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Recurso Jurisdicional de Nacionalidade Portuguesa

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JURISPRUDÊNCIA
ACORDAM EM CONFERÊNCIA NO 2º JUÍZO DO TRIBUNAL CENTRAL ADMINISTRATIVO SUL
I. RELATÓRIO
A..., com os sinais dos autos, veio interpor recurso jurisdicional da sentença do TAC de Lisboa, datada de 22-12-2009, que julgou procedente a acção especial de oposição à aquisição de nacionalidade portuguesa, intentada pela Digna Magistrada do Ministério Público junto daquele tribunal.
Para tanto, formulou as seguintes conclusões:
“A) Vem o presente recurso interpor da douta sentença de 22-12-2009 que concedeu provimento ao autor e julgou procedente a oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa e em consequência determinou o arquivamento do processo de registo pendente na Conservatória dos Registos Centrais.
B) Não se conformando a ora recorrente com a mesma e entendendo que a douta sentença recorrida enferma de ilegalidade, vem a mesma apresentar recurso.
C) Nos termos do artigo 9º da Lei da Nacionalidade [bem como artigo 56º, nº 2 do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa, aprovado pelo Decreto-Lei nº 237-A/2006, não está em causa aferir da ligação efectiva mas sim da inexistência de ligação efectiva à comunidade nacional.
D) Questões substancialmente diferentes.
E) A mencionada ligação efectiva à comunidade nacional é verificada através de circunstâncias objectivas que revelem um sentimento de pertença a essa comunidade, como é o caso da língua, relações de amizade, ligações profissionais com portugueses, domicílio, hábitos sociais, apetências culturais, inserção económica e ainda interesse pela história e realidade presente do país.
F) Neste sentido vai o Acórdão do STJ, de 5-12-2002 [Processo nº 02B3582], disponível em www.dgsi.pt/jstj e ainda o Acórdão do STJ, de 11-1-2001 [Processo nº 3534/00];
G) Os factos relevantes para a aquisição de nacionalidade são também a declaração do próprio interessado em adquirir a nacionalidade portuguesa, o que em 22 de Agosto de 2008, a recorrente declarou querer adquirir a Nacionalidade Portuguesa, nos termos do artigo 3º da Lei nº 37/81, de 3 de Outubro, com base na união de facto, bem como a junção de prova que contrariou a oposição deduzida pelo Ministério Público, nomeadamente, a inexistência de ligação efectiva à comunidade nacional pois juntou documentos que comprovam a sua efectiva ligação à comunidade nacional.
H) Não se afigura exigível à recorrente a demonstração de uma maior ligação a Portugal, do que aquela que resulta da normal e diária convivência familiar, com o marido português, convivência essa de há mais de sete anos, quer tenha sido em tempo de namoro, união de facto e casamento!
I) A ora recorrente vive no seio de uma família portuguesa alargada além da família portuguesa que regularmente visita em Portugal.
J) A recorrente casada com um português, filho de um português, a sua inserção na comunidade portuguesa presente no Rio de Janeiro é intensa, contínua e ininterrupta, participando a mesma no dia a dia cultural da referida comunidade.
K) Espírito partilhado quer em Portugal quer no Brasil, não só com os familiares mas também com os amigos da sua família.
L) Provas bastantes e suficientes da ligação efectiva à comunidade nacional portuguesa do Brasil, com a qual resulta comprovada a sua identificação no seio do meio onde vive.
M) Nos termos do artigo 57º, nº 1 do Regulamento, dispõe-se que "quem requeira a aquisição da nacionalidade portuguesa, por efeito da vontade ou por adopção, deve pronunciar-se sobre a existência de ligação efectiva à comunidade nacional e sobre o disposto nas alíneas b) e c) do nº 2 do artigo anterior".
N) O que foi feito e bem pela ora recorrente.
O) Neste sentido, vide a jurisprudência do STJ [Acórdão de 25-2-1993, Recurso nº 83.422], onde se considerou que "os fundamentos de oposição à aquisição derivada da nacionalidade portuguesa, considerados no artigo 9º da Lei nº 37/81 de 03/10, constituem meros indícios de factores impeditivos da aquisição da nacionalidade [...] e que carecem de ser completados com a prova de outros factores que sejam expoentes manifestos dessa indesejabilidade...".
P) Se tais pressupostos não passam de factores que podem obstaculizar a aquisição derivada da nacionalidade portuguesa, então haverá que reconhecer que quem os alegar tem de demonstrar a sua existência.
