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Edição 1996 
21 de fevereiro de 2007 
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 Entrevista: Peter Singer 
A ética do dia-a-dia 
O filósofo australiano diz que quando pessoas 
normais cometem crimes bárbaros é sinal de 
que a sociedade perdeu o controle de si própria 
 
Gabriela Carelli 
 
O filósofo australiano Peter Singer, de 60 anos, especialista em ética, tornou-
se mundialmente conhecido com o livro Libertação Animal, de 1975, no qual 
defendia que nada justifica os maus-tratos impostos aos animais pelos 
produtores de alimentos. Com mais de trinta outras obras publicadas desde 
então, Singer agora volta ao assunto em seu novo livro, A Ética da 
Alimentação, recém-lançado no Brasil. Nele, defende que a forma como o ser 
humano se alimenta hoje precisa ser reavaliada, pois tem enorme impacto 
não apenas no sofrimento dos animais, mas também na saúde das 
populações. Ao longo de sua vasta obra, Singer, hoje professor da 
Universidade Princeton, nos Estados Unidos, trata de assuntos como aborto, 
uso de embriões para pesquisas científicas, eutanásia e pena de morte. 
Nesta entrevista a VEJA, o filósofo comenta o assassinato brutal do menino 
João Hélio Vieites, de 6 anos, e destaca a necessidade de exercitar a ética 
diariamente para manter os valores morais de uma sociedade. 
Veja – O assassinato do menino João Hélio, de 6 anos, há duas semanas, 
chocou o Brasil e reacendeu o debate sobre os valores éticos na sociedade 
brasileira. Um crime bárbaro pode ser tomado como medida dos valores 
morais de uma nação? 
Singer – Crimes como esse se sobrepõem à imoralidade. São amorais. Essa 
ausência total de valores morais é geralmente percebida em atos praticados 
por psicopatas ou assassinos em série. Quando pessoas supostamente 
normais cometem barbáries como essa, tem-se um péssimo sinal. É uma 
prova de que a sociedade em questão perdeu o controle de si mesma, que 
Richard Perry/The New York Times 
"Num primeiro momento, pequenas 
infrações parecem não ter 
importância, mas ao longo do tempo 
a moral da comunidade é afetada em 
todas as esferas" 
VEJA 
• Frei 
Galvão 
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as pessoas não têm mais a noção exata de certo e errado. Eu não conheço o 
Brasil e não sou criminalista, por isso não posso falar de forma específica 
sobre o caso. De qualquer modo, como os jovens assassinos tinham a opção 
de parar o carro e evitar a tragédia, o ato torna-se injustificável sob qualquer 
ponto de vista. 
Veja – Existem valores éticos inatos ou todos resultam da vivência e do 
aprendizado? 
Singer – Certos aspectos morais são inatos, como o respeito e o 
compromisso com a família, com os filhos e com os pais, assim como o 
senso de justiça e a reciprocidade. São valores universais, presentes em 
todas as sociedades. Já foi provado que eles existem também entre 
macacos, gorilas e chimpanzés. Mas alguns valores morais podem sofrer 
transformações de acordo com os traços culturais e com a realidade de cada 
sociedade. Essa influência da cultura e da realidade nos valores morais pode 
ser bem percebida quando tratamos de assuntos como aborto, eutanásia e 
comportamento sexual. Cada país tem uma visão diferente dessas questões. 
Veja – O que pode causar o enfraquecimento dos valores éticos numa 
sociedade? 
Singer – A ética é um exercício diário, precisa ser praticada no cotidiano. Só 
assim ela pode se afirmar em sua plenitude numa sociedade. Se uma pessoa 
não respeita o próximo, não cumpre as leis da convivência, não paga seus 
impostos ou não obedece às leis de trânsito, ela não é ética. Num primeiro 
momento, pequenas infrações isoladas parecem não ter importância. Mas, 
ao longo do tempo, a moral da comunidade é afetada em todas as suas 
esferas. Chamo a isso de círculo ético. Uma ação interfere na outra, e os 
valores morais perdem força, vão se diluindo. Para uma sociedade ser justa, 
o círculo ético é essencial. 
Veja – Essa lógica pode ser aplicada a questões que envolvem 
criminalidade? 
Singer – Sem dúvida. Bogotá é um exemplo desse círculo ético aplicado no 
combate à violência. Na capital colombiana, diminuiu-se a criminalidade 
combatendo-se os pequenos crimes diários. Foi um sucesso. Quando os 
cidadãos são estimulados a respeitar as leis básicas, passam a respeitar a si 
próprios, ao próximo e à cidadania. É o primeiro passo para mudar uma 
sociedade corrompida. 
Veja – O senhor é a favor da pena de morte? 
