Buscar

Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho parte 1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 84 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

A história da Segurança do Trabalho
Ahistória da Segurança do Trabalho
 
A história da Segurança do Trabalho, assim como tantas outras áreas, começou bem antes do reconhecimento dos conceitos relativos à Segurança e Saúde do Trabalho e sua importância. O homem de neandertal, espécie prima humana extinta, que habitou a Europa e partes do oeste da Ásia há mais de 300 mil anos, já utilizava vestimentas de couro para proteção do seu corpo contra eventuais ameaças a sua integridade física advindas da floresta (BARSANO; BARBOSA, 2014).
Os tópicos seguintes se debruçam sobre a origem da segurança e saúde do trabalho, traçando um panorama geral desde os primeiros indícios de uso de medidas de proteção e prevenção de danos físicos e psíquicos; percorrendo as contribuições dos pensadores e filósofos; chegando à intensificação da discussão dos agravos da precarização dos ambientes e condições de trabalhos industriais, que culminaram na evolução dos princípios de segurança do trabalho no mundo e no Brasil.
 
Primórdios da Segurança do Trabalho
 
Embora sem ainda possuir essa denominação, equipamentos e procedimentos de segurança eram adotados desde os primórdios da evolução do homem, visando a proteção contra possíveis ataques de animais peçonhentos durante a caça e os efeitos da exposição a intempéries (BARSANO; BARBOSA, 2014).
De acordo com Mattos e Másculo (2019, p. 6), na antiguidade, nos papiros egípcios, no Império Babilônico e em escritos da civilização greco-romana, encontram-se conexões entre o processo saúde-doença e as atividades laborais. Sobre essa temática, os autores afirmam que:
Neste estágio predominava inicialmente o paradigma mágico religioso e posteriormente o naturalista. No Egito há registros que datam de 2360 a.C., o Papiro Seler II, relacionando o ambiente de trabalho e os riscos inerentes a eles, e o Papiro Anastasi V, mais conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1800 a.C., descrevendo os problemas de insalubridade, periculosidade e penosidade das profissões. O império babilônico, no seu auge, criou o Código de Hamurabi por volta de 1750 a.C. Dele foram traduzidos 281 artigos a respeito de relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. No artigo que fala sobre a responsabilidade profissional, o imperador Hamurabi [governou entre os anos de 1792 e 1750 a.C.] sentencia com pena de morte um arquiteto que construir uma casa que se desmorone, causando a morte de seus ocupantes (MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 6).
 
As sociedades gregas e romanas eram fortemente dependentes dos escravos, os quais eram os responsáveis por desempenhar as atividades que geravam riscos de acidentes e doenças ocupacionais. Por essa razão, estudos voltados para esse tema não eram valorizados. Hipócrates foi um dos primeiros a receber destaque na Grécia, no século IV a. C., por volta de 460-375 a.C., e seus estudos ocasionaram a transição do paradigma espiritualista para o paradigma naturalista. Hipócrates publicou um tratado que informava ao médico sobre a relação entre ambiente e saúde (clima, topografia, qualidade da água, organização política). Adicionalmente, descreveu a “intoxicação saturnina” de um funcionário de mineração, embora tenha omitido o ambiente de trabalho e a ocupação deste (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Lucrécio foi outro estudioso da Grécia antiga que, no século I a. C. (em torno de 100 a. C.), também fazia menção aos riscos laborais aos quais os trabalhadores das minas estavam expostos. Um tempo depois, entre 23 e 79 a.C., Plínio, o Velho, elaborou o “Tratado de História Naturalis”, o qual apontava para a exposição dos trabalhadores a chumbo, mercúrio e poeiras. Além disso, também listou os equipamentos de proteção individual que esses trabalhadores utilizavam, tais como máscaras, feitas de panos e bexigas de carneiros, para evitar a inalação de poeiras e fumos (BARSANO; BARBOSA, 2014).
Na realidade, as civilizações greco-romanas foram pioneiras na criação de comunidades solidárias, na Grécia chamadas “erans” e em Roma de “collegia”, as quais absorviam os cidadãos gregos, seus filhos, enquanto membros e seus escravos, cadastrados como capital de trabalho. Essas cooperativas eram abertas a qualquer cidadão, incluindo os escravos libertos e tinham o propósito de proteger os participantes de determinados riscos. Portanto, elas constituíram as primeiras caixas de auxílio às doenças e acidentes (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Segurança e saúde do trabalho no mundo
 
Por volta de 1700 foi publicada na Itália a obra “As Doenças do Trabalho” (originalmente denominada “De Morbis Arficum Diatriba”), de autoria do médico italiano Bernardino Ramazzini e consiste no primeiro livro escrito especificamente sobre doenças ocupacionais e prevenção de riscos relacionados ao trabalho. Na prática, descrevia 50 ocupações profissionais e as medidas de proteção e neutralização dos efeitos à saúde do trabalhador. De acordo com Chirmici e Oliveira (2016, p. 2), esse livro acabou se tornando “a base para o desenvolvimento da medicina ocupacional, por isso Bernardino Ramazzini é visto até os dias atuais como o ‘pai da medicina ocupacional’.
É importante perceber que desde essa época as pessoas já haviam atentado para o fato de que havia uma relação entre o desempenho das atividades laborais e o desenvolvimento de enfermidades, resultando na perda de produtividade e, em última instância, na redução dos rendimentos financeiros recebidos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Anos depois, em 1776, foi publicada em Londres a primeira parte da obra “Riqueza das Nações”, escrita pelo economista britânico Adam Smith. A segunda edição foi lançada em 1778 e três novas edições se sucederam nos anos de 1780, 1784 e 1786.
Esse livro trouxe reflexões acerca da necessidade de priorização da saúde e integridade do trabalhador, como meio de garantir o alcance do seu potencial máximo de produtividade e o alcance de melhores resultados econômicos para os empregadores. Além disso, Adam discute a relação do trabalho com o ganho financeiro, preceituando a necessidade de estabelecimento de um equilíbrio entre carga de trabalho e retorno financeiro, ao afirmar que “os empregados, quando bem pagos por peça, facilmente fazem horas extraordinárias e arruínam sua saúde e sua constituição em poucos anos” (SMITH, 1776).
 
Revolução Industrial
 
Uma nova concepção de trabalho que provocou mudanças rápidas e profundas na ordem política, econômica e social na Europa, transformando para sempre a estrutural social e comercial, surgiu a partir da invenção da máquina a vapor por James Watt (1736-1819). Foi o pontapé inicial da Revolução Industrial na Inglaterra, que pode ser dividida em duas etapas: 1ª revolução industrial (1780- 1860), também chamada de revolução do carvão e do ferro; 2ª revolução industrial (1860- 1914) ou revolução do aço e da eletricidade (CHIAVENATO, 2003).
A Revolução Industrial inseriu uma série de avanços tecnológicos e que incrementaram a produtividade nas organizações, tais como: mecanização, aplicação da força motriz e desenvolvimento do sistema fabril; aceleramento dos transportes e das comunicações. Com isso, elevou-se a quantidade de bens manufaturados produzidos, com melhor qualidade de acabamento e menor tempo de produção. (CHIAVENATO, 2003; CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Porém, Chimirci e Oliveira (2016, p. 3) destacam que:
Concomitantemente ao bônus, surge o ônus, ou seja, as consequências negativas dessa evolução na indústria. Em resposta ao processo acelerado de produção em condições cada vez mais desumanas, começaram a surgir doenças ocupacionais, e as taxas de acidentes relacionados ao trabalho aumentaram a níveis alarmantes – não só homens, mas também idosos, mulheres e crianças eram designados para as mais diversas tarefas, em condições laborais e de vida muitas vezes deploráveis. Não havia qualquer controle sobre a segurança no desempenho das atividades ou a carga horária de trabalho e descanso, que, extenuando o trabalhador, levavam ao alcoolismo, à prostituição e à criminalidade. A mortalidade em alguns segmentos industriais atinge,nesse período, níveis assombrosos.
 
