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Vidas fósseis

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A
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Inovação
é a meta
No dicionário Aurélio, há dois significados para a palavra inovar: 1) renovar 
e 2) introduzir novidade. Foi exatamente com base no significado de inovação, tão 
familiar às atividades da FAPEMIG, que a equipe da MINAs FAz CIêNCIA decidiu 
rechear as páginas da revista de novidades. A partir desta edição, o leitor tem uma 
publicação mais leve, moderna e cheia de boas novas. 
Você vai conhecer a seção “Cinco perguntas para”, que apresenta entrevis-
tas curtas e diretas com personalidades do meio científico. A última página trará 
uma novidade a cada edição, revelando que a Ciência pode ser vista sob diversos 
ângulos, como a arte e a literatura, por exemplo. Neste número, uma foto mostra a 
harpia, a ave de rapina mais forte do mundo, encontrada nas florestas brasileiras. 
A página de notas ganha o nome de “Curtas da Ciência”, com novo visual e textos 
mais breves e diretos, e o leitor passa a acompanhar dicas de livros e filmes rela-
cionados ao mundo científico, na seção “Leituras”.
No conteúdo, o leitor continua conferindo o que tem sido produzido de 
melhor na Ciência, Tecnologia e Inovação em Minas Gerais, que é destaque no 
âmbito nacional e importante representante do Brasil no cenário internacional. 
Você poderá conferir, por exemplo, os avanços na pesquisa paleontológica, em 
Uberaba, com sua mais recente descoberta: o Campinasuchus dinizi, um croco-
dilo pré-histórico, cujos fósseis foram descobertos por um fazendeiro da região. 
Na entrevista com o renomado pesquisador e colunista da Folha de S. Paulo, 
Marcelo Gleiser, o leitor vai acompanhar, entre outros assuntos, o debate sobre 
a divulgação científica no País, o papel das novas tecnologias na atualidade e a 
relação entre razão e mito, um dos temas do mais novo livro de Gleiser, lançado 
em parceria com Frei Betto.
A Ciência no cinema, bem como a rica e forte relação entre os dois elemen-
tos ao longo da história, são discutidos em uma das reportagens, sob a ótica de 
profissionais e especialistas da área. O leitor também vai conhecer um projeto 
multidisciplinar que levantou os hábitos e a cultura de comunidades quilombolas 
do Norte de Minas e se informar sobre trabalhos desenvolvidos em áreas como 
segurança pública, mobilidade urbana, recursos hídricos e educação.
As novidades também ultrapassam as páginas da revista e chegam ao blog 
(http://fapemig.wordpress.com) que acaba de ser lançado para ampliar o Progra-
ma de Divulgação Científica da FAPEMIG, que tem o mesmo nome da revista: 
MINAs FAz CIêNCIA. A partir de agora, o público poderá conferir na internet, 
informações diversas e dicas do universo científico, além de assistir reportagens 
do programa CIêNCIA NO Ar e ouvir as pílulas de rádio do ONDAs DA CIêNCIA. 
Tudo isso, com uma identidade visual moderna e desenvolvida especialmente 
para despertar no leitor a percepção da ciência como elemento do cotidiano. 
Confira nas próximas páginas todas as novidades que preparamos. Você, 
leitor, também é fundamental nesta mudança. Diga-nos o que achou, escreva seus 
comentários no blog, envie suas sugestões. Queremos, mais que fazer ciência, 
mostrar o quanto ela está próxima de todos e pode ser uma agradável companhia. 
Ela te espera nas páginas seguintes! 
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MINAs FAz CIêNCIA
Assessora de Comunicação Social e Editora Geral: 
Ariadne Lima (MG09211/JP)
Editor Executivo: Fabrício Marques 
Assessora Editorial: Vanessa Fagundes 
Redação: Ariadne Lima, Fabrício Marques, Vanessa 
Fagundes, Juliana saragá, Maurício Guilherme silva Jr., 
Ana Flávia de Oliveira, Hely Costa Jr., Kátia Brito (Bolsista 
de Iniciação Científica).