Singer – Definitivamente, não. A pena de morte não é moralmente aceitável 
e brutaliza uma sociedade. Prefiro a pena de prisão perpétua, que é mais 
justa. 
Veja – O senhor defende o aborto e a eutanásia, mas não a pena de morte. 
Não é uma contradição? 
Singer – Não. Tanto o aborto quanto a eutanásia não provocam sofrimento. 
Ao contrário. São práticas que aliviam o sofrimento. Considero o feto uma 
vida humana, mas não uma vida que tenha sensações e sentimentos, pelo 
menos na fase de gestação em que ocorre a maioria dos abortos. A 
eutanásia é a alternativa moral para aliviar o sofrimento de doentes terminais. 
Minha posição é contra a interrupção da vida de um ser, seja humano, seja 
animal, que deseja continuar a viver e sofrerá com a morte inesperada. 
Veja – Em seu último livro, o senhor volta ao tema dos direitos dos animais. 
Não é contraditório justificar o aborto e a eutanásia mas defender a vida dos 
bichos? 
Singer – Sempre fui mal interpretado nesse aspecto. Em nenhum momento 
disse que não devemos comer carne porque é errado matar animais. O alvo 
de minhas críticas é a maneira antiética como os animais são criados e 
abatidos para consumo. 
Veja – O senhor argumenta que é preciso pensar na comida de forma ética. 
O que significa isso? 
Singer – As pessoas precisam parar de pensar na comida apenas comoalgo 
de que se gosta ou que faz bem à saúde. O ato de comer também é uma 
decisão ética e moral. É necessário pensar nas conseqüências do comer, 
tanto para os animais que nos servem de alimento como para o meio 
ambiente ou para nós próprios. A forma como nos alimentamos hoje faz o 
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animal sofrer, provoca uma epidemia de obesidade no mundo e é causa de 
uma série de doenças nos seres humanos. Isso tem impacto profundo no 
planeta e no meio ambiente. 
Veja – O que há de errado na criação dos animais destinados à alimentação 
humana? 
Singer – Os animais são criados nas fazendas industriais sem a mínima 
dignidade. Os porcos, que instintivamente procuram abrigo para alimentar 
seus filhotes, não podem sequer se mexer, porque vivem num espaço 
mínimo. Os filhotes são arrancados da mãe o mais rápido possível, para que 
possam engordar e procriar. O gado não come capim, como todo mundo 
pensa, mas restos de animais e seus excrementos. Os frangos criados em 
granja vivem em galpões que abrigam até 20.000 aves que nunca vêem a luz 
do dia, só a luz artificial. São abarrotadas de antibióticos e hormônios para 
ganhar peso. Quem não se interessa pelos bichos deve pelo menos pensar 
em si próprio. A doença da vaca louca é um exemplo do resultado dessa 
forma de criação estapafúrdia. Além disso, o confinamento de bilhões de 
animais, alimentados de forma excessiva para o abate, exige uma 
quantidade incomensurável de plantações. Em alguns anos não haverá mais 
terra para plantio no planeta. Isso sem falar que a China e a Índia, com suas 
enormes populações, começaram a reproduzir métodos ocidentais de criação 
de animais. Se esse processo continuar, aumentarão os danos ao ambiente, 
a incidência de doenças cardíacas e os casos de câncer do sistema 
digestivo. São bons motivos para avaliar a comida moralmente. 
Veja – O que o senhor propõe para mudar essa situação? 
Singer – Eu sou vegetariano, mas não acredito que parar de comer carne 
seja a solução para o mundo. Há maneiras mais dignas de criar os animais, 
respeitando sua natureza e o meio ambiente. Pode parecer contraditório, 
mas são os próprios produtores de alimentos que vão imprimir essas 
mudanças. Na primeira etapa do processo, o consumidor precisa ser 
educado. Esse é um dos objetivos do meu novo livro. As pessoas têm de 
conhecer a realidade das fazendas industriais e saber que suas escolhas têm 
muito peso para modificar a atitude dos empresários do ramo em relação aos 
animais. O mercado só produz o que o consumidor quer. O consumo de 
vitela, por exemplo, caiu drasticamente quando se tornou público que os 
bezerros são separados da mãe e transformados propositalmente em 
animais anêmicos, confinados em espaços minúsculos, para que sua carne 
fique macia e branca. 
Veja – Os produtores de alimentos estão dispostos a mudar seus métodos 
de criação de animais de maneira drástica? 
