Buscar

EFEITO DO TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO ASSOCIADO A REABILITAÇÃO FÍSICA APÓS HOSPITALIZAÇÃO PROLONGADA: SÉRIE DE CASOS

Prévia do material em texto

ARTIGOS ORIGINAIS
EFEITO DO TREINAMENTO 
MUSCULAR INSPIRATÓRIO 
ASSOCIADO A REABILITAÇÃO 
FÍSICA APÓS HOSPITALIZAÇÃO 
PROLONGADA: SÉRIE DE CASOS
Balbino Rivail Ventura Nepomuceno Júnior*, Paulo Roberto Bezerra Oliveira**, Thiago Queiroz 
Pires***, Bruno Prata Martinez****, Mansueto Gomes Neto*****
* Reative Fisioterapia, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Saúde (PPGMS) pela Universidade 
Federal da Bahia (UFBA).
** Reative Fisioterapia, Especialista em Fisioterapia em Pneumo-Funcional pela Faculdade Social.
*** Reative Fisioterapia, Especialista em Fisiologia do Exercício - Universidade Estácio de Sá.
**** Professor auxiliar da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Doutorando em Medicina e Saúde Humana pela Escola 
Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP).
***** Coordenador do curso de Fisioterapia e Professor permanente do PPGMS da UFBA.
Resumo
Introdução: A sarcopenia, a polineuropatia do paciente crítico e fraqueza muscular respiratória são 
algumas das possíveis condições responsáveis por essa incapacidade física após a hospitalização 
prolongada. Objetivo: Relatar o efeito do treinamento muscular inspiratório e programa de exercí-
cios físicos na capacidade muscular respiratória e funcional de uma série de casos de pacientes pós 
- hospitalização. Métodos: Série de casos, do uso do TMI e reabilitação física domiciliar em pacien-
tes em deshospitalização. O protocolo respiratório empregou carga aproximada de 50% da pressão 
inspiratória máxima (Pimax), realizado em duas séries de 30 repetições por dia durante sete dias por 
semana. As variáveis mensuradas antes e após as intervenções foram Pimax, Capacidade Vital (CV) 
PFI (Pico de fluxo inspiratório), força muscular periférica (MRC) e independência funcional (índice de 
Barthel completo e domínio mobilidade da Medida de Independência Funcional (MIF). Resultados: 
A amostra foi composta por dez pacientes com idade média 73,7±13,6 anos e tempo de internação 
hospitalar 18,6±10,9 dias, sendo que a adesão as intervenções foi de 82,0%. Nas 459 sessões de TMI 
houveram 25 eventos adversos ocorridos durante os ajustes de carga, porém sem necessidade de ex-
clusão após retorno a carga inspiratória prévia. Após quatro semanas das intervenções, observou-se 
aumento significativo da Pimax, PFI e CV, além de ganhos na força muscular periférica e capacidade 
funcional. Conclusão: O TMI associado a reabilitação física em pacientes críticos após hospitalização 
promoveu ganhos na função respiratória e capacidade funcional após quatro semanas de intervenção. 
Palavras-chave: Exercícios respiratórios; Fisioterapia; Serviços de assistência domiciliar; Alta do 
paciente.
