agravando-se com o decorrer da inter-
nação. No presente estudo, encontrou-se uma prevalência 
em torno de 20%, provavelmente devido à característica da 
UTI estudada, com predomínio de pacientes jovens, politrau-
matizados, previamente hígidos e sem histórico de doenças 
crônicas e/ou hipercatabólicas.
A ocorrência de descompensação glicêmica, insufici-
ência renal aguda (IRA) pré-renal e níveis de hematócrito e 
hemoglobina reduzidos são achados frequentes em pacientes 
graves e desnutridos, sendo associada a maior morbimor-
talidade12-14, corroborando com os resultados do presente 
estudo. 
Os pacientes críticos podem ser acometidos por várias 
complicações no decorrer da internação e, algumas vezes, 
em decorrência da própria terapia nutricional instituída. 
Na maioria das vezes, estas são atribuídas erroneamente à 
nutrição enteral, estando mais frequentemente associadas à 
condição clínica do paciente e/ou ao tratamento medicamen-
toso implementado, entre outros15,16. O monitoramento siste-
mático de tais complicações torna-se imprescindível, assim 
como a clareza do profissional nutricionista sobre as reais 
necessidades de diminuição do volume de infusão, alteração 
do tipo de fórmula e, principalmente, da suspensãoda dieta. 
Neste estudo, o RGE foi a complicação gastrointestinal 
mais prevalente, seguido de distensão abdominal, em conso-
nância com outros autores15,17. Isto provavelmente se deve a 
gastroparesia associada ao trauma e ao uso de medicações, 
a exemplo dos analgésicos opioides, sedativos, anticoli-
nérgicos e drogas vasoativas, que geram estase gástrica 
por reduzir sua motilidade. Adicionalmente, o edema de 
parede abdominal pode ter sido um dos fatores etiológicos 
associados às complicações gastrointestinais, visto que o 
mesmo reduz o fluxo esplênico, favorecendo a intolerância à 
nutrição enteral e levando, consequentemente, à distensão15. 
Em estudo realizado por Serpa et al.17, com 28 adultos 
internos em uma UTI do Hospital Oswaldo Cruz, em São 
Paulo, o resíduo gástrico foi a complicação gastrointestinal 
mais frequente, acometendo cerca de 50% dos pacientes, 
seguida de alto índice de distensão abdominal. 
A diarreia tem sido associada ao uso de nutrição enteral, 
entretanto apenas 20% dessa complicação tem sido real-
mente atribuída à terapia nutricional instituída, devido a 
hipertonicidade da solução infundida no estômago, ausência 
de fibras, velocidade e tipo de infusão, entre outros6. Nossos 
achados corroboram com Catafesta e Francesconi18, situando 
a diarreia entre as principais complicações gastrointestinais 
em pacientes em uso de nutrição enteral. 
Nesse sentido, pesquisas revelam que as complicações 
gastrointestinais estão entre as principais causas de inter-
rupção de dieta enteral15,17. Elpern et al.19, estudando 39 
pacientes em uso de TNE por 276 dias, relataram que a oferta 
da dieta foi suspensa por 5,2 horas por paciente por dia, 
sendo as interrupções para exames e procedimentos, o RGE, 
náusea e vômito os principais fatores etiológicos associados à 
suspensão. No entanto, apesar de estudos demonstrarem alta 
prevalência de complicações gastrointestinais em pacientes 
em uso de TNE, essa via tem sido a preferida e recomendada 
em pacientes críticos e uma importante ferramenta para 
minimizar o estado catabólico comumente observado nesse 
grupo de pacientes20. Nesse contexto, o reconhecimento da 
equipe interdisciplinar, sobre o impacto da terapia nutricional 
na evolução clínico-nutricional e, consequentemente, no 
prognóstico dos pacientes é de fundamental importância, 
no sentido de minimizar as interrupções e o aparecimento 
de complicações associadas ao uso de TNE.
 
CONCLUSÃO
A desnutrição, a anemia, a hiperglicemia, a IRA pré-renal 
e as complicações gastrintestinais foram condições preva-
lentes na amostra estudada. A desnutrição interferiu nega-
tivamente na prevalência de azotemia, anemia e diarreia. 
Este estudo vem ressaltar a necessidade de focar na atenção 
nutricional e no conhecimento dos fatores que impedem 
a efetiva administração da TNE, permitindo a adoção de 
protocolos e medidas preventivas e reforçar a importância 
do monitoramento sistemático desses pacientes pela equipe 
multidisciplinar de terapia nutricional, com o objetivo de 
proporcionar o aporte energético-proteico adequado aos 
pacientes graves, minimizar o número de complicações, 
melhorar o prognóstico e, consequentemente, reduzir ao 
tempo de internação hospitalar.
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