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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FERNANDA SILVA DE FREITAS INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA INCIDÊNCIA DA FEBRE AMARELA NA AMAZÔNIA LEGAL VOLTA REDONDA 2014 FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA PRÓ-REITORIA ACADÊMICA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS INFLUÊNCIA DE FATORES SOCIOAMBIENTAIS NA INCIDÊNCIA DA FEBRE AMARELA NA AMAZÔNIA LEGAL Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas, com Ênfase em Biotecnologia do UniFOA como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel. Aluna: Fernanda Silva de Freitas Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Figueiró Portella Pereira Volta Redonda 2014 A Deus principio e fim de tudo “Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível”. Charles Chaplin Tenho primeiramente que agradecer a Deus por ter me concedido forças para superar todas as dificuldades e concluir mais uma etapa em minha vida. Aos meus pais por estarem ao meu lado durante todo tempo me incentivando, apoiando e suportando todas as minhas lamentações, não me deixando desistir Aos meus amigos que indireta ou diretamente contribuíram ao longe de todo o percurso. Ao meu orientador Prof. Ronaldo por todo suporte mesmo que em curto espaço de tempo foi essencial, para a realização deste trabalho. RESUMO O objetivo deste trabalho foi estudar a ocorrência de febre amarela em toda a região da Amazônia Legal brasileira, buscando possíveis relações com os focos de desmatamento. Foi realizado um estudo com dados secundários no período de 1998 a 2007, através de casos registrados de febre amarela e de focos registrados de desmatamento, fornecidos Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados por Estado foram tratados com o coeficiente de correlação Spearman e os dados médios da Amazônia Legal foram submetidos a uma transformação logarítmica. A regressão linear realizada com os valores médios não apresentou significância estatística entre os casos de febre amarela e os focos de desmatamento. Os resultados destas análises são contrários aos resultados de outros estudos que confirmaram a ocorrência de surtos de Febre Amarela em regiões que sofreram com desmatamentos. Estatisticamente estudos desta mesma natureza relacionam a ocorrência de outras doenças vetoriadas, como a Malária e a Dengue em áreas desmatadas. A ausência de uma relação significativa no presente estudo pode ser consequência escala regional escolhida, de forma que a relação entre os fatores e a ocorrência da doença seja em menor escala mais evidente. . Palavras-chave: febre amarela; Amazônia legal; desmatamento. ABSTRACT The present study aimed to investigate the occurrence of yellow fever in all Legal Amazon region, searching possibel relations with deforestation foci. An investigation with secondary data from 1998 to 2007 was conducted using reported cases and deforestation information from the DATASUS and IBGE. Data from each state were treated with Spearman rank order correlation, while overall Legal Amazonia data were log transformed and submitted to a linear regression with was not statistically significant between yellow fever cases and deforestation foci. The results of these analyses are contrary to the results of other studies in the literature which confirmed the occurrence of Yellow fever cases with recently deforested áreas. Some studies also relate statistically deforestation with the occurrence of Malaria and Dengue. The absence of a significant pattern in the present study may be consequence of the chosen scale, possibly in a smaller scale patterns would be more evident. Key-words: yellow fever; Legal Amazonia; deforestation. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 13 2.1 Febre Amarela ............................................................................................ 14 2.1.1 Histórico .................................................................................................. 14 2.1.2 Agente Etiológico..................................................................................... 15 2.1.3 Vetores .................................................................................................... 16 2.1.4 Transmissão ............................................................................................ 18 2.1.4.1 Ciclo Silvestre ....................................................................................... 18 2.1.4.1 Ciclo Urbano ......................................................................................... 