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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 951-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Julgamentos que ainda não foram concluídos em virtude de pedidos de vista ou de adiamento. Serão comentados assim que 
chegarem ao fim: ADI 3481/DF; HC 162285 AgR/DF; ADI 5868/SC; RE 1141156 AgR/RJ; RE 652229/DF; MS 34730/DF; Rcl 24810 
AgR/MG. 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
DIREITO À SAÚDE 
 Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa de autorização prévia de autoridades sanitária e ambiental 
e comprovação científica da eficácia da medida. 
 
DIREITO ELEITORAL 
LEI DA FICHA LIMPA 
 É possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações 
por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo já tinha transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa 
entrou em vigor. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 
 Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União somente poderá inscrever o ente no SIAFI, 
no CADIN e no CAUC após o término do processo de prestação de contas especial, observados os princípios constitucionais 
da ampla defesa e do contraditório. 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
 Não compete ao STF julgar ação proposta pelo Estado-membro contra a União e a instituição financeira cobrando repasse 
dos depósitos judiciais que estão no banco. 
 Serão julgadas pelo STF as ações ordinárias em que se impugnam atos do CNJ que possuam caráter normativo ou 
regulamentar; que desconstituam ato normativo de tribunal local e que envolvam interesse direto e exclusivo de todos os 
membros do Poder Judiciário. 
 
DIREITO PENAL 
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 
 Mero fato de o Ministro ter pedido vista do processo sem saber que estava impedido, devolvendo na sessão seguinte e 
declarando seu impedimento, não configura indício de que ele tenha praticado tráfico de influência (art. 332, caput, do 
Código Penal). 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
REVISÃO CRIMINAL 
 Não cabe revisão criminal contra decisão que se limita a inadmitir recurso. 
 
DIREITO FINANCEIRO 
DESPESAS PÚBLICAS 
 É inconstitucional norma da CE que exclui do limite de gastos com pessoal as despesas com os pensionistas e os valores 
referentes ao imposto de renda retido na fonte dos servidores públicos estaduais. 
 É inconstitucional norma da CE que prevê que as aplicações mínimas dos recursos em ações e serviços públicos de saúde e ensino 
corresponderão às aplicações mínimas referentes ao exercício anterior, corrigidas pela variação do IPCA ou da RCL. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
DIREITO À SAÚDE 
Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa de autorização prévia de 
autoridades sanitária e ambiental e comprovação científica da eficácia da medida 
 
O art. 1º, § 3º da Lei nº 13.301/2016 prevê, como uma das medidas para combater o Aedes 
aegypti, que o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por meio de aeronaves, de 
produtos químicos para matar o mosquito: 
§ 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas pelos vírus de 
que trata o caput: 
IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por 
aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da 
eficácia da medida. 
O STF deu intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação 
científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente no texto da 
lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades ambientais. A aprovação das 
autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da 
medida são condições prévias e inafastáveis à incorporação de mecanismo de controle 
vetorial por meio de dispersão por aeronaves. 
STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
11/9/2019 (Info 951). 
 
Lei nº 13.301/2016 
A Lei nº 13.301/2016 prevê diversas medidas de vigilância em saúde para combater o mosquito 
transmissor da dengue, chikungunya e zika. Veja o que dispõe o art. 1º: 
Art. 1º Na situação de iminente perigo à saúde pública pela presença do mosquito transmissor do 
vírus da dengue, do vírus chikungunya e do vírus da zika, a autoridade máxima do Sistema Único 
de Saúde - SUS de âmbito federal, estadual, distrital e municipal fica autorizada a determinar e 
executar as medidas necessárias ao controle das doenças causadas pelos referidos vírus, nos 
termos da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e demais normas aplicáveis, enquanto 
perdurar a Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional - ESPIN. 
 
A nova Lei, que é fruto da conversão da MP 712/2016, prevê medidas para a contenção das doenças 
transmitidas pelo mosquito. 
 
Dispersão por aeronaves 
Como uma das medidas para combater o Aedes aegypti, a Lei previu que o poder público ficaria autorizado 
a fazer a pulverização (“fumacê”), por meio de aeronaves, de produtos químicos para matar o mosquito: 
Art. 1º (...) 
§ 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas pelos vírus de que 
trata o caput: 
(...) 
IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por 
aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia 
da medida. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
 
ADI 
Este dispositivo, que permite o uso de aeronaves para dispersão de substâncias químicas no combate ao 
mosquito Aedes aegypti, foi questionado no STF por meio de ADI proposta pelo Procurador-Geral da 
República. 
Na ADI se alegou que isso viola o direito ao ambiente equilibrado previsto no art. 225, da Constituição 
Federal, segundo o qual preservação e proteção do ambiente se impõem ao poder público e à coletividade, 
por considerar que os danos causados são frequentes, irreversíveis e irreparáveis ou de difícil reparação. 
Para o PGR, o dispositivo afronta, ainda, o direito à saúde, já que “a pulverização aérea de produtos 
químicos, além de não contribuir de maneira eficaz para combater o Aedes aegypti, provoca importantes 
malefícios à saúde humana”. 
Assim, considerando possíveis danos ao meio ambiente e à saúde, o PGR pediu que este dispositivo da lei 
fosse declarado inconstitucional. 
 
O que decidiu o STF? 
O STF julgou parcialmente procedente o pedido apenas para dar interpretação conforme à Constituição, 
sem redução de texto, ao inciso IV do § 3º do art. 1º da Lei nº 13.301/2016. 
O STF afirmou que o dispositivo é constitucional, desde que seja interpretado da seguinte forma: 
A aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia 
da medida são condições prévias e inafastáveis para que seja adotado esse mecanismo de controle vetorial 
por meio de dispersão por aeronaves. 
Desse modo, o STF salientou que: 
• além da comprovação científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente 
no texto da lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades ambientais; 
• a aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia 
da medida são condições prévias e inafastáveis para que a medida seja executada. 
 
O Min. Edson Fachin, relator para o acórdão, ressaltou que retirar por completo o inciso significaria dizer 
que existe um juízo científico de certeza sobre a ineficácia do mecanismo(o que não se pode fazer). 
Por outro lado, manter o dispositivo do jeito como está significaria dizer que basta a aprovação da 
autoridade sanitária, o que, na verdade, não é suficiente. 
Para que essa dispersão seja empregada, é necessário que se sane a dúvida a respeito da eficácia científica. 
 
Segundo o STF, essa intepretação está de acordo com os arts. 6º, 196 e 225, § 1º, V e VII, da CF/88: 
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, 
o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos 
desamparados, na forma desta Constituição. 
 
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e 
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Art. 225. (...) 
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: 
(...) 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que 
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
(...) 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua 
função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
 
Em suma: 
O art. 1º, § 3º da Lei nº 13.301/2016 prevê, como uma das medidas para combater o Aedes aegypti, que 
o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por meio de aeronaves, de produtos químicos 
para matar o mosquito: 
§ 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas pelos vírus de que trata 
o caput: 
IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves 
mediante aprovação das autoridades sanitárias e da comprovação científica da eficácia da medida. 
O STF deu intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação científica e da 
aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente no texto da lei), é necessário 
também que haja a aprovação das autoridades ambientais. A aprovação das autoridades sanitárias e 
ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias e 
inafastáveis à incorporação de mecanismo de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves. 
STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
11/9/2019 (Info 951). 
 
 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
LEI DA FICHA LIMPA 
É possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da 
Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo já tinha 
transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor 
 
Importante!!! 
A condenação por abuso do poder econômico ou político em ação de investigação judicial 
eleitoral, transitada em julgado, “ex vi” do artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90, 
em sua redação primitiva, é apta a atrair a incidência da inelegibilidade do artigo 1º, inciso I, 
alínea "d", na redação dada pela Lei Complementar 135/2010, aplicando-se a todos os 
processos de registros de candidatura em trâmite. 
STF. Plenário. RE 929670/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado 
em 1º/3/2018 (repercussão geral) (Info 892). 
 
É possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 135/2010 (Lei da 
Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo já tinha 
transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. 
O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político 
haver transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, 
imposta por força de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da 
inelegibilidade constante da alínea “d” do inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a 
ser de 8 anos. 
Exemplo: em 2009, João, político, foi condenado em Ação de Investigação Judicial Eleitoral, 
pela prática de abuso de poder político. Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. 
Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
que João ficasse inelegível por 3 anos. O processo transitou em julgado em 10/09/2010 e João 
cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme havia sido determinado. 
Nas eleições de 2016, já imaginando que estaria livre da inelegibilidade, ele tentou concorrer 
ao cargo de Prefeito, apresentando requerimento de registro de candidatura. Ele não pode 
concorrer. Isso porque, em 2010, a Lei da Ficha Limpa aumentou a punição prevista no art. 1º, 
I, “d”, da LC 64/90 de 3 para 8 anos. Mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após 
o fato praticado por João, este novo diploma deve ser aplicado ao caso concreto. Logo, a 
inelegibilidade de João, que era de 3 anos (e que acabou em 2012 = 3 + 2009), subiria para 8 
anos (e a inelegibilidade perduraria até 2017 = 8 + 2009). 
STF. Plenário. ARE 1180658 AgR/RN, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa 
Weber, julgado em 10/9/2019 (Info 951). 
 
Lei da Ficha Limpa 
Em 2010, foi aprovada a LC 135/2010, que teve como objetivo alterar a LC 64/90, incluindo novas hipóteses 
de inelegibilidade para proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato. 
A LC 135/2010 foi resultado de uma intensa mobilização da sociedade civil organizada, que arrecadou mais 
de 1,3 milhão de assinaturas de cidadãos para apresentar o projeto de lei ao Congresso Nacional. 
A LC 135/2010 ficou conhecida como “Lei da Ficha Limpa”. 
 
Ampliação do prazo de inelegibilidade para as condenações por abuso de poder 
Uma das alterações promovidas pela Lei da Ficha Limpa foi que ela ampliou, de 3 para 8 anos, o prazo de 
inelegibilidade para os casos em que o político é condenado por abuso de poder econômico ou político. 
Veja como foi a mudança: 
Antes da LC 135/2010 Depois da LC 135/2010 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa 
representação julgada procedente pela Justiça 
Eleitoral, transitada em julgado, em processo de 
apuração de abuso do poder econômico ou 
político, para a eleição na qual concorrem ou 
tenham sido diplomados, bem como para as que 
se realizarem 3 (três) anos seguintes; 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa 
representação julgada procedente pela Justiça 
Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou 
proferida por órgão colegiado, em processo de 
apuração de abuso do poder econômico ou 
político, para a eleição na qual concorrem ou 
tenham sido diplomados, bem como para as que 
se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes; 
(Redação dada pela LC 135/2010) 
 
Antes da LC 135/2010 Depois da LC 135/2010 
Art. 22 (...) 
XIV - julgada procedente a representação, o 
Tribunal declarará a inelegibilidade do 
representado e de quantos hajam contribuído 
para a prática do ato, cominando-lhes sanção de 
inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 
3 (três) anos subseqüentes à eleição em que se 
verificou, além da cassação do registro do 
candidato diretamente beneficiado pela 
interferência do poder econômico e pelo desvio ou 
Art. 22 (...) 
XIV – julgada procedente a representação, ainda 
que após a proclamaçãodos eleitos, o Tribunal 
declarará a inelegibilidade do representado e de 
quantos hajam contribuído para a prática do ato, 
cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as 
eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos 
subsequentes à eleição em que se verificou, além 
da cassação do registro ou diploma do candidato 
diretamente beneficiado pela interferência do 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
abuso do poder de autoridade, determinando a 
remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, 
para instauração de processo disciplinar, se for o 
caso, e processo-crime, ordenando quaisquer 
outras providências que a espécie comportar; 
poder econômico ou pelo desvio ou abuso do 
poder de autoridade ou dos meios de 
comunicação, determinando a remessa dos autos 
ao Ministério Público Eleitoral, para instauração 
de processo disciplinar, se for o caso, e de ação 
penal, ordenando quaisquer outras providências 
que a espécie comportar; (Redação dada pela LC 
135/2010) 
 
Desse modo, antes da Lei da Ficha Limpa, o político condenado por abuso de poder teria que ficar 3 anos 
sem disputar novas eleições. Com a mudança, ele passou a ter que ficar 8 anos inelegível. 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
Em 2009, João, político, foi condenado em Ação de Investigação Judicial Eleitoral, pela prática de abuso 
de poder político. 
Naquela época não havia ainda a Lei da Ficha Limpa. Vigorava a redação originária do art. 1º, I, “d”, da LC 
64/90. Logo, a Justiça Eleitoral determinou que João ficasse inelegível por 3 anos. Relembre o que dizia a Lei: 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
d) os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, 
transitada em julgado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para 
a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem 3 
(três) anos seguintes; 
 
O processo transitou em julgado em 10/09/2010 e João cumpriu os 3 anos de inelegibilidade, conforme 
havia sido determinado. 
Nas eleições de 2016, já imaginando que estaria livre da inelegibilidade, ele tentou concorrer ao cargo de 
Prefeito, apresentando requerimento de registro de candidatura. 
O Ministério Público Eleitoral propôs Ação de Impugnação de Registro de Candidatura. 
 
A tese do Ministério Público eleitoral foi a seguinte: 
Em 2010, a Lei da Ficha Limpa aumentou a punição prevista no art. 1º, I, “d”, da LC 64/90 de 3 para 8 anos. 
Mesmo a Lei da Ficha Limpa tendo entrado em vigor após o fato praticado por João, este novo diploma 
deve ser aplicado ao caso concreto. Logo, a inelegibilidade de João, que era de 3 anos (e que acabou em 
2012 = 3 + 2009), subiria para 8 anos (e a inelegibilidade perduraria até 2017 = 8 + 2009). 
 
Defesa de João 
João alegou em sua defesa que a inelegibilidade constitui espécie de sanção, razão pela qual a mudança 
legislativa não poderia retroagir por se tratar de lei mais grave (art. 5º, XXXVI, CF/88). Além disso, teria 
havido ofensa à coisa julgada. 
 
A pergunta que se faz é a seguinte: esse aumento trazido pela Lei da Ficha Limpa já se aplica para a 
situação de João mesmo o fato tendo ocorrido antes da vigência da nova Lei? 
SIM. O STF entendeu que é possível aplicar o prazo de 8 anos de inelegibilidade, introduzido pela LC 
135/2010 (Lei da Ficha Limpa), às condenações por abuso de poder, mesmo nos casos em que o processo 
já tinha transitado em julgado quando a Lei da Ficha Limpa entrou em vigor. 
O fato de a condenação nos autos de representação por abuso de poder econômico ou político haver 
transitado em julgado, ou mesmo haver transcorrido o prazo da sanção de três anos, imposta por força 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
de condenação pela Justiça Eleitoral, não afasta a incidência da inelegibilidade constante da alínea “d” do 
inciso I do art. 1º da LC 64/90, cujo prazo passou a ser de 8 anos. 
 
Repercussão geral 
Sobre esse tema, o STF fixou a seguinte tese de repercussão geral: 
A condenação por abuso do poder econômico ou político em ação de investigação judicial eleitoral, 
transitada em julgado, “ex vi” do artigo 22, inciso XIV, da Lei Complementar 64/90, em sua redação 
primitiva, é apta a atrair a incidência da inelegibilidade do artigo 1º, inciso I, alínea "d", na redação dada 
pela Lei Complementar 135/2010, aplicando-se a todos os processos de registros de candidatura em 
trâmite. 
STF. Plenário. RE 929670/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
1º/3/2018 (Tema 860 da repercussão geral) (Info 892). 
 
Para relembrar os fundamentos que levaram o STF a decidir assim, recomendo a leitura do Info 892. 
Esse entendimento foi reiterado no ARE 1180658 AgR/RN, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o 
ac. Min. Rosa Weber, julgado em 10/9/2019 (Info 951). 
 
Inelegibilidade não é sanção 
A inelegibilidade não é uma sanção, mas um requisito estabelecido pela lei. 
As hipóteses de inelegibilidade não apresentam caráter sancionatório. Isso se prova, por exemplo, com a 
hipótese do art. 14, § 4º da CF/88, que prevê a inelegibilidade dos analfabetos. Ora, o objetivo do 
legislador constituinte não foi o de punir os analfabetos, não se podendo, portanto, dizer que se trata de 
uma sanção. 
A inelegibilidade ostenta natureza jurídica de “requisito negativo de adequação do indivíduo ao regime 
jurídico do processo eleitoral”. Aquele que não cumprir o prazo de oito anos, em razão da aplicabilidade 
da lei, não preenche pressuposto necessário para voltar a ser elegível. 
Logo, as hipóteses de inelegibilidade previstas na LC 64/90 não possuem caráter sancionatório ou punitivo, 
mesmo no caso descrito no art. 22, XIV. 
Não existe no ordenamento jurídico brasileiro a figura da inelegibilidade-sanção. 
 