Ilustrações: Beto Paixão
Revisão: Glísia rejane
Projeto gráfico: Hely Costa Jr.
Editoração: Fazenda Comunicação & Marketing
Montagem e impressão: Lastro Editora
Tiragem: 20.000 exemplares
Fotos: Marcelo Focado/Gláucia rodrigues
Capa: Hely Costa Jr., sobre ilustração de rodolfo Nogueira
redação - rua raul Pompéia, 101 - 12.º andar, são 
Pedro - CEP 30330-080
Belo Horizonte - MG - Brasil
Telefone: +55 (31) 3280-2105
Fax: +55 (31) 3227-3864
E-mail: revista@fapemig.br
site: http://revista.fapemig.br
 
 
Blog: http://fapemig.wordpress.com/
Facebook: http://www.facebook.com/FAPEMIG
Twitter: @fapemig
GOVErNO DO EsTADO
DE MINAs GErAIs
Governador: Antonio Augusto Junho Anastasia
sECrETArIA DE EsTADO DE CIêNCIA, TECNOLOGIA 
E ENsINO sUPErIOr
Secretário: Narcio rodrigues
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas 
Gerais
Presidente: Mario Neto Borges
Diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação: José 
Policarpo G. de Abreu
Diretor de Planejamento, Gestão e Finanças: Paulo 
Kleber Duarte Pereira
Conselho Curador
Presidente: João Francisco de Abreu 
Membros: Afonso Henriques Borges, Anna Bárbara 
de Freitas C. Proietti, Evaldo Ferreira Vilela, Francisco 
sales Dias Horta, Giana Marcellini, José Cláudio 
Junqueira ribeiro, José Luiz resende Pereira, Magno 
Antônio Patto ramalho, Paulo César Gonçalves de 
Almeida, Paulo sérgio Lacerda Beirão, 
rodrigo Corrêa de Oliveira
ENgENhARIA
DE TRâNsITO
Núcleo de Transportes da UFMG 
busca alternativas viáveis para 
melhoria da mobilidade urbana 
em BH.
12
TEcNOLOgIAs
fLOREsTAIs
Estudos para a preservação das 
florestas brasileiras rendem 
prêmio ao cientista José roberto 
scolforo.
16
EDucAçãO
Projeto desenvolvido com 
estudantes mineiros mostra 
que os saberes científicos 
cabem no salão de beleza.
35
LEmbRA DEssA?
radiação eletromagnética 
consegue prever o escurecimento 
de batatas e auxiliar na 
reprodução de animais.
39VIOLêNcIAmONITORADA
Polícia mineira trabalha em 
conjunto para diminuir os índices 
de violência no Estado.
23
hIsTóRIA
solenidades no Centro 
Administrativo e Assembléia 
Legislativa do Estado marcam as 
comemorações dos 25 anos da 
FAPEMIG.
26
ENTREVIsTA
O físico Marcelo Gleiser discute 
as dimensões da Ciência e sua 
capacidade de aproximar o 
homem do universo.
28
cINEmA E cIêNcIA
A intensa relação entre os dois 
campos ilumina a vida para muito 
além do aconchegante escurinho 
das salas de projeção.
40
sAúDE
Produto que higieniza jaleco 
usado por profissionais da saúde 
evita contaminações fora dos 
hospitais. 
32
EsPEcIAL
Paleontólogos descobrem 
no Triângulo Mineiro fósseis 
do crocodilo pré-histórico
Campinasuchus dinizi.
06
QuILOmbOLAs
retrato de comunidade quilombola 
do Norte de Minas revela traços 
importantes da cultura negra.
46
LEITuRAs
Minas Faz Ciência indica os livros 
“superstições” e “Quântica para 
iniciantes”.
