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ARTIGOS ORIGINAIS EFEITO DO TREINAMENTO MUSCULAR INSPIRATÓRIO ASSOCIADO A REABILITAÇÃO FÍSICA APÓS HOSPITALIZAÇÃO PROLONGADA: SÉRIE DE CASOS Balbino Rivail Ventura Nepomuceno Júnior*, Paulo Roberto Bezerra Oliveira**, Thiago Queiroz Pires***, Bruno Prata Martinez****, Mansueto Gomes Neto***** * Reative Fisioterapia, Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Saúde (PPGMS) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). ** Reative Fisioterapia, Especialista em Fisioterapia em Pneumo-Funcional pela Faculdade Social. *** Reative Fisioterapia, Especialista em Fisiologia do Exercício - Universidade Estácio de Sá. **** Professor auxiliar da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Doutorando em Medicina e Saúde Humana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). ***** Coordenador do curso de Fisioterapia e Professor permanente do PPGMS da UFBA. Resumo Introdução: A sarcopenia, a polineuropatia do paciente crítico e fraqueza muscular respiratória são algumas das possíveis condições responsáveis por essa incapacidade física após a hospitalização prolongada. Objetivo: Relatar o efeito do treinamento muscular inspiratório e programa de exercí- cios físicos na capacidade muscular respiratória e funcional de uma série de casos de pacientes pós - hospitalização. Métodos: Série de casos, do uso do TMI e reabilitação física domiciliar em pacien- tes em deshospitalização. O protocolo respiratório empregou carga aproximada de 50% da pressão inspiratória máxima (Pimax), realizado em duas séries de 30 repetições por dia durante sete dias por semana. As variáveis mensuradas antes e após as intervenções foram Pimax, Capacidade Vital (CV) PFI (Pico de fluxo inspiratório), força muscular periférica (MRC) e independência funcional (índice de Barthel completo e domínio mobilidade da Medida de Independência Funcional (MIF). Resultados: A amostra foi composta por dez pacientes com idade média 73,7±13,6 anos e tempo de internação hospitalar 18,6±10,9 dias, sendo que a adesão as intervenções foi de 82,0%. Nas 459 sessões de TMI houveram 25 eventos adversos ocorridos durante os ajustes de carga, porém sem necessidade de ex- clusão após retorno a carga inspiratória prévia. Após quatro semanas das intervenções, observou-se aumento significativo da Pimax, PFI e CV, além de ganhos na força muscular periférica e capacidade funcional. Conclusão: O TMI associado a reabilitação física em pacientes críticos após hospitalização promoveu ganhos na função respiratória e capacidade funcional após quatro semanas de intervenção. Palavras-chave: Exercícios respiratórios; Fisioterapia; Serviços de assistência domiciliar; Alta do paciente. • Artigo submetido para avaliação em 21/09/2015 e aceito para publicação em 09/11/2015 • DOI: http://dx.doi.org/10.17267/2238-2704rpf.v5i3.696 · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 238 INTRODUÇÃO O declínio das atividades básicas do cotidiano como transferências e locomoção é um dos princi- pais desfechos negativos após a internação hospi- talar, principalmente em pacientes críticos.(1,2) Pa- cientes críticos como na síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), por exemplo, mantém graus de limitação funcional e incapacidade para realizar atividades laborais mesmo após cinco anos da hospitalização.(1) A sarcopenia, a polineuropatia do paciente crítico e fraqueza muscular respiratória são algumas das possíveis condições responsáveis por essa incapacidade física.(1,2) Essa fraqueza muscular respiratória é uma das causas mais comuns de desmame prolongado e que tem relação com aumento da estadia na uni- dade de terapia intensiva e morbimortalidade.(2-4) Entretanto, esse descondicionamento muscular respiratório pode ser subclínico na maioria dos ca- sos, já que pode ser visualizado apenas por limi- tações funcionais durante atividades de vida diá- ria (AVD’s) após a hospitalização.