Não há ofensa à coisa julgada 
A imposição do prazo de inelegibilidade configura uma relação jurídica continuativa, para a qual a coisa 
julgada opera sob a cláusula rebus sic stantibus. 
A decisão que reconhece a inelegibilidade somente produzirá seus efeitos na esfera jurídico-eleitoral do 
condenado se este vier a formalizar registro de candidatura em eleições vindouras. 
Em consequência disso, verificado o exaurimento do prazo de 3 anos, previsto na redação originária do 
art. 22, XIV, por decisão transitada em julgado, é perfeitamente possível que o legislador 
infraconstitucional proceda ao aumento dos prazos, o que impõe que o agente da conduta abusiva fique 
inelegível por mais 5 anos, totalizando os 8 anos, sem que isso implique ofensa à coisa julgada, que se 
mantém incólume. 
Dessa forma, não há ofensa à coisa julgada. 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
PRINCÍPIOS ADMINISTRATIVOS 
Em caso de irregularidades do Estado-membro em convênio federal, a União somente poderá 
inscrever o ente no SIAFI, no CADIN e no CAUC após o término do processo de prestação de 
contas especial, observados os princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório 
 
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao 
contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de motivação meramente 
financeira, razões políticas. 
Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou 
a execução de convênios, mas o cadastro deveser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a 
verificação da veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem 
consequências, como a impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas 
voluntárias. 
A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se alcança o reconhecimento 
definitivo das irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa, 
tem suas regras definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e 
certa, e a decisão tem eficácia de título executivo extrajudicial. 
STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 11/9/2019 (Info 951). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A União (Ministério do Turismo) celebrou um convênio com o Estado do Mato Grosso. 
Ocorre que o Estado-membro deixou de cumprir algumas obrigações previstas no ajuste. 
A União notificou o Estado-membro determinando que ele regularizasse as pendências, sob pena de lhe 
serem aplicadas sanções. 
Apesar disso, o Estado-membro não sanou os vícios apontados. 
Foram, então, tomadas duas medidas: 
1) o Estado-membro foi inserido no Sistema Integrado de Administração Financeira (SIAFI), no Serviço 
Auxiliar de Informações para Transferências Voluntárias (CADIN) e no Cadastro Informativo de Créditos 
não Quitados do Setor Público Federal (CAUC). 
Obs: esses cadastros são instrumentos de consulta, por meio dos quais se pode verificar se os Estados-
membros ou Municípios estão com débitos ou outras pendências perante o Governo federal. Se houver, 
por exemplo, um atraso do Estado ou do Município na prestação de contas de um convênio com a União 
ou suas entidades, essa informação passará a figurar nestes sistemas. Com isso, o ente devedor fica 
impedido de contratar operações de crédito, celebrar convênios com órgãos e entidades federais e 
receber transferências de recursos. Em uma alegoria para que você entenda melhor (não escreva isso na 
prova!), seria como se fosse um “Serasa” de débitos dos Estados e Municípios com a União, ou seja, um 
cadastro federal de inadimplência. 
 
2) foi instaurada Prestação de Contas Especial para apurar o convênio. 
 
Ação cível originária 
O Estado do Mato Grosso ajuizou, então, ação cível originária, no STF, contra a União, pedindo a retirada 
de seu nome de tais cadastros até que seja concluído o processo de Tomada de Contas Especial. 
O autor alegou, dentre outros argumentos: 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
• violação ao princípio da intranscendência subjetiva das sanções, tendo em vista que o inadimplemento 
ocorreu em gestão anterior (era outro Governador); 
• não foi observado o devido processo legal, o contraditório e a ampla defesa, considerando que, antes 
da inclusão nos cadastros, era indispensável a conclusão do Processo de Tomada de Contas Especial. 
 
O que é o princípio da intranscendência subjetiva das sanções? 
O princípio da intranscendência subjetiva significa que não podem ser impostas sanções e restrições que 
superem a dimensão estritamente pessoal do infrator e atinjam pessoas que não tenham sido as 
causadoras do ato ilícito. 
Um exemplo de aplicação desse princípio ocorre quando a irregularidade foi praticada pela gestão 
anterior. 
Com efeito, existem julgados do STF afirmando que se a irregularidade no convênio foi praticada pelo 
gestor anterior e a gestão atual, depois que assumiu, tomou todas as medidas para ressarcir o erário e 
corrigir as falhas (exs: apresentou todos os documentos ao órgão fiscalizador, ajuizou ações de 
ressarcimento contra o antigo gestor etc.), neste caso, o ente (Estado ou Município) não poderá ser 
incluído nos cadastros de inadimplentes da União. 
Assim, segundo esta acepção, o princípio da intranscendência subjetiva das sanções proíbe a aplicação de 
sanções às administrações atuais por atos de gestão praticados por administrações anteriores. 
Segundo o Min. Luiz Fux, “não se pode inviabilizar a administração de quem foi eleito democraticamente 
e não foi responsável diretamente pelas dificuldades financeiras que acarretaram a inscrição combatida”. 
Logo, deve-se aplicar o princípio da intranscendência subjetiva das sanções, impedindo que a 
Administração atual seja punida com a restrição na celebração de novos convênios ou recebimento de 
repasses federais. 
Nesse sentido: 
O princípio da intranscendência subjetiva das sanções inibe a aplicação de severas sanções às 
administrações por ato de gestão anterior à assunção dos deveres públicos. 
STF. 1ª Turma. ACO 2795 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 23/11/2018. 
 
Súmula 615-STJ: Não pode ocorrer ou permanecer a inscrição do município em cadastros restritivos 
fundada em irregularidades na gestão anterior quando, na gestão sucessora, são tomadas as providências 
cabíveis à reparação dos danos eventualmente cometidos. 
 
A própria AGU admite esta tese: 
Súmula 46-AGU: Será liberada da restrição decorrente da inscrição do município no SIAFI ou CADIN a 
prefeitura administrada pelo prefeito que sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as 
providências objetivando o ressarcimento ao erário. 
 
Neste caso concreto, o argumento de violação ao princípio da intranscendência foi acolhido pelo STF? 
NÃO. A atual administração deveria demonstrar que adotou as medidas cabíveis de apuração de 
responsabilidade e de regularização da situação de inadimplência. 
Assim, ainda que a conduta a gerar inadimplência tenha sido causada pela gestão anterior, a nova 
administração estadual assume todas as obrigações decorrentes da situação financeira do ente federado. 
Como a atual administração não tomou essas medidas, não se pode dizer que a inclusão do Estado nos 
cadastros restritivos tenha violado o princípio da intranscendência subjetiva das sanções financeiras. Não 
violou. 
 
O segundo argumento do Estado-membro foi acolhido pelo STF? Houve violação ao devido processo legal? 
SIM. 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
O cadastro restritivo não deve ser feito de forma unilateral e sem acesso à ampla defesa e ao 
contraditório. Isso porque, muitas vezes, a inscrição pode ter, além de motivação meramente financeira, 
razões políticas. 
Assim, ao poder central (União) é possível suspender imediatamente o repasse de verbas ou a execução 
de convênios, mas o cadastro deve ser feito nos termos da lei, ou seja, mediante a verificação da 
veracidade das irregularidades apontadas. Isso porque o cadastro tem consequências, como a 
impossibilidade da repartição constitucional de verbas das receitas voluntárias. 
A tomada de contas especial, procedimento por meio do qual se alcança o reconhecimento definitivo 
das irregularidades, com a devida observância do contraditório e da ampla defesa, tem suas regras 
definidas em lei. Ao final, é possível tornar o dano ao erário dívida líquida e certa, e a decisão tem 
eficácia de título executivo extrajudicial. 
Desse modo, o STF determinou que a União se abstenha de proceder à inscrição do Estado-membro no 
SIAFI, no CADIN e no CAUC, até o exaurimento da Prestação de Contas Especial, observados os princípios 
constitucionais da ampla defesa e do contraditório. 
STF. Plenário. ACO 2892 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 11/9/2019 (Info 951). 
 
