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Outorga De Direito De Uso De Recursos Hídricos

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OUTORGA DE DIREITO DE USO DE 
RECURSOS HÍDRICOS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO 
EM RECURSOS HÍDRICOS
VOLUME 6
República Federativa do Brasil
Dilma Vana Rousseff
Presidenta
Ministério do Meio Ambiente
Izabella Mônica Vieira Teixeira
Ministra
Agência Nacional de Águas
Diretoria Colegiada
Vicente Andreu Guillo (Diretor-Presidente)
Dalvino Troccoli Franca
Paulo Lopes Varella Neto
João Gilberto Lotufo Conejo
Paulo Rodrigues Vieira
Secretaria-Geral (SGE)
Mayui Vieira Guimarães Scafuto
Procuradoria-Geral (PGE)
Emiliano Ribeiro de Souza
Corregedoria (COR)
Elmar Luis Kichel
Auditoria Interna (AUD)
Edmar da Costa Barros
Chefi a de Gabinete (GAB)
Horácio da Silva Figueiredo Júnior
Coordenação de Articulação e Comunicação (CAC)
Antônio Félix Domingues
Coordenação de Gestão Estratégica (CGE)
Bruno Pagnoccheschi
Superintendência de Apoio à Gestão de Recursos Hídricos (SAG)
Rodrigo Flecha Ferreira Alves
Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos (SPR)
Ney Maranhão
Superintendência de Gestão da Rede Hidrometeorológica (SGH)
Valdemar Santos Guimarães
Superintendência de Gestão da Informação (SGI)
Sérgio Augusto Barbosa
Superintendência de Implementação de Programas e Projetos (SIP)
Ricardo Medeiros de Andrade
Superintendência de Regulação (SRE)
Francisco Lopes Viana
Superintendência de Usos Múltiplos (SUM)
Joaquim Guedes Corrêa Gondim Filho
Superintendência de Fiscalização (SFI)
Flávia Gomes de Barros
Superintendência de Administração, Finanças e Gestão de Pessoas (SAF)
Luís André Muniz
3
Agência Nacional de Águas
Ministério do Meio Ambiente
Brasília – DF 
2011
 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE 
RECURSOS HÍDRICOS
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO 
EM RECURSOS HÍDRICOS
VOLUME 6
Agência Nacional de Águas (ANA)
Equipe técnica
Coordenação, acompanhamento 
e elaboração
Superintendência de Apoio à Gestão de 
Recursos Hídricos
Rodrigo Flecha Ferreira Alves
Superintendente de Apoio à Gestão de 
Recursos Hídricos
Coordenação-Geral
Wilde Cardoso Gontijo Júnior
Gerente de Gestão de Recursos Hídricos (até 
março de 2010)
Coordenação-Geral
Flávia Simões Ferreira Rodrigues
Coordenação-Executiva 
Taciana Neto Leme
Coordenação-Executiva-Adjunta 
Cadernos de Capacitação 
em Recursos Hídricos – volume 6
Fotos: 
Banco de Imagens da ANA
Maria de Fátima Chagas Dias Coelho
© Agência Nacional de Águas (ANA), 2011.
Setor Policial Sul, Área 5, Quadra 3, Blocos B, L, M e T.
CEP 70.610-200, Brasília, DF PABX: 61 2109 5400
www.ana.gov.br
Colaboradores
Superintendência de Apoio à Gestão de 
Recursos Hídricos
Cláudio Pereira; José Carlos de Queiroz; 
Osman Fernandes da Silva; Taciana Neto 
Leme; Tânia Regina Dias da Silva; Viviani 
Pineli Alves
Superintendência de Outorga e Fiscalização
Anna Paola Michelano Bubel; Flávia Gomes 
de Barros; Leonardo Mitre Alvim de Castro; 
Luciano Meneses Cardoso da Silva; Maurício 
Pontes Monteiro
Consultora
Maria de Fátima Chagas Dias Coelho
Parceiros institucionais
Organização das Nações Unidas para a 
Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco
Todos os direitos reservados. É permitida a 
reprodução de dados e de informações contidos 
nesta publicação, desde que citada a fonte.
Catalogação na fonte: CEDOC/Biblioteca
A265o Agência Nacional de Águas (Brasil).
 Outorga de direito de uso de recursos hídricos / Agência Nacional de 
Águas. -- Brasília: SAG, 2011. 
 50 p. : il. -- (Cadernos de capacitação em recursos hídricos ; v.1 vol. 6)
 ISBN 978-85-89629-78-2
 1. recursos hídricos, outorga 2. recursos hídricos, direito de uso 3. comitê de bacia
 I. Agência Nacional de Águas (Brasil) II. Superintendência de Apoio à 
Gestão de Recursos Hídricos III. Título 
CDU 347.247(81)(075.2) 
5
A Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) 
foi instituída pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 
1997. O conhecimento e a divulgação de seus 
conceitos, muitos deles inovadores, são formas 
de fortalecê-la e consolidá-la.
A Agência Nacional de Águas (ANA), criada pela 
Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, e instalada 
a partir da edição do Decreto nº 3.692, de 19 
de dezembro do mesmo ano, completa em 2010 
uma década de existência e funcionamento. 
Dando prosseguimento à sua desafi adora mis-
são de implementar a Política Nacional de Re-
cursos Hídricos, a ANA apresenta, em comemo-
ração aos seus dez anos, essa série de cadernos 
com o objetivo de discorrer, de forma sucinta, so-
bre os instrumentos previstos na Lei das Águas, 
bem como sobre o Sistema Nacional de Geren-
ciamento de Recursos Hídricos (Singreh).
O primeiro volume discorre sobre um dos en-
tes do Singreh: o Comitê de Bacia Hidrográfi -
ca. São apresentados o contexto histórico da 
criação dos comitês, as atribuições, como e por 
que os criar e as diferenças quando compara-
dos a outros colegiados. 
O segundo volume tem objetivo mais prático: 
orientar o funcionamento dos comitês de bacia. 
São apresentados a estrutura organizacional, o 
papel de cada um dos elementos constituintes 
(Plenário, Diretoria, Secretario, Câmaras Téc-
nicas, Grupos de Trabalho etc.), exemplos de 
documentos e informações úteis para o funcio-
namento do comitê.
O terceiro volume aborda alternativas organiza-
cionais para a gestão de recursos hídricos. São 
apresentados exemplos exitosos de gestão de 
águas em escalas locais, passando por instâncias 
de gestão de águas subterrâneas e de águas em 
unidades de conservação ambiental, chegando 
até os complexos arranjos institucionais de geren-
ciamento de águas de bacias transfronteiriças.
APRESENTAÇÃO
O quarto volume concentra-se em outro ente 
do Singreh: a Agência de Água ou Agência de 
Bacia. São apresentadas as competências, os 
pré-requisitos para a criação, os possíveis ar-
ranjos institucionais para a constituição, o con-
trato de gestão na Política de Recursos Hídri-
cos e os demais temas afi ns. 
O quinto volume concentra-se nos instrumen-
tos de planejamento da política: os planos de 
recursos hídricos e o enquadramento dos cor-
pos d’água em classes segundo os usos pre-
ponderantes. Tópicos como: o que são, a im-
portância e como construir esses instrumentos 
são aprofundados nesse volume. 
O sexto volume aborda a outorga de direito 
de uso de recursos hídricos. Apresenta breve 
histórico do instrumento, seus aspectos legais, 
outorga para as diversas fi nalidades de uso, en-
tre outros. Além da outorga, o volume discorre 
também sobre alguns aspectos da fi scalização 
e do cadastro de usuários de recursos hídricos.
O sétimo volume discorre sobre a cobrança 
pelo uso de recursos hídricos – a importância 
do instrumento, os passos para sua imple-
mentação, os mecanismos e valores, além 
de algumas experiências brasileiras na im-
plementação da cobrança.
O oitavo volume tem o objetivo de apresentar 
a importância dos sistemas de informações 
sobre recursos hídricos para o avanço da ges-
tão da água, com destaque para o Sistema 
Nacional de Informações sobre Recursos Hí-
dricos (Snirh).
Esperamos com essas publicações estimular a 
pesquisa e a capacitação dos interessados na 
gestão de recursos hídricos, sobretudo aque-
les integrantes do Singreh, fortalecendo assim 
todo o sistema. 
Boa leitura!
