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1 2ª SEMANA Direito Penal 2ª Fase 2 Índice DIREITO PENAL .................................................................................................................................................... 3 PRÁTICA PROCESSUAL ....................................................................................................................................38 PEÇAS DE LIBERDADE ............................................................................................................................ 38 Direito Penal – 2ª Fase 3 Típica Antijurídica Culpável DIREITO PENAL Teoria do Delito Definição Analítica de Crime O crime é o cerne do Direito Penal e, muitas vezes, é abordado muitas vezes de forma superficial, o que impossibilita um estudo detalhado sobre o tema. Esse resumo tem como objetivo dissecar de acordo com o exame da OAB a teria do delito. Sendo assim, é importante ter em mente que crime é toda ação típica, antijurídica e culpável. Conceito Material de Delito Questiona-se qual é o elemento que aproxima minimamente o homicídio do furto ou da evasão de divisas? São condutas diversamente diversas entre si. Nesse sentido, podemos dizer que crime é tudo aquilo que a lei define como crime. Embora este conceito esvazie o significado quanto ao que é crime ao mesmo tempo revela o elemento político, remetendo esse debate para fora do direito jogando para o parlamento. Crime então seria um fruto político das escolhas incriminadoras do país, isto é, cada país possui o número de delitos que quis ter (Zaffaroni), porém não esgota o conceito até porque existem crimes com núcleo comum (exemplo – homicídio é crime em todos os países). Direito Penal – 2ª Fase 4 Então qual seria o conceito material de crime? Chegamos a conclusão que não há um conceito material que esvazie o sentido do que vem a ser crime, entretanto deixamos claro o seu componente político de que crime seria tudo aquilo que a lei define como crime. SUJEITOS DE CRIME Sujeitos do crime são as pessoas ou entes relacionados à prática e aos efeitos da empreitada criminosa. Dividem-se em sujeito ativo e sujeito passivo. Sujeito Ativo Sujeito ativo é a pessoa que realiza direta ou indiretamente a conduta criminosa, seja isoladamente, seja em concurso. Autor e coautor realizam o crime de forma direta, ao passo que ao partícipe e ao autor mediato faze indiretamente. O sujeito ativo pode receber variadas denominação, dependendo do momento processual e do critério posto em exame, tais como agente (geral), indiciado (no inquérito policial), acusado (com o oferecimento da denúncia ou queixa), réus (após o recebimento da inicial acusatória), sentenciado (com a prolação da sentença), condenado (após o trânsito em julgado da condenação), reeducando (durante a execução penal), egresso (após o cumprimento da pena), criminoso e delinquente (objeto de estudo e das ciências penais, como na criminologia). A regra é a que apenas o ser humano pode ser sujeito ativo de infrações penais, mas também se discute a possibilidade de responsabilidade penal da pessoa jurídica. A pessoa Jurídica pode ser sujeito ativo de crimes? A constituição federal admitiu a responsabilidade penal da pessoa jurídica nos crimes contra a ordem econômica e financeira, contra a econômica popular e contra o meio ambiente, autorizando o legislador ordinário a cominar penas compatíveis com sua natureza, independentemente da responsabilidade individual dos seus dirigentes (Art.173, §5º e 225, §3, CF). O posicionamento do STF é pela admissibilidade da responsabilidade penal da pessoa jurídica em todos os crimes ambientais, dolosos ou culposos: “em crime a envolver pessoa jurídica, a responsabilidade é de quem implementa a gerência, não cabendo exigir a narração, da forma em que teria, nesse mister, praticado o ato”. (HC-MC 91.591/MG, rel. Min. Marco Aurélio, Pleno, j.21.06.2007.) Direito Penal – 2ª Fase 5 Sujeito passivo É o titular do bem jurídico protegido pela lei penal por meio da conduta criminosa. OBJETO: É o bem ou objeto contra o qual se dirige a conduta criminosa. Pode ser jurídico ou material. Objeto jurídico – é o bem jurídico, isto é, o interesse ou valor protegido pela lei penal. Objeto material – é a pessoa ou a coisa que suporta a conduta criminosa. Há crime sem objeto? Depende. Depende do quê? Depende de qual objeto. Não há crime sem objeto jurídico, uma vez que todo e qualquer delito, sem exceção, viola um interesse protegido pela lei penal. Deveras, recordando o seu conceito penal, crime é a ação ou omissão humana que lesa ou expõe a perigo de lesão de bens jurídicos legalmente protegidos. E, se não há bem jurídico tutelado pela lei penal, não há crime. É possível, entretanto, a existência de crime sem objeto material, como se verifica nos crimes de mera conduta. Exemplo: ato obsceno, tipificado, pelo artigo 233 do código penal. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES ❖ Crimes comum ou gerais: São aqueles que podem ser praticados por qualquer pessoa. O tipo penal, não exige, em relação ao sujeito ativo, nenhuma condição especial. Exemplos: homicídio, furto, extorsão mediante sequestro, crimes contra a honra, etc. ❖ Crimes próprios ou especiais: São aqueles em que o tipo penal exige uma situação fática ou jurídica diferenciada por parte do sujeito ativo. Exemplos: peculato (só pode ser praticados por funcionário público) e receptação qualificada pelo exercício de atividade comercial ou industrial, delito previsto no artigo.180, §1º, do código penal (somente pode ser praticado pelo comerciante ou industrial). Admitem coautoria e participação. ❖ Crimes materiais: São aqueles em que o tipo penal aloja em seu interior uma conduta e um resultado naturalístico, sendo a ocorrência deste último necessária para a consumação. É o caso do homicídio (Art.121, CP). A conduta é “matar alguém”, e o resultado naturalístico ocorre com o falecimento da vítima, operando-se com ele a consumação. ❖ Crimes formais:São aqueles nos quais o tipo penal em seu bojo uma conduta e uma resultado naturalístico, mas este último é desnecessário para a consumação. Em síntese, Direito Penal – 2ª Fase 6 malgrado possa se produzir o resultado naturalístico, o crime estará consumado com a mera prática da conduta. ❖ Crimes de mera conduta:São aqueles em que o tipo penal se limita a descrever uma conduta, ou seja, não contém resultado naturalístico, razão pela qual ele jamais poderá ser verificado. É o caso do ato obsceno (Art.233, CP). ❖ Crime instantâneos: São aqueles cuja consumação se verifica em um momento determinado, sem continuidade no tempo. É o caso do furto (Art.155, CP). ❖ Crimes permanentes: São aqueles cuja consumação se prolonga no tempo, por vontade do agente. O ordenamento jurídico é agredido reiteradamente, razão pela qual a prisão em flagrante é cabível a qualquer momento, enquanto perdurar a situação de ilicitude. ❖ Crimes instantâneos de efeitos permanentes: São aqueles cujos efeito subsistem após a consumação, independentemente da vontade do agente, tal como ocorre na bigamia (Art.5,§3º, CP). ❖ Crime de dano:São aqueles cuja consumação somente se produz com a efetiva lesão do bem jurídico. Como exemplo podem ser lembrados os crimes de homicídio (art.121, CP), lesões corporais (Art.129, CP) e dano (art.163, CP). ❖ Crime de perigo: São aquelesque se consumam com a mera exposição do bem jurídico penalmente tutela a uma situação de perigo, ou seja, basta a probabilidade de dano. Se dividem em: o Crime de perigo abstrato: consuma-se com a prática da conduta, automaticamente. Não se exige a comprovação da produção da situação de perigo. Ao contrário, há presunção absoluta de que determinadas condutas acarretam perigo a bens jurídicos. É o caso do tráfico de drogas (Art.33, Lei 11.343/06). Esses crimes estão em sintonia com a constituição federal, mas devem ser instituídos pelo legislador com a parcimônia, evitando-se a desnecessária inflação legislativa. o Crime de perigo concreto: consumam-se com a efetiva comprovação, no caso concreto, da ocorrência da situação de perigo. É o caso do crime de perigo para a vida ou saúde de outrem (Art.132, CP). Crimes comissivos, omissivos e de conduta mista ❖ Crimes comissivos ou de ação: São os praticados mediante uma conduta positiva, um fazer, tal como se dá no roubo (Art.157, CP). ❖ Crimes omissivos ou de omissão: São os cometidos por meio de uma conduta negativam de uma inação, de um não fazer. Subdividem-se: o Crimes omissivos próprios: A omissão está contida no tipo penal, ou seja, a descrição da conduta prevê a realização do crime por meio Direito Penal – 2ª Fase 7 de uma conduta negativa. Não previsão legal do dever de agir, de forma que o crime pode ser praticado por qualquer pessoa que se encontre na posição indicada pelo tipo penal. Nesses casos, o