Para além da precarização das condições de trabalho, difundiu-se uma insegurança geral mediante a possibilidade de substituição total da mão de obra humana por máquinas. Assim, emergiu o primeiro movimento de luta operária, movido pelos trabalhadores. Com finalidade de reivindicar os seus direitos, esses trabalhadores associaram-se a sindicatos e pressionaram os empresários capitalistas a reorganizarem o trabalho, mediante a recusa e realizar as atividades laborais e a resistência ao controle dos gerentes (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Em consequência dessa atmosfera de resistência, movimentos sociais e trabalhistas ganharam destaque e, de forma lenta e gradual, impulsionaram o surgimento das legislações e normativas visando a proteção dos trabalhadores, regulamentando as atividades. Assim, surgiu o Direito do Trabalho, regulação jurídica dos direitos trabalhistas que objetiva proteger a integridade dos trabalhadores, o estabelecimento de limites para jornada de trabalho nas horas laborais e a criação de garantias mínimas contra demissões arbitrárias (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
 
Segurança e saúde do trabalho no Brasil
 
Não há basicamente registro algum de doenças associadas ao trabalho antes do fim do regime de escravidão no Brasil. De forma semelhante às sociedades gregas e romanas, as atividades laborais manuais que exigiam maior esforço, promovendo maior desgaste físico e psíquico eram destinadas aos escravos e, por esse motivo, recebiam pouca importância entre os seus senhores e demais cidadãos.
Os primeiros registros de doenças relacionadas ao trabalho ocorreram a partir de 1920, mediante estudos desenvolvidos por Oswaldo Cruz, durante a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, que se estendeu de 1907 e 1912, tendo se verificado a contaminação de empregados por doenças infecciosas. Desde então, diferentes pesquisas relativas a indústrias europeias que foram transferidas para o Brasil e “demonstraram a relação direta entre as más condições laborais e a ocorrência de doenças e acidentes no trabalho [...] desencadeando aqui um reflexo do que houvera na Europa um século antes” (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016, p. 4).
Logo, por intermédio dos movimentos sociais e trabalhistas, ganharam força as denúncias de trabalhadores sobre más condições de trabalho, abrindo portas para a criação de legislações voltadas à proteção do trabalhador (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
 
Atividade Extra
 
Assista ao filme “Germinal” (1993), de Émile Zola, cujo título faz menção ao amadurecimento de movimentos grevistas de trabalhadores de minas de carvão no século XIX. O filme aborda a complexidade das relações de trabalho e a luta de classes durante o processo de desenvolvimento do capitalismo e mudanças na organização do trabalho. O filme retrata as severas transformações sociais que foram impostas pelo modo de produção capitalista.
 
Referências Bibliográficas
 
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
SMITH, A. A riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e suas causas. 1776. Versão comentada por Winston Fritsch. São Paulo: Editora Nova Cultural Ltda, 1996.
Evolução da Higiene e Segurança do Trabalho (HST)
Evolução da Higiene e Segurança do Trabalho (HST)
A História abre portas para o entendimento do desenvolvimento do conhecimento de todas as áreas, incluindo a medicina do trabalho e a higiene e segurança do trabalho. Com o desenvolvimento da humanidade e do labor, ao longo do tempo, as condições de trabalho foram sendo cada vez mais determinantes para a ocorrência de doenças e acidentes de trabalho, os quais resultaram em incapacidades temporárias e permanentes e até mesmo na morte de inúmeros trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Nos próximos tópicos serão explorados os principais marcos históricos relativos ao surgimento e desenvolvimento da medicina e higiene do trabalho, bem como o surgimento de regulamentações e seus desdobramentos nas relações de trabalho e na incidência de doenças e acidentes de trabalho.
 
Surgimento da medicina do trabalho
A Medicina do Trabalho surgiu no século XIX, através do estabelecimento de uma relação entre saúde e trabalho. O estudo da medicina do trabalho não era focado em torná-la uma especialidade, mas sim na busca por formas de aumentar a produtividade de trabalhadores e de minimizar as consequências das patologias adquiridas em virtude das atividades laborais (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Bristot (2019, p. 174) define a medicina do trabalho como um:
Segmento da medicina tradicional, com características diferenciadas dentro de um programa de saúde ocupacional, objetivando a realização das avaliações da capacidade física, mentais e emocionais, para que o trabalhador possa iniciar suas atividades laborais sem correr riscos para si e para seus (BRISTOT, 2019, p. 174).
Logo, podemos afirmar que a medicina do trabalho é uma especialidade médica dedicada ao tratamento de doenças e ao restabelecimento da saúde do trabalhador que tenha sido vítima de acidentes e doenças do trabalho. Desse modo, a medicina do trabalho é decisiva para a associação dos agravos à saúde e o desempenho do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
A conexão entre os agravos e o trabalho remete aos estudos da Escola da Administração Científica, idealizada e iniciada por Frederick Taylor (1856-1915), a qual se desenvolveu nos Estados Unidos, com o aporte de outros autores, como Henry Lawrence Gantt (1861-1919), Frank Bunker Gilbreth (1868-1924) e Harrington Emerson (1853-1931). A principal preocupação dessa corrente de pensamento concentra-se na elevação da produtividade da organização através do aumento de eficiência dos operários. Assim, no século XIX, grande ênfase era dada à análise e divisão do trabalho do operário, visto que cada função e cargo que ocupam consiste numa unidade fundamental da empresa (CHIAVENATO, 2003).
Mattos e Másculo (2019) apontam que a atuação do médico abria espaço para interpretações de acordo com o atendimento clínico individual, não sendo incomum a dissociação dos agravos gerados à saúde em relação ao trabalho. Isso beneficiava o paradigma taylorista, uma vez que favorecia a seleção dos funcionários “mais aptos” para uma função. A associação entre agravo e atividade laboral, também favorecia o gerenciamento do retorno dos doentes e acidentados e o controle do absenteísmo.
Porém, de forma um tanto crua, podemos dizer que cada vez mais o “cerco foi se fechando”, pois, com a incorporação de conhecimentos e das inovações técnicas (como os motores elétricos), foi ficando cada mais difícil sustentar uma resposta que não traçasse uma ponte direta entre o surgimento de agravos e a execução do trabalho, os quais “inviabilizavam economicamente a produção, principalmente no período pós-guerra, onde a economia estava sendo reativada e a mão de obra reassumindo os postos de trabalho” (MATTOS; MÁSCULO, 2019, p. 15).
Nesse contexto, aparece uma nova abordagem para a relação entre saúde e trabalho: a saúde ocupacional, cuja finalidade consistia em adequar-se à nova necessidade produtiva (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Regulamentação das condições de trabalho na Europa
Conforme discutido na aula 1, desde a Antiguidade os pensadores já apontavam os possíveis efeitos nocivos da exposição prolongada a diferentes substâncias durante a realização do trabalho. Porém, bastante tempo depois vieram novos registros de estudos acerca da toxicidade de substâncias e potenciais consequências à saúde. Em 1473, Ulrich Ellenborg associou sintomas de envenenamento ocupacional por vapores metálicos (chumbo e mercúrio, por exemplo), ácido nítrico e monóxidode carbono. Além disso, propôs medidas de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Entretanto, até o final do século XV publicações de investigações sobre doenças provocadas por agentes químicos não costumavam propor formas de tratar, apenas de preveni-las. George Bauer foi o primeiro a conduzir um estudo completo em 1556. Sua obra, intitulada “De Re Metallica” abordou as enfermidades relacionadas com as atividades de extração e fundição de prata e ouro, bem como as doenças e acidentes de trabalho mais frequentes entre mineiros. O seu diferencial consistiu em propor, além de formas de prevenção, como a garantia de condições apropriadas de ventilação, foi a descrição dos sintomas e a evolução de uma moléstia referida por ele como “asma dos mineiros”, a qual mais tarde chegou-se à interpretação de ser equivalente ao que hoje se conhece como silicose (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Em 1567, Aureolus Theophrastus Bembastus von Hohenheim, conhecido como Paracelso, publicou o livro “Dos ofícios e doenças da montanha”, que constituiu a primeira monografia cujo tema foram as associações entre os métodos de trabalho e doenças ocasionadas pelo contato com substâncias por profissionais de mineração e fundição de metais, como a silicose e as intoxicações por chumbo e mercúrio (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Como definitivamente as atenções estavam voltadas para o risco da atividade de mineração, em 1665, na cidade Ídria, na Eslovênia, país do Leste Europeu, reduz-se a jornada dos mineiros de mercúrio a fim de diminuir a incidência do “idragismo”, doença ocasionada por esse metal. Esse foi marco regulatório importante em matéria de saúde e segurança do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Conforme já explanado na aula 1, no século XVIII vieram as publicações de Ramazzini, tido como o Pai da Medicina do Trabalho, fundamentais para estabelecer uma máxima válida até os dias atuais: “Prevenir é melhor do que remediar.” Ramazzini descreveu não só as doenças e suas respectivas medidas de prevenção, mas também introduziu na anamnese médica o questionamento “Qual a sua ocupação?” (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
No ano de 1740 implementou-se na Dinamarca um sistema de saúde nacional, criando-se os primeiros exames, os quais serviram de modelo para os demais países europeus. Anos depois, em 1775, na Inglaterra, o médico Percival Pott relatou o desenvolvimento de câncer escrotal por limpadores de chaminés, devido à falta de higiene e ao contato com fuligem. Treze anos mais tarde foi promulgada no país a Lei de proteção aos limpadores de chaminé (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Somente com o advento da Revolução Industrial, com a verificação de quão degradas estavam as condições de trabalho e com a alta no número de acidentes de trabalho graves, mutilantes e fatais, mediante intensa reivindicação e atuação dos movimentos sociais, introduziram-se medidas legais de controle das condições e dos ambientes de trabalho. Era urgente que fossem regulamentados muitos dos fatores que resultavam nos acidentes de trabalho a época, entre eles: a falta de proteção das máquinas, a falta de treinamento para sua operação, as extenuantes jornadas de trabalho, os níveis elevados de ruído produzido pelas máquinas e as más condições de higiene e segurança dos ambientes de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
O impacto da abertura de novas fábricas e tipos de atividades industriais, tornava-se cada vez mais insustentável, visto que subiam os números de doenças e acidentes de origem ocupacional e não ocupacional. Diante disso, com o Sir Robert Peel a frente, é inaugurada uma comissão de inquérito no Parlamento britânico. Em 1802 foi aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores, chamada de “Lei da Preservação da Saúde e da Moral dos Aprendizes e de Outros Empregados”, a qual, dentre outras providências, fixava a jornada diária de doze horas de trabalho, proibia o trabalho noturno, determinava a obrigação de garantir boa ventilação nos ambientes de trabalho, assim como a limpeza das paredes das fábricas duas vezes ao ano pelos empregadores. Outras leis complementares foram promulgadas em 1819, mas segundo Mattos e Másculo (2019), elas não foram propriamente levadas em consideração respeitadas pelos empregadores, visto que isso exigiria um investimento financeiro alto, que não era de seu interesse realizar.
Os estudos continuaram avançando ao longo do século XIX, até que no século seguinte foi fundada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, que culminou na evolução das legislações trabalhistas, estabelecendo, criando condições necessárias para o desenvolvimento dos aspectos técnicos da Higiene Industrial (BRISTOT, 2019).
 