• Artigo submetido para avaliação em 21/09/2015 e aceito para publicação em 09/11/2015 •
DOI: http://dx.doi.org/10.17267/2238-2704rpf.v5i3.696
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
238
INTRODUÇÃO
O declínio das atividades básicas do cotidiano 
como transferências e locomoção é um dos princi-
pais desfechos negativos após a internação hospi-
talar, principalmente em pacientes críticos.(1,2) Pa-
cientes críticos como na síndrome do desconforto 
respiratório agudo (SDRA), por exemplo, mantém 
graus de limitação funcional e incapacidade para 
realizar atividades laborais mesmo após cinco anos 
da hospitalização.(1) A sarcopenia, a polineuropatia 
do paciente crítico e fraqueza muscular respiratória 
são algumas das possíveis condições responsáveis 
por essa incapacidade física.(1,2)
Essa fraqueza muscular respiratória é uma das 
causas mais comuns de desmame prolongado e 
que tem relação com aumento da estadia na uni-
dade de terapia intensiva e morbimortalidade.(2-4) 
Entretanto, esse descondicionamento muscular 
respiratório pode ser subclínico na maioria dos ca-
sos, já que pode ser visualizado apenas por limi-
tações funcionais durante atividades de vida diá-
ria (AVD’s) após a hospitalização.(4) O treinamento 
muscular inspiratório (TMI) é uma modalidade te-
rapêutica consagrada no ganho da pressão inspi-
ratória máxima (Pimax)(5-8) e seus ganhos podem 
ter influência na musculatura periférica, capacida-
de física para marcha e atividades esportivas,(5,6,9) 
sendo o vasoconstricção periférica reflexa, median-
te privação de oxigênio durante exercícios de gran-
EFFECT OF INSPIRATORY MUSCLE TRAINING 
ASSOCIATED WITH PHYSICAL REHABILITATION AFTER 
PROLONGED HOSPITAL: CASE SERIES
Abstract
Introduction: sarcopenia, polyneuropathy of critically ill patients and respiratory muscle weakness are some of 
the possible conditions responsible for this disability after prolonged hospitalization. Objective: To report the 
effect of inspiratory muscle training and exercise program on functional and respiratory muscular capacity of 
a series of cases of patients post - hospitalization. Methods: Serie cases, the use of TMI and home physical 
rehabilitation in patients deshospitalização. Respiratory protocol employed approximate charge of 50% of 
maximal inspiratory pressure (MIP), held in two sets of 30 repetitions a day for seven days a week. The 
variables measured before and after the interventions were Pimax, Vital Capacity (VC) PFI (inspiratory peak 
flow), peripheral muscle strength (MRC) and functional independence (full Barthel Index and mobility field of 
Functional Independence Measure (FIM). Results: The sample consisted of ten patients with a mean age 73.7 
± 13.6 years and length of hospital stay 18.6 ± 10.9 days, and adherence interventions was 82.0% In the 459 
sessions. TMI there were 25 adverse events occurred during the loading adjustments, but without exclusion 
after returning the previous inspiratory load. After four weeks of intervention, there was a significant increase 
in MIP, PFI and CV, as well as gains in peripheral muscle strength and functional capacity. Conclusion: The 
TMI associated with physical rehabilitation in critically ill patients after hospitalization promoted gains in 
respiratory function and functional capacity after four weeks of intervention.
Keywords: Breathing Exercises; Physical Therapy Specialty; Home care services; Patient discharge.
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
239
de demanda, conhecido como metaboreflexo, o 
maior racional teórico para o ganho do desempe-
nho de musculatura periférica e capacidade aeró-
bica.(6-8)
Os dispositivos de carga linear já foram relata-
dos na literatura para o TMI em atletas, indivíduos 
saudáveis e enfermos. Contudo, o uso desta moda-
lidade terapêutica em pacientes após a hospitaliza-
ção restringe-se aos programas de reabilitação pul-
monar e cardíaca, num perfil de pacientes muito 
específico. Além disso, neste período o organismo 
restabelece sua homeostasia, sendo viável o em-
prego de terapias cada vez mais complexas. Não 
são conhecidos estudos que empreguem o TMI 
com resistir linear nos pacientes em deshospitali-
zação. Sendo assim, O objetivo do presente estudo 
é relatar o efeito do treinamento muscular inspira-
tório e programa de exercícios físicos na capacida-
de muscular respiratória e funcional de uma série 
de casos de pacientes pós hospitalização.
