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RAQUEL RAMOS PINTO DO NASCIMENTO ACIDENTES DE TRABALHO NOS BOMBEIROS MILITARES: TIPOS, NATUREZA E ABSENTEÍSMO CAMPO GRANDE/MS 2012 RAQUEL RAMOS PINTO DO NASCIMENTO ACIDENTES DE TRABALHO NOS BOMBEIROS MILITARES: TIPOS, NATUREZA E ABSENTEÍSMO CAMPO GRANDE/MS 2012 Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharelado em Enfermagem. Orientadora: Profa. Dra. Luciana Contrera-Moreno. FOLHA DE APROVAÇÃO AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, por essa conquista, por estar sempre ao meu lado, me iluminado e me fazendo perseverar nos momentos mais difíceis desta trajetória. Obrigada Senhor, por tudo o que tenho e sou. Em especial e de forma carinhosa a minha família. Aos meus pais e irmãos pela grande contribuição na minha formação intelectual e moral, enfatizando sempre a ética e os bons costumes. A Isabela Soares pelo apoio. Ao meu esposo Gilson Nascimento por toda a sua compreensão, cumplicidade e apoio nos momentos de alegria e dificuldades, sempre me animando em seguir em frente e acreditando em mim, sempre ao meu lado. Aos meus queridos filhos Matheus e Amanda pela compreensão mesmo na minha ausência. Obrigada serei sempre grata. A minha admirável professora e orientadora Luciana Contrera Moreno, pela sua presença sincera e amiga, agradeço por ter dedicado seu tempo e sua experiência em toda a trajetória deste estudo sempre buscando soluções para as dificuldades desta caminhada. A todos os professores do curso de graduação em enfermagem da UFMS que contribuíram para a minha formação profissional, meu carinho e gratidão. Aos Bombeiros Militares do município de Campo Grande que foram essenciais na realização deste estudo e pelo aprendizado que obtive. Aos meus amigos verdadeiros pelas demonstrações de carinho e lealdade, através de suas palavras encorajadoras e de fé e, particularmente a Samira Ayub, Silvana Rodrigues, Edilene Pelegrini, Patrícia Magalhães e Paula Wenzel. Aos colegas de graduação e, em especial a Rafaela Penrabel e Vanessa Schettert que dividiram comigo nestes quatro anos momentos de muitos desafios, conquistas e companheirismo. Aos profissionais de saúde que conheci ao longo desta caminhada, por todo carinho, atenção e contribuição em meu aprendizado. Muitos dispostos a me ensinar o melhor, capacitando- me em minha formação, proporcionando o conhecimento teórico-prático. Ama e conserva como amigo aquele que não te abandona quando todos se afastam (Thomas a Kempis). RESUMO O objetivo do presente estudo é conhecer a ocorrência, os tipos dos acidentes de trabalho, que aconteceram nos bombeiros no período de 2006 a 2010, e o absenteísmo gerado por eles. Realizou-se um estudo descritivo com Bombeiros Militares do 1º e 6º grupamentos do município de Campo Grande, MS. Os dados foram obtidos através da análise de atestados sanitários de origem registrados em Boletins diários emitidos pela corporação do 1° e 6° grupamento de bombeiros do município de Campo Grande, MS. Estes atestados encontravam-se em um banco de dados no qual já foram previamente coletados na pesquisa intitulada: Condições de risco relacionadas à doenças infecciosas no trabalho operacional de bombeiros de Campo Grande-MS. A amostra foi composta originalmente por 56 atestados sanitários, com perda amostral de 6 atestados, totalizando 50 atestados de acidentes de trabalho. Do total de acidentes notificados, 74,0% ocorreram no sexo masculino, sendo os praças a categoria profissional mais atingida com 90,0% das notificações. Quanto ao tipo de acidente de trabalho notificado 46 (92,0%) foram típicos, ou seja, relacionados diretamente as funções laborais, 3 (6,0%) de trajeto e 1 (2,0%) por doença profissional. Dos riscos ocupacionais encontrados, 80% foram relacionados à acidentes (típicos e trajeto), 10,0% à risco biológico, 8,0% à risco ergonômico e 2,0% à risco químico. Em relação ao absenteísmo ocorreram 491 dias de afastamento do trabalho. Os resultados deste estudo evidenciam a necessidade de trabalhar este tema continuamente, alertando os trabalhadores para todos os riscos de acidentes, propondo medidas para redução destes eventos. Palavras-chave: acidentes de trabalho, bombeiros, riscos ocupacionais. ABSTRACT The aim of this study is to determine the occurrence, the types of accidents that occurred to firefighters from 2006 to 2010 and the absenteeism generated by them. It was conducted a descriptive study with the Military Firefighters from 1st and 6th groups from Campo Grande, MS. The data was obtained through analysis of sanitary certificates of origin recorded in daily bulletins issued by the corporation of the 1° and 6° group of firefighters from the city of Campo Grande, MS. These certificates were in a database that had being previously collected in the survey: Conditions of risk related to infectious disease in the operational work of firefighters from Campo Grande-MS. The sample was composed originally for 56 health certificates with sample loss of 6 certificates, totaling 50 accidents certificates. Of the total reported accidents, 74.0% occurred in males, and the soldiers were the professional category most affected with 90.0% of notifications. Regarding the type of work accident reported 46 (92.0%) were typical, that is, the functions directly related labor, 3 (6.0%) of path and 1 (2.0%) for occupational disease. From the occupational hazards found, 80% were related to accidents (and typical path), 10.0% to biological risk, 8.0% to ergonomic risk and 2,0 %o to chemical risk. Regarding to absenteeism occurred 491 days away from work. The results of this study highlight the need to work this issue continuously, alerting workers to the risks of accidents, proposing measures to reduce these events. Key words: occupational accident; firefighters, occupational risk. LISTA DE TABELAS TABELA 1 Distribuição dos profissionais bombeiros quanto ao sexo, categoria profissional e grupamento do período de 2006- 2010. Campo Grande-MS. (n=50) 24 TABELA 2 Distribuição dos profissionais bombeiros que sofreram exposição a riscos ocupacionais, segundo sua classificação no período compreendido entre os anos de 2006-2010. Campo Grande, MS. (n =50) 25 25 TABELA 3 Distribuição dos tipos de acidentes de trabalho encontrados nas atividades laborais dos bombeiros militares durante os anos de 2006-2010. Campo Grande, MS. (n=50) TABELA 4 Relação do tipo de risco ocupacional, por dias de absenteísmo e descrição do evento acidentário sofrido pelo profissional, no período dos anos entre 