Evolução da HST nos continentes europeu e americano
A Higiene do Trabalho consiste numa área entrelaçada com a Medicina do Trabalho, visto que têm o objetivo comum “prevenir os danos à saúde do trabalhador decorrentes das condições do trabalho” (BRISTOT, 2019, p. 173).
Outra área que possui interface com a Higiene do Trabalho é a Ergonomia, visto que essa última tem como finalidade a adaptação do meio ao homem, em outras palavras, a realização de intervenções no ambiente de trabalho a fim de prover melhorias e a qualidade de vida dos trabalhadores. De toda forma, admitindo que os riscos ambientais contribuem para a formação de situações inseguras, a Higiene do Trabalho é a área responsável pela identificação, análise e avaliação, com o fim de traçar melhorias necessárias para o aperfeiçoamento das condições com potencial para acarretar prejuízos à saúde dos trabalhadores (BRISTOT, 2019).
Apesar da intensificação do processo de industrialização ocorrido nos Estados Unidos (EUA) a partir da metade do século XIX, as primeiras ações voltadas para Higiene e Saúde do Trabalho nesse país e nos demais do continente americano, incluindo o Brasil, começaram apenas no século XX.
Em 1900, a médica e higienista Alice Hamilton foi responsável por investigar diferentes ocupações, tendo influenciado as primeiras leis ocupacionais americanas. Inclusive no ano de 1919 ela se tornou a primeira mulher a estudar em Harvard, publicando a obra “Explorando as ocupações perigosas.” As leis sobre indenizações em casos de acidentes de trabalho foram lançadas entre os anos 1902 e 1911.
De acordo com Mattos e Másculo (2019, p. 12):
Além da regulamentação sobre os serviços, há também que registrar outros fatos marcantes ocorridos nos Estados Unidos, como: a criação, em 1916, da Industrial Medical Association (orientada para a reparação dos acidentes); o início do curso de graduação em Higiene Industrial na Universidade de Harvard (1922); a criação da ACGIH – inicialmente National Conference of Governmental Industrial Hygienists (1938); a criação da AIHA (American Industrial Hygiene Association) e da ASA (American Standards Association, hoje ANSI).
O Brasil e outros países da América Latina tiveram sua Revolução Industrial ocorrendo por volta dos anos 1930. Nesse contexto, foram marcos importantes: a origem da área de Higiene Ocupacional no SESI, em 1945; a concepção da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho (Fundacentro) em 1966; em 1972, o lançamento do Plano de Valorização do Trabalhador e a obrigatoriedade dos Serviços Médico e de Higiene e Segurança do Trabalho nas empresas com 100 ou mais empregados, de acordo com a Portaria 3.237/72.
Apesar dos avanços, o Brasil acabou ganhando um título bastante indesejado na área de segurança do trabalho em 1974, o de campeão mundial de acidentes de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
As várias faces do conceito de saúde
O Comitê misto da OIT e da Organização Mundial da Saúde (OMS) definiram em 1949, em reunião na Genebra em 1949, que a saúde ocupacional tem como intuito promover e manter o bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as funções. Outro objetivo é a prevenção das doenças ocupacionais desencadeadas pelas condições de trabalho às quais estão submetidos. Portanto, a saúde ocupacional é uma abordagem multiprofissional com perfil tecnicista, a qual valoriza os ambientesde trabalho, focando nas doenças ocupacionais do trabalhador produtivo (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Como desdobramento do conhecido como Modelo Operário Italiano, surge um modelo que consiste num novo modo de abordar saúde e trabalho, em paralelo com a saúde ocupacional, conhecido como saúde do trabalhador, com as seguintes características: participativo, em detrimento do tecnicista, tendo o trabalhador como sujeito das ações, atuando nas avaliações e na implementação das mudanças nos processos e organização de trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Atividade Extra
Assista ao vídeo do Napo mostrando algumas situações de risco que podem ser encontradas em diferentes ambientes de trabalho. No não apenas os fatores de risco são expostos, como também alguns momentos de reflexão e posterior adoção de medidas corretivas para barrar o potencial prejudicial e degradante desses riscos à saúde do trabalhador (Link de acesso: https://www.napofilm.net/pt/napos-films/napo-risky-business).
 
Referências Bibliográficas
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do trabalho [Recurso
eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração: uma visão abrangente da moderna administração das organizações. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
Destrinchando o acidente de trabalho
Destrinchando o acidente de trabalho
O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) é alimentado pelas informações prestadas nas notificações e investigações de doenças e agravos que fazem parte da lista nacional de doenças de notificação provenientes tanto no setor formal quanto informal da economia. Segundo dados do Sinan, o número de acidentes de trabalho graves no Brasil cresceu aproximadamente 40% no ano de 2020, saindo de 94.353 em 2019 para 132.623 (OIT, 2021).
Entre 2012 e 2020 registrou-se 5,6 milhões de doenças e acidentes do trabalho no Brasil, os quais ocasionaram um gasto previdenciário que ultrapassa 100 bilhões de reais com as despesas acidentárias resultantes, levando a uma perda de 430 milhões de dias de trabalho. Adicionalmente, o número de afastamentos e auxílios-doença relativos à transtornos mentais e comportamentais como depressão, ansiedade, estresse (acidentários e não-acidentários) foram de 224 mil, em 2019, para 289 mil em 2020, refletindo num aumento de 30% mesmo durante o primeiro ano da pandemia de COVID-19 (OIT, 2021).
Nos próximos itens serão apresentados os conceitos de acidente de trabalho do ponto de vista legal e Prevencionista, as causas prováveis, bem como os procedimentos obrigatórios de serem realizados mediante a concretização de um sinistro. Além disso, serão discutidos alguns exemplos de situações possíveis.
 
