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6a Aula - Os Sete Saberes - Edgar Morin

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE - UFCG 
CENTRO DE EDUCAÇÃO E SAÚDE 
UNIDADE ACADÊMICA DE BIOLOGIA E QUÍMICA 
CURSO DE LICENCIATURA EM QUÍMICA 
PROFESSORA: 
LADJANE PEREIRA DA SILVA R. DE FREITAS 
 
 
OS SETE SABERES NECESSÁRIOS PARA A EDUCAÇÃO DO FUTURO (Edgar Morin) 
 
AS CEGUEIRAS DO CONHECIMENTO O ERRO E A 
RAZÃO. 
 
A educação deve mostrar que não há 
conhecimento que não esteja, em algum grau, 
ameaçado pelo erro e pela ilusão. 
A teoria da informação mostra que existe o risco 
do erro sob o efeito de perturbações aleatórias ou de 
ruídos (noise), em qualquer transmissão de informação, 
em qualquer comunicação de mensagem. 
 
O conhecimento não é um espelho das coisas ou 
do mundo externo. Todas as percepções são, ao mesmo 
tempo, traduções e reconstruções cerebrais com base 
em estímulos ou sinais captados e codificados pelos 
sentidos. Daí resultam, sabemos bem, os inúmeros erros 
de percepção que nos vêm de nosso sentido mais 
confiável, o da visão. Ao erro de percepção acrescenta-
se o erro intelectual. O conhecimento, sob forma de 
palavra, de ideia, de teoria, é o fruto de uma 
tradução/reconstrução por meio da linguagem e do 
pensamento e, por conseguinte, está sujeito ao erro. 
 
Este conhecimento, ao mesmo tempo tradução e 
reconstrução, comporta a interpretação, o que introduz o 
risco do erro na subjetividade do conhecedor, de sua 
visão do mundo e de seus princípios de conhecimento. 
Daí os numerosos erros de concepção e de ideias que 
sobrevêm a despeito de nossos controles racionais. 
 
A projeção de nossos desejos ou de nossos 
medos e as perturbações mentais trazidas por nossas 
emoções multiplicam os riscos de erro. 
Poder-se-ia crer na possibilidade de eliminar o risco de 
erro, recalcando toda afetividade. De fato, o sentimento, 
a raiva, o amor e a amizade podem-nos cegar. Mas é 
preciso dizer que já no mundo mamífero e, sobretudo, no 
mundo humano, o desenvolvimento da inteligência é 
inseparável do mundo da afetividade, isto é, da 
curiosidade, da paixão, que, por sua vez, são a mola da 
pesquisa filosófica ou científica. A afetividade pode 
asfixiar o conhecimento, mas pode também fortalecê-lo. 
Há estreita relação entre inteligência e afetividade: a 
faculdade de raciocinar pode ser diminuída, ou mesmo 
destruída, pelo déficit de emoção; o enfraquecimento da 
capacidade de reagir emocionalmente pode mesmo estar 
na raiz de comportamentos irracionais. 
 
Portanto, não há um estágio superior da razão 
dominante da emoção, mas um eixo intelecto ↔ afeto e, 
de certa maneira, a capacidade de emoções é 
indispensável ao estabelecimento de comportamentos 
racionais. 
 
O desenvolvimento do conhecimento científico é 
poderoso meio de detecção dos erros e de luta contra as 
ilusões. Entretanto, os paradigmas que controlam a 
ciência podem desenvolver ilusões, e nenhuma teoria 
científica está imune para sempre contra o erro. Além 
disso, o conhecimento científico não pode tratar sozinho 
dos problemas epistemológicos, filosóficos e éticos. A 
educação deve-se dedicar, por conseguinte, à 
identificação da origem de erros, ilusões e cegueiras. 
 
OS PRINCÍPIOS DO CONHECIMENTO PERTINENTE. 
 
A era planetária necessita situar tudo no contexto e no 
complexo planetário. O conhecimento do mundo como 
mundo é necessidade ao mesmo tempo intelectual e 
vital. É o problema universal de todo cidadão do novo 
milênio: como ter acesso às informações sobre o mundo 
e como ter a possibilidade de articulá-las e organizá-las? 
Como perceber e conceber o Contexto, o Global (a 
relação todo/partes), o Multidimensional, o Complexo? 
Para que o conhecimento seja pertinente, a educação 
deverá torná-los evidentes. 
 
O Contexto 
O conhecimento das informações ou dos dados isolados 
é insuficiente. É preciso situar as informações e os dados 
em seu contexto para que adquiram sentido. 
 
O global (as relações entre o todo e as partes) 
O global é mais que o contexto, é o conjunto das 
diversas partes ligadas a ele de modo inter-retroativo ou 
organizacional. Dessa maneira, uma sociedade é mais 
que um contexto: é o todo organizador de que fazemos 
parte. 
 
O multidimensional 
Unidades complexas, como o ser humano ou a 
sociedade, são multidimensionais: dessa forma, o ser 
humano é ao mesmo tempo biológico, psíquico, social, 
METODOLOGIA 
DO ENSINO DE 
QUÍMICA II 
afetivo e racional. A sociedade comporta as dimensões 
histórica, econômica, sociológica, religiosa. 
 