2006-2010. Campo Grande, MS. (n=15) 28 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 9 2 REVISÃO DE LITERATURA 11 2.1 Características do Corpo de Bombeiros Militar 11 2.2 Acidentes de Trabalho 12 2.3 Riscos no Trabalho do Bombeiro Militar 14 3 OBJETIVOS 20 3.1 Objetivo geral 20 3.2 Objetivos específicos 20 4 MATERIAL E MÉTODOS 21 4.1 População de estudoe amostra 21 4.2 Critérios de inclusão 21 4.3 Critérios de exclusão 21 4.4 Período de investigação 21 4.5 Coleta de dados 22 4.6 Análise dos dados 7 22 4.7 Aspectos éticos da pesquisa 23 5 RESULTADOS 24 5.1 Apresentação dos acidentes analisados e caracterização dos sujeitos 24 da pesquisa 5.2 Riscos ocupacionais no trabalho dos bombeiros militares 24 5.3 Tipos de acidentes de trabalho e circunstâncias em que ocorreram 25 5.4 Consequências advindas dos acidentes de trabalho 27 6 DISCUSSÃO 29 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 33 REFERÊNCIAS 35 APÊNDICE A - Roteiro para coleta de informações dos atestados de origem 38 ANEXO A - Carta de aprovação do comitê de ética para pesquisa com seres 39 Humanos 9 1 INTRODUÇÃO Durante a nossa caminhada como graduandos do curso de enfermagem com frequência fomos dirigidos para o ambiente hospitalar onde aconteciam nossas práticas específicas. Ao confrontarmo-nos com o estudo sobre acidentes de trabalho e suas consequências e observarmos o perigo invisível em nossas ações foi surgindo o interesse pelo tema. A escolha dos profissionais bombeiros militares como foco do estudo se deu pelo fato de estarem continuamente expostos a riscos ocupacionais em seu ambiente de trabalho, sendo estes favorecedores para ocorrência de acidentes. Percebe-se na literatura a escassez de estudos sobre acidentes de trabalho relacionados ao atendimento pré-hospitalar móvel, sobretudo envolvendo bombeiros. Observa-se ainda o desconhecimento destes profissionais acerca dos riscos laborais e medidas preventivas em suas ações. Portanto, a identificação e prevenção dos acidentes ocupacionais é um fator que necessita de atenção. Os profissionais bombeiros são capacitados para combater incêndios, e prestar assistência em atendimentos de emergências. Realizam intervenções operacionais de salvamento em acidentes ou situações de risco (MATO GROSSO DO SUL, [2012]). Juntamente com o serviço de atendimento móvel de urgências (SAMU), determinadas empresas privadas prestam atendimentos as vitimas de acidentes ou outros agravos a saúde que requeiram atendimento emergencial na fase pré- hospitalar (SOERENSEN, 2009). Prestar os socorros de suporte básico de vida de forma a estabilizar, imobilizar e transportar adequadamente a vitima/paciente é uma atividade que requer ações rápidas e precisas, exigindo do profissional além do conhecimento técnico e cientifico alto controle emocional (ZAPPAROLI; MARZIALE, 2006). As peculiaridades do atendimento pré-hospitalar faz com que os profissionais vivenciem em seu ambiente de trabalho circunstâncias que podem gerar situações favoráveis à exposição aos acidentes. As características das ocorrências os sujeitam a uma variedade de riscos, sejam por fatores físicos, químicos, biológicos, psicossociais, ergonômicos, mecânicos e de acidentes (SOERENSEN, 2009). 10 O Ministério do Trabalho aprovou através da Portaria 3.214/78, as Normas Regulamentadoras (NR) relativas às condições de segurança e saúde no trabalho. Em conformidade com esta portaria o profissional está exposto aos agentes químicos, ao entrar em contato com produtos tóxicos, desinfetantes, poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores; aos físicos, devido aos ruídos como sirene da ambulância, vibrações, pressões anormais, altas temperaturas, radiações, exposição a agentes explosivos bem como o infra-som e o ultra-som; ergonômicos, decorrentes dos fatores que causem desconforto ou afetem a saúde como posições não ergonômicas representadas por movimentos bruscos, repetitivos, posições incômodas e prolongadas, peso excessivo e estresse; biológicos, ocasionados pelo contato com microrganismos patogênicos como bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus. Estão expostos aos fatores acidentais, ou seja, aqueles que colocam o trabalhador em situação vulnerável podendo afetar sua integridade, bem estar físico e psíquico. Os bombeiros militares estão expostos continuamente a riscos ocupacionais em seu ambiente de trabalho, que culminam muitas vezes com a ocorrência de acidentes de variadas naturezas. Alguns exemplos de risco de acidente: probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado da própria ambulância e espaço limitado, armazenamento inadequado, assistência a vítima com ambulância em movimento, socorro as margens das rodovias (BRASIL, 2012). Como consequência destes acidentes surge muitas vezes o absenteísmo entendido como o não comparecimento ao trabalho decorrente de inúmeros fatores. Esta ausência no trabalho, além do custo financeiro para as instituições, traz dificuldades ao trabalho em equipe, decorrente da sobrecarga dos presentes e prejuízo aos clientes (MARTINATO et al., 2010). Se identificados os acidentes de trabalho e a sua natureza, então pode-se oferecer subsídios para o planejamento e execução de medidas preventivas. Reconhecer os riscos, que envolvem o ambiente e processos de trabalho, é essencial, indispensável e obrigatório, conforme a legislação em saúde do trabalhador. Diante deste contexto, o presente estudo propõe-se a aproximar-se dos fatores que levam trabalhadores bombeiros militares a sofrerem acidentes de trabalho, e, a relação das doenças ocupacionais com o absenteísmo ao trabalho. 