MÉTODOS
Trata-se de uma série de casos, em consonância 
com as diretrizes do CARE Checklist (http://www.
care-statement.org/care-checklist.html), realizado 
com pacientes críticos submetidos a TMI associa-
do à um programa de reabilitação física domiciliar 
após a hospitalização, no período entre agosto de 
2014 a janeiro de 2015. Todos os pacientes ou res-
ponsáveis foram informados sobre os objetivos da 
pesquisa e assinaram o termo de consentimento 
livre e esclarecido (TCLE). O estudo foi aprova-
do pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital 
Geral Roberto Santos, Salvador-Bahia, sob o pare-
cer nº 03/2014 em consonância com a resolução 
466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. 
Uma amostraconsecutiva de conveniência, ten-
do como critérios de inclusão idade ≥18 anos; in-
ternamento hospitalar prolongado (maior que sete 
dias). Foram excluídos pacientes com incapacida-
de cognitiva para realizar TMI, presença de arrit-
mia cardíaca não controlada, instabilidade hemo-
dinâmica com uso de droga vasoativa, hipertensão 
intracraniana, coma persistente, o que não consen-
tiram em participar da pesquisa. 
O protocolo de TMI foi realizado utilizando um 
resistor de carga linear da marca POWERBreathe 
Plus, carga light (POWERBreathe, Reino Unido). Foi 
estabelecido um período de quatro semanas para 
treinamento da musculatura inspiratória. O proto-
colo de TMI empregou carga inspiratória de 50% 
da Pimax, realizado duas séries de 30 incursões 
por dia, durante sete dias por semana (totalizando 
56 sessões).(5,6,9) Cada série durou um período mé-
dio de cinco minutos incluindo a fase de recupera-
ção. A carga foi reajustada semanalmente confor-
me sensação de esforço, obtido pela escala de Borg 
e níveis < 6 durante o treino.(7) Concomitante ao 
TMI, durante os atendimentos foram realizados: 
cinesioterapia ativa e resistiva, cicloergômetro de 
membros inferiores e treino de atividades (trans-
ferências para sentado, ortostase e deambulação 
com progressão conforme aptidão individual), o 
tempo médio de atendimento era de quarenta e 
cinco minutos. Nenhum dos pacientes realizaram 
outra terapia com carga respiratória durante o pe-
ríodo do estudo.
As variáveis primárias foram mensuradas na in-
clusão dos indivíduos no estudo e ao final do pro-
tocolo de intervenção. Foi considerado como va-
riáveis a Pimax, pico de fluxo inspiratório (PFI), 
capacidade vital (CV), Medical Research Council 
(MRC) total, independência funcional através do 
índice de Barthel completo e domínio locomoção 
da medida de independência funcional (MIF). Para 
caracterização da amostra também foram registra-
dos tempo de internação hospitalar, gênero, idade 
e motivo da internação. Também foram registra-
dos os eventos adversos durante TMI: incapaci-
dade muscular de concluir a sessão; percepção de 
dispnéia limitante para realização do TMI; queda 
de SpO2 <85%; taquicardia com elevação >20% da 
frequência cardíaca inicial; hipertensão com ele-
vação >20% da pressão arterial inicial; fadiga res-
piratória considerada por sustentação do esforço 
inspiratório maior que 15 minutos após terapia. Os 
pacientes que apresentaram algum desses even-
tos, tiveram a técnica interrompida para repouso 
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
240
da musculatura, sendo realizado uma nova ses-
são no dia seguinte com a carga anteriormente 
empregada. 
Para avaliação da Pimax, PIF e CV foi utilizado o 
software comercial BreatheLink K5, versão 1.10 (PO-
WERBreathe, Reino Unido).(3) Para isso, o pacien-
te foi posicionado com cabeceira elevada a 45o ou 
sentado com pernas pendentes, sendo orientado a 
uma expiração tranquila seguida por uma inspira-
ção forçada máxima até capacidade pulmonar to-
tal. Foram realizadas três aferições consecutivas 
com intervalo de um minuto entre elas, sendo con-
siderado o maior valor obtido.(16) A Pimax foi rea-
valiada ao final de quatro semanas da intervenção 
na mesma posição utilizada na avaliação inicial. 