omitente não responde pelo resultado naturalístico eventualmente produzido, mas somente pela sua omissão. Exemplo. Art.135, CP (omissão de socorro). o Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão: O tipo penal aloja em sua descrição uma ação, uma conduta positiva, mas a omissão do agente, que descumpre seu dever jurídico de agir, acarreta a produção do resultado naturalístico e a sua consequente responsabilização penal. Os tipos comissivos por omissão, também são chamados de omissivos impróprios, não apresentam um verbo omissivo, mas comissivo, o sujeito apenas encontrou um modo omissivo de realizar, logo o verbo é comissivo e o meio é omissivo. Matar é um verbo comissivo, o meio omissivo seria deixar de fazer a cirurgia na pessoa. Ao passo que os tipos omissivos próprios já nascem omissivos, bem como o verbo, não dá para realizar de maneira comissiva. Atenção: O garante é quem tem o dever de agir para efeitos dos tipos comissivos por omissão. § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; a) Tenho o dever por lei de proteção e cuidado. b) De outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;Exemplo: babá, cuidador de idoso,etc. c) Com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado; aqui se cria um risco, a interpretação que se dá a essa linha não abrange formas omissivas. Ex: Empregador, dono de uma fábrica de lã, tinha o dever de mandar supervisionar as pessoas. OBS: quando alguém se coloca na posição de garante, por ter incentivado o outro a praticar determinada ação se torna responsável pelas consequências, já que fomentou a conduta. Assim, ele não pode ignorar quando houver necessidade de socorro, tem o dever de agir para evitar o resultado. FATO TÍPICO CRIME Ação Nexo Causal Tipicidade Antijuridicidade Culpabilidade Direito Penal – 2ª Fase 8 Fato típico é um fato humano, que se enquadra com perfeição aos elementos descritos pelo tipo penal. A conduta de subtrair dolosamente, para si, coisa alheia móvel, caracteriza o crime de furto, uma vez que se amolda ao modelo delineado pelo art.155, caput do código penal. Em sentido contrário, fato atípico é a conduta que não se enquadra correspondência em nenhum tipo penal, por exemplo, ação do pai consciente em manter relação sexual consentida com sua filha maior de idade plenamente capaz é atípica, pois o incesto, ainda que imoral, não é crime. Conduta – ação humana Para que ter um delito a primeira coisa que tem que ter é ação humana. O que viria a ser ação humana? a) Causal Para a teoria casualista a ação é a modificação no mundo exterior perceptível pelos sentidos e produzida por uma manifestação de vontade, isto é, por uma ação ou omissão voluntária. Atenção: Só é ação o que muda o mundo o que é perceptível pelos sentidos. Alteração: Essa definição de ação era uma primeira tentativa válida, mas bastante problemática – Fisicamente perceptível pelos sentidos. Somente o que altera o mundo (perceptível) Perceptível:Tem que ser perceptível pelos sentidos. Vontade: Vontade aqui é simplesmente uma ação desimpedida uma ação não forçada, ou não instintiva. É muito menos do que uma atividade dirigida a uma finalidade; ex: sonambulismo, estado de inconsciência é um caso bem raro de vontade (ato reflexos, sonambulismo, coração irresistível são excluídos). b) Final O agir humano só merece o nome de ação quando ela é dirigida a uma finalidade sob o crivo da razão. Aqui então, excluem-se atos irrelevantes jurídicos (ação de inimputável), atos reflexos, coação moral irresistível. c)Social Ação é o que a sociedade percebe decorrente de uma vontade livre – Teoria que desloca para o livre arbítrio no corpo social (funcionalista). d) Significativa Busca do significado da ação a partir do que aquela ação comunica com o corpo social. Mais importante do que agir final, movimento corpóreo, é o que sujeito esta comunicando com aquela ação humana. A ação só existe na interação, portanto só e ação cognitiva aquela Direito Penal – 2ª Fase 9 Causas Excludentes da ação Estado de Inconsciência Coação Física irresistível Atos Reflexos Caso Fortuito ou Força Maior ação comunicada na sociedade. Crítica: Não há uma resposta pronta, cada conflito terá uma história. e) Funcionalista Ação é a manifestação da personalidade (definição sintética) – Roxin. OBS: A ação finalista é o modelo adotado no Brasil. Causas excludentes da ação São três as causas excludentes da ação: Estado de Inconsciência, Coação Física irresistível, Atos Reflexos, Caso fortuito ou força maior. Estado de Inconsciência Não há conduta, por falta de vontade nos comportamentos em completo estado de inconsciência. Exemplo: Alguém age sob o efeito de hipnose. Coação física e coação moral irresistível Também chamada de vis absoluta, ocorre quando o coagido não tem liberdade para agir. Não lhe resta nenhuma outra opção, a não ser praticar um ato em conformidade com a vontade do coator. Imagine a situação em que um homem muito forte obriga fisicamente outra pessoa, bastante franzina, a apertar o gatilho de um revolver municiado na direção de seu desafeto. Em suma, pressiona o dedo do coagido contra o gatilho. A vítima é atingida e morre. O coagido serviu como instrumento do crime. Não agiu de forma voluntária, excluindo-se sua conduta. Nesse caso, não se pode falar, em hipótese algumas, em concurso de agentes, por falta do elemento subjetivo (convergência de vontades) exigível para tanto. Por outro lado, na coação moral irresistível, ou vis compulsiva, o coagido pode escolher o caminho a ser seguido: obedecer ou não a ordem do coator. Com a sua vontade existe, Direito Penal – 2ª Fase 10 porém de forma viciada, exclui-se a culpabilidade, em face da inexigibilidade de conduta diversa. Em suma, enquanto a coação física irresistível exclui a conduta e, portanto,o fato típico, a coação moral irresistível funciona como causa de excludente de culpabilidade, em face de inexigibilidade de conduta diversa. Atos reflexos Consistem em reação motora ou secretora em consequência de uma excitação dos sentidos. O movimento corpóreo não se deve ao elemento volitivo, mas sim ao fisiológico. Ausente a vontade, estará também a conduta. É o caso do ortopedista que bate o martelinho contra o joelho do paciente. Se, em razão do reflexo, seu chute atingir o médico, não se poderá falar em lesões corporais ou na contravenção de vias de fato. Não houve penalmente, mas resposta fisiológica à provocação médica. Caso fortuito ou força maior São os acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que fogem do domínio da vontade do ser humano. E, se não há vontade, não há dolo nem culpa. Consequentemente, como dolo e culpa integram a conduta, não se configura esse elemento do fato típico. Em que pese a ampla divergência doutrinária, pode-se entender o caso fortuito como o acontecimento imprevisível e inevitável provocado pelo homem (ex.: greve de ônibus), e por força maior o evento, com iguais predicados, mas decorrente da natureza (ex.: inundação provocada por uma tempestade). Resultado Resultado é a consequência provocada pela conduta do agente. Em direito penal, o resultado pode ser jurídico ou naturalístico. Resultado jurídico: é a lesão ou exposição a perigo de lesão do bem jurídico protegido pela lei penal. É, simplesmente, a violação da lei penal, mediante a agressão do valor ou interesse por ela tutelado. Resultado naturalístico: é a modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente. Direito Penal – 2ª Fase 11 Relação de Causalidade ou Nexo Causal: Emprega-se, comumente, a expressão “nexo causal” para preferir-se à ligação entre a conduta e o resultado. O artigo 13 do código penal, todavia, preferiu falar em “relação de causalidade”. Essa, portanto, é a denominação legal. Conceito:Relação de causalidade é o vínculo formado entre a conduta praticada por seu autor e o resultado por ele produzido. É por meio dela que se conclui se o resultado foi ou não provocado pela conduta, autorizando, se presente a tipicidade, a configuração do fato típico. Atenção!Existe crime sem resultado? Depende, não há crime sem resultado jurídico, pois todo delito agride bens jurídicos protegidos pelo direito penal. Recorda-se do conceito material de crime, segundo o qual não há crime a ação ou omissão humana não lesa ou expõe a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Entretanto, é possível um crime sem resultado naturalístico. O resultado naturalístico estará presente somente nos crimes materiais consumados. Se tentado o crime, ainda que material, não haverá resultado naturalístico. Nos crimes formais, ainda que possível sua ocorrência, é dispensável o resultado naturalístico. E, finalmente, nos crimes de mera conduta ou de simples atividade jamais se produzirá tal espécie de resultado. Em síntese, todo crime tem resultado jurídico, embora não se possa apresentar igual afirmativa em relação ao resultado naturalístico. Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Superveniência de causa independente § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou. Relevância da omissão § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. Direito Penal – 2ª Fase 12 Teorias Destacam-se três teorias na busca de definir a relação de causalidade: a) Teoria Equivalência dos antecedentes:para essa teoria, causa é todo fato humano sem o qual o resultado não teria ocorrido, quando ocorreu e como ocorreu. b) Teoria da causalidade: A causa está sujeita a uma regra denominada “conditio sinequa non”, que diz que se eliminarmos hipoteticamente um fator e o resultado deixar de acontecer, aquilo é causa. Porém, se elimino o fator e o resultado continuar ocorrendo, aquilo não é causa. Essa definição de causa nos remete ao causalíssimo, e apesar de criar um critério objetivo para defini-la, gera inúmeros problemas. É uma regra ampla, que leva a infinitas causas para um mesmo fato, além de não distinguir causas principais de causas remotas, diretas ou indiretas, importante de desimportantes. c) Teoria da imputação objetiva:Para Luís Greco, a imputação objetiva enuncia o conjunto de pressupostos genéricos que fazem da causação uma causação objetivamente típica; e estes pressupostos são a criação de um risco juridicamente desaprovado e a realização deste risco no resultado. Assim, de acordo com a teoria, não basta a relação de causalidade para a imputação do resultado, devendo estar presentes: ➢ Houve incremento de risco não permitido? A pergunta não é de quem causa, mas a quem se irá atribuir aquele resultado. Os funcionalistas diziam que o critério não poderia ser apenas o nexo de causalidade, o critério deve ser normativo. Vincula-se o critério normativo, portanto, a proibição ou a não permissão do risco. ➢ Houve Concretização do risco no Resultado? Pode ser que exista, em um determinado caso, um aumento de risco não permitido, mas que não seja ele que leve ao resultado. Exemplo: dois motoristas dirigindo em alta velocidade na avenida, para desviar do primeiro em alta velocidade a vítima seja atingida pelo segundo também em alta velocidade. O risco se concretizou no resultado pelo segundo motorista em alta velocidade. ➢ Houve auto-colocação da vítima em risco? Exclui-se da atribuição a hipótese em que a vítima se coloca em risco. Ou seja, quando a vítima sabe que existe o risco e mesmo assim, conscientemente, se coloca sob este. Exemplo: Duas pessoas participam de uma Ceita e A visa realizar um rito com B que adere a isso. Em face do exposto, pode-se concluir que a proposta dos defensores da teoria da imputação objetiva é a inclusão de novas elementares no tipo objetivo, criando-se o conceito de causalidade normativa, em oposição à causalidade natural na teoria finalista. Direito Penal – 2ª Fase 13 A inclusão de tais elementos visa resolver, no âmbito do fato típico, certos casos que para as demais teorias seriam solucionados em outros aspectos, como a ilicitude e a culpabilidade. Rogério Greco faz uma compilação de conclusões acercada teoria em análise, que podem ser aproveitadas no presente estudo: A imputação objetiva é uma análise que antecede à imputação subjetiva; A imputação objetiva pode dizer respeito ao resultado ou ao comportamento do agente; a) A expressão mais apropriada seria teoria da não-imputação, uma vez que a teoria visa, com as suas vertentes, evitar a imputação objetiva (do resultado ou do comportamento), do tipo penal de alguém; b) A teoria foi criada, inicialmente, para se contrapor aos dogmas da teoria da equivalência, erigindo uma relação de causalidade jurídica ou normativa, ao lado daquela outra de natureza material; c) Uma vez concluída pela não-imputação objetiva,afasta-se o fato típico. Concausas Concausa é a convergência de uma causa externa à vontade do autor da conduta, influindo na produção do resultado naturalístico por ele desejado e posicionando-se paralelamente ao seu comportamento, comissivo ou omissivo. Direito Penal – 2ª Fase 14 Concausas absolutamente independentes Independente de serem concomitantes, supervenientes ou pré-existentes todas elas têm um resultado comum, interrompem o nexo causal, assim entendido como aquele que está sendo analisado como causa. São aquelas que não se originam da conduta do agente, isto é, são absolutamente desvinculadas da sua ação ou omissão ilícita. E, por serem independentes, produzem por si só o resultado naturalístico. Constituem a chamada “causalidade antecipadora”, pois rompem o nexo causal. Dividem-se ➢ Prexistentes: É aquela que existe anteriormente à prática da conduta. O resultado naturalístico teria ocorrido da mesa forma, mesmo sem o comportamento ilícito do agente. Exemplo: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B”, atingindo-o em regiões vitais. O exame necroscópico, todavia, conclui ter sido a morte provocada pelo envenenamento anterior efetuado por “C”. Direito Penal – 2ª Fase 15 ➢ Concomitante: É aquela que incide simultaneamente a prática da conduta. Surge no mesmo instante em que o agente realiza seu comportamento criminoso. Exemplo: “A” efetua disparos de arma de fogo contra “B” no momento em que o teto da casa deste último desaba sobre sua cabeça. ➢ Superveniente: É a que se concretiza posteriormente à conduta praticada pelo agente. Exemplo: “A” subministra dose letal de veneno a “B”, mas antes que se produzisse o efeito almejado, surge “C”, antigo desafeto de “A”, que nele efetua inúmeros disparos de arma de fogo por todo o corpo, matando-o. Concausas Relativamente Independentes Originam-se da própria conduta efetuada pelo agente. Daí serem relativas, pois não existiriam sem a atuação criminosa. Como, entretanto, tais causas são independentes, tem idoneidades para produzir, por si sós, o resultado, já que não se situam no normal trâmite do desenvolvimento casual. Classificam-se em preexistentes, concomitantes e supervenientes: ➢ Preexistentes: Existe previamente à prática da conduta do agente. Antes de seu agir ela já estava presente. Exemplo: “A”, com ânimo homicida, efetua disparos de arma de fogo contra “B”, atingindo-a de raspão. Os ferimentos, contudo, são agravados pela diabete da vítima, que vem a falecer. ➢ Concomitante: É a que ocorre simultaneamente à prática da conduta. Exemplo: “A” aponta uma arma de fogo contra “B”, o qual, assustado, core em direção a movimentada via pública. No momento em que é alvejado pelos disparos, é atropelado por um caminhão, morrendo. ➢ Supervenientes: Em face da regra prevista no artigo 13,§1º do código penal, a causas supervenientes relativamente independentes podem ser divididas em dois grupos: (1) as que produzem por si sós o resultado, (2) as que não produzem por si só o resultado. (1) As que produzem por si só o resultado: É a situação tratada pelo artigo 13º,§1º, CP – “a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou” A expressão por si só revela autonomia de causa superveniente que, embora relativa, não se encontra no mesmo curso do desenvolvimento causal da conduta praticada pelo autor. Em outras palavras, depois do rompimento da relação de causalidade, a concausa manifesta a sua verdadeira eficácia, produzindo o resultado por sua própria força, ou seja, invoca para si a tarefa de concretizar o resultado naturalístico. Exemplo: Pessoa atingida por disparos de arma de fogo que, internada em um hospital, falece não em razão dos ferimentos, mas sim queimada por um incêndio que destrói toda área dos enfermos; Direito Penal – 2ª Fase 16 (2) As que não produzem por si só o resultado: O agente responde pelo resultado naturalístico, pois suprimindo-se mentalmente a sua conduta, o resultado não teria ocorrido como e quando ocorreu. Exemplo: “A”, com a intenção de mantar, efetua disparos de arma de fogo contra “B”. Por má pontaria, atinge-o em uma das pernas, não oferecendo risco de vida. Contudo, “B” é conduzido a um hospital e, por imperícia médica, vem a morrer. Relevância da omissão A omissão penalmente relevante encontra-se disciplinada pelo artigo 13, §2º, do código penal: “A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. O dispositivo é aplicável somente aos crimes omissivos impróprios, espúrios ou comissivos por comissão, isto é, aqueles em que o tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que podia e devia agir para impedir o resultado naturalístico, conduz à sua produção. São crimes materiais, como é o caso do homicídio, cometido em regra por ação, mas é possível também de ser praticado por inação, desde que o agente ostende o poder e o dever de agir. Tipicidade Conceito: Tipicidade é o juízo de subsunção entre a conduta praticada pelo agente no mundo real e o modelo descrito pelo tipo penal (“adequação ao catálogo”). É a operação pela qual se analisa se o fato praticado