11 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Características do corpo de Bombeiros Militar O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul teve origem juntamente com o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso, pois até o ano de 1977 ambos formavam um mesmo Estado. Tiveram origem dentro da Polícia Militar, destinados inicialmente ao serviço de extinção de incêndios e salvamentos. Até 1979 com a instalação do recém-criado Estado de Mato Grosso do Sul, o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul estava subordinado à Polícia Militar. Somente em 5 de outubro de 1989, ocorreu a desvinculação das duas instituições. Atualmente o efetivo total de bombeiros no Estado é de 1.323 militares. E o corpo feminino da instituição é formado por 81 militares (MATO GROSSO DO SUL, [2012]). A portaria nº 814/GM de 1° de junho de 2001 explicita que o bombeiro militar atua na identificação de situações de risco e comando das ações de proteção ambiental, da vítima e dos profissionais envolvidos no seu atendimento, fazem o resgate de vítimas de locais ou situações que impossibilitam o acesso da equipe de saúde. Podem realizar suporte básico de vida, com ações não invasivas, sob supervisão médica direta ou à distância, obedecendo aos padrões de capacitação e atuação previstos nesta Portaria. Ainda em relação às atividades desenvolvidas pelos bombeiros militares, em conformidade com o Art. 50 da Constituição do Estado de Mato Grosso do Sul, ao Corpo de Bombeiro Militar, instituição permanente, regular e autônoma, além das atribuições definidas em lei, incube a execução de atividades de defesa civil, de prevenção e de combate a incêndios, de busca, de salvamento e de socorro público. Portanto, realizam sua missão através de intervenções operacionais de salvamentos e/ou resgates a vítimas de acidentes ou situações de risco, combatem incêndios, orientam e prestam auxílios à comunidade. Atuam de maneira pró ativa fazendo vistorias técnicas estabelecidas em lei. Também participam do atendimento pré-hospitalar. O Salvamento é o conjunto de operações que inclui a remoção de pessoas ou bens de locais de risco para um lugar seguro. O atendimento pré hospitalar (APH) é o atendimento emergencial em eventos ocorridos fora do ambiente hospitalar realizadonas vítimas de acidentes de trânsito, industrial, 12 aéreos, agravos de saúde de natureza clínica e psiquiátrica, violência urbana visando o atendimento no local até a estabilização da vítima e sua remoção à uma unidade hospitalar. O Combate a Incêndio destina-se a extinção dos focos de incêndio em diversos ambientes. Vale destacar o tempo que uma viatura leva para chegar ao local solicitado, em condições normais este não ultrapassa 10 minutos em qualquer ponto da cidade (MATO GROSSO DO SUL, [2012]). Segundo Florêncio et al. (2003), os profissionais que trabalham no APH se expõem continuamente a inúmeros riscos, em consequência do trabalho. Ao manipular direta ou indiretamente materiais orgânicos excretados e secretados por clientes portadores de patologias desconhecidas, estão susceptíveis a adquirir doenças transmitidas por diversos microorganismos. 2.2 Acidentes de Trabalho Desde os tempos primitivos, da escravidão, da revolução industrial, até os dias de hoje o trabalho faz parte da vida do homem. Através do trabalho o homem atinge metas, concretiza sonhos, conquista independência econômica e retira os elementos necessários para a sobrevivência pessoal e familiar. Por isso o trabalho constitui uma das práticas mais importantes na vida do ser humano. Conforme é oferecido pode trazer satisfação, ou não, refletindo nas questões materiais, psicológicas e sociais (MAURO et al., 2004). O mesmo autor expõe que, a satisfação material deve garantir segurança e um salário digno que atenda as necessidades básicas para a sobrevivência e independência. No que se refere à satisfação psíquica, ser moralmente aceitável e sentir-se realizado. Enquanto a satisfação social aponta para o reconhecimento dos esforços, o respeito e laços de afeição. Por outro lado, o trabalho está sujeito a múltiplos condicionantes, portanto deve ser organizado de maneira que não ocasione danos à saúde do trabalhador na execução de suas atividades. A forma como é oferecido pode trazer implicações direta ou indiretamente sobre o estado físico, mental e psíquico do homem determinando sensações de satisfação e conforto e/ou fadiga, estresse, doenças e acidentes de trabalho (ZAPPAROLI; MARZIALE, 2006). Melo (2010), reforça que o meio ambiente do trabalho esta relacionado de forma direta e imediata com o ser humano trabalhador, cujo equilíbrio está baseado 13 na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometem a segurança físico-psíquica dos trabalhadores. Um período de grande importância nas mudanças das condições de trabalho ocorreu durante a “Revolução Industrial”, 1760-1850, onde as condições de trabalho, eram péssimas, aconteciam muitos acidentes e doenças, ocasionadas principalmente pela elevada jornada de trabalho e falta de equipamentos de segurança. Além disso, doenças infectocontagiosas sobrevinham sobre os operários em consequência da falta de ventilação nos ambientes de trabalho (MENDES, 1980). Diante desta problemática começa haver preocupação com o acidentado. Então, normas jurídicas surgiram criando mecanismos de proteção ao trabalhador e seus dependentes para pelo menos remediar este grande problema social (MENDES, 1980). No Brasil, vigora atualmente a Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que foi promulgada em harmonia com a Constituição de 1988. Em seu art. 1° mediante contribuição assegura aos seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço, encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam economicamente. O conceito legal de acidente do trabalho encontra-se no art. 19 da Lei n. 8.213 de 24 de julho de 1991, sendo aquele que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa no exercício de suas atividades, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. Ainda são considerados acidente de trabalho as doenças profissionais e as relacionadas às condições em que o trabalho é realizado e os acidentes de trajeto. Equiparam-se também a acidentes de trabalho a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade (BRASIL, 1999). O art. 20 da lei 8.213/91 traça uma diferenciação entre doença profissional e a doença do trabalho. A doença profissional é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade. Por outro lado, a doença do trabalho é adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente. 14 Acidentes típicos são aqueles que ocorrem no desenvolvimento do trabalho na própria empresa ou a serviço desta, enquanto os acidentes de trajeto são os que ocorrem no percurso entre a residência e o trabalho ou vice-versa, já as doenças ocupacionais são aquelas que estão relacionadas com o trabalho, que resultam das condições especiais do trabalho, bastando somente que haja nexo causal entre a doença e o trabalho executado (BRASIL, 1999). Os acidentes de trabalho geram um custo social enorme, um prejuízo importante para a sociedade que paga seus impostos e perde investimentos na área da educação, saúde, lazer e segurança. Acrescenta-se a estes fatores econômicos a perda da mão de obra que compromete a produtividade das empresas e sobrecarregam os demais profissionais, além dos custos com assistência e indenizações. Igualmente o governo perde com pagamento de pensões. E, quem mais sofre com as consequências dos acidentes de trabalho é o próprio trabalhador e sua família. Além da dor física e psicológica, o acidente modifica a dinâmica familiar, seja na redução de renda ou interrupção do emprego do cuidador, entre outros gastos associados com acomodação no domicílio ou outras localidades para tratamento (SOARES, 2008). De acordo com o Anuário Estatístico da Previdência Social no ano de 2010 ocorreu no Brasil 701.496 acidentes de trabalho. Destes, 47.374 aconteceram no Centro-Oeste, sendo 10.032 em todo o estado do Mato Grosso do Sul (BRASIL, 2010). 