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ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 1 O comportamento e desempenho térmico do concreto em Obras Urbanas The behaviour and concrete’s thermal performance in urban works. GAMBALE, Eduardo de Aquino (1);TRABOULSI, Maurice Antoine (2) (1) Engenheiro civil, ELETROBRAS FURNAS; (2) Engenheiro Civil, M.Sc., ELETROBRAS FURNAS Fones: +55+62+32396457 e Email: gambale@furnas.com.br maurice@furnas.com.br Resumo Neste artigo é apresentada uma metodologia simples com objetivo de fazer a análise por elementos finitos em 1D do campo de temperatura de estruturas mais comuns em obras urbanas. Foi observado que atualmente a preocupação é cada vez maior em prever fissuras provenientes da liberação de calor pelo fenômeno da hidratação do cimento em obras urbanas. Foi sugerido neste trabalho caminhos para se obter de uma maneira mais segura as propriedades térmicas, inclusive a elevação adiabática de temperatura. Na metodologia foi mostrada a construção em camadas, caso mais raro em construções urbanas. Um resultado de uma simulação computacional foi comparado ao resultado experimental do monitoramento de uma estrutura por meio de sensores do tipo Carlson. Palavra-Chave: Concreto Massa. Temperatura. Abstract This paper presents a simple methodology in order to make elements finites analyses in 1D of structure’s temperature field, more common in urban works. It was noted that currently concern is increasing from cracks in predicting heat release by the phenomenon of cement hydration in urban works. In this paper it was suggested paths to achieve thermal properties of a safer way, including temperature’s adiabatic elevation. It was shown layer construction in the methodology, a rare case in urban works. The computer simulation result was compared to experimental result of structure monitoring by Carlson’s sensors. Keyword: Mass Concrete. Temperature. ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 2 1 Introdução Estruturas de concreto com grandes consumos de cimento, com dimensões suficientemente grandes e restritas condições de dissipação de calor, com condições especiais de colocação do concreto na praça, com utilização de cimentos especiais ou adições e aditivos e com restrições a movimentação estão particularmente sujeitas à fissuração devido ao calor gerado pela hidratação do cimento. Com o advento do concreto de alto desempenho (HPC - high Performance Concrete), concreto auto adensável, utilização de concretos coloridos, adições e o desenvolvimento de novas tecnologias, cada vez mais as estruturas estão sujeitas a este tipo de fissuração, devido principalmente ao aumento do consumo de cimento utilizado nos concretos. Na Figura 1.1 está apresentado alguns exemplos de obras que utilizaram destas técnicas. Catedral – Concreto Colorido Ponte – HPC Residência – Concreto Branco Los Angeles Rio Orinoco - Venezuela México Figura 1-1- Exemplos de Obras urbanas com concreto massa O concreto massa é definido como aquele que, ao ser aplicado numa estrutura, requer a tomada de precauções que evitem fissurações derivadas de seu comportamento térmico. Com base nesta definição surge a importância da investigação do fenômeno não só em estruturas de grande porte, como por exemplo barragens, mas também em estruturas urbanas como blocos de fundações de edifícios, pontes chaminés e outros. Desde a década de 30 já se estudava a adição de material pozolânico para reduzir a geração interna de calor, sendo histórico o exemplo da barragem de Hoover, onde foram utilizadas pela primeira vez serpentinas para pós-refrigeração do concreto e cimento de baixo calor de hidratação como medida para mitigar os efeitos indesejáveis do aumento de temperatura no interior da estrutura. Durante o ano de 1962 foi questionada a segurança de uma barragem em Arkansas, Estados Unidos, devido uma grande fissura vertical, segundo Carlson este foi o primeiro caso que foi utilizado o método dos elementos finitos para resolver um problema da Engenharia. Vale lembrar uma frase que o Carlson sempre citava “Existem ótimos planejamentos de construção, que produzirão temperaturas favoráveis no concreto massa ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 3 sem grande custo, mas informações para auxiliar a seleção desses planejamentos geralmente têm faltado”. De fato, é exatamente isto que ocorre até hoje. As propriedades térmicas e mecânicas do concreto podem ser determinadas por ensaios normatizados, mas na maioria das obras urbanas isso deve ser feito por modelos previsores das propriedades dependentes do tempo e valores tabelados para as demais propriedades. Simplificações são adotadas em função de recursos e tempo disponíveis, ou em função de especificidades do problema a ser modelado, podendo ser ou não razoáveis conforme o nível de segurança exigido e do grau de aproximação da realidade alcançado. O presente trabalho tem por objetivo o estudo do comportamento térmico do concreto para estruturas de obras urbanas, mostrando uma metodologia simples que possa ser usada no dia a dia do tecnologista. 