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COLETÃNEA de MENSAGENS I Este é um trabalho de tradução e adaptação feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas nos séculos XVI a XIX, por um processo de eximia seleção de arquivos em domínio público de homens santos de Deus que tiveram uma vida piedosa e real, que é tão raramente vista em nossos dias. Estas mensagens estão sendo traduzidas pioneiramente para a língua portuguesa, dando assim oportunidade de serem lidas e conhecidas em países da citada língua. 2 Sumário A Águia e a Sua Ninhada..........03 A Armadura Completa de Deus.............................................39 A Batalha é do Senhor.........76 A Cana Rachada e o Pavio Fumegante...............................107 A Chuva que Cai e a Terra que Brota........................................137 3 A Águia e a Sua Ninhada Título original: The Eagle and Her Young Por J. C. Philpot (1802-1869) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Fev/2017 4 P571 Philpot, J. C. – 1802 -1869 A águia e a sua ninhada / J. C. Philpot Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2016. 36p.; 14,8 x 21cm Título original: The Eagle and Her Young 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230 5 “Achou-o numa terra deserta, e num ermo de solidão e horrendos uivos; cercou-o de proteção; cuidou dele, guardando-o como a menina do seu olho. Como a águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho.” (Deut 32.10- 12) Nos conselhos solenes da eternidade, Deus, o Pai, deu ao seu Filho uma Noiva. "Um certo rei", lemos, "fez um casamento do seu Filho". Esta Noiva Jesus aceitou das mãos de seu Pai - "Teus eram, e tu mos deste". "Todos os meus são seus, e os seus são meus, e eu sou glorificado neles." Mas, ao aceitar esta Noiva, ele a aceitou para melhor ou pior, para o bem ou para o mal. Ele a levou a prever a profundidade da miséria e do pecado em que ela caiu; mas determinou-se a tê- la a qualquer preço. Desta Igreja e Noiva, Israel, o literal Israel, era um tipo e uma figura. Isso torna o Antigo Testamento tão cheio de instrução, que no Israel literal vemos a representação simbólica do Israel espiritual; e nos tratos externos de 6 Deus com ele como uma nação, nós vemos no tipo e na figura, a delineação de suas relações internas com sua família viva. Quando isto é visto pelo olho da fé, um raio de luz divina é lançado sobre as páginas do Antigo Testamento, e não é mais lido como um registro seco, morto, histórico de tempos passados, mas torna-se um livro vivo, um memorial sagrado do amor, graça e glória de Jesus Cristo, "o mesmo ontem, hoje e eternamente". É deste Israel literal que o nosso texto fala, o que podemos ver como um resumo ou epítome do trato de Deus com seu povo no deserto. Mas, se eu estivesse debruçado sobre esta passagem para me limitar ao Israel literal, e ver as palavras como meramente descritivas de sua jornada para Canaã, eu pairaria apenas sobre a superfície do livro, e não mergulharia na rica experiência da família de Deus existente em seu seio. Com a bênção de Deus, portanto, e na medida em que Ele possa permitir, irei olhar as palavras diante de nós inteiramente num sentido espiritual, e encará-las como aplicáveis à família redimida e regenerada. 7 Há duas principais características que podemos observar. Eu penso, nas palavras diante de nós como: I. O estado e a posição em que se diz que Deus encontra o seu Israel: "numa terra deserta, e num ermo de solidão". II. As relações de Deus com seu Israel, quando Ele assim o encontrou. "Ele o guiou", etc. Visto nesta luz, o texto reflete toda a experiência de um cristão; compreende o todo do que é pela natureza, e do que é pela graça; e assim abraça em um amplo escopo toda a condição de um filho de Deus, tanto como está na queda de Adão, e como ele está na recuperação pelo Senhor Jesus Cristo. I. O estado e a posição em que Deus diz que encontra seu Israel - "numa terra deserta, e num ermo de solidão." Há algo singularmente discriminante em todo o capítulo. Quão impressionantes são as palavras: "A porção do Senhor é o seu povo, e Jacó é a sua herança!" Mas quem, e o que era Jacó mais do que outros? Para derrubar toda ideia de mérito, 8 para colocar o machado efetivamente na raiz daquela enorme árvore farisaica, o Senhor pronuncia decisivamente qual era a situação de Israel, qual era o estado de Jacó, quando o encontrou por Sua graça. "numa terra deserta, e num ermo de solidão." Que descrição do estado do homem por natureza! Vamos examiná-lo, e ver, se pudermos, o que está implícito nesta figura marcante, pois é evidentemente característica de nossa condição caída. O homem por natureza, é aqui comparado a "um deserto", isto é, um deserto oriental; um vasto trecho de terra estéril, incultivável, onde tudo está ressequido pelos áridos raios do sol, onde não só não cresce planta nem flor, mas em que nenhum deles pode crescer. Mas, o homem sempre foi esse ser árido? Quando Deus criou Adão à Sua própria imagem, segundo Sua própria semelhança, o coração do homem era um deserto árido? O jardim do Éden, no qual Deus o plantou, era apenas uma imagem do que era o homem, como feito à semelhança de Deus. O sonho do Éden, em toda a sua beleza gloriosa, era um emblema apto, bem como uma habitação adequada para o 9 homem quando ele veio à existência da mão criadora de Deus, todo resplandecente e radiante com os raios da beleza e glória divina. O homem então, não era sempre um "deserto". Foi o pecado que arruinou, desolou, e o assolou, e, como lemos de Abimeleque (Juízes 9:45), "semeou com sal", de igual forma o homem fez um deserto do Éden de seu coração. Agora, isso é uma questão individual e pessoal, e posso acrescentar; na maior parte, uma experiência dolorosa, pois há no coração de um filho de Deus o desejo de ser frutífero. Ele olha sem prazer o seu próprio deserto, mas gostaria de ver alegremente uma colheita rica e generosa. Mas ai, infelizmente! Ele acha que este deserto é absolutamente incultivável; que quaisquer que sejam as plantas da sua natureza terrena, logo se secam ao sol da tentação, ou são sopradas pelo vento ardente. Mas, o Senhor encontra o seu Israel também "no ermo de solidão uivando no deserto". Não é esta também uma figura do estado desolado do homem? "Um desperdício." A palavra parece implicar lesões infligidas por um inimigo. 10 Conquistadores antigos exultaram em regiões férteis que eles desolaram. Diz-se assim, do orgulhoso rei da Babilônia, que "fez o mundo como um deserto e destruiu suas cidades". Um poderoso conquistador desperdiçou o coração do homem, e manchou nele todos os traços da imagemde Deus, espalhou-o com toda a erva selvagem e nociva, cortou as suas videiras, encheu seus poços, puxou as suas cercas e deixou-a para ser pisoteado pelos cascos de todas as bestas selvagens. Este conquistador é Satanás, e seu exército triunfante é o pecado. Pelo pecado, ele desolou o coração humano; por causa do pecado ele o pôs em perigo e o desnudou; pelo pecado ele o pisoteou e lançou- o aberto como presa a todo animal selvagem. Mas, de Israel também é dito ter sido encontrado em "um ermo de horrendos uivos." Há algo extremamente expressivo na palavra “uivos”, pois penso que pode significar duas coisas: 1. Pode haver alguma referência ao seu estado sem árvores, sem oscilações, que permite que o vento varra sobre ele sem controle. Os desertos do leste são expostos especialmente à força plena do Siroco, como o vento quente é 11 denominado. Nenhum prédio ou árvore detém o seu curso, e assim varre o deserto com seu uivo melancólico. Assim é o deserto do coração humano, cheio de uivos, como se o vento se regozijasse sobre a desolação que faz. Como se diz que Deus "anda sobre as asas do vento", e "acalma a terra pelo vento sul", pode-se dizer que Satanás monta nas asas do Siroco, para perturbar a Terra por sua explosão uivante. Quando Deus criou o homem à Sua imagem, Ele o declarou "muito bom". Ele se deleitava na contemplação de sua própria semelhança. Como Deus, então, se deleita com o bem, seu adversário infernal se deleita no mal; e, como Deus descansou em Suas obras da criação, aliás com satisfação pura e santa, como produto de infinita sabedoria e poder; assim Satanás, esse espírito inquieto, vagueia com uma alegria imunda e infernal sobre as ruínas que fez, uivando como o vento melancólico sobre o deserto, murchando e sufocando tudo o que seu sopro ardente toca. 2. Mas a palavra "uivando" pode se referir não apenas ao deserto, mas também aos seus inquilinos, os animais selvagens, que o enchem de seus uivos de meia-noite. Os viajantes falam 12 muito do uivo do chacal e de outras bestas selvagens de rapina que habitam o deserto. Assim é o nosso coração, uivado por animais selvagens que são os inquilinos de sua desolação. Que paixões malignas habitam no coração humano! Orgulho, ciúme, inveja, ira, ódio, assassinato! Que um homem seja rebelde, achado culpado mesmo em boa terra, que inimizade e ira trabalham em sua mente mesmo contra seu melhor amigo! O chacal, o tigre, a hiena, o lobo, o urso e a raposa têm todas as suas covas no coração humano. "Quando o sol nasce, eles se ajuntam e se deitam em suas tocas"; mas quando é noite, "eles se arrastam e rugem atrás de sua presa" (Salmo 104: 20-22). Que descrição do coração do homem, que não é só um deserto totalmente desprovido de erva, árvore, fruto ou flor, mas é um "deserto perdido uivando", sobre o qual o vento pestilencial varre com gemidos melancólicos, e onde os animais de rapina habitam continuamente. Olhe e examine bem seu próprio coração, você verá tudo lá. O vento pestilento do pecado não cortou muitos ramos? As bestas de meia-noite da rapina nunca andam após alguma carcaça imunda? 