Singer – Eles não têm muita saída. No mês passado, o maior produtor de 
porcos dos Estados Unidos, a Smithfield Farms, anunciou uma 
reestruturação nos criadouros de seus animais, hoje confinados em 
pequenos espaços. A empresa tem 187 fazendas de porcos nos Estados 
Unidos e prevê que só em dez anos as mudanças serão implementadas em 
todas elas. Mas a simples divulgação da medida já desencadeou uma série 
de outras ações, inclusive de empresas menores, que conseguirão 
resultados mais rapidamente. Poucos dias depois de a empresa americana 
anunciar isso, a maior produtora canadense de porcos decidiu fazer o 
mesmo. 
Veja – A ação dessa empresa decorre da conscientização do consumidor? 
Singer – Sem dúvida. É uma reação em cadeia. A empresa americana só 
promoveu mudanças em sua criação de porcos porque sofreu pressão de um 
de seus maiores clientes, o McDonald's. E isso só aconteceu porque os 
clientes do McDonald's mostraram indignação com a forma como os porcos 
são criados. O mesmo está ocorrendo em relação ao aquecimento global. A 
preocupação das pessoas com o futuro do planeta é cada vez maior, o que 
tem pressionado as empresas a mudar suas atitudes e seus métodos de 
produção, criando alternativas para evitar a emissão de dióxido de carbono. 
Veja – A humanidade sempre manteve laços afetivos com alguns animais. 
Por que oferecemos tanto amor aos bichos de estimação e às espécies em 
extinção enquanto negligenciamos as que nos alimentam? 
Singer – Sempre fomos muito seletivos em relação aos animais com os 
quais queremos nos relacionar. Temos uma ligação mais profunda com 
bichos nos quais reconhecemos emoções e sentimentos, em particular com 
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os cachorros, por causa do amor incondicional que eles nos oferecem. 
Respondemos bem a isso. As espécies em extinção, por sua vez, 
representam as mudanças que o planeta sofreu por causa da interferência 
humana. A extinção, por ser irreversível, é uma representação da perda, um 
processo que nos toca fundo. O mesmo não acontece com os animais que 
nos servem de alimento. O ser humano não tem empatia com eles nem quer 
mudar os próprios hábitos alimentares. É mais fácil não pensar sobre isso. 
Veja – Em seu livro, escrevendo sobre a obesidade, o senhor sugere uma 
reflexão sobre o conceito da gula. Por que a sugestão? 
Singer – Comemos demais e desnecessariamente. As religiões, de certa 
forma, sempre exerceram um controle sobre o que os fiéis comem. Uma 
leitura moral da história da alimentação revela que, de todas as religiões, a 
que menos conteve os excessos alimentares foi o cristianismo. Não se 
encontra na cultura cristã a série de restrições alimentares presente no 
islamismo, no judaísmo e até mesmo na tradição hinduísta. Nessas três 
culturas, há diversas advertências sobre o que se deve ou não comer. O que 
existe na tradição cristã é o pecado pelo excesso de comida, a gula, que foi 
esquecido ao longo dos séculos pelos cristãos. Esqueceram-se da gula e 
preocuparam-se com outros pecados, principalmente os de natureza sexual. 
O maior exemplo disso são os Estados Unidos. É um país cristão por 
natureza e, mesmo assim, a nação com a maior população obesa do mundo. 
Precisamos pensar sobre isso. Afinal, uma pessoa que come o dobro ou 
mais de carne do que precisa, carne proveniente de animais criados para 
consumo, não faz mal apenas a si mesma. Esse hábito tem impacto no 
planeta e, do ponto de vista moral, também é duplamente ruim. 
Veja – O senhor é a favor dos alimentos geneticamente modificados, os 
transgênicos? 
Singer – Do ponto de vista moral, não vejo mal algum nos transgênicos. 
Ainda mais imperioso do que combater a obesidade é acabar com a fome no 
mundo, e esses alimentos podem ser uma das soluções para o problema. 
Além disso, as plantações de transgênicos não precisam de pesticidas, o que 
ajuda a preservar o meio ambiente, ao contrário do que ocorre nas fazendas 
convencionais. 
Veja – O que diria a quem deseja ser ético em relação à alimentação diária?
Singer – O que defendo no livro, e faço questão de deixar bem claro, é que 
não precisamos ser vegetarianos para ser éticos. Da mesma forma que não 
precisamos parar de usar o carro para ajudar a combater o aquecimento 
global – podemos mudar o tipo de energia usada para o carro funcionar. Na 
questão alimentar, é possível, por exemplo, evitar a carne de animais criados 
de forma tradicional. Uma boa opção é escolher os produtos animais 
provenientes das chamadas fazendas orgânicas. Já é uma tremenda 
mudança. 
Veja – E que conselhos daria a quem quer ser ético no dia-a-dia? 
Singer – Comece pelo mais simples. Cumprimente as pessoas, diga bom-
dia, seja educado com quem convive. 
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