Q) Incumbia ao Ministério Público, como autor da oposição, o ónus de provar a existência de factos que tornam impeditivo o direito [aquisição à nacionalidade].
R) No caso da sentença ora recorrida, não pode considerar-se satisfeito o ónus probatório que recaía sobre o Ministério Público e não se pode afirmar que conseguiu refutar a prova que a ora recorrente fez da sua ligação à comunidade nacional.
S) Tal como decidido no Acórdão do TCA Sul, de 13-11-2008 [Recurso nº 03697/08] e Acórdão do TCA Sul [Processo nº 03697/2008];
T) Invoca ainda a douta sentença recorrida como fundamento de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa, o facto de a ora recorrente exercer no Brasil as funções de Promotor de Justiça, o que entende consubstanciar o exercício de funções públicas sem carácter predominantemente técnico.
U) Quanto às suas funções de "Promotora de Justiça substituta", exercidas pela ora recorrente há que atentar no facto de que há uma profunda divergência quanto à natureza jurídica do cargo de Promotor de Justiça em Portugal e no Brasil.
V) A começar pelo título de Magistrado que um membro do Ministério Público Português ostenta em Portugal, em divergência com o que ocorre no Brasil, onde o Promotor de Justiça não é membro do Poder Judiciário.
X) De facto, basta analisar a certidão de casamento da ora recorrente, junta aos autos, onde se verifica que o seu marido é qualificado como Magistrado e a ora recorrente como Promotora de Justiça.
W) Com efeito, é opinião geral dos maiores especialistas brasileiros em Direito Administrativo, que um membro do Ministério Público no Brasil não é agente político, possuindo perfil meramente técnico.
Y) É notória a diferença entre Magistrado do Ministério Público Português e Promotor de Justiça do Ministério Público Brasileiro, em virtude do aspecto meramente técnico conferido à função este último, pelo que se considera provado serem de índole predominantemente técnica as funções exercidas pela ora recorrente.
Z) Face a todo o exposto, deve a sentença ora recorrida ser julgada improcedente, e em consequência ser dado provimento ao presente recurso fazendo-se a habitual e acostumada JUSTIÇA”.
O recorrido não contra-alegou.
Colhidos os vistos legais, vêm os autos à conferência para julgamento.
II. FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO
A sentença recorrida considerou provada, com base nos documentos juntos aos autos, a seguinte factualidade:
i. A... fez dar entrada na Conservatória dos Registos Centrais em 22 de Agosto de 2008 de "Declaração para aquisição da nacionalidade portuguesa" com fundamento em viver em união de facto com cidadão português há mais de três anos – cfr. doc. de fls. 13 dos autos.
ii. A... nasceu em 6 de Agosto de 1975 no Estado brasileiro da Bahia – cfr. doc. de fls. 14 dos autos.
iii. Filha de Francisco Gualberto de Faria Alvim e de Maria de Lourdes Mendonça Alvim, ambos cidadãos brasileiros – cfr. doc. de fls. 14 dos autos.
iv. A... é cidadã nacional da República Federativa do Brasil – cfr. docs. de fls. 18, 19, 20 e 21 dos autos.
v. A... reside habitualmente na rua Domingos Ferreira, 170 AP 104, Copacabana, Rio de Janeiro, Brasil – cfr. docs. de fls. 12 e de fls. 24 dos autos.
vi. Em 26 de Junho de 2008 A... vivia em regime de união de facto há mais de três anos com João Filipe Nunes Ferreira Mourão – cfr. doc. de fls. 24 dos autos.
vii. João Filipe Nunes Ferreira Mourão é cidadão nacional português, natural do Brasil – cfr. docs. de fls. 25 e 33 dos autos.
viii. A... exerce o cargo de Promotor de Justiça, no qual foi investida em 1-7-2005, tendo em vista a sua aprovação no XXVII Concurso Público para ingresso na Carreira do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, e “vitaliciada” em 1-9-2007, exercendo as funçõesinstitucionais do Ministério Público elencadas no artigo 129º da Constituição da República Federativa do Brasil – cfr. doc. de fls. 47 dos autos.
ix. A... casou no Rio de Janeiro com João Filipe Nunes Ferreira Mourão em 6 de Setembro de 2008 – cfr. cópia de certidão de fls. 78 dos autos.
x. A... visitou Portugal em Abril de 2007 – cfr. doc. de fls. 22 dos autos.
xi. A... visitou Portugal em Maio de 2009 – cfr. doc. de fls. 100 dos autos.
xii. Nas visitas que fez a Portugal A... esteve em Vila Real, Lisboa [onde visitou a Torre de Belém e o Monumento aos Descobrimentos], a cidade do Porto, e a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra – cfr. docs. de fls. 79 a 86 dos autos.
III. FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
Como se viu, o objecto do presente recurso jurisdicional é a sentença do TAC de Lisboa, datada de 22-12-2009, que julgou procedente a acção especial de oposição à aquisição de nacionalidade portuguesa intentada pelo Ministério Público contra A..., ao abrigo das disposições conjugadas dos artigos 5º, 9º, alíneas a) e c), 10º, nº 1, 25º e 26º, da Lei nº 37/81, de 3/10 [Lei da Nacionalidade], na redacção introduzida pelo artigo 1º da Lei Orgânica nº 2/2006, de 17/4, e artigos 4º do DL nº 237-A/06, de 14/12, e 56º e segs. do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa, aprovado pelo mesmo DL.
E fê-lo por ter vislumbrado dois fundamentos de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa: não se ter provado qualquer circunstância que pudesse revelar um sentimento estável de pertença à comunidade nacional portuguesa e pelo facto daquela, promotora de justiça no Brasil, exercer funções públicas sem carácter predominantemente técnico, o que no entender da sentença recorrida integra inequivocamente o fundamento de oposição previsto na alínea c) do artigo 9º da Lei nº 37/81, de 3/10 [Lei da Nacionalidade], na redacção introduzida pelo artigo 1º da Lei Orgânica nº 2/2006, de 17/4.
Inconformada, a ré pede a revogação da sentença sob censura, alegando para tanto que fez prova da sua efectiva ligação à comunidade nacional e, por outro lado, que as funções de promotor de justiça que exerce no Brasil correspondem, nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil, a funções públicas com carácter predominantemente técnico, pelo que também não se mostra verificado o fundamento de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa previsto na alínea c) do artigo 9º da Lei nº 37/81, de 3/10 [Lei da Nacionalidade].
Vejamos então se assiste razão à recorrente, começando por apreciar a justeza do decidido no tocante à verificação do fundamento de oposição previsto na alínea c) do artigo 9º da Lei nº 37/81, de 3/10, posto que verificado este, fica irremediavelmente comprometido o êxito do presente recurso jurisdicional, de nada valendo a demonstração da existência da efectiva ligação da recorrente à comunidade nacional.
Isto dito, importa determinar se, face à Constituição da República Federativa do Brasil, o exercício das funções de Promotor de Justiça da carreira do Ministério Público no Estado do Rio de Janeiro, corresponde ao exercício de funções [de natureza pública] com carácter predominantemente técnico.
Nos termos do artigo 127º, corpo, da Constituição da República Federativa do Brasil, “o Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático dos interesses sociais e individuais indisponíveis”, estabelecendo o seu § 1º que “são princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional”.
E, nos termos do artigo 129º, nºs I a IX, da Constituição da República Federativa do Brasil, constituem funções institucionais do Ministério Público, entre outras, “a promoção da acção penal pública, a promoção da acção de inconstitucionalidade, o exercício do controle externo da actividade policial e a requisição de diligências de investigação e a instauração de inquérito policial”.
De acordo com o ensinamento do Prof. Jorge Miranda, no Manual de Direito Constitucional, Tomo V, 2ª edição, a págs. 29, citado na decisão recorrida, na função jurisdicional do Estado “define-se o Direito [iuris dictio] em concreto, perante situações da vida [litígios entre particulares, entre entidades públicas e entre particulares e entidades públicas, e aplicação de sanções], e em abstracto, na apreciação da constitucionalidade e da legalidade de actos jurídicos [maxime, de actos normativos]”.
Ora, tal como entendeu a sentença recorrida, a Constituição da República Federativa do Brasil estabelece inequivocamente que o Ministério Público integra ainda a função jurisdicional do Estado, razão pela qual se afigura não ser possível qualificar o exercício das funções dos respectivos agentes como sendo predominantemente técnicas, já que os mesmos detêm uma ligação e envolvência de tal forma intensa com o Estado brasileiro [como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado] que justifica a inviabilização duma ligação ao Estado Português, mesmo através da aquisição derivada da nacionalidade, constituindo por isso o exercício dessas funções – de carácter não predominantemente técnico, repita-se – fundamento de oposição à aquisição da nacionalidade portuguesa, tal como previsto na alínea c) do artigo 9º da Lei da Nacionalidade.
E, sendo assim, fica desde logo prejudicada a apreciação da inexistência do outro fundamento – a efectiva ligação da recorrente à comunidade nacional – que a sentença recorrida teve por verificado.