pelo agente encontra correspondência em uma conduta prevista em lei como crime ou contravenção penal. A conduta de matar alguém tem amparo no artigo 121 do Código Penal. Há, portanto, tipicidade entre tal conduta e a lei penal. Estrutura do tipo penal O tipo penal, qualquer que seja ele, é composto por um núcleo e elementos. A fórmula do tipo incriminador, é, portanto: Tipo Penal Núcleo (verbo) Elementos Objetivos Subjetivos Normativos Tipicidade Antijuridicidade Culpabilidade Direito Penal – 2ª Fase 17 Tipicidade Objetiva Tipo penal é a descrição abstrata dos elementos do fato, ou do suposto fato, previsto em uma norma penal incriminadora.Então, ele está falando em uma descrição abstrata não de uma descrição valorativa. O tipo penal ele não faz um juízo de valor sobre aquela conduta. OBS: Os ramos do direito têm a vocação de serem completos. No direito penal existe um ramo do direito punitivo, ele não tem uma vocação de completude, ao contrário o caráter do direito penal é fragmentário (princípio da fragmentariedade). A ultima ratio diz que os direitos penais só devem interver quando todos os outros ramos do direito falharam. Direito penal como direito de última intervenção ou princípio de intervenção mínima. Quanto mais tipos penais a sociedade tiver menor será a liberdade. Tipicidade Subjetiva A tipicidade subjetiva só pode surgir a partir do elemento vontade do sujeito. O sujeito quis: ➢ Cometer o delito ➢ Quebrar um dever de cuidado (ex: eu quis dirigir acima da velocidade; eu quis dirigir embriagado, eu dei uma injeção de glicose sem testar que ela diabético) OBS: Se o sujeito observou todas as regras de cuidado e mesmo assim o resultado delitivo aconteceu isso não é crime. OBS: Existe uma norma que proíbe uma conduta e uma norma que estabelece uma exceção a essa proibição. Exemplo:não é permitido entra com animais em transporte público e podemos encontrar num outro diploma legal uma norma dizendo que as pessoas deficientes visuais poderão andar com o cão guia. Então haverá situações que no plano da tipicidade haverá situações que serão típicas, mas quando eu dou um passo adiante eu vou dizer que essas normas colidem com o tipo penal, mas elas estão justificadas pelo ordenamento como um todo, ou seja, o ordenamento vai criar hipóteses de exceçãoas proibições típicas. São hipóteses que vão justificar as ações típicas. O que seria justificar? Tornar aquela conduta justa, embora típica, juridicamente tolerável, aceitável. Nesse sentido não pode ser crime. Tipos materiais: Nesses delitos o resultado integra ao tipo – Resultado naturalístico. Tipo formal:O crime formal basta a execução, se o resultado acontece ou não é irrelevante. Existe uma antecipação punitiva no iter criminis. Sobretudo nos delitos formais se nós ficamos adstrito apenas a letra da lei vale dizer que eu me contento com a mera realização da conduta nós podemos criar situações desproporcionais não em relação a uma posição ideológica EX: portar arma de fogo(formal) Direito Penal – 2ª Fase 18 No delito formal o resultado é irrelevante do ponto de vista típico. A conduta, porém, tem que ser idônea, apta a lesionar ou expor a perigo o bem jurídico. Exemplo: arma desmuniciada (portar arma de fogo é crime, mas se eu interpretar a conduta descolada do bem jurídico, então no caso do porte de arma de fogo o bem protegido é incolumidade pública, a arma desmuniciada é tão lesiva quanto um taco de beisebol, então uma interpretação que não fosse formalista reconheceria como atípica o porte de arma desmuniciada, como entendido no começo pelo supremo; portar munição sem a arma também é crime e aí se questiona com é a lesividade sem a arma). O delito tem que pressupor a exposição em perigo ao bem juridicamente protegido. Conduta Ação e Omissão A conduta é o primeiro elemento do fato típico sendo também elemento fundamental da Teoria do Crime. Mas, antes de entrar na análise da conduta, veremos que essa conduta pode ser por Ação, chamada de Conduta Comissiva, ou por Omissão, Conduta Omissiva. Quando exemplificamos casos de crime e falamos que o sujeito atirou, sequestrou, furtou, roubou, estamos tratando de uma Ação, contudo, o agente também pode praticar uma Omissão, pois, é possível que haja um bem jurídico cuja proteção seja exatamente um agir, mas, como? Uma criança, um bebê, está morrendo afogado na praia, na minha frente. O que o agente faz? Nada, ele cruza os braços, o agente tem um dever de solidariedade, o Estado quer nesse caso que o agente aja. Exemplo está no artigo 135, CP. Estamos aqui diante de crimes em que o legislador exige de nós um agir porque há o dever de solidariedade e pune-se a falta dela. Agora, há também pessoas que têm o dever legal, o dever jurídico e aí elas eventualmente podem praticar um Crime Comissivo, um Crime de Ação como o Homicídio por Omissão. E o que a mãe, que possui o dever jurídico, faz? Um recém nascido começa a chorar de fome e ela cruza os braços, não amamenta e a criança morre. Omissão. Ela se omitiu. E com sua omissão ela causou um resultado. Ela quer o resultado Comissivo e ela consegue esse resultado se omitindo. Ao invés de estrangular o bebê, ela não o alimenta. É uma modalidade de Crime Omissivo que são chamados de Crimes Omissivos Impróprios. Por que Omissivos Impróprios? A impropriedade dele neste caso está no fato de que o autor do crime vai responder pelo resultado efetivamente ocorrido. Se um estranhosem dever de cuidado se omite em relação a essa criança e ela morre, vai responder simplesmente pelo crime de Omissão de Socorro, porque se exigia um dever de solidariedade, artigo 135, CP. Direito Penal – 2ª Fase 19 Mas, a mãe, o salva-vida, a babá, o alpinista que garante que não vai ocorrer o resultado porque ele é um exímio alpinista, esses vão responder pelo resultado em morte. Onde eu vou encontrar esse crime Omissivo Impróprio? No artigo 13 § 2º, CP. O omitente está na posição da inocorrência do resultado, ele é o Agente Garantidor, ele tem que garantir que o resultado não vai acontecer. Mas se não tenho dever jurídico legal em relação a essa criança que está se afogando na minha frente, porque não sou pai, mãe, tutor, curador, babá, cuidador, salva-vida, se somente tenho um dever de solidariedade, vou responder por isso, e a pena é bem menor porque esse será um crime Omissivo Próprio. Elemento Subjetivo A conduta criminosa pode ser Dolosa ou Culposa. Temos que ter em mente que toda ação humana está animada com uma finalidade. Nenhum de nós faz nada sem uma finalidade. O criminoso dirige finalisticamente a conduta para o resultado em morte. Então, eu tenho já uma solução para aquilo que até então estava sem solução. Devemos observar sempre para qual resultado o agente dirige sua conduta. Há um agir ou omitir dirigido finalisticamente a um resultado. O Direito Penal não convive com a Responsabilidade Objetiva. A Responsabilidade aqui é Subjetiva. O agente tem que dirigir finalisticamente a conduta dele em direção a um resultado que é previsto em lei. a. Dolo O Dolo está no artigo 18 – I do CP: “Diz-se o crime:I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;” O agente quer, ou seja, ele dirige finalisticamente a conduta dele em direção ao resultado, ou ele assume o risco de produzir esse mesmo resultado. Este último caso é o Dolo Eventual. É o “dane-se.” O Dolo é elemento subjetivo da conduta. A doutrina cria vários tipos de dolo, mas o dolo é um só, independentemente do dolo que for utilizado na questão, a aplicabilidade sempre será feita com base no artigo 18. CP. Direito Penal – 2ª Fase 20 Temos que saber para onde o agente dirigiu finalisticamente a conduta dele. Qual foi o resultado? Foi resultado morte? Foi resultado patrimonial? Perturbação de sossego? Para onde ele dirigiu finalisticamente a conduta dele? E essa finalidade que dirigiu a conduta dele é que vai me definir inicialmente qual foi o crime praticado. Como que sabemos que o crime vai ser punido por maneira dolosa? Exatamente essa é a regra. A regra é que os crimes tenham como elemento subjetivo o dolo. Todos não porque toda regra comporta exceção, que é quando ele é culposo e não doloso. Mas a exceção tem que estar expressa. Ou seja, o crime culposo, o legislador vai ter que dizer expressamente que ele é culposo. E quais são as modalidades de dolo? São o dolo direto e o dolo eventual (ou indireto, ambas previstas no artigo 18, CP. • Dolo Direto Artigo 18, CP: “Diz-se o crime: I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;” Quando o agente quis o resultado, temos o dolo direto. • Dolo Eventual Na segunda parte, quando ele assume o risco do resultado, nós temos o Dolo Indireto ou Dolo Eventual. Embora o sujeito não queira diretamente o resultado, ele assume o risco. É o caso que falamos do “dane-se”. O agente se coloca numa posição que o resultado pode acontecer No Dolo Eventual