Figura 1 Relação entre os instrumentos da Política de Recursos Hídricos 17
Figura 2 Domínio das águas e a outorga 18
Figura 3 Estrutura para captação a fi o d‘água em curso de água superfi cial 22
Figura 4 Reservatório formado por um barramento 22
Figura 5 Descarga de fundo em barramento 24
Figura 6 Equipamento para perfuração de poço 25
Figura 7 Efl uente lançado em um curso de água 26
Figura 8 Mistura do efl uente lançado com o curso de água em sua situação natural 27
Figura 9 Usina Hidrelétrica 28
Figura 10 Travessia para transposição de corpo d’água 29
Figura 11 Curso d’água canalizado29
Figura 12 Açude construído com a fi nalidade de regularização de vazões 30
Figura 13 Empreendimento integrado usuário de recursos hídricos 42
LISTA DE FIGURAS
Quadro 1 Comparação entre PCH e UHE 28
Quadro 2 Critérios adotados para outorga de captação de águas superfi ciais 31
Quadro 3 Vazões de pouca expressão por Estado 32
LISTA DE QUADROS
Aesa/PB Agência Executiva de Gestão das Águas do Estado da Paraíba 
Adasa Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal
ANA Agência Nacional de Águas
Aneel Agência Nacional de Energia Elétrica 
Apac Agência Pernambucana de Águas e Clima
Caesb Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal
Cnarh Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos
CNRH Conselho Nacional de Recursos Hídricos
DAEE/-SP Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo
DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio
DRDH Declaração de Reserva de Disponibilidade Hídrica
Igam/MG Instituto Mineiro de Gestão das Águas
IGARN Instituto de Gestão das Águas do Estado do Rio Grande do Norte
Inema/BA Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Bahia
Ipáguas Instituto das Águas do Paraná 
Naturatins/TO Instituto Natureza do Tocantins
PCH Pequena Central Hidrelétrica 
PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos
Sema/RS Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul
Semar/PI Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Piauí
Semarh/GO Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Goiás
Semarh/SE Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Estado de Sergipe
Singreh Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
Snirh Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos 
SRE Superintendência de Regulação 
SRH/CE Secretaria dos Recursos Hídricos – Governo do Estado do Ceará 
UHE Usina Hidrelétrica
LISTA DE SIGLAS
9
SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 11
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS 13
 2.1 Breve histórico da outorga de direito de uso de recursos hídricos 15
 2.2 A outorga e os instrumentos da Política de Recursos Hídricos 16
 2.3 Aspectos Legais sobre a Outorga 17
 2.4 A outorga para as diversas fi nalidades de uso 21
2.4.1 Retirada de água superfi cial para consumo, inclusive abastecimento público, ou insumo de 
 processo produtivo 21
2.4.2 Extração de águas subterrâneas para consumo fi nal ou insumo de processo produtivo 25
2.4.3 Lançamento em corpo d’água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, com o 
 fi m de sua diluição, transporte ou disposição fi nal 26
2.4.4 Aproveitamento dos potenciais hidrelétricos 27
2.4.5 Outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente 
 em um corpo d’água 29
 2.5 Outorga nos estados 30
 2.6 Passos para obtenção da outorga 33
3 A FISCALIZAÇÃO DO USO DE RECURSOS HÍDRICOS 35
 3.1 Infrações e penalidades 35
 3.2 Instrumentos da fi scalização 36
 3.3 Formas de fi scalização 37
4 CADASTRO DE USUÁRIOS DE RECURSOS HÍDRICOS 39
 4.1 Metodologias de cadastramento e usuários da água 39
 4.2 O Cadastro Nacional de Usuários de Recursos Hídricos (Cnarh) 41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 45
REFERÊNCIA 47
GLOSSÁRIO 49
 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
11
O presente volume aborda a outorga de direi-
to de uso de recursos hídricos, a fi scalização 
e o cadastramento de usuários, ferramentas 
importantes na implementação da gestão de 
recursos hídricos.
A outorga é o instrumento da Política de Recur-
sos Hídricos que tem o objetivo de assegurar o 
controle quantitativo e qualitativo dos usos da 
água. Garante ao usuário outorgado o direito de 
acesso à água, uma vez que regulariza o seu 
uso em uma bacia hidrográfi ca. 
Para exemplifi car a importância da outorga, da 
fi scalização e do cadastramento de usuários, 
apresenta-se a seguinte situação: um empreen-
dedor decide implantar seu negócio em determi-
nada bacia hidrográfi ca e necessita de água em 
grande quantidade, uma vez que esse recurso 
é o principal insumo do seu processo produtivo. 
O empreendedor necessita da garantia de que 
haverá sempre água na quantidade e qualidade 
necessárias à sua produção, caso contrário, ele 
não implantará o empreendimento nesta bacia, 
pois, sem essa garantia, seria um investimento 
de alto risco. O empreendedor então solicita a 
outorga à autoridade outorgante. Para tanto, se 
o corpo hídrico for de domínio da União, o so-
licitante deve se cadastrar no Cadastro Nacio-
nal de Usuários de Recursos Hídricos (Cnarh). 
A autoridade outorgante, com base nas informa-
ções cadastradas e fornecidas pelo empreen-
dedor, analisa, sob vários aspectos, a inserção 
de mais esse usuário no conjunto da bacia: se 
há água sufi ciente para atender a mais essa 
demanda; se a água utilizada gerará confl itos 
com outros usos ou usuários; se os efl uentes 
despejados pelo novo empreendimento serão 
diluídos pelo corpo hídrico de forma a atender 
à classe de enquadramento; se o uso preten-
dido observa as prioridades de outorga esta-
belecidas pelo plano de recursos hídricos; se 
o empreendimento contempla a adoção de tec-
nologias de uso racional da água; entre outros. 
Verifi cadas a disponibilidade hídrica e a ade-
quação do empreendimento à realidade hídrica 
da bacia, é emitida a outorga de direito de uso 
de recursos hídricos. Mas quem garante que o 
novo usuário, depois de instalado, cumprirá to-
das as condições dispostas na outorga? Aí en-
tra em cena a fi scalização. Esta deve garantir 
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
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CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
12
que os usuários outorgados exerçam seus di-
reitos de uso de acordo com o estabelecido em 
seus atos de outorga, ou seja, não usem mais 
do que está outorgado. Dessa forma, garante-
se que haverá água para todos os usos e usuá-
rios cadastrados, além do uso ambiental.
Esse caso hipotético pode ser constatado em 
várias partes do Brasil. A solução adotada, com 
base na gestão das demandas, e apresentada de 
forma simplifi cada ilustra determinadas ações que 
se confi guram imprescindíveis para uma efi ciente 
e efi caz gestão de recursos hídricos, utilizando 
instrumentos oferecidos pela legislação, como a 
fi scalização, o cadastramento e a outorga.
Nesse sentido, este volume aprofunda a discus-
são sobre tais instrumentos e espera-se que o 
leitor possa adquirir conhecimentos e buscar, 
por meio dos pressupostos legais que norteiam 
a gestão de recursos hídricos, os meios neces-
sários para o uso racional e efi ciente da água. 
O volume está organizado em cinco partes in-
cluindo esta introdução. 
O segundo capítulo descreve o que é direito 
de uso da água e o que é a outorga de direito de 
uso de recursos hídricos, superfi ciais e subter-
râneos. Apresenta breve histórico da aplicação 
da outorga no País e enfatiza sua importância 
como instrumento de regulação pública compa-
tível com os objetivos estabelecidos nos planos 
de recursos hídricos e respectivos enquadra-
mentos de corpos d’água. A coordenação da 
outorga com os demais instrumentos defi nidos 
na Política de Recursos Hídricos, os aspectos 
legais, os tipos de outorga existentes, os usos 
sujeitos à outorga, a situação da outorga nos 
estados e os passos para sua obtenção são 
também assuntos desse capítulo. 
O terceiro capítulo aborda a fi scalização, na 
forma como previstana legislação de recursos 
hídricos. São apresentadas as formas do exer-
cício da fi scalização, tais como as de caráter 
preventivo e educativo e as de caráter corretivo. 
Nessa parte, elucida-se o papel da Agência Na-
cional de Águas (ANA) e das entidades gesto-
ras estaduais de recursos hídricos no processo 
de fi scalização, assim como a importância das 
ações da sociedade. São debatidas as campa-
nhas integradas de fi scalização e apresentados 
os instrumentos de fi scalização e penalidades 
associadas. Apresentam-se, ainda, nesse ter-
ceiro capítulo, algumas experiências acumula-
das, notadamente no que diz respeito às cam-
panhas de regularização efetuadas.
O quarto capítulo discorre sobre o cadastra-
mento e a importância de se conhecer os usos 
e os usuários de recursos hídricos de uma bacia 
hidrográfi ca. São debatidas as metodologias de 
cadastramento, as diretrizes de cadastro em fun-
ção dos seus objetivos e das condições da bacia, 
entre vários aspectos considerados relevantes. 
No âmbito desse capítulo, foi enfatizada a estrei-
ta articulação do cadastro de usuários com os 
instrumentos da Política de Recursos Hídricos. 
Apresenta-se ainda o Cnarh e a sua concepção. 
Nas considerações fi nais são apresentados 
os desafi os para implementação coordenada 
dos diferentes instrumentos da política.
13
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Segundo a Constituição Federal de 1988, a água é 
um bem de domínio ou da União ou dos estados. 
A Lei nº 9.433/1997, conhecida como Lei das 
Águas, estabelece, em seu artigo 1º, inciso I, que a 
água é um bem de domínio público. Tais instrumen-
tos legais confi guram-se nos principais argumen-
tos que sustentam a implementação da chamada 
outorga de direito de uso de recursos hídricos. 
Isso signifi ca dizer que, se um empreendedor 
necessita, por exemplo, de utilizar a água em um 
processo produtivo, tem de solicitar a outorga ao 
poder público, seja ele federal, seja estadual.
A outorga de direito de uso de recursos hídricos 
é o instrumento da Política de Recursos Hídri-
cos que tem os objetivos de assegurar: 
• o controle quantitativo e qualitativo dos 
usos da água; e 
• o efetivo exercício dos direitos de acesso 
à água.
A outorga é o ato administrativo mediante o 
qual o poder público outorgante (União, estado 
ou Distrito Federal) faculta ao outorgado (re-
querente) o direito de uso de recursos hídri-
cos, por prazo determinado, nos termos e nas 
condições expressas no respectivo ato. O ato 
administrativo é publicado no Diário Ofi cial da 
União (no caso da ANA), ou nos Diários Ofi -
ciais dos Estados ou do Distrito Federal.
A outorga de direito de uso de recursos hídricos 
deve ser solicitada por todos aqueles que usam, 
ou pretendem usar, os recursos hídricos, seja 
para captação de águas, superfi ciais ou sub-
terrâneas, seja para lançamento de efl uentes, 
seja para qualquer ação que interfi ra no regime 
hídrico existente, além do uso de potenciais hi-
drelétricos. No caso das águas subterrâneas, a 
outorga deve ser emitida pelo poder público es-
tadual ou do Distrito Federal.
Não importa se o usuário já tem seu uso im-
plantado ou não. A outorga deve ser obtida para 
todos os usos de recursos hídricos. A exceção 
é para algumas formas de uso da água que po-
dem ser consideradas de pouca expressão, no 
OUTORGA DE DIREITO DE USO
DE RECURSOS HÍDRICOS
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CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
14
tocante à quantidade de água demandada fren-
te à disponibilidade existente no local. Nesses 
casos, exclui-se a obrigatoriedade da outorga, 
mas não a responsabilidade de computar os 
usos e, portanto, de informar ao poder público 
federal ou estadual os valores utilizados.
Essas informações repassadas ao poder público 
são preciosas para a correta gestão dos recursos 
hídricos. O controle feito a partir das outorgas 
permite evitar confl itos entre usuários de recursos 
hídricos e assegurar o efetivo direito de acesso à 
água. Por isso, a outorga é valioso instrumento de 
gestão e sua efetiva implementação depende do 
compromisso de todo usuário.