19 2.1.5 Epidemiologia .......................................................................................... 19 2.1.6 Profilaxia .................................................................................................. 22 2.1.6.1 Vacina .................................................................................................. 21 2.1.6.2 Combate aos Vetores ........................................................................... 21 2.2 Amazônia Legal ......................................................................................... 21 2.2.1 Conceito .................................................................................................. 21 2.2.2 Área da Amazônia Legal ........................................................................ 22 2.2.3 Exploração .............................................................................................. 22 3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................. 25 3.1 Métodos ...................................................................................................... 25 3.1.1 Área Geográfica Abrangida ..................................................................... 25 3.1.2 Delineamento Epidemiológico ................................................................. 25 3.2 Materiais ..................................................................................................... 25 3.2.1 Base de informações ............................................................................... 25 3.2.2 Delineamento Estatístico .........................................................................25 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 27 5 CONCLUSÃO ................................................................................................ 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 31 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Aedes aegypti.................................................................................. 17 Figura 2 – Aedes albopictus ............................................................................. 17 Figura 3 – Haemagogus janthinomys ............................................................... 18 Figura 4 – Áreas de circulação do vírus da febre amarela no Brasil ................ 20 Figura 5 – Área da Amazônia Legal ................................................................. 22 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Número de casos de febre amarela por estado da Amazônia Legal de 1998 a 2007 .................................................................................. 27 Tabela 2 – Número de focos de desmatamento por estados da Amazônia Legal de 1998 a 2007 ................................................................................. 27 Tabela 3 – Dados médios de desmatamento e número de casos de febre amarela na Amazônia Legal ............................................................................ 28 Tabela 4 – p- valores do coeficiente de correlação de Spearman para esgotamento e número de casos de febre amarela .............................................. 28 Tabela 5 – p- valores do coeficiente de correlação de Spearman para esgotamento e número de focos de desmatamento .............................................. 28 LISTA DE SIGLAS DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde IMPE – Instituto de Pesquisas Espaciais PPCDAm – Plano de Ação Para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal PRODES – Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia 12 1 INTRODUÇÃO A febre amarela e uma doença não contaminante, transmitida ao homem através da picada de mosquitos do gênero Aedes e Haemogogus. O vírus da febre amarela pertence ao gênero flavivirus da família flaviviridae. A doença pode ser classificada epidemiologicamente em duas modalidades: ciclo de transmissão urbana simples, do tipo homem-mosquito e o tipo de transmissão silvestre complexo, onde várias espécies do mosquito Aedes podem ser responsáveis pela transmissão (VASCONCELOS, 2002). Diversas espécies de mosquitos transmitem esta doença, com destaque para o Aedes aegypti, principal transmissor da febre amarela urbana e do dengue no mundo; o Aedes albopictus que além da febre amarela urbana e silvestre, e do dengue transmite também a encefalite de São Luiz nos países asiáticos e finalmente o Haemogogus capricornii, uma espécie muito importante na transmissão de febre amarela silvestre que vive nas copas das