Vale ressaltar que a ação que discute a inscrição de Estado-membro em cadastro de inadimplência da 
União em sede de convênio implica conflito federativo, o que atrai a competência do STF para julgamento 
da causa: 
O Supremo Tribunal Federal é originariamentecompetente para processar e julgar as causas que revelem 
potencial conflito federativo entre a União e os Estados-membros (art. 102, I, ‘f’, da CRFB/88), como nos 
casos em que se discute a inscrição destes nos cadastros federais de irregularidades ou inadimplência. 
2. A União é parte legítima para figurar no polo passivo das ações em que Estado-membro impugne 
inscrição em cadastros federais de inadimplentes e/ou de restrição de crédito. 
STF. Plenário. ACO 2764 AgR, Relator p/ Acórdão Min. Luiz Fux, julgado em 16/10/2017. 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
 
COMPETÊNCIA 
Não compete ao STF julgar ação proposta pelo Estado-membro contra a União e a instituição 
financeira cobrando repasse dos depósitos judiciais que estão no banco 
 
Não compete ao STF julgar ação proposta contra a União e o Banco do Brasil para obrigar que 
a instituição financeira cumpra lei estadual que determina o repasse de parte dos valores dos 
depósitos judiciais para o caixa único do Estado. 
Trata-se de controvérsia meramente patrimonial, não justificando sequer a presença da União 
no polo passivo. 
STF. Plenário. ACO 989/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2019 (Info 951). 
 
Competência do STF para julgar conflitos federativos 
O art. 102, I, “f”, da CF/88 prevê a seguinte competência do STF: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I — processar e julgar, originariamente: 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 11 
f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e 
outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta; 
 
Podemos imaginar as seguintes situações que serão de competência do STF com base na previsão acima: 
a) União contra Estado(s); 
b) União contra Distrito Federal; 
c) Estado(s) contra Estado(s); 
d) Estado(s) contra Distrito Federal. 
 
Obs: não importa quem seja o autor ou o réu; se as partes acima estiverem em polos antagônicos, estará 
preenchida a hipótese do art. 102, I, “f”. 
Obs2: a ação poderá envolver a administração direta ou indireta da União, Estados ou DF. Ex: uma ação 
judicial do IPHAN (autarquia federal) contra o Estado do Amazonas (STF Rcl 12957/AM). 
 
Conflito entre entes federados x conflito federativo 
Vale ressaltar que, para se caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88, é indispensável que, além 
de haver uma causa envolvendo União e Estado/DF ou Estado contra Estado, essa demanda deve ter 
densidade suficiente para abalar o pacto federativo. 
Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra Estado/DF ou Estado contra Estado 
que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em ofensa às regras do 
sistema federativo. Confira: 
Diferença entre conflito entre entes federados e conflito federativo: enquanto no primeiro, pelo prisma 
subjetivo, observa-se a litigância judicial promovida pelos membros da Federação, no segundo, para além 
da participação desses na lide, a conflituosidade da causa importa em potencial desestabilização do 
próprio pacto federativo. Há, portanto, distinção de magnitude nas hipóteses aventadas, sendo que o 
legislador constitucional restringiu a atuação da Corte à última delas, nos moldes fixados no Texto Magno, 
e não incluiu os litígios e as causas envolvendo Municípios como ensejadores de conflito federativo apto 
a exigir a competência originária da Corte. 
STF. Plenário. ACO 1.295-AgR-segundo, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/10/2010. 
 
Mero conflito entre entes federados Conflito federativo 
Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou 
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas 
entidades). 
Trata-se da disputa judicial envolvendo União (ou 
suas entidades) contra Estado-membro (ou suas 
entidades) e que, em razão da magnitude do tema 
discutido, pode gerar uma desestabilização do 
próprio pacto federativo. 
Em regra, é julgado pelo juiz federal de 1ª instância. É julgado pelo STF (art. 102, I, “f” da CF/88). 
 
Imagine agora a seguinte situação hipotética: 
O Estado da Bahia ajuizou ação cível ordinária contra a União e o Banco do Brasil pedindo que esta 
instituição financeira fosse condenada a cumprir as obrigações previstas na Lei estadual 9.276/2004 e no 
Decreto 9.197/2004. 
O art. 1º desta lei estabelece a obrigação de as instituições financeiras recebedoras de depósitos judiciais 
oriundos da Justiça local repassarem determinado percentual para conta bancária do Sistema de Caixa 
Único do Estado da Bahia. Veja: 
Art. 1º Dos montantes de depósitos decorrentes de processos judiciais, qualquer que seja o 
procedimento, no âmbito da Justiça Estadual, compreendendo o principal, a correção monetária 
e os juros correspondentes aos rendimentos de cadernetas de poupança, 70% (setenta por cento) 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
serão transferidos pela instituição financeira recebedora, para conta bancária específica 
integrante do Sistema de Caixa Único do Estado da Bahia, no mesmo prazo do repasse ao Estado 
dos tributos recolhidos pela rede bancária credenciada. Ver tópico 
 
Explicando melhor: 
Todos os valores em dinheiro que ficam à disposição da Justiça enquanto o processo não se encerra são 
depositados em uma conta bancária em nome do Poder Judiciário. A isso chama-se de depósito judicial. 
Exs: João ingressa com ação de consignação em pagamento em face de Pedro, depositando em juízo R$ 
100 mil reais. Maria ajuíza execução contra Antônio e consegue a penhora on line de R$ 200 mil. Tais 
valores ficarão em depósito judicial e, quando o juiz autorizar, eles poderão ser levantados pela parte 
vencedora, devidamente atualizados. 
O art. 1º desta Lei do Estado da Bahia dizia que 70% desses valores depositados deveriam ser transferidos 
pela instituição financeira recebedora, para conta bancária específica integrante do Sistema de Caixa 
Único do Estado da Bahia. 
O Estado da Bahia alegou que o Banco do Brasil não estava fazendo esses repasses e, portanto, estava 
cobrando o repasse dessa quantia. 
A ação foi proposta no STF com base na previsão do art. 102, I, “f”, da CF/88. 
 
O STF é realmente competente para julgar esta demanda? 
NÃO. Não cabe ao STF julgar o feito. Isso porque se trata de controvérsia meramente patrimonial, não 
justificando sequer a presença da União no polo passivo. 
 
Em suma: 
Não compete ao STF julgar ação proposta contra a União e o Banco do Brasil para obrigar que a 
instituição financeira cumpra lei estadual que determina o repasse de parte dos valores dos depósitos 
judiciais para o caixa único do Estado. 
Trata-se de controvérsia meramente patrimonial, não justificando sequer a presença da União no polo 
passivo. 
STF. Plenário. ACO 989/BA, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/9/2019 (Info 951). 
 
 
COMPETÊNCIA 
Serão julgadas pelo STF as ações ordinárias em que se impugnam atos do CNJ que possuam 
caráter normativo ou regulamentar, que desconstituam ato normativo de tribunal local e que 
envolvam interesse direto e exclusivo de todos os membros do Poder Judiciário 
 
Importante!!! 
Em regra, as ações ordinárias contra atos do CNJ devem ser processadas e julgadas na Justiça 
Federal. Isso é fundamental para resguardar a capacidade decisória do STF, evitar a 
banalização da jurisdição extraordinária e preservar a própria funcionalidade da Corte. 
No entanto, será de competência originária do STF julgar as ações ordinárias: 
• que impugnem atos do CNJ que possuam caráter normativo ou regulamentar; 
• que desconstituam ato normativo de tribunal local;e 
• que envolvam interesse direto e exclusivo de todos os membros do Poder Judiciário. 
Por outro lado, não são de competência do STF as demandas contra atos do CNJ: 
• que atinjam tão somente servidores dos órgãos fiscalizados ou mesmo as serventias 
extrajudiciais; 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
• que não digam respeito a interesse exclusivo de toda magistratura ou 
• que revejam atos administrativos gerais dos tribunais, assim considerados os que não se 
sujeitam a regulamentação distinta do Poder Judiciário, de que seriam exemplo os 
relacionados a concursos públicos ou licitações dos tribunais locais. 
STF. 1ª Turma. Rcl 15564 AgR/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
10/9/2019 (Info 951). 
 
Assim, podemos afirmar o seguinte: 
1) MS, HS e habeas data contra ato do CNJ: competência do STF; 
2) Ações ordinárias impugnando ato do CNJ: 
• Em regra, serão julgadas na Justiça Federal (1ª instância). 
• Exceção: serão julgadas pelo STF as ações ordinárias em que se impugnam atos do CNJ que possuam 
caráter normativo ou regulamentar, que desconstituam ato normativo de tribunal local e que 
envolvam interesse direto e exclusivo de todos os membros do Poder Judiciário. 
 