Destarte, improcedem todas as conclusões da alegação da recorrente.
IV. DECISÃO
Nestes termos, e pelo exposto, acordam em conferência os Juízes do 2º Juízo do TCA Sul, em negar provimento ao presente recurso jurisdicional e confirmar a decisão recorrida.
Sem custas.
Decisão do texto integral:
Acordam no Supremo Tribunal de Justiça:
I
O Ministério Público intentou, no dia 22 de Junho de 2004, contra A, acção declarativa de apreciação negativa, com processo especial, pedindo a declaração de falta de fundamento legal para a aquisição por ela da nacionalidade portuguesa e a ordem de arquivamento do processo administrativo tendente ao registo daquela aquisição pendente na Conservatória dos Registos Centrais, com fundamento na falta de prova dos factos integrantes da sua ligação efectiva à comunidade portuguesa.
A ré afirmou, em contestação, no dia 2 de Agosto de 2004, ter uma filha portuguesa, nascida em Portugal no dia 17 de Setembro de 2001, por ela educada de harmonia com os costumes portugueses, trabalhar com o cônjuge, B, num bazar deste último, manter o conhecimento tão actual quanto possível dos acontecimentos relacionados com o panorama nacional e ser considerada e respeitada no bairro onde reside e no local onde exerce a sua actividade.
Foi produzida prova por declarações, diligência que terminou no dia 18 de Novembro de 2004, e a ré e o autor apresentaram alegações, a primeira no sentido de haver provado a sua ligação efectiva à comunidade nacional, e o último no sentido contrário, e os vistos aos juízos começaram no dia 15 de Dezembro de 2004.
A Relação, por acórdão proferido no dia 17 de Fevereiro de 2005, julgou a acção procedente, com fundamento em a ré não haver demonstrado a sua efectiva ligação à comunidade nacional.
Interpôs a ré recurso de apelação, formulando, em síntese, as seguintes conclusões de alegação:
- a ligação à comunidade nacional decorre de factores como a língua, a família, a cultura, as relações de amizade, a integração sócio-económica, reveladores de um sentimento em relação à comunidade portuguesa;
- os factos provados revelam a sua efectiva ligação à comunidade portuguesa em tudo semelhante à generalidade dos cidadãos portugueses;
- o acórdão recorrido infringiu, além do mais, o direito fundamental à nacionalidade portuguesa e da unidade da nacionalidade familiar previstos nos artigos 26º e 67º da Constituição;
- em consequência, deve ser revogado, concedendo-se a nacionalidadeportuguesa à recorrente e ordenando-se o respectivo registo.
Respondeu o autor, em síntese de conclusão de alegação:
- a recorrente está, em relação à comunidade nacional, - prevalentemente, em fase de abordagem, mas preservando as suas origens, gostos, alimentação e tradições;
- exige-se um maior aprofundamento e intensificação do entrosamento para a integração social, psicológica e cultural na comunidade nacional;
- a recorrente não revela estar em situação de integração efectiva na comunidade nacional, pelo que deve manter-se o acórdão recorrido.
II
É a seguinte a factualidade declarada provada no acórdão recorrido:
1. B nasceu no dia 17 de Maio de 1969, em Diu, República da Índia, filho de C e de D.
2. A ré nasceu no dia 4 de Julho de 1972 em Botad, Bhavnagar, República da índia, filha de E e de F, e tem a nacionalidade indiana.
3. B e a ré casaram um com o outro, no dia 5 de Julho de 1995, na Conservatória do Registo Civil de Diu, República da Índia.
4. Foi atribuída a B a nacionalidade portuguesa, à luz do artigo 1º, nº 1, alínea b), da Lei nº 37/81, de 3 de Outubro, a qual foi objecto de registo civil no dia 2 de Março de 2000.
5. A ré veio para Portugal em 1998 e o casamento mencionado sob 3 foi objecto do assento nº 374-A, lavrado na Conservatória dos Registos Centrais, Lisboa, no dia 23 de Julho de 2001.
6. G, nascida no dia 17 de Setembro de 2001, na freguesia de São Jorge de Arroios, município de Lisboa, é filha da ré e de B, cujo assento de nascimento, com o nº 15/2002, foi lavrado no dia 4 de Janeiro de 2002 na 11ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa.
7. O Posto Marítimo Fiscal de Imigração da Estação de Polícia Sihor, Distrito Bhavnagar, Diu, República da Índia, e a Direcção dos Serviços de Identificação Criminal da Direcção-Geral da Administração da Justiça, Ministério da Justiça, República Portuguesa certificaram, nos dias 27 de Janeiro de 2003 e 23 de Maio de 2003, respectivamente, nada constar sobre a ré no registo criminal.