2.3 Riscos no trabalho do bombeiro militar O profissional bombeiro atua num ambiente de trabalho com condições/situações que podem alterar seu estado de saúde. Estão expostos a ruídos, produtos químicos, temperaturas elevadas, turnos rotativos de trabalho e tarefas executadas sob tensão. Além de enfrentarem exigências físicas e psicológicas. Todos estes estressores podem diminuir a resistência do organismo diante das exposições aos riscos laborais favorecendo, portanto, a ocorrência de acidentes de trabalho (SOUZA; FIORINI; GUZMAN, 2009). A temática em torno da prevenção de acidentes de trabalho remete ao estudo dos riscos ocupacionais a que estão expostos durante a jornada de trabalho. Identificá-los é de fundamental importância, pois permite o controle das causas dos 15 acidentes independentemente da sua natureza. O estado, por meio do Ministério do Trabalho e Emprego e de outros órgãos governamentais, é responsável pelo estabelecimento de normas de segurança, higiene e medicina do trabalho (Portaria n. 3.214/78) e pela fiscalização do seu cumprimento. A Norma Regulamentadora NR 5 - Comissão Interna de Prevenção de Acidentes tem como objetivo: A prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. A Norma Regulamentadora NR-9, estabelece: A obrigatoriedade de identificaros riscos à saúde humana no ambiente de trabalho. Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Consideram-se agentes físicos: As diversas formas de energia a que possam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, bem como o infra-som e o ultra-som. Consideram-se agentes químicos: As substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por ingestão. Conforme a NR 9 (1978) “consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, protozoários, vírus, entre outros”. A Norma Regulamentadora NR 17, visa: Estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. Essas Normas Regulamentadoras (NRs) passaram a ser elaboradas e revisadas de forma tripartite, com a participação do governo, dos trabalhadores e 16 dos empregadores. Este fato representa avanço e grande passo na busca da melhoria das condições de trabalho (MELO, 2010). O Bombeiro Militar coloca sua vida em risco para salvar a vida de outros e/ou defender bens públicos e privados da sociedade. Embora esta atividade profissional seja perigosa e estressante é frequentemente fonte de satisfação. Natividade (2009), em um estudo exploratório e descritivo com 266 bombeiros demonstrou o quanto estes se sentem realizados com sua profissão, apesar de referirem descontentamento em relação à falta de condições para exercê-la. Percebeu-se que mesmo fora do horário de trabalho o bombeiro vive sua profissão. Confirmando que o trabalho é um fator constituinte da identidade do sujeito. Com relação aos riscos biológicos, Contrera-Moreno et al. (2012) desenvolveram um estudo descritivo com 307 bombeiros da cidade de campo Grande – MS com o objetivo de analisar as condições do trabalho dos bombeiros com enfoque nas condições de risco da exposição a materiais biológicos. Os resultados apresentados evidenciam que a ocorrência de acidentes de trabalho é alta e a maioria está relacionada ao mau uso ou não uso de equipamentos de proteção individual. Além dos riscos biológicos, outros fatores estressantes como emergência, complexidade da decisão, alta responsabilidade em relação aos pacientes e meio ambiente e conflitos, foram identificados. Outra pesquisa realizada com 44 profissionais da equipe de resgate pré- hospitalar do Corpo de Bombeiros Militar de Goiás teve como objetivo identificar a compreensão destes profissionais acerca dos riscos de exposição a material biológico e a adesão às medidas de precauções padrão. O estudo demonstrou que apesar das equipes apresentarem competência técnica para os atendimentos de socorro a vítimas, necessitam de preparo para sua autoproteção, pois medidas de precauções padrão não são adotadas devido ao pouco conhecimento. Este fato expõe os profissionais a riscos biológicos pela não adoção de medidas preventivas. A utilização das luvas de procedimento foi a única medida de segurança adotada pela maioria dos entrevistados (FLORÊNCIO et al., 2003). Em Campo Grande, MS foi desenvolvido um estudo com 308 bombeiros com o objetivo de investigar o perfil soroepidemiológico da infecção pelo HBV. Verificou- se um percentual de soropositividade de infecção para hepatite B (HB) de 6,5% (n=20), sendo 1% para o HBsAg. A presença do marcador anti-HBs isolado, indicativo de imunidade vacinal foi encontrada em 66,9% e 28,2% dos indivíduos 17 estavam susceptíveis à infecção. O tempo de serviço foi referido como principal fator de risco para infecção pelo VHB (CONTRERA-MORENO et al., 2012). Além da exposição aos riscos biológicos, bombeiros e outros profissionais que atuam frente a situações emergenciais estão expostos a riscos psicossociais e privação de sono devido à escala noturna de trabalho. Estes fatos favorecem o desenvolvimento de stress no trabalho e adicionalmente os expõe a fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardíacas, stress pós-traumático e burnout (MURTA; TRÓCCOLI, 2007). Segundo Lima e Assunção (2011), as situações emergenciais enfrentadas no trabalho dos bombeiros e a exigência de tomadas de decisões rápidas constituem riscos não apenas para a vítima como também para o profissional. A exposição constante as adversidades podem influenciar negativamente a saúde mental. O estresse ocupacional é um ponto importante a ser mencionado, pois é realidade na vida de alguns profissionais, especialmente quando lidam com doenças e morte. Um estudo envolvendo equipe de resgate pré-hospitalar móvel, aponta como fontes provocadoras de tensão e ansiedade, o temor do desconhecido, a violência das cenas e as exigências organizacionais e pessoais (AGUIAR et al., 2000). Em relação ao temor do desconhecido as fontes relacionadas foram o toque da sirene, o