(4) O treinamento muscular inspiratório (TMI) é uma modalidade te- rapêutica consagrada no ganho da pressão inspi- ratória máxima (Pimax)(5-8) e seus ganhos podem ter influência na musculatura periférica, capacida- de física para marcha e atividades esportivas,(5,6,9) sendo o vasoconstricção periférica reflexa, median- te privação de oxigênio durante exercícios de gran- EFFECT OF INSPIRATORY MUSCLE TRAINING ASSOCIATED WITH PHYSICAL REHABILITATION AFTER PROLONGED HOSPITAL: CASE SERIES Abstract Introduction: sarcopenia, polyneuropathy of critically ill patients and respiratory muscle weakness are some of the possible conditions responsible for this disability after prolonged hospitalization. Objective: To report the effect of inspiratory muscle training and exercise program on functional and respiratory muscular capacity of a series of cases of patients post - hospitalization. Methods: Serie cases, the use of TMI and home physical rehabilitation in patients deshospitalização. Respiratory protocol employed approximate charge of 50% of maximal inspiratory pressure (MIP), held in two sets of 30 repetitions a day for seven days a week. The variables measured before and after the interventions were Pimax, Vital Capacity (VC) PFI (inspiratory peak flow), peripheral muscle strength (MRC) and functional independence (full Barthel Index and mobility field of Functional Independence Measure (FIM). Results: The sample consisted of ten patients with a mean age 73.7 ± 13.6 years and length of hospital stay 18.6 ± 10.9 days, and adherence interventions was 82.0% In the 459 sessions. TMI there were 25 adverse events occurred during the loading adjustments, but without exclusion after returning the previous inspiratory load. After four weeks of intervention, there was a significant increase in MIP, PFI and CV, as well as gains in peripheral muscle strength and functional capacity. Conclusion: The TMI associated with physical rehabilitation in critically ill patients after hospitalization promoted gains in respiratory function and functional capacity after four weeks of intervention. Keywords: Breathing Exercises; Physical Therapy Specialty; Home care services; Patient discharge. · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 239 de demanda, conhecido como metaboreflexo, o maior racional teórico para o ganho do desempe- nho de musculatura periférica e capacidade aeró- bica.(6-8) Os dispositivos de carga linear já foram relata- dos na literatura para o TMI em atletas, indivíduos saudáveis e enfermos. Contudo, o uso desta moda- lidade terapêutica em pacientes após a hospitaliza- ção restringe-se aos programas de reabilitação pul- monar e cardíaca, num perfil de pacientes muito específico. Além disso, neste período o organismo restabelece sua homeostasia, sendo viável o em- prego de terapias cada vez mais complexas. Não são conhecidos estudos que empreguem o TMI com resistir linear nos pacientes em deshospitali- zação. Sendo assim, O objetivo do presente estudo é relatar o efeito do treinamento muscular inspira- tório e programa de exercícios físicos na capacida- de muscular respiratória e funcional de uma série de casos de pacientes pós hospitalização. MÉTODOS Trata-se de uma série de casos, em consonância com as diretrizes do CARE Checklist (http://www. care-statement.org/care-checklist.html), realizado com pacientes críticos submetidos a TMI associa- do à um programa de reabilitação física domiciliar após a hospitalização, no período entre agosto de 2014 a janeiro de 2015. Todos os pacientes ou res- ponsáveis foram informados sobre os objetivos da pesquisa e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). O estudo foi aprova- do pelo comitê de ética em pesquisa do Hospital Geral Roberto Santos, Salvador-Bahia, sob o pare- cer nº 03/2014 em consonância com a resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Uma amostraconsecutiva de conveniência, ten- do como critérios de inclusão idade ≥18 anos; in- ternamento hospitalar prolongado (maior que sete dias). Foram excluídos pacientes com incapacida- de cognitiva para realizar TMI, presença de arrit- mia cardíaca não controlada, instabilidade hemo- dinâmica com uso de droga vasoativa, hipertensão intracraniana, coma persistente, o que não consen- tiram em participar da pesquisa. O protocolo de TMI foi realizado utilizando um resistor de carga linear da marca POWERBreathe Plus, carga light (POWERBreathe, Reino Unido). Foi estabelecido um período de quatro semanas para treinamento da musculatura inspiratória. O proto- colo de TMI empregou carga inspiratória de 50% da Pimax, realizado duas séries de 30 incursões por dia, durante sete dias por semana (totalizando 56 sessões).