Competência para julgar demandas contra o CNJ e o CNMP 
A CF/88 prevê, em seu art. 102, I, “r”: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
(...) 
r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério 
Público; 
 
O STF, no entanto, conferiu interpretação estrita a esse dispositivo. 
Assim, somente compete ao STF julgar as ações em que o próprio CNJ ou CNMP (que não possuem 
personalidade jurídica própria) figurarem no polo passivo. É o caso de mandados de segurança, habeas 
corpus e habeas data contra os Conselhos. 
No caso de serem propostas ações ordinárias para impugnar atos do CNJ e CNMP, quem irá figurar como 
ré no processo é a União, já que os Conselhos são órgãos federais. Logo, tais demandas serão julgadas 
pela Justiça Federal de 1ª instância, com base no art. 109, I, da CF/88: 
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas 
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de 
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; 
 
Esse entendimento estava pacificado no STF, existindo inúmeros julgados nesse sentido: 
(...) A competência originária do Supremo Tribunal Federal, cuidando-se de impugnação a deliberações 
emanadas do Conselho Nacional de Justiça, tem sido reconhecida apenas na hipótese de impetração, 
contra referido órgão do Poder Judiciário (CNJ), de mandado de segurança, de “habeas data”, de “habeas 
corpus” (quando for o caso) ou de mandado de injunção, pois, em tal situação, o CNJ qualificar-se-á como 
órgão coator impregnado de legitimação passiva “ad causam” para figurar na relação processual 
instaurada com a impetração originária, perante a Suprema Corte, daqueles “writs” constitucionais. Em 
referido contexto, o Conselho Nacional de Justiça, por ser órgão não personificado, define-se como 
simples “parte formal” (...), revestido de mera “personalidade judiciária” (...), achando-se investido, por 
efeito de tal condição, da capacidade de ser parte (...), circunstância essa que plenamente legitima a sua 
participação em mencionadas causas mandamentais. 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
- Tratando-se, porém, de demanda diversa (uma ação ordinária, p. ex.), não se configura a competência 
originária da Suprema Corte, considerado o entendimento prevalecente na jurisprudência do Supremo 
Tribunal Federal, manifestado, inclusive, em julgamentos colegiados, eis que, nas hipóteses não 
compreendidas no art. 102, I, alíneas “d” e “q”, da Constituição, a legitimação passiva “ad causam” referir-
se-á, exclusivamente, à União Federal, pelo fato de as deliberações do Conselho Nacional de Justiça serem 
juridicamente imputáveis à própria União Federal, que é o ente de direito público em cuja estrutura 
institucional se acha integrado o CNJ. 
STF. Plenário. AO 1706 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 18/12/2013. 
 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a competência prevista no art. 102, I, 
r, da Constituição deve ser interpretada de forma estrita, alcançando apenas os casos em que o CNJ tenha 
personalidade judiciária para figurar no feito (i.e., em mandados de segurança, de injunção, habeas corpus 
e habeas data). 
STF. 1ª Turma. AO 1894 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/08/2018. 
 
Ação anulatória. Ato administrativo do Conselho Nacional de Justiça que concedeu ajuda de custo nos 
casos de remoção a pedido dos magistrados e servidores. Incompetência do STF. Interpretação restritiva 
do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal. 
STF. 2ª Turma. ACO 2148 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/09/2016. 
 
Resumindo a posição do STF sobre o tema: 
Competência para julgar ações contra o CNJ e CNMP: 
• MS, HS e habeas data: competência do STF (art. 102, I, “r”, da CF/88); 
• Ações ordinárias: competência do Juiz federal (1ª instância) (art. 109, I, da CF/88). 
 
No julgamento da Rcl 15564 AgR/PR, a 1ª Turma do STF apontou uma “exceção” à regra acima exposta 
A situação foi a seguinte: 
Em 2012, o CNJ editou a Resolução nº 151 determinando que as remunerações, diárias, indenizações e 
quaisquer outras verbas pagas aos membros da magistratura e aos servidores do Poder Judiciário 
deveriam ser divulgadas na internet, com a indicação do nome do beneficiário. 
Diante disso, um determinado Sindicato de Servidores da Justiça propôs, na Justiça Federal de 1ª instância, 
uma ação ordinária contra a União, com o objetivo de impedir a divulgação dos nomes e das remunerações 
individualizadas de seus substituídos. Na ação, o sindicato pediu para afastar a aplicação da Resolução nº 
151/2012 do CNJ. 
A União ingressou com reclamação no STF afirmando que não cabe à Justiça Federal de 1ª instância, mas 
sim ao Supremo julgar esta ação. 
A reclamação foi julgada procedente. 
O STF afirmou o seguinte: 
Em regra, as ações ordinárias contra atos do CNJ devem ser processadas e julgadas na Justiça Federal. 
Isso é fundamental para resguardar a capacidade decisória do STF, evitar a banalização da jurisdição 
extraordinária e preservar a própria funcionalidade da Corte. 
No entanto, será de competência originária do STF julgar as ações ordinárias: 
• que impugnem atos do CNJ que possuam caráter normativo ou regulamentar; 
• que desconstituam ato normativo de tribunal local; e 
• que envolvam interesse direto e exclusivo de todos os membros do Poder Judiciário. 
 
Por outro lado, não são de competência do STF as demandas contra atos do CNJ: 
• que atinjam tão somente servidores dos órgãos fiscalizados ou mesmo as serventias extrajudiciais; 
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• que não digam respeito a interesse exclusivo de toda magistratura ou 
• que revejam atos administrativos gerais dos tribunais, assim considerados os que não se sujeitam a 
regulamentação distinta do Poder Judiciário, de que seriam exemplo os relacionados a concursos 
públicos ou licitações dos tribunais locais. 
STF. 1ª Turma. Rcl 15564 AgR/PR,rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgado em 
10/9/2019 (Info 951). 
 
Assim, podemos afirmar o seguinte: 
1) MS, HS e habeas data contra ato do CNJ: competência do STF; 
2) Ações ordinárias impugnando ato do CNJ: 
• Em regra, serão julgadas na Justiça Federal (1ª instância). 
• Exceção: serão julgadas pelo STF as ações ordinárias em que se impugnam atos do CNJ que possuam 
caráter normativo ou regulamentar, que desconstituam ato normativo de tribunal local e que envolvam 
interesse direto e exclusivo de todos os membros do Poder Judiciário. 
 
Vale ressaltar que não é a primeira vez que o STF mitiga a sua regra geral. Temos um outro julgado no qual 
o STF conheceu e julgou uma ação ordinária proposta por sindicato de servidores públicos contra uma 
decisão do CNJ. Foram invocados dois argumentos para fixar a competência no STF: 
1) O caso concreto discutia os poderes do CNJ para afastar lei inconstitucional. Se o STF não julgasse a 
causa, isso significaria conferir à Justiça Federal de 1ª instância a possibilidade de definir os poderes 
atribuídos ao CNJ para o cumprimento de sua missão, subvertendo, assim, a relação hierárquica 
constitucionalmente estabelecida. 
2) Além da ação ordinária proposta pelo Sindicato, diversos servidores impetraram mandados de 
segurança contra a decisão do CNJ. Assim, mesmo que a ação ordinária fosse remetida para a Justiça 
Federal de 1ª instância, continuariam no STF os mandados de segurança individuais. Desse modo, o mais 
recomendável seria a reunião dessas ações a fim de garantir, com a tramitação e o julgamento conjuntos, 
a prolação de decisões harmônicas sobre a legitimidade da situação jurídica afetada pelo CNJ. 
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016 (Info 851). 
 