A defi nição da outorga e da respectiva vazão 
outorgável (quantidade de água a ser disponibi-
lizada para os diversos usos), para além de cri-
térios meramente hidrológicos, deve levar em 
conta as opções e as metas de desenvolvimen-
to social e econômico que se pretende atingir, 
considerando os múltiplos usos, a capacidade 
de suporte do ambiente e a busca do desen-
volvimento sustentável.
A outorga é um dos instrumentos de gerencia-
mento de recursos hídricos que faz a articulação 
ASPECTOS DA OUTORGA PARA 
ALOCAÇÃO DE ÁGUA
A outorga deve ser vista como instrumento de alocação de água entre os mais diversos usos dentro 
de uma bacia hidrográfi ca. Nesse sentido, a sua análise deve objetivar o alcance de alguns itens mí-
nimos, a saber:
- atendimento das necessidades ambientais, econômicas e sociais por água;
- redução ou eliminação dos confl itos entre usuários da água; e
- possibilidade que as demandas futuras também sejam atendidas.
A alocação deve considerar os aspectos quantitativos, qualitativos, o uso racional e a distribuição 
temporal e espacial da água. Para isso, devem ser avaliadas questões técnicas relacionadas à hidro-
logia, hidráulica e qualidade da água, questões legais tratando de competências, direitos e respon-
sabilidades dos usuários, bem como questões políticas referentes a acordos entre setores usuários 
e governos para o desenvolvimento sustentável da bacia e a articulação institucional (CARDOSO DA 
SILVA; MONTEIRO, 2004).
com a gestão ambiental. A Política Nacional de 
Recursos Hídricos (PNRH) apresenta, como dire-
triz geral de ação, a integração entre a gestão de 
recursos hídricos e a gestão ambiental. Assim, os 
instrumentos outorga e licenciamento ambiental, 
quando avaliados de forma articulada, contribuem 
com essa integração, uma vez que permitem que 
sejam avaliados os empreendimentos quanto ao 
seu aspecto ambiental e à disponibilidade hídrica 
para as diversas fases do empreendimento (pla-
nejamento, implantação, operação e fechamento). 
Sobre essa temática – a articulação dos procedi-
mentos para obtenção da outorga com os procedi-
mentos do licenciamento ambiental –, o Conselho 
Nacional de Recursos Hídricos aprovou resolução 
específi ca (Resolução nº 65/2006).
Entretanto, para que essa articulação seja efeti-
vamente aplicada, é necessário que os sistemas 
de informações utilizados nos órgãos gestores de 
meio ambiente e de recursos hídricos sejam inte-
grados, com a troca constante de informações e, 
ainda, que as análises dos respectivos órgãos não 
gerem duplicidade de aspectos avaliados ou de es-
tudos encaminhados por parte do empreendedor.
Além da gestão ambiental, a outorga tam-
bém é elemento de articulação da gestão de 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
15
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
recursos hídricos com as políticas dos setores 
usuários da água, visto que esses setores ne-
cessitam da outorga para desenvolvimento de 
suas atividades.
A seguir, serão apresentados breve histórico da 
outorga no País, os tipos e fi nalidades de uso, a 
quem devem ser solicitadas as autorizações e 
quais os principais aspectos avaliados.
2.1
BREVE HISTÓRICO DA OUTORGA DE DIREITO DE USO DE 
RECURSOS HÍDRICOS
No Brasil, é no Código de Águas de 1934 que 
aparece a primeira menção à necessidade de 
obter uma autorizaçãopara usar a água.
O Código criou três categorias de propriedade 
das águas (domínio): as públicas, subdivididas 
em águas de uso comum e águas dominicais; 
as comuns; e as particulares. 
As águas públicas de uso comum são: os 
mares territoriais; as correntes, os canais, os 
lagos e as lagoas navegáveis ou fl utuáveis; 
as fontes e os reservatórios públicos; as nas-
centes; os braços que infl uam na navegabi-
lidade das correntes públicas; as águas si-
tuadas nas zonas periodicamente assoladas 
pelas secas. As águas públicas dominicais 
são todas as águas situadas em terrenos 
que também o sejam, quando elas não forem 
de domínio público de uso comum ou não 
forem comuns.
O Código de Águas estabeleceu que são par-
ticulares as nascentes e todas as águas situa-
das em terrenos que também o sejam, quan-
do elas não estiverem classifi cadas entre as 
águas comuns de todos, as águas públicas ou 
as águas comuns.
No que se refere aos usos de recursos hídri-
cos, eram autorizados por meio de concessões 
ou autorizações. As concessões eram outorga-
das por meio de decreto do Presidente da Re-
pública, após encaminhamento pela entidade 
outorgante. As autorizações não necessitavam 
passar pelo Presidente da República. 
O Código de Águas tinha a previsão de deri-
vações de pouca expressão, afi rmando que 
deveriam ser dispensadas de outorga sem, no 
entanto, estabelecer critérios para tal dispensa.
As concessões ou autorizações para deriva-
ções que não se destinassem à produção de 
energia hidrelétrica seriam outorgadas pela 
União, pelos estados, pelo Distrito Federal ou 
pelos municípios, conforme o domínio das águas 
ou a titularidade dos serviços públicos a que se 
destinavam, considerando, à época, os dispo-
sitivos do Código e as leis especiais sobre tais 
serviços. As concessões ou autorizações para o 
uso da água destinado à produção de energia 
seriam atribuições dos estados ou da União.
Embora a Constituição Federal de 1946 tenha 
feito alterações quanto ao domínio das águas, 
foi a Constituição de 1988 que trouxe elemen-
tos signifi cativos para a atual gestão dos recur-
sos hídricos no País. Ao longo desses anos, foi 
eliminada a fi gura da propriedade privada da 
água, assim como das águas municipais. 
Pertencem à União os lagos, os rios e quaisquer 
correntes de água em terrenos de seu domínio, 
ou que banhem mais de um estado, sirvam de 
limites com outros países, ou se estendam a 
território estrangeiro ou dele provenham. São 
de propriedade dos estados e do Distrito Fede-
ral as águas superfi ciais ou subterrâneas, fl uen-
tes, emergentes e em depósito, ressalvadas as 
decorrentes de obras da União.
Em outras palavras, todo rio que banha ape-
nas determinado estado, as águas subterrâne-
as e as acumuladas por meio de reservatórios 
construídos com recursos do próprio estado, 
municípios ou recursos privados são de domí-
nio estadual. Vale ainda ressaltar e fortalecer 
o entendimento de que as águas acumuladas 
por meio de reservatórios construídos com re-
cursos federais, mesmo em um rio de domínio 
do estado, são de domínio da União.
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
16
Em 1997, a Lei n° 9.433 (Lei das Águas) insti-
tuiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, 
sendo a outorga de direitos de uso de recursos 
hídricos um dos seus instrumentos. 
2.2
A OUTORGA E OS INSTRUMENTOS DA POLÍTICA DE 
RECURSOS HÍDRICOS
A Lei das Águas instituiu outros quatro instru-
mentos de gestão de recursos hídricos que es-
tão relacionados diretamente à outorga.
Os planos de recursos hídricos são planos dire-
tores com a fi nalidade de fundamentar e orien-
tar a implementação da política de recursos hí-
dricos e seu gerenciamento. Em seu conteúdo 
mínimo, devem constar as prioridades para 
outorga de direitos de uso de recursos hídri-
cos, metas de racionalização e proposição de 
áreas sujeitas à restrição de uso. 
Nesse sentido, vale ressaltar a importância 
dos comitês de bacia, pois a eles cabe, legal-
mente, aprovar os planos de recursos hídricos 
considerando a sua área de atuação. Uma 
vez que o Plano de Recursos Hídricos é o 
instrumento orientador na implementação da 
gestão, conclui-se que os comitês são os res-
ponsáveis pela defi nição das diretrizes para a 
USOS PRIORITÁRIOS, METAS DE RACIONALIZAÇÃO E 
ÁREAS SUJEITAS À RESTRIÇÃO DE USO
Usos prioritários: conjunto de usos, atuais e futuros, d’água com relevância econômica, social e 
ambiental em determinado trecho de corpo hídrico.
Metas de racionalização: programação de cenários futuros com relação aos usos da água, nos quais 
são defi nidos o horizonte de alcance, bem como as ações e os investimentos necessários para atingir 
as metas de racionalização programadas.
Áreas sujeitas à restrição de uso: áreas de relevante interesse para a preservação dos recursos 
hídricos, tais como nascentes, margens dos rios e lagos, áreas de recarga de aquíferos, as quais po-
dem estar restritas a alguns tipos ou restrição total de uso, com o objetivo de garantir as condições de 
quantidade e qualidade dos recursos hídricos para a bacia como um todo.
gestão da água na bacia, ou seja, é o comitê 
quem defi ne as prioridades de uso da água, 
as metas de racionalização e a criação de 
áreas sujeitas à restrição de uso e, tais defi ni-
ções, devem ser utilizadas como condicionan-
tes para a análise das outorgas por parte das 
entidades gestoras, seja dos estados, seja da 
da União. Assim sendo, a outorga é um instru-
mento de regulação pública, compatível com 
os objetivos socialmente estabelecidos nos 
planos de recursos hídricos.
Outro instrumento que pode condicionar a 
análise das outorgas é o enquadramento dos 
corpos d’água em classes, uma forma de clas-
sifi car os corpos d’água conforme o uso pre-
ponderante. As principais fi nalidades desse 
instrumento são assegurar qualidade compatí-
vel com a sua destinação e reduzir custos de 
combate à poluição. O enquadramento é um 
instrumento essencial à análise das outorgas 
quanto aos aspectos de qualidade das águas, 
como no caso do uso de corpos hídricos para a 
diluição de efl uentes. 
Os efl uentes lançados em determinado corpo 
d’água não podem piorar as condições da clas-
se determinada por meio do enquadramento. 
Dessa forma, os empreendimentos, sejam pú-
blicos ou privados, devem utilizar tecnologias 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
17
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
nos meios de produção que levem a melhoria 
ou, no mínimo, a manutenção da classe de 
uso estabelecida. 
