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unEsco: os quatro pilarEs 
da “Educação pós-modErna”* 
Lenildes Ribeiro Silva**
RESUMO
Este artigo busca relacionar as discussões sobre a educação explicitadas no 
relatório para a Unesco Educação: um tesouro a descobrir com o discurso da 
pós-modernidade de Lyotard. Apresenta-se a proposta de educação trazida no 
relatório, em destaque, os quatro pilares da educação: aprender a conhecer, 
aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos, tendo como ponto 
de partida a relação entre o processo de globalização e o discurso da pós-mo-
dernidade, e ainda desses com a educação que se desenvolve cada vez mais 
em âmbito mundial. Procura assim interrogar o sentido dos referidos pilares 
e do discurso da educação que neles se fundamenta, suas afinidades com as 
transformações da sociedade atual na ordenação globalizada do capital, palco 
em que se articula o discurso da pós-modernidade. 
Palavras-chave: Unesco. Os quatro pilares da educação. Educação. Globalização. 
Pós-modernidade.
introdução
Embora evidenciado mais especificamente no século XX, o termo 
globalização compreende um processo que se inicia junto ao sistema 
capitalista, quando este buscou consolidar suas conquistas por meio da 
dominação territorial, econômica e cultural, expandindo-se pelo mundo 
não apenas como modo de produção e circulação de mercadorias, mas 
também como idéias e valores, modos de agir e sentir, de cultura. A 
retomada de sua expansão, após a Segunda Guerra Mundial, a Guerra 
* Artigo recebido em 26/06/2008 e aprovado em 13/10/2008.
** Doutoranda em história e filosofia da educação na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) 
– Grupo Paidéia. E-mail: lenildesribeiro@hotmail.com
360 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
Fria e a queda do muro de Berlim, marca o início de um novo processo 
de reprodução ampliada, ainda pautada em parâmetros ocidentais, o que 
Ianni (1997) vem chamar de ocidentalização do mundo. A reorganiza-
ção do mundo desfaz a antiga ordenação soberana dos Estados-nações1 
que agora são constituídos nas relações de interdependência entre as 
nações. 
As mudanças, articulações e relações que se desenvolvem nessa 
nova configuração do mundo territorial e cultural reestruturam também 
o mundo do trabalho. Surgem novas exigências de mercado, requerem-
se novas aptidões, qualificações e competências. São estruturas que se 
movem e se rearticulam mundialmente, formando o que Ianni vem cha-
mar de fábrica global, que denomina “uma transformação quantitativa e 
qualitativa do capitalismo para além das fronteiras, subsumindo formal 
ou realmente todas as outras formas de organização social e técnica do 
trabalho, da produção e reprodução ampliada do capital” (Ianni, 1997, 
p. 17). Na esteira do novo, o espaço escolar e a universidade também se 
reestruturam em outras formas de ensinar e aprender, condizentes com 
os reordenamentos da sociedade mundial, levantando a possibilidade do 
questionamento sobre as mudanças que se articulam também no discurso 
mundializado para a educação. Assim, dentre as discussões propostas para 
a educação mundializada, este trabalho interroga o sentido dos quatro 
pilares da educação, sua relação com a chamada pós-modernidade, evi-
denciando, dessa forma, o sentido da educação que se promulga nesse 
discurso e da sociedade que se legitima. 
globalização E pós-modErnidadE
No trajeto da globalização do capitalismo, a modernização das 
sociedades ancorada nos processos de tecnologização e informatiza-
ção faz com que se reorganizem os sistemas de ensino, redefinindo o 
que se aprende e para que se aprende, pautando-se cada vez mais nas 
exigências atuais, mundiais, afinadas com a técnica e com o trabalho 
modificado. A modernização, conforme expressa Ianni (1997), é um 
processo simultâneo à globalização e inevitável ao desenvolvimento 
do capitalismo, como crescimento, evolução e progresso. Relaciona-se, 
assim, à industrialização, mercantilização, racionalização, tecnificação, 
urbanização, secularização, processos que ultrapassam as barreiras físicas 
e se impõem às nações de maneira articulada aos padrões ocidentais. 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 361
“Simultaneamente, modernizar é inaugurar o novo ou o desconhecido, 
seja proveniente ‘de fora’, seja oriundo de ‘mudanças internas’” (Ianni, 
1997, p. 88). A modernização está “predominantemente determinada 
pela racionalidade do capitalismo, enquanto racionalidade pragmática, 
técnica, automática” (Ianni, 1997, p. 91).
Retratando as novas exigências locais que se articulam mundial-
mente, Schaff (1996) afirma em suas análises a chegada de uma segunda 
revolução industrial. Nela, a evolução da tecnologia fará com que o 
homem seja substituído em seu trabalho, gradativa e inevitavelmente, 
pela robotização. São mudanças que não se limitam ao mundo do em-
prego, mas recaem sobre os indivíduos na sua vida social, na estrutura 
familiar, no planejamento do ócio inevitável, na busca de sentido para a 
vida. “A segunda revolução, que estamos assistindo agora, consiste em 
que as capacidades intelectuais do homem são ampliadas e inclusive 
substituídas por autômatos, que eliminam com êxito crescente o tra-
balho humano na produção e nos serviços” (Shcaff, 1996, p. 22). São 
ampliações, mudanças e substituições que se relacionam em todos os 
setores da vida humana, tanto no trabalho como fora dele. Assim, “todas 
as pessoas pensantes do mundo percebem que nos encontramos diante 
de uma mudança profunda, que não é apenas tecnológica, mas abrange 
todas as esferas da vida social” (Schaff, 1996, p. 15). 