árvores (NEVES, 2005). Atualmente o melhor método de prevenção da doença é a vacina, que se trata de um vírus atenuado da Cepa 17 DD. Apesar de já terem sido descritos casos de óbito após a vacinação (de 5 a 10 dias), estas mortes estariam associadas a pessoas imunodeprimidas estas mortes estariam associadas a pessoas com deficiências imunológicas. Sabe-se que há estudos para aprimoramento da vacina contra a febre amarílica e que avanços já foram alcançados (BENCHIMOL, 2001). O vetor urbano foi erradicado do Brasil duas vezes, nos anos de 1958 e em 1973. Contudo, a partir de 1976, foram registradas diversas ocorrências de reinfestações, em países vizinhos da América Latina, até mesmo da América do Norte, o que, associado à falta de recursos para combatê-los, permitiu a expansão do vetor a grandes áreas do território nacional (LIMA, 2008). Na região da Amazônia Legal estão presentes cerca de 40% das florestas tropicais remanescentes no mundo, desempenhando papel fundamental na 13 biodiversidade, ciclo hidrológico, climas regionais e estocagem de carbono (FEARNSIDE, 1999). O desmatamento é um dos fatores primordiais, nas transformações ambientais responsáveis pelos riscos à saúde humana (CONFALONIERI, 2005). Efeitos agressivos do desequilíbrio ambiental podem desencadear processos muitas vezes imperceptíveis, porém complexos e letais. O desmatamento é um exemplo claro deste fenômeno. Alterações no ambiente promovem a migração de populações de espécies vetores, hospedeiras e reservatórias de agentes patogênicos do vírus da febre amarela, expondo o homem a maiores ocorrências de patogenias. O desmatamento causa o desequilíbrio entre o patógeno e seu ambiente, causa a proliferação de vetores e parasitas dando oportunidade para a incidência de epidemias (MARTINS, 2008). A destruição de biomas naturais pode causar o reaparecimento de doenças recentes e antigas. Pode-se destacar a ocorrência de febre amarela ao desmatamento e seus efeitos. A reurbanização pode destruir frequentemente sistemas florestais, transformando os habitats dos mosquitos vetores da doença (MARTINS, 2008). O estudo teve o objetivo de relacionar a incidência de febre amarela em áreas desmatadas da região da Amazônia Legal. 14 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Febre Amarela 2.1.1 Histórico O primeiro a se referir à febre amarela de forma precisa foi o jesuíta Raymond Breton em 1635, ao relatar uma epidemia entre os imigrantes franceses na ilha de Guadalupe, indicando todos os sintomas da doença. Foi ele quem também mencionou a ligação entre a doença e o desmatamento (FRANCO, 1969). Em 1682, historiadores admitiram que a procedência da doença fosse Africana, porém deixaram claro que determinar o primeiro caso, não era garantia de ser este o local de origem (BENCHIMOL, 2001; FRANCO, 1969). No Brasil ocorreu em 1685 a primeira epidemia de febre amarela no estado do Recife, e em 1686 na Bahia. É provável que o vírus tenha sido inserido no país através de tripulantes de navios de origem desconhecida que atracavam na costa brasileira. Após essas epidemias, houve combate aos vetores, e durante longo período não foram registrados casos da doença. Entre os anos de 1928 e 1929, houve uma grande epidemia no Rio de Janeiro, após 20 anos sobre relatos de casos de febre amarela (FRANCO, 1969). No inicio da década de 1930 o governo brasileiro assinou um convênio com a fundação Rockfeller, que trouxe para o instituto Oswaldo Cruz o Serviço de Pesquisa sobre a doença. Este laboratório era um desdobramento de cooperação que a agência norte-americana celebrara nos anos de 1920 com o departamento nacional de saúde pública, com o acordo prévio de erradicação da febre amarela e controle da malária (URQUIDI, et al. 2004). O serviço de febre amarela passou a discriminar três cenários epidemiológicos distintos: a doença urbana, a doença rural endêmica encontrada principalmente no interior da região nordeste, as duas transmitidas pelo Aedes 15 aegypti; e a doença silvestre, observada a partir de 1932, onde o vírus se alastrava por enormes áreas de mata, tendo como hospedeiro macacos (BENCHIMOL, 2001).Epidemias de febre amarela nos últimos cinquenta anos merecem destaque. Durante a década de 90 ocorreu uma grande epidemia de febre amarela silvestre nos estados do Maranhão, Amazonas, Pará, Tocantins e Goiás, e entre 2001 e 2003, foram registrados dois surtos no estado de Minas Gerais. (URQUIDI, et al. 2004). 