13 Aqui então, Deus encontra seu Israel. Israel nunca teria encontrado Deus; é Ele que o encontra neste miserável lugar, nesta condição desolada, totalmente desolada. Nada aqui é dito sobre o livre-arbítrio do homem, dos movimentos naturais do coração de Deus, de boas inclinações, de boas resoluções, e como por meio de cultivo cuidadoso a natureza é mudada, e por alguma química misteriosa transforma-se em graça. Israel cava, planta e irriga até que o deserto se torna um pomar, e isso seduz o Senhor a visitá-lo. O registro inalterável é executado. "Encontrou-o em uma terra deserta, no deserto selvagem uivando". II. Mas passemos a considerar as relações de Deus com ele, quando o encontrou. 1. A primeira coisa que se disse sobre esses tratos de Deus com seu Israel é que "Ele o cercou de proteção". As palavras, penso eu, são aplicáveis aos dois ramos especiais da liderança divina; aqueles na providência, e aqueles na graça. Aqueles que na experiência do povo de Deus estão muitas vezes maravilhosamente conectados. A. De um modo geral, creio eu, a maioria que sabe alguma coisa sobre o trato de Deus com sua 14 alma, pode traçar certas circunstâncias PROVIDENCIAIS marcadas, pelas quais a providência, por assim dizer, estava ligada à graça. Uma extremidade da corrente pode ser de fato, de ferro, e a outra de ouro, mas há um ponto em que há uma junção das ligas, que geralmente é onde a obra da graça começa na alma. Normalmente, alguma providência surpreendente precede imediatamente o início da obra da graça; alguma circunstância notável, alguma aflição familiar, alguma provação doméstica, alguma enfermidade corporal ou alguma virada inusitada de acontecimentos levaram a esse local memorável onde o Senhor, por seu Espírito, primeiro se agradou de tocar a consciência. Alguns têm razão para abençoar Deus por uma doença, outros por uma mudança de habitação, outros para uma nova situação, outros por uma circunstância peculiar que os levou a ler um determinado livro, ou ouvir um determinado ministro. Outros, de novo podem ver a mão prodigiosa de Deus em grandes perdas, ou em reversões dolorosas nos negócios, pelo que foram derrubados em circunstâncias, despojados talvez de bens mundanos, ou mesmo reduzidos 15 à pobreza real e à angústia. E todas estas não são providências comuns, nem ocorrências diárias, mas estão conectadas com a obra de Deus sobre a alma, embora não com a graça, que conduziram a ela tanto quanto a chegada de Rute à terra de Canaã, conduzida para seu casamento com Boaz; ou Mateus sentado à recepção do ponto de coleta de tributos, que o levou a ser chamado para ser um discípulo do Senhor Jesus. B. Mas as palavras não são apenas aplicáveis às lideranças notáveis do Senhor na providência, elas podem ser bem referidas em um sentido maior quanto às orientações em GRAÇA. Ele os guiou. Embora o caminho para o céu é um caminho "traçado para cima", no qual realmente e verdadeiramente não há truque, nem volta, contudo tanto quanto nossos sentimentos e experiência estão conectados, é uma maneira muito indireta. Ele os guiou. Isso era verdade literalmente. Que rota tortuosa, emaranhada, atrasada e adiantada era a dos filhos de Israel no deserto! No entanto, cada passo estava sob a direção de Deus, eles nunca se moveram até que o pilar de nuvem liderasse o caminho. 16 Mas, como o Senhor guia na graça? Levando seu Israel a um caminho do qual eles não veem o fim; numa volta da estrada oculta e próxima. Eu li que você pode fazer uma estrada, com uma curva a cada quarto de milha, e ainda em cem milhas a distância não será tanta como numa milha, mais do que numa linha perfeitamente reta. Assim na graça. O comprimento da estrada engole as voltas, mas, estas voltas fazem a estrada parecer mais circular do que é realmente. Tudo o que está diante de nós está escondido, por exemplo, quando o Senhor começa uma obra de graça, Ele traz convicções de pecado, abre a espiritualidade da lei, e faz com que a alma se sinta culpada em cada pensamento, palavra e ação. Mas, um homem nessa condição sabe o que o Senhor está fazendo? Ele pode traçar claramente a obra de Deus sobre sua alma? Ele é capaz de dizer; "Esta é a obra de Deus sobre o meu coração"? Para amaior parte, ele não sabe o que é o seu problema, porque está tão angustiado, já que não pode descansar, pois as coisas da eternidade continuam a rolar sobre sua alma, porque está em contínuo temor da ira vindoura, porquanto sua mente é tão provada com pensamentos 17 sobre Deus, pois sente condenação, escravidão e miséria. Nem mesmo quando o Senhor tem o prazer de levá-lo a alguma esperança, para aplicar alguma doce promessa à sua alma, e incentivá-lo de várias maneiras sob o ministério da Palavra, ele pode muitas vezes ter todo o conforto dela. Ele pode tê-la por um tempo, mas logo se vai, e mal pode acreditar que seja real. A incredulidade sugere que ela não veio exatamente da maneira correta, ou não durou o suficiente, ou não foi suficientemente profunda, ou não foi exatamente como ele ouviu falar de outros, e assim está cheio de dúvidas, medos, e ansiedades, quanto a saber se isto era realmente do Senhor. Mas, quando Deus o conduz em um passo adiante; abre o evangelho, revela Cristo, deposita em seu coração algum doce testemunho, dá-lhe alguma descoberta abençoada de seu interesse salvador no Senhor Jesus, e o sela com um testemunho divino em seu coração. Isso dissipa todas as suas dúvidas e medos, enchendo a sua alma com alegria e paz. No entanto, mesmo depois disso, quando o doce sentimento se foi, ele pode afundar novamente muito baixo, e questionar a realidade da 18 revelação de que desfrutou. Tudo isso é "conduzir", porque uma volta da estrada oculta a outra. Mas agora para outra volta, porque o Senhor ainda o está "guiando". Ele o leva então, até o conhecimento de suas próprias corrupções, e permite que Satanás o abata com fortes tentações. Isso é realmente "levá-lo sobre", pois nada é reto agora. Ele perdeu o caminho completamente, fica olhando e olhando ao seu redor, para os cantos das ruas, e lendo nome após nome, mas é incapaz de dizer qual é o norte, sul, leste ou oeste. E, se ele tem o mapa em sua mão, é de pouco ou nenhum serviço,até que fica tão desnorteado e confuso, que por fim permanece imóvel e grita: “Onde estou? Sinto- me completamente perdido; não sei dizer de onde vim, nem para onde vou; tudo o que posso fazer é ficar parado e esperar por um guia.” Nesse estado, ele irá perguntar a essa pessoa, e inquirir dessa pessoa. Um deles diz; "vá para a direita"; e outro, "vá para a esquerda." Diz-se: “desça esta rua”, e outro, "suba esta rua", até que finalmente fica mais confuso do que antes. Assim, a alma é "conduzida", até que finalmente parece que nunca soube ou sentiu nada direito, 19 e toda a sua religião parece, como o pobre Jó, caídos juntos em uma enorme massa de confusão. No entanto, é o Senhor que o guia em todo o tempo, e embora o conduza de maneira tão estranha por caminhos tão tortuosos, e lugares tão estranhos, contudo será descoberto no final da viagem, que em Sua misericórdia Ele tem "guiado o povo que redimiu, e os guiou em Sua força para a Sua santa morada". 