Baixe o app para aproveitar ainda mais
Leia os materiais offline, sem usar a internet. Além de vários outros recursos!
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL PARTE GERAL E OBRIGAÇÕES Prof. Maitê Damé Lemos DIREITO CIVIL – PARTE GERAL 1. Direito Civil e Constituição Apesar de o Direito Civil ser ramo do direito privado, em razão de ter utilidade particular, deve ser interpretado a luz das normas constitucionais. Os ramos do Direito não podem ser interpretados de forma isolada e estanque. Há, nesse sentido, a chamada constitucionalização do direito privado ou do direito civil. Este processo refere-se a aplicação das normas constitucionais na interpretação do direito privado. Então, se houver a interpretação das leis civis de acordo com a Constituição e os direitos fundamentais haverá a possibilidade da permanente evolução do Direito Civil, adaptando-se, dessa maneira, à evolução da sociedade. No direito brasileiro, este processo ocorreu, especialmente, a partir da Constituição Federal de 1988, quando as normas garantidoras de direitos e garantias fundamentais passaram a ser aplicados e respeitados no âmbito civil. Com isto, o direito civil está, permanentemente sob a tutela constitucional e os direitos fundamentais, que já eram respeitados por parte do Estado, passam a ser, também, no âmbito privado, nas relações entre particulares. Exemplo disto são os direitos fundamentais da igualdade, liberdade, dignidade, devido processo legal, etc. 2. Divisão da Parte Geral O Código Civil divide a parte geral em três partes. A teoria das pessoas, que trabalha com os sujeitos de direitos (pessoas naturais e jurídicas); a teoria dos bens, que se destina a estudar os objetos de direitos; e a teoria dos fatos, que são os eventos que criam, modificam, conservam, transferem ou extinguem direitos (negócios jurídicos, atos jurídicos – lícitos e ilícitos, prescrição e decadência, prova). Existe, portanto, uma lógica de estudo. 1) estudam-se as pessoas; 2) estudam-se os bens, que são os objetos dos direitos; 3) estuda-se os fatos jurídicos, ou seja, o meio pelo qual nascem, modificam-se e extinguem-se os direitos. 3. Pessoas Naturais A função do Direito é regular a sociedade e esta última é formada de pessoas. A todo direito, corresponde um sujeito, que é, então, o titular. É nesse sentido o art. 1.º, CC: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Somente as pessoas podem ser sujeitos de Direito, sejam elas naturais ou jurídicas. Animais e coisas são objetos do Direito, mas não podem ser sujeitos dele. A questão, agora, é saber a partir de quando a pessoa pode ser considerada sujeito de Direito, ou seja, basta que uma pessoa nasça para que seja assim considerada e, dessa forma, adquira personalidade. 3.1. Personalidade/ Aquisição da personalidade jurídica Personalidade jurídica é a “aptidão genérica para titularizar direitos e contrair obrigações, ou, em outras palavras, é o atributo necessário para ser sujeito de direito”1. A 1 GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: parte geral. 18.ed. v.1. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 132. partir do momento em que o sujeito tem personalidade, que ele se torna sujeito de direito, podendo praticar atos e negócios jurídicos. O art. 2.º, CC afirma que a personalidade civil começa com o nascimento com vida, mas traz a ressalva de que a lei protege os direitos do nascituro desde a concepção: Art. 2.º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Dessa maneira, o marco inicial da personalidade é o nascimento com vida. O nascimento ocorre quando a criança é separada do ventre materno, seja por parto natural, seja por cesárea. O importante é que a unidade biológica seja desfeita, de forma que mãe e filho sejam dois corpos, cada um com uma vida biológica e orgânica própria. Mas como saber se houve nascimento com vida? Basta que a criança tenha respirado. Se respirou, viveu, mesmo que tenha morrido em seguida. Neste caso, lavra-se o assento de nascimento e o de óbito (art. 53, § 2.º, LRP). Qual o motivo de toda essa importância dada ao nascimento com vida, a saber se a criança respirou ou não? Traga-se um exemplo para clarificar. Ex.: casal João e Maria, casados pelo regime da separação de bens. João falece e Maria está grávida. Se o filho de Maria e João nascer com vida, respirar, tornar-se-á herdeiro do patrimônio junto com Maria. Assim, se ele falecer em seguida, Maria receberá todo o patrimônio, pois é herdeira do filho. Contudo, se a criança não tiver respirado, o patrimônio de João será transmitido a Maria e aos pais de João. Como é feita a constatação do nascimento com vida? Através de um exame chamado docimasia hidrostática de Galeno, que se baseia no princípio de que se o feto respirou, inflou de ar seus pulmões. Assim, retirando-se os pulmões do feto que veio a falecer, colocando-se em um recipiente com água, se tiver havido respiração, o pulmão flutuará. Caso não tenha havido respiração, o pulmão, não tendo recebido ar, estando com as paredes alveolares unidas, afundará. Atualmente já existem outras formas de verificar a respiração, pois é possível, através de exame microscópio de fragmentos do pulmão verificar se possui bolhas de ar ou não. 3.1.1. Nascituro Nascituro é aquele que está por nascer, ou seja, aquele que está se desenvolvendo no ventre materno, que foi concebido, mas não nasceu ainda. O art. 2.º, CC protege os direitos do nascituro desde sua concepção. Ao nascituro são reconhecidos certos direitos, desde que reconhecida sua personalidade e, posteriormente, sua capacidade. Sendo assim, possui capacidade reduzida. Mas o art. 2.º, CC também protege os direitos do natimorto, ou seja, aquele que não chegou a nascer com vida (não chegou a respirar). Nesse aspecto, o enunciado 1 das Jornadas de Direito Civil prevê que há a proteção do nome, da imagem e da sepultura: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura. 3.2. Capacidade de fato e Capacidade de direito As pessoas naturais possuem dois tipos de capacidade: capacidade de direito e capacidade de fato. Adquirida a personalidade jurídica, toda pessoa passa a ser capaz de direitos e obrigações. Dessa forma, passa a ter a capacidade de direito, ou seja, a aptidão que as pessoas têm, conferida pelo ordenamento jurídico, para serem titulares de uma situação jurídica. Assim, toda pessoa tem capacidade de direito. Contudo, nem todos podem exercer seus direitos pessoalmente, pois pode faltar a consciência para o exercício de atos de natureza privada, em razão de determinadas limitações (orgânicas – idade, p.ex. – ou psicológicas – viciados em tóxicos). Estes detêm apenas a capacidade de direito. Aqueles que puderem atuar pessoalmente no exercício de seus direitos terão, além da capacidade de direito, a capacidade de fato. Assim, aqueles que tiverem as duas capacidades – de fato e de direito – terão a capacidade civil plena. Contudo, capacidade é diferente de legitimidade/legitimação. Muitas vezes, uma pessoa capaz não é legitimada a praticar determinados atos. Ex.: art. 1521, IV, CC – dois irmãos, ainda que capazes, não poderão casar entre si, pois não há legitimação. Se não for respeitado esse impedimento, haverá nulidade do matrimônio. Ex.: art. 1.647, I – atos de alienação, praticados por pessoa casada. Há a necessidade de autorização do cônjuge. Se não for respeitada essa legitimação e a alienação for feita sem a autorização do cônjuge, o negócio será anulável,dentro do prazo de 2 anos, a contar do fim da sociedade conjugal (art. 1.649, CC). 3.3. Incapacidades As pessoas que não possuem a capacidade de fato têm capacidade limitada e são chamadas de incapazes. Não existe incapacidade de direito, já que, conforme o art. 2.º, CC todos que nascem com vida adquirem a capacidade de direito (mas não a de fato). Dessa maneira, as incapacidades são restrições impostas às pessoas, em condições peculiares, que necessitam, em razão dessa condição, de proteção especial. Deve-se destacar que o Estatuto da pessoa com deficiência, lei 13.246/2015, alterou significativamente a teoria das incapacidades. 