2.1.2 Agente Etiológico O vírus amarílico é pertencente ao gênero Flavivirus, família Flaviviridae, oriunda do latim flavus=amarelo, essa mesma família é responsável por diversos vírus causadores de doenças no homem, como a dengue. O vírus da febre amarela possui genoma de RNA de fita simples, com sentido positivo. Com cerca de 11 kilobases de comprimento, possui 10.800 nucleotídeos, que codificam 3.411 aminoácidos. O vírion mede cerca de 25-40nm de diâmetro sendo envolvido por um envelope originário da célula hospedeira, a partícula integra, vírion + envelope, mede cerca de 40-50nm. O RNA viral expressa sete proteínas não estruturais que são: ns1, ns2A, ns2B, ns3, ns4A, ns4B, ns5 e três proteínas estruturais, que são: prM, E e EC. As proteínas não estruturais são responsáveis pelas atividades de expressão e reguladoras do vírus, como a virulência, patogenicidade e replicação, enquanto as proteínas estruturais codificam a formação da estrutura básica da partícula viral (VASCONCELOS, 2002). Até pouco tempo, a origem do vírus era desconhecida, não havia conhecimento se ele já era existente na América antes da vinda dos escravos comercializados da África. 16 Utilizando técnicas de biologia molecular, foram realizadas pesquisas, que puderam comprovar que o vírus tem origem africana (VASCONCELOS, 2003). 2.1.3 Vetores Em áreas silvestres, os mosquitos do gênero Haemagogus e Sabethes são os que possuem maior importância na América Latina. No Brasil, a espécie H. janthinomys é a com maior destaque na manutenção do vírus. Esses mosquitos têm hábitos diurnos e vivem no alto das árvores, descendo ao solo algumas vezes na presença do homem ou quando a quantidade de macacos é pequena. Esta atividade é estimulada pelo aumento de atividades de desmatamento (URQUIDI, et al.1999). Na África, os vetores são mosquitos do gênero Aedes, particularmente o Aedes africanus e Aedes simpsoni. O primeiro é responsável pela transmissão na copa das árvores, principalmente entre macacos, enquanto o Aedes simpsoni é responsável pela transmissão da doença dos macacos para o homem, na África Oriental. Outras espécies de Aedes são importantes vetores nas áreas de savana na África Ocidental. (VASCONCELOS, 2003) Nas áreas urbanas, o mosquito Aedes aegypti (Figura 1) é o principal vetor em ambos os continentes (URQUIDI, et al. 2004). Em relação ao Aedes albopictus (Figura 2), ainda não se sabe qual o papel que ele pode desempenhar na transmissão da febre amarela. Por sua ampla capacidade ecológica, adapta-se facilmente aos ambientes rural, urbano e peri- urbano, podendo servir como ponte entre os ciclos silvestre e urbano da doença (MONATH, 1987). Estudos realizados em laboratório já demonstraram sua capacidade de transmitir o vírus amarílico (MILLER, et al.1989). O mosquito Haemagogus janthinomys (Figura 3) é o principal transmissor do vírus amarílico. Este mosquito apresenta a maior distribuição geográfica conhecida de espécies desse gênero. Esta espécie é a que apresenta as melhores condições 17 para transmitir o vírus por ser intensamente propenso ao mesmo (VASCONCELOS, 2003). Figura 1: Aedes aegypti (VIEIRA G. J. Fiocruz.) Figura 2: Aedes albopictus (STICH A., Liverpool School of Tropical Medicine) 18 Figura 3: Haemagogus janthinomys (DÉGALLIER 2001) 2.1.4 Transmissão O vírus da febre amarela é mantido em dois ciclos epidemiológicos diferentes, um silvestre e o outro urbano. Esses ciclos possuem variação de acordo com os aspectos de localização geográfica, hospedeiro relacionado e mosquitos transmissores. Etiologicamente, clinicamente, imunologicamente e patologicamente, é a mesma doença, porém em áreas urbanas na América, o vírus amarílico é transmitido pela fêmea infectada de Aedes aegypti, e em ambientes silvestres, além de mosquitos do gênero Aedes, outras espécies podem transmitir o vírus, principalmente os gêneros Haemagogus e Sabethes. 2.1.4.1 Ciclo Silvestre O ciclo silvestre da febre amarela foi reconhecido na década de 1930. É muito abstruso e imperfeitamente compreendido, variando de acordo com a região de ocorrência. Os mosquitos além de serem transmissores são os reservatórios do 19 vírus, pois uma vez infectados permanecerão assim durante o restante da vida, ao contrário dos macacos que, como os homens, ao se infectarem morrem ou curam- se, tornando-se imunes para sempre. (VASCONCELOS, 2003). Neste ciclo o homem é considerado um hospedeiro acidental, sendo os primatas os principais hospedeiros. O homem é infectado ao ser picado acidentalmente por fêmeas de mosquitos Haemagogus ou Aedes, de acordo com a região, infectadas com o vírus amarílico. 