2. Mas, acrescenta. "Ele O INSTRUIU." Todo o tempo que o Senhor está levando Israel, Ele o está instruindo. "Em todo lugar e em todas as coisas", diz o apóstolo: "Sou instruído". Então Deus instrui seu Israel por tudo o que faz por ele e nele. Uma pessoa que aprende a religião, é como uma pessoa que aprende um comércio ou um negócio; muitas vezes ele aprende mais como cometer erros. Se você tem um aprendiz, de algum comércio ou negócio mecânico, e o põe a trabalhar; quantos erros comete a princípio. Ele toma o cinzel em sua mão, e o segura de modo errado, então pega o malho e bate com dificuldade ou em uma direção errada. E quanto trabalho ele estraga! Contudo, por tudo isso ele está aprendendo a destreza manual. Se ele segurou o cinzel em uma direção 20 errada desta vez, vai segurá-lo direito na próxima, e se bateu o malho muito duro, ou os próprios dedos, ele vai aprender a usá-lo com mais habilidade na próxima vez. Assim, aprendemos muito por erros. Muitos homens de negócios aprenderam mais com suas perdas do que nunca teriam aprendido com seus ganhos. E muitos em geral têm traçado seu caminho para a vitória através da derrota. Assim, o povo do Senhor aprende muito com seus próprios erros; eles aprendem sabedoria e cautela para o futuro. Você não pode aceitar um jovem aprendiz e dizer; “Faça isso exatamente como eu”; porém ele deve aprendê-lo por si mesmo, e em grande parte ele o aprende pouco a pouco, linha sobre linha, e é assim como os filhos de Deus aprendem sua religião. Logo, um ministro não pode dizer ao povo: “Esta é a minha experiência; copie-a e aprenda-a de meus lábios.” Cada um deve aprender sua experiência por si mesmo. É o Senhor que instrui seu Israel. "Todos os teus filhos serão ensinados pelo Senhor". Ele nos instrui de tal maneira, que muitas vezes temos visto nossa loucura, e ainda admiramos a sua 21 sabedoria, para atribuir a nós mesmos toda a vergonha, e tributar-lhe toda a glória. Ele nos instrui a um conhecimento de si mesmo em Sua grandeza, majestade, santidade e pureza; de sua justa lei como condenando o pecado e o pecador, e, como só em Sua luz vemos a luz, aprendemos daí a maldade, a esterilidade, a hipocrisia, a incredulidade, o engano e o orgulho de nosso coração. Através destas palestras divinas nos instrui na verdadeira humildade, autoaborrecimento e autoaversão diante dele; e quando Ele instrui a alma no mistério de sua corrupção original, e a despoja de autojustiça, Ele instrui em um conhecimento de Sua própria graça surpreendente e mais apropriada como revelada na Pessoa de seu próprio Filho querido, "Emanuel, Deus conosco". Ele instrui a alma no conhecimento do amor eleitor, do sangue expiatório, da justificação pela justiça de Cristo, da fidelidade infalível, da infinita compaixão e da misericórdia eterna. Todas estas lições são "para lucrar", elas "penetram", como o Senhor fala, "nos ouvidos", elas caem no coração e se tornam "espírito e vida" para a alma. Devemos aprender a religião pela experiência. Não é lendo livros, nem 22 mesmo as próprias escrituras; não é ouvindo ministros, nem conversando com o povo de Deus que poderemos obter qualquer experiência correta dos ensinamentos de Deus. Centenas têm tido todas essas vantagens e ainda mais proveitosas, quando possuídas e abençoadas por Deus, mas que não têm um ensino elevado. A religião não pode ser mais aprendida pela teoria do que a natação. Um homem pode estar à beira da borda da piscina, ver uma pessoa nadar, e mover suas mãos em imitação. Coloque-o na água, e logo ele vai para o fundo. Assim na religião. Coloque um homem nas ondas de tentação, e logo afundará, se Aquele, que ensina as mãos para a guerra e os dedos para lutar, não ensinou seus braços a nadar. Devemos ter nossas provações e misericórdias pessoais; nossas próprias tentações e libertações; nossas próprias aflições e consolações, e aprender cada ramo da vida divina por nós mesmos. Deus assim ensina Seu povo, como se cada um fosse o único estudante em Sua escola, e sente tantas dores com cada aluno como se não houvesse nenhum outro no mundo para ele tomar suas dores. 23 3. E não só isso, mas "Ele o manteve como a menina do seu olho." Esta expressão é usada em mais de um lugar da Escritura, para significar a especial ternura de Deus em guardar Seu povo. A menina do olho é o ponto mais macio de todo o corpo, na medida em queé acessível à violência externa, portanto como um homem guardaria acima de todas as coisas esse órgão importante e sensível, assim de Deus é dito guardar e manter Seu povo, como a menina de Seu próprio olho. Mas, alguns podem dizer: O povo do Senhor está sempre guardado? Eles nunca escorregam? Eles nunca são culpados de retrocesso? Eles nunca erram em um ponto? Estão sempre guardados do pecado e da loucura? Estão sempre preservados da menor mancha do mal? Quem pode dizer isso, quando a Escritura o olha na face com declarações como: "Em muitas coisas ofendemos"; "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos", "o bem que eu faria, eu não o faço, e o mal que eu não faria, esse eu faço"? Quem pode dizer isso apesar de, ao contrário de todos os resquícios e quedas dos santos registrados na Palavra de Deus, como Abraão, Ló, Moisés, Arão, Davi, 24 Salomão, Ezequias, Pedro, contra cujos nomes há uma marca como esta? Todavia, o Senhor os guarda como a menina dos seus olhos. Há certas rochas e cardumes, de onde o Piloto celestial sempre guarda o navio da alma, por exemplo, Ele os impede de "fazer naufrágio da fé", de beber das fontes venenosas de erro, do pecado para a morte, da presunção e da apostasia; de sentar na cadeira do desespero, da falta de oração, da impenitência, da inimizade à Sua verdade, causa e povo, de fazer uma aliança com a morte e um acordo com o inferno, de desprezar a verdadeira experiência, e de assassinar a reputação dos santos aprovados e servos de Deus. Destes e semelhantes males que destroem a alma, Ele os preserva, mantendo vivos o seu temor no coração, o espírito de oração, e a vida que Ele mesmo lhes deu da plenitude de Cristo. "Porque eu vivo, você também viverá." "Eu lhes dou a vida eterna, e eles nunca perecerão." Ele não os livra em todos os casos, de todo o mal, mas os guarda como a menina do Seu olho, que nada pode realmente e, finalmente, prejudicá- 25 los. O pecado certamente os afligirá; satanás os tentará ou assediará; e um corpo de pecado e morte os sobrecarregará, mas acabarão por sair mais do que vencedores através dAquele que os amou. Mas, dizer que o Senhor assim guarda Seus santos, de maneira que nunca em nenhum grau escorreguem, que nunca, de forma alguma retrocedam é falar contrariando ao que é registrado dos santos nas Escrituras da verdade, e em contradição diametral do que o melhor e o mais sábio do povo de Deus tem em todas as épocas confessado de si mesmo. 4. Mas, para ilustrar ainda mais os tratos de Deus, Moisés falando por inspiração divina apresenta uma figura doce e abençoada, a de uma águia e seus filhotes. "Como a águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não havia com ele deus estranho.” Os vários movimentos da águia aqui, são vividamente e belamente descritos, e exigem cada um deles, uma nota especial. A. Dela é dito, primeiro, "despertar seu ninho". Seu "ninho", sem dúvida significa seus filhos 26 jovens, que, como bebês humanos passam muito do seu tempo dormindo. Mas, a hora de alimentação vem e eles precisam ser despertados. O bico e a garra do pássaro mãe rapidamente quebram seu sono. Embora nascido da águia, e vivificado pelo sangue da águia; embora embalado no "penhasco de uma rocha", e para contemplar o sol, contudo muitas vezes os olhos e as asas da águia caem. Assim, muitas vezes, o povo do Senhor adormece. Agora, como a águia agita seu ninho, assim também o Senhor desperta Seu povo. Eles adormecem, entram em um estado sonolento de alma; suas afeições vagueiam para longe do Senhor, mas, embora ainda sobre a Rocha, seus olhos não olham para o Sol da justiça, mas caem e afundam em sono. Mas, o Senhor os deixa assim? Não, Ele os agita. Ele emprega principalmente, duas maneiras para fazer isso. Às vezes Ele usa aflições. Talvez estejam sonolentos em suas almas como alguns de meus ouvintes podem agora estar em seus corpos. Mas, o Senhor envia alguma aflição estimulante. Sua mão cai pesadamente sobre seus corpos, ou suas famílias, ou suas 27 circunstâncias, ou sobre suas consciências, pois geralmente em uma destas quatro maneiras o Senhor desperta Seu povo sonolento, quando Ele o coloca sob a vara da aflição. A aflição tem agora uma voz, e este é o seu grito, "Desperta, você que dorme." "O que fazes aqui, ó dorminhoco? Levanta-te, invoca o teu Deus." O grito atinge seu coração, e sacode o sono de seus olhos e membros. O outro instrumento principal nas mãos do Senhor, para agitar o ninho adormecido é a garra de um ministério experimental e busca de coração; não para rasgar, porém despertar, para passar entre as penas, mas não para rasgar a carne. Como o povo do Senhor precisa ser agitado! Como precisam de um ministro para procurá-los até o seu mais profundo! Eles não requerem a canção de ninar do bebê, mas a trombeta de alarme na montanha sagrada, para que os guardas de Sião toquem em voz alta: "Despertai, despertai, levantai-vos, ó Jerusalém"; e despertá-los daquela torpeza em que tão frequentemente afundam. O uso principal de um ministério do evangelho é estimular o povo de Deus. Pedro pensou que cabia, enquanto estivesse no tabernáculo do corpo, "estimular" 28 os irmãos, e diz que "em ambas as epístolas ele despertou suas mentes por meio da lembrança". Um fogo logo se apaga, a não ser que seja agitado, e assim o fogo de Deus na alma morrerá, a menos que continuamente seja agitado. Durante toda a semana você está ocupado com negócios, você vive talvez em um turbilhão de clientes onde o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro engole todo o tempo do empregador e empregado, ou se não for assim, os cuidados e as ansiedades de uma família, e