Obs: em concursos públicos, se a questão objetiva não fizer menção expressa a essas hipóteses 
excepcionais, adote a regra geral exposta na primeira parte desta explicação. Em questões discursivas, 
discorra com detalhes sobre a regra geral e mencione, ao final, a existência desses julgados mitigando o 
entendimento tradicional. 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
TRÁFICO DE INFLUÊNCIA 
Mero fato de o Ministro ter pedido vista do processo sem saber que estava impedido, 
devolvendo na sessão seguinte e declarando seu impedimento, não configura indício de que ele 
tenha praticado tráfico de influência (art. 332, caput, do Código Penal) 
 
O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra um Ministro do TCU pela prática 
do crime de tráfico de influência (art. 332, caput, do Código Penal). 
Segundo a denúncia, o filho do Ministro, em nome do pai, recebeu pagamento (“propina”) de 
um empreiteiro, sob o pretexto de que iria influenciar em um processo que estava em curso 
no TCU e no qual se analisava uma licitação fraudulenta, vencida pela empresa do empreiteiro. 
 Informativo 
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Para o PGR, o Ministro do TCU teria demonstrado ao empreiteiro que poderia influenciar no 
trâmite do caso ao pedir vista do processo. Na sessão seguinte do TCU, ele devolveu os autos e 
declarou seu impedimento para atuar no feito. 
O colegiado considerou não haver, em relação ao Ministro, lastro probatório mínimo, 
consistente em conjunto de evidências seguro e idôneo capaz de demonstrar a materialidade 
do crime e indícios razoáveis de autoria. 
O cerne da imputação formulada contra o Ministro decorre, essencialmente, do fato de ele ter 
pedido vista de um processo, com a suposta intenção deliberada de postergar o julgamento, 
apesar de já saber que estaria impedido de atuar no feito. Ocorre que, desde a primeira vez 
em que o processo foi inserido na pauta de julgamento no TCU até a ocasião do pedido de vista 
pelo denunciado, transcorreram quase cinco meses, com diversos adiamentos e retiradas, mas 
nenhuma delas por ato do Ministro acusado. 
Além disso, na sessão em que ele solicitou vista, por equívoco, não foi registrado impedimento 
ou suspeição do Ministro no sistema. Vale ressaltar também que não houve nem mesmo 
advertência quanto ao pedido de vista do denunciado pelos demais Ministros do TCU, 
advogados, partes, pelo secretário da sessão ou, até mesmo, pelo representante do Ministério 
Público que atua no TCU. Essa circunstância revela a ausência de conhecimento geral sobre o 
mencionado impedimento e a eventual irregularidade do ato praticado pelo Ministro. 
Em razão disso, mostra-se crível a versão do acusado no sentido de que foi levado a acreditar 
que se encontrava plenamente apto a participar do referido julgamento e, assim, 
desempenhar as funções e prerrogativas inerentes ao cargo, dentre elas a de pedir vista 
regimental para melhor estudar os casos em julgamento. 
O Ministro devolveu os autos após quatorze dias e declarou-se impedido, não tendo 
participado da discussão ou votação do processo em análise. 
STF. 1ª Turma. Inq 4075/DF, rel orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, 
julgado em 10/9/2019 (Info 951). 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra Antônio, Ministro do TCU, pela prática do 
crime de tráfico de influência, tipificado no art. 332, caput, do Código Penal: 
Art. 332. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de 
vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é 
também destinada ao funcionário. 
 
Na denúncia, o PGR narrou que Lucas, filho de Antônio, em nome do pai, recebeu pagamento (“propina”) 
de um empreiteiro, sob o pretexto de que iria influenciar em um processo que estava em curso no TCU e 
no qual se analisava uma licitação fraudulenta, vencida pela empresa do empreiteiro. 
Segundo o PGR, o Ministro do TCU teria demonstrado ao empreiteiro que poderia influenciar no trâmite 
do caso ao pedir vista do processo. Na sessão seguinte do TCU, ele devolveu os autos e declarou seu 
impedimento para atuar nos autos. 
 
De quem é a competência para julgar os Ministros do TCU? 
Do STF, nos termos do art. 102, I, “c”, da CF/88: 
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, 
cabendo-lhe: 
I - processar e julgar, originariamente: 
 Informativo 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
(...) 
c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os 
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os 
membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão 
diplomática de caráter permanente; 
 
O STF recebeu a denúncia? 
NÃO. 
A 2ª Turma do STF, por maioria, rejeitou a denúncia oferecida contra o Ministro do TCU, por falta de justa 
causa, com fundamento no art. 395, III, do CPP. 
STF. 1ª Turma. Inq 4075/DF, rel orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, julgado 
em 10/9/2019 (Info 951). 
 
O colegiado considerou não haver, em relação ao Ministro, lastro probatório mínimo, consistente em 
conjunto de evidências seguro e idôneo capaz de demonstrar a materialidade do crime e indícios razoáveis 
de autoria. 
Prevaleceu o voto do Min. Ricardo Lewandowski (redator para o acórdão). Segundo o redator, o cerne da 
imputação formulada contra o Ministro decorre, essencialmente, do fato de ele ter pedido vista de um 
processo, com a suposta intenção deliberada de postergar o julgamento, apesar de já saber que estariaimpedido de atuar no feito. 
Para o STF, analisando os elementos de convicção existentes nos autos, não é possível vislumbrar a alegada 
ilicitude na conduta praticada pelo denunciado, sendo frágeis e precários os argumentos em que se apoia 
a acusação, especialmente no tocante ao elemento subjetivo do tipo. 
Desde a primeira vez em que, no TCU, o processo foi inserido na pauta de julgamento até a ocasião do 
pedido de vista pelo denunciado, transcorreram quase cinco meses, com diversos adiamentos e retiradas, 
mas nenhuma delas por ato do Ministro acusado. 
Além disso, na sessão em que ele solicitou vista, por equívoco do gabinete ou da própria Secretaria de 
Sessões, não foi registrado impedimento ou suspeição do Ministro no sistema. Vale ressaltar também que 
não houve nem mesmo advertência quanto ao pedido de vista do denunciado pelos demais Ministros do 
TCU, advogados, partes, pelo secretário da sessão ou, até mesmo, pelo representante do Ministério 
Público que atua no TCU. Essa circunstância revela a ausência de conhecimento geral sobre o mencionado 
impedimento e a eventual irregularidade do ato praticado pelo Ministro. 
Em razão disso, mostra-se crível a versão do acusado no sentido de que foi levado a acreditar que se 
encontrava plenamente apto a participar do referido julgamento e, assim, desempenhar as funções e 
prerrogativas inerentes ao cargo, dentre elas a de pedir vista regimental para melhor estudar os casos em 
julgamento. 
O Ministro devolveu os autos após quatorze dias e declarou-se impedido, não tendo participado da 
discussão ou votação do processo em análise. Não foi decisiva sua participação no atraso do julgamento 
do processo, nem houve influência sua no desfecho da causa. 
Por fim, nas informações colhidas em acordo de colaboração premiada e ratificadas por outros 
colaboradores, nenhum dos delatores chegou a atribuir ao Ministro denunciado a prática de qualquer 
conduta ilícita. 
Ausentes elementos indiciários sobre a possível prática do tráfico de influência do mencionado acusado 
no âmbito do TCU, não é admissível julgar suspeitas as ligações telefônicas havidas entre ele e seu filho, 
as quais estão inseridas no contexto próprio da relação familiar. 
Durante as investigações ficou demonstrado que o filho fez a transferência de valores para a conta bancária 
do pai. Os Ministros do STF afirmaram que é aceitável a versão da defesa no sentido de que a transferência 
do aludido numerário foi apenas uma ajuda financeira pontual e informal de um filho para o seu pai. 
 
 
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DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
REVISÃO CRIMINAL 
Não cabe revisão criminal contra decisão que se limita a inadmitir recurso 
 
Não cabe revisão criminal para impugnar decisão que se limita a inadmitir recurso. 
A decisão suscetível de impugnação por meio de revisão criminal consiste no ato jurisdicional 
que impõe ou chancela (confirma) o mérito de pronunciamento condenatório. Não cabe 
revisão criminal contra decisões posteriores que, correta ou incorretamente, tenham 
inadmitido ou negado provimento a recursos, visto que essas manifestações jurisdicionais não 
compõem o título condenatório. 
STF. Plenário. RvC 5480 AgR/AM, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 12.9.2019. (RvC-5480) 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
O Senador Acir Gurgacz foi julgado originariamente e condenado pela 1ª Turma do STF pela prática de 
crimes contra o sistema financeiro nacional. 
A defesa apresentou embargos infringentes contra este acórdão condenatório. 
Os embargos infringentes, contudo, foram inadmitidos por meio de decisão colegiada proferida pela 1ª 
Turma do STF. 
Houve trânsito em julgado. 
 
Revisão criminal 
Depois do trânsito em julgado, a defesa do Senador ajuizou revisão criminal no STF afirmando que o juízo 
de admissibilidade dos embargos infringentes não era de competência da Turma, mas sim do Ministro 
Relator (monocraticamente). 
Caso o Ministro Relator negasse seguimento aos embargos infringentes, a defesa ainda poderia apresentar 
agravo para o Plenário do STF. 
Assim, na visão da defesa, o procedimento adotado teria impedido que a admissibilidade dos embargos 
infringentes fosse analisada em definitivo pelo Plenário, providência que, por consequência, teria 
vulnerado as normas do Regimento Interno do STF. 
Em suma, na revisão criminal o réu alegou que os embargos infringentes foram inadmitidos por órgão 
jurisdicional incompetente, tendo havido, portanto, violação ao princípio do juízo natural. 
 
O pedido formulado na revisão criminal foi acolhido pelo STF? 
NÃO. 
 