Conceito de Acidente de Trabalho
O acidente de trabalho impacta não somente a própria vítima, como também: os funcionários da organização, tanto de setores próximos quanto distantes; os familiares, dependentes e amigos da vítima; a comunidade presente nos arredores de onde se deu o sinistro; a comunidade em geral, que obtenha conhecimento do ocorrido de forma direta ou indireta do ocorrido, até mesmo por meio de noticiários de rádio e televisão; e, em última instância, toda a sociedade, visto que a previdência social representa uma despesa para todos os cidadãos.
 Nas palavras de Barsano e Barbosa (2014b, p. 96):
O acidente do trabalho é uma das formas mais cruéis de castigar a sociedade. Quando ele ocorre, todos perdem, pois o trabalhador fica lesionado ou até inválido, sua família terá gastos com medicamentos e hospitais, a empresa terá de arcar com os depósitos do FGTS e ficar com uma imagem negativa, e a previdência social (representando toda a sociedade) terá́ mais uma despesa com um trabalhador improdutivo, que poderia estar contribuindo com o INSS e que, agora, só trará gastos (BARSANO; BARBOSA, 2014b, p. 96).
A Lei 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, no seu artigo 19 define legalmente o acidente de trabalho como uma consequência do exercício do trabalho a serviço de uma organização, de um empregador ou pelos segurados descritos no inciso VII do art. 11 desta mesma Lei, que resulte em lesão corporal ou perturbação funcional e que provoque a morte ou a perda ou redução, de forma permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho (BRASIL, 1991).
O artigo 11 da Lei 8.213/91, referido acima, por sua vez, estabelece que o segurado especial da Previdência Social é a pessoa física residente na zona rural ou aglomerado urbano ou rural próximo a ela que, de forma individual ou em regime de economia familiar, mesmo com o auxílio eventual de terceiros, na condição de produtor, o qual realize atividade agropecuária em área de até 4 módulos fiscais. Também está incluso o seringueiro ou extrativista vegetal ou pessoa que conduza essas atividades como meio de vida. Adicionalmente, consistem em segurado especial o pescador artesanal ou que exerça função semelhante e que tenha a pesca como principal meio de vida. E, ainda, o cônjuge, companheiro ou filho maior de 16 anos de idade ou equiparado, do segurado os quais trabalhem com o grupo familiar (BRASIL, 1991).    
De acordo com a Lei 8.213/91, outras ocorrências e situações que são reconhecidas como acidente de trabalho, equiparando-se a este perante a lei. Assim, o artigo 20 estabelece que o acidente do trabalho contempla também a doença profissional, a qual é produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho em virtude da realização de uma atividade de forma constante, descrita pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Além disso, também é tido como acidente de trabalho a doença do trabalho que venha a ser adquirida ou desencadeada em função de condições especiais inerentes ao modo pelo qual o trabalho é realizado e que tenha conexão direta com ele (BRASIL, 1991).
No entanto, a Lei 8.213/91 distingue as enfermidades que não podem ser tidas como doença do trabalho, são elas: doenças degenerativas, doenças relativas ao grupo etário do qual o indivíduo faz parte, as moléstias que não ocasionem incapacidade laborativa, doenças endêmicas adquiridas por segurado habitante de região na qual ela seja frequente, salvo mediante comprovação de que foi adquirida por conta da exposição ou do contato direto devido à natureza do trabalho. Porém, a Lei 8.213/91 também descreve casos excepcionais, visto que, tendo-se constatado que a doença resultou das condições especiais inerentes ao trabalho ou tenha conexão direta com ele, a Previdência Social deve sim considerá-la acidente do trabalho (BRASIL, 1991).
No artigo 21 da Lei 8.213/91 são enumerados outros tipos de eventos que também se equiparam ao acidente do trabalho, tais como o acidente conectado ao trabalho que, mesmo que não tenha uma causa única, tenha corroborado diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou que tenha resultado em lesão que exija assistência médica para a sua recuperação. Adicionalmente, também são mencionados os acidentes sofridos pelos segurados no local e no horário do trabalho, como consequência de algum ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho. Outros eventos considerados acidentes de trabalho são as ofensas físicas intencionais, incluindo as provenientes de terceiros, por motivo de disputa relacionada ao trabalho. Adicionalmente, são englobados os atos de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho, os atos de pessoas privadas do uso da razão e atos fortuitos como desabamento, inundação, incêndio ou decorrentes de força maior (BRASIL, 1991).
No artigo 21 ainda são listadas como equiparadas ao acidente de trabalho as doenças ocasionadas por contaminação acidental do empregado durante a execução de atividade laboral, bem como o acidente sofrido pelo segurado fora do local e horário de trabalho, quando daexecução de ordem de serviço sob a autoridade da organização. Além disso, também se encaixam como acidente de trabalho a prestação espontânea de serviço à empresa com a finalidade de evitar prejuízo ou proporcionar algum resultado positivo; durante viagem a serviço do empregador, inclusive para capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção usado, ou mesmo veículo de propriedade do segurado. Também o acidente que tenha se dado no percurso da residência para o local de trabalho ou e vice-versa, utilizando qualquer meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado é uma modalidade de acidente de trabalho (BRASIL, 1991).
Um adendo é feito pelo artigo 21 no que diz respeito à delimitação do que faz parte do exercício do trabalho, definindo que o empregado é considerado no exercício do trabalho ao longo dos períodos reservados para a refeição ou descanso, satisfação das necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este (BRASIL, 1991).
De acordo com Mattos e Másculo (2019), críticas são feitas a essa definição legal devido ao fato dela não descrever o evento em si, se limitando a determinar o acidente de trabalho perante um antecedente (o exercício de trabalho e a existência de uma relação com uma empresa) e uma consequência (lesão ou perturbação funcional). Isso significa que a definição legal diz respeito a aspectos que têm relação com o trabalhador, de modo que acaba reportando mais do acidentado do que do acidente em si. Entretanto, os autores supracitados justificam essa espécie de “desvio” do foco da definição por se tratar de uma lei que serve de base para o sistema previdenciário, de modo que, com base nela, será definido quem faz jus a receber auxílios reparatórios de perdas provocadas por acidentes de trabalho.
O que se percebe perante a discussão em torno da definição legal é que ela deixa uma lacuna no tocante à prevenção da ocorrência dos sinistros. É justamente para preenchê-la que emergiu o conceito prevencionista do acidente de trabalho. Sob essa perspectiva, o acidente de trabalho é tido como “qualquer ocorrência fora da programação, que pode ou não ser inesperada, interrompendo o processo normal da atividade, tendo como consequência isolada ou concomitante o tempo perdido, dano material ou lesões humana” (STUMM, 2020, p.33).
 
Causas do acidente de trabalho
Mattos e Másculo (2019) destacam que os acidentes de trabalho costumam ser causados pela existência de disfunções, as quais provocam perturbações no funcionamento do sistema como um todo, aumentando a probabilidade de ocorrência de um evento disparador, o qual culmina no acidente. As disfunções consistem em possíveis falhas ou traço fora do comum, como, por exemplo, a lâmpada da lanterna traseira de um carro queimada.
Vejamos de que forma essa disfunção gera um evento disparador, o qual pode causar um acidente (MATTOS E MÁSCULO, 2019):
1. Quando o motorista do carro que está com a lâmpada queimada tentar sinalizar a troca de faixa, a seta não acenderá;
2. Portanto, os demais motoristas não serão capazes de perceber que o veículo com a lâmpada quebrada vai transitar entre as faixas;
3. Em virtude disso, provavelmente os demais motoristas ao redor não realizarão o movimento de desaceleração necessário para que haja espaço suficiente para que o carro da lâmpada queimada faça a troca de faixas.
4. Assim, elevam-se as chances dessa manobra acabar ocasionando uma colisão (acidente).
Ou seja, as disfunções consistem em anomalias de um ou mais componentes de um sistema que fazem com que ele não funcione conforme o planejado e o esperado (MATTOS E MÁSCULO, 2019).
 
Comunicação de acidente de trabalho (CAT)
A Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) é direcionada à Previdência Social e deve ser realizada pela empresa no primeiro dia útil seguinte ao da ocorrência e, em caso de morte, de imediato à autoridade competente. Além de mandatória, a CAT também serve para fins estatísticos (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 
Atividade Extra
Assista ao vídeo “A cada 48 segundos acontece um acidente de trabalho no Brasil”, disponibilizado pelo TRT da 5ª Região (Bahia), o qual discute sobre a incidência de acidentes de trabalho entre os anos de 2012 e 2018 no país e no estado da Bahia (Link de acesso: https://www.trt5.jus.br/noticias/cada-48-segundos-acontece-acidente-trabalho-brasil).
 
Referências Bibliográficas
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014a.
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Legislação aplicada à segurança do trabalho. 1 ed. São Paulo: Érica, 2014b.
BRASIL. Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Brasília, DF, 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm>.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Série SmartLab de Trabalho Decente: Gastos com doenças e acidentes do trabalho chegam a R$ 100 bi desde 2012. 2021. Disponível em: <https://www.ilo.org/brasilia/noticias/WCMS_783190/lang--pt/index.htm>.
MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.
Prevenção de acidentes
 
Após compreender o conceito, as causas e consequências dos acidentes e doenças do trabalho, é necessário voltar o olhar para a prevenção de sua ocorrência. Para que isso seja possível, é necessário identificar riscos e perigos inerentes ao ambiente e ao método de execução do trabalho, discutindo a importância da prevenção. Os próximos tópicos visam explicar essas temáticas.
 
Classificação de riscos
 
A princípio é preciso estabelecer uma distinção entre riscos e perigos, visto que, embora sejam costumeiramente tratados como sinônimos, na segurança do trabalho possuem definições diversas. O risco constitui a medida da perda ou dano, atrelados a uma consequência econômica, ambiental ou relativa à vida humana. Por definição, consiste no produto da probabilidade de ocorrência de um evento pelo seu efeito. Usualmente, o risco é definido como o produto da probabilidade de ocorrer um evento pela sua consequência (CASTRO, 2017).
Já o perigo diz respeito a uma condição que possibilita a ocorrência de danos e se relaciona com aspectos do ambiente e da natureza do trabalho, de tal modo que nem sempre pode ser alterado ou controlado de acordo com as circunstâncias. Apesar disso, a aplicação de medidas de segurança tende a reduzir as chances desse perigo produzir consequências negativas (CASTRO, 2017). 
Para esclarecer a diferença entre risco e perigo, utilizaremos uma situação hipotética. Imagine um colaborador de uma subestação de energia localizada numa área remota, rodeada por vegetação. A presença de animais peçonhentos nas vizinhanças, os quais podem vir a atacar o funcionário constitui um perigo. Esse evento é provável de acontecer se o funcionário exposto e, o somatório do ambiente (em local isolado e próximo a floresta) com o tempo de permanência do funcionário constituem o risco de ocorrência de acidentes envolvendo animais peçonhentos. Entretanto, vale lembrar que esse risco pode ser reduzido pela adoção das medidas de proteção cabíveis (CASTRO, 2017).
Os riscos e perigos estão em todos os lugares, desde o meio doméstico até os espaços onde são desempenhadas atividades laborais. Os riscos identificados no local de trabalho são denominados ocupacionais ou riscos ambientais e a sua existência justifica a atuação dos profissionais especialistas em saúde e segurança do trabalho, os quais são incumbidos de identificar, prevenir e controlá-los. De acordo com Chirmici e Oliveira (2016, p. 40), “o conhecimento aprofundado dos tipos de riscos ocupacionais se torna, portanto, de suma importância para o desempenho de tais profissionais.”
Dessa forma, didaticamente, os riscos ocupacionais são classificados pela legislação brasileira em cinco grupos: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e riscos de acidentes (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Conhecere diferenciar os riscos ambientais é fundamental, porque somente classificando os agentes presentes no ambiente laboral é que o empregador, junto à equipe de segurança do trabalho, poderá traçar medidas para sua eliminação ou neutralização. 
 