Tais reflexões evidenciam o exposto pelo pensamento de Ianni, 
no qual a produção e reprodução ampliada do capital não significa 
apenas a expansão de um sistema econômico pelo mundo, mas trata-se 
fundamentalmente de um modo de produção que se organiza conforme 
exigências mundiais e padrões ocidentais, articulando dimensões so-
ciais, econômicas e culturais. No contexto de um mundo cada vez mais 
global, emergem questionamentos sobre as concepções de razão, ciência, 
história, indivíduo e sociedade. O mundo se rearticula em novos tempos 
e espaços, abrindo caminho a questões sobre a descontinuidade histórica 
e a chegada de um novo tempo: a chamada pós-modernidade.
Autores que defendem a pós-modernidade questionam a legiti-
midade e a verdade do saber, partindo para a promulgação da ruptura 
histórica em face de novos tempos, novas exigências, em que o moder-
no é apresentado como projeto que não se realizou, sendo, portanto, 
superado pelo pós-moderno. São base para essa nova configuração da 
história e do tempo as mudanças que surgem em meio à modernização 
das sociedades que parecem indicar uma nova era na qual os chamados 
362 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
metarrelatos cedem lugar à presentificação do tempo, exigindo dos indi-
víduos novas capacitações e competências que torne possível o domínio 
técnico da modernização, da informatização, seja no mundo do emprego 
ou fora dele. 
Definindo a pós-modernidade, Lyotard2 (1986) afirma que a con-
dição pós-moderna pauta-se, basicamente, na “incredulidade em relação 
aos metarrelatos” (p. xvi), o que se relaciona com a nova realidade socio-
cultural da sociedade. Nesse sentido, questiona a legitimação do saber 
em virtude de novas exigências pautadas em técnicas e procedimentos, 
evidenciando o saber como uma mercadoria indispensável às nações 
que dele lançariam mão a fim de estabelecer relações de concorrência 
e permanência no jogo de poder. Diferentemente da constituição dos 
Estados-nações no início da modernidade, em que estes se impunham 
por meio da conquista de territórios e da centralização do governo, as 
estratégias de conquistas dos Estados-nações reaparecem hoje baseadas 
na busca eno domínio das informações, na capacidade produtiva que 
circulam como moedas (Lyotard, 1986, p. 7). 
Contrário ao pensamento pós-moderno, Ianni retoma a discussão 
sobre as contradições e os conflitos que se inscrevem no interior da 
sociedade global marcados pela redefinição dos Estados-nações, a dis-
solução da definição de espaço e tempo advindos desde a emergência 
do Iluminismo, a reorganização geográfica do mundo e a reorientação 
da vida em todos seus setores. Conforme explicita Ianni:
Esse é o horizonte em que se reabre a problemática da modernidade. 
Como a globalização abala mais ou menos profundamente os parâme-
tros históricos e geográficos, ou as categorias de tempo e espaço, que 
se haviam elaborado com base no Estado-nação, nas configurações e 
movimentos da sociedade nacional, logo se reabre a problemática da 
continuidade e não-continuidade da modernidade; assim como o debate 
modernidade ou pós-modernidade. Muito do que tem sido a controvérsia 
sobre “pequeno relato e o grande relato”, o “individualismo metodológico 
e o holismo metodológico”, ou “as interpretações micro e macro”, entre 
outros dilemas, têm algo a ver com a ruptura epistemológica provocada 
pela globalização, quando se abalam os quadros sociais e mentais com 
os quais muitos se haviam habituado. (Ianni, 1997, p. 164)
A controvérsia entre modernidade e pós-modernidade é, para Ianni, 
um problema epistemológico e tem no seu germe a indefinição da própria 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 363
concepção de modernidade. Diferente do processo de modernização, a 
modernidade “diz respeito a um modo de ser, agir, pensar e imaginar, ou 
seja, a um estado de espírito, envolvendo dilemas e horizontes filosóficos, 
científicos e artísticos” (Ianni, 1997, p. 90). Nesse sentido, tratar a moder-
nidade (processo referente a um estado de espírito que envolve questões 
científicas, filosóficas e culturais) como modernização (que se relaciona 
ao desenvolvimento, ao crescimento, à idéia de progresso, à renovação 
constante envolvendo a tecnologia, a industrialização, o pragmatismo e 
o evolucionismo) ocorre na concepção da pós-modernidade. De outro 
modo, ao conceber a modernidade como modernização, perdem-se os 
parâmetros filosóficos, históricos e científicos antes constituídos, para 
a constituição de outros múltiplos e novos, tão diversos como são os 
processos, as concepções e as relações intrínsecos à globalização do 
mundo e à modernização do capital. Nessa perspectiva, trata-se não de 
um novo tempo chamado pós-modernidade, mas daquilo que Ianni vem 
denominar de modernidade-mundo, ou seja, o deslocamento das decisões, 
das definições de tempo e espaço, evidenciando-se transformações na 
esfera estrutural e espiritual, sem que esta esteja subsumida naquela, 
correspondendo-lhe direta e instrumentalmente. 
Dentre as diversas características da modernidade-mundo, logo se des-
tacam as novas e surpreendentes formas do tempo e espaço ainda pouco 
conhecidas. Além do localismo, nacionalismo e regionalismo, em geral 
constituídos com base em noções de tempo e espaço acentuadamente 
influenciadas pela historicidade e territorialidade do Estado-nação, o 
globalismo abre outros horizontes de historicidade e territorialidade. 
(Ianni, 1997, p. 166)
Nessa indefinição, o saber é destituído da sua possibilidade crí-
tica, emancipatória, conduzindo o ensino institucionalizado a partir de 
princípios correspondentes à modernização e aos padrões capitalistas 
e ocidentais. Da mesma forma que se relacionam pós-modernidade e 
globalização, a educação, em sua relação com a sociedade e a cultura, 
também se reconfigura em meio a essas tensões e contradições. Traz, 
dessa forma, no seu discurso oficializado, nas políticas e práticas que se 
desenvolvem na esfera pública e particular, traços do discurso pós-mo-
derno, da orientação para a presentificação do tempo, da legitimação dos 
processos e das estruturas que se desenvolvem no interior da sociedade 
capitalista.