Após a mensuração, calculou-se o seu percentual 
em relação ao valor predito da Pimax (Homens: y = 
−1,24 × idade + 232,37; Mulheres: y = −0,46 × idade 
+ 74,25), a partir da equação validada para a popu-
lação brasileira.4
A força muscular periférica foi mensurada atra-
vés da escala MRC para avaliação muscular esque-
lética, nos momentos inicial e final das interven-
ções. A graduação da força nos grupos musculares 
avaliados (flexores de ombro, cotovelo e quadril, 
abdutores de ombro, extensores de joelho, punho 
e dorsiflexores; de forma bilateral) variou de 0 (ne-
nhuma contração) a 5 (força normal). Posterior-
mente, o MRC total foi mensurado a partir do so-
matório dos valores individuais com um escore de 
0 (plegia) a 60 pontos (força normal)10. Para men-
suração da independência funcional foi utilizado o 
Índice de Barthel completo19 e o domínio locomo-
ção da MIF.(11) Três fisioterapeutas previamente trei-
nados avaliaram no pré e pós intervenção as variá-
veis de interesse.
 As variáveis numéricas foram descritas em 
médias e desviospadrão. Para testar normalidade, 
foi empregado o teste de Shapiro-Wilk. Na compa-
ração entre as variáveis numéricas pré e pós in-
tervenções utilizou-se o teste t de Student parea-
do para amostras dependentes. Foi considerado 
como significante valores de p <0,05. Para análi-
se dos dados foi utilizado o software SPSS, versão 
21.0. 
RESULTADOS
A amostra foi composta por dez indivíduos com 
motivos de internação hospitalar heterogêneos, 
idade média de 73,7±13,6 anos, IMC médio normal 
(24,2±4,8 kg/m2), sendo que sete eram do gêne-
ro feminino. O tempo de internação hospitalar 
dos pacientes avaliados foi 18,6±10,9 dias (tabe-
la 1). A taxa de assiduidade ao tratamento foi de 
82,0±7,4%, totalizando 459 sessões de TMI, sen-
do que foram notificados ao longo do protocolo 25 
(5,44%) eventos adversos (Tabela 2), nenhum pa-
ciente apresentou evento recorrente, não havendo 
exclusão por este motivo. 
Tabela 1 - Caracterização da amostra de dez pacientes submetidos ao protocolo de TMI associado a reabilitação física, 
Salvador, Bahia, 2015. (continua)
Amostra Idade Gênero Motivo da hospitalização
Tempo de 
Hospitalização
Paciente 1 85 F Sepse de foco respiratório/ SDRA 30
Paciente 2 62 M Neoplasia de pulmão 30
Paciente 3 77 F Síndrome pós-poliomielite 28
Paciente 4 78 M Neoplasia de pulmão 15
Paciente 5 90 F Sepse de foco urinário 10
Paciente 6 42 M Politrauma 09
Paciente 7 69 F Acidente vascular encefálico 20
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
241
Amostra Idade Gênero Motivo da hospitalização
Tempo de 
Hospitalização
Paciente 8 78 F Cetoacidose diabética / SDRA 32
Paciente 9 75 F Sepse de foco urinário 12
Paciente 10 81 F Sepse de foco respiratório 08
Idade expresso em anos; Gênero com F para feminino e M para masculino; Tempo de hospitalização expressa em dias; SDRA: 
Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo.
Tabela 2 - Eventos adversos durante treinamento muscular inspiratório, Salvador, Bahia, 2015
Eventos adversos n = 459* %
Incapacidade muscular de concluir a sessão 16 3,48
Dispnéia 5 1,08
Queda de SpO2 (< 85%) 3 0,65
Taquicardia (Elevação da FC >20% do basal) 1 0,21
Total** 25 5,44%
*Do total de 560 sessões programadas para a amostra, a adesão foi de 82±7,4%, equivalente às 459 sessões. 