deslocamento para as ocorrências e o estar sempre em estado de alerta. Nas cenas dos acidentes, foram relacionadas à violência das cenas, sobretudo quando envolve crianças, idosos e familiares, e nas exigências organizacionais e pessoais, foram descritos o grande número de ocorrências, a extensa carga horária, obrigações de serem rápidos e seguros, insatisfação no trabalho e a busca do perfeccionismo (AGUIAR et al., 2000). Murta e Tróccoli (2007) em seu estudo descrevem os efeitos de uma intervenção para o manejo do stress ocupacional, baseada em avaliação de necessidades junto a sete bombeiros. Baseando-se em evidências de que a população-alvo apresentava um repertório restrito de coping e muitos sintomas de stress, implementou-se uma intervenção com 12 sessões, contendo informação, relaxamento, treino assertivo, treino em solução de problemas, manejo de tempo e reestruturação cognitiva. Medidas pré e pós-teste foram obtidas para imunidade, pressão arterial e respostas verbais de stress, saúde geral e coping. A comparação 18 entre medidas pré e pós-intervenção evidenciou redução em stress e sintomas somáticos; aumento em auto-eficácia e em pressão arterial. A literatura sugere que longas horas de trabalho podem aumentar a pressão arterial e levar a doenças cardíacas, independentemente de outras condições estressantes no trabalho. Estudos sugerem uma associação modesta entre o trabalho por turno e horas extras com doença cardíaca (THOMAS HALES, 2008). Régis Filho (2002) reforça que o sistema de trabalho em turnos e noturno, traz prejuízos para a saúde do trabalhador tanto nos aspectos físicos e psíquicos, como emocionais e sociais. Com o objetivo de analisar a Síndrome da Má-adaptação ao Trabalho em Turnos e o Trabalho Noturno, o autor realizou um estudo de caso com trabalhadores de uma empresa do setor cerâmico de Santa Catarina que utiliza o sistema de trabalho em turnos não rodiziantes. O estudo de caso revelou que em média 1 em cada 5 trabalhadores apresentaram pelo menos um dos sintomas de inadaptação ao trabalho em turnos e noturno e que pelo menos 10% dos trabalhadores manifestaram sintomatologia característica da Síndrome da Má-adaptação ao Trabalho em Turnos (RÉGIS FILHO,2002). Essa sintomatologia na fase aguda se manifesta por meio de insônia, sonolência excessiva no trabalho, aumento de acidentes, distúrbios de humor e problemas familiares. Já a fase crônica é manifestada por desordens do sono, doenças cardiovasculares e gastrointestinais, separação e divórcio (RÉGIS FILHO, 2002). Em um estudo conduzido nos estados unidos sobre os acidentes de trabalho sofridos por bombeiros que realizavam trabalhos em turnos, foi constatado que os acidentes mais frequentes envolviam inalação de materiais perigosos e lacerações, sendo a fadiga e as alterações no metabolismo os fatores identificados como predisponentes para a ocorrência dos acidentes. Verificou-se que 92,0% dos acidentes ocorreram durante as atividades de resgate, demonstrando o risco de contaminação por doenças infecciosas (GLAZNER, 1996). Com relação ao risco de acidentes, Batista (2009) desenvolveu um estudo com o objetivo de compreender um aumento do número de acidentes com veículos operacionais de bombeiros das unidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte. O aumento percebido foi de 131,81% e relacionado a fatores como a longa jornada de trabalho, as precárias condições materiais que comprometem o 19 descanso e a rigidez das regras e da organização das atividades que afetam as estratégias de regulação e de enfrentamento dos desafios impostos pela atividade do bombeiro. 20 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Conhecer a ocorrência e os tipos dos Acidentes de Trabalho que aconteceram nos bombeiros no período de 2006 a 2010. 3.2 Objetivos específicos • Verificar a ocorrência dos acidentes de trabalho na corporação no período relacionado; • Caracterizar os tipos de acidentes ocorridos na corporação, bem como sua natureza; • Identificar o número de dias de afastamentos gerados devido aos acidentes de Trabalho. 21 4 MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa propôs um estudo descritivo de caráter quantitativo, e foi realizado em Campo Grande, MS. A metodologia de pesquisa descritiva tem como particularidade o fato de expor dados ou fenômenos. Seus resultados oferecem subsídios para o delineamento de hipóteses que conduzem a outras pesquisas e servem de base para diferentes estudos descritivos (ANDRADE, 2012, p.81). 4.1 População de estudo e amostra A população deste estudo foi composta por bombeiros do Serviço Operacional do 1° e 6° Grupamento do município de Campo Grande, pois são os locais, onde se concentram o maior número de Bombeiros do Estado de Mato Grosso do Sul, no qual ao final do ano de 2010 correspondiam a 325 sujeitos. Do total de 56 registros de acidentes foram analisados 50 registros que se mostraram compatíveis com os critérios de inclusão. 4.2 Critérios de inclusão Para a estimativa do número de acidentes de trabalho a ser estudado, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: Todo acidente de Trabalho registrado no período dos anos de 2006 a 2010. 4.3 Critérios de exclusão Como critério de exclusão foram considerados: Acidentes que não foram devidamente registrados no período, fichas muito incompletas que não caracterizam acidente, sendo excluídos 6 registros. Portanto foram analisados ao todo 50 fichas de notificação de acidentes de trabalho. 4.4 Período de investigação Os dados da pesquisa são referentes ao período compreendido entre os anos de 2006 a 2010. 22 4.5 Coleta de dados Dados secundários sobre acidentes de trabalho foram coletados dos atestados sanitários de origem registrados em Boletins diários emitidos pela corporação do 1° e 6° grupamento de bombeiros do município de Campo Grande, MS. Estes atestados encontravam-se em um banco de dados. Foram coletadas as informações registradas entre os anos de 2006 a 2010. Para a coleta de dados foram pesquisados todos os Boletins Gerais do 1° GB e 6° GB, sendo coletadas as informações dos Atestados Sanitários de Origem, no qual estes documentos encontravam-se todos digitalizados, separados por dia, mês e ano. Foram coletadas informações referentes a todos os acidentes de trabalho ocorridos no período, através de um roteiro elaborado pela própria autora (Apêndice A). As informações de interesse foram transcritas para o referido instrumento que analisou os acidentes de acordo com mês/ano em que ocorreu o acidente, grupamento, posto/graduação, sexo, tipo de ocorrência atendida e viatura, tipo de Acidente de trabalho, descrição do acidente de trabalho, circunstâncias em que ocorreu o acidente de trabalho, uso do equipamento de proteção individual, local de atendimento, profissional que atendeu e se houve afastamento do trabalho (absenteísmo), bem como o número de dias destes, visando atender os critérios de inclusão e exclusão apresentados anteriormente. 