O complexo 
O conhecimento pertinente deve enfrentar a 
complexidade. Complexus significa o que foi tecido junto; 
de fato, há complexidade quando elementos diferentes 
são inseparáveis constitutivos do todo (como o 
econômico, o político, o sociológico, o psicológico, o 
afetivo, o mitológico), e há um tecido interdependente, 
interativo e inter-retroativo entre o objeto de 
conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo 
e as partes, as partes entre si. Por isso, a complexidade 
é a união entre a unidade e a multiplicidade. 
 
ENSINAR A CONDIÇÃO HUMANA. 
Conhecer o humano é, antes de mais nada, 
situá-lo no universo, e não separá-lo dele. Como vimos, 
todo conhecimento deve contextualizar seu objeto, para 
ser pertinente. “Quem somos?” é inseparável de “Onde 
estamos?”, “De onde viemos?”, “Para onde vamos?” 
Interrogar nossa condição humana implica questionar 
primeiro nossa posição no mundo. Para a educação do 
futuro, é necessário promover grande remembramento 
dos conhecimentos oriundos das ciências naturais, a fim 
de situar a condição humana no mundo, dos 
conhecimentos derivados das ciências humanas para 
colocar em evidência a multidimensionalidade e a 
complexidade humana. 
 
ENSINAR A IDENTIDADE TERRENA. 
O quarto aspecto é sobre a compreensão 
humana. Nunca se ensina sobre como compreender uns 
aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos 
parentes, nossos pais. O que significa compreender? A 
palavra compreender vem do latim, compreender, que 
quer dizer: colocar junto todos os elementos de 
explicação, ou seja, não ter somente um elemento de 
explicação, mas diversos. Mas a compreensão humana 
vai além disso, porque, na realidade, ela comporta uma 
parte de empatia e identificação. O que faz com que se 
compreenda alguém que chora, por exemplo, não é 
analisar as lágrimas no microscópio, mas saber o 
significado da dor, da emoção. Por isso, é preciso 
compreender a compaixão, que significa sofrer junto. É 
isto que permite a verdadeira comunicação humana. A 
grande inimiga da compreensão é a falta de 
preocupação em ensiná-la. Na realidade, isto está se 
agravando, já que o individualismo ganha um espaço 
cada vez maior. Estamos vivendo numa sociedade 
individualista, que favorece o sentido de 
responsabilidade individual, que desenvolve o 
egocentrismo, o egoísmo e que, consequentemente, 
alimenta a autojustificação e a rejeição ao próximo. 
A INCERTEZA. 
O quinto aspecto é a incerteza. Apesar de, nas 
escolas, ensinar-se somente as certezas, como a 
gravitação de Newton e o eletromagnetismo, atualmente 
a ciência tem abandonado determinados elementos 
mecânicos para assimilar o jogo entre certeza e 
incerteza, da micro-física às ciências humanas. É 
necessário mostrar em todos os domínios, sobretudo na 
história, o surgimento do inesperado. As ciências 
mantêm diálogos entre dados hipotéticos e outros dados 
que parecem mais prováveis. 
 
A CONDIÇÃO PLANETÁRIA. 
O sexto aspecto é a condição planetária, 
sobretudo na era da globalização no século XX – que 
começou, na verdade no século XVI com a colonização 
da América e a interligação de toda a humanidade. Essefenômeno que estamos vivendo hoje, em que tudo está 
conectado, é um outro aspecto que o ensino ainda não 
tocou, assim como o planeta e seus problemas, a 
aceleração histórica, a quantidade de informação que 
não conseguimos processar e organizar. Este ponto é 
importante porque existe, neste momento, um destino 
comum para todos os seres humanos. O crescimento da 
ameaça letal se expande em vez de diminuir: a ameaça 
nuclear, a ameaça ecológica, a degradação da vida 
planetária. Ainda que haja uma tomada de consciência 
de todos esses problemas, ela é tímida e não conduziu 
ainda a nenhuma decisão efetiva. Por isso, faz-se 
urgente a construção de uma consciência planetária. 
Conhecer o nosso planeta é difícil: os processos de 
todas as ordens – econômicos, ideológicos e sociais – 
estão de tal maneira imbricados e são tão complexos, 
que compreendê-los é um verdadeiro desafio para o 
conhecimento. 
 
A ANTROPO-ÉTICA 
O último aspecto é o que vou chamar de 
antropo-ético, porque os problemas da moral e da ética 
diferem a depender da cultura e da natureza humana. 
Existe um aspecto individual, outro social e outro 
genético, diria de espécie. Algo como uma trindade em 
que as terminações são ligadas: a antropo-ética. Cabe 
ao ser humano desenvolver, ao mesmo tempo, a ética e 
a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades 
pessoais), além de desenvolver a participação social (as 
responsabilidades sociais), ou seja, a nossa participação 
no gênero humano, pois compartilhamos um destino 
comum. A antropo-ética tem um lado social que não tem 
sentido se não for na democracia, porque a democracia 
permite uma relação indivíduo-sociedade e nela o 
cidadão deve se sentir solidário e responsável.

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