3.3.1. Pessoas Absolutamente Incapazes Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos. A incapacidade absoluta impede que a pessoa exerça por si só o direito. Dessa forma, o ato só poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente incapaz. O absolutamente incapaz possui direito. Porém, não pode exercê-lo por si próprio. São as pessoas que não tem aptidão para praticarem, sozinhas ou por si próprias, os atos da vida civil. Significa dizer que possuem capacidade de direito, mas não possuem a capacidade de fato ou exercício. Nestes casos, o ato jurídico é praticado por outra pessoa (o representante legal), em nome do incapaz. Trata-se da REPRESENTAÇÃO. Dessa maneira, o ato é praticado pelo incapaz, representado pelo pai ou responsável legal. Ex.: Fulano de tal, menor absolutamente incapaz, representado por seus pais, Beltrano e Beltrana de Tal. A inobservância dessa regra gera a nulidade do ato, nos termos do art. 166, I, CC. Como já mencionado, o Estatuto da pessoa com deficiência alterou a teoria das incapacidades. Atualmente, não há outra hipótese de incapacidade absoluta que não seja em razão da idade (menor de 16 anos). Antes dessa alteração, as pessoas com deficiência eram absolutamente incapazes. Agora, não são. As pessoas com deficiência são, via de regra, plenamente capazes de exercer atos da vida civil. Não há mais, portanto, interdição absoluta. Poderá ocorrer alguma situação de incapacidade relativa (art. 4.º, CC). O art. 6.º do Estatuto da pessoa com deficiência (lei 13.146/2015) determina que a deficiência não afeta a plena capacidade para gestão do plano familiar e existencial do indivíduo: Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas. Além disto, às pessoas com deficiência é permitida a adoção da tomada de decisão apoiada ou o estabelecimento da curatela, conforme art. 84 do Estatuto da pessoa com deficiência. Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas. § 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei. § 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada. § 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível. § 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano. A tomada de decisão apoiada está prevista, também, no art. 1.783-A, CC. Trata-se de um processo pelo qual o deficiente pode escolher duas pessoas idôneas e de sua confiança para auxiliar nas decisões de atos da vida civil. 3.3.2. Pessoas Relativamente Incapazes Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. A incapacidade relativa permite que o incapaz realize o ato, desde que esteja assistido pelo representante legal. Nesses casos, o próprio indivíduo, relativamente incapaz, pratica o ato, sendo assistido pelo representante legal. Trata-se da ASSISTÊNCIA. Maiores de 16 anos e menores de 18 anos. Aqueles indivíduos que estejam entre os 16 e os 18 anos de vida podem praticar atos da vida civil, mas assistidos pelos representantes legais, sob pena de ser anulado o ato. Caso seja praticado o ato, poderá ser anulado (art. 171, I, CC), desde que a ação seja proposta no prazo de 4 anos a contar do momento em que cessar a incapacidade (art. 178, CC). Contudo, existem atos que podem ser praticados pelo relativamente incapaz, mesmo sem a assistência do seu representante legal, como p. ex., ser testemunha (art. 228, I), aceitar mandato (art. 666), fazer testamento (art. 1.860, § único), casar (art. 1.517, CC – necessita de autorização dos genitores). Havendo conflito de interesses entre o pai/representante legal e o relativamente incapaz, o juiz deverá nomear curador especial (art. 1.692, CC). Deve-se observar que o objetivo do Código Civil é estabelecer uma proteção diferenciada para os maiores de 16 e menores de 18 anos. Dessa forma, caso o relativamente incapaz pratique um ato ocultando sua idade, não poderá invocar a idade para eximir-se de obrigação, pois o Código não protege a má- fé. Nesse sentido é a disposição do art. 180, CC: Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior. Se, contudo, não houver malícia por parte do relativamente incapaz, o ato será anulável, nos termos do art. 171, I, CC: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa do agente; Mas essa incapacidade, por se tratar de exceção pessoal, só pode ser arguida pelo próprio incapaz ou pelo representante legal. Nesses termos, o art. 105, CC: Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum. Deve-se observar que esse ato pode ser convalidado: Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro. Ébrios habituais e viciados em tóxicos Aqueles que sejam viciados em álcool ou tóxicos serão considerados relativamente incapazes. Situações de uso de tóxicos ou álcool que seja habitual e reduza a capacidade de discernimento. Os que forem usuários eventuais e que, temporariamente não puderem exprimir sua vontade, serão enquadrados o inciso III, do mesmo dispositivo. Deverá haver um processo de interdição relativa, com a instituição da curatela, analisando se é caso de incapacidade ou não. Neste caso, o processo de interdição e curatela está disposto no CPC/2015, no art. 747 e seguintes. Especificamente,o art. 753, § 2.º, CPC/2015 dispõe que a perícia a ser realizada no processo de interdição, definirá a extensão da mesma, ou seja, para quais atos o interditado estará impedido. Aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir a vontade Aqui enquadram-se todas as pessoas que não possam exprimir sua vontade, seja por situação permanente ou transitória. Nesse quadro estão os surdos-mudos, desde que não tenham recebido educação adequada e permaneçam isolados. Se tiverem recebido educação e puderem, por qualquer forma, exprimir sua vontade, serão capazes. Também se encaixam os portadores de mal de Alzheimer. Em todos os casos, necessária a interdição, conforme já mencionado. Alguns, mais desavisados, podem questionar: e os portadores de síndrome de down, são enquadrados como? Em razão do Estatuto da pessoa com deficiência que, sabiamente, alterou a teoria das incapacidades, estes indivíduos – até por questões de desenvolvimento e estímulo – são, via de regra, plenamente capazes. Eventualmente, pode ser caso de tomada de decisão apoiada ou, então, enquadrados como relativamente incapazes por força do inciso III, do art. 4.º, CC. Contudo, é situação excepcional. A regra é a capacidade plena. Pródigos. Pródigo é aquele que dissipa seu patrimônio desvairadamente, aquele que gasta imoderadamente, colocando seu patrimônio em risco. Contudo, o pródigo só passará a ser considerado relativamente incapaz com a sentença de interdição que lhe qualifique como tal. A justificativa da interdição do pródigo é o fato de que está permanentemente em risco de se submeter a miséria, colocando todo seu patrimônio fora. Sua interdição refere- se tão somente quanto a atos de disposição e oneração do patrimônio. Pode administrar seu patrimônio, mas não poderá praticar atos que venham a desfalca-lo. Os demais atos (votar, ser jurado, testemunha, etc) poderá praticar. Situação dos índios O art. 4.º, no seu § único traz a normatização com relação aos índios, deixando para lei especial a apreciação. O Estatuto do Índio (lei 6.001/73), deixa a responsabilidade, quanto a sua proteção, a cargo da FUNAI (Fundação Nacional do Índio). A Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) considera que o índio que não estiver integrado ficará sob tutela, reputando-se nulos todos os atos praticados por eles sem a devida assistência do órgão responsável (art. 8.º). Contudo, se o índio demonstrar discernimento, aliado à inexistência de prejuízo pelo ato praticado, será considerado plenamente capaz para os atos da vida civil. Sabe-se que os índios estão constantemente sendo integrados na sociedade brasileira, de forma que não há mais justificativa para que sejam considerados incapazes. Assim, os índios somente poderão ser considerados incapazes quando restar comprovado que não são civilizados e que não possuam discernimento sobre os atos a serem praticados. 3.4. Modos de suprimento das incapacidades (representação e assistência) A incapacidade absoluta é suprida através da representação pelos pais ou representantes legais. Se o absolutamente incapaz praticar atos sem a devida representação o ato será nulo. Dessa forma, no caso da representação, é o representante quem pratica o ato, no interesse do incapaz. A representação (legal ou voluntária) está disciplinada nos arts. 115 a 120 do CC. Contudo, deve-se ter em mente que existem dois tipos de representação diferentes: a representação legal e a representação voluntária (aquela que ocorre através de mandato – procuração) – art. 115, CC. A representação voluntária – mandato – será tratada nos negócios jurídicos. O suprimento da incapacidade relativa, por sua vez, se dá pela assistência, ou seja, o relativamente incapaz pratica o ato jurídico em conjunto com o assistente, sob pena de nulidade. 