o agente não quer o resultado. Mas, se ele não quer diretamente, e ele assume o risco, “dane-se”, ele vai responder por um crime doloso. É o caso de dolo eventual. Exemplo: o agente quer queimar roupas velhas que possui em seu quintal e alguém o alerta que isso pode vir a se tornar um grande incêndio, que é punido pelo artigo 250, CP. O agente diz não querer o resultado, contudo, diz também não se importar caso ele aconteça. Esse é um caso de Dolo Eventual. b. Culpa O crime culposo trabalha com inobservância de regras de cuidado. O agente vai responder pelo crime culposamente porque ele não observou uma regra de cuidado exigida na sociedade. Na realidade, no crime culposo o agente dirige finalisticamentea conduta em direção de um resultado lícito, no nosso dia a dia, que por conta de inobservância de regra de cuidado, ele vai entrar nailicitude. Direito Penal – 2ª Fase 21 • Elementos do Fato Típico Culposo o Conduta:a conduta inicialmente é lícita, mas por conta de uma inobservância de uma regra de cuidado, ela tornar-se-á ilícita; o Resultado; o Nexo Causal: há um liame entre essa conduta e o resultado, porque ele atropelou alguém; o Fato Típico:fato tem que estar previsto em lei como crime; o Ausência de Previsibilidade/Previsibilidade Objetiva: estou dirigindo num local que só tem escolas e creches a 100 km/h, ou numa velocidade incompatível com o local e prevejo que uma criança pode sair à rua e eu atropelá-la. Se insisto na conduta, estou no Dolo Eventual, estou assumindo o risco. Não podemos prever esse resultado. Previsibilidade Objetiva significa simplesmente: um homem prudente, no meu lugar poderia evitar esse resultado? Para saber se o crime é culposo ou não, vou botar um homem médio, um homem prudente no lugar do agente. Se o homem prudente agir exatamente como o agente agiu, não temos crime culposo, não temos culpa; o Inobservância de Regra de Cuidado – Imprudência, Imperícia e Negligência: o Imprudência é o fazer. O sujeito faz, ele não observa a regra de cuidado, fazendo, agindo. Exemplo: estou dirigindo um automóvel na Av. Presidente Vargas, o sinal ficou amarelo e eu sigo e provoco uma colisão, fui imprudente, não observei uma regra de cuidado. Não queria, não assumi risco de nada, mas inobservei uma regra de cuidado. o Imperícia é a falta de aptidão técnica. É voltada sempre para profissionais. Aquele profissional que falta a ele aptidão técnica. Falta aptidão técnica a um médico e ele causa uma lesão, causa um dano no paciente. Ele é imperito. A imperícia é típica do profissional, mas eu não tenho a habilitação que eu deveria ter para aquela função que eu exerço. o Negligência é um “não fazer”. Sou policial e a prudência me recomenda que, ao chegar em casa, devo colocar munição de um lado e arma de outro, especialmente se tenho crianças em casa. E aí negligentemente, deixo de ter o cuidado devido, e largo a arma municiada em cima da mesa, a criança vai lá e pega e causa um acidente. Deixei de fazer, me omiti na cautela, no dever de cuidado que eu tinha que ter. Artigo 18, CP - Parágrafo único – “Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente” Isso quer dizer que o agente vai responder por um crime, como regra, doloso, salvo os casos expressos em lei, que são os crimes culposos. Isto é, os crimes culposos têm que estar previstos em lei. Exemplo: um sujeito sai aqui pelo corredor e acerta o notebook de um aluno, que quebra. Tenho aqui um dano. Artigo 163, CP: destruir coisa alheia. Mas o agente não quis Direito Penal – 2ª Fase 22 esse resultado. Como ele o alcançou? Inobservando regra de cuidado, ele foi imprudente. Logo, ele cometeu um crime de dano culposo. Mas se observarmos o artigo 163, CP não vou encontrar o dano culposo, o que significa dizer que ele não praticou crime, porque só há crime culposo se tiver previsto expressamente em lei e o legislador não previu o crime de dano culposo. Essa culpa que nós estamos tratando até aqui é o que a doutrina chama de Culpa Inconsciente. • Culpa Consciente A Culpa Consciente ocorre quando o agente acredita sinceramente na inocorrência do resultado. Qual a diferença entre o Dolo Eventual e a Culpa Consciente? É que na culpa consciente, embora o sujeito acredite sinceramente que ele tem a perícia e que não vai praticar o resultado, mas ele acaba o causando. c. Crimes Preterdolosos Há situações em que o agente age com dolo e acaba sua ação gerando um resultado muito mais gravoso do que ele buscou dolosamente, inicialmente. É o agente que dirige a sua ação para um resultado de lesão corporal,ele quer ofender a integridade física de alguém, então ele dá neste um soco, que cai batendo a cabeça no meio-fio e morre. Ele não quer o resultado morte (dolo), nem assume o risco desse resultado (dolo eventual), mas ele alcança esse resultado em morte, apesar deo resultado para o qual ele dirigiu a sua conduta foi ofensa à integridade física, resultado em lesão corporal. Contudo o resultado efetivamente alcançado foi o resultado em morte, que não é o querido, mas será que não está na esfera de previsibilidade dele? Nós tratamos de previsibilidade quando estudamos o crime culposo. Se estiver na esfera de previsibilidade vimos que um homem médio naquela circunstância não chegaria àquele resultado. Então o que eu tenho aí? Eu tenho dolo na conduta inicial e tenho culpa no resultado. Na realidade, eu vou ter no mesmo crime, no mesmo fato, dolo e culpa. Então, nós estudamos o crime doloso, o crime culposo e agora nós temos em que temos um dolo na ação e alcançando um estado mais gravoso, com culpa. O que é isso? São os chamados crimes Preterdolosos. Preter é o que vem antes, o pretérito, o passado e o que vem antes? A ação, que é dolosa. Ou seja, tenho dolo na ação, antecedente, e culpa na conseqüência. Direito Penal – 2ª Fase 23 Crime consumado Após a ocorrência do iter criminis diz-se crime consumado. Crime consumado quando configura todos os elementos do tipo (art.14, I, CP). Todo crime se consuma? Não. Por duas circunstancias seja por circunstancias alheia a vontade do agente. Crime tentado Diz-se crime tentado quando iniciado a execução o resultado deixar de acontecer por circunstancias alheias a vontade do agente (Art.14, II, CP). Como tratar com a tentativa? A tentativa é punida com a pena do crime consumado reduzindo de 1/3 a 2/3 (art.14, §único, CP). Quando vou aplicar execução da fração? Quando mais próximo se aproximar da lesão ao bem jurídico tutelado. O resultado não precisa acontecer nos delitos formais por definição. Se eu tento cometer um crime seja ele material ou formal a minha pena será reduzida. Tentativa Perfeita: A tentativa está localizada entre a execução e o resultado. A tentativa perfeita estaria perfeita próximo do resultado, onde o sujeito esgotou todo o plano delitivo, mas o cara não morreu, por exemplo, eu tinha cinco balas e disparei as cinco balas, mas o cara não morreu. Art. 14 - Diz-se o crime: Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal; Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. ( Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. Direito Penal – 2ª Fase 24 A tentativa imperfeita: eu nem consegui esgotar o meu plano antes, mas não conseguir por que fui interrompido, por exemplo, queria matar o sujeito e quando fui atirar a polícia chegou e interrompeu a execução delitiva. Alguns crimes não podem ser tentados por uma questão lógica: 1. Nos crimes omissivos não dá para configurar tentativa porque na omissão o que se pune é a não ação. 2. Os crimes unisubsistente não pode ser tentados 3. Nos crimes culposos também não é possível porque não dá para tentar quebrar um dever. 