Em que consiste a revisão criminal? 
Revisão criminal é... 
- uma ação autônoma de impugnação 
- de competência originária dos Tribunais (ou da Turma Recursal, no caso dos Juizados) 
- por meio da qual a pessoa condenada requer ao Tribunal 
- que reveja a decisão que a condenou (e que já transitou em julgado) 
- sob o argumento de que ocorreu erro judiciário. 
 
Então a revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo? 
SIM. A revisão poderá ser requerida em qualquer tempo, mesmo após já ter sido extinta a pena (art. 622 
do CPP). 
 
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Natureza jurídica 
A revisão criminal NÃO é um recurso. 
Trata-se de uma ação autônoma de impugnação, mais precisamente uma ação penal de natureza 
constitutiva (tem por objetivo desconstituir uma decisão transitada em julgado). 
 
Pressupostos: 
A revisão criminal tem dois pressupostos: 
a) existência de decisão condenatória (ou absolutória imprópria) com trânsito em julgado; 
b) demonstração de que houve erro judiciário. 
 
Quem pode propor a revisão criminal? 
• o próprio réu; 
• procurador legalmente habilitado pelo réu; 
• o cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu, caso este já tenha morrido. 
CPP/Art. 623. A revisão poderá ser pedida pelo próprio réu ou por procurador legalmente 
habilitado ou, no caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. 
 
Hipóteses 
As hipóteses de revisão criminal estão previstas no art. 621 do CPP: 
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: 
I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência dos 
autos; 
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos 
comprovadamente falsos; 
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de 
circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. 
 
Obs: o art. 263 do Regimento Interno do STF reproduz essas três hipóteses. 
 
Ônus processual do autor enquadrar seu pedido em uma dessas hipóteses de cabimento 
A revisão criminal expressa um processo reparatório do erro judiciário em que situações excepcionais, 
assim reconhecidas pelo legislador, podem, em tese, autorizar a desconstrução do pronunciamento 
jurisdicional acobertado pelo manto da coisa julgada. 
Nesse cenário, o condenado não tem o direito subjetivo de, fora da destinação legal do meio de 
impugnação, perseguir a desconstituição de decisões desfavoráveis que tenham sido proferidas em 
processos penais. 
No âmbito da revisão criminal, é ônus processual do autor enquadrar seu pedido a uma das hipóteses 
taxativamente previstas na lei e demonstrar que o conjunto probatório autoriza o juízo revisional ou 
absolutório. 
 
Só cabe revisão criminal contra decisões condenatórias 
Ao se analisar as hipóteses acima elencadas, percebe-se que só é possível o ajuizamento de revisão 
criminal para a desconstituição de decisões condenatórias. 
A revisão criminal não funciona, portanto, como instrumentode impugnação de outras decisões (que não 
sejam condenatórias), ainda que potencialmente prejudiciais ao condenado. 
Decisões que se limitam a não admitir um recurso são despidas de efeito substitutivo (não substituem a 
decisão condenatória). Logo, não cabe revisão criminal contra decisão que apenas inadmite um recurso 
porque não se trata de acórdão condenatório. 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
Assim, a decisão suscetível de impugnação pela revisão criminal consiste no ato jurisdicional que impõe 
ou chancela o mérito de pronunciamento condenatório, e não decisões posteriores que, correta ou 
incorretamente, tenham inadmitido ou negado provimento a recursos, visto que essas manifestações 
jurisdicionais não compõem o título condenatório. 
Nesse sentido: 
(...) Revisão criminal contra acórdão proferido pela Primeira Turma desta Corte. Decisão monocrática que 
negou seguimento a recurso extraordinário com agravo. (...) 
3. Incompetência desta Corte para apreciar revisão criminal que se funda na ausência de enfrentamento 
de mérito. (...) 
STF. Plenário. RvC 5472 AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2018. 
 
(...) O Supremo Tribunal Federal é competente apenas para processar e julgar revisão criminal quando a 
condenação tiver sido por ele proferida ou mantida no julgamento de ação penal originária, em recurso 
criminal ordinário ou em recurso extraordinário com conhecimento do mérito. (...) 
STF. Plenário. RvC 5448 AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 17/03/2016. 
 
Desse modo, não cabe revisão criminal contra a decisão da 1ª Turma que não conheceu dos embargos 
infringentes porque não se trata de decisão condenatória. 
 
Em suma: 
Não cabe revisão criminal contra decisão que se limita a inadmitir recurso. 
A revisão criminal se presta exclusivamente ao combate das decisões que impuseram a condenação ou 
que a tenham mantido e, por consequência, substituído o anterior provimento condenatório de mérito. 
Não cabe revisão criminal contra decisões posteriores que, correta ou incorretamente, tenham 
inadmitido ou negado provimento a recursos, visto que essas manifestações jurisdicionais não 
compõem o título condenatório. 
STF. Plenário. RvC 5480 AgR/AM, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 12.9.2019. (RvC-5480) 
 
 
 
DIREITO FINANCEIRO 
 
DESPESAS PÚBLICAS 
É inconstitucional norma da CE que exclui do limite de gastos com pessoal as despesas com os 
pensionistas e os valores referentes ao imposto de renda retido na fonte dos servidores públicos 
estaduais 
É inconstitucional norma da CE que prevê que as aplicações mínimas dos recursos em ações e 
serviços públicos de saúde e ensino corresponderão às aplicações mínimas referentes ao 
exercício anterior, corrigidas pela variação do IPCA ou da RCL 
 
O Estado de Goiás, por meio de emenda à Constituição Estadual (ECs 54 e 55/2017), instituiu 
um regime de contenção de gastos, que foi denominado de “Novo Regime Fiscal do Estado de 
Goiás” (NRFG). Por força do NRFG, houve uma limitação, até 31 de dezembro de 2026, dos 
gastos correntes da Administração Pública estadual, no âmbito dos três poderes e demais 
órgãos autônomos. 
Foi ajuizada uma ADI contra essas emendas constitucionais e o STF, por maioria, concedeu 
medida cautelar para: 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
• suspender a eficácia do art. 113, § 8º, da Constituição do Estado de Goiás: 
Art. 113. A despesa com pessoal ativo e inativo do Estado e dos Municípios não poderá exceder 
os limites globais estabelecidos em lei complementar federal. 
§ 8º Na verificação do atendimento pelo Estado dos limites globais estabelecidos na lei 
complementar federal, mencionado no caput deste artigo, não serão computadas as despesas 
com os pensionistas e os valores referentes ao imposto de renda retidos na fonte dos 
servidores públicos estaduais. 
Essas exclusões trazidas pelo § 8º do art. 113 não estão previstas na Lei de Responsabilidade 
Fiscal, editada com base no art. 169 da CF/88. 
 
• suspender os efeitos dos incisos I e II do art. 45 do ADCT da Constituição do Estado de Goiás, 
na redação dada pelo art. 1º da Emenda de nº 54/2017: 
Art. 45. A partir do exercício financeiro de 2018, as aplicações mínimas de recursos pelo 
Estado: 
I - em ações e serviços públicos de saúde e em manutenção e desenvolvimento do ensino 
corresponderão, em cada exercício financeiro, às aplicações mínimas referentes ao exercício 
anterior, corrigidas pela variação do IPCA ou da RCL, na forma do art. 41; 
II - em manutenção e reconstrução de rodovia, aeródromo, autódromo, porto pluvial e balsa 
corresponderão, em cada exercício financeiro, a dois terços da sua participação no produto da 
arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores -IPVA. 
 
Com a fórmula adotada pelo art. 45 do ADCT da CE/GO (vincular o teto de gastos com saúde e 
educação ao total de despesas do exercício anterior), a Administração fica desobrigada de 
promover acréscimo dos valores direcionados a essas áreas caso haja um aumento de receita. 
Logo, isso viola a regra de vinculação do art. 198, § 2º, II, e art. 212, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 6129/GO, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 11/9/2019 (Info 951). 
 
Novo Regime Fiscal do Estado de Goiás (NRFG) 
O Estado de Goiás, por meio de emenda à Constituição Estadual (ECs 54 e 55/2017), instituiu um regime 
de contenção de gastos, que foi denominado de “Novo Regime Fiscal do Estado de Goiás” (NRFG). 
Por força do NRFG, houve uma limitação, até 31 de dezembro de 2026, dos gastos correntes dos Poderes 
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como dos órgãos governamentais autônomos (Tribunal de Contas, 
Defensoria Pública, Ministério Público e respectivos fundos especiais). 
O NRFG, mecanismo provisório e excepcional, instituiu ajuste voltado a conter a escalada das despesas 
públicas na esfera local. 
 