4.6 Análise dos dados As informações coletadas foram digitadas em banco de dados apropriado, criado a partir do programa MS- Office Excel. Após a alimentação deste banco de informações procedeu-se a sua análise. Os riscos ocupacionais foram levantados a partir das descrições dos atestados. O tratamento dos dados ocorreu através da estatística descritiva e os mesmos foram apresentados em tabelas. 23 4.7 Aspectos éticos da pesquisa O projeto foi encaminhado ao Comitê de Ética em pesquisa de Seres Humanos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, por atender a Resolução nº. 196/96 (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE, 2007) foi aprovado sob o n°86.644 de 30 de agosto de 2012. 24 5 RESULTADOS 5.1 Apresentação dos acidentes analisados e caracterização dos sujeitos da pesquisa Os resultados do presente estudo evidenciaram que foram notificados em cinco anos 50 acidentes, cerca de 10 ao ano e/ou 0,8 a cada mês. A maioria dos acidentes de trabalho (74,0%) envolveu trabalhadores do sexo masculino. Quanto à categoria profissional, os praças (Soldado, Cabo, Sargento e Subtenente) contribuíram com 90% dos acidentes de trabalho, os oficiais (Tenente e Capitão) com 6,0% e 2,0% não informou posto/graduação. Em relação ao número de notificações por grupamento a Tabela 1 demonstra o resultado de 50,0% para ambos. O corpo de bombeiros militar em Campo-Grande, MS compreende dois grupamentos (1°GB e 6°GB). O 1°GB localiza-se na área Sul da cidade e abrange cinco quartéis, enquanto o 6°GB encontra-se na área Norte e inclui três quartéis. TABELA 1 - Distribuição dos profissionais bombeiros quanto ao sexo, categoria profissional e grupamento do período de 2006-2010. Campo Grande-MS. (n=50) Variáveis N° % SEXO 37 74,0 Masculino 13 26,0 Feminino POSTO/GRADUAÇAO Praças 45 90,0 Oficiais 3 6,0 Não informado 2 4,0 GRUPAMENTO 1ºGB 25 12,8 6º GB 25 19,4 5.2 Riscos ocupacionais no trabalho dos bombeiros militares A exposição aos riscos ocupacionais durante as atividades laborais dos bombeiros militares estão apresentados na Tabela 2. 25 TABELA 2 - Distribuição dos profissionaisbombeiros que sofreram exposição a riscos ocupacionais, segundo sua classificação no período compreendido entre os anos de 2006-2010. Campo Grande, MS. (n =50) Riscos Ocupacionais N° % Acidentes 40 80,0 Biológico 5 10,0 Ergonômicos 4 8,0 Químicos 1 2,0 Dos riscos ocupacionais encontrados, destacou-se, o risco de acidentes (típicos/trajeto) com exposição de 40 sujeitos (80,0%), sendo este o maior risco ocupacional encontrado. Seguido do risco biológico com cinco exposições (10,0%), do risco ergonômico com quatro relatos registrados (8,0%) e dos riscos químicos um (2,0%). 5.3 Tipos de acidentes de trabalho e circunstâncias em que ocorreram A classificação do risco de acidente apresenta-se formada por uma variedade de acontecimentos, dessa forma foram caracterizados os tipos de acidentes a fim de uma melhor análise da situação. TABELA 3 - Distribuição dos tipos de acidentes de trabalho encontrados nas atividades laborais dos bombeiros militares durante os anos de 2006-2010. Campo Grande, MS. (n=50) Tipos de acidentes N° % Distúrbios músculo esqueléticos 24 48,0 Quedas 8 16,0 Acidentes de trânsito 7 14,0 Exposição a sangue e/ou fluídos corpóreos 5 10,0 Outros 3 6,0 Por fatores psicológicos e físicos Amputação 2 1 4,0 2,0 Dos 50 acidentes notificados, o mais prevalente com 24 registros (48%), foi relacionado a distúrbios musculoesqueléticos (lesões, fraturas, rupturas de ligamentos, algias e entorses em membros superiores e/ou membros inferiores), 26 sendo que 11 (22%) ocorreram durante as atividades desportivas e 13 (26%) em atividades que exigiam esforço físico. As quedas e escorregões representaram 16,0% das notificações, ocorrendo durante acesso a escadaria do quartel, saída da base devido a poça d’água, descida da escadaria de sobrado em chamas, durante atendimento a ocorrência devido a calçada estar escorregadia pela chuva, queda de mureta ao recolher mangueiras de incêndio, queda abrupta de uma altura de três metros ao final da operação e quedas da própria altura. Encontraram-se sete acidentes de trânsito (14,0%), sendo quatro colisões automobilísticas e três acidentes de percurso. Verificaram-se situações como a colisão da viatura com carros de passeio durante locomoção para ocorrências sendo uma em cruzamentos, outra situação foi a queda ao solo de um militar em atendimento a ocorrência, o mesmo perdeu o controle da motocicleta ao transpor o meio fio da calçada vindo a abalroar em um veiculo táxi. Nos acidentes de percurso, foram registradas duas quedas de motocicleta do profissional, em via urbana durante o trajeto (trabalho / residência), o terceiro acidente de trânsito não foi especificado, mas aconteceu no retorno para residência. Em relação aos acidentes envolvendo o contato com sangue e/ou secreções, ocorreram cinco registros (11,0%), sendo que a maioria atingiu mucosa (olhos), seguida de pele íntegra. As situações que contribuíram para a ocorrência dos acidentes foram emergência e agressividade da vítima. A maior parte dos profissionais acidentados utilizava EPI com exceção de um pelo uso de óculos de grau que utiliza. Na categoria outros, foram agrupados três acidentes típicos (6,0%). Detalhando estes eventos observaram-se lesão ocular provocado por cisco de serragem (pó de serra), devido à falha dos óculos de proteção; inalação de material perigoso durante combate a incêndio, onde a militar apesar de estar utilizando a máscara do equipamento de proteção respiratória, não proporcionou um ajuste necessário em seu rosto permitindo a entrada de gases tóxicos provenientes da queima dos produtos químicos presentes no local; e, um acidente ocasionado durante manutenção de viatura. Após colocar o veículo na rampa com todos os procedimentos de rotina o militar entrou em baixo da mesma para averiguar o problema quando esta começou a descer, vindo a pressionar a cintura e o braço do referido militar. 