As cores na Segurança do Trabalho
 
Cada grupo de risco abarca uma série de agentes causadores ou fatores de risco, uma vez que podem desencadear prejuízos à saúde e integridade física do trabalhador. Na segurança e à saúde no trabalho, os riscos ocupacionais são representados por cores, as quais são utilizadas para representá-los e informar sua presença em cada setor da empresa, através de um instrumento importante denominado mapa de riscos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). 
No Quadro 1 vemos a lista de agentes de acordo com o risco provocado e as respectivas cores utilizadas para sinalizar a sua existência no ambiente de trabalho no mapa de riscos.
 
Quadro 1 – Agentes causadores de riscos ambientais.
O mapa de riscos é um esboço visual da distribuição dos riscos sobre a planta do setor ou departamento que foi submetido a um levantamento dos riscos ocupacionais (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Conforme parágrafo 5.16 da NR-5, é uma atribuição da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) tanto a identificação dos riscos do processo de trabalho, quanto a elaboração do mapa de riscos. Essa norma esclarece, ainda, que, durante o processo de elaboração do mapa de riscos, a CIPA deve envolver o máximo de trabalhadores do ambiente em questão para participar, contando também com assessoria do Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) (BRASIL, 2019).
Além das cores mostradas no Quadro 1, utilizam-se formas, usualmente círculos, com gradação pequena, média e grande para representar, no mapa, o risco alocado em cada setor da empresa, conforme exemplificado Figura 1. 
 
 
 
Figura 1 - Círculos utilizados sobre a planta ou croqui para a representação da intensidade do risco.
É comum encontrar o mapa de riscos fixados em quadros expostos na parede dos ambientes que compõem os setores e departamentos das empresas. Isso é feito com o intuito de partilhar com todos os indivíduos que possam acessá-los, por razões de trabalho ou não, acessar esses espaços. 
 
Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR
 
O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) está disciplinado nos textos mais atualizados das Normas Regulamentadoras nº1 e nº9.  A NR-1 atrela o PGR a uma das formas de comunicação sobre riscos detectados no ambiente de trabalho e as respectivas medidas de prevenção e ações voltadas para a sua eliminação ou neutralização. Isso acontece porque o PGR concretiza o Gerenciamento de riscos ocupacionais, objeto da NR-1, uma vez que fornece um inventário de riscos e um plano de ação, estando integrado com os planos, programas e outros documentos importantes em matéria de segurança e saúde do trabalho na organização (BRASIL, 2020a).
A NR-9 traça os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos descritos no PGR, definindo que a avaliação quantitativa das exposições aos agentes físicos, químicos e biológicos, deverá atestar o controle da exposição ocupacional aos agentes identificados; além de dimensionar a exposição ocupacional; e proporcionar o equacionamento das medidas de prevenção. Enquanto a avaliação quantitativa deverá ser conduzida comprovar que está sendo efetuado o controle da exposição aos agentes identificados; também para dimensionar a exposição ocupacional; e prover o equacionamento das medidas de prevenção. Os resultados das avaliações qualitativa e quantitativa aos agentes físicos, químicos e biológicos comporão o inventário de riscos do PGR (BRASIL, 2020b).
 
Importância da Prevenção
 
Em 1971 foi criada a Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho, que “se traduz em um conjunto de ações que visam à promoção de uma cultura de segurança e saúde no trabalho, de cunho essencialmente prevencionista” (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2021, p.1). Ela perdura até os dias de hoje, abordando, a cada ano, uma temática diferente, relativa a aspectos gerais de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, visando fomentar debates específicos. Em 2021, por exemplo, o tema foi “Segurança e Saúde no Trabalho: um Valor para o Brasil”, com foco nas vantagens da redução de acidentes para toda a sociedade, com vistas à geração de valor para o Brasil, o alcance da competitividade para as empresas e de qualidade de vida para os trabalhadores, através da segurança e a saúde no Trabalho geram valor para o Brasil (MINISTÉRIO DA ECONOMIA, 2021).
No ano de 2003, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) elegeu o dia 28 de abril como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho, em memória às vítimas de acidentes e doenças de trabalho. Essa data em particular foi escolhida devido à explosão da mina de carvão Farmington, localizada nos Estados Unidos, que culminou em 99 vítimas, das quais 78 vieram a óbito e apenas 19 sobreviveram. No Brasil a data foi formalizada legalmente em 2005, pela Lei Federal 11.121/2005, como Dia Nacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doença do Trabalho (STUMM, 2020).
Além disso, no Brasil conta com outra data comemorativa que visa alertar funcionários, trabalhadores, governos e sociedade sobre a importância das práticas de prevenção de acidentes e doenças do trabalho, no dia 27 de julho, sendo o Dia Nacional de Prevenção de Acidentes do Trabalho. Ela foi oficializada em 1972, quando foi regulamentada a formação técnica em Segurança e Medicina do Trabalho (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018; STUMM, 2020).
 
Aplicação dos conceitos prevencionistas
 
A análise de situações cotidianas também permite a identificação de riscos e perigos. Ao aguardar o metrô em uma plataforma, a proximidade do limite da plataforma, nas proximidades da sinalização do piso, em geral de cor amarela, expõe ao risco de queda. O declive acentuado existente entre a plataforma e os trilhos constitui um perigo. Outro exemplo é o manejo de objetivos perfurantes, como facas. Ao fazer o corte de alimentos existe o risco de se acidentar, provocando um ferimento na pele em contato com a lâmina do objeto. A faca, pela sua característica perfurocortante, é capaz de provocar lesões das mais simples às mais graves, o que constitui um perigo (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Algumas atitudes preventivas podem ser implementadas nas situações do dia a dia de trabalho com a finalidade de evitar acidentes e doenças do trabalho, dentre elas: assegurar a inutilização e a substituição de mobiliário defeituoso, quebrado ou que esteja sem as regulagens; a limpeza e manutenção dos sistemas de refrigeração; sinalização de pisos molhados ou escorregadios e com diferença de nível (como rampas e escadas) (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Porém, muitos acidentes se dão debaixo do teto das nossas próprias casas, devido à adoção de atitudes temerosas devido à aspectos como pressa, falta de atenção, ou até mesmo falta de consideração dos riscos associados a algumas ações, tais como: apoiar o peso do corpo sobre a pia ou vaso sanitário para higienizar as paredes dos banheiros, limpar janelas ou alcançar prateleiras e armários suspensos. Outra atitude comum é subir em cadeiras ou bancos para alcançar objetos que estejam a uma altura tal que não seja possível atingir o chão. Logo, uma atitude simples e de cunho prevencionista para todos esses casos é utilizar escadas que sejam de montagem apropriada para o interior de ambientes com espaço limitado (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
 
 
Atividade extra
Assista a webinar “28 de Abril: Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho”, disponibilizada pela FUNDACENTRO, na qual especialistas da área discutem o tema “Gerenciamento de Riscos Ocupacionais como Sistemas Resilientes de Segurança e Saúde do Trabalho” (Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=stb6B55m4Pw).
 
Referência Bibliográfica
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1): Disposições gerais e gerenciamento de riscos ocupacionais. Portarian.º 6730 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de março de 2020a. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/nr-1>.
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 5 (NR-5): Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA. Portaria n.º 915 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 30 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-5-nr-5>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 9 (NR-9): Avaliação e controle das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e biológicos. Portaria n.º 6735 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 10 de março de 2020b. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-9-nr-9>. 
CASTRO, Bruno Albuquerque de. Segurança do trabalho em eletricidade. São Paulo: Editora Érica, 2017.
CHIRMICI, A.; OLIVEIRA, E. A. R. Introdução à segurança e saúde no trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
 
GERÊNCIA DE SAÚDE E PREVENÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA DE GOIÁS (SGC). Manual de elaboração mapa de riscos. 2012. Disponível em: <http://www.sgc.goias.gov.br/upload/arquivos/2012-11/manual-de-elaboracao-de-mapa-risco.pdf>.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Campanha Nacional de Prevenção será lançada nesta quarta-feira. 2021. Disponível em: <https://www.gov.br/economia/pt-br/assuntos/noticias/2021/trabalho/marco/campanha-nacional-de-prevencao-sera-lancada-nesta-quarta-feira>. 
MINISTÉRIO DA SAÚDE. 27/7 – Dia Nacional da Prevenção de Acidentes do Trabalho. 2018. Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/27-7-dia-nacional-da-prevencao-de-acidentes-do-trabalho-4/>. 
STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.
Impacto socioeconômico do acidente de trabalho
Impacto socioeconômico do acidente de trabalho
 
