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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DE RIBEIRÃO PRETO - SP
Processo n° 1234
JULIANA FLORES, brasileira, solteira, empresária, portadora da carteira de identidade n° 09877, expedida pelo órgão SSP/SP, inscrita sob o CPF n° 04949484466, com endereço eletrônico juhflo@hotmail.com, residente e domiciliada na Rua Tulipa, n°333, Bairro São João, Campinas- SP, já qualificada, por sua advogada, Ana Figueiredo Barcelos, sob a OAB/SP 6548, com endereço profissional na rua Del Rei, n°53, Campinas- SP, e endereço eletrônico Anafgr@gmail.com, onde deverá ser intimado para dar andamento aos atos processuais, nos autos da AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO, pelo procedimento comum, movida por SUZANA DE SOUZA, vem a este juízo, oferecer/ou apresentar:
CONTESTAÇÃO
Em desfavor de Suzana Marques, brasileira, solteira, gerente de recursos humanos, inscrita no CPF sob o nº 62524433-88, sob endereço eletrônico suzamar@gmail.com, residente e domiciliada na Rua Cambé, n° 2654, Campinas-SP, pelos motivos e fatos que passa a expor.
I – GRATUIDADE DE JUSTIÇA
A PARTE RÉ informa que não possui recursos suficientes para pagar as despesas processuais e os honorários advocatícios.
Como prova do alegado, instrui a presente com a declaração de hipossuficiência (DOC. X) e cópia das três últimas declarações do IRPF (DOC. X).
Por tal razão, pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados pela Constituição Federal, art. 5º, LXXIV, e pelos arts. 98 a 102 do CPC
II – SÍNTESE PROCESSUAL
A PARTE AUTORA doou, no dia 18/03/2012, um bem imóvel situado na Rua Melão 121, Rio Preto/SP, no valor de R$ 50.000,00, ao Orfanato Semente do Amanhã, onde a PARTE RÉ exercia a função de diretora.
A PARTE AUTORA, que desempenhava o cargo de gerente de recursos humanos na empresa XYZ LTDA, a qual a PARTE RÉ era a sócia-majoritária e presidente, alega que tal doação só ocorreu por receio de perda do emprego, devido à coação praticada diariamente pela PARTE RÉ, demandando a anulação do negócio jurídico em questão. 
II - PRELIMINARES 
II.1 - DA COISA JULGADA
Conforme os autos n° 7646353-6468,  verifica-se, pois, que a questão em análise nestes autos já foi objeto de ações anteriores, na qual fora julgado improcedente o pedido, com trânsito em julgado, conforme o art. 337 CPC, na qual expressa:
 
  Art. 337. [...]
  § 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada quando se reproduz ação anteriormente ajuizada.
  § 2o Uma ação é idêntica a outra quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.
  § 3º Há litispendência quando se repete ação que está em curso.
  § 4º Há coisa julgada quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado.
Sobre a coisa julgada, colaciono a seguinte jurisprudência:
  APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. PRETENSÃO DO AUTOR DE SE VER RESSARCIDO POR CONSTRUÇÃO ERIGIDA POR ELE EM IMÓVEL LOCADO JUNTO A TERCEIRO. INDEFERIMENTO DA EXORDIAL PELA OCORRÊNCIA DE COISA JULGADA. RECURSO DO AUTOR. COISA JULGADA EVIDENTE. POSSIBILIDADE DE INDENIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO JÁ DEBATIDA EM DEMANDA ANTERIOR, TRANSITADA EM JULGADO. [...] REDISCUSSÃO DA DECISÃO PRÉVIA QUE DEMANDARIA DESCONSTITUIÇÃO DA COISA JULGADA, NOS CASOS PREVISTOS EM LEI. INOCORRÊNCIA, NO CASO. EXTINÇÃO MANTIDA. LITIGÂNCIA DE MÁ FÉ RECONHECIDA PELA SENTENÇA. MANUTENÇÃO. RECORRENTE QUE SE CALOU SOBRE A EXISTÊNCIA DA DEMANDA ANTERIOR. CARACTERIZAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS VEDADOS PELOS INCISOS II E III DO ARTIGO 80 DO CPC. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC, Apelação Cível n. 0300370-63.2016.8.24.0045, de Palhoça, rel. Des. André Luiz Dacol, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 23-07-2019).