27 Conforme pode ser observado na tabela 3 foi elencado um problema de ordem emocional e um por motivo de saúde, constituindo 4,0% dos registros. No primeiro o militar envolvido relatou não apresentar condições psicológicas para dirigir a viatura, sendo atendido pela psicóloga do setor de serviço social, a qual solicitou seu afastamento do serviço operacional e administrativo para acompanhamento. No outro a militar mencionada apresentou um mal súbito no interior da viatura ao retornar do atendimento. E, por fim anotamos um caso de amputação de membro. Durante operação de corte de árvore, o militar que utilizava motosserra para realizar o corte, veio a sofrer um ferimento lacerante no pé esquerdo, do qual resultou a amputação da falange distal do hálux esquerdo. 5.4 Consequências advindas dos acidentes de trabalho Em relação ao absenteísmo ocorrido, os trabalhadores ausentaram-se 491 dias por motivos variados, que foram relacionados aos riscos ocupacionais, de acordo com a tabela 4. O risco que mais propiciou afastamento foi o de acidente, responsável por 453 dias de absenteísmo em relação ao total de 491 dias. Este risco ocupacional ocasionou queimaduras, entorses de tornozelos e joelhos, rupturas de ligamentos, fraturas, amputações, dorsalgias entre outros problemas ocasionados por quedas. 28 TABELA 4 - Relação do tipo de risco ocupacional, por dias de absenteísmo e descrição do evento acidentário sofrido pelo profissional, no período dos anos entre 2006- 2010. Campo Grande, MS. (n=15) Absenteísmo Risco ocupacional Descrição do acidente sofrido pelo profissional bombeiro < de 5 dias De acidente Queda da motocicleta De 5 a 15 dias Ergonômico Lesão no joelho/atendimento à PCR De acidente Dorsalgia traumática – EFM Queda da própria altura Queimadura em MSD Acidente de trânsito ao sair do trabalho Entorse em tornozelo D De 16 a 30 dias De acidente Ruptura ligamento do joelho Lesão em MID durante prática desportiva > de 30 dias De acidente Entorse de tornozelo esquerdo – EFM Amputação da falange distal do hálux E Entorse do tornozelo Fratura de rádio e ulna Lesão em MID durante EFM Entorse no joelho Legenda: PCR = parada cardiorrespiratória. EFM = educação física militar. MSD = membro superior direito. MID = membro inferior direito. D = direito. E = esquerdo. 29 6 DISCUSSÃO Neste estudo foram registrados, cerca de 10 notificações de acidentes de trabalho ao ano. Pode-se inferir que esse valor é baixo se comparado aos riscos que identificamos na execução do trabalho destes profissionais. Apesar da notificação dos acidentes do trabalho ser uma exigência legal a subnotificação destes podem ocorrer. Cordeiro et al. (2005) referem que o subregistro ocorre no Brasil e em outros países, constituindo problema que dificulta a implementação de estratégias para prevenir acidentes de trabalho. Joia et al. (2009) mencionam que inúmeros estudos apontam como causas de subnotificações na área da saúde a desinformação dos acidentados ou dos profissionais que os tratam, o desconhecimento da necessidade da notificação, a justificativa de considerarem a lesão ocasionada pelo acidente como pequenae sem importância, a falta de tempo, e o medo da punição. Foi encontrada maior frequência de acidentes de trabalho entre o sexo masculino. Um estudo peruano desenvolvido por Chacaltana e Espinoza (2008), demonstrou que dos 3343 militares estudados, 93,2% (3116), eram do sexo masculino. Tal prevalência também é relatada no Brasil em estudos similares envolvendo equipes de APH e motoristas de uma central de ambulâncias (TAKEDA, 2002 (100%); ZAPAROLLI; MARZIALE, 2006 (67,5%). Este número pode estar relacionado com o fato deste serviço exigir maior força física, além do vinculo militar que possui. Nos últimos anos mais mulheres tem ingressado no serviço militar. Antes os quartéis eram territórios masculinos e desconhecido pelas mulheres. Embora, fisiologicamente, o homem seja mais forte do que a mulher, elas vem conquistando seu espaço, provando perante a sociedade que são capazes de realizar qualquer tarefa. É uma superação diária (RIO DE JANEIRO, [2012]). A primeira turma de soldados femininos do Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso do Sul ingressou na instituição no ano de 2004. Anteriormente o Corpo Feminino era composto apenas por duas oficiais que ingressaram em 1999. As mulheres são submetidas aos mesmos treinamentos que os homens, superando as dificuldades e demonstrando a capacidade necessária para desempenhar a atividade inerente ao Bombeiro Militar (MATO GROSSO DO SUL, [2012]). 30 Neste estudo, a maior ocorrência de acidentes (90%), atingiram os praças (soldado, cabo e sargento), dados já esperados, devido ao maior contingente de trabalhadores desta categoria atuante nas guarnições. Eles são os profissionais que realizam com maior frequência as manobras de resgate e deparam-se com outras situações que favorecem a ocorrência de acidentes tornando-se, portanto, mais vulneráveis que os demais profissionais. Em relação ao número de notificações de acidente de trabalho por grupamentos, ambos registraram 25 acidentes. Porém, proporcionalmente a área norte notificou mais, pois é menor. Quanto aos fatores de risco ocupacionais destacaram-se os de acidentes, seguido pelo biológico, ergonômico e químico. Considerando de suma importância que o trabalhador conheça os riscos a que estão expostos, estudos constatam que a maioria dos trabalhadores identifica os riscos no trabalho, no entanto, a minoria utiliza medidas adequadas de segurança, revelando a necessidade de intervenções (ZAPPAROLI; MARZIALE, 2006). Tal fato é preocupante já que estes trabalhadores vivenciam situações emergenciais que envolve o manuseio de sangue e fluídos corpóreos no seu dia-a- dia. As consequências de uma exposição ocupacional não se referem apenas às infecções, mas também a traumas psicológicos ocasionados pela espera do resultado de uma possível soroconversão, mudanças nas práticas sexuais, no relacionamento social e familiar, além de efeito das drogas profiláticas. Vários são os danos físicos e mentais causados por tais acidentes. É importante lembrar que um acidente não é obra do acaso e pode apresentar resultados indesejáveis. O contato com material biológico ocorreu em 10% dos registros verificados nesta pesquisa, sendo que um acidente envolveu sangue em pele íntegra. O contato com material biológico em pele íntegra, equivocadamente, tem sido desprezado por muitos profissionais. A aparente pele íntegra poder conter microlesões, muitas vezes imperceptíveis, que podem servir de porta de entrada para vários tipos de agentes infecciosos (CANALLI; MORIYA, HAYASHIDA, 2010). Soerensen