O desenvolvimento da saúde do trabalhador no Brasil se intensificou com a 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, que ocorreu em Brasília em 1986. O conceito em si já vinha sendo amadurecido nos anos anteriores e no meio acadêmico e sindical. Mesmo num contexto histórico de transição de um regime político de ditadura militar para a construção da sociedade civil, ganhou força a reivindicação social por meio das novas leis trabalhistas e mudanças nos sistemas institucionais, que contribuiu uma nova visão da relação saúde-mundo do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
A compreensão dessa interface entre saúde e trabalho é a base da Higiene do Trabalho e está envolvida por um conflito de interesse entre a empresa (empregador), o trabalhador (empregado) e a sociedade. O acidente de trabalho corresponde à materialização desse conflito. É por esse motivo que nos próximos tópicos serão explanadas as teorias jurídicas, as responsabilidades civil e social, bem como aspectos relevantes acerca da previdência social, habilitação e reabilitação do trabalhador acidentado (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Teorias jurídicas
 
As teorias jurídicas foram determinantes para explicar as causas dos acidentes, bem como para atribuir as parcelas de responsabilidade a cada um dos envolvidos nos mesmos. Conforme comentado anteriormente, a relação saúde-trabalho é pautada por diferentes conceitos e correntes de cunho ideológicos. Com base nestas emergiram três formas de ação e interpretação regidas por uma combinação de conhecimentos advindos dos seguintes campos de estudo: medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador, Ciências Jurídicas e Sociais. As três referidas correntes resultantes são denominadas teoria da culpa, teoria do risco profissional e teoria do risco social (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
O Quadro 1 descreve aspectos conceituais relativos à cada uma das correntes supracitadas.
Quadro 1 - Entendimento dos riscos associados a acidentes de trabalho à luz das teorias jurídicas.
Observa-se que, ao conhecer a linha do tempo do desenvolvimento de cada uma das teorias, evidencia-se a relação entre a evolução da ordenação social, política e econômica da sociedade e a elevação da necessidade de proteção e preservação da segurança e saúde dos trabalhadores durante a execução dos afazeres laborais, que provêm a produção de bens e serviços de consumo.
 
Responsabilidades civil e social
 
De acordo com o art. 7º da Constituição Federal (CF) de 1988, o pagamento do seguro contra acidentes de trabalho é uma responsabilidade do empregador e também um direito dos trabalhadores urbanos e rurais. O prêmio é recolhido pelo INSS e corresponde entre 1 a 3% da folha de pagamento das empresas. A definição do percentual de recolhimento é feita em conformidade com o grau de risco da atividade preponderante da empresa, pregada pela Lei 8.212/91, que determinou o seguinte: 1%, quando o risco é leve; de 2%, quando o risco é médio; e 3% para risco grave (POLONI, 1998).
 Apesar disso, a Lei 8.212/91 não definiu o que seria risco leve, médio ou grave, tampouco atividade preponderante, lacunas estas que foram preenchidas pelo Decreto 612/92. Este delimitou o grau de periculosidade de cada atividade e esclareceu que a atividade principal constitui aquela que ocupa o maior número de funcionários da empresa. Entretanto, ainda assim ocorrem o que podemos chamar de “inadequação” práticas em virtude da interpretação desse decreto, visto que, por exemplo: uma empresa cuja atividade econômica principal se apesar de sua atividade enquadre no grau de risco mais grave (3%), contribuirá ao SAT pela taxa de risco leve (1%), única e exclusivamente devido ao fato de possuir um maior número de empregados alocados nos setores administrativos, de vendas e finanças (POLONI, 1998).
Conforme discutido anteriormente, o SAT segue a teoria do risco social, e caracteriza-se como uma responsabilidade objetiva ou sem culpa. A responsabilidade objetiva se dá quando não é necessário comprovar a culpa do empregador, nem do trabalhador, de forma que não se questiona se há ou não culpa, mas sim nexo de causalidade. Existindo nexo de causalidade, é obrigatório indenizar (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
De acordo com Sérgio Pontes (2018, p.1):
Na seara da Responsabilidade Civil, o nexo causal é a ligação entre a conduta do agente e o resultado danoso. Ou seja, é preciso que o ato ensejador da responsabilidade seja a causa do dano e que o prejuízo sofrido pela vítima seja decorrência desse ato. Impõe-se que se prove a ligação causal entre a conduta do agente e o resultado danoso. O nexo causal cumpre uma dupla função: determinar o autor do dano, e verificar a sua extensão, pois serve como medida de indenização (PONTES, 2018, p.1).
 
A CF também considera outras três hipóteses: culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior. A culpa pode constituir uma conduta positiva ou negativa, que conduz a falta de previsão do que é previsível, mesmo que a pessoa não tenha a intenção de desencadear o evento indesejado (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 Tem-se ainda a responsabilidade civil subjetiva, na qual é dever do empregador indenizar a vítima do acidente quando incorrer em dolo ou culpa. No que tange aos casos de responsabilidade objetiva e subjetiva, em ambos é imprescindível comprovar o nexo de causalidade. A diferença primordial é que na responsabilidade subjetiva é exigida a demonstração do elemento subjetivo – a culpa. Já na responsabilidade objetiva é necessária apenas a presença da conduta, do dano e a comprovação do nexo causal entre o dano e a conduta (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
Desenvolver uma cultura de responsabilidade social se tornou essencial para a gestão das organizações que desejam se manter competitivas no mercado. A responsabilidade social visa a obtenção de ganhos de cadeia de produção e também para a comunidade, o ambiente, o governoe os consumidores. Sob essa ótica, o objetivo é ser plural, distributiva, sustentável e transparente. Também envolve uma melhor performance nos negócios e, consequentemente, maior lucratividade (MATTOS; MÁSCULO, 2019).
 
Planos de benefícios da previdência social
 
De acordo com a Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991:
Art. 18.  O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços:
I - quanto ao segurado:
a) aposentadoria por invalidez;
b) aposentadoria por idade;
c) aposentadoria por tempo de contribuição;
d) aposentadoria especial;
e) auxílio-doença;
f) salário-família;
g) salário-maternidade;
h) auxílio-acidente;
I - quanto ao dependente:
a) pensão por morte;
b) auxílio-reclusão;
III - quanto ao segurado e dependente:
b) serviço social;
c) reabilitação profissional.
§ 1o Somente poderão beneficiar-se do auxílio-acidente os segurados incluídos nos incisos I, II, VI e VII do art. 11 desta Lei (BRASIL, 1991, art. 18).
 
Nos artigos 24 e 26, a Lei no 8.213 define os prazos de carência, ou seja, o número mínimo de contribuições mensais consideradas para que o beneficiário faça jus à percepção do benefício (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 
Habilitação e reabilitação do trabalhador acidentado
 
A Lei no 8.213/1991, nos seus artigos 89 a 93 estabelece os principais direitos dos trabalhadores, as obrigações dos empregadores e do Poder Público em garantir condições de trabalho seguras, formas de locomoção adequadas e qualidade de vida, conforme Planos de Benefícios da Previdência Social disposto nesse instrumento normativo. Abaixo seguem alguns trechos relevantes:
 
Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação profissional e social indicados para participar do mercado de trabalho e do contexto em que vive.
[...] Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação profissional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento.
 
Assim, o intuito da habilitação e a reabilitação profissional e social é proporcionar condições de recuperação da integridade orgânica dos profissionais beneficiários que estejam incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 
Atividade Extra
 
Assista ao vídeo “Vitalidade Abril Verde – cuidados com a saúde e segurança do trabalhador”, disponibilizado pela TV Câmara Novo Hamburgo, o qual traz a entrevista com o médico traumatologista Dr. Erik Carvalho, o qual discute as principais consequências dos acidentes de trabalho, a importância da prevenção e aspectos socioeconômicos dos acidentes de trabalho (Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=uPpdreUaSw4).
 
Referências Bibliográficas
 
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Legislação aplicada à segurança do trabalho. 1 ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991: Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm >.
POLONI, Antonio S. Seguro Acidente de Trabalho - SAT. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 3, n. 27, 23 dez. 1998. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/1439>.
PONTES, S. O Nexo de Causalidade. Jusbrasil. Disponível em: < https://sergiopontes.jusbrasil.com.br/artigos/608749366/o-nexo-de-causalidade>.
MATTOS, U. A.; MÁSCULO, F. S. Higiene e segurança do trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
STUMM, S. B. Segurança do trabalho e ergonomia [recurso eletrônico]. Curitiba: Contentus, 2020.
Segurança do trabalho e qualidade de vida
 
Conforme discutido, aperfeiçoar o ambiente laboral normalmente implica na diminuição do índice de acidentes e das doenças causadas pelo trabalho. Por esse motivo é tão importante proporcionar aos indivíduos condições adequadas e que não lhe causem prejuízos físicos, mentais e sociais, proporcionando um desenvolvimento integral através do seu trabalho (BRISTOT, 2019). 
Podemos afirmar que, mesmo mediante esforços constantes para oferecer um ambiente seguro, ainda assim os acidentes podem e provavelmente vão acontecer, visto que os sistemas de trabalho tendem a experimentar falhas ao longo do tempo. Daí a relevância do desenvolvimento de uma cultura de segurança que impulsione a absorção dos princípios da higiene e medicina do trabalho (BRISTOT, 2019).
Os próximos tópicos estão voltados para a discussão acerca de conceitos e diretrizes da Higiene Laboral, para garantir um local de trabalho seguro e salubre. E, além disso, nos casos em que isso não for plenamente possível, serão apresentados os meios de proteção para assegurar a preservação da saúde e integridade física do trabalhador, mesmo diante da sua exposição e vulnerabilidade a situações envolvendo riscos e perigos.
 