2.1.4.2 Ciclo Urbano No ciclo urbano da febre amarela o homem é infectado diretamente pelo principal vetor que é o Aedes aegipti, mesmo mosquito transmissor do vírus da dengue sem necessitar da presença do hospedeiro amplificador, ou seja, o homem atua como o introdutor do vírus em uma área urbana, já que quando inserido o vírus em um ambiente urbano, o individuo infectado irá desenvolver viremia, funcionando como fonte de infecção para novos mosquitos. Desta forma, o ciclo se mantém, até que haja uma ação para impedir a transmissão. 2.1.5 Epidemiologia O continente africano é o responsável por mais de 90% dos casos de febre amarela notificados anualmente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (VASCONCELOS, 2003). No início do século XX, o território brasileiro era considerado quase que totalmente área de risco. Mesmo com o desaparecimento do modo de transmissão urbano e a prevalência da transmissão silvestre mantém a necessidade da continuidade de estudos para que as áreas de risco no país sejam identificadas (URQUIDI, et al. 2004). Segundo Vasconcelos (2003), áreas endêmicas no Brasil são: Maranhão, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, como podem ser visualizados na figura 4. 20 Figura 4: Áreas de circulação do vírus da febre amarela no Brasil. (Ministério da Saúde 2008) O risco para se adquirir a doença são variados, sendo mais suscetíveis aqueles que se expõem em áreas de maior ocorrência do vírus, como em matas. No Brasil a doença tem sido registrada principalmente entre lenhadores, vaqueiros, garimpeiros, indígenas, seringueiros e ribeirinhos, e na África em turistas. (VASCONCELOS, 2003). 2.5 Profilaxia A febre amarela está inclusa na lista de doenças de notificação compulsória, ou seja, suspeitas e casos de febre amarela devem ser imediatamente notificados às autoridades sanitárias responsáveis para que medidas preventivas sejam tomadas o mais brevemente possível. Algumas medidas são necessárias para a prevenção da reincidência de febre amarela (TAUIL, 2006). Dois métodos para evitar a contaminação com o vírus amarílico são o uso da vacina e o combate aos vetores. (VASCONCELOS, 2002). 21 2.5.1 Vacina A produção da vacina 17D contra a febre amarela iniciou-se pelo Instituto Osvaldo Cruz, no Rio de Janeiro em março de 1937, e começou a ser usada no mesmo ano (URQUIDI, et al. 2004). A partir daí, mais de 500 milhões de pessoas já foram imunizadas, sendoesta considerada a vacina com maior eficácia no mundo (TAUIL, et al. 2011). O uso da vacina é o método mais eficaz na prevenção de febre amarela. É recomentado que pessoas sadias com mais de seis meses de idade que estejam ou que venham a se expor à infecção sejam vacinadas. Uma única dose protege o indivíduo por cerca de 10 anos e até mesmo por toda a vida (VASCONCELOS, 2002). 2.5.2 Combate aos Vetores O combate aos vetores da forma silvestre é inviável, já que o vírus circula entre as matas, ao contrário do combate ao vetor urbano, Aedes aegypti. Excluindo a vacina, o combate ao vetor urbano é o único meio de impedir a volta do vírus ao meio urbano (VASCONCELOS, 2002). 2.2 Amazônia Legal 2.2.1 Conceito O conceito de Amazônia legal foi instituído pelo governo brasileiro em seis de Janeiro de 1953, através da Lei Nº 1.806, com o intuito do governo promover e planejar o desenvolvimento econômico da região. 22 2.2.2 Área da Amazônia Legal A Amazônia Legal abrange os estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, a oeste do meridiano de 44º, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, totalizando uma área de superfície aproximada de 5.114.798,30 de km² (Figura 5). Corresponde à cerca de 61% do território brasileiro, abrigando uma longa faixa de vegetação de transição, como os campos ao norte e os cerrados ao sul. Nesta região estão concentradas cerca de metade das espécies de plantas tropicais conhecidas, possui clima equatorial, quente e úmido, com variações na temperatura, em 26°C. Figura 5: Área da Amazônia Legal Brasileira (IBGE 2007) 2.2.3 Exploração Segundo AMBIENTE BRASIL (2010) desmatamento é a operação que objetiva a supressão total da vegetação nativa de determinada área para o uso alternativo do solo, ou seja, qualquer descaracterização que venha a suprimir toda vegetação nativa de uma determinada área deve ser interpretada como 23 desmatamento. Considera-se nativa toda vegetação original, remanescente ou regenerada. O aumento em alta escala na exploração de recursos da Amazônia Legal brasileira tem aumentado radicalmente a taxa de desmatamento nos anos de 2002 e 2003 (INPE, 2004). Dados