(5,6,9) Cada série durou um período mé- dio de cinco minutos incluindo a fase de recupera- ção. A carga foi reajustada semanalmente confor- me sensação de esforço, obtido pela escala de Borg e níveis < 6 durante o treino.(7) Concomitante ao TMI, durante os atendimentos foram realizados: cinesioterapia ativa e resistiva, cicloergômetro de membros inferiores e treino de atividades (trans- ferências para sentado, ortostase e deambulação com progressão conforme aptidão individual), o tempo médio de atendimento era de quarenta e cinco minutos. Nenhum dos pacientes realizaram outra terapia com carga respiratória durante o pe- ríodo do estudo. As variáveis primárias foram mensuradas na in- clusão dos indivíduos no estudo e ao final do pro- tocolo de intervenção. Foi considerado como va- riáveis a Pimax, pico de fluxo inspiratório (PFI), capacidade vital (CV), Medical Research Council (MRC) total, independência funcional através do índice de Barthel completo e domínio locomoção da medida de independência funcional (MIF). Para caracterização da amostra também foram registra- dos tempo de internação hospitalar, gênero, idade e motivo da internação. Também foram registra- dos os eventos adversos durante TMI: incapaci- dade muscular de concluir a sessão; percepção de dispnéia limitante para realização do TMI; queda de SpO2 <85%; taquicardia com elevação >20% da frequência cardíaca inicial; hipertensão com ele- vação >20% da pressão arterial inicial; fadiga res- piratória considerada por sustentação do esforço inspiratório maior que 15 minutos após terapia. Os pacientes que apresentaram algum desses even- tos, tiveram a técnica interrompida para repouso · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 240 da musculatura, sendo realizado uma nova ses- são no dia seguinte com a carga anteriormente empregada. Para avaliação da Pimax, PIF e CV foi utilizado o software comercial BreatheLink K5, versão 1.10 (PO- WERBreathe, Reino Unido).(3) Para isso, o pacien- te foi posicionado com cabeceira elevada a 45o ou sentado com pernas pendentes, sendo orientado a uma expiração tranquila seguida por uma inspira- ção forçada máxima até capacidade pulmonar to- tal. Foram realizadas três aferições consecutivas com intervalo de um minuto entre elas, sendo con- siderado o maior valor obtido.(16) A Pimax foi rea- valiada ao final de quatro semanas da intervenção na mesma posição utilizada na avaliação inicial. Após a mensuração, calculou-se o seu percentual em relação ao valor predito da Pimax (Homens: y = −1,24 × idade + 232,37; Mulheres: y = −0,46 × idade + 74,25), a partir da equação validada para a popu- lação brasileira.4 A força muscular periférica foi mensurada atra- vés da escala MRC para avaliação muscular esque- lética, nos momentos inicial e final das interven- ções. A graduação da força nos grupos musculares avaliados (flexores de ombro, cotovelo e quadril, abdutores de ombro, extensores de joelho, punho e dorsiflexores; de forma bilateral) variou de 0 (ne- nhuma contração) a 5 (força normal). Posterior- mente, o MRC total foi mensurado a partir do so- matório dos valores individuais com um escore de 0 (plegia) a 60 pontos (força normal)10. Para men- suração da independência funcional foi utilizado o Índice de Barthel completo19 e o domínio locomo- ção da MIF.(11) Três fisioterapeutas previamente trei- nados avaliaram no pré e pós intervenção as variá- veis de interesse. As variáveis numéricas foram descritas em médias e desviospadrão. Para testar normalidade, foi empregado o teste de Shapiro-Wilk. Na compa- ração entre as variáveis numéricas pré e pós in- tervenções utilizou-se o teste t de Student parea- do para amostras dependentes. Foi considerado como significante valores de p <0,05. Para análi- se dos dados foi utilizado o software SPSS, versão 21.0. RESULTADOS A amostra foi composta por dez indivíduos com motivos de internação hospitalar heterogêneos, idade média de 73,7±13,6 anos, IMC médio normal (24,2±4,8 kg/m2), sendo que sete eram do gêne- ro feminino. O tempo de internação hospitalar dos pacientes avaliados foi 18,6±10,9 dias (tabe- la 1). A taxa de assiduidade ao tratamento foi de 82,0±7,4%, totalizando 459 sessões de TMI, sen- do que foram notificados ao longo do protocolo 25 (5,44%) eventos adversos (Tabela 2), nenhum pa- ciente apresentou evento recorrente, não havendo exclusão por este motivo. Tabela 1 - Caracterização da amostra de dez pacientes submetidos ao protocolo de