Tabela 1 - Caracterização da amostra de dez pacientes submetidos ao protocolo de TMI associado a reabilitação física, 
Salvador, Bahia, 2015. (conclusão)
Após quatro semanas de TMI associado à um 
programa de reabilitação física domiciliar, obser-
vou-se aumento significativo da Pimax, do PFI e da 
CV (Tabela 3). Em consonância, foi observado que 
os ganhos para a força muscular periférica, gradua-
da com a escala de MRC e também na capacidade 
funcional, mensuradas através do índice de Barthel 
e domínio locomoção da MIF (Figura 1). 
Tabela 3 - Comportamento de variáveis respiratórias e funcionais pré e pós protocolo de TMI com dispositivo de 
carga linear, Salvador, Bahia, 2015.
Variáveis Pré-TMI Pós-TMI Valor de p
Pimax (cm H2O) 34,7 50,3 0,001
CV (Litros) 1,1 1,35 0,018
MRC 42,4 53,8 0,001
PIF (L/seg) 1,83 2,32 0,011
MIF (Locomoção) 4,2 6,2 0,006
Índice de Barthel 61,5 88,0 0,006
Pressão inspiratória máxima (Pimax); Capacidade Vital (CV); Medical Research Council (MRC); Pico de fluxo inspiratório (PIF); 
Medida de Independência Funcional (MIF); Índice de Barthel (IB).
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
242
Figura1 - Comportamento das variáveis de interesse pré e pós-intervenção, Salvador, Bahia, 2015.
Considerando os valores de referência preditos 
para a Pimax através da equação internacional, ob-
servou-se que a população do estudo apresentava 
no préTMI 44±9,8% do valor predito para gênero e 
idade. Após quatro semanas de TMI, o valor percen-
tual atingiu 62±9,6%, com uma elevação com sig-
nificância estatística (p <0,001). Setenta por cento 
dos indivíduos apresentavam antes do treinamento 
um valor predito de Pimax inferior a 50% do pre-
dito, sendo que após o treinamento, apenas quatro 
indivíduos ainda apresentavam valores entre 50% e 
60% do predito como normal para a gênero e idade.
DISCUSSÃO
O presente estudo demonstrou efeito positivo do 
TMI com resistor linear associado a reabilitação 
física, na capacidade muscular respiratória de pa-
cientes após hospitalização prolongada. Tal inter-
venção promoveu ganhos tanto na força dos mús-
culos respiratórios, graduado pela Pimax, como da 
capacidade pulmonar, aferida pela CV e PIF. Asso-
ciado a isso, também foi observado melhora da 
força muscular periférica, através da MRC, como 
na funcionalidade, aferido por Barthel e MIF. Vale 
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
243
ressaltar, que o programa de intervenção proposto 
combinam terapêuticas consagradas na recupera-
ção tanto da função respiratória, como da função 
músculo esquelética periférica, justificando os re-
sultados obtidos. 
Apesar de ser uma série de casos com dez pa-
cientes, foi observado que o TMI apresentou re-
sultados encorajadores, apresentando baixa fre-
quência de eventos adversos e uma boa aderência 
durante as quatro semanas de aplicação, com ade-
são de 82%. Estes valores foram superiores a estu-
do com remadores,(5) cuja adesão foi 76% das ses-
sões prescritas por 6 semanas e também superior 
a outro estudo envolvendo pacientes com DPOC 
submetidos à TMI em paralelo a reabilitação pul-
monar por 1 ano,(12) cuja adesão foi 63%. 
No presente estudo foi utilizado um ajuste da 
carga inicial de 50% da Pimax, com progressão ba-
seado na percepção de esforço dos pacientes,(2) 
realizado em duas séries de 30 incursões ao dia.