publicados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), oriundos do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (PRODES) afirmam que foram removidas cerca de 18% das florestas na Amazônia legal. Esse percentual está concentrado especialmente em uma área denominada Arco do Desflorestamento, região que abrange desde o oeste do Estado do Maranhão, passa por Tocantins, parte do Pará e Mato Grosso, todo Estado de Rondônia, sul do Amazonas e chega ao Acre (Brasil, 2009). O desmatamento na Amazônia Legal vem sendo medido desde 1988. De acordo com o Plano de Ação Para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), o processo de desmatamento nestas áreas não é análogo, possui variação de acordo com as diferentes regiões e ao longo do tempo. Estima-se que as áreas desmatadas em 1980 eram de cerca de 300 mil km². Nas décadas de 1980 e 1990, cerca de 280 mil km² foram acrescentados a esta área. Em 2004, o índice de desmatamento era de aproximadamente 16% da área total de floresta da Amazônia Legal. O ritmo de desmatamento se intensificou, corrompendo o processo de desenvolvimento na região. O processo de desmatamento na região da Amazônia Legal, geralmente é iniciado com construção de estradas ou rodovias. Essas alterações desreguladas geram desintegração das florestas, ocasionando perdas na biodiversidade e irregularidades nos ciclos ecológicos. 24 O aumento do desmatamento na Amazônia Legal foi iniciado na década de 1970 durante os Planos nacionais de desenvolvimento (I, II, III), que tinham o objetivo de incorporar a Amazônia com as outras regiões do país, estimulando sua economia. Com isso, vieram os aumentos no índice de desmatamento. 25 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Métodos 3.1.1 Área geográfica abrangida O universo da pesquisa é composto pela Amazônia Legal Brasileira que abrange os Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Rondônia, Roraima e Tocantins , em uma escala de nove anos (1998 a 2007). 3.1.2 Delineamento epidemiológico O método epidemiológico empregado é um estudo longitudinal, de série temporal, que pode ser compreendido como o estudo epidemiológico que utiliza agregados populacionais como unidade de análise. 3.2 Materiais 3.2.1 Base de informações A base de informações é composta por dados secundários provenientes da publicação do Sistema Nacional de Informações em Saúde (SNIS) de 1998 a 2007 e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Sinopse dos Setores. 3.2.2 Delineamento estatístico Os dados secundários coletados através do SNIS foram inseridos em planilha no software Bioestat 5.3 © e analisados quanto à aderência a distribuição normal através do teste de Lilliefors. Foram utilizados dados individualizados por estado componente da Amazônia Legal e os valores médios da Amazônia Legal como um todo. Os dados dos Estados foram tratados com o coeficiente de correlação de Spearman, enquanto que os dados médios da Amazônia Legal foram submetidos a 26 uma transformação Logarítmica. Os dados transformados foram então submetidos a uma análise de resíduos, com o intuito de identificar e excluir possíveis outliers, e então passaram por um procedimento de ajustamento de curvas a fim de se determinar o melhor modelo de regressão. 27 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram levantados dados referentes aos casos de febre amarela e de focos de desmatamento no período de 1998 á 2007 em todos os estados da Amazônia Legal como pode ser verificado nas tabelas 1 e 2. Tabela 1: Número de casos de Febre Amarela por Estado da Amazônia Legal de 1998 a 2007 Estado / ANO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Rondônia 0 1 0 0 0 0 0 1 0 0 Acre 3 1 0 1 1 0 0 0 0 0 Amazonas 7 2 1 0 1 1 0 0 0 0 Roraima 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Pará 1 8 3 0 1 1 2 1 1 1 Amapá 2 2 0 0 0 1 0 1 0 0 Tocantins 0 0 2 1 1 2 0 0 1 0 Maranhão 1 0 1 3 0 1 0 1 0 4 Mato Grosso 0 0 5 0 1 1 2 0 0 0 T Tabela 2: Número de focos de desmatamento por Estado da Amazônia Legal de 1998 a 2007. Estado / ANO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Rondônia 2041 2358 2465 2673 3099 3597 3858 3244 2049 1611 Acre 536 441 547 419 883 1078 728 592 398 184 Amazonas 670 720 612 634 885 1558 1232 775 788 610 Roraima 223 220 253 345 84 439 311 133 231 309 Pará 5829 5111 6671 5237 7510 7145 8870 5899 5659 5526 Amapá 30 0 0 7 0 25 46 33 30 39 Tocantins 576 216 244 189 212 156 158 271 124 63 Maranhão 1012 1230 1065 958 1085 993 755 922 674 631 Mato Grosso 6466 6963 6369 7703 7892 10405 11814 7145 4333 2678 28 Durante