364 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
Educação, globalização E o discurso da pós-modErnidadE
O sistema capitalista no seu desenvolvimento se fez como modo de 
produção também de idéias e concepções de mundo. Sua esquematização 
e racionalização se constituem de tal forma que a sociedade – em todos 
seus processos e relações – tende a ser por ele influenciada, realizando-
se, conforme ressalta Ianni (1999), como processo civilizatório. Nesse 
raciocínio, a economia, a ciência, a cultura e, relacionada a estes, a edu-
cação desenvolvem-se segundo os parâmetros do capital que se expande 
invadindo territórios e mentes. A lógica do mundo globalizado se articula 
com a lógica da razão instrumental e, dessa forma, a totalidade social e 
global racionaliza os processos e as estruturas objetivando aquilo ao qual 
se põe a serviço: o capital mundializado. Para Ianni, “esse é o reino da 
razão instrumental, técnica ou subjetiva, permeando progressivamente 
todas as esferas da vida social, em âmbito local, nacional, regional e 
mundial” (Ianni, 1997, p. 81). Nesse cenário, a educação institucionali-
zada se apresenta cada vez mais adaptada às transformações da sociedade 
capitalista fundada no pragmatismo e na razão instrumental. 
Tudo o que diz respeito à educação passa a ser considerado como uma 
esfera altamente lucrativa de aplicação do capital; o que passa a influen-
ciar decisivamente os fins e os meios envolvidos; de tal modo que a 
instituição de ensino, não só a privada como também a pública, passa a 
ser organizada e administrada segundo a lógica da empresa, corporação 
ou conglomerado. (Ianni, 2004, p. 112)
Obedecendo à reestruturação geográfica e governamental do 
mundo em globalização, agências da ONU são mobilizadas no sentido 
de pensar orientações e estratégias para a educação.3 Essas agências 
organizam fóruns4 e aprovam documentos que definem orientações para 
os níveis de ensino. São orientações que se pautam na modernização e 
ressaltam a importância da educação básica para todos e da satisfação 
das necessidades básicas de aprendizagem. Necessidades a que corres-
pondem 
tanto os instrumentos essenciais para a aprendizagem (como a leitura e 
a escrita, a expressão oral, o cálculo, a solução de problemas), quanto os 
conteúdos básicos da aprendizagem (como conhecimentos, habilidades, 
valores e atitudes), necessários para que os seres humanos possam so-
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 365
breviver, desenvolver plenamente suas potencialidades, viver e trabalhar 
com dignidade, participar plenamente do desenvolvimento, melhorar a 
qualidade de vida, tomar decisões fundamentais e continuar aprendendo. 
(DEclaração, 1993)
As incompatibilidades do ensino tradicional, cerrado aos muros 
das escolas, com o nascente desenvolvimento tecnológico, as exigências 
de um novo trabalhador, flexível, atento às mudanças de seu tempo, as 
dificuldades de alcance da educação a todos que dela necessitavam fize-
ram com que o ensino fosse reestruturado. Dessa forma, as atenções de 
todo o mundo se voltam para a educação básica que atenderia a todos, 
utilizando, entre outros meios, a tecnologia que permitia a educação fora 
do espaço escolar. 
O relatório para a Unesco da Comissão Internacional de Educação 
para o século XXI5 é um documento que aponta discussões e orientações 
para a educação na busca do desenvolvimento dos países, a paz e a supe-
ração de problemas gerados num mundo que se desenvolve de maneira 
rápida e a proporções gigantescas. Dentre esses problemas destacam-se a 
pobreza, os conflitos étnicos, raciais e religiosos, a devastação ambiental 
e a tecnologização do trabalho. Evidencia-se aqui o raciocínio de Ianni 
sobre as contradições da produção e reprodução ampliada do capital 
globalizado nos seguintes aspectos:Na essência da racionalidade do capitalismo, como modo de produção 
material e espiritual, como processo civilizatório, encontra-se sua irra-
cionalidade, a sua negatividade, o seu absurdo. Pode-se falar em capital 
e trabalho, pobre e rico, centro e periferia, industrializado e subdesenvol-
vido, dominante e dependente, mas também se pode falar em produção 
e consumo, emprego e desemprego, afluência e pauperismo, integração 
e fragmentação, massificação e solidão. (ianni, 1999, p. 65)
As contradições que emergem na sociedade capitalista tornam atu-
ais as discussões sobre a não-realização dos ideais almejados, prometidos 
e vislumbrados pela razão iluminista. Ressalta-se, nesse sentido, a não 
efetivação da modernidade em seus princípios e em suas promessas de 
autonomia e emancipação, o que coloca em interrogação se a humanidade 
inauguraria ou não um outro momento histórico, o pós-moderno.
Em um artigo que relaciona as discussões sobre a pós-modernida-
de, a globalização e suas implicações no âmbito educacional, Sanfelice 
366 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
compreende que “a educação não está imune às transformações da base 
material da sociedade, hoje em processo de globalização e, ao mesmo 
tempo, não está imune à pós-modernidade cultural que as sinalizam” 
(2003, p. 11). A pós-modernidade traz em sua base essa ordenação do 
mundo que convive com o múltiplo, a rápida circulação de informações, 
o pragmatismo, entre outros, que parecem invalidar as metanarrativas e, 
com elas, a história. Uma das contradições desse discurso evidenciadas 
por Sanfelice é a substituição das metanarrativas por uma outra, produ-
zida pelos avanços do capitalismo e sua vitória na Guerra Fria, ou seja, o 
neoliberalismo que se relaciona com a globalização, a política do Estado 
mínimo, a vida social sendo regida pelas leis de mercado e, relacionada 
a essa, a educação que “torna-se um produto a ser consumido por quem 
demonstrar vontade e competência para adquirí-la, em especial a educa-
ção ministrada nos níveis médio e superior” (SanfElicE, 2003, p. 10). 
