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A biologia da diferenciação do Mel de Melato. Países, Plantas e Insetos. Hamilton Justino Vieira 1 Éverton Blainski 2 Joelma Miszinski3 Emanuela Salum Pereira Pinto 4 1 INTRODUÇÃO Os “méis de melato” são conhecidos e consumidos principalmente nos países europeus. Pela sua distinta composição química, propriedades e menor oferta no mercado, o mel de melato possui preço de comercialização superior aos méis ditos “florais”, (Ohe et al, 2015). Segundo Douglas, (1998) os afídeos hospedam bactérias endossimbiontes em células especializadas que, provavelmente, sintetizam aminoácidos, esteróis e vitaminas não presentes na seiva do floema consumida pelo inseto. São mundialmente conhecidos os méis de melato da França, Alemanha, Grécia, Croácia, Turquia, Nova Zelândia, Eslovênia, República Tcheca, Bulgária, Servia e Eslováquia (IHC,2008) e Suíça, (Bogdanov et al.,2007). As espécies fornecedoras de seiva para elaboração de melato são os pinheiros, citros, vimes, carvalhos, tendo como insetos sugadores da seiva elaborada as cochonilhas, pulgões e cigarrinhas. A exploração dos méis de melato requerem a existência em quantidade significativa de indivíduos da vegetação e de insetos para suprir a demanda de melato pelas abelhas. Além destes méis, plantas e insetos citados neste trabalho, existem outros menos conhecidos que não são explorados. Estes podem, futuramente, por uma dinâmica populacional dos ecossistemas plantas-insetos sugadores de seiva-abelhas e por interesse de apicultores, virem a ser explorados. No Brasil, os méis de melato conhecidos ou em fase de divulgação e comercialização são os méis de melato provenientes da aroeira (Myracrodruon urundeuva) na região do norte de Minas Gerais e no Planalto Sul de Santa Catarina, norte do Rio Grande do Sul e no sul do Paraná. O mel de melato da Bracatinga, Mimosa scabrella, que é produzido bianualmente a partir da secreção da cochonilha Tachardiella sp. é, no momento, o único proveniente da interação leguminosa-cochonilhas-abelhas, citado nas bibliografias. Para este mel será brevemente requerida a Indicação Geográfica - na modalidade Denominação de Origem (DO). Inicialmente a área em estudo era uma pequena região da serra catarinense próxima ao município de Lages, contudo as evidências científicas apontaram para uma grande área da DO abrangendo três estados da Federação.“Mel de melato do Planalto Sul Brasileiro”, contemplando parte dos Estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.. 2 METODOLOGIA O trabalho baseia-se em revisão bibliográfica e o objetivo é reunir informações mundiais e contextualizar o mel de melato da Bracatinga no Planalto Sul Brasileiro, elucidando sua diferenciação. Neste trabalho são apresentados os países, vegetação e insetos que concorrem para a produção dos méis de melato. 1Engenheiro-agrônomo, Dr., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Ciram), e-mail: vieira@epagri.sc.gov.br 2 Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Ciram, e-mail: evertonblainski@epagri.sc.gov.br 3 Analista de sistemas, Epagri/Ciram, e-mail: joelmab@epagri.sc.gov.br 4 Analista de sistemas, Epagri/Ciram, e-mail: manu@epagri.sc.gov.br 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram identificados os locais geográficos com informações de produção do mel de melato (Tabela 1). Alguns locais são menos conhecidos, como Nepal, Brasil e outros. Tabela 1. Relação dos locais, plantas e insetos relacionados à produção de mel de melato Local Geográfico Planta Inseto 1 Brasil – Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul Bracatinga, Mimosa scabrella Bentham Cochonilha, Tachardiella sp. 2 Brasil Norte de Minas Aroeira, Myracrodruon urundeuva Pulgão e cochonilhas 3 França, Vosges Coníferas, Abeto Abies alba Pulgão, Buchneria pectinatae 4 Itália, Alpes Coníferas, Abeto Abies Cephalonica Pulgão gênero Cinara 5 Alemanha, Floresta Negra, Suíça Coníferas Abies alba Pulgão, Cinara pectinatae, Cinara picea 6 Grécia Coníferas, Abeto grego - Abies Cephalonica Pulgão, Physokerames hemicryphus 7 Turquia, região de Marmara Coníferas, Abeto Abies bornmulleriana Pulgão, Physokerames hemicryphus 8 Turquia e Grécia Pinheiro Turco, Pinus brutia e Pinheiro bravo Pinus pinea Cochonilha, Marchalina hellenica 9 Grécia Pinheiro, Pinus brutia e Pinus halepensis Cochonilha, Marchalina hellenica 10 Eslovênia e R. Tcheca Coníferas, Abeto Picea abies Pulgão, Cinara oslala, Cinara piceae e Physokermes hemicryphus 11 Grécia, Bulgária Carvalho, Quercus petraea Pulgão,Tuberculalus annulatus e T. borealis 12 Croácia, Sérvia Carvalho, Quercus petraca Pulgão,Tuberculalus annulatus e T. borealis 13 Eslováquia Coníferas, Pinus nigra Azinheira Quercus ilex 14 Croácia na região do vale Požega Carvalho italiano ou húngaro, Quercus frainetto Sem inseto 15 Itália, França e Eslovênia Citros, mais