3.5. Cessação da incapacidade A incapacidade cessa quando desaparecem os motivos que a determinam. Quando a causa da incapacidade é a idade, desaparece pela maioridade ou pela emancipação. 3.5.1. Maioridade Nos termos do art. 5.º, CC, a incapacidade cessa aos 18 anos, quando a pessoa passa a estar habilitada para praticar todos os atos da vida civil. A menoridade cessa, dessa forma, no primeiro momento do dia em que o indivíduo perfaz os 18 anos, ou seja, se o nascimento ocorreu em 29 de fevereiro de ano bissexto, completa a maioridade no dia 1.º de março. Ex.: nasceu em 05/10. Completa a maioridade em 05/10. O critério é etário e não há diferença entre o homem e a mulher. Contudo, essa capacidade civil não pode ser confundida com a capacidade eleitoral ou a capacidade para o casamento, previstas em dispositivos especiais, nem mesmo com a maioridade penal. Com a maioridade, os jovens passam a responder civilmente pelos danos causados a terceiros, ficando autorizados a praticar todos os atos da vida civil, sem a necessidade de assistência de seu representante legal. 3.5.2. Emancipação Mas a capacidade plena também pode ser antecipada, em razão da autorização dos representantes legais do menor ou do juiz ou, ainda, pela ocorrência de fato que a lei atribui força para tanto. Trata-se dos casos de emancipação. A emancipação é, portanto, uma forma de aquisição da capacidade civil antes da idade legal. É a antecipação da aquisição da capacidade de fato (exercício da capacidade civil por si próprio). Nos termos do art. 5.º, § único, a incapacidade cessará: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Deve-se observar que se trata de aquisição de capacidade para fins civis. Mas o indivíduo não deixa de ser menor, ou seja, segue sendo aplicado o Estatuto da Criança e do Adolescente. Nesse sentido, o enunciado 530 da Jornada de Direito Civil: A emancipação, por si só, não elide a incidência do Estatuto da Criança e do Adolescente. Sendo assim, mesmo emancipado, não pode retirar carteira de motorista, ou entrar em locais proibidos ou, então, ingerir bebida alcóolica. A emancipação, uma vez realizada, é definitiva, irretratável e irrevogável, salvo por ocorrência de vício de vontade (todos os negócios jurídicos ou atos praticados podem ser anulados em razão de vício de vontade). Neste sentido, o enunciado 397 das Jornadas de Direito Civil: A emancipação por concessão dos pais ou por sentença do juiz está sujeita à desconstituição por vício de vontade. Pela redação do § único do art. 5.º, CC, a emancipação, conforme a causa ou origem, pode ser de três espécies: voluntária, judicial e legal. a) Emancipação voluntária: Ocorre pela concessão dos pais, quando estes, em conjunto (ou, um deles, na falta do outro), concedem, mediante escritura pública, independentemente de homologação judicial, a emancipação para o filho que tenha completado 16 anos. A emancipação é ato irrevogável, de forma que os pais não podem, a posteriori, arrependerem-se de ter emancipado o filho. Contudo, respondem pelos danos causados pelo filho que emanciparam. Deve ser registrada no Cartório do Registro Civil, nos termos do art. 107, § 1.º, Lei 6.015/73. b) Emancipação judicial: A emancipação judicial é aquela concedida pelo juiz, nos casos em que o menor está sob tutela, sendo ouvidoo tutor, se o menor contar com 16 anos completos. Pode ser, também, nos casos em que um dos genitores concordar e o outro não com a emancipação. Deve ser registrada no Cartório do Registro Civil, nos termos do art. 107, § 1.º, Lei 6.015/73. No caso de incapacidade relativa declarada por decisão judicial (aplicável aos ébrios habituais, pródigos, etc.), bem como nos casos de incapacidade superveniente (ou não afastada) pela maioridade, a retomada da capacidade dar-se-á apenas mediante nova decisão judicial. Até tal reconhecimento, será realizada nomeação de responsável (curador, para maiores; tutor, para menores) pela assistência ou representação do incapaz (relativo ou absoluto). c) Emancipação legal: A emancipação legal é aquela que advém da disposição legal. Trata-se dos casos previstos nos incisos II, III, IV e V, CC, ou seja, em razão de casamento, emprego público, constituição de empresa ou colação de grau em curso superior. Dispensa o registro no Cartório de Registro Civil, produzindo efeitos independentemente desse registro. CASAMENTO: O homem e a mulher podem casar a partir dos 16 anos de idade, desde que autorizados pelos pais ou representantes legais, nos termos do art. 1.517, CC. Dessa forma, caso haja o casamento de menor de 18 anos, adquire, este indivíduo, a capacidade civil plena, pois não faria sentido que, após casados, os cônjuges permanecessem sob o poder familiar, já que constituíram um novo núcleo familiar. Também deve-se considerar que há uma situação excepcional em que é permitido o casamento de menores de 16 anos, que é a hipótese do art. 1.520, CC, desde que autorizado judicialmente. Dessa maneira, não se deve desconsiderar que há, uma situação excepcionalíssima de aquisição da maioridade, via emancipação legal, em razão de casamento em caso de gravidez. Nesses casos, mesmo que haja a dissolução do casamento pelo divórcio, o emancipado não retorna a situação anterior de incapacidade civil. No caso de anulação ou nulidade do casamento, caso tenha sido contraído de boa-fé (casamento putativo), persiste a maioridade. Se tiver sido contraído de má-fé, retorna a situação de incapacidade (anulação retroage a data da celebração e é como se o casamento jamais tivesse existido). EXERCÍCIO DE EMPREGO PÚBLICO EFETIVO: Havendo a nomeação de caráter efetivo em cargo ou emprego público efetivo (independentemente se celetista ou estatutário, desde que não seja cargo em comissão), o agente adquire plena capacidade civil, emancipando-se. Contudo, essa disposição está esvaziada de conteúdo, já que é difícil algum cargo ou emprego público efetivo antes dos 18 anos de idade. COLAÇÃO DE GRAU EM CURSO SUPERIOR: Essa hipótese também é bastante rara de ocorrer, pois o próprio período de estudo anterior (1.º e 2.º grau) é extenso. Normalmente, quando o estudante cola grau, já é maior de idade. ESTABELECIMENTO CIVIL OU COMERCIAL, OU EMPREGO QUE O MENOR TENHA ECONOMIA PRÓPRIA: Trata-se, também, de uma hipótese remota, pois é difícil que alguém com 16 anos estabelecer-se comercialmente. QUESTÕES XX EXAME OAB – REAPLICAÇÃO SALVADOR (2016.2) – QUESTÃO 39. Pedro, em dezembro de 2011, aos 16 anos, se formou no ensino médio. Em agosto de 2012, ainda com 16 anos, começou estágio voluntário em uma companhia local. Em janeiro de 2013, já com 17 anos, foi morar com sua namorada. Em julho de 2013, ainda com 17 anos, após ter sido aprovado e nomeado em um concurso público, Pedro entrou em exercício no respectivo emprego público. Tendo por base o disposto no Código Civil, assinale a opção que indica a data em que cessou a incapacidade de Pedro. A) Dezembro de 2011. B) Agosto de 2012. C) Janeiro de 2013. D) Julho de 2013. RESPOSTA: D EXAME 2015.1 – QUESTÃO 37. Os tutores de José consideram que o rapaz, aos 16 anos, tem maturidade e discernimento necessários para praticar os atos da vida civil. Por isso, decidem conferir ao rapaz a sua emancipação. Consultam, para tanto, um advogado, que lhes aconselha corretamente no seguinte sentido: a) José poderá ser emancipado em procedimento judicial, com a oitiva do tutor sobre as condições do tutelado. b) José poderá ser emancipado via instrumento público, sendo desnecessária a homologação judicial. c) José poderá ser emancipado via instrumento público ou particular, sendo necessário procedimento judicial. d) José poderá ser emancipado por instrumento público, com averbação no registro de pessoas naturais. RESPOSTA: A 3.6. Personalidade/Extinção da personalidade/Morte O art. 6.º, CC define que a extinção da personalidade natural se dá com a morte, presumindo-se esta quanto aos ausentes, quando autorizada a abertura da sucessão definitiva. O art. 7.