Na perspectiva do Banco Mundial, as investidas na escola e sua 
função social se direcionam aos meios, às técnicas, aos métodos e às 
metodologias a fim de atingir o desenvolvimento econômico dos países 
por ele assistidos. A educação para todos e a preocupação com a geração 
de empregos contribuem para promover o bem-estar dos indivíduos e 
se tornam, assim, a principal via para que os países estejam prontos à 
participação no desenvolvimento, no sentido do combate à pobreza, à 
diminuição da desnutrição e aos problemas de saúde em países pobres. 
Nesse sentido, a gerência da vida passa a ser definida pelos padrões esta-
belecidos na esteira da globalização, do neoliberalismo, da modernização 
das sociedades e sua constante preocupação com a contemporaneidade, 
contrapondo-se à história e aos sujeitos desta.
A base material da pós-modernidade é então a globalização econômica 
com todas as implicações que este fenômeno vem significando para as 
sociedades ou sujeitos, como já dito, subjetivamente desprovidos de 
qualquer senso ativo de história. Impõem-se, como se fossem absolutos e 
daqui em diante eternizados, a pós-modernidade, a globalização, a lógica 
de mercado e o neoliberalismo que, apesar das posturas pós-modernas, 
é a sua própria grande narrativa. (SanfElicE, 2003, p. 7)
A tecnificação da educação, a constante preocupação com o de-
sempenho na sociedade pós-industrial e a convocação da educação para 
a adaptação dos indivíduos às mudanças da sociedade atual são aspectos 
enfatizados por Lyotard (1986), quando questiona o saber, sua pertinência 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 367
à atualidade, sua legitimação e validade segundo os padrões estabelecidos 
pela estrutura mundial, técnica e globalizada. Desse modo, ele ressalta que 
os fins funcionais dos sistemas de ensino seriam pautados não mais na 
formação de ideais, o que corresponde à crise das metanarrativas, mas 
nas competências necessárias ao mundo pós-moderno, aos novos Esta-
dos-nações e ao novo capital que os mantém em disputa na concorrência 
globalizada, ou seja, o conhecimento, a informação. Dessa forma, as 
competências do ensino seriam vinculadas à competição mundial e, assim, 
“variam segundo as ‘especialidades’ respectivas que os Estados-nações 
ou as grandes instituições de formação podem vender sobre o mercado 
mundial”. Nesse sentido, o autor ressalta a necessidade da prioridade das 
disciplinas que se relacionam à “formação ‘telemática’ (informáticos, ciber-
néticos, linguistas, matemáticos, lógicos...)” (Lyotard, 1986, p. 88-89).
Essas observações de Lyotard contrariam o pensamento de 
Horkheimer ao denunciar a formalização da razão no advento do Ilu-
minismo e sua desvinculação da religião e da metafísica, aliando-se ao 
método cientificista pautado na probabilidade, na lógica, na ordenação 
de meios a determinados fins. Esta formalização desvinculou a razão 
do questionamento sobre a essência, o universal, o sentido dos fins que 
passam a ser racionais em si mesmos, deixando brechas apenas para a 
configuração dos meios aos fins propostos. Longe do questionamento 
sobre o sentido humano e universal, as investidas pós-modernas legiti-
mam a forma de vida capitalista e neoliberal, como única e verdadeira, à 
qual o indivíduo deve adaptar-se lançando mão dos saberes necessários. 
“O que se questiona é simplesmente a adequação do comportamento 
do interrogado em termos desses padrões geralmente reconhecidos” 
(HorkhEimEr, 2000, p. 19). Desse modo, ao distanciar do universal, as 
investidas pós-modernas legitimam, contraditoriamente, a universalidade 
de um modo de vida particular sobre todos os outros.
Essas relações possuem discussões disformes entre os autores 
que buscam tratar os conflitos, problemas e avanços da sociedade atual. 
Schaff (1995), correspondendo afirmativamente às investidas da socie-
dade informática, elabora um raciocínio em que ressalta estarmos na 
atualidade em uma segunda revolução industrial, ou seja, a revolução 
microeletrônica e a revolução informática. Trata-se da substituição dos 
homens no trabalho cada vez mais por autômatos que trazem à tona a 
preocupação com o desemprego estrutural gerado por essa substituição 
crescente. Embora reconhecendo algumas problemáticas existentes 
368 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
no desenvolvimento da sociedade informática, entre elas, os riscos do 
desemprego, as desigualdades sociais e o individualismo, o autor traz 
também uma visão, conforme analisa Sanfelice (2003), utópica em re-
lação ao futuro. Segundo Schaff, a sociedade informática proporcionará 
aos homens uma vida mais feliz. O isolamento advindo da evolução tec-
nológica será amenizado pelas chamadas famílias ampliadas, possíveis 
pelas aproximações entre os indivíduos. 
A progressiva substituição do homem pelo trabalho automatiza-
do será revertida em uma melhor administração do lazer que trará aos 
homens a possibilidade de se envolverem em atividades que ocupem 
seu ócio e promovam uma vida mais feliz e lúdica, relacionada com 
atividades culturais, religiosas e eruditas. Desse ponto de vista, emer-
gem-se do interior da nova sociedade “uma nova ética do trabalho, uma 
nova qualidade de vida decorrente do prolongamento e do uso diverso 
do tempo livre, uma transformação das relações humanas no interior da 
família” (Schaff, 1995, p. 138). 