4. Contravenções (escolha normativa) 5. Crime habitual – existem alguns crimes que exigem habitualidade, por exemplo, crime de curandeirismo, nesse sentido, não admitem tentativo. Antijuricidade/Ilicitude Ilicitude é a contrariedade entre o fato típico praticadopor alguém e o ordenamento jurídico, capaz de lesionar ou expor a perigo de lesão bens jurídicos penalmente tutelados. Quem vê seu bem juridicamente ameaça e se vê como único material para sanar esse bem injusto comete uma conduta que passa a ser tolerada não recebendo uma conduta criminosa. Causas Excludentes da Ilicitude Em face do acolhimento da teoria da tipicidade como indício da ilicitude, uma vez praticado o fato típico, isto é, o comportamento humano previsto em lei como crime ou contravenção penal, presume-se o seu caráter ilícito. Presente uma excludente da ilicitude, estará excluída a infração penal. Crime e contravenção penal deixam de existir, pois o fato típico não é contrário ao Direito. Ao contrário, a ele se amolda. Estado de necessidade Estado de necessidade Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. § 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. § 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Direito Penal – 2ª Fase 25 De acordo com Cleber Masson, estado de necessidade é a causa de exclusão da ilicitude que depende de uma situação de perigo, caracterizada pelo conflito de interesses lícitos, ou seja, uma colisão entre bens jurídicos pertencentes a pessoas diversas, que se soluciona com a autorização conferida pelo ordenamento jurídico para o sacrifício de um deles para a preservação do outro. As causas justificantes são típicas, não confundir com tipicidade, para que algo esteja em estado de necessidade tem que atender a todos os critérios previstos no código penal. Art.24, CP – Estado de necessidade que pratica o fato • Para salvar • De perigo atual • Que não provocou por sua vontade • Nem poderia de outro modo evitar • Direito próprio ou alheio • Cujo Sacrifício • Não era razoável de exigir No estado de necessidade o sujeito se encontra num conflito, o sujeito naquela circunstancia não tem como respeitar dois bens jurídicos ao mesmo tempo. No estado de necessidade nós temos um conflito de bens jurídico onde um será sacrificado e o outro será salvo. Nós não conseguimos ao mesmo tempo salvar um bem jurídico sem salvar o bem jurídico. Exemplo: furto famélico (sujeito perdido na selva a beira do delírio e encontra uma casa que existia pão, para salvar o bem jurídico vida ou saúde ele sacrifica o bem jurídico alheio o patrimônio). Nessa situação ele fez para salvar,desde que ele não tenha provocado por sua vontade, o perigo tem que ter surgido por uma circunstância externa a sua vontade. Não só você precisa estar em perigo, mas tem que ser um perigo atual que eu não provoquei e não tinha outro modo de evitar, o sacrifício ao bem jurídico tem que ser o único modo para salvar o meu bem jurídico. Quanto ao direito próprio ou alheio – o legislador quis dizer que eu também posso agir para proteger o bem jurídico de terceiro. IMPORTANTE –cujo sacrifício não era razoável exigir- para que haja estado de necessidade o bem jurídico que você está preservando, não seria razoável você sacrificasse o seu bem jurídico para preservar o patrimônio alheio (você morrer para proteger o patrimônio alheio, porém o inverso não é a mesma coisa). Direito Penal – 2ª Fase 26 Exemplo: navio está afundando e numa situação de estado de necessidade para preservar o seu barco você vai matar um sujeito. O juízo de razoabilidade é um juízo de ponderação em relação ao bem jurídico que eu vou preservar em relação aquele que eu vou sacrificar o bem jurídico que será sacrificado deverá ser menos do que o bem jurídico preservado. Legítima defesa Age em legítima defesa: • Usando moderadamente • Dos meios necessários • Repele • Injusta agressão • Atual ou iminente • A direito seu ou de outrem Qual a diferença entre estado de necessidade e a legitima defesa? No estado de necessidade o sujeito não está sendo injustamente colocado numa escolha, ele está vivendo um perigo, mas não significa que ele esteja injustamente atingido. Agora na legitima defesa existe alguém de maneira injusta atacando deliberamente o seu bem jurídico, é uma defesa. Então a legitima é quem repele injusta (não é uma agressão consequência de seu ato, não é um revide) agressão, essa agressão é atual ou iminente, então a legitima defesa não é a posteriori. A direito seu ou de outrem. A situação de injusta agressão não é uma carta em branco para você agir do jeito que você quiser. Só considerarei legitima essa defesa se usada moderadamente os meios necessários para repelir essa injusta agressão. O que é moderadamente? O caso concreto vai dizer, o interprete irá dizer no jogo processual. Exemplo: Caio vai bater em Tício e Tício para se defender dá uma cadeirada em Caio. Ele tinha outros meios de resistir? Atenção: O código prevê quem age com uma excludente de antijuridicidade e age por excesso ele responderá pelo excesso; Na legitima defesa, há a figura da legitima defesa sucessiva, é a legitima que surge do excesso na legitima defesa. Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem Direito Penal – 2ª Fase 27 Exemplo:a mulher agride verbalmente o marido, isso é um crime contra a honra que permite a legitima defesa (agressões verbais recíprocas). O que seria um excesso na legitima? A mulher agride verbalmente o marido e ele bate na mulher. Estrito cumprimento do dever legal Existem pessoas que ao cometer o que a lei manda comete fatos típicos. EX: carcereiro que priva alguém da sua liberdade, sequestro, comete todos os elementos só que não só a lei autoriza, a lei manda esse é o trabalho dele; oficial que pega bens do sujeito que pega bens para penhora, ela não furta porque ele está agindo em estrito cumprimento do dever legal. Caso na hora de executar o carcereiro privar o preso da liberdade ele está em estrito cumprimento do dever legal agora caso ele realizar uma lesão corporal o carcereiro responderá por este ato. Então estrito cumprimento dever legal são hipóteses que ao cumprir o seu dever você realizar um ato típico. Exercício regular do direito Aquele que está autorizado a praticar um ato, reputado pela ordem jurídica como o exercício de um direito, age licitamente. Exemplo:sujeito que pula no muro da minha casa que estava com cacos de vidro estou protegendo meu patrimônio. Observação: Utilizando os meios necessários. Até agora você já deve estar compreendo que para identificar se uma conduta é crime se faz necessário por todas as etapas do crime. Façamos um breve resumo para melhor entendimento: Na Tipicidade nós fazemos uma análise do fato versus a norma e ao bem jurídico subjacente. Na Antijuridicidade nós analisamos o fato típico versus o ordenamento jurídico como um todo. A busca para verificar se existe justificantes. Essas categorias são categorias objetivas. Na Culpabilidade nós vamos cuidar da relação entre o fato e o sujeito, olhando o sujeito, as circunstâncias. Direito Penal – 2ª Fase 28 Culpabilidade Introdução Na tipicidade e na antijuridicidade, analisamos as características do fato. Agora, vamos estudar as características dapessoa que praticou fato até então criminoso, com a finalidade de verificar se cabe reprovabilidade, por meio de sanção penal. Logo, a culpabilidade é um juízo de reprovação, que vai verificar se a pessoa física que praticou o fato típico e antijurídico tinha capacidade de autodeterminação, para se controlar no sentido de não praticar um fato que sabia ou devia saber ser ilícito, quando lhe era exigível uma conduta de acordo com o direito. Dentro da Teoria Finalista, temos uma culpabilidade normativa, o que significa que os seus elementos de estudo estarão previstos expressamente em lei. O fato típico e antijurídico deverá, provavelmente, ser também culpável. Sendo assim, devemos estudar as excludentes de culpabilidade, para verificar se o agente se encaixa em alguma situação de exclusão. Vejamos, portanto, os elementos da culpabilidade: a) Imputabilidade b) Potencial Conhecimento da Ilicitude c) Exigibilidade de Conduta Diversa Conceito Culpabilidade é o juiz e censura, o juízo de reprovabilidade que incide sobre a formação e a exteriorização da vontade do responsável por um fato típico e ilícito, com o propósito de aferir a necessidade de imposição de pena. Cuida-se, assim do pressuposto de aplicação da pena. Direito Penal – 2ª Fase 29 Componentes da Culpabilidade Imputabilidade O critério adotado pelo legislador foi o critério Bio-Psicológico ou Misto – leva-se em conta critérios biológicos e critérios psicológicos. Nesse sentido, os agentes podem se encaixar em um dos seguintes grupos podem ser divididas em três grupos: a) Inimputáveis: isentos de pena b) Imputáveis: recebem toda a pena c) Semi-imputáveis: sujeitos a uma redução proporcional de pena A imputabilidade penal será estudada através da análise dos artigos 26, 27 e 28 do Código Penal Brasileiro. Vamos dar início à análise pontual de cada dispositivo: (1) Análise do Art. 26, CP: 1. Inimputáveis (artigo 26, caput, CP): “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. Logo, temos alguns requisitos: o No momento da ação ou da omissão (conduta), era inteiramente incapaz de: (i) Entender o caráter ilícito do fatoOU (ii) Determinar-se de acordo com esse entendimento o Em razão de: (i) Doença MentalOU (ii) Desenvolvimento Mental IncompletoOU (iii) Desenvolvimento Mental Retardado Consequência: Caso o juiz se convença da inimputabilidade, ficará isento de pena. O juiz deve aplicar medida de segurança. 