a carnalidade de sua própria natureza, combinam juntos para enterrá-lo quando estava vivo. Estas coisas não devem ser assim, mas é para ser temido, que muitos estejam em tal condição. Agora, no Dia do Senhor, ser capaz de ouvir o evangelho, de assistir a um ministério experimental é muitas vezes, um meio abençoado de despertar a alma e ressuscitá-la do sono de seis dias. É uma má marca desprezar ou negligenciar um ministério evangélico. É a própria ordenança de Deus, portanto não pode ser desprezado ou negligenciado com impunidade. Quase quatro anos atrás, fui posto de lado, sem pregação, por doença durante oito meses, e 29 nessa aflição aprendi uma lição importante, se não havia outra; o benefício de um ministério evangélico. Sendo eu mesmo um ministro, e sentindo muito minhas próprias deficiências no ministério, eu confessei que não atribuí um valor suficiente a essa ordenança. Fiquei muito impedido de fazê-lo por esse sentimento, de que atribuir importância ao ministério era dar importância a mim mesmo. Mas, embora muito indisposto com a fraqueza no peito para pregar, pude assistir à capela durante boa parte daquele tempo, como ouvinte de homens tão graciosos que estão neste púlpito. É uma circunstância singular que, durante esse período, minha dádiva para o ministério, se eu tiver alguma, fosse tão completamente removida como se nunca tivesse pregado em minha vida. Isto parou toda a crítica, porque eu sentia, no que eu ouvia do púlpito, que estava no púlpito, mas não teria uma palavra a dizer. Este sentimento singular, combinado com muita depressão de mentee corpo, me fez um ouvinte, penso eu, menos disposto a criticar do que qualquer um em todo o lugar. Sendo, espero, neste quadro infantil, e tão preparado para ouvir, descobri que havia um benefício no 30 evangelho pregado, tal como eu nunca antes apreendi, que me despertou, trouxe sentimento ao meu coração, acendeu a oração, e pareceu fazer a minha alma realmente despertada. Desde então, sendo restaurado ao púlpito, e a porta de expressão sendo mais uma vez aberta, tenho atribuído mais valor, não propriamente ao meu, mas ao ministério do evangelho, geralmente como uma ordenança de Deus. Então, sob um ministério sonoro e experimental, se houver vida e temor de Deus no coração, ele a atrai; se houver alguma experiência, ela é trazida à luz; a vida nova é acesa na alma, a fé, a esperança e o amor são ressuscitados, e a obra de Deus sobre o coração se torna clara. Assim, como a águia agita seu ninho, assim também o Senhor desperta a obra da graça sobre o coração de Seu povo. E, se eu posso julgar por meus sentimentos neste púlpito, devo pensar que você, em Londres, quer muito despertar; infelizmente, temo que suas almas estejam em um estado muito sonolento, morto e turbulento, e que desejem algumas aflições excitantes e afiadas das ações de Deus para lhes 31 estimular, e lhes tornar vivos nas coisas da eternidade. B. "Como uma águia agita acima de seu ninho, e voeja sobre seu filhote." A palavra "voeja" é a mesma palavra que é traduzida como "movida" Gên 1: 2. "O Espírito de Deus movia-se sobre a face das águas." Há algo extremamente expressivo na palavra. O Espírito de Deus pairava com um movimento agitado sobre as águas, e impregnava o caos com a vida. Então, a águia quando volta de perseguir sua presa, primeiro "agita" sua ninhada que estava dormindo, e suavemente movendo-se sobre seu ninho, aninha-se com movimento trêmulo de asa sobre o seu filhote, infundindo calor e vida em seu corpo frio, por sua longa ausência. Que bela figura é esta, para estabelecer o retorno do Senhor à alma que adormeceu, e ficou gelada de frio quando Ele esteve ausente! Cristo, lemos, "acalentamos", ou como a palavra significa, "aquece com seu corpo", "a igreja" (Ef 5:29). 32 Esvoaçando pelo espírito abençoado com movimentos delicados sobre a alma, comunica- lhe a animação e o calor. Agitar e estimular a vida de Deus na alma são os dois principais usos de um ministério evangélico. Veja se você pode rastrear esses dois efeitos do evangelho pregado em sua alma. Você não está às vezes agitado? E às vezes, seu coração não bate responsivo ao som alegre, palpita e vibra sob as doces palavras da graça do evangelho, enquanto caem com a unção divina em seu coração? As águias também não vibram? Será que o noivo vibra, e não a noiva quando suas mãos estão entrelaçadas? Assim, a alma do crente vibra e palpita em movimento responsivo ao Espírito abençoado. Procure estas duas coisas sob um evangelho pregado. Quão diferente é a vida e o sentimento sob a palavra pregada, é como sentar-se sobre blocos de gelo! C. "Espalha para fora suas asas." Para que ela possa abrigar toda a ninhada. Alguns dos filhotes estão no centro do ninho, e outras no fim, mas a águia não negligencia 33 nenhum. Há aqueles que se encontram mais perto de seu peito, como há aqueles da família de Deus que são condescendentes em mais íntima comunhão com Ele; como o apóstolo João, que se apoiam no Seu peito. Mas, a águia espalha as asas sobre todo seu ninho, de modo a rodear a extremidade, bem como o centro, comunicando assim calor a cada filhote. Cristo faz isso pelo ministério do evangelho, porque alcança ou deve chegar a todos; deve vir a cada pessoa, e entrar em cada experiência. Ou, se aqui o ministério do homem é defeituoso, assim não é a palavra da verdade. O evangelho da graça de Deus expande suas asas benignas sobre toda a eleição da graça. Do centro à extremidade, desde o seio de Deus até os confins da terra, as asas do amor eterno abraçam tudo; de Paulo no terceiro céu a Jonas na barriga da baleia. Se você não tem todo o calor do peito, você tem como uma águia, a proteção da asa. D. "Toma-os, carrega-os em suas asas." Da águia é dito aqui, que "toma" seus jovens, isto é, nós podemos nos recolher à borda do ninho. As águias que agora estão no ninho, um dia se espalharão, e voarão para o exterior, no céu, mas 34 agora, quando olham para o ninho e para o precipício íngreme no qual se erguem os olhos, seus corações recuam com terror. Mas, a águia lhes ensina a olhar para o precipício, para que aprendam a medir sua profundidade, e não o temam. Assim, o Senhor leva Seu povo, às vezes, a olhar para o precipício da eternidade. Estão ainda seguros no ninho debaixo das Suas asas, mas às vezes, em momentos solenes como na doença, eles se encolhem da morte e da eternidade. Eles recuam do precipício insondável e encolhem de volta para o ninho. Mas, a águia os mantém firmes à vista, até que sejam encorajados por sua presença e calor vibrante a olhar para baixo sem medo. Ela os faz testar sua força, e para sustentá-los em sua fuga, "os carrega em cima de suas asas." Carrega-os em suas costas, onde estão seguros. Assim, o Senhor nos Seus tratos graciosos com o Seu Israel, quando os faz olhar para a eternidade, e eles se encolhem da vista, leva-os sobre Suas asas, e remove o medo da morte, até que os ensina a voar para longe, e voar para o alto das nuvens do céu. 35 E. Então, para mostrar como isto é inteiramente do Senhor, Ele acrescenta: "Então o Senhor, sozinho, o guiou". Ele não compartilharia a honra com ninguém. "E não havia deus estranho com ele." Ele não permitiria que qualquer deus de cinzas interferisse, porque é um Deus zeloso. "Só o Senhor o guiou ". Ele não teria nenhum intruso; Jesus não tem rival. Israel não se conduziu, nem foi guiado pelo homem, mas só o Senhor, em Sua providência e graça o conduziu, instruiu-o, guardou-o como a menina do Seu olho, e foi para ele tudo o que a águia é para a sua ninhada. O livre arbítrio não teve nenhuma mão neste assunto; a força humana não interferiu; a virtude da criatura nunca foi permitida interpor. Todos estavam ainda como uma pedra, quando Israel passou. Deus fez toda a obra, para que tivesse toda a glória. Ele começou, continuou, completou, porque "somente o Senhor o guiou, e não havia deus estranho com ele". Oh, quão abençoadamente o Senhor toma todo o assunto em mãos! E com que segurança conduz o Seu povo! Como eles são seguros! Se Ele os guardar como a menina de Seu olho, qualquer coisa pode realmente machucá-los? 36 Se os conduz, eles podem estar errantes? Se os instrui, eles podem permanecer na ignorância? Se os agita, eles podem ficar tontos? Se flutuar sobre eles, não sentirão o suave movimento de seu peito? Se os tomar, eles não devem ser levados? Se os apoiar, eles não devem ser sustentados por suas asas? "Sim", você diz, tudo é verdade; eu acredito em cada palavra, mas isto é o que eu quero; sentir na minha alma que sou uma das pessoas para quem o Senhor mostra tanta misericórdia! Mas, você não pode traçar em sua experiência algo que corresponde à experiência descrita no texto - "O deserto", "o desperdício”, “o uivo no ermo", "conduzido sobre"? Você não pode ver como, na providência de Deus, você foi levado, e como, na graça de Deus, você foi trazido passoa passo? Você não pode ver também como foi instruído? Embora possa conhecer