2. EQUACIONAMENTO A equação do fluxo de calor é conhecida como a de Fourrier. A geração interna de calor devido às reações de hidratação menos o calor que sai do elemento por condução (ou convecção, se for de contorno) resulta em calor armazenado pelo elemento. Este fenômeno pode ser descrito pela equação1: tTtTaTh //22 (1) em que: T (oC) = temperatura do elemento de volume considerado; t (dia) = variável tempo; Ta ( oC) = elevação adiabática de temperatura no elemento de volume do concreto; h2 (m2/dia) = difusividade térmica. A resolução da equação diferencial pode ser realizada de diversas maneiras, desde analiticamente até utilizando ferramentas numéricas. Para os cálculos apresentados neste relatório, adotou-se o Método dos Elementos Finitos como forma de resolução do problema. Para tanto, é necessário a elaboração de malhas compostas de vários elementos finitos, cujo comportamento térmico é regido pela equação (1), considerando ainda condições de contorno e condições iniciais inerentes de qualquer modelo matemático que necessite de uma resolução definida. ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 4 3. PARÂMETROS TÉRMICOS E VISCOELÁSTICOS Para a determinação destes parâmetros|1||2||3| é necessário o conhecimento da dosagem utilizada na concretagem, tipo de concreto (ex. convencional, bombeável), tipo de cimento, tipo litológico do agregado e variações térmicas ambientais. Na pratica estes parâmetros são determinados através de três maneiras citadas a seguir. Realização de ensaios laboratoriais. Obtenção de resultados de obras anteriores ou mesmo na literatura ou trabalhos publicados. Utilização de programas computacionais como Modelo de dados com Rede neural. Nem sempre a realização de ensaios laboratoriais é possível, pois alguns parâmetros são determinados em poucos laboratórios especializados no Brasil e o custo pode ser alto em relação a importância da obra a ser executada. Entretanto, alguns parâmetros, como por exemplo, resistência a compressão, tração na flexão e módulo de elasticidade é comum a sua determinação em laboratórios de campo, sendo estes de grande importância na verificação do fenômeno. Um fator que tem influência significativa no fenômeno é a elevação Adiabática de temperatura do concreto, este parâmetro é diretamente proporcional ao consumo e função direta do tipode cimento. Sempre quando viável recomenda-se fazer a determinação experimental, caso contrário é possível estimar através da literatura ou trabalhos publicados [1] [2], ou até mesmo através de um modelo termo-químico e modelo de dados, utilizando rede neural |3|. Quanto a variação térmica ambiental, esta pode ser obtida por medições no local da concretagem ou mesmo em estações meteorológicas da região onde será executada a Obra. 4. MALHA DE ELEMENTOS FINITOS A grande maioria dos blocos que podem ter problemas de fissuração devido a geração de calor provocada pela hidratação do cimento apresentam uma propagação unidirecional e a malha de elementos finitos recomendada para este fenômeno está apresentada na Figura 4.1. Na Figura 4.2 está mostrado um dos exemplos de um bloco de fundação, onde pode ser observado uma área da praça de lançamento muito maior que a espessura da |4|, por isso a propagação é preferencialmente unidirecional. ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 5 Concreto -4 -3 -2 -1 0 1 2 . . . Variável Fundação Concreto -4 -3 -2 -1 0 1 2 . . . Variável Fundação Figura 4.1 – Malha de Elementos Finitos Unidirecional. Figura 4.2 – Exemplo de Bloco de Edifício e de uma da base da chaminé |5|. A modelagem em 1D do campo de temperaturas foi realizada em programa desenvolvido pela Eletrobras Furnas, que contempla a construção em camadas, condições climáticas e variações no tipo de cura da superfície externa. Aplicando o processo de Galerkin|9|, a equação (1) pode ser expressa da seguinte forma: ttTCtWtCKttT /)(.)