2. Semi-imputáveis (artigo 26, parágrafo único, CP): “A pena pode ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços), se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado Direito Penal – 2ª Fase 30 não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. Logo, temos alguns requisitos: o No momento da ação ou da omissão (conduta), não era inteiramente capaz de: (i) Entender o caráter ilícito do fato OU (ii) Determinar-se de acordo com esse entendimento o Em razão de: (i) Perturbação da Saúde Mental OU (ii) Desenvolvimento Mental Incompleto OU (iii) Desenvolvimento Mental Retardado Consequência: Será condenado, porém apena será reduzida de 1/3 a 2/3. Cabe ressaltar, que se ele precisar de tratamento especial, o juiz poderá substituir a pena por uma medida de segurança. SAIBA MAIS! MEDIDA DE SEGURANÇA Até 1984, era permitida a cumulação da pena com a medida de segurança, em virtude do sistema do duplo binário. Ocorre que a partir da Reforma Penal de 1984, o sistema adotado pelo Código Penal passou a ser o sistema vicariante, o qual impede a cumulação da pena com a medida de segurança. Sendo assim, ou aplicamos a pena ou aplicamos a medida de segurança. - Possibilidades de aplicação: a) Absolvição imprópria(Artigo 26, caput, CP c/c Artigo 97, caput, CP c/c Artigo 386, VI, CPP): É a absolvição do agente inimputável, que não será submetido à pena, mas ficará sujeito à aplicação de medida de segurança. b) Substituição da pena por medida de segurança(Artigo 26, parágrafo único, CP c/c Artigo 98, caput, CP): Ocorre nas hipóteses em que o agente é semi-imputável, porém o juiz se convence de que é melhor a aplicação da medida de segurança, ao invés da pena privativa de liberdade, reduzida de 1/3 a 2/3. c) Superveniência de doença mental(Artigo 41 do CP c/c Artigo 183 da Lei n.º 7.210/84 (Lei de Execução Penal): O agente era imputável e, durante o cumprimento da pena, sobreveio alguma condição geradora da inimputabilidade. - Espécies de Medida de Segurança: a) Internação:Tem constrição de liberdade. Direito Penal – 2ª Fase 31 b) Tratamento ambulatorial:Não tem constrição de liberdade. Quando devemos aplicar a Internação ou o Tratamento Ambulatorial? (artigo 97 do CP) Tratando-se de reclusão, tem que ser Internação. Havendo detenção, pode ser internação ou tratamento Ambulatorial. Isso se encontra mitigado, posto que recentemente percebeu-se que é muito mais importante que o doente mental esteja no convívio de sua família. Sendo assim, as bancas garantistas entendem que a melhor forma de se estabelecer o tratamento é o critério clínico/critério médico. Sendo assim, o juiz que absolver o agente, aplicando-lhe Medida de Segurança, deverá, na sua decisão, optar pelo tratamento que mais se adapte ao caso concreto, na forma da Lei de Proteção das Pessoas Portadoras de Transtornos Mentais (Lei n.º 10.216/2001. - Prazo da Medida de Segurança O artigo 97, parágrafo primeiro, CP, estabelece o prazo mínimo, seja para a internação, seja para o tratamento ambulatorial de 01 a 03 anos. Quanto ao prazo máximo, observa-se cinzânia doutrinária. Vejamos: PRAZO MÍNIMO 01 a 03 anos PRAZO MÁXIMO (LEI) Indeterminado PRAZO MÁXIMO (STF) 30 anos PRAZO MÁXIMO (STJ – 5ª TURMA) 30 anos PRAZO MÁXIMO (STJ – 6ª TURMA) Máximo da pena cominada em abstrato PRAZO MÁXIMO (SÚMULA 527 STJ) Máximo da pena cominada em abstrato Constatamos, portanto, que o prazo máximo gerou ampla divergência na doutrina e prevalece atualmente a posição da Súmula 527 do STJ: “o tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado”. (2) Análise do Art. 27, CP: Critério IMPUTÁVEL INIMPUTÁVEL Artigo 27 do CP (Critério Biológico) > de 18 anos < de 18 anos Obs.: O agente se torna maior de 18 anos a partir do dia em que completa o seu aniversário. Sendo assim, pouco importa o horário do nascimento, o que significa que ele será maior de idade no primeiro minuto do seu aniversário de 18 anos. Direito Penal – 2ª Fase 32 O artigo 27 do CP trata da imputabilidade do agente, em virtude de sua idade. Sendo assim, aqueles que forem maiores de 18 anos serão imputáveis. Por outro lado, aqueles que forem menores de 18 anos serão inimputáveis. Dessa forma, os menores de 18 anos não praticarão crime e sim “ato infracional análogo a crime”. Eles não serão presos e sim “apreendidos” – ficando sujeitos às medidas protetivas e às medidas sócio-educativas previstas na Lei n.º 8.069/90. Observe que para crianças, de 0 a 12 anos incompletos, aplica-se medidas protetivas e para adolescentes (de 12 a 18 anos, aplica-se medidas protetivas ou sócio-educativas). (3) Análise do Art.28, CP: Artigo IMPUTÁVEL SEMI-IMPUTÁVEL INIMPUTÁVEL Artigo 28 Emoção e Paixão + Embriaguez Voluntária Em Sentido Estrito + Embriaguez Voluntária Culposa + Embriaguez Voluntária Pré-Ordenada Artigo 28 Parágrafo Segundo Código Penal Artigo 28 Parágrafo Primeiro Código Penal - Vamos, primeiro, esclarecer os conceitos abordados pelo artigo: a) EMOÇÃO E PAIXÃO: De acordo com o artigo 28 do Código Penal, a emoção e a paixão não excluem a imputabilidade penal do agente, o que significa que ele será responsabilizado por sua conduta. Contudo, vale ressaltar que há a atenuante genérica do artigo 65, inciso III, alínea “c”, última parte, do Código Penal, que permite a redução da pena, nas hipóteses em que o agente tiver cometido o crime “(...) sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto da vítima”. Por fim, podemos perceber que a emoção e a paixão somente poderão gerar a absolvição do agente no Tribunal do Júri, ocasião em que o julgamento é feito por seus pares, que costumam ser pessoas leigas e tomam a sua decisão com base em sua própria natureza, ignorando os conceitos explicitamente previstos no ordenamento jurídico. b) EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA EM SENTIDO ESTRITO (Teoria da Actio Libera In Causa): O agente se colocou no estado de embriaguez porque queria ficar bêbado.Exemplo: “hoje eu vou beber até cair”. É a ação livre na causa. Sendo assim, quando alguém pratica um fato típico e antijurídico em estado de embriaguez voluntária em sentido estrito, não vamos analisar a sua conduta Direito Penal – 2ª Fase 33 pelo momento da prática do ato, mas pelo momento em que ele decidiu beber, tendo em vista que,naquele momento, ele era plenamente imputável. c) EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA CULPOSA (Teoria da Actio Libera In Causa): O agente bebeu voluntariamente, mas não queria ficar bêbado. Sendo assim, a embriaguez foi decorrente da inobservância de um dever de cuidado.Pode ser por descuido, falta de costume ou mesmo por falta de sensibilidade do organismo.Exemplo: o agente começa a beber no churrasco e acaba ficando bêbado sem querer.É a ação livre na causa. Sendo assim, quando alguém pratica um fato típico e antijurídico em estado de embriaguez voluntária culposa, não vamos analisar a sua conduta levando em conta momento da prática do ato. Nesse sentido, a análise da conduta do agente levará em conta o momento em que ele decidiu beber, tendo em vista que, naquele momento, ele era plenamente imputável. d) EMBRIAGUEZ VOLUNTÁRIA PRÉ-ORDENADA: O agente bebeu para se sentir mais confiante na prática de um determinado crime.A embriaguez pré-ordenada é uma espécie de embriaguez voluntária que ainda constitui agravante genérica, por aumentar o grau de reprovabilidade da conduta do agente.Está prevista no artigo 61, inciso II, “L”, do Código Penal. - Vejamos, agora, como se aplica a imputabilidade: a)Inimputável (artigo 28, inciso II, parágrafo primeiro, CP): “É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. São requisitos: o No momento da ação ou da omissão (conduta), era inteiramente incapaz de: (i) Entender o caráter ilícito do fatoOU (ii) Determinar-se de acordo com esse entendimento o Em razão de: (i) Embriaguez Completa proveniente de Caso FortuitoOU (ii) Embriaguez Completa proveniente de Força Maior Consequência: o agente será isento de pena. b) Semi-Imputável (artigo 28, inciso II, parágrafo segundo, CP): Direito Penal – 2ª Fase 34 “A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”. São requisitos: o No momento da ação ou da omissão (conduta), não possuía a plena capacidade de: (i) Entender o caráter ilícito do fatoOU (ii) Determinar-se de acordo com esse entendimento o Em razão de: (iii) Embriaguez incompleta proveniente de Caso Fortuito OU (iv) Embriaguez incompleta proveniente de Força Maior Consequência:o agente terá a pena reduzida de 1/3 a 2/3. TIPO DE EMBRIAGUEZ ÁLCOOL (Código Penal) DROGAS (Lei 11.343/2006) Embriaguez Voluntária Em Sentido Estrito Artigo 28, inciso II, CP Artigo 28, inciso II, CP Embriaguez Voluntária Culposa Artigo 28, inciso II, CP Artigo 28, inciso II, CP Embriaguez Patológica Artigo 26, Caput, CP Artigo 26, Parágrafo Primeiro, CP Artigo 45 da Lei n.º 11.343/2006 Artigo 46 da Lei n.º 11.343/2006 Embriaguez Pré- Ordenada Artigo 61, II, “L”, CP Artigo 61, II, “L”,CP Embriaguez Involuntária Completa Artigo 28, inciso II Parágrafo Primeiro CP Artigo 45 da Lei n.º 11.343/2006 Embriaguez Involuntária Incompleta Artigo 28, inciso II Parágrafo Segundo CP Artigo 46 da Lei n.