48
5 PERguNTAs PARA...
Carlos Nobre, do Ministério da 
Ciência e Tecnologia, que fala 
sobre o clima e os desastres 
naturais
49
ÍN
D
Ic
E
ENgENhARIA 
DE ALImENTOs
sistema de gestão 
desenvolvido na UFV 
permite redução de resíduos
na indústria de laticínios
20
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 5
c
A
R
TA
s
MINAS FAZ CIÊNCIA tem por finalidade divulgar a produção científica e 
tecnológica do Estado para a sociedade. A reprodução do seu conteúdo é 
permitida, desde que citada a fonte.
sou aluno de um curso preparatório para 
vestiulares. Por meio dos professores 
da escola conheci a revista MINAs FAz 
CIêNCIA e me interessei muito pelos te-
mas abordados. Também considero esta 
publicação uma fonte confiável.
Hailton da Cruz Rocha
Estudante
Ibirité/MG
 
MINAs FAz CIêNCIA é importante, pois 
traz os avanços científicos de Minas Ge-
rais, o que é de fundamental importância 
para o Centro Mineiro de referência em 
resíduos (CMrr) e principalmente por 
nos deixar em contato direto com as pes-
quisas que têm sido feitas no Estado. 
Joicely
Centro Mineiro de Referência em Resíduos
Belo Horizonte/MG
 
Como mineiro graduado em Engenharia 
Química na UFMG em 1982, posso dizer 
com propriedadeo “antes tarde do que 
nunca”, pois só agora descobri a revis-
ta MINAs FAz CIêNCIA, já na edição 43, 
junto à outras publicações na sala de café 
aqui da Faculdade de Engenharia Química 
da Unicamp onde sou docente desde 1995. 
Parabéns pela publicação e gostaria de 
saber como faço para recebê-la aqui em 
Campinas-sP.
Everson Alves Miranda
Professor
Campinas/SP
 
Olá, me chamo Ednei e sou aluno do cur-
so de Biologia e Meio Ambiente na Esco-
la superior de Biologia e Meio Ambiente 
(Esma) e tive a oportunidade de conhecer 
a revista Minas faz Ciência que possui um 
ótimo conteúdo.
Ednei Lopes Camargos
Estudante
Iguatama/MG
sou professora de Biologia da rede Esta-
dual de Ensino de Minas Gerais e gostaria 
muito de receber a MINAs FAz CIêNCIA. 
Conheci um exemplar através de um amigo 
e achei muito interessante, as minhas aulas 
podem ficar muito mais ricas e atualizadas.
Priscilla Siqueira Paes
Professora
Porto Firme/MG
sou aluna do segundo período do curso de 
Enfermagem da UFVJM. A minha profes-
sora de Metodologia Científica falou muito 
bem a respeito da MINAs FAz CIêNCIA 
com a nossa turma, e eu gostaria de saber 
se seria possível eu receber os exempla-
res em minha residência. Muito obrigada 
desde já.
Daiana Aparecida Ribeiro Vieira
Estudante
Diamantina/MG
Para receber gratuitamente a revista MINAs FAz CIêN-
CIA, preencha o cadastro no site http://revista.fapemig.
br ou envie seus dados (nome, profissão, instituição/
empresa, endereço completo, telefone, fax e e-mail) 
para o e-mail: revista@fapemig.br ou para o seguinte 
endereço: FAPEMIG / revista MINAs FAz CIêNCIA - 
rua raul Pompéia, 101 - 12.º andar - Bairro são Pedro 
- Belo Horizonte/MG - Brasil - CEP 30330-080
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A incrível aventura do 
crocodilo
pré-histórico
Conheça a história do Campinasuchus dinizi, cujos fósseis 
foram localizados no Triângulo Mineiro, tornando-se a mais 
nova descoberta da paleontologia no Brasil
No Triângulo Mineiro, em um dia do 
ano de 2009, Amarildo Martins Queiroz 
andava pela fazenda Três Antas, de sua 
propriedade, observando o movimento do 
gado, quando decidiu olhar para o chão 
onde as vacas pastavam. Percebeu ali al-
guns ossos diferentes, algo que nunca ti-
nha visto, distinto dos restos mortais dos 
animais que conhecia. Lembrou-se que, 
a 300 quilômetros de Campina Verde, no 
distrito de Honorópolis, onde se localizava 
a fazenda, havia Peirópolis, um bairro de 
Uberaba, e, lá, o Museu dos Dinossauros. 