Cabe ao Comitê de Bacia selecionar a alterna-
tiva de enquadramento dos corpos d’água em 
sua área de infl uência. Esse enquadramento é 
depois encaminhado para aprovação fi nal pelo 
Conselho de Recursos Hídricos. Ou seja, as di-
retrizes e os critérios principais para análise de 
outorgas quanto aos aspectos de qualidade das 
águas são estabelecidos pelo enquadramento, 
defi nido pelo Comitê de Bacia e aprovado pelo 
Conselho de Recursos Hídricos.
A outorga também está relacionada com a co-
brança pelo uso das águas, a partir do momen-
to em que a Lei das Águas determina que os 
usos de recursos hídricos a serem cobrados 
são aqueles sujeitos à outorga.
Sendo assim, para uma cobrança efi ciente, 
é muito importante que haja um sistema de 
cadastro e de outorgas adequados e abrangen-
tes, para que os usuários estejam efetivamente 
regularizados e com seus usos corretos. Nesse 
sentido, os usuários sujeitos à outorga serão co-
brados de forma apropriada, a partir do volume 
de água que efetivamente estão autorizados a 
utilizar (seja para captação, consumo ou dilui-
ção), que corresponde ao valor que faz parte de 
seus atos de outorgas. 
O Sistema de Informações sobre Recursos 
Hídricos também tem relação direta com a 
outorga. Esse sistema deve armazenar,den-
tre outras, todas as informações relevantes à 
análise dos pedidos de outorga. Além disso, 
deve conter informações sobre as demandas 
autorizadas nas bacias hidrográfi cas do País, 
por meio das outorgas emitidas pelos órgãos 
gestores de recursos hídricos, bem como da-
dos de oferta hídrica.
A Figura 1 mostra a relação da outorga com os ou-
tros instrumentos de gestão de recursos hídricos.
COBRANÇA
DIRETRIZES
DIRETRIZES
DIRETRIZES
DADOS
OUTORGA
PLANO DE 
RECURSOS HÍDRICOS
ENQUADRAMENTO SISTEMA DE INFORMAÇÒES
Figura 1 – Relação entre os instrumentos da Política de Recursos Hídricos.
VEJA MAIS: os volumes 5, 7 e 8 tratam dos demais 
instrumentos de gestão das águas, quais sejam: o 
plano de recursos hídricos e o enquadramento dos 
corpos d’água em classes; a cobrança; e o sistema 
de informações sobre recursos hídricos.
2.3
ASPECTOS LEGAIS SOBRE A OUTORGA
A Política Nacional de Recursos Hídricos deter-
mina que todos os usos que alterarem a qua-
lidade, a quantidade e o regime existente nos 
corpos d’água, superfi ciais ou subterrâneos, 
estão sujeitos à outorga. Dispõe, ainda, que 
cabe ao Poder Executivo Federal, dos estados 
ou do Distrito Federal a emissão da outorga, por 
meio de entidades competentes para tal fi m.
Com a publicação da Lei n° 9.984, de 17 de ju-
lho de 2000, foi criada a ANA, como a entidade 
responsável pela implementação da Política 
Nacional de Recursos Hídricos. 
Entre as atribuições da ANA, estabelecidas 
nessa lei, está a de outorgar, por intermédio de 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
18
autorização, o direito de uso de recursos hídricos 
em corpos d’água de domínio da União, que são 
rios, lagos e represas que dividem ou passam 
por dois ou mais estados ou, ainda, aqueles que 
passam pela fronteira entre o Brasil e outro país.
As águas subterrâneas e os cursos de água 
que banham apenas um estado ou o Distrito 
Federal são outorgadas pelos poderes públicos 
estaduais ou distrital.
Apesar de as outorgas de águas de domínio 
da União serem emitidas pela ANA, a Lei n° 
9.433/1997 estabelece a possibilidade de de-
legação de competência para emissão de ou-
torga de águas de domínio da União para os 
Estados ou para o Distrito Federal. Nesse sen-
tido, caso determinado estado possua interesse 
e estrutura compatível para emitir as outorgas 
de águas de domínio da União localizadas em 
seu território, a ANA pode, após ajustes, por-
ventura necessários, por meio de ato próprio, 
delegar essa competência.
A Figura 2 ajuda a compreender a qual órgão 
deve ser solicitada a outorga: a ANA ou aos ór-
gãos gestores estaduais, em função do domínio 
dos corpos d’água.
Por estrutura compatível entende-se corpo téc-
nico qualifi cado e em número sufi ciente para 
suprir as demandas da delegação, estrutura 
administrativa do órgão gestor de recursos hí-
dricos robusta e procedimentos e critérios de 
outorga adequados à realidade da bacia.
Figura 2 – Domínio das águas e a outorga.
Legenda
Conceitos
Limite entre estados
1. As águas dos rios R2 e R4 são de domínio da União.
2. As águas dos rios R1, R3, e R5 são de domínio estadual.
3. Se o reservatório 1 (Res.1) for da União, as águas são 
da União; caso contrário, são estaduais.
4. A água do poço P1 é de domínio estadual.
Competências
1. As outorgas 02, 06, 07 e 08 são estaduais.
2. As outorgas 03, 04, e 05 são federais.
3. A outorga 01 será federal se o reservatório 1 for da União.
Hidrografia
Limite da bacia hidrográfica
Poço
Reservatório
Estado 3
Estado 2
Estado 1
R1 R2
R4
P1
R4
R5
R4
R3
02
06
03
05
07
04
01
Res.1
Res.2
08
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
19
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Um dos fundamentos da Política Nacional de 
Recursos Hídricos determina que a gestão da 
água deve ser descentralizada. A delegação por 
parte da ANA da emissão de outorgas de águas 
de domínio da União para os estados e Distrito 
Federal corrobora esse fundamento. Entretanto, 
vale ressaltar que esse procedimento de delega-
ção deve ser utilizado com bastante precaução e 
com avaliação criteriosa, uma vez que a ANA não 
se exime da responsabilidade referente aos atos 
de outorga, como em casos em que o descumpri-
mento de regras gere ações na justiça.
Portanto, para que, de fato, se implemente a 
descentralização da gestão da água em todo 
o país, é necessário que haja o fortalecimen-
to dos órgãos gestores estaduais. A grande 
diversidade de níveis de estruturação dos ór-
gãos gestores de recursos hídricos brasileiros 
difi culta sobremaneira a delegação da emissão 
de outorgas, principalmente em bacias interes-
taduais que envolvam vários estados. 
Poucos atos de delegação de outorga foram 
emitidos até o momento. Nas bacias dos rios 
Piracicaba, Capivari e Jundiaí, a ANA delegou a 
competência aos estados de Minas Gerais e São 
Paulo para emitir as outorgas de águas de domí-
nio da União. Outra delegação de competência já 
emitida trata do estado do Ceará. Nesse caso, a 
ANA delegou a competência para a emissão das 
outorgas para captações voltadas para abasteci-
mento público em todo o estado e para todas as 
fi nalidades nas bacias dos Rios Poti e Longá. Es-
tão em análise pedidos de delegação para os es-
tados do Pará, Paraíba, Rio de Janeiro e Sergipe.
A Lei das Águas estabelece os usos que inde-
pendem de outorga, mas que devem ser devi-
damente informados ao poder público. São eles:
• o uso de recursos hídricos para a satisfação 
das necessidades de pequenos núcleos po-
pulacionais, distribuídos no meio rural;
• as derivações, as captações e os lança-
mentos considerados de pouca expres-
são (em relação a quantidade captada e 
o volume existente no local); e
• as acumulações de volumes de água 
consideradas de pouca expressão.
Mesmo para os usos de pouca expressão é im-
portante que o usuário cadastre essas vazões 
no órgão competente. Esse tema será discutido 
no capítulo 4 que aborda o cadastro de usuários.
USOS QUE INDEPENDEM DE OUTORGA
Compete aos Comitês de Bacia Hidrográfi ca 
propor aos Conselhos de Recursos Hídricos os 
usos que não necessitam ser outorgados. En-
quanto não houver essa defi nição, as entidades 
públicas outorgantes podem defi nir, de acordo 
com o domínio do corpo hídrico, os usos que 
não serão sujeitos à outorga. Entretanto, vale 
a pena reforçar que esses usos devem ser ca-
dastrados junto à autoridade outorgante.
Para o caso de corpos hídricos de domínio da 
União, a ANA defi niu, por meio de Resolução ANA 
nº 707/2004, que não estão sujeitos à outorga:
• serviços de limpeza e conservação de 
margens, incluindo dragagem, desde que 
não alterem o regime de vazões, a quanti-
dade ou a qualidade do corpo hídrico;
• obras de travessia (pontes, dutos, pas-
sagens molhadas etc.) de corpos hídri-
cos que não interfi ram no regime de va-
zões, quantidade ou qualidade do corpo 
hídrico, cujo cadastramento deve ser 
acompanhado de atestado da Capitania 
dos Portos quanto aos aspectos de com-
patibilidade com a navegação; e
• vazões de captação máximas instantâneas 
inferiores a 1,0 L/s, quando não houver de-
liberação diferente do Conselho Nacional 
de Recursos Hídricos (CNRH).
Há exceções com relação ao último caso, por 
exemplo, nas bacias dos rios Piracicaba, Capi-
vari e Jundiaí, o comitê propôs e o CNRH apro-
vou, por intermédio da Resolução nº 52, que 
todas as derivações, captações, lançamentos e 
acumulações são considerados signifi cantes.
Para a Bacia do Rio São Francisco, o Comitê propôs 
e o CNRH aprovou por intermédio da Resolução 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
20
nº 113, de 10 de junho de 2010, o valor de 4,0 L/s 
para isenção da obrigatoriedade de outorga.
Alegislação de recursos hídricos apresenta critérios 
importantes que devem ser considerados em todas 
as análises de outorgas realizadas, tais como:
• as prioridades de uso estabelecidas nos 
Planos de Recursos Hídricos (obrigato-
riedade prevista na Lei nº 9.433/1997); 
• o respeito à classe em que o corpo 
d’água estiver enquadrado;
• a manutenção de condições adequadas ao 
transporte aquaviário, quando for o caso; e
• a relevância da preservação do uso múl-
tiplo dos recursos hídricos. Isso signifi ca 
que não deve ser comprometida a dispo-
nibilidade hídrica de uma bacia com ape-
nas um usuário ou um setor usuário, em 
situações em que haja diversos setores 
com interesses de uso.