º, CC, por sua vez, estabelece os casos de declaração da morte sem decretação da ausência: Art. 6o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Art. 7o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. A morte divide-se, portanto em (o aprofundamento dessas situações será feito no direito sucessório): 3.1. Registro Civil - Pessoa natural: Registro Civil é o local onde se encontra a história da vida de uma pessoa. É a perpetuação de seus dados pessoais. Trata-se de anotação feita por pessoa autorizada (Registrador Civil) de dados pessoais e fatos jurídicos de maior relevância na vida de alguém. Sua função é dar autenticidade, segurança, eficácia e publicidade a tais dados. O Registro Civil está disciplinado no Código Civil e na Lei dos Registros Públicos. O art. 9.º, CC determina os atos que serão registrados no Registro Público: Art. 9o Serão registrados em registro público: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz; III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa; IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida. Por sua vez, o art. 10, CC trata das averbações em registros públicos: Art. 10. Far-se-á averbação em registro público: I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o restabelecimento da sociedade conjugal; II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação; Averbação é anotação feita à margem do registro para informar sobre alguma alteração ocorrida no estado jurídico do registrado. Nesse sentido, o casamento é registrado e o divórcio, averbado. Todo nascimento deve ser levado a registro no local onde ocorreu o parto ou no lugar da residência dos pais, no prazo de 15 dias ou, no prazo de até 3 meses quando o local do parto ou da residência for distante mais de 30 km da sede do cartório. Art. 50. Todo nascimento que ocorrer no território nacional deverá ser dado a registro, no lugar em que tiver ocorrido o parto ou no lugar da residência dos pais, dentro do prazo de quinze dias, que será ampliado em até três meses para os lugares distantes mais de trinta quilômetros da sede do cartório. § 1º Quando for diverso o lugar da residência dos pais, observar-se-á a ordem contida nos itens 1º e 2º do art. 52. § 2º Os índios, enquantonão integrados, não estão obrigados a inscrição do nascimento. Este poderá ser feito em livro próprio do órgão federal de assistência aos índios. § 3º Os menores de vinte e um (21) anos e maiores de dezoito (18) anos poderão, pessoalmente e isentos de multa, requerer o registro de seu nascimento. § 4° É facultado aos nascidos anteriormente à obrigatoriedade do registro civil requerer, isentos de multa, a inscrição de seu nascimento. § 5º Aos brasileiros nascidos no estrangeiro se aplicará o disposto neste artigo, ressalvadas as prescrições legais relativas aos consulados. O registro de nascimento do indivíduo compete, pela ordem legal (art. 52, LRP): Art. 52. São obrigados a fazer declaração de nascimento: 1o) o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto no § 2o do art. 54; 2º) no caso de falta ou de impedimento de um dos indicados no item 1o, outro indicado, que terá o prazo para declaração prorrogado por 45 (quarenta e cinco) dias; 3º) no impedimento de ambos, o parente mais próximo, sendo maior achando-se presente; 4º) em falta ou impedimento do parente referido no número anterior os administradores de hospitais ou os médicos e parteiras, que tiverem assistido o parto; 5º) pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora da residência da mãe; 6º) finalmente, as pessoas (VETADO) encarregadas da guarda do menor. § 1° Quando o oficial tiver motivo para duvidar da declaração, poderá ir à casa do recém-nascido verificar a sua existência, ou exigir a atestação do médico ou parteira que tiver assistido o parto, ou o testemunho de duas pessoas que não forem os pais e tiverem visto o recém-nascido. § 2º Tratando-se de registro fora do prazo legal o oficial, em caso de dúvida, poderá requerer ao Juiz as providências que forem cabíveis para esclarecimento do fato. Deve-se observar que a Lei nº 13.484, de 2017 prevê, uma alteração no art. 54 da lei dos registros públicos, no que diz respeito ao local da naturalidade do indivíduo, que será o município do nascimento ou o de residência de sua genitora: § 4º A naturalidade poderá ser do Município em que ocorreu o nascimento ou do Município de residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que localizado em território nacional, e a opção caberá ao declarante no ato de registro do nascimento. 3.2. Direitos da personalidade Ao lado dos direitos patrimoniais, existem direitos, não menos importantes, que estão fora do comércio e encontram-se inseridos na personalidade do indivíduo. Os direitos da personalidade, também chamados de liberdades públicas têm proteção especial por parte do Estado. São tutelados tanto pelo Direito Público, como também, pelo Direito Privado. São direitos inerentes e ligados à pessoa humana e a sua dignidade, de forma perpétua e permanente. Dentre estes direitos destacam-se a vida, liberdade, nome, próprio corpo, imagem e honra. O enunciado 274 das Jornadas de Direito Civil prevê que: Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da ponderação. Pode-se dizer que são direitos da personalidade: vida e integridade físico-psíquica, nome da pessoa (natural ou jurídica), imagem (imagem-retrato e imagem-atributo), honra (subjetiva e objetiva) e intimidade. Essa proteção dos direitos da personalidade encontra- se, tanto no Código Civil, como, também, na Constituição Federal de 1988, que prevê, no seu art. 5. º, X: “X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. O Código Civil destinou um capítulo especial para a proteção dos direitos da personalidade – art. 11 a art. 21, CC. Esse rol, contudo, é exemplificativo, conforme dispõe o enunciado 274 das Jornadas de Direito Civil. Esses direitos tratam-se, portanto, de direitos que “têm por objeto os atributos físicos, psíquicos e morais da pessoa em si e em suas projeções sociais” (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, p. 184). 3.2.1. Natureza Quanto a natureza jurídica desses direitos, a maior parte da doutrina entende que, por se tratarem de direitos inatos ao ser humano, cabe ao Estado apenas reconhecê-los e sancioná-los no âmbito do direito positivo, de forma que o indivíduo possa proteger tais direitos contra arbítrios do poder público ou de particulares. No caso do Brasil, esses direitos, além de serem protegidos no âmbito do Direito Civil, também tem uma proteção constitucional, conforme visto (art. 5.º, X, CF), o que lhes confere um status diferenciado – direito subjetivo (possibilidade de exigir respeito) + direito objetivo (vinculação a todos, dever de não infringir). 3.2.2. Titularidade Os direitos da personalidade são próprios dos seres humanos. Contudo, como já discutido, também protege o nascituro que, embora não tenha personalidade jurídica, detém proteção, desde a concepção, dos seus direitos da personalidade (art. 2.º, CC). Não se pode excluir, contudo, as pessoas jurídicas desta proteção, pois, nos termos do art. 52, CC, aplica-se “às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”. Dessa forma, as pessoas jurídicas também têm a faculdade de exigir respeito e proteção quanto à sua imagem (intimidade, vida privada e honra, não é possível em razão das particularidades de tais direitos), podendo ser requerida indenização pela violação a tal direito. Este entendimento consubstancia-se na redação da súmula 227 do STJ, que diz que: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.” Tenham cuidado com o enunciado 268 das Jornadas de Direito Civil, que diz que não pode a pessoa jurídica ser titular de direitos da personalidade. Este enunciado contraria o que determina a súmula 227 do STJ. Esta súmula é que poderá ser cobrada no Exame da OAB, por ser a posição majoritária. 3.2.3. Características Os direitos da personalidade são ligados à pessoa humana, representando seus direitos íntimos e fundamentais. São qualidades que se agregam ao homem e, portanto, intransmissíveis e irrenunciáveis. O art. 11, CC traz algumas das características dos direitos da personalidade: Contudo, existem outras características: • Inato: inerente, pertencente desde o nascimento. • Absolutos: os autores falam que os direitos da personalidade são absolutos, sendo uma forma de materialização da oponibilidade erga omnes. Apesar dessa característica, deve-se ressaltar que os direitos da personalidade podem ser restringidos, dependendo da situação. Os enunciados das Jornadas de Direito Civil dispõe sobre essa possibilidade de relativização ou limitação voluntária dos direitos da personalidade. Enunciado n.