Higiene do Trabalho
 
O profissional da área da segurança do trabalho deve estar apto para reconhecer os riscos ambientais, os quais podem comprometer tanto a saúde dos indivíduos quanto o seu conforto e eficiência para o trabalho. Também devem avaliar a magnitude desses riscos, com o auxílio de técnicas de avaliação quantitativa. E, reunindo esses dados e informações, prescrever medidas visando prioritariamente eliminar, porém, quando isso não for viável, reduzi-los a níveis aceitáveis perante a legislação (BRISTOT, 2019).
Para que seja possível atingir esses e outros objetivos pregados pela Higiene do Trabalho, é necessário unir dois critérios de avaliações dos riscos ambientais: qualitativos e quantitativos. Os riscos físicos tais como, vibrações, pressões anormais, radiações ionizantes e não ionizantes, temperaturas extremas (calor ou frio) e umidade podem ser analisados por ambas as óticas, tendo em vista a intensidade, a duração da exposição e a constatação dos níveis permitidos por lei. Dentre eles, os ruídos, que consistem em incômodos sonoros, podem ser classificados em contínuos, intermitentes e de impacto e tendem a produzir alterações danosas que se manifestam imediata ou gradualmente, a depender do grau de exposição e das individualidades dos trabalhadores expostos. Um equipamento chamado decibelímetro permite medir, em decibéis, a “intensidade do som em qualquer ambiente acústico (ruidoso ou silencioso), agudo, grave ou de faixa ampla, intermitente ou contínuo” (BARSANO; BARBOSA, 2014).
As vibrações provenientes de máquinas e equipamentos consiste noutros agentes físicos muito presentes nos ambientes laborais. Elas podem ser classificadas como localizadas, ou seja, direcionadas para determinadas partes do corpo; e generalizadas, voltadas para o corpo todo do trabalhador. As vibrações localizadas são geradas por ferramentas pneumáticas e elétricas, e produzem efeitos no organismo tais como alterações nos nervos e vasos das extremidades, sobretudo nas mãos, braços, pés e pernas. Já as vibrações generalizadas tendem a ser produzidas por máquinas maiores, veículos grandes, tais como ônibus, caminhões e tratores, tendendo a ocasionar consequências como dores e lesões de coluna (BARSANO; BARBOSA, 2014). 
Os dois tipos de vibração podem ser quantificados por meio do vibrômetro, que mede as frequências mais baixas, e acelerômetro, que é aplicado para mensuração das frequências mais altas (BARSANO; BARBOSA, 2014).
Os riscos de acidentes constituem fatores que podem degradar a integridade física e/ou moral do trabalhador, capazes de ocasionar cortes, escoriações, queimaduras, choques elétricos em alguma parte do seu corpo e até mesmo a perda de membros do corpo. Um dos agentes de risco de acidentes é a iluminação para o tipo de atividade profissional ou inadequada para o espaço de trabalho (salas, escritórios, laboratórios, depósitos, etc.), tanto a baixa iluminação, que provoca incômodos, quanto a luminosidade excessiva, que causa ofuscamento nos olhos.O equipamento utilizado para medir o nível de iluminação ambiente é o luxímetro. 
Sobre iluminação, a NR-17 determina que os seguintes critérios devem ser atendidos: presença de iluminação natural e artificial suplementar, na intensidade apropriada à natureza da atividade; a iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa, sendo projetada, posicionada e fixada de forma a “evitar ofuscamento, reflexos incômodos, sombras e contrastes excessivos” (BRASIL, 2018, item 17.5.3.2). A NBR 5413/1992, que dispõe sobre a Iluminância de interiores, estabelece as iluminâncias de acordo com algumas classes de tarefas visuais, são elas: áreas utilizadas de forma ininterrupta para tarefas visuais simples; iluminação geral para a área de trabalho em tarefas com requisitos médios visuais; iluminação adicional para tarefas visuais que exigem maior acurácia visual, exatidão e tarefas mais difíceis (ABNT, 1992).
Os riscos químicos, caracterizados como substâncias, compostos ou produtos que, perante o contato crônico ou acidental, possam penetrar no organismo de tal como que, provoquem efeitos biológicos negativos, tais como queimaduras ou mesmo cânceres, mutações, doenças somáticas, dentre outros. Para avaliá-los é necessário determinar as concentrações dos agentes químicos no ar em ambientes de trabalho. Isso pode ser feito através da coleta de amostras por medidores ou sensores de qualidade do ar, por exemplo (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 
Segurança no ambiente laboral
 
A norma regulamentadora nº 10 (NR-10), que trata da Segurança em Instalações e Serviços em Eletricidade, vem estabelecer um padrão de segurança nos procedimentos de serviços e proteção do trabalhador. A eletricidade está presente em diversos ambientes de trabalho, mesmo os que não são voltados para a produção e disseminação de energia elétrica. Assim, ainda que a NR-10 seja específica para área elétrica, ela tem uma relação com as demais NR de maneira direta (sendo mencionadas pela NR-10, tais como a NR-6, NR-23, NR-26 E NR-35)  indireta (que não são mencionadas pela NR-10, mas são afetadas por ela, é o caso da NR-12, NR-13, NR-30, NR-31), seja pelas duas determinações mais específicas ou pela ênfase nas penalidades (normas que pregam programas no contexto da saúde e segurança do trabalho, a implantação da NR-10 e as penalidades em caso de descumprimento, como a NR-1, NR-5, NR-7, NR-15, NR-16) (SANTOS JUNIOR, 2016).
A prevenção de choques elétricos nos ambientes de trabalho é essencial e envolve a adoção de dispositivos de proteção, a garantia de um estado de conservação apropriada das instalações elétricas em geral, utilização do aterramento elétrico; fornecimento de capacitação técnica aos profissionais que interagem com eletricidade durante o exercício de suas atividades laborais. Vale ressaltar que a características individuais das instalações e dispositivos, pode fazer com que alguns aspectos aumentem a probabilidade de um acidente, daí a importância de observar o cumprimento das medidas de segurança (SANTOS JUNIOR, 2016).
Outra norma que estabelece diretrizes importantes para a prevenção de acidentes desde as fases de projeto do local e das funções de trabalho, até o uso propriamente dito de máquinas e equipamentos novos e usados é a Norma Regulamentadora nº12 (NR-12). Embora cada máquina tenha características de aplicabilidade bem específicas, cada situação exigirá a adoção de ações e medidas de proteção específicas, sob a responsabilidade do empregador, o qual também deve capacitar o empregado. São exemplos de proteções coletivas utilizadas nos ambientes de trabalho com a finalidade de prevenção de acidentes e doenças do trabalho: proteções fixas e móveis, dispositivos e sensores de parada e de emergência. As proteções individuais variam, mas contemplam: capacete, luvas, óculos de proteção, vestimenta de proteção, calçado de proteção, dentre outras (BRISTOT, 2019).
 
Atividades insalubres
 
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 189, define a insalubridade, como (BRASIL, 1943, art. 189):
 
Art. 189 - Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos (BRASIL, 1943, art. 189).
 
De acordo com a NR-15, o exercício de trabalho em condições de insalubridade, comprovado mediante laudo de inspeção do local de trabalho que comprove que os limite de tolerância, concentração ou intensidade máxima ou mínima não estão conformes, seja em virtude da natureza, seja graças ao tempo de exposição ao agente; assegura ao trabalhador a percepção de adicional, que incide sobre o salário-mínimo, sendo equivalente a (BRASIL, 2019a):
· 40%, para grau máximo de insalubridade;
· 20%, para grau médio de insalubridade;
· 10%, para grau mínimo de insalubridade.
 
Ainda de acordo com a NR-15, são consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem acima dos limites de tolerância descritos nos anexos dessa norma acerca dos limites de exposição a ruídos, calor, radiações ionizantes, radiações não ionizantes, agentes químicos, condições hiperbáricas, agentes biológicos, vibrações, umidade. É importante destacar que perante a incidência de mais de um fator de insalubridade, prevalecerá o que tiver o grau mais elevado para efeito de acréscimo salarial, não sendo permitida a acumulação (BARSANO; BARBOSA, 2014; BRASIL, 2019a).
 
Atividades periculosas
 
De forma semelhante às atividades insalubres, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu art. 193, define a periculosidade, como (BRASIL, 1943, art. 193):
Art.193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a:    
I - inflamáveis, explosivos ou energia elétrica;
II - roubos ou outras espécies de violência física nas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial.
[...] § 4º São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta (BRASIL, 1943, art. 193).
 