Para o caso de grupos de usuários organizados 
em uma instituição legalmente formalizada, é pos-
sível a emissão de uma única outorga, que deve 
representar o volume de água necessário para as 
atividades produtivas dos usuários desse grupo. 
A outorga coletiva ou outorga em lote também 
pode ser utilizada em casos como campanhas 
de regularização de usos, quando a autoridade 
outorgante emite um único ato administrativo, 
listando todos os usuários outorgados naquela 
campanha na bacia, discriminando a vigência 
da outorga de cada um dos empreendimentos. 
Outra forma de outorga coletiva possível se dá a 
partir de uma alocação negociada da água, em 
que um grupo de usuários se compromete a utili-
zar uma vazão máxima, defi nida no processo de 
negociação. Nesse caso, a outorga tem um pra-
zo comum de vigência, e os percentuais de água 
alocados para cada um dos usuários que com-
põe o grupo pode ser renegociado anualmente.
A legislação de recursos hídricos defi ne que a outor-
ga poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em 
defi nitivo ou por prazo determinado, em tais casos:
• descumprimento dos termos da outorga 
pelo outorgado;
• ausência de uso por três anos consecutivos; 
• necessidade de água para atender a situa-
ções de calamidade, incluindo aquelas re-
sultantes de situações climáticas adversas;
• necessidade de prevenir ou reverter gra-
ve degradação ambiental;
• necessidade de atendimento a usos prio-
ritários (consumo humano e desseden-
tação de animais), de interesse coletivo, 
quando não se possui fontes alternativas;
• indeferimento ou cassação da licença 
ambiental; e
• necessidade de manutenção da navega-
bilidade do corpo d’água.
O prazo máximo legal de vigência das outor-
gas segundo a Lei das Águas é de 35 anos, 
podendo ser renovada. Entretanto, essa de-
fi nição da vigência de cada ato de outorga 
deve ser avaliada caso a caso. No que se 
refere às outorgas em águas de domínio da 
União, o empreendedor tem o prazo de até 
dois anos para iniciar a implantação do proje-
to e até seis anos para conclusão de sua im-
plantação, após a data de publicação do ato 
de outorga. Alguns estados têm prazos máxi-
mos de vigência das outorgas menores que o 
da Lei das Águas. Como exemplo, podemos 
citar os casos do Ceará, da Paraíba e do Rio 
Grande do Sul, em que o prazo máximo de 
vigência da outorga é de 10 anos1.
Até o momento, tratou-se da outorga de direito de 
uso. Mas existem outros tipos de outorga em cor-
pos d’água de domínio na União, nos estados e no 
Distrito Federal: a outorga preventiva e a Declara-
ção da Reserva de Disponibilidade Hídrica (DRDH).
1 Decretos n° 23.067, de 11 de fevereiro de 1994, nº 19.260, de 31 de outubro de 1997, e nº 37.033, de 21 de novembro de 
1996, respectivamente. 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
21
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
A outorga preventiva, como o próprio nome in-
dica, destina-se a reservar determinada vazão 
passível de ser outorgada, possibilitando, dessa 
forma, melhores estudos e planejamento mais 
detalhado para implantação de empreendimen-
tos por parte dos setores usuários. No intuito de 
assegurar a disponibilidade hídrica, esse tipo de 
outorga deve ser emitida nos casos de grandes 
empreendimentos que demandem consideráveis 
períodos de tempo para realização de estudos. 
Nos estados e no Distrito Federal, há procedimen-
tos e nomenclaturas distintos, uma vez que vários 
não dispõem da fi gura da outorga preventiva, mas 
possuem a outorga prévia, a outorga de implanta-
ção, a anuência prévia, a carta consulta, que têm 
objetivos semelhantes à outorga preventiva.
Para aproveitamentos hidrelétricos, há o ato de 
Declaração de Reserva de Disponibilidade 
Hídrica (DRDH). Trata-se de um documento, 
solicitado pela Agência Nacional de Energia 
Elétrica (Aneel) à entidade outorgante, confor-
me o domínio do corpo hídrico em questão, que 
consiste em garantir a disponibilidade hídrica 
requerida para aproveitamento hidrelétrico, com 
potência instalada superior a 1 MW. Essa decla-
ração é, depois, automaticamente transformada 
em outorga de direito de uso de recursos hídri-
cos para empresas ou instituições que recebe-
rem autorização ou concessão da Aneel para 
uso do potencial de energia hidráulica.
A DRDH é fundamental para o planejamento do se-
tor elétrico, pois os empreendimentos para geração 
de energia hidrelétrica necessitam de muitos anos 
para a sua implantação, desde a etapa do planeja-
mento propriamente dito, das licenças ambientais, 
até a instalação e efetivo início da operação.
A ANA é responsável por tornar pública as solicita-
ções de outorga em corpos d’água de domínio da 
União, bem como os atos administrativos decor-
rentes. Portanto, são publicados todos os pedidos 
de outorga e seus atos resultantes, seja a autori-
zação ou o indeferimento do processo, seja sua 
suspensão ou revogação. Para dar essa publici-
dade, a ANA utiliza os recursos da internet em seu 
sítio eletrônico (www.ana.gov.br) e o Diário Ofi cial 
da União, dos Estados e do Distrito Federal.
2.4
A OUTORGA PARA AS DIVERSAS FINALIDADES DE USO
A outorga é a garantia de água para todos os usos, 
sendo, portanto, obrigatória. Essa obrigatoriedade 
é necessária para que o poder público possa, efe-
tivamente, assegurar o controle, tanto quantita-
tivo como qualitativo dos usos da água, e para 
que o usuário tenha a autorização de direito de 
acesso à água para as fi nalidades desejadas.
Alguns usos são concorrentes entre si, em ou-
tros casos não existe a concorrência. Cada tipo 
de uso tem suas características próprias na uti-
lização da água e todos estão sujeitos à outor-
ga pelo poder público.
Conforme está disposto na Lei Federal nº 
9.433/1997, dependem de outorga:
• derivação ou captação de parcela da 
água existente em um corpo d’água para 
consumo fi nal, inclusive abastecimento 
público, ou insumo de processo produtivo; 
• extração de água de aquífero subter-
rânea para consumo fi nal ou insumo de 
processo produtivo;
• lançamento em corpo d’água de esgotos 
e demais resíduos líquidos ou gasosos, 
tratados ou não, com o fi m de sua dilui-
ção, transporte ou disposição fi nal;
• aproveitamento dos potenciais hidrelé-
tricos; e
• outros usos que alterem o regime, a quan-
tidade ou a qualidade da água existente 
em um corpo d’água.
Vejamos cada um desses usos.
2.4.1
RETIRADA DE ÁGUA SUPERFICIAL PARA CONSUMO, 
INCLUSIVE ABASTECIMENTO PÚBLICO, OU INSUMO DE 
PROCESSO PRODUTIVO
A outorga para captação de águas superfi ciais 
pode ser aplicada de duas formas principais. 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
22
A primeira trata das captações ou derivações 
realizadas a fi o d’água em rios, córregos ou 
ribeirões (Figura 3). A outra pode ser feita em 
depósitos de água como lagos, açudes, lago-
as ou reservatórios formados por barramentos 
(Figura 4). Para cada uma dessas formas, a 
outorga deve ser avaliada de maneira distinta. 
Captações ou derivações a fi o d´água repre-
sentam retiradas da água diretamente do curso 
d’água ou de pequena barragem comreserva-
tório de volume desprezível.
Figura 3 – Estrutura para captação a fi o d’água em 
curso d’água superfi cial. Foto: Paulo Spolidorio / 
Banco de Imagens da ANA. 
Figura 4 – Reservatório formado por um barramento. 
Foto: Tomas May / Banco de Imagens da ANA.
No primeiro caso, a análise quanto à disponi-
bilidade hídrica é avaliada em função da ado-
ção de vazões de referência mínimas ocor-
ridas naturalmente nos cursos de água ou 
em decorrência de intervenções hidráulicas 
como barragens.
VAZÃO OUTORGÁVEL E VAZÃO DE REFERÊNCIA
Vazão outorgável é a vazão disponível para ser outorgada.
As vazões de referência utilizadas, segundo Cardoso da Silva e Monteiro (2004), são as vazões mí-
nimas, de forma a caracterizar uma condição de alta garantia de água no manancial. A partir dessa 
condição, são realizados os cálculos de alocação da água, de modo que, quando essas vazões mínimas 
ocorram, os usuários ou os usos prioritários mantenham, de certa forma, suas retiradas de água.
As vazões mínimas aplicadas como referência são vazões de elevada permanência no tempo, cal-
culadas de forma estatística.
As vazões de permanência no tempo mais utilizadas são as vazões Q90 ou Q95 (veja explicação 
a seguir).
A defi nição da vazão de referência a ser aplicada depende da garantia de atendimento que se deseja 
considerar para os usos a serem instalados em determinada bacia. Se os usos exigem maior garantia, 
deve-se optar por vazões mais conservadoras, como a Q95 e a Q7,10.
Após a defi nição das vazões de referência, deve ser determinado o percentual máximo a ser alocado 
para a divisão entre os diversos usos da bacia. A determinação desse percentual deve ser realizada 
Continua...
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
23
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
em função da possibilidade de atendimento aos diversos usos na bacia e das vazões mínimas rema-
nescentes que se deseja manter nos cursos d’água.
Dessa forma, quando o poder público analisa uma solicitação de outorga de um dado usuário, con-
siderando uma captação a fi o d’água em cursos d’água superfi ciais, ele deve considerar a vazão 
solicitada para o empreendimento frente ao percentual defi nido como outorgável em relação à vazão 
de referência adotada.
Q90, Q95 e Q7,10
Q90 é a vazão determinada a partir das observações em um posto fl uviométrico em certo período 
de tempo, em que em 90% daquele período as vazões foram iguais ou superiores a ela. Em outras 
palavras, pode-se aceitar que existe um nível de 90% de garantia de que naquela seção do curso 
d’água as vazões sejam maiores do que o Q90. Diz-se que a Q90 é a vazão com 90% de permanência 
no tempo, podendo ser extrapolado para outras seções do curso d’água, com base na área da bacia 
hidrográfi ca contribuinte e nas quantidades de chuvas da região.