Contrariando o raciocínio que reconhece a técnica, a modernização, 
o caminho por excelência para a liberdade, a felicidade, o conhecimento, 
Ianni enfatiza que esse processo, amparado pela ciência e pela tecnologia, 
reduz ainda mais a possibilidade de existência de um pensamento livre e 
de uma consciência verdadeira, promovendo a alienação e o pauperismo.O processo marcado pela racionalização e pelo pragmatismo “promove 
o predomínio do princípio da quantidade, em detrimento do principio da 
qualidade, e realiza a crescente inversão nas relações entre os indivíduos 
e os produtos de suas atividades, produzindo a subordinação do criador 
à criatura” (Ianni, 1997, p. 186). 
Pensar a educação na atualidade exige, essencialmente, pensar a 
sociedade de que ela faz parte e os princípios que regem essa socieda-
de e seus processos educativos. Nesse raciocínio, compreende-se uma 
relação intrínseca entre globalização, o discurso da pós-modernidade e 
suas influências para a educação também pensada conforme a mudança 
das estruturas sociais. Requer, desse modo, pensar a lógica da competi-
tividade, da produtividade e do desempenho que permeiam as atitudes 
educativas e que trazem a possibilidade de interrogações sobre o sentido 
da educação no limite que se impõe ao vincular seus processos, meios 
e finalidade à legitimação da sociedade capitalista em transformação, 
modernização e globalização, e não do pensamento sobre essas mudanças 
e a constituição dos indivíduos que se formam em seu interior. 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 369
os quatro pilarEs da Educação “pós-modErna”
O relatório para a Unesco, da Comissão Internacional sobre Edu-
cação para o século XXI, Educação: um tesouro a descobrir, traz uma 
análise considerável a respeito do desenvolvimento da sociedade atual, 
suas tensões marcadas pelo processo de globalização e modernização, 
como a convivência com a diferença, a necessidade da convivência 
pacífica e, relacionada a todas essas questões, a educação. São expli-
citadas reflexões sobre os rumos da educação na sociedade do século 
XXI, pistas, recomendações, objetivos e metas. Dentre essas reflexões, 
ressalta-se a discussão sobre os quatro pilares da educação (aprender a 
conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos), 
o conceito de educação ao longo de toda a vida e as articulações que 
se desenvolvem entre esses e as exigências da sociedade capitalista, em 
globalização. São pilares que se relacionam ao raciocínio pós-moderno de 
Lyotard para quem o saber “não se entende apenas, é claro, um conjunto 
de enunciados donativos; a ele misturam-se as idéias de saber-fazer, de 
saber-viver, de saber-escutar, etc” (Lyotard, 1986, p. 36). 
A educação ao longo de toda a vida se refere à mudança da 
noção de qualificação, pautada em uma formação única para a noção 
de competência, que se relaciona a uma formação dinâmica, flexível, 
condizente com a ênfase atual no trabalho em equipe, na capacidade de 
iniciativa, na valorização de talentos e aptidões. Essa mudança advém da 
“desmaterialização” do trabalho que exige, além da técnica, a “aptidão 
para as relações interpessoais” (DElors, 2003, p. 95). 
Essa mudança no tempo destinado à educação é discutida por 
Schaff quando apresenta a educação permanente6 como uma realidade 
possível de ser alcançada e destaca, cobrando da Unesco, sua obrigato-
riedade, assim como o é a educação escolar. A preocupação com uma 
formação constante do indivíduo é justificada pela necessidade de que 
ele acompanhe o acelerado ritmo em que as transformações da sociedade 
ocorrem. Seria este um projeto cujo objetivo é o de formar o homo stu-
diosus, relacionado ao homem universal, tido como realização utópica 
em tempos antecedentes, tornando-se hoje uma possibilidade real. Esse 
novo homem é “aquele que está munido de uma instrução completa e em 
condições de mudar de profissão e portanto também de posição no interior 
da organização social do trabalho” (schaff, 1995, p. 125). A educação, 
na análise de Schaff, sofrerá, na segunda revolução industrial, mudanças 
370 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
que se expressam no ensino automatizado, na diversificação da formação 
– conduzindo o trabalhador à liberdade de mudança de profissão – e na 
alteração no tempo de educação institucional que se estende por toda a 
vida. O progresso do conhecimento científico e tecnológico gera opor-
tunidades de ampliação de empregos, tornando necessária a preparação 
do trabalhador para as novas formas de trabalho. 
No “Relatório” (DElors, 1993), entretanto, a concepção de edu-
cação permanente é retomada da sua versão original, segundo as dis-
cussões mundializadas, e ampliada no sentido de ir além das reciclagens 
profissionais, o que compreende a educação ao longo de toda a vida, 
trazendo oportunidade de conhecimento àqueles que já se encontravam 
fora da idade escolar tradicional. Embora não tratando especificamente 
do conceito de educação permanente, ou, nos termos do Relatório, 
educação ao longo de toda a vida, Lyotard compactua dessa idéia ao 
ressaltar a necessidade do ensino romper o tempo de aprendizagem 
institucional tradicional, atendendo a jovens e adultos durante toda a 
sua vida produtiva. 
Fora das universidades, departamentos ou instituições de vocação 
profissional, o saber não é e não será mais transmitido em bloco e de 
uma vez por todas os jovens antes de sua entrada na vida ativa; ele é 
transmitido à la carte a adultos já ativos ou esperando sê-lo, em vista da 
melhoria de sua competência e de sua promoção, mas também em vista 
da aquisição de informações, de linguagens e de jogos de linguagens que 
lhes permitam alargar o horizonte de sua vida profissional e de entrosar 
experiência técnica e ética. (Lyotard, 1986, p. 90)
Qualificação e competências são conceitos que marcam o discurso 
pós-moderno de Lyotard quando os justifica ao afirmar que “a perspec-
tiva de um vasto mercado de competências operacionais está aberta. Os 
detentores desta espécie de saber são e serão objeto de ofertas e mesmo 
motivo de disputa de política de sedução” (Lyotard, 1986, p. 93). Ainda 
no sentido da busca do desempenho, este autor ressalta também o traba-
lho em equipe como mais um atributo para se alcançar os objetivos do 
mercado competitivo, “com efeito, as performances em geral são me-
lhoradas pelo trabalho em equipe, sob condições que as ciências sociais 
tornaram precisas há muito tempo” (p. 95). O trabalho em equipe e as 
relações interpessoais que ocorrem em meio à competição no mundo do 
emprego, entretanto, correspondem ao que Adorno chama de “multidão 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 371
solitária”, ou seja, indivíduos que se unem em coletividades nas quais 
não são desenvolvidos objetivos verdadeiramente comuns, mas atendem 
cada vez mais a objetivos individualizados, à corrida pela sobrevivência 
individual necessária à lógica capitalista. 