(5,6,9,13,14) Azizimasouleh e outros(13) em estudos com 
nadadores, realizaram o mesmo protocolo do es-
tudo atual e obtiveram melhora respiratória, assim 
como no desempenho esportiva contra o relógio 
para a atividade desportiva. Tuner e outros(9) em 
ensaio clínico randomizado com portadores de 
asma, realizou intervenção com o mesmo protoco-
lo por 6 semanas e Volianitis e outros(14) por onze 
semanas. Todos estes três estudos apresentaram 
ganho significativos na Pimax no grupo interven-
ção, mesmo com durações diferentes do treina-
mento, o que não foi observado no grupo controle. 
Nesse estudo observou-se também melhora na 
independência funcional, todavia não é possível 
afirmar com exatidão que a TMI foi o único moti-
vo deste ganho, visto que os pacientes foram sub-
metido a reabilitação física em paralelo. Entretan-
to, existe plausibilidade biológica para associação 
entre os efeitos do TMI e capacidade funcional, já 
que pacientes descondicionados ativam um refle-
xo simpático de vasoconstricção periférica, o qual 
reduz o fluxo sanguíneo da musculatura periférica 
e predispõe a fadiga em curto período através do 
metaboreflexo.(7,8)
Durante a intervenção, foram realizadas 459 ses-
sões de TMI, sendo que houve uma baixa frequên-
cia de eventos adversos. Vale ressaltar que a maior 
parte dos eventos ocorreram em sessões de ajus-
te da carga inspiratória, os quais foram revertidos 
após retorno para carga anterior, após repouso da 
musculatura. Ramos e outros.(15) em estudo trans-
versal, com 21 pacientes idosos submetidos a um 
programa de exercício fisico, incluindo TMI, não 
foi observado eventos adversos clínicos e hemodi-
nâmicos, com observação de raras arritmias ventri-
culares de baixa complexidade com frequência sem 
significância estatística.
O recondicionamento da musculatura respirató-
ria apresenta uma margem muito pequena entre a 
terapia e a fadiga no paciente crítico após hospi-
talização.(2) O resistor de carga linear empregado 
possui intervalo médio de oito cmH2O entre os ní-
veis de resistência, o que pode favorecer a ocorrên-
cia de “overtraining” durante o processo de ajuste 
da resistência. Contudo a excelente adesão e boa 
tolerância a terapia demonstrado pela pesquisa, 
sugerem que tal afirmação tem baixa ocorrência 
na prática clínica com pacientes em processo de 
deshospitalização. 
O presente estudo é pioneiro na utilização do 
TMI inspiratório associado á um programa de rea-
bilitação física em pacientes pós - hospitalização 
prolongada. Tal terapia é de fácil reprodutibilidade, 
baixo custo e os dados expostos nessa pesquisa 
sugerem que tal conduta é viável e bem tolerada 
por esse perfil de pacientes. Por esse motivo, a 
presente série de casos trás contribuições inéditas 
na literatura. São limitações do estudo o pequeno 
tamanho amostral e a seleção de conveniência 
que limita a extrapolação desses resultados para a 
população estudada. A ausência da monitorização 
eletrocardiografia durante as sessões é outra 
limitação da presente pesquisa. Assim como, a 
falta de um grupo controle para inferir a magnitude 
de possível melhora espontânea de pacientes 
em deshospitalização, mesmo sem o programa 
de intervenção aqui proposto. Por esse motivo, 
faz necessário novos estudos randomizados e 
· Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 ·
244
controlados, com amostras maiores confirmando 
a tendências aqui levantadas.
CONCLUSÃO
O treinamento muscular inspiratório utilizando 
resistor de carga linear associado a reabilitação fí-
sica por quatro semanas promoveu um aumento 
significativo na função respiratória, força muscular 
periférica e independência funcional em uma série 
de pacientes em deshospitalização. Tal protocolo 
tem excelente adesão e parece ser seguro para rea-
bilitação de pacientes críticos após hospitalização 
prolongada.