Q95 tem o mesmo signifi cado que a Q90, entretanto a garantia corresponde a 95% do tempo de observação. 
Isso signifi ca que a vazão em determinado corpo d’água é igual ou superior àquele valor em 95% do 
tempo. Por exemplo, se a Q95 de determinado rio é 10 m³/s, isso signifi ca que durante aproximada-
mente 347 dias ao ano, ou seja, 95% dos dias, a vazão naquele rio é maior ou igual a 10 m³/s. Se 
considerarmos Q90, o tempo de permanência da vazão cai de 347 (95%) para 329 (90%) dias ao ano, 
assim o valor da vazão de referência aumenta, pois a garantia de permanência daquela vazão diminui. 
Q7,10 é a menor vazão média consecutiva de sete dias que ocorreria com um período de retorno de 
uma vez em cada 10 anos. O cálculo da Q7,10 é probabilístico, enquanto os da Q90 e da Q95 decorrem 
de uma análise de frequências.
Continuação
O segundo grupo de outorgas para captação 
de águas trata de reservatórios para a regula-
rização de vazões. Nesse caso, a vazão outor-
gável é aquela regularizada, mas que permite, 
ao mesmo tempo, a manutenção de vazões 
mínimas a jusante do reservatório para atendi-
mento a demandas ambientais e de outros usos 
antrópicos porventura existentes.
No caso de captações em reservatórios, o obje-
tivo principal é dividir a vazão regularizada para 
os usuários existentes ou previstos em seu en-
torno. Esse procedimento pode ocorrer para 
rios intermitentes ou perenes.
O estado do Ceará é um dos pioneiros no estabe-
lecimento de outorgas em rios intermitentes. Nes-
se caso, as outorgas são avaliadas em função de 
uma vazão de referência, que é defi nida e calcu-
lada tomando por base a regularização proporcio-
nada pelo reservatório. Porém, como os rios que 
afl uem aos reservatórios são intermitentes, pode-
-se considerar que ao fi nal do período chuvoso, 
os volumes acumulados são aqueles que podem 
ser divididos ou alocados entre todos os usuários 
durante o período seco subsequente.
Sendo assim, todos os anos, ao fi nal das chuvas, 
é avaliado o volume acumulado no reservatório 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
24
e é realizado um processo de negociação social, 
denominado de alocação negociada de água, 
em que os atores da bacia, organizados em asso-
ciações, comissões gestoras ou em comitês, par-
ticipam da discussão e deliberam sobre a divisão 
de volumes entre os usuários no período seco, 
em que não há vazões afl uentes ao reservatório. 
Isso implica, em outras palavras, um processo de 
descentralização das tomadas de decisão sobre 
a distribuição da água e um compartilhamento 
de responsabilidades entre os usuários e o po-
der público outorgante que participa do proces-
so realizando simulações de comportamento do 
reservatório para diversos cenários de demanda.
ALOCAÇÃO NEGOCIADA DE ÁGUA
Uma metodologia aplicada nos processos de alocação negociada é apresentada por Cardoso da Silva 
et al. (2006), tendo como estudo de caso o Açude Cocorobó, no rio Vaza Barris, na Bahia. 
Nesse caso, é apresentada a necessidade de obtenção de informações da hidrologia local e das 
estruturas do reservatório, das demandas da bacia, um sistema computacional de operação do reser-
vatório, uma comissão gestora para o reservatório e o operador para o sistema, devidamente treinado 
para cumprir as decisões aprovadas para o gerenciamento do uso da água. 
A forma de gerenciamento a partir do processo de alocação negociada tornou-se um mecanismo po-
deroso para a atenuação dos confl itos e para a promoção do uso racional da água. Com o processo 
estabelecido, foram criadas, em conjunto com os usuários, regras de uso da água que estão sendo 
utilizadas para a emissão das outorgas na região. As regras estabelecidas podem ser consideradas 
como o Marco Regulatório de usos da água reservada e regularizada pelo açude. Processos exito-
sos de alocação negociada de água vêm sendo praticados em diversas bacias, tais como no Verde 
Grande, Piranhas-Açu, Pipiripau, Quaraí e outras.
Tratando dos rios perenes, pode ser citado o 
caso do estado de Minas Gerais. Nesse esta-
do, a avaliação das outorgas de captação de 
água em barramentos formados em rios pe-
renes ocorre a partir da análise da vazão de 
regularização do reservatório. Em seguida, 
é defi nido que deve ser mantida uma vazão 
mínima residual de 70% da vazão Q7,10. Essa 
vazão é considerada como remanescente 
mínima segundo os critérios legais do estado. 
Com isso, o reservatório deve ser sufi ciente 
para atender aos usos previstos em seu lago 
e, ainda, manter uma vazão mínima residual 
durante todo o tempo. Para isso, são avalia-
das as estruturas de descarga de fundo para 
manutenção dessas vazões mínimas para ju-
sante (Figura 5).
Figura 5 – Descarga de fundo em barramento. 
Foto: Maria de Fátima Chagas Dias Coelho.
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
25
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
VAZÃO REMANESCENTE, 
ECOLÓGICA E AMBIENTAL
Além da diversidade de critérios de outorga no 
País, são vários os conceitosutilizados no meio 
técnico-científi co para defi nir vazão remanes-
cente (em alguns estados é conhecida como 
vazão residual), vazão ecológica e ambiental. 
Um estudo consubstanciado da ANA na Nota 
Técnica nº 158/2005/SOC apresenta as seguin-
tes defi nições:
Vazão ecológica é a vazão que deve ser 
mantida no rio para atender a requisitos do 
meio ambiente. 
Vazão remanescente inclui, além dos requi-
sitos de conservação ou de preservação do 
meio ambiente (vazão ecológica), os usos de 
recursos hídricos que devem ser preservados a 
jusante da intervenção no corpo d’água, como 
a manutenção de calado para navegação, va-
zões mínimas de diluição para atender à classe 
em que o corpo d’água estiver enquadrado, os 
usos múltiplos e outros. Esse conceito de vazão 
remanescente inclui a vazão ecológica. 
Outro conceito correlato é o de vazão ambien-
tal, considerada a vazão necessária para garan-
tia da preservação da bacia de forma integrada, 
de modo a assegurar a sua sustentabilidade, 
levando em conta todo o ecossistema, não só o 
aquático, mas também as atividades antrópicas.
Figura 6 – Equipamento para perfuração de poço. 
Foto: Fabrício Bueno / Banco de Imagens da ANA.
2.4.2
EXTRAÇÃO DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS PARA CONSUMO FINAL 
OU INSUMO DE PROCESSO PRODUTIVO
Outro tipo de uso previsto dentre aqueles 
sujeitos à outorga trata da explotação de 
águas subterrâneas. 
As águas subterrâneas podem ser retiradas 
através de poços rasos ou profundos. Os po-
ços rasos são escavados em locais onde o 
nível do lençol freático é próximo a superfície, 
não necessitando de grandes escavações, po-
rém, estão mais sujeitos à contaminação. Já os 
poços tubulares podem ser perfurados a gran-
des profundidades, com o objetivo de atingir 
aos melhores aquíferos, com maior disponibili-
dade de água e suas principais vantagens são 
a qualidade dessas águas e a possibilidade de 
serem perfurados em locais mais próximos ao 
uso desejado. 
O procedimento inicial para essas intervenções 
trata da solicitação de autorização para perfu-
ração do poço (Figura 6). Nesse momento, é 
informado o local de perfuração, a expectativa 
de vazão e o tipo de aquífero esperado. A aná-
lise para a autorização de perfuração verifi ca a 
existência de outros poços na região que pode-
riam ser afetados pelo novo poço, ou mesmo 
riachos e córregos.
A análise de disponibilidade hídrica dos poços 
tubulares é realizada por meio dos resultados 
de teste de bombeamento e da avaliação da re-
carga do aquífero (quantidade de água reposta 
por meio da infi ltração das águas de chuva). 
É importante que a vazão máxima a ser capta-
da seja sustentável em termos de recarga, uma 
vez que a superexplotação (retirada excessiva 
de água) pode levar o aquífero à exaustão. 
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
26
Portanto, é muito importante a realização de es-
tudos para avaliar o fl uxo de águas subterrâneas, 
as áreas de recarga, o potencial dos aquíferos 
em termos de disponibilidade sustentável, além 
da determinação das interações rio-aquífero, 
que corresponde à relação entre o rebaixamento 
do lençol freático e os níveis de água dos rios.
Tais estudos são complexos e não são disponí-
veis para grandes bacias no País, tratando-se 
de uma difi culdade encontrada pelas entida-
des outorgantes estaduais e distrital na análise 
dessas outorgas. 
Entende-se vazão máxima sustentável, neste 
caso, que a quantidade de água retirada em 
determinado período não pode ser superior à 
capacidade do poço repor, por meio de infi ltra-
ção da água no solo, o volume retirado nesse 
mesmo período.
ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
E ÁGUAS MINERAIS
Apesar de as águas subterrâneas serem de domínio estadual, sendo as outorgas solicitadas aos estados 
e ao Distrito Federal, é relevante a participação da União em estudos de aquíferos estratégicos, que per-
passem as divisas de estados ou as fronteiras do País, como o Aquífero Guarani.
Outro aspecto relevante refere-se às águas minerais. Essas águas, apesar de serem subterrâneas, têm sua 
gestão realizada pelo Código de Águas Minerais e pelo Código de Mineração; sendo tratadas como recursos 
minerais (sujeitas à lavra) e não como recursos hídricos (sujeitos à outorga). O Departamento Nacional de 
Produção Mineral (DNPM) é quem autoriza utilização de água mineral.
Para a integração entre a gestão de recursos hídricos e a gestão de recursos minerais, foi editada a Resolução 
nº 29, de 11 de dezembro de 2002, do CNRH. Essa resolução estabelece os procedimentos para compartilha-
mento de informações e compatibilização de procedimentos e tomadas de decisão.