(./)( 1 (2) Onde : T(t+t)= Temperatura em determinada idade (t+t) t= intervalo de tempo. [K]= Matriz da condutividade térmica [W(t)]= vetor carga témica [C]= Matriz do calor específico ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 6 Uma analise numérica e térmica de blocos de concreto massa por meio de um código computacional é mostrada por Amorin et al. (2012) |6|. O histórico de temperaturas versus tempo obtido pela modelagem para cada ponto onde foram extensamente validados, com resultados de termômetros instalados em muitas estruturas, pode ser visualizado comparativamente com os resultados dos cálculos realizados com os dados obtidos do monitoramento no bloco da fundação da ponte JK em Brasilia (Figura 4.3). Figura 4.3 – Evolução da temperatura em função do tempo do bloco de fundação da Ponte JK em Brasília Graficamente, observa-se uma aproximação muito grande dos resultados monitorados e os calculados contemplando a propagação Bidirecional e unididecional. Uma proposta simplificada para critério de verificação do panorama de fissuração apresentada por Gambale et al. (2003) |7| , e de grande utilidade para tomada de decisões importantes no campo, está relacionada com a queda de temperatura em relação a temperatura de estabilização da estrutura. Através do conhecimento prático de uma queda de temperatura admissível pode-se estabelecer o seguinte critério: admambmáx TTTt (3) Em que: Tmáx = Temperatura máxima; Tamb = Temperatura média ambiente (28ºC); Tadm = Queda admissível; t = Queda da temperatura em relação a ambiente 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 0 5 10 15 20 25 30 Nº TR-247 Nº TR-248 Bloco 4 Bidirecional Unidirecinal ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 7 Analisando a queda de temperatura de uma estrutura pode-se estabelecer um limite crítico de alerta e um limite que indicaria uma grande probabilidade de ocorrência de fissuras de origem térmica. É importante lembrar a Influência do calor de hidratação na formação da etringita tardia (DEF) em concreto |8|, vários consultores tem adotado em várias obras a fixação de 60ºC para a temperatura máxima do concreto na estrutura, revelando-se satisfatória, uma vez que um quadro de fissuras devido à formação da etringita tardia (Delayed Ettringite Formation (DEF)) pode se revelar perigoso durante a construção. 5. Considerações finais: A modelagem no campo de temperaturas devido ao fenômeno da hidratação do cimento considerando a propagação unidimensional para a análise de estruturas urbanas, é uma ferramenta simples e de grande importância para a previsão do comportamento térmico do concreto para a análise do potencial de fissuração do concreto nas primeiras idades. Sempre é importante lembrar que estruturas de fundações não são percebidas messes após a execução, a fissura térmica pode aparecer após o resfriamento do concreto, o que poder diminuir a durabilidade da estrutura, pois após a fissura aparecer ele abre o caminho para agentes agressivos do solo gerando outra patologia, como por exemplo a corrosão das armaduras, por isso deixa-se este alerta. 6. Referências |1| Equipe de FURNAS - Editor Walton Pacelli de Andrade - Concretos: Massa, Estrutural, Projetado e Compactado com Rolo - Ensaios e Propriedades - Ed. Pini, São Paulo-SP, 1997. |2| Paulo J. M. Monteiro; David Selna; Rubens Machado Bittencourt“Controle da Fissuração de Origem Térmica na Execução das Obras para a Cathedral of Our Lady of the Angels” In: 45º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO, 2003, Vitória - ES. Anais 45º Congresso Brasileiro do Concreto. CD-ROM, 2003a. |3| Èctore, F. F. “Predição da Exotermia da reação Hidratação do Concreto através de Modelo Termo-químico e Modelo de Dados”. 2004 130p. Tese (Mestre em Ciências) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2004 |4| GAMBALE, E. A.; ANDRADE, W. P.; ANDRIOLO, F. R. Thermal Analysis of Roller Compacted Concrete. In: IV SIMPOSIO INTERNACIONAL SOBRE PRESAS DE HORMIGÓN COMPACTADO, 2003, Madrid-España. Anales IV Simposio Internacional Sobre Presas De Hormigón Compactado, 2003. ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 8 |5| FUNAHASHI, E.; KUPERMAN, S.; BARRETA, A.; GRAZIELLE,V; GOLDENBAUM,D.;BENASSALTO,B.; “Refrigeração do concreto na construção da base da chaminé da fabrica Eldorado Celulose” 54º Congresso Brasileiro do Concreto –Maceió – AL, 2012. |6| AMORIM,N,C; SILVA,J,H,S.; PEDROSO, L,J; NEPOMUCENO,A,A.; “Análise numérica e térmica de blocos de concreto massa por meio de um código computacional” 54º Congresso Brasileiro do Concreto –Maceió – AL, 2012. |7| GAMBALE, E. A.; ANDRADE, W. P.; ANDRIOLO, F. R. Thermal Analysis of Roller Compacted Concrete. In: IV SIMPOSIO INTERNACIONAL SOBRE PRESAS DE HORMIGÓN COMPACTADO, 2003, Madrid-España. Anales IV Simposio Internacional Sobre Presas De Hormigón Compactado, 2003. |8| MELO, S. K., HASPARYK, N. P. ; CARASEK, H.; SILVA, H.H.A. B.; MARTINS, C.; “Influência do calor de hidratação na formação da etringita tardia (DEF) em concreto de cimento Portland pozolânico” 53º Congresso Brasileiro do Concreto –Florianópolis – SC, 2011. |9| LEWIS, R. W., MORGAN, K.; THOMAS, H,R.; SEETHARAMU, K.N.; “The Finite Element Method in Heat Transfer Analysis” JOHN WILEY & SONS Ltd, Baffins Lane, Chichester, west Sussex PO19 1UD, England, 1995.
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