8. A ré declarou, no dia 27 de Junho de 2003, na Conservatória do Registo Civil de Moscavide, pretender adquirir a nacionalidade portuguesa.
9. A ré trabalha com B na exploração de uma loja do tipo loja dos trezentos, cumpre as suas obrigações fiscais, é utente do Serviço Nacional de Saúde e visitou algumas regiões do País.
10. Não obstante atender os clientes na sua loja, tem dificuldade de leitura da língua portuguesa e na sua compreensão.
11. É praticante do culto hindu, mas permeável a certos costumes ocidentais, designadamente vestir-se em conformidade com eles e permitir à filha a educação na escola portuguesa.
12. Não pretende sair do País porque - segundo afirma - gosta de Portugal, das suas gentes e do seu modo de vida
III
A questão essencial decidenda é a de saber se ocorre ou não fundamento legal para a recusa da aquisição da nacionalidade portuguesa por parte da recorrente.
Tendo em conta o conteúdo do acórdão recorrido e das conclusões de alegação da recorrente e da recorrida, a resposta à referida questão pressupõe a análise da seguinte problemática:
- devem ou não manter-se no processo os documentos que a recorrente apresentou com as alegações no recurso de apelação?
- síntese do núcleo de facto relevante no recurso;
- regime legal envolvente dos factos declarados provados pela Relação;
- ocorrem ou não na espécie os pressupostos positivos e negativos de aquisição da nacionalidade portuguesa pela recorrente?
- síntese da solução para o caso espécie decorrente dos factos e da lei.
Vejamos, de per se, cada uma das referidas sub-questões.
1.
Comecemos pela análise da questão de saber se devem ou não manter-se no processo os documentos que a recorrente apresentou com as alegações de recurso.
Trata-se, por um lado, de uma declaração emitida no dia 1 de Março de 2005 por uma agente do Centro de Estudos e Formação de Informática da Base Informática, no sentido de que a recorrente lá frequentava, desde 2 de Dezembro de 2004, um curso de português para estrangeiros.
E, por outro, de um cartão revelador de que a recorrente era sócia da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Amadora desde 14 de Julho de 2004, e de um outro cartão, não datado, revelador da sua aderência ao Unimed.
A recorrente não articulou no instrumento de contestação da acção nem em qualquer outro articulado os factos a que os mencionados documentos se reportam, pelo que, mesmo no quadro da acção, não podiam realizar a função probatória que lhes é própria (artigo 362º do Código Civil).
O recurso de apelação para o Supremo Tribunal de Justiça em análise segue os termos do recurso de revista (artigo 26º, nº 2, do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa).
A lei expressa a lei que às alegações de recurso de revista podem juntar-se documentos supervenientes, sem prejuízo do disposto no n.º 2 dos artigos 722º e 729º do Código de Processo Civil (artigo 727º do Código de Processo Civil).
A mencionada ressalva tem a ver com a regra da proibição de o Supremo Tribunal de Justiça sindicar o juízo da Relação sobre a apreciação das provas e a fixação dos factos materiais da causa.
Com efeito, o Supremo Tribunal de Justiça só pode conhecer do erro na
apreciação das provas e da fixação dos factos materiais da causa quando houver ofensa de alguma disposição expressa da lei que exija certa espécie de prova para a existência do facto ou que fixe determinado meio de prova, ou seja, em casos de prova vinculada.
Acresce que a superveniência dos documentos a que o artigo 727º do Código de Processo Civil se reporta é aferida em função do momento em que se iniciarem os vistos aos juízes (artigo 706º, nº 2, do Código de Processo Civil).
Nessa perspectiva, no recurso de revista propriamente dito, são supervenientes os documentos formados ou conhecidos pelo apresentante depois do início do procedimento de vistos aos juízes no recurso de apelação.
Todavia, porque estamos um primeiro grau de recurso, impõe-se, em termos de adaptação, que o referencial da mencionada superveniência seja o momento do encerramento da discussão (artigo 524º, nº 1, do Código de Processo Civil).
Nesta perspectiva, o primeiro dos referidos documentos é superveniente, o segundo não o é, e ignora-se sobre se o terceiro o é ou não.
Mas a questão da superveniência não assume aqui qualquer relevo, porque os mencionados documentos, conforme acima se referiu, não podem funcionar com vista à prova de algum facto articulado pela recorrente.