º 11.343/2006 Direito Penal – 2ª Fase 35 6.3. Potencial Conhecimento da Ilicitude A potencial consciência da ilicitude é o elemento da culpabilidade que determina só ser possível a punição do agente que, diante das condições fáticas na quais estava inserido, tinha a possibilidade de atingir o entendimento sobre o caráter criminoso da conduta que perpetrava. Importante lembrar que a consciência sobre a ilicitude da conduta para a teoria causalista fazia parte do dolo, que era alocado na culpabilidade. É por isso, repisa-se, que a partir do finalismo, quando o dolo e a culpa migraram para a conduta, o dolo passou a ser natural, já que ficou desprovido do caráter normativo que representava a consciência da ilicitude. Foi também o finalismo quem criou a necessidade de punição quando o agente, mesmo praticando determinado fato sem a noção acerca da ilicitude, tinha a possibilidade de atingir essa conclusão. Por isso fala-se, hoje, em potencial consciência da ilicitude como requisito para a culpabilidade. O caso de um trabalhador rural de baixa instrução e sem acesso aos meios de informação que retira um pedaço de uma planta para uso despretensioso, sendo tal ato definido como crime ambiental. Pelas circunstâncias expostas o agente não conhecia a ilicitude, mas poderia conhecê-la. 6.4. Exigibilidade de conduta diversa Trata-se de um pressuposto da culpabilidade em que só devem ser punidos os comportamentos que poderiam ser evitados. Assim, quando não se pode determinar a conduta diversa por parte do agente, este é isento de crime, pois, não há reprovabilidade se na situação em que se achava não lhe era exigível comportamento diverso. Pode haver a conduta típica e antijurídica, porém a culpabilidade (reprovabilidade) é excluída, inexistindo crime. A exigibilidade de conduta conforme o direito (ou diversa), pode ser definida, pois, como a possibilidade, adotada pelo autor, de agir nos ditames do ordenamento jurídico, isto vale dizer que poderia ter atuado de maneira diversa da adotada. Tem como principal finalidade afastar a censurabilidade do agente (no caso de inexigibilidade). Para a análise da exigibilidade dessa conduta nos preceitos legais é necessário, todavia, que sejam sopesadas as circunstâncias do momento do fato típico em tese, ponderando sobre as condições físicas e psíquicas do sujeito ativo. Mister se faz, então, que sejam avaliadas todas as circunstâncias que envolveram o fato para averiguaçãodesse elemento da culpabilidade. A palavra-chave, como se pode notar, é a normalidade. Deve-se levar em consideração a determinação normal das circunstâncias psíquicas e físicas do agente e do local dos fatos e que não se pode exigir uma atuação conforme o direito, ou seja, que na normalidade, podia ou não se exigir do sujeito ativo um comportamento diferente daquele que efetivamente realizou. Direito Penal – 2ª Fase 36 Potencial consciência da ilicitude A aplicação da pena ao autor de uma infração penal somente é justa e legítima quando ele, no momento da conduta, era dotado ao menos da possibilidade de compreender o caráter ilícito do fato praticado. Exige-se, pois, tivesse o autor conhecimento, ou, no mínimo, a potencialidade de entender o aspecto criminoso do seu comportamento, isto é, os aspectos relativos ao tipo penal e a ilicitude. Causas de exclusão – erro proibição O desconhecimento da lei é dizer que não sabia da existência de uma norma. Agora não conhecer a proibição é mais profundo de modo que de acordo com as minhas concepções racionais eu não teria condições de entender que aquela conduta seria proibida. De fato, o erro de proibição é aquele erro que a diz a absoluta incapacidade daquela pessoa, dadas as circunstancias, de entender aquela proibição. Exigibilidade de Conduta diversa A exigibilidade de conduta diversa é o elemento da culpabilidade consistente na expectativa da sociedade acerca da prática de uma conduta diversa daquela que foi adotada pelo autor de um fato típico e ilícito. Coação moral irresistível Irresistível quer dizer que a coação é tão forte que não podíamos exigir que o sujeito cumprisse o direito naquelas hipóteses. Exclui-se a culpabilidade em face da inexigibilidade de conduta diversa. Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. Direito Penal – 2ª Fase 37 Obediência hierárquica de ordem não manifestamente ilegal A obediência hierárquica é a causa de exclusão da culpabilidade, fundada na inexigibilidade de conduta diversa, que ocorre quando um funcionário público subalterno pratica uma infração penal em decorrência do cumprimento de ordem, não manifestamente ilegal, emitida pelo superior hierárquico. Direito Penal – 2ª Fase 38 PRÁTICA PROCESSUAL PEÇAS DE LIBERDADE Primeiro passo: identificar qual a peça ou instituto o caso concreto apresenta ou requer Vamos estudar? Antes de falar propriamente do relaxamento da prisão em flagrante, da liberdade provisória ou da revogação da preventiva ou da temporária, é importante fazer uma breve análise das peças que podem ser requeridas a qualquer momento da persecução criminal e daquelas que podem ser requeridas na fase pré-processual. O primeiro passo para o candidato que está se preparando para uma segunda fase da OAB é saber identificar qual a peça prática ou instituto jurídico que a questão requer. Da mesma forma, a identificação das peças possíveis e aplicáveis a determinado caso concreto dependerá, se for essa a hipótese, da identificação da espécie de prisão cautelar a que se submete o indiciado ou réu. Peças práticas que podem ser requeridas a qualquer momento da persecução criminal a) Habeas Corpus Pode ser intentado a qualquer tempo: antes ou durante o inquérito policial, durante a instrução criminal ou fase recursal ou após o trânsito em julgado da sentença penal. O limite para sua utilização será o fim da aplicação da pena privativa de liberdade. Fique atento! Oshabeas corpus não é uma peça privativa de advogado, sendo esta a razão de ele não ser tão cobrado nas peças prático-profissionais da OAB. Entretanto, continua sendo um tema de suma importância para as questões dissertativas. b) Mandado de Segurança O mandado de segurança em matéria criminal é outra peça processual cabível em qualquer momento da persecução criminal, sendo mecanismo que visa, nos termos do Direito Penal – 2ª Fase 39 art. 5º, inc. LXIX, da CF, proteger direito líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Peças práticas que podem ser requeridas na fase pré-processual Requerimento ao delegado de polícia É cabível quando se pretende diligências administrativas, cuja realização cabe ao delegado de polícia. Ex: Instauração de inquérito policial, arbitramento de fiança, exame de corpo de delito, realização de acareações entre outros. Relaxamento da prisão em flagrante Cabível de prisão em flagrante ilegal. O pedido deve ser endereçado ao juiz Liberdade Provisória Cabível de prisão em flagrante legal. O pedido deve ser endereçado ao juiz Tipos de prisões Outro tema de suma importância, que está relacionado com o relaxamento da prisão em flagrante, bem como com os demais institutos de liberdade, são os tipos de prisões existentes no nosso ordenamento jurídico. Ex.: o relaxamento de prisão é cabível quando houver uma prisão em flagrante ilegal. a) Prisão pena Somente ocorrerá após o trânsito em julgado da sentença condenatória na qual foi aplicada uma pena privativa de liberdade ou restritiva de direitos ao réu. Não tem natureza acautelatória, já que visa à satisfação da pretensão executória do Estado. Obs.: Quando do cumprimento da pena privativa de liberdade, nos casos em que os réus estiveram presos durante o processo, em face da proibição do excesso, haverá o abatimento do tempo de prisão processual cumprido, ao que denominamos detração penal. Direito Penal – 2ª Fase 40 b) Prisão cautelar Chamamos de prisão cautelar toda e qualquer prisão que anteceda o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Sabemos que a CF/88 garante, no art. 5º, inc. LVII, a presunção de inocência. Isto, contudo, não impede que o réu seja, quando extremamente necessário, submetido à prisão. É, portanto, prisão processual, dependendo, como em qualquer medida cautelar, da presença do fumus boni juris e do periculum in mora (no processo penal, fumus comissi delicti e periculum libertatis). Existem três modalidades de prisão cautelar em nosso ordenamento jurídico: ▪ Prisão em Flagrante: cabível o pedido de relaxamento da prisão em flagrante e de liberdade provisória: o relaxamento da prisão será requerido se houver uma prisão em flagrante ilegal, enquanto a liberdade provisória se houver uma prisão em flagrante legal. ▪ Prisão Preventiva: o Quando uma prisão preventiva é legalmente decretada, deve-se pleitear, no caso do desaparecimento dos motivos que antes a autorizaram, a revogação da prisão preventiva. o Se a prisão preventiva for ilegal (por ausência de fundamentação ou por
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