Também:
 DIREITO PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO. AGENTE PENITENCIÁRIO. EDITAL N. 001/SEA-SSP/2006. PLEITO DE NOMEAÇÃO E POSSE NO CARGO PRETENDIDO. MATÉRIA ACOBERTADA PELO MANTO DA COISA JULGADA DIANTE DA DECISÃO TRANSITADA EM JULGADO PROFERIDA EM AÇÃO ANTERIOR, COM AS MESMAS PARTES, CAUSA DE PEDIR E PEDIDOS. EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, COM BASE NO ART. 485, INCISO V, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. SENTENÇA MANTIDA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INEXISTÊNCIA DE CONDENAÇÃO EM PRIMEIRO GRAU. IMPOSIÇÃO DA VERBA RECURSAL DESCABIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Apelação Cível n. 0305956-02.2015.8.24.0018, de Chapecó, rel. Des. Jaime Ramos, 3ª Câmara de Direito Público, j. 18.12.2018 - destaquei).
E ainda:
  APELAÇÃO CÍVEL. INFORTUNÍSTICA. PEDIDO DE AUXÍLIO-ACIDENTE. EXISTÊNCIA DE COISA JULGADA (ART. 337, §§ 1º E 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL). IDENTIDADE DE PARTES, DE PEDIDO E DE CAUSA DE PEDIR QUANTO A AÇÃO ANTERIOR JÁ DECIDIDA. ADEQUADA EXTINÇÃO DO FEITO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO PELA SENTENÇA RECORRIDA, NA FORMA DO ART. 485, INCISOS I, V E VI, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. INFLIÇÃO DE MULTA POR LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO PARA EXPUNGIR TAL MULTA.
 Desse modo, o processo deve ser extinto sem resolução do mérito, com fulcro no art. 354 c/c art. 485, inc. V, ambos do Código de Processo Civil.
II.2 - DA ILEGITIMIDADE PASSIVA
 Impõe o art. 17 do CPC que, para postular em juízo, é necessário que haja por parte do autor interesse e legitimidade.
 A PARTE RÉ é parte ilegítima para a ação intentada pela PARTE AUTORA, com fundamento no art. 337, XI, do CPC, uma vez que o negócio jurídico contestado teve como donatário o Orfanato Semente do Amanhã, e não a PARTE RÉ, motivo pelo qual deve a presente ação ser extinta sem resolução do mérito, nos termos do art. 485, inc. VI, do CPC.
Entende o douto Arruda Alvim que:
"estará legitimado o autor quando for o possível titular do direito pretendido, ao passo que a legitimidade do réu decorre do fato de ser ele a pessoa indicada, em sendo procedente a ação, a suportar os efeitos oriundos da sentença (in Arruda Alvim, Cód.Proc.Civil Comentado, 1ª ed., 1975, v.I, p.319)
Sobre tema destaco a jurisprudência:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. COMPRA E VENDA DE BEM MÓVEL. TRATOR ANTIGO, ALIENADO FIDUCIARIAMENTE, ENTREGUE COMO PARTE DO PAGAMENTO NA COMPRA DE UM NOVO. RÉUS QUE TERIAM SE COMPROMETIDO A ARCAR COM UM DOS FINANCIAMENTOS. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DO FEITO, SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO, POR ILEGITIMIDADE PASSSIVA AD CAUSAM, EM RELAÇÃO A DOIS DOS RÉUS. PARCIAL PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS EM FACE DE UM DOS DEMANDADOS.INSURGÊNCIA DE UM DOS RÉUS.
ADMISSIBILIDADE. APELANTE REVEL. ANÁLISE DAS TESES RECURSAIS QUE SE LIMITA ÀS MATÉRIAS DE ORDEM PÚBLICA. NÃO CONHECIMENTO DOS ARGUMENTOS ALCANÇADOS PELA PRECLUSÃO. (AC n. 2015.086911-8, de São José, rel. Des. Robson Luz Varella, j. 26/1/2016).