Na continuidade da busca do desempenho, da eficiência no jogo 
capitalista, os quatro pilares da educação possibilitam uma reflexão que 
os articula diretamente com a chamada pós-modernidade, ainda que não 
evidentemente demonstrada no relatório. O pilar aprender a conhecer 
se associa ao conhecimento pragmático, vinculado ao preparo do traba-
lhador para a utilização de novos conhecimentos e de novas tecnologias, 
conforme demonstra a afirmação de que, “aprender a conhecer e aprender 
a fazer são, em larga medida, indissociáveis” (DElors, 2003, p. 93). O 
conhecimento é, dessa forma, programado segundo a razão instrumental, 
cuja redução ao método científico e pragmático torna-o apropriado à cons-
tituição administrada da sociedade capitalista. Isso reafirma a denúncia 
de Horkheimer e Adorno (1985) ao conhecimento de que, segundo os 
autores, ao se reduzir ao imediato, ao experimentado segundo moldes 
cientificistas, tornou-se estático, reproduzindo o real existente. Mesmo 
quando o relatório (DElors, 2001) apresenta o aprender a conhecer “como 
um meio e como uma finalidade da vida humana” (p. 90), ele vincula o 
desenvolvimento humano às necessidades básicas de aprendizagem, para 
o alcance de“uma participação ativa na sociedade” e para continuar 
aprendendo. Aliada à educação básica ainda está a preocupação com o 
“ensino das ciências” e com o “espírito empreendedor” (p. 83). 
Imbricado no pilar aprender a conhecer se encontra o aprender 
a fazer, o qual é apresentado, de forma explícita, ligado ao mundo do 
emprego e à formação profissional que se constituem no mundo hoje. 
Dessa forma, e correspondendo à relação meios e fins do mercado de 
trabalho, o conhecimento torna-se mais uma mercadoria a ser vendida 
nas prateleiras das instituições. Desfazem-se assim as pretensões de 
emancipação humana para ajustar-se à relação mercadológica, conforme 
apresenta Lyotard, ao afirmar o seguinte:
Essa relação entre fornecedores e usuários do conhecimento e o próprio 
conhecimento tende e tenderá a assumir a forma que os produtores e os 
consumidores de mercadorias têm com essas últimas, ou seja, a forma 
valor. O saber é e será produzido para ser vendido, e ele é e será consu-
mido para ser valorizado numa nova produção: nos dois casos para ser 
372 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
trocado. Ele deixa de ser para si mesmo seu próprio fim; perde o seu 
“valor de uso”.7 (Lyotard, 1986, p. 5)
O conhecimento torna, assim, de maneira evidente, uma mercado-
ria que se apresenta ao indivíduo como promessas de realização pessoal 
numa sociedade competitiva. Referindo-se à relação mercadológica 
conferida ao saber como mercadoria, Adorno (1995) acusa, baseado em 
observações sobre o ensino alemão, que o professor, num processo que 
se relaciona ao princípio da troca, intrínseco ao modelo capitalista de 
vida, passa a ser um “vendedor de conhecimentos”. Essa realidade não 
se restringe, no entanto, à especificidade de um ou outro Estado, mas se 
amplia em escala mundial, conforme o sistema capitalista avança e se 
impõe sobre fronteiras e culturas. Afirmando essa realidade, entretanto, 
Lyotard ressalta que as instituições de ensino, especialmente as universi-
dades, são chamadas a formar competências, e não ideais. Ele relaciona, 
dessa forma, o saber produzido no interior das academias ao mercado, 
não a questões humanas gerais, as quais se invalidam no jogo do poder 
e da troca mercadológica que perpassa tanto as relações micro, entre 
trabalhadores e empresas, como aquelas que acontecem mundialmente 
entre os Estados-nações.
O saber e a informação, como atributos de disputa política e de po-
der entre os Estados-nações da sociedade da informação, correspondem 
à exigência de que “a educação deve permitir que todos possam recolher, 
selecionar, ordenar, gerir e utilizar as mesmas informações” (DElors, 
2001, p. 21). Isso evidencia a ordenação, a sistematização e a seleção, 
atributos da razão instrumental, ao mesmo tempo em que expressa o 
distanciamento da dúvida e do questionamento. Contraria, assim, o que 
Horkheimer e Adorno afirmam no sentido de que a pretensão do conhe-
cimento, que só se faz possível na sua relação com o social e histórico, 
não consiste no mero perceber, classificar e calcular, mas precisamente 
na negação determinante de cada dado imediato. Ora, ao invés disso 
[...] o factual tem a última palavra, o conhecimento restringe-se à sua 
repetição, o pensamento transforma-se em mera tautologia. (horkhEimEr; 
adorno, 1985, p. 38-39)
O aprisionamento do saber ao método cientificista, criticado por 
Horkheimer e Adorno pela impossibilidade do rompimento com o estado 
do mundo, é enaltecido por Lyotard ao submeter o critério de verdade 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 373
ao critério da comprovação e da eficiência, baseados na realidade da 
sociedade capitalista em seu percurso legitimado. Nesse raciocínio, 
a legitimação do saber pelo poder e desempenho faz-se por meio da 
“boa verificação” e o “bom veredito”. “O poder legitima a ciência e o 
direito por sua eficiência, e esta por aqueles” (Lyotard, 1986, p. 84). 