este período foram notificados 63 casos em todos os Estados da região da Amazônia Legal. A regressão linear realizada com os valores médios (Tabela 3), não apresentou significância estatística entre os casos de febre amarela e os focos de desmatamento, da mesma forma que os coeficientes de correlação de Spearman que foram determinados para o desmatamento da florestaAmazônica por estado da Amazônia legal também não apresentaram significância estatística (Tabela 4), sendo o mesmo padrão observado para a relação entre número de domicílios com esgotamento e casos de Febre Amarela (Tabela 5). Tabela 3: Dados médios de desmatamento e número de casos de Febre Amarela na Amazônia Legal. ANO Desmatamento médio Número médio de casos 1998 2145 1,75 1999 2129,875 1,75 2000 2246,625 1,5 2001 2227,5 0,625 2002 2695,75 0,625 2003 3119,625 0,875 2004 3432,625 0,5 2005 2360,125 0,5 2006 1756,875 0,25 2007 1417,75 0,625 Tabela 4: p-valores do coeficiente de correlação de Spearman para esgotamento e número de casos de febre amarela. Estados p-valor Rondônia 0,14 Acre 0,73 Amazonas 0,49 Pará 0,44 Amapá 0,1 Tocantins 0,73 Maranhão 0,71 Mato Grosso 0,79 Tabela 5: p-valores do coeficiente de correlação Spearman para esgotamento e número de focos de desmatamento. Estados p-valor Rondônia 0.81 Acre 0.83 Amazonas 0.98 Pará 0.7 Amapá 0.78 Tocantins 0.61 Maranhão 0.36 Mato Grosso 0.19 29 Pesquisas realizadas afirmam que modificações promovidas pelo homem em ecossistemas naturais são grandes facilitadores para a formação de habitats favoráveis à proliferação de mosquitos transmissores de infecções humanas. O aumento da urbanização desordenada em áreas urbanas altera o ciclo natural dos mosquitos que passam a utilizar o homem como hospedeiro (MORAES, 2007). Esses fatores podem acarretar não apenas o aumento de febre amarela, como de outras doenças transmitidas por vetores, como a leishmaniose e a malária. Os resultados destas análises divergem dos resultados de estudos como o de Ribeiro & Antunes (2009), que observou que um surto de Febre Amarela havia se dado em uma região que sofria com desmatamentos recentes. Outros autores apontam que aumento da temperatura também pode influenciar no surgimento de doenças e seus vetores em locais onde não existiam, e o aumento da poluição e a destruição dos biomas naturais podem ser outros fatores relacionados à reemergência de doenças como a Febre Amarela (MARTINS, 2008). Embora muitos estudos relacionem estatisticamente a incidência de Malária, Dengue e outras doenças vetoradas ao desmatamento, estudos desta mesma natureza para a Febre Amarela são mais escassos. A ausência de uma relação significativa no presente estudo pode ser consequência dos recortes espaciais escolhidos, de forma que em uma escala menor é possível que a relação entre esses fatores e a incidência da doença sejam mais evidentes. 30 5 CONCLUSÃO Em vista das referências apresentadas, diversos fatores interferem na ocorrência de febre amarela. Desequilíbrios ambientais desencadeiam diversos processos que podem promover a proliferação dos mosquitos vetores do vírus amarílico ocasionando alterações em seu ciclo natural expondo o homem à infecção. Com base nos resultados das análises feitas, não ficou evidente que a incidência de febre amarela na Região da Amazônia Legal está relacionada às taxas de desmatamento. O desmatamento pode ser considerado ou não como um dos fatores que contribuem para a prevalência nos casos de febre amarela. Generalizar um perfil de febre amarela para a região da Amazônia Legal ao todo é um risco, já que cada região possui características próprias que podem contribuir para a incidência da doença. 31 REFERÊNCIAS AMBIENTE BRASIL. Disponível em http://www.ambientebrasil.com.br. Acesso em 03/10/2014. ARAUJO, Tais Pinheiro de et al . Diagnóstico sorológico de infecções por dengue e febre amarela em casos suspeitos no Estado do Pará, Brasil, 1999. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 35, n. 6, dez. 2002. BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA- CASA CIVIL. Plano de ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal. Brasília, DF. mar. 153p. 2004. BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA- CASA CIVIL. Plano Amazônia Sustentável: Diretrizes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia Brasileira. Brasília, 114p. 2008. DATASUS. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Disponível em http://www.datasus.saude.gov.br. Acesso em 31/03/2014 FEARNSIDE, P. M. 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