Em consequência são os mencionados documentos absolutamente impertinentes e, consequentemente, devem ser mandados retirar do processo e entregar à recorrente (artigo 543º, nº 1, do Código de Processo Civil).
Trata-se de um incidente do processo para efeito de condenação no pagamento de custas (artigo 543º, nº 1, do Código de Processo Civil e 16º, nº 1, do Código das Custas Judiciais).
Em consequência é a recorrente responsável pelo pagamento das custas do incidente (artigo 543º, nº 1, e 16º, nº 1, do Código das Custas Judiciais).
Tendo em contra o valor da causa e a simplicidade do incidente em causa, julga-se adequado, tendo em conta o princípio da proporcionalidade, fixar a taxa de justiça no montante correspondente a uma unidade de conta (artigo 16º, nº 1, do Código das Custas Judiciais).
2.
Atentemos agora na síntese do núcleo de facto relevante no recurso de apelação interposto pela recorrente.
B casou com a ré há cerca de dez anos, em Diu, República da Índia.
Entretanto, há cerca de dez anos, ele adquiriu a nacionalidade portuguesa por virtude de ter nascido no estrangeiro de pai português ou de mãe portuguesa e haver declarado expressamente ou por via de inscrição do seu nascimento no registo civil português (alínea b) do artigo 1º da Lei da Nacionalidade Portuguesa).
Há cerca de sete anos, veio a ré para Portugal e, há cerca de quatro anos, ocorreu o registo em Portugal do seu casamento, ou seja, um ano depois de haver sido operado o registo da aquisição da nacionalidade portuguesa por parte doseu cônjuge a que acima se fez referência.
Quando a ré vivia em Portugal há cerca de três anos, isto é, há cerca de quatro anos, nasceu G, portuguesa, filha dela e de B.
Cerca de cinco anos depois de viver em Portugal, ou seja, há cerca de dois anos, a ré declarou pretender adquirir a nacionalidade portuguesa.
Trabalha com o cônjuge na exploração de uma loja do tipo loja dos trezentos, cumpre as suas obrigações fiscais e é utente do Serviço Nacional de Saúde.
Não obstante atender os clientes na referida loja, tem dificuldade de leitura e de compreensão da língua portuguesa.
É permeável a certos costumes ocidentais, designadamente vestindo-se em conformidade com eles e permitindo à filha a educação na escola portuguesa.
Pratica o culto hindu, visitou algumas regiões do nosso País e afirmou não pretender deixá-lo, por dele gostar, tal como das suas gentes e modo de vida.
3.
Vejamos agora o regime legal aplicável aos factos declarados provados pela Relação.
A todos é reconhecido o direito à cidadania, e a família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à protecção do Estado e da sociedade e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros (artigos 26º, nº 1 e 27º, nº 1, da Constituição).
No que concerne à lei ordinária, esta expressa, além do mais, que o cidadão estrangeiro casado há mais de três anos com nacional português pode adquirir a nacionalidade portuguesa mediante declaração feita na constância do matrimónio (artigo 3º, n.º 1, da Lei 37/81, de 3 de Outubro, alterada pela Lei n.º 25/94, de 19 de Agosto, e 11º, n.º 1, do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa).
É essencialmente relevante para o estabelecimento do vínculo de nacionalidade a vontade do interessado estrangeiro, verificado que seja o pressuposto do casamento com nacional português há mais de três anos, de algum modo sob motivação da protecção do interesse da unidade da nacionalidade familiar.
Todavia, apesar do interesse da família nuclear da unidade de nacionalidade de pais e filhos, a lei não o arvorou em elemento suficiente ou particularmente relevante para a aquisição da nacionalidade por estrangeiros com fundamento em casamento com cidadãos portugueses.
Com efeito, a lei prescreve, por um lado, que a aquisição da nacionalidade pelo estrangeiro casado há mais de três anos com um nacional português que manifeste a vontade nesse sentido depende da não verificação de algum dos fundamentos de oposição a essa aquisição, designadamente a não comprovação pelo interessado de ligação efectiva à comunidade nacional, a prática de crime punível com pena de prisão de máximo superior a três anos segundo a lei portuguesa, e o exercício de funções públicas ou a prestação de serviço militar não obrigatório a Estado estrangeiro (artigo 9º, alíneas a) a c), da Lei n.º 37/81, de 3 de Outubro).
E, por outro, dever o interessado na aquisição da nacionalidade portuguesa pelo casamento comprovar a sua ligação efectiva à comunidade nacional, por qualquer meio de prova - documental, testemunhal ou outro legalmente admissível (artigo 22º, n.º 1, alínea a), do Regulamento da Nacionalidade Portuguesa).