pouco, mas você não foi ensinado sobre esta e aquela lição, de forma gradual e às vezes dolorosa? Não vê como o 37 Senhor lhe guardou como a menina dos Seus olhos, e lhe preservou até hoje? Às vezes lhe agita sob o ministério do evangelho, e às vezes por aflição dolorosa; como Ele lhe sustenta e levanta suas afeições para as coisas do alto, e às vezes dá-lhe um doce gole de Seu amor, um antegozo da alegria eterna?. Agora, se você encontrar algo disto acontecendo em seu coração, não é esta a própria maneira de ler o seu nome gravado neste monumento de amor eterno? Mas, esse sentimento talvez crie dúvidas e medos em sua alma, que você não é tudo, ou mesmo em muitos pontos, o que acredita que um cristão deve ser. Há coisas em você que o afligem e entristecem; você não pode pensar como faria, nem falar como deveria, nem agir como poderia. Há sempre alguma coisa ou outra errada que parece ferir e perturbar sua mente. Será assim até o fim. O coração é, na melhor das hipóteses, um Saara - um deserto selvagem uivante. Alguma coisa boa crescerá lá? Se algo pudesse por natureza crescer ali, deixaria de ser um deserto. Se o vento pestilento nunca uivasse 38 sobre ele, se o chacal nunca uivasse em busca de sua presa, deixaria de ser um deserto selvagem uivante. A natureza não sofre mudanças. Mas, que misericórdia é encontrar neste deserto; neste deserto árido uivante, alguns sendo cercados, guardados, instruídos, movidos, carregados sobre as asas de águia. Não olhe para o deserto; você sempre verá nele nada além de desolação, mas veja se não há alguns dos tratos graciosos de Deus e ensinamentos com sua alma no deserto; e se você encontrar a sua pessoa no texto, seu nome está no livro da vida. 39 A Armadura Completa de Deus Título original: The Whole Armor of God Por J. C. Philpot (1802-1869) Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra Jan/2017 40 P571 Philpot, J. C. – 1828 -1901 A armadura completa de Deus / J. C. Philpot (1802- 1869) / Tradução , adaptação e edição por Silvio Dutra – Rio de Janeiro, 2017. 37p.; 14,8 x 21cm Título original: The Whole Armor of God 1. Teologia. 2. Vida Cristã 2. Graça 3. Fé. 4. Alves, Silvio Dutra I. Título CDD 230 41 "Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, tendo feito tudo, permanecer firmes." (Efésios 6:13). Todo filho de Deus é um verdadeiro soldado. No exército cristão, não há cama de penas, nem soldados virtuais. Todos são combatentes reais. Os seus inimigos não são reais? Carne e sangue não são reais? O mundo não é real? E Satanás não é real? Um verdadeiro diabo? E se seus inimigos são reais, o conflito com seus inimigos deve ser real também. "Toda batalha do guerreiro", lemos, "é com roupas ensanguentadas". E tal é "o bom combate da fé". Não é uma luta que seja uma farsa, mas uma batalha de corpo a corpo, em que as feridas são infligidas, sangue derramado, e vida, de acordo com nossos sentimentos, muitas vezes em jogo. Mas, como seremos capazes de lutar nesta grande batalha, e assim resistir aos inimigos da salvação de nossa alma, e sair mais do que vencedores? Fracos e indefesos como somos, sem uma arma de bom temperamento e força suficientes por causa do pecado, somos como os filhos de Israel, "tornados nus para a sua 42 vergonha entre os seus inimigos" (Êx 32:25), e devemos cair derrotados. Temos algumas armas melhores do que o nosso próprio arsenal pode fornecer. Deus, que conhece a força de nossos inimigos, que conhece a fraqueza de nossa carne tem, portanto fornecido o armamento celestial por meio do qual, e somente por ele, podemos fazer uma posição eficaz. Dessa armadura celestial o apóstolo fala no texto, onde, dirigindo-se a seus irmãos cristãos, diz; "Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, tendo feito tudo, permanecer de pé." Ele aqui, torna imperativo que eles não tomem partes, mas "toda a armadura de Deus", assegurando-lhes que é indispensável para sua segurança; que só vestindo toda a armadura podem "resistir no dia mau", quando todos os poderes da terra e do inferno estão dispostos contra eles, e que mesmo assim, quando tiverem a força daquela armadura celestial ou vencerem tudo, não devem retirá-la porque ainda vão precisar dela para permanecer firmes. 43 Ao abrir as palavras do nosso texto, procurarei, com a bênção de Deus, I. Primeiro, descrever a armadura celestial; suas várias peças e acessórios, indispensáveis ao soldado cristão. II. Em segundo lugar, mostrar como essa armadura celestial é tomada, vestida e usada. I. Uma descrição da armadura celestial; suas várias peças e acessórios indispensáveis ao soldado cristão. Para fazer justiça ao nosso texto será necessário que eu tome, uma por uma, estas várias peças da armadura celestial, pois diz; "Portanto, tomai toda a armadura de Deus". Se eu, como combatente estou sem uma parte desta armadura, corro o risco da derrota; e se eu, como ministro, ao abrir este texto omitir uma, estarei sendo muito infiel em negligenciar uma parte que pode ser para nossa defesa espiritual. Como cristão, então, e como ministro devo tomar o todo, sendo todas as partes igualmente indispensáveis. 1. A primeira parte da armadura celestial de que o apóstolo fala é, o cinturão - "Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a 44 verdade." Os lombos, ou parte inferior das costas é o assento de força, bem como de atividade e movimento. Nenhum peso muito pesado pode ser levantado por um homem, e nenhum trabalho duro pode ser executado, a menos que ele seja forte. O profeta, portanto diz; "Fortalecei vossos lombos, fortalecei poderosamente a vossa força" (Naum 2: 1). Do hipopótamo, lemos, "Sua força está em seus lombos" (Jó 40:16). Esses lombos são a sede da atividade e da força, e precisam ser guardados por uma peça da armadura celestial, para que Satanás não faça um ataque mortal ali. Se ele conseguir um golpe em nossos lombos desprotegidos, paralisará todos os movimentos. Um golpe aqui, de modo a alcançar a espinha dorsal, prostrará certamente. "Fere os lombos dos que se levantam contra ele e o odeiam, para que nunca mais se levantem." (Deut 33:11). Precisamos, portanto, ter nossos lombos cingidos com uma peça de armadura celestial que deve efetivamente protegê-los desses golpes paralisantes. Este cinto celestial é a "Verdade". Que verdade? Por "verdade" aqui, podemos entender, eu acho, duas coisas: 45 Primeiro, a sinceridade geralmente cristã; "Verdade", como fala o salmista, "nas partes interiores" - Salmo 51: 6. A retidão do coração está na base de toda a verdadeira profissão cristã. Se um homem não tem sinceridade interior, ele nada tem. Nossos lombos, portanto, ou a sede da força e da atividade, precisam, nesse sentido,de serem apertados com o que o apóstolo chama de "simplicidade e sinceridade divina" (2 Cor 1:12). Se houver insinceridade em nossa profissão; ó que vantagem é dada a Satanás! Um golpe de sua mão contra nossa profissão, quando não há consciência de sinceridade, deve ser fatal. Ele feriu a Judas, a Saul e a Aitofel, e não mais se levantaram. Contra esses golpes fatais, precisamos de um cinturão de verdade, para ser sincero diante de Deus, ter a verdade em nossas partes interiores, e, pelo ensinamento do Espírito Santo, sermos retos em nossa profissão cristã. "Eu era reto diante dEle, e me mantinha longe da minha iniquidade." Mas podemos observar ainda, que os antigos usavam vestes soltas, e como muitas vezes estavam impedindo seus movimentos em seu caminho, eles as mantinham apertadas ao redor 46 de seu corpo por um cinto, portanto, somos continuamente impedidos pelo vestido frouxo da incredulidade. "O o pecado que tão facilmente nos acomete", como o apóstolo chama, aludindo a ele como uma roupa pesada, se agarra aos membros e impede todos os movimentos livres. Mas, quando os lombos estão repletos de sinceridade e verdade, ele os sustenta com atividade e força. Mas, em segundo lugar, a palavra "verdade" também é usada num sentido mais particular e restrito para significar a verdade cristã, "a verdade como está em Jesus". Um homem pode estar sinceramente errado. Você acha que não há sinceridade, senão a que Deus implanta? Não são muitos papistas sinceros? Muitos islamitas sinceros? Muitos destituídos de graça, e amargamente opostos à obra do Espírito, não são sinceros? Sim, certamente. Não espiritualmente, mas naturalmente sinceros. Veja as multidões de pessoas que este dia vão à igreja onde a verdade não é pregada; devemos fazer uma ampla varredura com todos eles, e dizer, que são todos hipócritas e desonestos, que estão fazendo isso para serem vistos pelos homens? Não ouso dizer isso. A sinceridade 47 cristã é uma coisa; a sinceridade natural outra. Não foi Saulo de Tarso sincero? E os marinheiros que jogaram Jonas ao mar, não foram também? Mas, a própria sinceridade espiritual em conflitos mortais com o pecado e Satanás, não é suficiente sem um conhecimento da "verdade como está em Jesus". Os jovens convertidos são espiritualmente sinceros, mas quão incapazes de lutar nesta grande batalha! A verdade então, como revelada no evangelho da graça de Deus deve ser o fundamento de nossa força espiritual. Não podemos lutar contra Satanás com mentiras. Se lutamos contra ele, deve ser com a verdade. A verdade do evangelho revelada à alma e aplicada ao coração, e à consciência pelo Espírito Santo, deve ser o cinturão para fortalecer e guardar os lombos no dia da batalha. 