REFERÊNCIAS 
1. Herridge MS, Tansey CM, Matté A, Tomlinson G, 
Diaz-Granados N, Cooper A, et al. Functional 
disability 5 years after acute respiratory distress 
syndrome. N Engl J Med. 2011;364:1293-304. 
DOI: 10.1056/NEJMoa1011802.
2. Martin AD, Davenport PD, Franceshi AC, 
Harman E. Use of Inspiratory Muscle Strength 
Training to Facilitate Ventilator Weaning: 
A Series of 10 Consecutive Patients. Chest. 
2002;122:192–6.
3. De Souza, LC, Campos JL, Daher LP, Silva 
PF, Ventura A, Prado PZ, et al. Mechanical 
ventilation in inclusion body myositis: Feasibility 
of isokinetic inspiratory muscle training as an 
adjunct therapy. Case Reports in Crit Care. 
2014;4:1-5. DOI: 10.1155/2014/902541.
4. Costa D, Gonçalves HA, de Lima LP, Ike D, 
Cancelliero KM, Montebelo MIL. New reference 
values for maximal respiratory pressures in 
the Brazilian population. J Bras Pneumol. 
2010;36(3):306-12.
5. Griffiths LA, McConnell AK. The influence of 
inspiratory and expiratory muscle training 
upon rowing performance. European Journal of 
Applied Physiology. 2007;99:457–66.
6. Romer LM, McConnell AK, Jones DA. Effects 
of inspiratory muscle training on time-trial 
performance in trained cyclists. Journal of 
Sports Sciences. 2002;20:547-62.
7. Sheel AW, Derchak PA, Morgan BJ, Pegelow 
DF, Jacques AJ, Dempsey JA. Fatiguing 
inspiratory muscle work causes reflex reduction 
in resting leg blood flow in humans. J Physiol. 
2001;537:277–89.
8. McConnell AK, Lomax M. The influence of 
inspiratory muscle work history and specific 
inspiratory muscle training upon human limb 
muscle fatigue. J. Physiol. 2006;577:445-57.
9. Tuner LA, Mickleborough TD, McConnell 
AK, Stager JM et al. Effect of Inspiratory 
Muscle Training on Exercise Tolerancein Asthmatic Individuals. Med & Scien in 
Sports & Exer. 2011;11:2031-8. DOI: 10.1249/
MSS.0b013e31821f4090.
10. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery LE. 
Reference values for lung function tests. II. 
Maximal respiratory pressures and voluntary 
ventilation. Braz J Med Biol Res. 1999;32(6):719-
27.
11. Kleyweg RP,Meché FG,Schmitz PI. Interobserver 
agreement in the assessment of muscle strength 
and functional abilities in Guillain-Barre 
syndrome.Muscle & Nerve. 1991;14(11):1103-9.
12. Beckerman M, Magadle R, Weiner M, Weiner 
P. The effects of 1 year of specific inspiratory 
muscle training in patients with COPD. CHEST. 
2005;128:3177–82.
13. Azizimasouleh M, Razmjoo S, Harati SH, 
Ahmadi P. Effect of respiratory muscles training 
on swimming performance of elite female 
swimmers. Annals of Biological Research. 
2012;3(1):196-203. 
14. Volianitis S, McConnell AK, Koutedakis Y, 
McNaughton L, Backx K, Jones DA. Inspiratory 
muscle training improves rowing performance. 
Med Sci Sports Exerc. 2001:33:803–809. 
15. Ramos PS, da Silva BC, da Silva LOG, 
Araújo CGS. Acute hemodynamic and 
electrocardiographic responses to a session of 
inspiratory muscle training in cardiopulmonary 
rehabilitation. Eur J Phys Rehabil Med. 2015 
Feb 5. [Epub ahead of print]

Continue navegando