Assim, o elemento ligação efectiva à comunidade nacional constitui, efectivamente, um pressuposto da aquisição da nacionalidade portuguesa pelo estrangeiro casado com nacional português há mais de três anos, a par da manifestação da sua vontade nesse sentido.
Visa evitar que por via do casamento com cidadão português assumam o estatuto de membro na nossa comunidade de pessoas que pouco ou nada tenham de comum com ela.
Não define a lei o que deve entender-se por ligação efectiva à comunidade nacional. Mas ela tem a ver com a identificação, por parte do interessado, com a comunidade nacional, como realidade complexa em que se incluem factores objectivos de coesão social.
A ligação efectiva à comunidade nacional portuguesa envolve, naturalmente, factores vários, designadamente o domicílio, a língua falada e escrita, os aspectos culturais, sociais, familiares, de amizade, económicos, profissionais e outros, reveladores de um sentimento de pertença à comunidade portuguesa, em Portugal ou no estrangeiro.
Não é despiciendo para o efeito, além do mais, como meros índices da ligação efectiva à comunidade portuguesa, a fixação com carácter de permanência em Portugal do próprio e dos seus familiares, o trabalho em Portugal, a aprendizagem e a prática da língua portuguesa, as relações sociais, humanas, de integração cultural, de participação na vida comunitária portuguesa, designadamente em associações culturais, recreativas, desportivas, humanitárias e de apoio, bem como a nacionalidade portuguesa dos filhos.
Tendo em conta a fácil mobilidade das pessoas entre países e continentes, a integração de Estados em comunidades várias, num quadro de globalização, o aspecto linguístico não pode ser considerado essencialmente relevante no âmbito da ligação efectiva à comunidade nacional, devendo ponderar-se o facto de o candidato à nacionalidade portuguesa ser um estrangeiro, em regra oriundo de comunidade cultural e socialmente diversa da portuguesa.
Para a avaliação do pressuposto ligação efectiva à comunidade nacional releva a voluntária aproximação do interessado à comunidade nacional portuguesa, em termos de se poder concluir sobre a sua identificação cultural e social com ela.
4.
Atentemos agora sobre se ocorrem ou não, na espécie, os pressupostos positivos e negativos de aquisição da nacionalidade portuguesa pela recorrente.
Estão preenchidos os requisitos do casamento da recorrente com um cidadão português há mais de três anos e de manifestação da vontade daquela, durante a constância do matrimónio, no sentido de adquirir a nacionalidade portuguesa.
Ademais, não estão provadas a prática pela recorrente de crime nem o exercício de funções públicas ou a prestação de serviço militar não obrigatório a Estado estrangeiro.
Resta, pois, verificar se os factos provados revelam ou não a ligação efectiva da recorrente à comunidade nacional portuguesa.
Conforme resulta do acima exposto, a circunstância de a recorrente atender os clientes no estabelecimento, cumprir as suas obrigações fiscais e ser utente do Serviço Nacional de Saúde, por se tratar de elementos de natureza económica e profissional, não permite a conclusão da sua ligação efectiva à comunidade nacional.
Acresce, embora só por si, conforme já se referiu, não fosse o bastante para excluir o conceito de ligação efectiva da recorrente à comunidade nacional, que ela experimenta dificuldade de leitura e de compreensão da língua portuguesa.
Ademais, os elementos objectivos da sua permeabilidade ao costume ocidental relativo ao vestuário que usa, da sua permissão à filha da sua educação na escola portuguesa e da sua a visita de algumas regiões do nosso País também não revelam a aludida integração comunitária.
A mesma irrelevância ocorre, para o mencionado efeito, com o elemento subjectivo de a recorrente gostar de Portugal, das suas gentes e do modo de vida delas.
Oriunda de uma sociedade culturalmente diversa da sociedade portuguesa, não revela em relação a ela aproximação voluntária tal que permita, em termos de razoabilidade, a conclusão da sua identificação social e cultural com ela.
Na realidade, os factos provados não revelam, em termos de razoável aproximação, a comunhão da recorrente com os costumes, a tradição e a cultura que caracterizam a comunidade nacional portuguesa.
Em consequência, tal como foi considerado pela Relação, a conclusão não pode deixar de ser no sentido de que a recorrente não cumpriu o ónus de alegação e de prova dos factos reveladores de que está efectivamente integrada na comunidade nacional portuguesa.