º 4: “O exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”. Significa dizer, portanto, que em cada caso concreto deverá ser feito um sopesamento a fim de verificar se é ou não necessária a relativização do direito da personalidade. Ex.: biografias não autorizadas. Podem ser publicadas, embora sem autorização, referente a pessoas públicas. Relativização dos direitos da personalidade em nome a vedação da censura. Enunciado n.º 139: “Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes”.Ex.: proteção da intimidade e vida privada é relativizada quando há uma exposição desse direito. Top less em praia pública – relativização da intimidade. Ex.: art. 15, CC. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Um paciente, a beira da morte, necessita de cirurgia. A intervenção trará alto risco, gerando dúvidas se o médico deve ou não realizar o procedimento. Isso gera uma série de discussões, pois há resoluções do Conselho Federal de Medicina que autorizam o médico a suspender o tratamento de pacientes terminais, de doenças incuráveis quando assim for de sua vontade (ortotanásia). Contudo, decisões judiciais já foram contrárias a essa prática. Há, ainda, o Enunciado 528, das Jornadas de Direito Civil, que autoriza o chamado testamento vital ou biológico, que nada mais é do que uma autorização para a prática da suspensão do tratamento médico: “É válida a declaração de vontade expressa em documento autêntico, também chamado "testamento vital", em que a pessoa estabelece disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade”. De igual modo, há, também a situação de paciente que, em razão de sua crença religiosa, não permita submissão a tratamento médico. No caso de este paciente estar sob risco real e iminente de morte, pode ser dispensada a autorização para a realização de cirurgia. Significa dizer, então que, nestes casos, o médico pode salvar a vida, mesmo sem a autorização do paciente ou familiar. Trata-se de um conflito entre o direito a vida e o direito a liberdade religiosa. Deve-se utilizar a técnica da ponderação, neste caso. Há quem diga que, pela ponderação, deve prevalecer a vida. Outros dirão que a vontade do paciente deve ser respeitada. Neste sentido, o enunciado 403 das Jornadas de Direito Civil: “O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.” • Generalidade: são outorgados a todas as pessoas, pelo simples fato de existirem. • Extrapatrimonialidade: ausência de conteúdo patrimonial direto, ou seja, os direitos, em si, não possuem valor patrimonial, ainda que, havendo lesão, possa haver indenização pecuniária (mas, neste caso, em razão do dano causado). • Indisponibilidade: significa que tais direitos não podem, por vontade do indivíduo, mudar de titular. Abrange tanto a intransmissibilidade (impossibilidade de modificação de titular gratuita ou onerosa, ou seja, não é possível ceder tal direito a outrem), como a inalienabilidade (não podem ser alienados), a inacessibilidade (não podem ser objeto de cessão), e a intransacionabilidade (não podem sofrer transação ou compromisso de arbitragem). É permitida, contudo, a cessão de uso da imagem, por exemplo, (famoso que autoriza a utilização de sua imagem em outdoors). Isso significa que há uma parcela dos direitos da personalidade, que se relaciona a direitos patrimoniais, que pode ser passível de disposição (direitos de imagem, direitos autorais, cessão de partes do corpo para fins científicos ou altruísticos – art. 14, CC). • Irrenunciabilidade: trata-se da impossibilidade voluntária do abandono, de abdicar, de forma que ninguém pode renunciar direitos da personalidade. Exemplo: contrato de namoro. Este contrato é nulo, pois seria uma forma de pessoas que vivem em união estável renunciarem aos direitos dela decorrentes. A união estável envolve direitos existenciais de personalidade. Ademais, é uma espécie de fraude a lei imperativa, o que conduz a nulidade absoluta do documento firmado (art. 166, VI, CC). Outro exemplo seriam os reality shows (Big Brother Brasil), onde o participante renuncia a qualquer direito de buscar indenização por danos morais em decorrência da exibição de sua imagem. Tal contrato também é nulo, pois não é possível a renúncia a direitos da personalidade, a teor dos arts. 11 e 166, VI, CC. Nestes casos é possível, inclusive, que se utilize das medidas previstas no art. 12, CC para fazer cessar a exibição das imagens que violem a moral do participante. • Imprescritibilidade: não se extinguem pelo não uso, de forma que não há prazo para o seu exercício. Salienta-se que esta imprescritibilidade é quanto ao direito em si, não quanto ao exercício do direito de reparação quanto a dano moral pela violação do direito da personalidade (honra, p.ex.). O exercício do direito a reparação de danos se sujeita a prazos prescricionais – 3 anos, no caso, nos termos do art. 206, § 3.º, V, CC. Contudo, existem decisões do STJ que reconhecem a imprescritibilidade do pleito de reparação de danos: “É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de Justiça segundo o qual as ações de indenização por danos morais e materiais decorrentes de atos de violência ocorridos durante o Regime Militar são consideradas imprescritíveis, independentemente dos legitimados ad causam.” “Como é cediço, a prescritibilidade é a regra, só havendo falar em imprescritibilidade em hipóteses excepcionalíssimas, como no tocante às ações referentes ao estado das pessoas. Somente alguns direitos subjetivos, observada sua envergadura e especial proteção, não estão sujeitos a prazos prescricionais, como na hipótese de ações declaratórias de nulidades absolutas, pretensões relativas a direitos da personalidade e ao patrimônio público”. (EDcl no AgRg no REsp 1229068/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 06/10/2015, DJe 16/10/2015) • Impenhorabilidade: em razão de serem inerentes à pessoa e dela inseparáveis, não podem ser penhoráveis, pois a função da penhora é a venda judicial para satisfação de um crédito. Contudo, esta indisponibilidade é quanto ao direito em si (vedação da penhora do direito à imagem), mas não se refere a penhora dos direitos patrimoniais resultantes do exercício deste direito (a cessão de uso da imagem gera um ressarcimento patrimonial e, este, pode ser penhorado). O art. 832, CPC/2015 determina que estão a salvo da execução os bens que a lei considere impenhoráveis ou inalienáveis. Neste caso, enquadram-se os direitos da personalidade. • Vitaliciedade: são adquiridos no momento da concepção e acompanham a pessoa até sua morte, ainda que alguns desses direitos sejam resguardados mesmo após a morte da pessoa (honra, memória, direito de autor, p. ex.). Ex.: não é porque o Chico Anísio faleceu que sua imagem caiu no domínio público. Há o direito de indenização pelo uso indevido da imagem do humorista. Neste sentido, o art. 12 define que a legitimação para requerer a indenização é do cônjuge sobrevivente ou qualquer parente em linha reta (filho, neto, pais, avós) ou colateral até quarto grau (primos). 3.2.4. Classificação Apesar de haver um rol de direitos da personalidade previsto no Código Civil, este rol não é taxativo (enunciado 274, Jornada de Direito Civil). São direitos inatos ao ser humano, qualidades que se agregam ao homem. O texto protege a vida, nome integridade físico-psíquica, honra, imagem, intimidade e produção intelectual. Contudo, não tutela questões de liberdade sexual, por exemplo. A proteção quanto aos direitos da personalidadedivide-se em: a) CORPO – Vida e integridade física (corpo vivo, cadáver, voz). b) MENTE – integridade psíquica e criações intelectuais (liberdade, criações intelectuais, privacidade, segredo). c) ESPÍRITO – integridade moral (honra, imagem, identidade pessoal). 3.2.5. Proteção dos direitos da personalidade A proteção aos direitos da personalidade está prevista tanto na Constituição Federal quanto no Código Civil. Considerando que visa resguardar a dignidade humana através de medidas judiciais, esta proteção pode ser: preventiva ou tutela inibitória; repressiva ou tutela reparatória. PREVENTIVA – objetivando suspender atos que ameacem ofender a integridade do indivíduo REPRESSIVA ou TUTELA REPARATÓRIA – ação indenizatória, que visa uma reparação patrimonial pelo dano causado. A reparação pode ser por DANO MORAL, quando a agressão for contra um direito da personalidade e não houver conteúdo econômico dessa lesão. Poderá ser, também por DANO MATERIAL, quando houver perda ou prejuízo por lesão a bem patrimonial. Esses danos podem ser danos emergentes (o que a pessoa perdeu) e lucros cessantes (o que a pessoa deixou de ganhar). A jurisprudência do STJ vem admitindo a possibilidade cumulação de danos materiais, morais e, ainda, danos estéticos, conforme súmula 387, STJ: “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”. 