Amarildo resolveu levar sua nova desco-
berta a alguém que pudesse auxiliá-lo a 
desvendar o sentido daqueles ossos. Foi 
então que procurou pelo geólogo Luiz Car-
los ribeiro, pesquisador da Universidade 
Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e 
responsável pelo museu em Peirópolis.
Fabrício Marques
6 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 7
Ao se ver diante de um pedaço do 
crânio de um animal até então desconhe-
cido, Luiz Carlos exultou. Ele sabia que 
não é raro que leigos encontrem fósseis, e 
o fazendeiro Amarildo acabara de encon-
trar, na superfície do solo de sua fazen-
da, diversos fósseis que, inocentemente, 
eram pisados pelo gado. Logo viu tratar-
-se de um crocodilo, que vivera naquela 
região há milhões de anos.
De acordo com ribeiro, o sítio pale-
ontológico Três Antas pode ser considera-
do o mais novo “Lagerstatten” continental 
brasileiro. Em outras palavras, Três Antas 
apresenta alta concentração de fósseis 
em bom estado de preservação, materiais 
completos, articulados e que nos contam 
detalhes da história biológica da vida du-
rante o Cretáceo superior nas áreas conti-
nentais do Brasil. A descoberta desse sítio 
aponta para ambientes denotando uma 
mortandade em massa provavelmente ad-
vinda de momentos de estresse térmico e 
diminuição extrema ou escassez de água 
em períodos de extrema aridez da bacia.
Quando ocorre uma descoberta 
como essa, os pesquisadores comparam 
esses fósseis com todas as espécies do 
mundo, para ver se já existe alguma clas-
sificação do indivíduo pré-histórico. Feito 
esse trabalho, partem para classificá-lo, 
batizando-o em gênero e espécie. Foi o que 
aconteceu em Campina Verde: o indivíduo 
ali descoberto recebeu o nome científico 
de Campinasuchus dinizi – o sobrenome 
teve o intuito de homenagear um filho de 
Amarildo que morreu ainda criança, Izonel 
Queiroz Diniz Neto.
Em seguida, um artigo é publicado 
em uma revista que seja referência na área, 
sendo que a publicação é avalizada por 
três pareceristas independentes. A desco-
berta de Campina Verde foi publicada na 
Zootaxa, em maio de 2011, quase um ano e 
meio depois que partes do Campinasuchus 
dinizi foram identificadas.
Às vésperas do Natal de 2009, em 
uma primeira expedição de reconhecimen-
to, uma equipe de pesquisadores da UFTM 
dirigiu-se à Campina Verde em busca de 
melhor conhecer as ocorrências da Fazenda 
Três Antas. Acompanhados pelo proprietá-
rio Amarildo Queiroz, os cientistas ficaram 
O trabalho geológico 
mostra-se fundamental 
para a contextualização das 
ocorrências dos fósseis, 
possibilitando assim a 
reconstituição dos cenários 
de vida e o entendimento 
da temporalidade 
representada pelos registros 
paleobiológicos”.
Ismar de Souza Carvalho,
paleontólogo da Universidade
Federal do rio de Janeiro (UFrJ)
surpresos face à riqueza e significância des-
se novo sítio Paleontológico. Mais tarde, o 
proprietário construiria uma cerca para pro-
teger a área do pisoteio do gado, evitando 
assim a destruição dos fósseis.
Mas somente em maio de 2010 é que 
se realizou a primeira escavação sistemática 
para efetivamente se conhecer o potencial 
fossilífero daquela localidade. O paleontó-
logo Ismar de souza Carvalho, da Univer-
sidade Federal do rio de Janeiro (UFrJ), 
integrou esta equipe de campo, se mostran-
do muito impressionado com o novo jazigo 
fossilífero datado de 90 milhões de anos, do 
qual provém alguns dos mais impressio-
nantes fósseis terrestres do Brasil.