Por outro lado, ao invés do que a recorrente afirmou, tendo em conta o conteúdo dos artigos 26º, nº 1 e 67º, nº 1, da Constituição, a interpretação que a Relação fez das supracitadas normas ordinárias da lei da nacionalidade não infringiu o disposto naqueles artigos da lei fundamentalou algum princípio nela consignado.
5.
Finalmente, sintetizemos a solução para o caso espécie decorrente dos factos e da lei.
A lei não permite que os documentos mencionados sob 1 relevem no caso vertente, a sua junção com as alegações de recurso é ilegal, impõe-se o seu desentranhamento.
Os factos provados não revelam todos os pressupostos positivos e negativos de aquisição da nacionalidade portuguesa pela recorrente.
Ao decidir nesse sentido, o acórdão recorrido não infringiu qualquer das normas indicadas pela recorrente.
Improcede, por isso, o recurso de apelação.
A isenção objectiva de custas que constava do artigo 27º da Lei da Nacionalidade Portuguesa foi revogada pelo artigo 5º do Decreto-Lei nº 118/85, de 19 de Abril.
Vencida no recurso, é recorrente responsável pelo pagamento das custas respectivas (artigo 446º, n.ºs 1 e 2, do Código de Processo Civil).
Como se ignora a situação económica da recorrente, e tendo em conta a estrutura finalística da acção, julga-se adequado fixar à causa o valor para efeito de custas equivalente ao do respectivo valor processual (artigos 312º do Código de Processo Civil e 6º, nº 1, alínea a), do Código das Custas Judiciais).
IV
Pelo exposto, determina-se o desentranhamento e a entrega à recorrente dos documentos mencionados sob 1, condena-se aquela no pagamento das custas do incidente, com taxa de justiça de oitenta e nove euros, nega-se provimento ao recurso e condena-se a recorrente no pagamento das custas respectivas, com base no valor de catorze mil novecentos e sessenta e três euros de noventa e cinco cêntimos
Sumário:
 A isenção objectiva de custas que constava do artigo 27º da Lei da Nacionalidade Portuguesa foi revogada pelo artigo 5º do Decreto-Lei nº 118/85, de 19 de Abril.
 2. Para efeito de admissibilidade da junção de documentos no recurso de apelação para o Supremo Tribunal de Justiça do acórdão da Relação proferido na acção de oposição de aquisição da nacionalidade portuguesa, o referencial temporal é o momento do encerramento da discussão da matéria de facto.
 3. Não podem continuar no processo e devem ser mandados desentranhar, em enquadramento de incidente sujeito a custas, os documentos referentes a factos não articulados pelas partes no âmbito da acção mencionada sob 1 que o recorrente tenha apresentado com as alegações do recurso de apelação para o Supremo Tribunal de Justiça.
 4. O elemento ligação efectiva à comunidade nacional constitui pressuposto essencial da aquisição da nacionalidade portuguesa por estrangeiro casado com nacional português há mais de três anos, que não tenha praticado de crime punível com pena de prisão de máximo superior a três anos segundo a lei portuguesa nem exercido funções públicas ou prestado de serviço militar não obrigatório a Estado estrangeiro.
 5. A ligação efectiva à comunidade nacional portuguesa envolve factores tais como o domicílio, a estabilidade de fixação, a língua falada e escrita, aspectos culturais, sociais, familiares, de amizade e económico-profissionais reveladores de sentimento de pertença à comunidade portuguesa em Portugal ou no estrangeiro.
 6. Não tem ligação efectiva à comunidade portuguesa para efeito de aquisição da nacionalidade portuguesa a cidadã indiana casada, há dez anos, com um cidadão indiano, na Índia, que então adquiriu a nacionalidade portuguesa por virtude de ter nascido em Diu de português, a qual vive em Portugal há sete anos, onde lhe nasceu uma filha, portuguesa, e que trabalha com o cônjuge na exploração de uma loja do tipo loja dos trezentos, atendendo clientes, cumprindo as obrigações fiscais, beneficiando do Serviço Nacional de Saúde, experimentando dificuldade de leitura e de compreensão da língua portuguesa, vestindo-se em conformidade com os costumes ocidentais, permitindo à filha a educação na escola portuguesa, praticando o culto hindu e que visitou algumas regiões do nosso País e afirmou não pretender deixá-lo, por dele gostar e das suas gentes e modo de vida.
 7. A interpretação da lei ordinária relativa à aquisição da nacionalidade portuguesa no sentido mencionado sob 6 não infringe o disposto nos artigos 26º, nº 1 e 67º, nº 1, da Constituição nem algum princípio nela consignado.

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