TMI associado a reabilitação física, Salvador, Bahia, 2015. (continua) Amostra Idade Gênero Motivo da hospitalização Tempo de Hospitalização Paciente 1 85 F Sepse de foco respiratório/ SDRA 30 Paciente 2 62 M Neoplasia de pulmão 30 Paciente 3 77 F Síndrome pós-poliomielite 28 Paciente 4 78 M Neoplasia de pulmão 15 Paciente 5 90 F Sepse de foco urinário 10 Paciente 6 42 M Politrauma 09 Paciente 7 69 F Acidente vascular encefálico 20 · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 241 Amostra Idade Gênero Motivo da hospitalização Tempo de Hospitalização Paciente 8 78 F Cetoacidose diabética / SDRA 32 Paciente 9 75 F Sepse de foco urinário 12 Paciente 10 81 F Sepse de foco respiratório 08 Idade expresso em anos; Gênero com F para feminino e M para masculino; Tempo de hospitalização expressa em dias; SDRA: Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo. Tabela 2 - Eventos adversos durante treinamento muscular inspiratório, Salvador, Bahia, 2015 Eventos adversos n = 459* % Incapacidade muscular de concluir a sessão 16 3,48 Dispnéia 5 1,08 Queda de SpO2 (< 85%) 3 0,65 Taquicardia (Elevação da FC >20% do basal) 1 0,21 Total** 25 5,44% *Do total de 560 sessões programadas para a amostra, a adesão foi de 82±7,4%, equivalente às 459 sessões. Tabela 1 - Caracterização da amostra de dez pacientes submetidos ao protocolo de TMI associado a reabilitação física, Salvador, Bahia, 2015. (conclusão) Após quatro semanas de TMI associado à um programa de reabilitação física domiciliar, obser- vou-se aumento significativo da Pimax, do PFI e da CV (Tabela 3). Em consonância, foi observado que os ganhos para a força muscular periférica, gradua- da com a escala de MRC e também na capacidade funcional, mensuradas através do índice de Barthel e domínio locomoção da MIF (Figura 1). Tabela 3 - Comportamento de variáveis respiratórias e funcionais pré e pós protocolo de TMI com dispositivo de carga linear, Salvador, Bahia, 2015. Variáveis Pré-TMI Pós-TMI Valor de p Pimax (cm H2O) 34,7 50,3 0,001 CV (Litros) 1,1 1,35 0,018 MRC 42,4 53,8 0,001 PIF (L/seg) 1,83 2,32 0,011 MIF (Locomoção) 4,2 6,2 0,006 Índice de Barthel 61,5 88,0 0,006 Pressão inspiratória máxima (Pimax); Capacidade Vital (CV); Medical Research Council (MRC); Pico de fluxo inspiratório (PIF); Medida de Independência Funcional (MIF); Índice de Barthel (IB). · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 242 Figura1 - Comportamento das variáveis de interesse pré e pós-intervenção, Salvador, Bahia, 2015. Considerando os valores de referência preditos para a Pimax através da equação internacional, ob- servou-se que a população do estudo apresentava no préTMI 44±9,8% do valor predito para gênero e idade. Após quatro semanas de TMI, o valor percen- tual atingiu 62±9,6%, com uma elevação com sig- nificância estatística (p <0,001). Setenta por cento dos indivíduos apresentavam antes do treinamento um valor predito de Pimax inferior a 50% do pre- dito, sendo que após o treinamento, apenas quatro indivíduos ainda apresentavam valores entre 50% e 60% do predito como normal para a gênero e idade. DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou efeito positivo do TMI com resistor linear associado a reabilitação física, na capacidade muscular respiratória de pa- cientes após hospitalização prolongada. Tal inter- venção promoveu ganhos tanto na força dos mús- culos respiratórios, graduado pela Pimax, como da capacidade pulmonar, aferida pela CV e PIF. Asso- ciado a isso, também foi observado melhora da força muscular periférica, através da MRC, como na funcionalidade, aferido por Barthel e MIF. Vale · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 243 ressaltar, que o programa de intervenção proposto combinam terapêuticas consagradas na recupera- ção tanto da função respiratória, como da função músculo esquelética periférica, justificando os re- sultados obtidos. Apesar de ser uma série de casos com dez pa- cientes, foi observado que o TMI apresentou re- sultados encorajadores, apresentando baixa fre- quência de eventos adversos e uma boa aderência durante as quatro semanas de aplicação, com ade- são de 82%. Estes valores foram superiores a estu- do com remadores,(5) cuja adesão foi 76% das ses- sões prescritas por 6 semanas e também superior a outro estudo envolvendo pacientes com DPOC submetidos à TMI em paralelo a reabilitação pul- monar