et al. (2009) em seu estudo sobre acidentes com material biológico em profissionais do atendimento pré-hospitalar móvel de uma empresa do interior paulista, mostrou que dos 50 trabalhadores entrevistados, 28 (56%) referiram ter sofrido algum tipo de acidente com material biológico potencialmente contaminado, perfazendo um total de 41 acidentes, sendo que houve profissionais 31 com mais de uma exposição. A maioria dos acidentes aconteceu em pele íntegra, seguida por percutâneo, mucosa e pele lesada. O agente contaminante que apareceu na maioria das exposições foi sangue. Como causas favorecedoras da ocorrência de acidentes foram referidas as situações de emergência, agitação do paciente e estresse do profissional. É importante ressaltar que neste estudo não foram registrados riscos físicos, mas é relevante lembrar que os bombeiros estão constantemente expostos a este risco por estarem em contato com altas temperaturas como ocorre durante os incêndios e até mesmo os ruídos advindos das sirenes das ambulâncias durante ocorrências. Souza; Fiorini e Guzman (2009), em um estudo epidemiológico transversal com o objetivo de identificar o incômodo causado pelo ruído e queixas relacionadas à saúde auditiva em uma corporação de bombeiros demonstrou maior ocorrência para o ruído urbano, seguido do ruído da viatura e ruído do telefone para o setor administrativo. Mais especificamente o ruído das sirenes durante a jornada de trabalho. Em relação às queixas foram relatados incômodo, intolerância, irritabilidade, dor de cabeça, diminuição da audição, alteração do sono, zumbido e tontura. Além dos ruídos, os bombeiros também enfrentam temperaturas elevadas. De acordo com Couto (1980), os ambientes de alta temperatura representam pontos importantes no estudo da patologia ocupacional por implicar na saúde do trabalhador. As manifestações da fadiga devido ao calor incluem desidratação, câimbras, tonturas e desmaios causados pela tentativa do organismo em manter constante a temperatura corpórea. Em relação ao tipo de acidente de trabalho notificado, observou-se uma predominância na educação física militar. O treinamento físico para o bombeiro militar consiste em prepará-lo para atuar frente a condições adversas no desenvolvimento de seu trabalho. A extinção de incêndios e operações de salvamentos submete o profissional a condições estressantes que reduzem o nível do condicionamento físico, interferindo no desempenho de suas ações. A prática da educação física militar é fundamental, pois reflete na qualidade do trabalho. Além disso, inúmeros são os benefícios gerados através do treinamento físico, como: melhora do bem-estar físico; maior disposição; 32 controle dos fatores de riscos coronarianos; melhor aptidão física; circulação, entre outros (RIO DE JANEIRO, [2012]). 33 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em um contexto geral, o acidente de trabalho, torna-se um importante assunto de avaliação, devido à preocupação com os riscos ocupacionais que os bombeiros militares estão expostos. Os dados investigados permitem concluir acerca dos objetivos que estes foram alcançados, pois de acordo com o objetivo geral foi possível conhecer a ocorrência e os tipos dos acidentes de trabalho que aconteceram nos bombeiros no período investigado. No que diz respeito aos objetivos específicos da pesquisa foi possível verificar a ocorrência e caracterizar os tipos de acidentes que aconteceram na corporação, bem como sua natureza. Considerando que estes profissionais atuam em situações de emergência e enfrentam situações imprevisíveis constatamos a ocorrência de acidentes em várias situações adversas como: incêndios, resgates, manutenções de viaturas, cortes de árvores, contato com materiais biológicos, acidentes, agressões, tarefas executadas sob tensão, treinamentos e atividades de exigência física. A maioria dos acidentesde trabalho atingiu o sexo masculino (74,0%) o que já era esperado, por ser a maioria na corporação. Quanto a categoria profissional os praças (90,0%) foram os mais atingidos. Com relação ao número de notificações por grupamento foi encontrado 50,0% para ambos, sendo que proporcionalmente a área Sul notificou mais por ser menor. Foram registradas 50 exposições aos riscos ocupacionais, destacando-se com 80,0% os riscos de acidente, seguido pelo risco biológico (10,0%), ergonômico (8,0%) e químico (2,0%). Quanto ao tipo de acidente de trabalho notificado, 48% ocorreram em práticas desportivas ou atividades que exigiam esforço físico, provocando distúrbios musculoesqueléticos. Em relação ao absenteísmo percebeu-se um número elevado de dias (491) de afastamento, acredita-se que este número deva ser bem maior e por algum motivo não foram mencionados em vista das características e gravidades de alguns acidentes analisados. Considerando-se que os acidentes de trabalho podem ocorrer de maneira abrupta e insidiosa embora perceba-se antecipadamente pelas condições de 34 trabalho, os riscos a que os empregados estão expostos é importante destacar a necessidade de trabalhar este tema continuamente, alertando para todos os riscos de acidentes, propondo medidas para redução destes riscos. 35 REFERÊNCIAS AGUIAR, K. N.; SILVA, A. L. A. C.; FARIA C. R.; LIMA, F. V.; SOUZA, P. R.; STACCIARINI, J. M. R. O estresse em uma equipe militar de resgate pré-hospitalar. Revista Eletrônica de Enfermagem, Goiânia, v.2, n.2, jul/dez. 2000. ANDRADE, S. M. O. A pesquisa científica em saúde: concepção e execução. 5. ed. Rev. Atual, Campo Grande – MS, 2012. 160p. BATISTA, A. G. Quando os bombeiros não chegam: algumas das contribuições da psicologia do trabalho para o entendimento dos acidentes com veículos operacionais de bombeiros na Região Metropolitana de Belo Horizonte. 2009. 160 p. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Belo Horizonte, 2009. BRASIL. Anuário Estatístico da Previdência Social. 2010. Disponível em: <http://www.mpas.gov.br/arquivos/office/3_111202-105619-646.pdf.> Acesso em: 03 jul. 2012. ______. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº. 196/96 que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 1996. ______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. 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Local de atendimento:___________________ 11. Profissional que atendeu:_________________ 12. Afastamento do trabalho: ( ) sim ( ) não 13. Quantos dias? 39 ANEXO A – Carta de aprovação do comitê de ética para pesquisa com seres humanos 40
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