2.4.3 
LANÇAMENTO EM CORPO D’ÁGUA DE ESGOTOS E DEMAIS 
RESÍDUOS LÍQUIDOS OU GASOSOS, COM O FIM DE SUA 
DILUIÇÃO, TRANSPORTE OU DISPOSIÇÃO FINAL
O enquadramento é o instrumento da legislação 
de recursos hídricos que tem como principal obje-
tivo assegurar às águas qualidade compatível com 
os usos mais exigentes a que forem destinadas e, 
essa mesma legislação, dispõe como uso sujeito 
à outorga o lançamento de efl uentes em corpos 
d’água. O uso da água para diluição está direta-
mente ligado ao enquadramento. Tratando desse 
uso, é importante o comentário inicial sobre o ter-
mo lançamento de efl uentes. Na fi gura 7, há um 
exemplo de uma fonte de lançamento de efl uentes.
Figura 7 – Efl uente lançado em um curso d’água. Foto: Ricardo Koch / 
Banco de Imagens da ANA.
VEJA MAIS: no caderno 3, discute-se a participa-
ção da ANA junto aos Estados no que tange à ges-
tão das águas subterrâneas.
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
27
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
A outorga não deve autorizar o lançamento de 
efl uentes, mas sim, o uso da água para fi ns de 
diluição dos efl uentes, respeitando o enquadra-
mento do corpo d’água. 
Assim, a outorga para esse fi m deve avaliar a 
disponibilidade hídrica, ou seja, a quantidade 
de água necessária à diluição dos efl uentes, 
conforme parâmetros considerados outorgá-
veis, de forma a não alterar a classe de enqua-
dramento do corpo d’água receptor.
Uma metodologia para essa análise é apresen-
tada por Cardoso da Silva e Monteiro (2004) e 
Cardoso da Silva (2007) e consiste na utiliza-
ção do balanço de massa, com base na equa-
ção de mistura. Ou seja, o lançamento de um 
efl uente – com determinada vazão e concen-
tração de poluente em um curso d’água com 
sua vazão mínima e a concentração natural 
Figura 8 – Mistura do efl uente lançado com o curso de água em sua situação natural. Fonte: Cardoso da Silva (2007).
do mesmo poluente – gerará uma mistura com 
vazão e concentração que podem ser calcula-
das pela equação de mistura. A Figura 8 de-
monstra essa mistura.
No processo de outorga para diluição de 
efl uentes, a ANA avalia os parâmetros relativos 
à temperatura, à Demanda Bioquímica de 
Oxigênio (DBO) e, em locais sujeitos à eutro-
fi zação (tais como lagos e açudes), o fósforo 
e o nitrogênio. A temperatura e a DBO são pa-
râmetros muito utilizados na caracterização de 
efl uentes, além de serem de fácil medição, so-
bretudo a temperatura. A avaliação de fósforo e 
nitrogênio faz-se necessária nos casos citados, 
visto que esses elementos servem de nutrien-
tes para plantas aquáticas, devendo ser rigoro-
samente avaliados para que não provoquem o 
crescimento excessivo de algas e prejudiquem 
a qualidade da água do corpo receptor.
Q= vazão
C= concentração do poluente
=+
Q efluente
C efluente
Q diluição
C natural
Q indisponível para diluição
C permitida pelo enquadramento
Em resumo, essa outorga é avaliada conside-
rando alguns parâmetros de qualidade predefi -
nidos pela autoridade outorgante, verifi cando o 
corpo d’água quanto à capacidade de diluição do 
efl uente a ser lançado. Essa avaliação é realiza-
da por meio de expressões decálculo que trans-
formam aspectos de qualidade em quantidade 
necessária para diluição, sempre respeitando a 
classe do enquadramento.
2.4.4 
APROVEITAMENTO 
DOS POTENCIAIS HIDRELÉTRICOS
Outro uso sujeito à outorga, segundo a legisla-
ção de recursos hídricos, é o aproveitamento 
de potenciais hidrelétricos. Nesse caso, há o 
seguinte procedimento a ser seguido, para cor-
pos d’água de domínio da União e dos estados.
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
28
Pequenas Centrais 
Hidrelétricas (PCH)
Usina 
Hidrelétrica (UHE)
Potência 1-30 MW
Área inferior a 3 km2
Potência superior
 a 30 MW
Autorização Concessão
Posteriormente, a DRDH deve ser transforma-
da, automaticamente, por solicitação da Aneel, 
em outorga para a empresa que receber sua 
autorização ou concessão. As outorgas têm vi-
gência coincidente com o respectivo prazo de 
autorização ou concessão.
No primeiro momento, a Aneel solicita à ANA 
ou ao órgão gestor estadual a DRDH, seja para 
uma pequena central hidrelétrica (PCH) seja 
para uma grande usina (UHE).
Após a obtenção da DRDH, a Aneel licita ou au-
toriza o aproveitamento do potencial hidrelétri-
co, dando uma autorização no caso das PCHs 
e uma concessão no caso de usinas hidrelétri-
cas (Figura 9). As PCHs tratam dos aproveita-
mentos com potência entre 1 MW e 30 MW e 
área de reservatório inferior a 3 km². As usinas 
hidrelétricas referem-se aos aproveitamentos 
com potência superior a 30 MW (Quadro 1).
Quadro 1 – Comparação entre PCH e UHE
Figura 9 – Usina hidrelétrica. Foto: Anna Paola Bubel / Banco de Imagens da ANA.
As análises técnicas realizadas dividem-se em 
três aspectos principais: análise hidrológica, do 
empreendimento e dos usos múltiplos.
A análise hidrológica considera a avaliação das 
condições naturais e atuais do curso d’água, as 
vazões máximas e mínimas, a curva-chave da 
seção do rio, os sedimentos em suspensão e a 
qualidade da água. 
A segunda análise, do empreendimento, consta 
da caracterização da obra e de seus impactos. 
São avaliadas as estruturas hidráulicas, o enchi-
mento do reservatório, o remanso formado, o im-
pacto sobre a qualidade da água, o assoreamen-
to, as condições de operação e o monitoramento.
A última análise realizada trata da verifi cação 
dos impactos sobre os usos múltiplos, em que 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
29
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Figura 10 – Travessia para transposição de corpo d’água.
Foto: Fátima Chagas.
Figura 11 – Curso d’água canalizado. Foto: Ricardo 
Koch / Banco de Imagens da ANA.
são verifi cadas as demandas e os consumos a 
montante, desenvolvidos cenários de cresci-
mento e avaliado o potencial uso do reservató-
rio a ser formado.
2.4.5 
OUTROS USOS QUE ALTEREM O REGIME, A QUANTIDADE OU A 
QUALIDADE DA ÁGUA EXISTENTE EM UM CORPO D’ÁGUA
Para garantir o uso múltiplo e o direito de 
acesso à água e assegurar o controle quan-
titativo e qualitativo dos usos, são considera-
dos sujeitos à outorga quaisquer outros usos 
que alterem o regime, a quantidade ou a qua-
lidade da água existente. 
Os principais usos que podem alterar o regi-
me, a qualidade ou a quantidade dos corpos 
d’água são:
• drenagem urbana;
• canalização e/ou retifi cação de curso 
d’água;
• desvio de curso d’água;
• pequenos açudes ou barramentos sem 
captação, com fi nalidades diversas como 
lazer, recreação, paisagismo ou elevação 
do nível d’água;
• reservatórios para fi ns de regulariza-
ção de vazões, perenização de cursos 
d’água ou amortecimento de cheias;
• dragagem de curso d’água para fi ns de 
limpeza ou extração de minerais;
• transposição de curso d’água por meio de 
pontes, bueiros e passagens molhadas; e
• usos difusos.
A maior parte desses usos é relacionada às in-
terferências de pequeno porte, sem alterações 
importantes nos cursos d’água. Nesse caso, 
são isentos de outorga os usos que não alte-
rem signifi cativamente o regime de vazões, a 
quantidade ou a qualidade do corpo hídrico. 
Nas Figuras 10 a 12, têm-se exemplos de usos 
que podem alterar o regime, a quantidade ou a 
qualidade da água.
No caso de outros usos, como as canalizações 
(Figura 11) e retifi cações, devem ser verifi cadas 
apenas quanto à efetiva alteração de regime, 
quantidade ou qualidade. Dependendo do porte 
da interferência, não há a necessidade de emis-
são da outorga para esses usos.
Os desvios de cursos de água também podem 
ser enquadrados entre os usos sujeitos à outor-
ga. Nesse caso, é importante verifi car se o tre-
cho desviado irá prejudicar algum uso existente 
ou previsto.
Já para os reservatórios sem captação de água 
(Figura 12), com fi nalidades diversas como o 
lazer ou a perenização de cursos d’água, deve 
também ser avaliada a sua efetiva interferência 
no regime dos cursos d’água, bem como a sua 
operação, de forma que não prejudiquem ou-
tros usuários e atendam às necessidades e às 
demandas previstas em projeto.
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
30
2.5
OUTORGA NOS ESTADOS 
Embora todos os estados tenham leis com previ-
são para a emissão de outorgas, nem todos apli-
cam esse instrumento, demonstrando variados 
estágios de implementação no País. 
Os critérios e as realidades são distintos. Por 
exemplo, os estados da Região Sul e Sudeste, 
no processo de outorga, os aspectos da quali-
dade da água são fundamentais nos usos para 
diluição de efl uentes. Já no Nordeste, os aspec-
tos de qualidade das águas são verifi cados nos 
reservatórios utilizados para aquicultura, princi-
palmente piscicultura em tanques-rede.