3.2.6. Direito à vida Sem a vida, não há nenhum outro direito à pessoa jurídica. Esse direito é protegido desde a concepção, de forma que é vedado o aborto. O direito à vida compreende tanto o manter-se vivo, quanto o viver de forma digna. Dessa forma, alimentos transgênicos estão relacionados ao direito à vida, pois violam o direito à saúde (diretamente relacionado com a vida). Aborto: interrupção criminosa da vida em formação. É crime previsto nos arts. 124 a 227, CP. Contudo, há a exclusão do crime em diferentes hipóteses: Aborto terapêutico – não houver outro meio de salvar a vida da Mãe. Art. 128,I, CP Aborto sentimental (ético) – consentido pela gestante, quando a gravidez resultar de estupro. Art. 128,II, CP Aborto de feto anencefálico – feto que, comprovadamente, não possui atividade cerebral – decisão do STF na ADPF 54 (2012). Aborto dentro do primeiro trimestre de gestação – “... 3. Em segundo lugar, é preciso conferir interpretação conforme a Constituição aos próprios arts. 124 a 126 do Código Penal – que tipificam o crime de aborto – para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. A criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade. 4. A criminalização é incompatível com os seguintes direitos fundamentais: os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, que não pode ser obrigada pelo Estado a manter uma gestação indesejada; a autonomia da mulher, que deve conservar o direito de fazer suas escolhas existenciais; a integridade física e psíquica da gestante, que é quem sofre, no seu corpo e no seu psiquismo, os efeitos da gravidez; e a igualdade da mulher, já que homens não engravidam e, portanto, a equiparação plena de gênero depende de se respeitar a vontade da mulher nessa matéria”. (HC 124306, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 09/08/2016, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-052 DIVULG 16-03-2017 PUBLIC 17-03-2017). Fertilização in vitro: nos casos de fertilização in vitro, mesmo havendo o descarte dos embriões que tenham sido fecundados, o STF decidiu, no julgamento da Lei de Biossegurança (ADI 3510), que não há aborto neste caso, pois não houve a gravidez ainda, sendo, portanto, permitida a realização de pesquisa em células tronco embrionárias. Eutanásia: configura eutanásia a suspensão do tratamento ordinário a que está submetido o paciente ou a interrupção da alimentação do paciente, mesmo que por via intravenosa, a fim de provocar a morte por inanição. Também configura a eutanásia a suspensão do auxílio externo para respiração. Com isso, em razão da proteção de uma vida digna, há a discussão sobre a questão do fim da vida através da eutanásia (proibida no Brasil). Ex.: filme “A menina de ouro”. No exemplo do filme, haveria uma vida digna após o acidente? Portanto, mesmo que a eutanásia seja praticada com o consentimento do paciente é contrária ao ordenamento jurídico, por ferir o direito à vida. Ortotanásia = eutanásia passiva – suspensão de medicamentos – morte digna. Distanásia = prorrogar a vida com medicamentos. 3.2.7. Direito ao próprio corpo – integridade física Os arts. 13 a 15, CC tratam do direito ao próprio corpo. Prevê o art. 13 do CC a proteção a integridade física do indivíduo: Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial. Este artigo refere-se a possíveis mutilações a que os indivíduos possam se submeter. Autoriza, contudo a realização de um transplante. Mas a doação só é permitida de partes duplas do corpo (rins) ou regeneráveis (fígado) ou tecidos (medula, pele), desde que não prejudique, nem mutile o doador. O § único do art. 13, CC permite, contudo, a realização de transplantes de partes do corpo humano, conforme disposição em lei especial. A lei que rege os transplantes é a 9.434/97, com as alterações da lei 10.211/01. Referidas leis permitem a retirada de partes do corpo (tecidos, órgãos e partes do corpo vivo), desde que gratuitamente e desde que não representem risco para a sua integridade física e mental. O enunciado 532 das Jornadas de Direito Civil é claro nesse sentido: É permitida a disposição gratuita do próprio corpo com objetivos exclusivamente científicos, nos termos dos arts. 11 e 13 do Código Civil. Pode haver, também, cessão de direitos de uso de material biológico, para fins de pesquisa, nos termos do enunciado 401 das Jornadas de Direito Civil: Não contraria os bons costumes a cessão gratuita de direitos de uso de material biológico para fins de pesquisa científica, desde que a manifestação de vontade tenha sido livre, esclarecida e puder ser revogada a qualquer tempo, conforme as normas éticas que regem a pesquisa científica e o respeito aos direitos fundamentais. Não se enquadra, nesta situação, conforme diversas decisões judiciais, os casos de transexualidade. Muito se discutiu sobre a cirurgia de adequação sexual, se seria mutiladora ou não. Restou pacificado pela jurisprudência que não se trata de mutilação, mas sim de uma adequação da realidade biológica à realidade psicológica, já que o contrário não é possível, eis que o transexual não aceita. O Conselho Federal de Medicina, através de resolução, considera lícita a intervenção cirúrgica. Nesse sentido, o enunciado 276, das Jornadas de Direito Civil: O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil. O corpo é a expressão da individualidade da pessoa, sendo, em razão disso, inalienável, tanto em vida, quanto após a morte. O art. 14, por sua vez, dispõe sobre a disposição post mortem do próprio corpo: Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ouem parte, para depois da morte. Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo. Para tanto, é preciso que seja diagnosticada a morte encefálica. Assim, se o indivíduo pretende ser doador, deverá deixar declaração escrita. Se nada dispuser a respeito, a família deverá anuir expressamente para que seja feita a doação. Nesse sentido, o enunciado 277 das Jornadas de Direito Civil: O art. 14 do Código Civil, ao afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em vida prevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei n. 9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador. Não poderá haver remoção de órgãos de pessoa não identificada. Após a retirada dos órgãos o corpo deve ser recomposto e entregue à família para que realize o sepultamento. É VEDADA A COMERCIALIZAÇÃO DOS ÓRGÃOS DO CORPO HUMANO. Permite-se, apenas, o transplante gratuito. Art. 199, § 4.º, CF: § 4º - A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização. Segundo o art. 15, CC, ninguém pode ser obrigado a submeter-se a tratamento médico ou cirúrgico que importe risco de vida. Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Não significa que tratamentos de risco sejam vedados, mas o indivíduo deve estar ciente, antes de se submeter a tal tratamento, dos riscos dele provenientes. Cabe, portanto, ao médico, informar ao paciente, devendo registrar tal fato por escrito, para evitar responsabilidades futuras. O doente pode, portanto, negar-se a tratamento de risco. Nesse aspecto, o enunciado 403 das Jornadas de Direito Civil prevê: O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele, desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c) oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante. Também o enunciado 533 das Jornadas de Direito Civil dispõe: O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato, salvo as situações de emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não possam ser interrompidos. Caso esteja impossibilitado de decidir, caberá a seu representante legal. A autorização, caso o paciente não tenha condições de fornecê-la deve ser requerida a qualquer parente maior, em linha reta ou colateral até 2.º grau (irmão) ou cônjuge. Se, contudo, não houver tempo hábil para consultar o paciente ou o representante legal, o médico tem o dever de realizar o tratamento (ex. emergência de parada cardíaca). 