de 200 tipos de plantas, selvagens, ornamentais e cultivadas. Linden ou Maple Cigarrina, Metcalfa pruinosa (Say), 16 Nova Zelandia, Ilha Sul da Nova Zelândia Nothofagus fusca Red Beech a Nothofagus solanri Black Beech Cochonilha, Ultracoelostoma assimile e Ultracoelostoma brittini 17 Italia Piemonte, Toscana, Úmbria e Piemont. Também encontrado na Lituânia salgueiro Salix sp. Pulgão, Tuberolachnus salignus 18 Italia bosques de citros abandonados Calábria e da Sicília e da Tunísia. espécies de Citrus Rinchota. Figura 1. Relação de plantas que em associação com insetos permitem a elaboração de mel de melato pelas abelhas. Os insetos são os afídeos ou pulgões, as cochonilhas e as cigarrinhas. As cigarrinhas são polifágicos, alimentando-se de uma variedade de plantas hospedeiras, e entre as cultivadas as videiras, citros , damasco , pessegueiros, amoreiras e framboesas. As cochonilhas sugam a seiva de qualquer parte das plantas. Logo depois eclodem dos ovos, tem pernas e saem a procura de um local para alimentar-se. Depois passam para a forma séssil e podem perder as pernas e a locomoção. Os machos não se alimentam e são ativos. Os afídeos têm o corpo mole e permanecem longo tempo imóveis sugando a seiva. Possuem ciclos reprodutivos complexos. Figura 2. Relação de insetos que contribuem para a produção de mel de melato . 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As informações coletadas referem-se aos méis de melato mais conhecidos. Outros países como Portugal, Nepal, Polônia também possuem méis de melato. Alguns destes países os possuem em pequenas quantidades e outros não comercializam significativamente pela pouca demanda pelos consumidores de méis. As espécies vegetais mais observadas são da família Pinaceae família dos pinheiros Bloc et al. (1986), as decidófilas como o carvalho Quercus da família Fagaceae outras menos frequentes são os citros, salgueiros e outros. No Brasil, em Minas Gerais é a aroeira espécies de árvores da família Anacardiaceae e para os estados do Sul do Brasil é a leguminosa Bracatinga Mimosa scabrella da família Fabaceae, também se observa nas plantas de Ingá. Os insetos são os afídeos ou pulgões, superfamília Aphidoidea, as cochonilhas Dactylopiidae e as cigarrinhas da família Flatidae. A produção de mel de melato depende da dinâmica populacional dos organismos envolvidos. Esta dinâmica é extremamente dependente da ação humana meio físico, hospedeiro, Liebig, (1987), e do clima Özkök et al, (2018), Bloc et al. (1986). Este último desempenha importante papel devido suas oscilaçõessazonais, regionais e anuais. Mudanças climáticas podem afetar consideravelmente o equilíbrio destes organismos resultando em transformações significativas na qualidade, quantidade dos méis assim como da área geográfica das indicações geográficas pertinentes. As mudanças climáticas seguramente são uma ameaça ao equilíbrio destes sistemas. A produção do mel de melato passa em sua grande maioria, salvo àqueles produzidos diretamente da exsudação da seiva das plantas, como o carvalho, por três “filtros”. Os vasos condutores de seiva das plantas, o aparelho sugador e sistema digestivo dos insetos sugadores e por último passa pelo papo ou vesícula nectífera das abelhas operárias. Ao final são depositados nos alvéolos dos favos pelas abelhas e mais tarde coletados e comercializados pelos apicultores. A Denominação de Origem (DO) do mel de melato do Planalto do Sul do Brasil desempenhará um importante papel na divulgação, exploração sustentável e proteção dos bracatingais, cochoninhas, abelhas e demais organismos vivos que interagem neste ecossistema. REFERÊNCIAS Bloc A., Montagner H. Étude éco-éthologique de l’exploitation des miellats du Puceron Cinara pecti- natae (Nördl) (Homoptera-Lachnidae) par l’abeille domestique (Apis mellifica L). Thèse, université de Franche-Comté, 171 p. 1986. Bogdanov, S., Bieiri, K. Kilchenmann V., Gallmann P. e Dillier X. Tannenhonig Der beliebte Dunkle aus den Nadel Waeldern. Suiça, Schweitzerische Bienen Zeitung 16-19p. 8/2007. Douglas, A. E. Nutritional intertections in insect-microbial symbioses: Aphids and their symbiotic bactéria Buchnera. Annual Review of Entomology. 43: 17-18p. ISSN 00664170, 1998. Liebig G. Der Massenwechsel der grünen Tannenhoniglaus Cinara Pectinatae in verschieden stark erkrankten Tannenbeständen 1977-1985 Apidologie, 18, 2, 147-162 p.,1987. Özkök, A., Yüksel, D., Sorkun, K. Chemometric Evaluation of the Geographical Origin of Turkish Pine Honey. Food and Health, DOI: 10.3153/FH18027, 4(4), 274-282. 2018. Ohe, von W., Ohe, von K., Janke, M. Honigtauhonig – der etwas andere Sortenhonig. Das Bieneninstitut Celle informiert. (54) 1-6p. 2015 International Honey Commission (IHC), 1st World Honeydew Honey Symposium Tzarevo, Bulgaria 1, ABSTRACTS 1-34p, 2008.
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