Estudo desenvolvido por Castro, em 2007, apre-
senta um resumo dos textos dispostos nas leis 
estaduais de recursos hídricos sobre os usos su-
jeitos à outorga, abordando aspectos como:
• as leis estaduais de recursos hídricos es-
tabelecidas antes da Lei Nacional, como 
a de São Paulo e a do Ceará, determinam 
emissão da outorga de direito de uso de 
recursos hídricos para empreendimentos 
que demandem a utilização de águas, su-
perfi ciais ou subterrâneas, para execução 
de obras ou serviços que alterem seu re-
gime, qualidade ou quantidade;
• a lei do Rio Grande do Sul defi ne que o 
órgão ambiental do estado é o respon-
sável pela emissão da outorga quando o 
Figura 12 – Açude construído com a fi nalidade de 
regularização de vazões. Foto: Ricardo Koch / Banco 
de Imagens da ANA.
uso afeta a qualidade das águas, ao con-
trário dos demais estados que preveem 
uma única entidade gestora de recursos 
hídricos responsável pela emissão de to-
das as outorgas;
• algumas leis promulgadas antes da lei 
nacional foram revogadas e novas foram 
editadas, a fi m de adequarem-se à Lei 
das Águas, como é o caso do estado de 
Minas Gerais;
• estados como o Espírito Santo, o Paraná 
e o Amapá especifi caram em suas leis de 
recursos hídricos a necessidade da outor-
ga para drenagem urbana. Esses estados 
incluíram nos usos de recursos hídricos 
sujeitos à outorga um inciso específi co 
com o seguinte texto: “intervenções de 
macrodrenagem urbana para retifi cação, 
canalização, barramento e obras similares 
que visem ao controle de cheias”.
• em alguns estados da Região Norte, em 
função de peculiaridades regionais, foram 
acrescentados outros usos da água su-
jeitos à outorga. É o caso do Amazonas, 
Amapá e Pará que incluem outros usos 
outorgáveis, como a utilização de hidrovias 
para transporte. A lei estadual do Ama-
zonas acrescenta, ainda, como sujeitos à 
outorga, usos não consuntivos que impli-
quem a exploração dos recursos hídricos 
por particulares, com fi nalidade comercial, 
incluindo a recreação e a balneabilidade.
Usos não consuntivos são aqueles que não pro-
vocam alteração no valor numérico das vazões, 
mas que podem impor restriçõesa outros usos, 
consuntivos ou não. A navegação, por exemplo, 
não capta água, não lança efl uentes e nem altera 
o regime das águas, mas impõe restrições a usos 
localizados a montante.
Para análise criteriosa de um pedido de outor-
ga, é necessário o conhecimento da realidade 
hídrica da bacia: estações de monitoramento 
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
31
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
quali-quantitativo, com séries históricas consis-
tentes, de forma a permitir o cálculo da quan-
tidade de água disponível com alto grau de 
certeza; conhecimento da demanda por água, 
não só em termos quantitativos, mas também 
os tipos de usos preponderantes, pois depen-
dendo das características dos usos, pode ser 
necessária maior garantia do acesso à água; 
existência de instrumentos regradores dos 
usos das águas na bacia, tais como enquadra-
mento, áreas de restrição de uso e prioridades 
para outorga. Todas essas informações devem 
ser consideradas na determinação dos critérios 
para emissão das outorgas, pois estas devem 
garantir o acesso da água aos usuários, de 
acordo com os termos da outorga, inclusive em 
períodos de escassez hídrica.
Os critérios adotados pelas instituições ou-
torgantes permitem constatar que as vazões 
de referência utilizadas para avaliação dos pe-
didos de outorga, bem como os percentuais 
considerados outorgáveis, são bastante di-
versificados no País. Esse fato representa 
um importante desafio para a articulação 
entre os órgãos gestores, na prática da ges-
tão compartilhada de bacias hidrográficas. 
O Quadro 2 indica os critérios adotados por 
alguns órgãos para a outorga de captações 
de águas superficiais.
Órgão gestor Vazão máxima outorgável
Legislação referente à vazão 
máxima outorgável
ANA
70% da Q95 podendo variar em função das peculia-
ridades de cada região. Até 20% para cada usuário
Não existe, em função das peculiarida-
des do país, podendo variar o critério
Inema-BA 80% da Q90. Até 20% para cada usuário Decreto Estadual nº 6.296/1997
SRH-CE 90% da Q90reg Decreto Estadual nº 23.067/1994
Semarh-GO 70% da Q95 Não possui legislação específi ca
Igam-MG
30% da Q7,10 para captações a fi o d’água e em 
reservatórios, podem ser liberadas vazões supe-
riores, mantendo o mínimo residual de 70% da 
Q7,10 durante todo o tempo
Portarias do Igam nº 010/1998 e 
007/1999
Aesa-PB
90% da Q90reg. Em lagos territoriais, o limite ou-
torgável é reduzido em 1/3
Decreto Estadual nº 19.260/1997
Ipáguas-PR 50% da Q95 Decreto Estadual nº 4.646/2001
Apac-PE Depende do risco que o requerente pode assumir Não existe legislação específi ca
Semar-PI 80% da Q95 (rios) e 80% da Q90reg (açudes) Não existe legislação específi ca
Igarn-RN 90% da Q90reg Decreto Estadual nº 13.283/1997
DAEE-SP
50% da Q7,10 por bacia. Até 20% da Q7,10 para 
cada usuário
Não existe legislação específi ca
Semarh-SE 100% da Q90. Até 30% da Q90 para cada usuário Não existe legislação específi ca
Naturatins-TO
75% Q90 por bacia. Até 25% da Q90 para cada 
usuário. Para barragens de regularização, 75% 
da vazão de referência adotada
Decreto estadual aprovado pela 
Câmara de outorga do Conselho 
Estadual de Recursos Hídricos
Fonte: Ana (2007)
Quadro 2 – Critérios adotados para outorga de captação de águas superfi ciais
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
32
Estudos da ANA (2007) ressaltam que os es-
tados do semiárido emitem outorgas até limi-
tes de percentuais superiores em relação a 
estados situados em áreas de maior disponi-
bilidade hídrica, como Minas Gerais, Paraná 
e São Paulo.
De acordo com os estudos do Geo Brasil (2007), 
a defi nição da vazão outorgável, para além de 
critérios meramente hidrológicos, deve consi-
derar as opções e metas de desenvolvimento 
social e econômico que se pretende atingir, con-
siderando a capacidade de suporte do ambiente.
A diversidade de critérios também passa pela de-
fi nição quanto aos valores relativos aos usos de 
pouca expressão, como pode ser visto no Qua-
dro 3. Esses valores foram considerados como 
referências iniciais, mas é preciso que sejam fei-
tos estudos para avaliar a pertinência compatível 
com os principais usos e a disponibilidade dos 
recursos hídricos das bacias de cada região.
Órgão
 gestor
Limites máximos de vazões consideradas 
de pouca expressão
Legislação referente à defi nição 
das vazões de pouca expressão
Inema-BA 0,5 L/s Decreto Estadual nº 6.296/1997
SRH-CE
2,0 m /h (0,56 L/s – para águas superfi ciais 
e subterrâneas)
Decreto Estadual nº 23.067/1994
Igam-MG
1,0 L/s para a maior parte do Estado e 0,5 L/s 
para as regiões de escassez (águas superfi ciais)
10,0 m /dia (águas subterrâneas)
Deliberação CERH-MG nº 09/2004
Aesa-PB
2,0 m /h (0,56 L/s – para águas superfi ciais 
e subterrâneas)
Decreto Estadual nº 19.260/1997
Ipáguas-PR 1,0 m³/h (0,3 L/s)
Apac-PE
0,5 L/s ou 43 m /dia (águas superfi ciais)
5,0 m /dia (águas subterrâneas para abasteci-
mento humano)
Decreto Estadual nº 20.423/1998
Igarn-RN 1,0 m /h (0,3 L/s) Decreto Estadual nº 13.283/1997
Sema-RS Média mensal até 2,0 m /dia (águas subterrâneas) Decreto Estadual nº 42047/2002
DAEE-SP 5,0 m /dia (águas subterrâneas) Decreto Estadual nº 32.955/1991
Semarh-SE 2,5 m /h (0,69 L/s) Resolução nº 01/2001
Naturatins-TO 0,25 L/s ou 21,60 m /dia Portaria Naturatins nº 118/2002
Fonte: Ana (2007)
Quadro 3 – Vazões de pouca expressão por estado
OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
33
2 OUTORGA DE DIREITO DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS
Há grande variação entre os estados brasilei-
ros com relação ao instrumento outorga. Como 
fazer, então, quando uma bacia é composta por 
território de mais de um estado? Como fi ca a 
gestão da água por bacia, um dos fundamen-
tos da Política Nacional de Recursos Hídricos? 
Faz-se necessária a existência de mecanismos 
que contribuam para a harmonização de crité-
rios e integração dos entes envolvidos com a 
gestão da água na bacia. Esse é um dos prin-
cipais desafi os da PNRH.
2.6
PASSOS PARA OBTENÇÃO DA OUTORGA
Para solicitar a outorga na ANA, o interessado de-
verá cadastrar o seu empreendimento no Cnarh 
(www.cnarh.ana.gov.br), imprimir a Declaração 
de Uso e enviar juntamente com os formulários 
e estudos específi cos de cada fi nalidade de uso 
para a Superintendência de Regulação (SRE). 
A documentação pode ser entregue diretamente no 
Protocolo Geral da ANA ou enviada pelos Correios. 
Na página da ANA (www.ana.gov.br) podem ser 
acessados os formulários necessários para dar 
entrada com os pedidos de outorga e a lista dos 
documentos e os estudos específi cos. 
O acompanhamento dos pedidos de outorga 
protocolados na ANA pode ser feito pelo site, 
acessando “biblioteca”, “centro de documenta-
ção” e o “protocolo geral”. A pesquisa pode ser 
feita pelo nome do requerente, pelo número do 
documento ou pelo número do processo. O in-
teressado também pode entrar em contato por 
telefones ou e-mail. A solicitação de outorga na 
ANA é gratuita, bem como a sua publicação.
Os usuários de recursos hídricos poderão so-
licitar a outorga de direito de uso de recursos 
hídricos, a sua renovação, alteração ou transfe-
rência de titularidade. A renovação da outorga 
deverá ser requerida à ANA com antecedência 
mínima de 90 dias da data de término do prazo 
de validade da outorga.
Cada estado dispõe de procedimentos e formulá-
rios próprios. O interessado deve entrar em conta-
to com o respectivo órgão para mais informações. 
Pelo site da ANA, é possível localizar os links para 
os órgãos estaduais responsáveis pelas outorgas.
CADERNOS DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – VOLUME 6
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