3.2.8. Direito ao nome A proteção ao nome é prevista nos arts. 16 a 19, CC. O art. 16 prevê: Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. Nome é a designação jurídica pela qual a pessoa é conhecida no mundo. Assim, envolve o sentido completo do termo nome + sobrenome. Esse elemento serve para individualizar a pessoa, tanto durante a vida, quanto durante a morte, passando a integrar a personalidade do indivíduo (tanto que é protegido o nome enquanto direito da personalidade). O nome é um código identificador de cada pessoa. É uma designação pela qual a pessoa identifica-se na família e na sociedade. É uma característica marcante da personalidade, sendo inalienável e imprescritível da individualidade da pessoa. Dessa forma, todo ser humano deve portar um nome. Dessa forma, nome é o nome completo. Ex.: Maitê Damé Teixeira Lemos. Constitui- se de prenome e sobrenome. Ex: Maitê – prenome (nome próprio) Damé Teixeira Lemos – sobrenome, apelido familiar, nome de família (nome). No Brasil, os pais podem escolher livremente o prenome dos filhos, desde que não o exponham ao ridículo. Ex.: FACEBOOKSSON. Nesse sentido, o § único, do art. 55 da Lei dos Registros Públicos dispõe que: Os oficiais do registro civil não registrarão prenomes suscetíveis de expor ao ridículo os seus portadores. Quando os pais não se conformarem com a recusa do oficial, este submeterá por escrito o caso, independente da cobrança de quaisquer emolumentos, à decisão do Juiz competente. O sobrenome (ou nome) é o sinal identificativo da origem da pessoa, de forma a indicar sua filiação. Trata-se de uma característica da família, transmissível por sucessão. É o apelido familiar. O prenome pode ser escolhido. O sobrenome é herdado dos pais. NÃO HÁ UMA ORDEM OBRIGATÓRIA DE APOSIÇÃO DOS SOBRENOMES. Via de regra, em razão dos costumes, se utiliza, primeiro o último sobrenome da Mãe e, depois, o último sobrenome do Pai. Contudo, não há lei que disponha nesse sentido. Dessa maneira, é possível que se faça requerimento ao registrador de forma diferente. Exemplo: Vinicius Damé Teixeira Lemos. Também poderia ser: Vinicius Lemos Damé Teixeira. Nesse sentido, a Lei dos Registros Públicos, assim como a Consolidação Normativa Notarial e Registral determinam que, se não for indicado o sobrenome pelos pais, o registrador lançará o sobrenome do pai e, na sua falta, o da mãe. Contudo, isto não se justifica em razão da igualdade constitucional. ALCUNHA – apelido depreciativo, normalmente relacionado com a característica física ou moral. Ex.: o bandido “Seco”. COGNOME – designação dada a alguém em razão de uma característica especial. Ex.: Tiradentes. EPÍTETO – designação qualificativa. Ex.: Dom Pedro, o Justiceiro. HIPOCORÍSTICO – diminuitivo do nome, usado na intimidade familiar, normalmente. Ex.: João (Joãozinho), Sebastião (Tião), José (Zé ou Zezinho), etc. AGNOME – sinal distintivo de pessoas que, em uma mesma família, possuem o mesmo nome. Trata-se das expressões Júnior, Filho, Neto, Sobrinho, Segundo, etc. Ex.: Roberto Carlos Braga e Roberto Carlos Braga Segundo (filho do cantor). AXIÔNIMO – forma de tratamento, como p. ex., Vossa Santidade, Conde, Comendador, etc., que passam a integrar o nome para todos os efeitos. O nome, enquanto característica pessoal e individual de cada pessoa, via de regra, é imutável. Contudo, é admissível sua alteração em alguns casos, quando houver motivo relevante: erro gráfico, expor o portador ao ridículo. Dessa forma, não é qualquer capricho pessoal que autoriza a modificação do nome. Aquele que completar a maioridade civil (18 anos ou emancipação) poderá, no prazo de 1 ano, alterar, de forma administrativa (art. 56, LRP), seu nome (completo), desde que não prejudique os apelidos de família. Assim, alguém registrado apenas com o sobrenome do Pai poderá incluir o da Mãe, por exemplo. Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa. Depois de passado esse prazo de 1 ano a alteração poderá ser feita mas, neste caso, dependerá de ordem judicial, nos termos do art. 57,LRP. O art. 57 da Lei dos Registros Públicas autoriza a alteração quando houver evidente erro gráfico, a alteração poderá ser feita, nos termos do art. 57, Lei dos Registros Públicos, através do procedimento previsto no art. 110, da mesma Lei: Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. Art. 110. Os erros que não exijam qualquer indagação para a constatação imediata de necessidade de sua correção poderão ser corrigidos de ofício pelo oficial de registro no próprio cartório onde se encontrar o assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, representante legal ou procurador, independentemente de pagamento de selos e taxas, após manifestação conclusiva do Ministério Público. § 1o Recebido o requerimento instruído com os documentos que comprovem o erro, o oficial submetê-lo-á ao órgão do Ministério Público que o despachará em 5 (cinco) dias. § 2o Quando a prova depender de dados existentes no próprio cartório, poderá o oficial certificá-lo nos autos. § 3o Entendendo o órgão do Ministério Público que o pedido exige maior indagação, requererá ao juiz a distribuição dos autos a um dos cartórios da circunscrição, caso em que se processará a retificação, com assistência de advogado, observado o rito sumaríssimo. § 4o Deferido o pedido, o oficial averbará a retificação à margem do registro, mencionando o número do protocolo e a data da sentença e seu trânsito em julgado, quando for o caso. Quando a mudança for necessária em razão de expor seu portador ao ridículo, assim como outras alterações, dependerá de procedimento judicial de retificação de nome, nos termos do art. 109, LRP: Art. 109. Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o Juiz o ordene, ouvido o órgão do Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório. § 1° Se qualquer interessado ou o órgão do Ministério Público impugnar o pedido, o Juiz determinará a produção da prova, dentro do prazo de dez dias e ouvidos, sucessivamente, em três dias, os interessados e o órgão do Ministério Público, decidirá em cinco dias. § 2° Se não houver impugnação ou necessidade de mais provas, o Juiz decidirá no prazo de cinco dias. § 3º Da decisão do Juiz, caberá o recurso de apelação com ambos os efeitos. § 4º Julgado procedente o pedido, o Juiz ordenará que se expeça mandado para que seja lavrado, restaurado e retificado o assentamento, indicando, com precisão, os fatos ou circunstâncias que devam ser retificados, e em que sentido, ou os que devam ser objeto do novo assentamento. § 5º Se houver de ser cumprido em jurisdição diversa, o mandado será remetido, por ofício, ao Juiz sob cuja jurisdição estiver o cartório do Registro Civil e, com o seu "cumpra-se", executar-se-á. § 6º As retificações serão feitas à margem do registro, com as indicações necessárias, ou, quando for o caso, com a trasladação do mandado, que ficará arquivado. Se não houver espaço, far-se-á o transporte do assento, com as remissões à margem do registro original. Esta hipótese serve para os casos de pessoas do sexo masculino registradas com nome feminino. Ex.: Arlete, Salete, etc. Também é possível a alteração do prenome registral pelo prenome de uso. Essa autorização está contida no art. 58 da Lei dos Registros Públicos: Art. 58. O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios. Parágrafo único. A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público. Isto porque, a função da imutabilidade do prenome é pelo fato de que a pessoa é conhecida por aquele signo distintivo. Contudo, se a notoriedade é em razão de outro prenome, este é que passa a ser imutável. Ex.: Pelé = Edson Arantes do Nascimento. A notoriedade do prenome Pelé é muito maior do que Arantes. Neste caso, é possível que, caso ele tenha interesse, faça requerimento para alterar o prenome para “Pelé Arantes do Nascimento” ou “Zezé de Camargo” = Welson David de Camargo. Também há a possibilidade de alteração em razão da situação de transexual operado, quando o registro civil passa a não corresponder com a realidade física, não correspondendo, portanto, a verdade. Nesse sentido, essa alteração tem sido autorizada, tanto do registro do nome, quanto do sexo. Deve-se observar que a ADI 4275, julgada em março de 2018 autorizou a alteração do prenome dos transexuais, independentemente de alteração do sexo e de autorização judicial: ... julgou procedente a ação para dar à lei dos registros interpretação conforme a Constituição Federal e pactos internacionais que tratam dos direitos fundamentais, a fim de reconhecer aos transgêneros que desejarem o direito à alteração de nome e gênero no assento de registro civil, independentemente da cirurgia. Para ela, são desnecessários a autorização judicial e os requisitos propostos. (http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=371085) Também pode haver a mudança do prenome em razão de adoção. Segundo o ECA, no seu art. 47, § 5.