Falta, portanto, uma das condições da ação, qual seja: a pertinência subjetiva ou a titularidade do direito material. Assim, deve o autor ser declarado carecedor da ação, extinto o processo sem julgamento de mérito (art. 485, VI, c/c o art. 337, XI, do CPC).
III - PREJUDICIAL DE MERITO 
I - DECADÊNCIA
A ação é plenamente improcedente, uma vez que a direito do autor encontra-se totalmente fulminado pela DECADÊNCIA.
É de quatro anos o prazo decadencial para se postular anulação de negócio jurídico, contado da data da sua realização, no caso de ter sido celebrado com dolo. Inteligência do art. 178, II, do CCB. 
A suposta coação sofrida pela PARTE AUTORA cessou no mês de abril do ano de 2012, sendo certo que a presente ação foi ajuizada somente no dia 20 de janeiro de 2017, o que, certamente, impõe o fato de que a PARTE AUTORA decaiu do direito de ação.
V – MÉRITO
            A alegação da AUTORA é completamente infundada, pois em nenhum momento a PARTE RÉ praticou qualquer tipo de ameaça que viciasse a declaração de vontade necessária para que a PARTE AUTORA realizasse a doação do imóvel ao Orfanato Semente do Amanhã.
            Por professar a mesma religião da PARTE AUTORA, a PARTE RÉ só lhe aconselhava sobre a necessidade de realização de caridades, ou seja, mesmo sendo diretora do orfanato donatário, jamais influiu diretamente na decisão pela celebração do negóciojurídico entre a PARTE AUTORA e a referida instituição beneficente.
            A alegação da PARTE AUTORA de que só celebrou o negócio jurídico devido ao receio de ser demitida pela PARTE RÉ é completamente ilógica! Uma vez que a PARTE AUTORA pediu demissão um mês após a celebração do negócio jurídico, com vistas a aceitação de proposta de emprego de uma empresa concorrente, sendo que tal proposta já havia sido feita em fevereiro de 2012, ou seja, no mês anterior à realização da doação!
            Como pode uma pessoa alegar que realizou um negócio jurídico sob coação com a ameaça de perda do emprego, se essa pessoa já tinha proposta de emprego de outra empresa concorrente? Isso não faz nenhum sentido, e demonstra a total incoerência do pedido da PARTE AUTORA.
            A PARTE RÉ é extremamente religiosa, mas isso nunca influenciou de maneira abusiva nas relações de trabalho para com os empregados da empresa da qual ela é sócia majoritária e presidente. A empresa gerida pela PARTE RÉ tem outros funcionários que adotam religiões diversas, e que jamais doaram qualquer tipo de bem ao Orfanato Semente do Amanhã, o que corrobora o fato de nunca ter havido qualquer coação com a ameaça de perda do emprego a qualquer colaborador da empresa de propriedade da PARTE RÉ.
           
VI - PEDIDO
Diante do exposto, requer a esse juízo:
A – o acolhimento da preliminar de coisa julgada, com a consequente extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do art. 485, inc. V, do CPC;
B – o acolhimento da preliminar de legitimidade ad causam, com a consequente extinção do processo sem resolução do mérito, na forma do art. 485, inc. VI, do CPC;
C – o acolhimento da prejudicial de mérito, com a consequente extinção do processo com resolução do mérito, na forma do art. 487, inc. II, do CPC;
D- no mérito, a improcedência do pedido autoral;
E – a condenação da PARTE AUTORA ao pagamento das despesas processuais e os honorários advocatícios de sucumbência. 
VII – PROVAS
Requer a produção das provas documental, depoimento pessoal, testemunhal e daquelas que se fizerem necessárias no curso da instrução processual.
Pede deferimento
Ribeirão Preto – SP , 20 de Janeiro de 2017
Ana Figueiredo Barcelos
OAB/SP 6548

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