Foram acrescidas às exposições supracitadas, pela Portaria nº 518, de 2003, as atividades e operações com radiações ionizantes ou substâncias radioativas. Todas elas, por colocarem em risco a integridade dos indivíduos envolvidos em atividades laborais envolvendo os agentes que provoca a periculosidade, fazem com que o trabalhador faça jus à percepção de um adicional de 30% sobre o salário-base, fora os acréscimos referentes a gratificações, prêmios ou participações nos lucros da empresa. Caso o trabalhador tenha direito tanto ao adicional de insalubridade quanto ao de periculosidade, ele deverá optar por um deles (BARSANO; BARBOSA, 2014; BRASIL, 2003).
De acordo com o artigo 194 da CLT, eliminando-se o risco que gera o direito à percepção do adicional de insalubridade ou periculosidade, estes serão igualmente suspensos (BRASIL, 1943).
 
Atividades penosas
 
De acordo com Barsano e Barbosa (2014), podem ser classificadas como atividades penosas aquelas que, possam ser inicialmente presumidas como insalubres ou periculosas, mas que se distinguem destas pelo fato de ocasionar desconfortos e incômodos pelo fato de exporem o indivíduo a condições degradantes, cruéis, árduas, excessivamente difíceis e que lhe impunham dor e sofrimento. Alguns exemplos de atividades penosas são: trabalho de corte pelos bóias-frias nos canaviais de cana-de-açúcar; extração do minério de carvão ou nas carvoarias; trabalhos a céu aberto, sob sol escaldante e intempéries naturais; trabalho de limpeza subterrânea das tubulações de esgoto público (BARSANO; BARBOSA, 2014).
 
Atividade extra
Assista ao vídeo intitulado “O trabalho no feminino”, disponibilizado pela FUNDACENTRO, o qual discute sobre o espaço ocupado pela mulher no mercado de trabalho, bem como sua relaçãocom aspectos relativos à segurança e saúde do trabalho, assunto bem importante e pouco discutido (Link de acesso: https://www.youtube.com/watch?v=2vTpgvb_RK0).
 
Referência Bibliográfica
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5413: Iluminância de interiores. Abril de 1992. Disponível em: <http://engplanilhas.com.br/wp-content/uploads/2018/10/NBR-5413-Ilumin%C3%A2ncia-de-Interiores.pdf>. 
BARSANO, P. R.; BARBOSA, R. P. Higiene e segurança do trabalho.  1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
BRASIL. Decreto-lei nº 5.452: Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. 1º de maio de 1943. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm>. 
BRASIL. Portaria nº 518 do Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, de 04 de abril de 2003. Disponível em: <http://www.normaslegais.com.br/legislacao/trabalhista/portariamte518.htm>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 15 (NR-15): Atividades e operações insalubres. Portaria n.º 1359 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de dezembro de 2019a. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-15-nr-15>. 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 16 (NR-16): Atividades e operações perigosas. Portaria n.º 1357 da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT), de 09 de dezembro de 2019b. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-16-nr-16>.
 
BRASIL. Norma Regulamentadora nº 17 (NR-17): Ergonomia. Portaria n.º 876 do Ministério do Trabalho (MTb), de 24 de outubro de 2018. Disponível em: <https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-trabalho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-17-nr-17>. 
BRISTOT, V. M. Introdução à engenharia de segurança do trabalho [Recurso
eletrônico]. Criciúma, SC: UNESC, 2019.
SANTOS JUNIOR, J. R. dos. NR-10: segurança em eletricidade: uma visão prática. 2. ed. São Paulo: Érica, 2016.
Prevenção de acidentes
 
Após compreender o conceito, as causas e consequências dos acidentes e doenças do trabalho, é necessário voltar o olhar para a prevenção de sua ocorrência. Para que isso seja possível, é necessário identificar riscos e perigos inerentes ao ambiente e ao método de execução do trabalho, discutindo a importância da prevenção. Os próximos tópicos visam explicar essas temáticas.
 
Classificação de riscos
 
A princípio é preciso estabelecer uma distinção entre riscos e perigos, visto que, embora sejam costumeiramente tratados como sinônimos, na segurança do trabalho possuem definições diversas. O risco constitui a medida da perda ou dano, atrelados a uma consequência econômica, ambiental ou relativa à vida humana. Por definição, consiste no produto da probabilidade de ocorrência de um evento pelo seu efeito. Usualmente, o risco é definido como o produto da probabilidade de ocorrer um evento pela sua consequência (CASTRO, 2017).
Já o perigo diz respeito a uma condição que possibilita a ocorrência de danos e se relaciona com aspectos do ambiente e da natureza do trabalho, de tal modo que nem sempre pode ser alterado ou controlado de acordo com as circunstâncias. Apesar disso, a aplicação de medidas de segurança tende a reduzir as chances desse perigo produzir consequências negativas (CASTRO, 2017). 
Para esclarecer a diferença entre risco e perigo, utilizaremos uma situação hipotética. Imagine um colaborador de uma subestação de energia localizada numa área remota, rodeada por vegetação. A presença de animais peçonhentos nas vizinhanças, os quais podem vir a atacar o funcionário constitui um perigo. Esse evento é provável de acontecer se o funcionário exposto e, o somatório do ambiente (em local isolado e próximo a floresta) com o tempo de permanência do funcionário constituem o risco de ocorrência de acidentes envolvendo animais peçonhentos. Entretanto, vale lembrar que esse risco pode ser reduzido pela adoção das medidas de proteção cabíveis (CASTRO, 2017).
Os riscos e perigos estão em todos os lugares, desde o meio doméstico até os espaços onde são desempenhadas atividades laborais. Os riscos identificados no local de trabalho são denominados ocupacionais ou riscos ambientais e a sua existência justifica a atuação dos profissionais especialistas em saúde e segurança do trabalho, os quais são incumbidos de identificar, prevenir e controlá-los. De acordo com Chirmici e Oliveira (2016, p. 40), “o conhecimento aprofundado dos tipos de riscos ocupacionais se torna, portanto, de suma importância para o desempenho de tais profissionais.”
Dessa forma, didaticamente, os riscos ocupacionais são classificados pela legislação brasileira em cinco grupos: físicos, químicos, biológicos, ergonômicos e riscos de acidentes (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016).
Conhecer e diferenciar os riscos ambientais é fundamental, porque somente classificando os agentes presentes no ambiente laboral é que o empregador, junto à equipe de segurança do trabalho, poderá traçar medidas para sua eliminação ou neutralização. 
 
As cores na Segurança do Trabalho
 
Cada grupo de risco abarca uma série de agentes causadores ou fatores de risco, uma vez que podem desencadear prejuízos à saúde e integridade física do trabalhador. Na segurança e à saúde no trabalho, os riscos ocupacionais são representados por cores, as quais são utilizadas para representá-los e informar sua presença em cada setor da empresa, através de um instrumento importante denominado mapa de riscos (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). 
No Quadro 1 vemos a lista de agentes de acordo com o risco provocado e as respectivas cores utilizadas para sinalizar a sua existência no ambiente de trabalho no mapa de riscos.
 
Quadro 1 – Agentes causadores de riscos ambientais.
O mapa de riscos é um esboço visual da distribuição dos riscos sobre a planta do setor ou departamento que foi submetido a um levantamento dos riscos ocupacionais (CHIRMICI; OLIVEIRA, 2016). Conforme parágrafo 5.16 da NR-5, é uma atribuição da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) tanto a identificação dos riscos do processo de trabalho, quanto a elaboração do mapa de riscos. Essa norma esclarece, ainda, que, durante o processo de elaboração do mapa de riscos, a CIPA deve envolver o máximo de trabalhadores do ambiente em questão para participar, contando também com assessoria do Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMT) (BRASIL, 2019).
Além das cores mostradas no Quadro 1, utilizam-se formas, usualmente círculos, com gradação pequena, média e grande para representar, no mapa, o risco alocado em cada setor da empresa, conforme exemplificado Figura 1. 
 
 
 
Figura 1 - Círculos utilizados sobre a planta ou croqui para a representação da intensidade do risco.
É comum encontrar o mapa de riscos fixados em quadros expostos na parede dos ambientes que compõem os setores e departamentos das empresas. Isso é feito com o intuito de partilhar com todos os indivíduos que possam acessá-los, por razões de trabalho ou não, acessar esses espaços. 
 
Programa de Gerenciamento de Riscos – PGR
 
O Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) está disciplinado nos textos mais atualizados das Normas Regulamentadoras nº1 e nº9.  A NR-1 atrela o PGR a uma das formas de comunicação sobre riscos detectados no ambiente de trabalho e as respectivas medidas de prevenção e ações voltadas para a sua eliminação ou neutralização. Isso acontece porque o PGR concretiza o Gerenciamento de riscos ocupacionais, objeto da NR-1, uma vez que fornece um inventário de riscos e um plano de ação, estando integrado com os planos, programas e outros documentos importantes em matéria de segurança e saúde do trabalho na organização (BRASIL, 2020a).
A NR-9 traça os requisitos para a avaliação das exposições ocupacionais a agentes físicos, químicos e

Continue navegando