º, a sentença que define a adoção poderá autorizar, a requerimento do adotante, a alteração do prenome do adotado. É possível, também, acrescentar os apelidos notórios, sem que prejudique o prenome. Ex.; Lula: Luiz Inácio “Lula” da Silva. Também se pode acrescentar ouro nome para solucionar problemas de homonímia. Ex.: existência de 500 Maria da Silva. É possível que se acrescente Maria “de Fátima” da Silva. O acréscimo de outros nomes (sobrenomes) poderá ocorrer também em casos de casamento (art. 1.565, § 1.º, CC prevê que qualquer dos nubentes poderá assumir o sobrenome do outro). No caso da união estável a inclusão do nome do outro só é autorizada quando um deles tiver impedimento para casar, nos termos do art. 57, § 2.º, CC. Também o reconhecimento de paternidade é motivo para a alteração do nome do indivíduo, a fim de acrescentar o patronímico paterno. Com relação ao registro dos filhos fora do matrimônio, os arts. 59 e 60 da Lei dos Registros Públicos dispõe: Art. 59. Quando se tratar de filho ilegítimo, não será declarado o nome do pai sem que este expressamente o autorize e compareça, por si ou por procurador especial, para, reconhecendo-o, assinar, ou não sabendo ou não podendo, mandar assinar a seu rogo o respectivo assento com duas testemunhas. Art. 60. O registro conterá o nome do pai ou da mãe, ainda que ilegítimos, quando qualquer deles for o declarante. Trata-se de forma de reconhecimento de filiação. A regra é que os filhos havidos durante a relação matrimonial tem a paternidade presumida (art. 1.597, CC). Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificialheteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. Nestes casos, para que haja o registro dos filhos, basta que compareça a mulher portando a certidão de casamento. Neste caso, o filho será registrado como filho do casal. Contudo, se o filho não for advindo de relação matrimonial, dependerá da presença do pai para que faça o registro, quando, então, estará reconhecendo voluntariamente o filho. O nome tem uma importância tanto pública quanto individual. A importância pública do nome se dá em razão de que o Estado tem interesse na identificação correta e precisa dos indivíduos, determinado, assim, que seja procedido seu registro (nos termos da Lei dos Registros Públicos), vedando sua alteração (somente em casos excepcionais é admitida). A importância individual está no direito ao nome, que cada indivíduo tenha direito a portar um signo identificador e, mais do que isto, de exigir o respeito e proteção a este signo identificador, podendo reprimir abuso por parte de terceiros. A proteção ao nome é feita através de ações (dano moral, p.ex.). Através dessas ações podem ser exigidos, por exemplo, que seja divulgado o nome verdadeiro: ex.: sai uma foto publicada no jornal, de dois amigos (João e Carlos). Logo em seguida a descrição: Joãozinho e sua namorada. Cabe, neste caso, uma ação para contestar o nome publicado, exigindo a retificação, a fim de que conste o nome correto. Nesse sentido, os arts. 17 e 18, CC preveem: Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória. Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. Havendo violação ao direito ao nome é cabível a reparação por danos. Ex.: Luciano Huck entrou com processo de indenização por danos contra um empreendimento imobiliário que, para vender maior número de imóveis, veiculou que seria um atrativo o fato de que Huck seria um dos moradores. Nesse sentido, há a súmula 403, STJ que determina que “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais”. Os responsáveis pelo ressarcimento serão tanto o autor da publicação quanto o veículo de divulgação. É o que prevê a súmula 221, STJ: “São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação”. Além disso, também não se pode esquecer que há a utilização dos chamados pseudônimos, ou seja, nomes figurativos ou codinomes, nomes fictícios que servem para identificar o autor do escrito, normalmente artistas. Ex.: Fafá de Belém (Maria de Fátima Palha de Figueiredo); Cazuza (Agenor de Miranda Araújo Neto); Lima Duarte (Ariclenes Venâncio Martins); Xuxa (Maria da Graça Meneguel). Esses pseudônimos, quando usados licitamente, gozam da mesma proteção que se dá ao nome (art. 19, CC): Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome. Assim, o mau uso do pseudônimo de alguém também gera o dever de indenizar. QUESTÕES. EXAME 2013.2 – QUESTÃO 43. João Marcos, renomado escritor, adota, em suas publicações literárias, o pseudônimo Hilton Carrillo, pelo qual é nacionalmente conhecido. Vítor, editor da Revista “Z”, empregou o pseudônimo Hilton Carrillo em vários artigos publicados nesse periódico, de sorte a expô-lo ao ridículo e ao desprezo público. Em face dessas considerações, assinale a afirmativa correta. a) A legislação civil, com o intuito de evitar o anonimato, não protege o pseudônimo e, em razão disso, não há de se cogitar em ofensa a direito da personalidade, no caso em exame. b) A Revista “Z” pode utilizar o referido pseudônimo em uma propaganda comercial, associado a um pequeno trecho da obra do referido escritor sem expô-lo ao ridículo ou ao desprezo público, independente da sua autorização. c) O uso indevido do pseudônimo sujeita quem comete o abuso às sanções legais pertinentes, como interrupção de sua utilização e perdas e danos. d) O pseudônimo da pessoa pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, quando não há intenção difamatória. RESPOSTA: C 3.2.9. Proteção à palavra e à imagem O art. 20, CC faz a previsão da proteção à palavra e à imagem: Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. O enunciado 275 das Jornadas de Direito Civil incluiu o companheiro também como legitimado: O rol dos legitimados de que tratam os arts. 12, parágrafo único, e 20, parágrafo único, do Código Civil também compreende o companheiro. Trata-se da tutela da voz, também protegida pelo art. 5.º, XXVIII, a, CF. Neste caso se enquadra o caso de Galvão Bueno, por exemplo. XXVIII - são assegurados, nos termos da lei: a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas; A pessoa que tiver sua imagem ou voz utilizadas de forma indevida, sem autorização, poderá acionar a justiça para impedir o uso e, ainda, receber indenização pelo uso indevido. Contudo, o STJ julgou a ADIn 4815, que dá ao art. 20, CC interpretação conforme a Constituição. Nesta ação, foi autorizada a publicação das “biografias não autorizadas”, ou seja, a possibilidade de publicação de obras biográficas literárias ou audiovisuais, independentemente do consentimento do biografado. O Presidente do STF a época (Ricardo Lewandowski) afirmou que “não é possível que haja censura ou se exija autorização prévia para a produção e publicação de biografias”, de forma que “a censura prévia está afastada, com plena liberdade de expressão artística, científica, histórica e literária, desde que não se ofendam os direitos constitucionais dos biografados”. Trata-se de uma forma de limitação dos direitos da personalidade, que acaba ocorrendo através da ponderação ou aplicação do princípio da proporcionalidade. Nesse sentido é a redação do enunciado 279 das Jornadas de Direito Civil: Trata-se de uma forma de limitação dos direitos da personalidade, que acaba ocorrendo através da ponderação ou aplicação do princípio da proporcionalidade. a) Proteção à intimidade O art. 5.º, X, da CF prevê: X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; De início, é preciso que se diferencie privacidade e intimidade, pois são diferentes. Contudo, a linha divisória é muito tênue, quase imperceptível. Privacidade ou vida privada = comportamentos e acontecimentos atinentes aos relacionamentos pessoais em geral, relações comerciais e profissionais que o indivíduo não deseja que se espalhem ao conhecimento público. Se refere àquilo que a pessoa deseja excluir do conhecimento pelos outros. É o controle das informações sobre si mesmo. É o direito do indivíduo não ter seus assuntos pessoais e profissionais expostos a terceiros. Intimidade = conversações, episódios
Compartilhar