Deslegitima-se, assim, a busca da essência, do universal, do sentido, 
para o atendimento à lógica formalizada, ou seja, a formalização afasta 
a própria razão da metafísica e, com ela, de todas as questões ideais, 
humanas e universais. A preocupação com princípios, sentido, essência 
foi, nesse trajeto, considerada como obsoleta, no sentido de que “espe-
culação é sinônimo de metafísica, e metafísica é sinônimo de mitologia 
e superstição” (HorkhEimEr, 2000, p. 26). De forma correspondente a 
esse raciocínio, Lyotard, porém, defende que
o critério do desempenho tem “vantagens”. Exclui em princípio a adesão 
a um discurso metafísico, requer o abandono de fábulas, exige espíritos 
claros e vontades frias, coloca o cálculo das interações no lugar da defini-
ção de essências, faz com que os “jogadores assumam a responsabilidade 
não somente dos enunciados que eles propõem, mas também das regras 
às quais eles os submetem para torná-los aceitáveis. Coloca em plena 
luz as funções pragmáticas do saber na medida em que elas pareçam 
se dispor sob o critério de eficiência: pragmáticas da argumentação, da 
administração da prova, da transmissão do conhecido, da aprendizagem 
por imaginação. (Lyotard, 1986, p. 113)
O pilar aprender a ser, pautado no dever de que a escola promova 
o desenvolvimento total da pessoa, segue, da mesma forma, a reflexão 
até aqui desenvolvida com os outros pilares. É a exigência de um mundo 
em transformação, dinâmico, em que “o desenvolvimento dos serviços 
exige, pois, cultivar qualidades humanas que as formações tradicionais 
não transmitem, necessariamente e que correspondem à capacidade de 
estabelecer relações estáveis e eficazes entre as pessoas” (DElors, 2001, 
p. 95). Essa mesma exigência é transportada para a educação institucio-
nalizada, a fim de reestruturar o ensino para a personalização de forma 
que, “todos, sem exceção, façam frutificar os seus talentos e potenciali-
dades criativas, o que implica, por parte de cada um, a capacidade de se 
responsabilizar pela realização do seu projeto pessoal” (DElors, 2001, p. 
16). Nesse sentido, aquilo que parece ser a investida em projetos pessoais 
e a valorização de talentos e aptidões individuais, desvela-se como uma 
374 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
estratégia fundamental ao desenvolvimento das chamadas competências 
imateriais, necessárias à fase atual do capitalismo, o que se evidencia no 
mundo do trabalho. Assim,
Os empregadores substituem, cada vez mais, a exigência de uma quali-
ficação ainda muito ligada, a seu ver, à idéia de competência material, 
pela exigência de uma competência que se apresenta como uma espécie 
de coquetel individual, combinando a qualificação, em sentido estrito, 
adquirida pela formação técnica e profissional, o comportamento social, 
a aptidão para o trabalho em equipe, a capacidade de iniciativa, o gosto 
pelo risco. (DElors, 2001, p. 94)
Unindo as especificidades técnicas do trabalho com relações in-
terpessoais e qualidades individuais, o coquetel individual de que fala 
Delors corresponde à exigência da produção e reprodução ampliada do 
capitalismo em globalização, conforme destaca Sanfelice: “A teoria do 
capital humano, economicista, continua sendo mais adequada para as 
finalidades educacionais propostas, ou seja, sua redução à formação de 
recursos da produção: globalização e qualidade total” (SanfElicE, 2003, 
p. 7). Nesse raciocínio, o desenvolvimento total da pessoa e a promessa 
de autonomia vinculados ao trabalho não se efetivam, antes contribuem 
para a alienação do homem. A possibilidade de elaborar “pensamentos 
autônomos e críticos e para formular seus próprios juízos de valor, de 
modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes circuns-
tâncias da vida” (DElors, 2001, p. 99) não se faz ante a necessidade da 
adaptação cega e de mão única. Isso evidencia o pensamentode Lyo-
tard para quem as investidas no sujeito, como estratégias de eficiência 
e produtividade, têm sua eficácia no sentido de que “os procedimentos 
administrativos farão aos indivíduos ‘querer’ o que é preciso ao sistema 
para ser eficiente” (Lyotard, 1986, p. 113).
O viver juntos, como o quarto pilar da educação, é também 
fundado na concorrência e no sucesso individual. No discurso velado, 
a orientação para a educação institucionalizada se pauta, porém, em 
“viver juntos desenvolvendo a compreensão do outro e a percepção das 
interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir 
conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão 
mútua e da paz” (DElors, 2001, p. 102). Mesmo advertindo a respeito 
dos problemas de um mundo competitivo e desigual, dentre os quais se 
destacam conflitos, miséria, destruição ambiental e violência, o relatório 
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 375
admite a competição como necessária ao processo de desenvolvimento da 
sociedade capitalista e apresenta como uma missão da educação conciliar 
a “tensão entre a indispensável competição e o cuidado com a igualdade 
de oportunidades” (p. 15). 
A necessidade da competição e a igualdade de oportunidades, que 
são contraditórias, contribuem assim para os avanços essenciais tanto no 
mundo do trabalho como nas relações desenvolvidas mundialmente entre 
as nações, ou seja, a cooperação internacional, fundamental para o siste-
ma capitalista em constante expansão. Assim, a ideologia da sociedade 
capitalista e competitiva é racionalizada e apresentada de forma a não 
permitir um raciocínio contrário. Vela-se assim a alienação, bloqueando, 
ao mesmo tempo, as possibilidades de lutas contra ela. 
considEraçõEs finais
No percurso realizado neste trabalho, faz-se possível a compre-
ensão da relação entre o processo de globalização, o discurso da pós-
modernidade e as políticas educacionais que se articulam mundialmente. 