2. Passamos a considerar a segunda peça da armadura cristã, "a couraça da justiça". Agora, como os lombos são a sede da atividade e da força, assim o peito é o assento do coração, a fonte do sangue que impulsiona através de cada 48 artéria e dos pulmões, que alternadamente inspiram e expiram o ar vital do céu. Estas são duas partes vitais. Precisamos, portanto, de ter este duplo assento de vida especialmente seguro. Espiritualmente visto, o CORAÇÃO pode representar duas coisas; em primeiro lugar a consciência, e em segundo lugar os afetos. Agora todas estas partes vitais, a sede peculiar da vida e do sentimento, o domínio especial da religião do coração precisam ser cobertas com um peitoral celestial, pois se Satanás pudesse perfurar qualquer um desses, esse golpe seria fatal. Mas quantas vezes ele aponta seu golpe contra o coração, como a sede da CONSCIÊNCIA! E se pudesse, por meio de golpes mortíferos naquele ponto sensível, mergulharia a alma no desespero! Se ele estivesse completamente desprotegido, lançaria dardo após dardo, e atiraria seta após seta na consciência, até que a fizesse sangrar até a morte. Precisamos então, ter a consciência guardada por uma peça da armadura celestial. Isto é fornecido pelo 49 "peitoral da justiça"; não a nossa própria, mas a justiça imputada de Cristo. Deixe que Satanás ataque o peitoral, se ele quiser. Ele não poderia perfurá-lo quando usado pelo capitão de nossa salvação, embora no deserto e no jardim, ele o empurrou severamente, como o Senhor diz; "Com força me impeliste para me fazeres cair, mas o Senhor me ajudou." (Salmo 118: 13). Deixe-o atacar agora como contra o peitoral usado pelo soldado. É o mesmo que golpear contra uma parede de sílica, contra um peitoral de aço. Se esse peitoral estiver bem ajustado, deixe que ele acuse, deixe-o tentar desesperar e diga: seus pecados são muito grandes para serem perdoados, você tem recuado além de toda esperança de recuperação, você não tem religião real; seu começo estava errado, o meio estava errado, e o fim será errado; você é apenas um hipócrita que morrerá em desespero, porque não há temor de Deus em seu coração. Estes são alguns dos "dardos ardentes" de Satanás contra a consciência. Se colocarmos a nossa própria justiça para nos proteger destes golpes, esta é apenas um peitoral de vime que o primeiro dardo ardente vai colocar em chamas, ou o 50 menor golpe a atravessará. Precisamos de uma couraça de aço, não de vime, como nossos próprios dedos podem criar, mas a justiça de Cristo imputada, como Deer diz justamente; Justiça em você enraizada, Pode aparecer para tomar sua parte; Mas que a justiça imputada, Seja o peitoral do seu coração. E as nossas Afeições também, porque o coração não é apenas o assento da consciência, mas o assento dos afetos. Que dardos ardentes Satanás pode jogar em nossas afeições! Que luxúria pode acender através do olhar! Que amor ao mundo, que desejo de ganho ganancioso, que imaginação sensual pode acender em uma chama! Mesmo as ternas afeições que adoçam o amargo cálice da vida; as relações sociais de marido e mulher, pai e filho, como ele pode distorcer até mesmo isto, e perverter em idolatria os laços mais sagrados! O amor excessivo de Davi por Absalão quase lhe custou seu trono e sua vida. Eli amou seus filhos até que 51 os arruinou, e trouxe uma maldição sobre sua casa. Ainda mais, as afeições celestiais em si; os desejos puros, o amor celestial da própria implantação de Deus precisam ser guardados. Somente estas afeições da couraça da justiça de Cristo podem nos guardar e preservar puros, santos e ternos, para que a chama sagrada possa sempre ser queimada sobre o altar de um coração quebrantado. Mas o peito é também o assento dos PULMÕES, esse órgão importante da vida, pelo qual alternadamente inspiramos e expiramos o sopro do céu. Isso pode representar, num sentido espiritual; 1. A inspiração, ou respiração do Espírito de Deus, pelo qual nós atraímos o sopro do céu, "Vem dos quatro ventos, ó Espírito" (Eze 37: 9). 2. A expiração destes desejos celestiais pelos quais a alma se derrama diante de Deus, em busca de seu favor e presença. Esta inspiração e expiração, essas entradas e saídas de vida divina precisam ser cobertas pela 52 couraça da justiça, pois em breve, Satanás lançaria um dardo pelos pulmões para parar toda inspiração do favor de Deus, e toda expiração de desejo, gratidão ou louvor. Mas, nossa própria justiça... que defesa pobre ela é! Ela pode proteger o lugar vital dessas operações celestes? Mas, quando a couraça inexpugnável da justiça imputada de Cristoé recebida pelas mãos de Deus, encaixada no seio e firmemente entrelaçada; a consciência, as afeições e a vida de Deus estão todas protegidas como por uma armadura impenetrável. 3. Mas, passemos aos pés. "Seus PÉS calçados com a preparação do evangelho da paz." Há uma armadura para as pernas e os pés, pois estes também podem ser atacados pelo Príncipe das trevas. Os pés têm que pisar frequentemente em caminhos poeirentos e pedregosos, e andar entre espinhos e laços. Na guerra antiga, os pés descobertos podiam ser feridos por uma arma chamada catapulta, que lançava bolas com três pontas de ferro, e se espalhavam no chão. Por "os pés", podemos compreender espiritualmente nossa caminhada e conversa. Contra isto, Satanás pode ter um impulso 53 terrível. Ele aponta para qualquer lugar não protegido; às vezes nos lombos, a sede da força e da atividade; às vezes no coração e nos pulmões, a consciência, os afetos e a vida de Deus; às vezes nos pés, a caminhada, a conduta e a conversa. Aqui está uma de nossas maiores tentações; oremos para que Satanás não nos entrelace em nada vergonhoso, inconsistente ou impróprio! Ó como parecemos andar em meio a armadilhas e tentações! E como Satanás está apontando golpes mortíferos em nossas pernas e pés, para feri-los e derrubar-nos. Precisamos então, de calçados que alcancem metade das pernas, a fim de protegê-los desses ataques mortíferos de Satanás. E o que Deus providenciou? "A preparação do evangelho da paz". Há algo muito doce e expressivo, embora talvez à primeira vista, obscuro, na palavra "preparação". Parece-me transmitir a ideia de que o "evangelho da paz" está preparado para os pés e as pernas. Não é um sapato de couro solto que pode ser chutado e ligado, não um chinelo velho e frágil, mas uma bota apertada, firme, forte - "Seus sapatos serão de ferro e bronze". Isso se encaixa estreita e firmemente ao redor da 54 perna, e é "a preparação do evangelho"; a perna e o pé preparados para o evangelho e o evangelho preparado para a perna e o pé. Assim, o apóstolo não nos envia para o Sinai para obter um sapato daquela montanha de fogo, nem para o ferreiro de Moisés e Aarão, para que eles possam forjar uma peça de armadura a fim de proteger e guardar nossa vida, caminhar e conversar. Mas, ele nos envia ao evangelho, "a preparação do evangelho da paz"; não a lei da guerra, mas o evangelho da paz. Aqui estará firme. Estar em paz com Deus através deste evangelho dá apoio firmemente. Para ser calçado corretamente, o pé não deve estar nem na bota apertada da lei, nem no chinelo solto de "nossa própria obediência", mas no firme e ainda flexível, forte, mas suave, leve e ainda impenetrável sapato do evangelho. E observe, é "o evangelho da paz", não de disputas e brigas. Obtenha apenas uma doce sensação de paz em seu coração para que o evangelho da paz atinja a sua alma, e você encontrará uma peça de armadura que guardará a vida, a conduta e a conversa, e será 55 sua melhor preservação neste deserto das investidas de Satanás em sua caminhada diária. 4. Para tornar a armadura completa, antes de passar para o escudo, vou em seguida tomar em ordem "o CAPACETE da salvação", que é para cobrir a cabeça. A cabeça, podemos considerar, como a sede de duas coisas especiais; 1. De energia, atividade, autoridade, movimento. 