ADI 
Foi ajuizada uma ADI contra essas emendas constitucionais e o STF, por maioria, concedeu medida 
cautelar para: 
• suspender a eficácia do art. 113, § 8º, da Constituição do Estado de Goiás, na redação dada pelas 
Emendas de nº 54/2017 e 55/2017 e, com isso, afastar, até o exame definitivo da ADI, a exclusão no 
conceito de limite de despesas com pessoal dos valores alusivos ao pagamento de pensionistas, assim 
como os referentes ao imposto, retido na fonte, incidente sobre os rendimentos pagos aos agentes 
públicos; e 
• suspender os efeitos dos incisos I e II do art. 45 do ADCT da Constituição do Estado de Goiás, na redação 
dada pelo art. 1º da Emenda de nº 54/2017. 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 22 
STF. Plenário. ADI 6129/GO, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 11/9/2019 (Info 951). 
 
§ 8º do art. 111 
A implantação do NRFG foi uma medida necessária em decorrência dos insustentáveis acréscimos com as 
despesas com pessoal, gerando um desequilíbrio nas finanças públicas do Estado de Goiás. 
Entretanto, a nova redação dada ao § 8º do art. 113 da Constituição estadual – inserida por emenda de 
origem parlamentar – resultou na adoção de providência contrária à lógica a presidir o projeto de reforma 
constitucional enviado ao Parlamento pelo Chefe do Executivo local. Isso porque foram excluídos do 
conceito de limite de despesas com pessoal, para aferição da observância, ou não, do teto fixado naLei 
Complementar 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) –, os valores alusivos ao pagamento de 
pensionistas e os referentes ao imposto, retido na fonte, incidente sobre os rendimentos pagos aos 
agentes públicos. 
Veja a redação do dispositivo: 
Constituição do Estado de Goiás: 
Art. 113. A despesa com pessoal ativo e inativo do Estado e dos Municípios não poderá exceder 
os limites globais estabelecidos em lei complementar federal. 
(...) 
§ 8º Na verificação do atendimento pelo Estado dos limites globais estabelecidos na lei 
complementar federal, mencionado no caput deste artigo, não serão computadas as despesas 
com os pensionistas e os valores referentes ao imposto de renda retidos na fonte dos servidores 
públicos estaduais. 
 
Em outras palavras, o § 8º excluiu do limite de despesas com pessoal os gastos com os pensionistas e os 
valores referentes ao imposto de renda retidos na fonte dos servidores públicos estaduais.” 
Ao fazer isso, o § 8º do art. 113 da Carta estadual “empreendeu verdadeiro drible” ao art. 169 da CF/88, que 
afirmou que o legislador federal, mediante a edição de lei complementar, deveria normatizar a matéria: 
Art. 169. A despesa com pessoal ativo e inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios não poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. 
 
A locução contida no texto constitucional – “não poderá exceder” – não gera dúvidas. Ou seja, fixadas, em 
lei complementar federal, as balizas concernentes aos gastos com pessoal, os entes federados vinculam-
se ao versado na norma de caráter nacional. 
O Congresso Nacional, cumprindo o art. 169 da CF/88, editou a Lei Complementar nº 101/2000, conhecida 
como Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). 
Essa Lei estabelece, nos arts. 18 e seguintes, os limites de gastos com pessoal para cada ente da Federação, 
em termos globais e setoriais, bem como as correspondentes exceções. 
Além disso, criou medidas de controle das despesas ante a aproximação ou mesmo transgressão dos 
marcos percentuais estabelecidos – limites de alerta e de prudência nos importes de 90% e 95%, 
respectivamente. 
O mecanismo previsto na LRF foi acoplar a geração de despesas com pessoal à receita corrente líquida, 
vinculando a expansão daquelas ao crescimento desta, compatibilizando-as racionalmente. 
No âmbito dos Estados, a LRF estabeleceu o seguinte: 
Art. 19. Para os fins do disposto no caput do art. 169 da Constituição, a despesa total com pessoal, 
em cada período de apuração e em cada ente da Federação, não poderá exceder os percentuais 
da receita corrente líquida, a seguir discriminados: 
(...) 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 23 
II - Estados: 60% (sessenta por cento); 
 
O art. 18 da LRF, por sua vez, define o conceito de “despesa total com pessoal”: 
Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com pessoal: o 
somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e os pensionistas, relativos 
a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com 
quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, 
subsídios, proventos da aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, 
horas extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e 
contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. 
 
A preocupação em definir o conceito de forma didática e o mais abrangente possível deriva do fato de que 
os gastos com pessoal constituem um dos principais itens da despesa do setor público no Brasil, e o 
descontrole pode ter consequências nefastas à hígida gestão financeira da Administração. 
Percebe-se que a LRF incluiu, para o fim de aferição da observância, ou não, do teto legalmente fixado, os 
gastos concernentes ao pagamento de pensões. Assim o fez porque a figura do pensionista vincula-se à 
do agente público, uma vez que o fato gerador do direito à pensão, observadas as condições prescritas na 
legislação de regência, consiste na morte do servidor em atividade ou aposentado, revestindo-se de 
caráter previdenciário e sujeitando-se aos princípios da contributividade e da solidariedade (art. 40, caput, 
da CF/88). 
Ademais, do ponto de vista econômico, o pagamento de pensões representa inegável encargo fiscal para 
a Administração. Excluir os pensionistas do cálculo de despesas com pessoal não os retira da folha de 
pagamento, pois a despesa não deixa de existir. 
O mesmo raciocínio direciona no sentido da declaração de inconstitucionalidade do trecho, igualmente 
inserido no art. 113, § 8º, da Constituição do Estado de Goiás, por meio do qual excluídas, do conceito de 
limite de despesas com pessoal, aquelas alusivas aos valores do imposto, retido na fonte, incidente sobre 
os rendimentos pagos aos agentes públicos. Isso porque tal parcela faz parte da remuneração bruta devida 
aos servidores, a ser incorporada ao patrimônio destes, embora, via de regra, posteriormente repassada 
à Administração à qual se vinculam. 
Ausente expressa menção ao imposto retido na fonte incidente sobre os rendimentos pagos aos 
servidores, no § 1º do art. 19 da LRF, é inviável excluí-lo do todo concernente às despesas com pessoal 
ativo e inativo para o fim de aferição da observância, ou não, do limite percentual estabelecido. 
Em termos práticos, o resultado da atuação do constituinte estadual implicou dar carta branca à 
Administração, permitindo-lhe ampliar os gastos com pessoal, ausente base econômica sólida a sustentar 
o imediato incremento das despesas, sem, no entanto, ultrapassar, em tese, os limites instituídos pela 
legislação federal de regência. Tem-se “maquiagem” para escamotear-se o quadro de descontrole fiscal. 
 
Incisos I e II do art. 45 do ADCT da CE/GO 
O art. 45, I e II, do ADCT da CE/GO previu o seguinte: 
Art. 45. A partir do exercício financeiro de 2018, as aplicações mínimas de recursos pelo Estado: 
I - em ações e serviços públicos de saúde e em manutenção e desenvolvimento do ensino 
corresponderão, em cada exercício financeiro, às aplicações mínimas referentes ao exercício 
anterior, corrigidas pela variação do IPCA ou da RCL, na forma do art. 41; 
II - em manutenção e reconstrução de rodovia, aeródromo, autódromo, porto pluvial e balsa 
corresponderão, em cada exercício financeiro, a dois terços da sua participação no produto da 
arrecadação do Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores -IPVA. 
 
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Informativo 951-STF (18/09/2019) – Márcio André Lopes Cavalcante | 24 
Ao suspender a exigência de atrelamento, em determinado exercício fiscal, à receita efetivamente 
arrecadada, dos gastos estaduais com “ações e serviços públicos de saúde” e “manutenção e 
desenvolvimento do ensino”, limitando-os ao montante correspondente às despesas do exercício anterior 
“corrigidas pela variação do IPCA ou da RCL”, o art. 45, I acima transcrito violou o art. 198, § 2º, II, e o art. 
212, da CF/88: 
Art. 198 (...) 
§ 2º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aplicarão, anualmente, em ações e 
serviços públicos de saúde recursos mínimos derivados da aplicação de percentuais calculados 
sobre: 
(...) 
II – no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecadação dos impostos a que se 
refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alínea a, e inciso II, 
deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municípios; 
 
Art. 212. A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal 
e os Municípios vinte e cinco por cento,

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