por 1 ano,(12) cuja adesão foi 63%. No presente estudo foi utilizado um ajuste da carga inicial de 50% da Pimax, com progressão ba- seado na percepção de esforço dos pacientes,(2) realizado em duas séries de 30 incursões ao dia. (5,6,9,13,14) Azizimasouleh e outros(13) em estudos com nadadores, realizaram o mesmo protocolo do es- tudo atual e obtiveram melhora respiratória, assim como no desempenho esportiva contra o relógio para a atividade desportiva. Tuner e outros(9) em ensaio clínico randomizado com portadores de asma, realizou intervenção com o mesmo protoco- lo por 6 semanas e Volianitis e outros(14) por onze semanas. Todos estes três estudos apresentaram ganho significativos na Pimax no grupo interven- ção, mesmo com durações diferentes do treina- mento, o que não foi observado no grupo controle. Nesse estudo observou-se também melhora na independência funcional, todavia não é possível afirmar com exatidão que a TMI foi o único moti- vo deste ganho, visto que os pacientes foram sub- metido a reabilitação física em paralelo. Entretan- to, existe plausibilidade biológica para associação entre os efeitos do TMI e capacidade funcional, já que pacientes descondicionados ativam um refle- xo simpático de vasoconstricção periférica, o qual reduz o fluxo sanguíneo da musculatura periférica e predispõe a fadiga em curto período através do metaboreflexo.(7,8) Durante a intervenção, foram realizadas 459 ses- sões de TMI, sendo que houve uma baixa frequên- cia de eventos adversos. Vale ressaltar que a maior parte dos eventos ocorreram em sessões de ajus- te da carga inspiratória, os quais foram revertidos após retorno para carga anterior, após repouso da musculatura. Ramos e outros.(15) em estudo trans- versal, com 21 pacientes idosos submetidos a um programa de exercício fisico, incluindo TMI, não foi observado eventos adversos clínicos e hemodi- nâmicos, com observação de raras arritmias ventri- culares de baixa complexidade com frequência sem significância estatística. O recondicionamento da musculatura respirató- ria apresenta uma margem muito pequena entre a terapia e a fadiga no paciente crítico após hospi- talização.(2) O resistor de carga linear empregado possui intervalo médio de oito cmH2O entre os ní- veis de resistência, o que pode favorecer a ocorrên- cia de “overtraining” durante o processo de ajuste da resistência. Contudo a excelente adesão e boa tolerância a terapia demonstrado pela pesquisa, sugerem que tal afirmação tem baixa ocorrência na prática clínica com pacientes em processo de deshospitalização. O presente estudo é pioneiro na utilização do TMI inspiratório associado á um programa de rea- bilitação física em pacientes pós - hospitalização prolongada. Tal terapia é de fácil reprodutibilidade, baixo custo e os dados expostos nessa pesquisa sugerem que tal conduta é viável e bem tolerada por esse perfil de pacientes. Por esse motivo, a presente série de casos trás contribuições inéditas na literatura. São limitações do estudo o pequeno tamanho amostral e a seleção de conveniência que limita a extrapolação desses resultados para a população estudada. A ausência da monitorização eletrocardiografia durante as sessões é outra limitação da presente pesquisa. Assim como, a falta de um grupo controle para inferir a magnitude de possível melhora espontânea de pacientes em deshospitalização, mesmo sem o programa de intervenção aqui proposto. Por esse motivo, faz necessário novos estudos randomizados e · Revista Pesquisa em Fisioterapia. 2015 Dez;5(3):237-244 · 244 controlados, com amostras maiores confirmando a tendências aqui levantadas. CONCLUSÃO O treinamento muscular inspiratório utilizando resistor de carga linear associado a reabilitação fí- sica por quatro semanas promoveu um aumento significativo na função respiratória, força muscular periférica e independência funcional em uma série de pacientes em deshospitalização. Tal protocolo tem excelente adesão e parece ser seguro para rea- bilitação de pacientes críticos após hospitalização prolongada. REFERÊNCIAS 1. Herridge MS, Tansey CM, Matté A, Tomlinson G, Diaz-Granados N, Cooper A, et al. Functional disability 5 years after acute respiratory distress syndrome. N Engl J Med. 2011;364:1293-304. DOI: 10.1056/NEJMoa1011802. 2. Martin AD, Davenport PD, Franceshi AC, Harman E. 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