2. Compreensão e sabedoria. Agora, Satanás aponta seus golpes mortais em nossa cabeça, às vezes para destruir e paralisar toda energia e movimento, toda vida e sentimento nas coisas de Deus, e às vezes, para confundir nosso entendimento nos empurra para algum erro ou nos atrai para alguma heresia. Quão impressionante é um golpe na cabeça, quando desprotegida por qualquer defesa! Toda energia e movimento cessam. Assim na graça. Se a nossa cabeça não fosse guardada, como seríamos atordoados e paralisados pelos golpes de Satanás! E podemos observar que há uma relação íntima entre a consciência e a energia; já que é o mesmo órgão, 56 o cérebro, que apreende, comunica influência a cada músculo. Se Satanás pode confundir nossa mente, então como ele paralisa todos os mecanismos do movimento! Sua mente, às vezes, não foi tristemente tentada por doutrinas erradas? Quando você já ouviu falar de algum erro mortal, não houve algo nele que parecia agarrar sua mente e compreensão carnal, de modo que parecia quase verdade? Agora, aqui está Satanás confundindo a mente, impressionante e desconcertantemente com seus erros plausíveis. Que grande necessidade, temos de uma peça de armadura para guardar a cabeça. E nós a temos provida por Deus; "o capacete da salvação". Mas, por que o "capacete da salvação" é tão apropriado para a cabeça? Porque toda a verdade contém nela a salvação, e todo o erro envolve nele a condenação. Não há erros insignificantes. Todos os erros, examinados à raiz, são fatais. Satanás nunca se preocupa em introduzir um erro sem importância; seus golpes estão na cabeça. Se você examinar cada erro que surgir no exterior, verá que ele está sempre voltado para Cristo, para negar Sua 57 divindade, Sua verdadeira filiação, a eficácia de Seu sangue, a imputação de Sua justiça, a verdade de Sua graça, o poder de Sua ressurreição; ou de alguma forma para destruir o crescimento na salvação completa, através da Pessoa, trabalho e sangue de Jesus. Como Satanás, então, aponta esses golpes mortais em nossa cabeça para confundir nosso julgamento! Precisamos de uma peça de armadura para protegê-la, que é aqui chamada de "capacete da salvação". Um filho de Deus se torna muito terno com a verdade. Separar-se da verdade é separar-se da vida; abraçar o erro é abraçar a morte; e quanto mais vive em comunhão com Cristo, mais valorizará "a verdade como está em Jesus". Nunca desista da verdade. Se você desistir da verdade, o que há então para salvar sua alma? Mas "o capacete da salvação" deve ser colocado e usado; e ele é usado quando a salvação é posta como está na Pessoa do Filho de Deus. Salvação pela graça. O que, senão isso somente pode proteger a cabeça no dia da batalha? Mantenha- a firmemente apoiada ao redor de suas têmporas. O legalismo e a autojustiça, a heresia 58 e o erro irão atacar, mas nada poderão fazer contra você com o capacete da salvação. 5. A próxima peça da armadura que eu tomarei é "o ESCUDO da fé". Vimos o corpo guardado por todos os lados, exceto, como cria Bunyan, que "não há armadura para as costas". De qualquer forma, vimos o corpo guardado na frente, pois é uma batalha frontal; um cara a cara, mão a mão, pé a pé, ombro a ombro. Vimos os lombos, as pernas, os pés, o peito e a cabeça protegidos, mas pode haver talvez alguma parte não protegida. Temos de lutar com um inimigo muito hábil, que vigia todos os movimentos e todos os lugares sem guarda, para dar um golpe mortal. Precisamos então, de uma peça de armadura defensiva a mais, que nos tempos antigos era muito útil; o escudo, de modo que, olhando por todos os lados onde os dardos voarem, possamos opor-nos num instante. Este escudo é "o escudo da fé". Quão necessário é isso! O que somos, onde estamos, como podemos lutar por um único momento, quando a incredulidade parece ganhar poder e prevalência? 59 Desfalecemos, afundamos, não temos forças para levantar um dedo, quando a incredulidade e a infidelidade funcionam tão poderosamente em nossa mente carnal. Como precisamosdo escudo da fé; da fé no exercício vívido, para que possa ser contra Satanás, venha de qualquer lugar que ele possa vir, empurrando de qualquer lado que ele quiser! Este escudo de fé é "acima de tudo" ou "sobre tudo", de modo a proteger qualquer parte que não esteja protegida, e a guardar todas as porções desprotegidas. Mas, uma razão é especialmente mencionada, "assim poderemos apagar todos os dardos de fogo do maligno." Os antigos estavam acostumados a empregar "dardos ardentes", isto é, flechas com suas pontas acesas, que eram atiradas contra seus inimigos. Como isso representa belamente os dardos de fogo de Satanás! Suas injeções blasfemas e obscenas usadas para incendiaram a mente carnal! Como as flechas ardentes usadas pelos antigos, onde quer que furassem, seria incendiado. Mas, mesmo com toda a nossa força, nós não podemos resistir a esses ardentes dardos do diabo, essas infelizes sugestões 60 blasfemas, essas terríveis injeções que este Príncipe das trevas atira na mente carnal. Precisamos da armadura celestial e do escudo da fé, para não dar crédito às mentiras de Satanás, porém quando vierem os dardos ardentes, devemos segurar o escudo, para que elas possam gastar toda a sua força nisso, e essas mentiras não possam incendiar. Nossa mente carnal é muito inflamável, o dardo menos ardente pode colocá-la em chamas, mas não é assim com o escudo da fé, que é feito de materiais que podem neutralizar todos os dardos ardentes. Quando acreditamos que nosso interesse salvador no Filho de Deus, que nosso nome está no livro da vida, que Deus é nosso Pai, Cristo nosso Irmão, o Espírito Santo nosso Amigo e Mestre; quando podemos acreditar que tudo o que Satanás diz é mentira, que todas essas imaginações são apenas seus artifícios, que todas essas obras baixas são de sua fabricação, que todos esses pensamentos vis são por sua sugestão, e não tomá-los como nossos próprios quando podemos assim sustentar "o escudo da fé"; eles caem, eles não alcançam a alma; não encontram materiais que possam inflamar. Eles 61 caem extintos pelo "escudo da fé". Mas, comece a duvidar, a temer e afundar, acreditando em tudo o que Satanás sugere; caia em seus raciocínios carnais, para ouvir suas sugestões infiéis e dar lugar a seus pensamentos vis, e toda a mente carnal é imediatamente incendiada. Como precisamos profundamente do escudo da fé para "apagar os dardos de fogo do maligno!" 6. Agora, as peças que eu até agora considerei são peças de armadura defensiva. Mas passo a uma peça, e apenas uma, de armadura ofensiva, a ESPADA, porque nesta batalha não temos meramente de receber golpes e nos defender deles, mas temos de manter a ofensiva, bem como a defensiva; temos de empurrar Satanás, bem como ser empurrado por ele; lutar com ele, assim como ele luta conosco. E qual é a nossa arma? Apenas uma. Mas, ó, quão eficaz ela é, sendo aqui chamada de "Espada do Espírito!" Esta é a única peça de armadura ofensiva fornecida, e ainda sobre o último que estamos apetrechados. Quão aptos estamos para encontrar Satanás sobre o próprio terreno de Satanás! 62 Ele apresenta argumentos, e nós contra- argumentamos; ele tenta, e somos seduzidos por suas tentações; ele fala, e nós escutamos; ele coloca o laço, e nós colocamos um pé para ser laçado. Se tentarmos lutar, é muitas vezes por alguma espada de nossa própria forja, não a “verdadeira lâmina de Jerusalém”, não a espada do arsenal celestial. Resoluções, promessas, lágrimas, reconhecimentos, confissões; tudo isso não passa de armas de origem terrena. Quão lento, quão incapaz somos para tomar a única verdadeira arma, "a espada do Espírito, que é a palavra de Deus!" Que exemplo o abençoado Senhor nos deixou quando foi tentado. Três vezes Satanás trouxe suas tentações para derrotar Jesus, e três vezes Jesus enfrentou-o com a espada do Espírito, "Está escrito, está escrito, está escrito". Ele não usou nenhuma outra arma; e essa arma fez Satanás fugir. Ora, "a espada do Espírito" é "a palavra de Deus". Mas, só podemos usar esta espada até onde ela é aberta ao nosso entendimento, aplicada ao nosso coração, selada em nossa consciência, e a fé é dada para firmá-la. Uma promessa, um 63 preceito, um convite, uma advertência, uma admoestação, uma verdade; não importa qual parte da palavra de Deus é adequada ao nosso estado e caso; ela só se torna "a espada do Espírito" pela fé, e é a única arma eficaz para derrotar Satanás. Através das tentações de Satanás, a alma às vezes parece estar pronta para afundar no desespero. É quase como se ele tivesse obtido a vitória, tão rapidamente atirando seus dardos ardentes; seta sobre seta, sugestão sobre sugestão. Bem, como você pode ficar? Você não tem força em si mesmo; nunca teve nenhuma; e o pouco que você teve em Cristo, ou pensou que tinha, parece ter ido. Apenas neste momento crítico, alguma promessa parece cair em sua alma, apropriada para o seu caso; ela é usada como "a espada do Espírito"; e por isso o inimigo é espancado de volta. Ou, Satanás está tentando você a algum pecado, e pintando diante de sua mente carnal algum prazer ou lucro a ser conquistado por comprometê-lo. Aqui está você, vacilante, e de pé à beira de uma queda. Neste momento crítico, o Senhor deixa cair algum preceito, 64 admoestação ou advertência; a palavra vem com poder à sua alma. Aqui está "a espada do Espírito, a palavra de Deus"; por isso a tentação é derrotada, e Satanás rechaçado. Oh, sem "a espada do Espírito" somos, por assim dizer, apenas um alvo para as flechas de Satanás! Mas, quando, além da armadura defensiva que o repele, há a arma ofensiva, "a espada do Espírito", que empurra, e o