Embora reconhecendo outros pontos do referido relatório que se relacio-
nam com a pós-modernidade, este trabalho priorizou as discussões dos 
quatro pilares da educação e o conceito de educação ao longo de toda 
a vida para conseguir fazer a reflexão proposta, em caráter de artigo. 
No entanto, percebe-se que são relações amplas que ainda precisam ser 
refletidas, concebendo as interfaces entre educação e sociedade.
Ignorar os discursos pós-modernos, invalidá-los, assim como 
legitimá-los, é cair na permanência da situação existente, deixando fluir 
o curso naturalizado do mundo sem a compreensão da possibilidade de 
transformação, o que se faz no reconhecimento da história construída por 
sujeitos. É preciso desvelar, conhecer os processos, as relações nos seus 
discursos e sua pretensa efetivação e, assim, relacionar educação com a 
estrutura social e a construção histórica, das quais não se desvinculam. 
Dessa forma, expõem-se os sentidos velados, as fórmulas ideológicas 
que se articulam nos discursos, trazendo à tona interrogações necessárias 
a uma educação verdadeiramente transformadora e humana. Compre-
ender a sociedade, seus discursos, suas fundamentações é compreender 
os rumos que a educação tem tomado, e dessa forma pensar a possibi-
lidade da experiência, do diferente, em direção a transformação social 
tão vulgarmente pronunciada na atualidade.
376 SILVA, L.R. – Unesco: Os quatro pilares da “educação pós-moderna”
ABSTRACT 
This article sets out to establish a relationship between discussions on education 
mentioned in the report to UNESCO – Education: a treasure to discover – and 
Lyotard’s post-modernity discourse. It presents the proposal for education 
from this report, highlighting the four pillars of education: learning to know, 
learning to do, learning to be and live together, taking as their starting point 
the relationship between the process of globalization and the discourse of post-
modernity and these pillars in the context of an education which has become 
increasingly global. In this way, the meaning of these pillars and the discourse 
of education based on them is questioned as is their affinity to the transformation 
of society in the current global ranking of capital, a stage where the discourse 
of post-modernity is forged.
Key-words: Unesco. Four pillars of education. Education. Globalization. 
Post-modernity.
NOTAS
1. A constituição dos Estados-nações inicia-se com a Revolução Francesa e 
desenvolve-se mais significativamente nos séculos XIX e XX. Ante a ne-
cessidade de a burguesia libertar-se do Antigo Regime, os Estados-nações 
fortes, centralizados, objetivavam, além da busca do progresso, a promoção 
da disseminação dos ideais burgueses e a fidelidade dos cidadãos ao gover-
no. Além dos limites territoriais, a constituição dos Estados-nações requeria 
certa unidade, fidelidade e submissão da população ao governo central, o 
que influenciaria no desenvolvimento dos países. “Na era das revoluções, 
fazia parte ou cedo se tornaria parte do conceito de nação que esta deveria 
ser ‘una e indivisa’, como na fase francesa. Assim considerada, a ‘nação’ era 
o corpo de cidadãos cuja soberania coletiva os constituía como um Estado 
concebido como sua expressão política. Pois, fosse o que fosse uma nação, 
ela sempre incluiria o elemento da cidadania e da escolha ou participação de 
massa” (HobsbaWm, 1990, p. 31).
2. Autor francês (1924-1988) que desde a década de 1950, junto à Escola Fran-
cesa, apresenta a crise da razão e, com ela, o fim da modernidade. Em 1979, 
é publicada a sua obra A condição pós-moderna, na qual o autor trava um 
embate com os autores modernos, tensionando a idéia de verdade do saber 
científico, as metanarrativas desenvolvidas nos séculos XVIII e XIX, contra-
pondo-os às transformações da chamada sociedade pós-industrial, com início 
nos anos 50. Outros autores também tratam do tema, porém, neste trabalho, 
as discussões sobre o discurso da pós-modernidade serão fundamentadas em 
Lyotard.
Inter-Ação: Rev. Fac. Educ. UFG, 33 (2): 359-378, jul./dez. 2008 377
3. Banco Mundial, Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, 
a Ciência e a Cultura), Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), 
Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
4. Na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, em 1990, 
foi aprovado o primeiro documento que tratou da educação básica mundial-
mente, traçando objetivos a serem alcançados durante a chamada Década 
da Educação (1990-2000). Em 2000, a Década da Educação foi avaliada, 
em Dakar, estendendo os prazos estabelecidos para o alcance dos objetivos 
firmados em 1990. 
5. Este relatório foi elaborado pela Comissão Internacional da Educação para 
o Século XXI, em 1993, atendendo a uma solicitação da Conferência Geral 
da Unesco de 1991. As discussões mundializadas sobre a educação referidas 
neste trabalho se fundamentam, especialmente, neste relatório.
6. A necessidade da educação permanente é explicitada no relatório Aprender 
a ser (FaurE, 1972) no sentido de convocar a educação a se atentar para as 
mudanças no trabalho e na sociedade, marcadas pela evolução tecnológica, 
cujas exigências de um novo trabalhador adaptado às transformações do 
seu tempo se faz objetivando o atendimento da educação básica a todos, 
por meio da tecnologia, da educação pelo espaço, possibilitando um ensino 
individualizado e modernizado, prolongando-se o período de aprendizagem 
para a vida toda.
7. A relação entre valor de uso e valor de troca é apresentada por Marx (2002) 
no sentido de que o valor de uso tem a função de satisfazer as necessidades 
humanas e o valor de troca avança para além das características físicas dos 
produtos do trabalho transformados em mercadorias quantificáveis. O valor 
de troca é simbólico, de modo que a mercadoria possa ser permutadapor 
outra de espécie diferente, tornando-se equivalentes. 
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