fere, ele é obrigado a bater em retirada até que ache ocasião oportuna para retornar a atacar. II. Então vem a receita celestial; como tomar, vestir e usar essa armadura corretamente. "Orando sempre com toda a oração e súplica no Espírito, vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos". É pela fé, como veremos agora, que a armadura celestial é recebida, vestida e usada, mas é principalmente pela "oração da fé", pois crendo na oração a armadura é tomada; pela oração contínua "orando sem cessar. "Guardados pela oração espiritual" suplicando no Espírito. Se não orarmos continuamente no Espírito, os 65 membros, por assim dizer, se encolherão e a armadura cairá. Os cavaleiros antigos se exercitavam todos os dias com toda a sua armadura, ou não podiam suportá-la, nem usariam suas armas com destreza e força. Assim, o guerreiro cristão, com oração e súplica, deve "exercitar-se para a piedade". Sem "orar sempre com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança", a sentinela não ficará de pé na armadura, guardando e vigiando, e o seu próprio peso os esmagará. Mas é "orando no Espírito". Não orações altas, longas, formais, nem repetições vãs, mas como Judas fala, "orando no Espírito Santo", pela ajuda e intercessão do Espírito; e "sempre"; em todas as estações, em todos os tempos, em todos os lugares, em toda parte, e sempre que o Espírito da graça e da súplica for derramado. Mais uma vez, deve ser "toda a oração", isto é, todos os tipos de oração; oração pública, oração particular, oração mental, oração clamando, oração gemendo, oração chorosa, oração meditativa; oração fraca, oração forte; oração de 66necessidade, oração de importunidade; oração de distância e oração de proximidade; a oração do cobrador de impostos, do leproso e do proscrito, bem como a oração do crente, da esperança e do amor. Com a oração, deve-se juntar a "súplica", isto é, suplicar ao Senhor, chorando a seus pés, implorando para que Ele apareça, dobrando os joelhos e derramando a alma em seu seio. A isso deve somar-se "vigiando nisso". Para observar a resposta; esperando a manifestação do Senhor "mais do que aqueles que esperam pela manhã". E isso, "com toda a perseverança", nunca desistir, não negar nada, implorar ao Senhor uma e outra vez, e lutar com Ele até que pareça abençoar, visitar e brilhar sobre a alma. Oh, como esta receita celestial mantém cada parte da armadura brilhante, bem como o soldado ativo e especialista em seu uso! A armadura de fato, como sendo do céu, não fica nem maçante nem enferrujada; somos nós que ficamos lentos em seu uso. Mas, pela nossa 67 apreensão, fé e oração torna-se mais brilhante. Como, por exemplo, "a oração de fé" ilumina o cinturão da verdade, e o faz brilhar! Como ela lustra o peitoral, e faz com que se encaixe firmemente ao redor do peito! Como faz o capacete brilhar no sol! Como rebate cada golpe com o escudo! E como aguça "a espada do Espírito", dá-lhe um polimento mais brilhante, e fortalece o braço para empunhá-la com renovada atividade e vigor! Ó este é o segredo de toda a verdadeira vitória! Tudo deve estar bem, quando estamos em espírito de oração, meditação, observação; e tudo está doente, quando esta receita celestial é negligenciada, quando as mãos caem, os joelhos desmaiam, e a oração parece morta e imóvel em nós. Que haja na alma um espírito permanente de oração, e a vitória será certa. Satanás tem pouco poder contra a alma que tem um espírito permanente de oração, e está "vigiando nisso 68 com toda perseverança". Mas, sem este espírito de oração, somos uma presa de todas as suas tentações, e não podemos tomar, vestir, nem usar a única armadura contra elas. Tal é, portanto a armadura que Deus providenciou, e tal é a maneira pela qual ela deve ser tomada, vestida e usada; tomada pela fé, vestida pela oração e manuseada com a perseverança, pois ela nunca deve ser retirada até que a morte a destrua. E, você pode confiar nisso, que Deus não teria fornecido uma armadura como esta, tão completa, a menos que houvesse uma batalha real para ser travada. Os guerreiros cristãos não são soldados chineses antigos, que usavam armadura de papelão, pintada para parecer ferro, mas sua armadura é de aço real; portanto como Deus forneceu uma armadura como esta, é claro que eles não têm nenhum inimigo insignificante para lutar. Agora o grande estratagema de Satanás é esconder sua força. Ele é como um general hábil, que não mostra todo o seu exército, mas os esconde atrás de sebes, paredes e árvores, e 69 os mantém nas trincheiras, para que o inimigo não veja toda a sua força. Satanás nunca é tão poderoso como quando pensamos menos de seu poder; e nunca é tão bem sucedido como quando atira em nós por trás da trincheira. O apóstolo diz; "Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as ciladas do diabo". É a sua arte diabólica e sutileza que temos tanto a temer. Deixe de lado uma peça da armadura, e você é imediatamente abatido. O texto fala de "dia mau", ou seja, um dia de perigo, de alarme; um dia em que o Príncipe do Mal está planejando, um dia mau, escuro e sombrio para nós, a menos que tenhamos a armadura celestial, e saibamos usá-la. "Revesti-vos", diz o apóstolo "tomai toda a armadura de Deus". Há uma colocação dela sobre nós. Não é como o nosso "Arsenal da Torre", onde armas, pistolas e outras armas militares estão penduradas em círculos ornamentais para serem vistos como um espetáculo, mas deve ser tomado, para ser colocado, para ser recebido das mãos de Deus, e apertado por seus próprios dedos. 70 Já mostrei como a oração e a vigilância são necessárias para a colocação da armadura celestial. Mas, posso ainda acrescentar que é pela fé que colocamos em cada peça; se não temos fé, não temos sinceridade cristã, nem conhecimento espiritual da verdade, portanto, "os lombos não se esgotam com a verdade". Se não temos fé, não temos nenhuma couraça da justiça de Cristo, pois isso só é colocado pela fé. Se não temos fé, não temos defesa para os nossos pés, porque é pela fé que nós andamos, portanto os pés não são "calçados com a preparação do evangelho da paz". Se não temos fé, não temos capacete, porque a "salvação" é alcançada pela fé. Se não temos fé, não podemos ter "o escudo da fé"; isso é evidente. Se não temos fé, não podemos usar "a espada do Espírito", que é atuante apenas pela fé. Se não temos fé, não temos oração verdadeira, pois é "a oração da fé" que é eficaz com Deus. Pela fé, portanto cada peça da armadura celestial é posta; e pela fé, a fé viva, cada parte dela é usada. Que pessoas estranhas nós somos! Capazes de lutar um dia, e fugir no próximo; resistindo a 71 Satanás neste momento, e dando lugar a ele em outro momento. Como isso deve ser contabilizado? Porque neste momento temos fé; no próximo, parecemos ter nenhuma. A fé é para a alma, o que uma engrenagem principal é para o relógio. Se a engrenagem principal está quebrada, ou faltando, qual é o valor do relógio? Assim, a fé é a fonte principal da alma. Não havendo fé, não há movimento interior. Deve haver fé na alma para que as mãos se movam de acordo com a vontade de Deus. Quanto à fé, não precisamos apenas vestir, mas usar e manejar esta armadura celestial, para "resistir no dia mau, e tendo feito tudo, permanecer inabaláveis". Que inundação de luz isto faz, sendo lançado sobre o caminho de um cristão, que está em maior perigo após a vitória! Bunyan tem maravilhosamente tocado sobre isso, onde representa o Cristão tropeçando e caindo imediatamente, depois que tinha alcançado uma vitória sobre o inimigo. Quando você tiver, na força de Cristo, vencido uma tentação, estará à beira de outra e o próprio 72 orgulho que eleva seu coração por ter ganhado uma batalha, só abre caminho para cair no próximo encontro. Que estranha guerra! A máxima de Paulo não serviria para o duque de Wellington; "Quando sou fraco, então sou forte." Isso não o faria ir à batalha. Nós nunca somos tão fracos como quando, em nós mesmos somos fortes; e nunca somos tão fortes como quando em nós mesmos somos fracos. Deixe-me pensar que estou seguro, e eu caio; deixe-me temer cair, e estou seguro. Ó mistérios da vida cristã! O paradoxo da guerra celestial! E, com a mais profunda sabedoria o apóstolo disse "Tomai para vós toda a armadura de Deus". Não deixe uma única peça de fora; sua vida está em jogo, não se esqueça de uma fivela, não deixe solto um único fecho; "Para que possais resistir no dia mau". Há um dia mau vindo, um dia de tentação, uma hora de provação; um dia mau, quando as nuvens se acumulam negras, a atmosfera se esparrama com a escuridão, e o inimigo surge em toda a sua força. Naquele "dia mau", a hora da 73 tentação, quem pode suportar? Ninguém exceto aquele que tem "toda a armadura de Deus". Bem, o dia mau passa, o céu se dissipa, as nuvens se rompem, o sol nasce e seus brilhantes raios de luz olham para a armadura do guerreiro. Está ileso, ela efetivamente
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