Desde então, Ismar Carvalho e o 
geólogo Luiz Carlos iniciaram os estudos 
destes materiais. Não é por acaso que 
geólogo e paleontólogo trabalham juntos 
nessas expedições. “Mais do que um di-
álogo, eles são complementares”, explica 
Ismar. E completa: “Muitos de nossos 
paleontólogos têm uma formação inicial 
como graduados em geologia, o que pos-
sibilita uma plena integração no processo 
de estudo dos fósseis. O trabalho geoló-
gico mostra-se fundamental para a con-
textualização das ocorrências dos fósseis, 
possibilitando assim a reconstituição dos 
cenários de vida e o entendimento da 
temporalidade representada pelos regis-
tros paleobiológicos”.
Amarildo Queiroz, na fazenda Três Antas, 
local da descoberta do fóssil
Foto: Arquivo Museu dos Dinossauros/UFTM
8 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
Para Ismar Carvalho, a descoberta 
de Campinasuchus encontra-se no contex-
to de uma “assembleia de morte”, na qual 
muitos crocodilos foram preservados com 
o esqueleto articulado e praticamente com-
pletos, possibilitando assim o entendimen-
to detalhado de aspectos fisiológicos e da 
dinâmica de vida dos crocodilos terrestres 
que habitaram o interior de Minas Gerais 
no passado geológico de nosso planeta. É 
possivelmente o mais importante jazigo fos-
silífero encontrado no Brasil nos últimos 10 
anos, e que representa uma verdadeira ja-
nela para o entendimento dos ecossistemas 
terrestres há 90 milhões de anos.
“Os fósseis que têm sido descobertos 
em Minas Gerais demonstram uma fauna 
peculiar e distinta da encontrada no hemis-
fério norte, reforçando a concepção de uma 
territorialidade da vida no decurso do tempo 
e uma identidade para a Paleontologia bra-
sileira”, observa o cientistada UFrJ.
Muito embora os fósseis de Cam-
pina Verde tenham sido descobertos pelo 
fazendeiro, não se pode dizer que a maioria 
das descobertas de fósseis se dá por popu-
lares, como alerta Ismar: “Muitos fósseis 
resultam de um trabalho sistemático de 
pesquisa, que geralmente se inicia com o 
trabalho de mapeamento geológico. Deve-
mos ressaltar que a paleontologia também 
tem um vertente de estudo voltada para a 
atividade industrial, como é o caso de sua 
aplicação na prospecção de hidrocarbone-
tos. Neste caso muitos novos fósseis são 
descobertos - os microfósseis - e o mérito 
é exclusivo dos geocientistas envolvidos 
em tais estudos”.
Em novembro de 2010 novas esca-
vações foram realizadas. Esqueletos arti-
culados foram recuperados e engessados, 
a fim de serem transportados até Peiró-
polis para se dar início à próxima etapa 
que compõe a pesquisa paleontológica, 
a preparação dos fósseis. Esse trabalho 
acontece no laboratório, e em síntese 
constitui-se da retirada do fóssil da rocha 
matriz que o contém. A técnicas e os cui-
dados necessários para essa tarefa estão 
a cargo do técnico João Ismael da silva, 
com 20 anos de experiência.
João Ismael observou o bloco susten-
tado pela fôrma de gesso e viu, em sua su-
perfície, tal qual um iceberg, pedaços de um 
fóssil. Até aquele momento, nem ele, nem 
nenhum dos pesquisadores ainda sabia que 
a descoberta remetia ao Campinasuchus 
dinizi, da família Baurusuchidae, família 
esta reconhecida pelo renomado Llewellyn 
Ivor Price em 1945, o patriarca dos pale-
ontólogos de Uberaba. Os baurusuquídeos 
são Crocodyliformes terrestres predadores, 
situados geologicamente na Bacia Bauru 
(Grupo Bauru - Formação Adamantina), 
com idade de 90 milhões de anos. Também 
até aquele momento, só se conheciam os 
seguintes baurusuquídeos do Brasil: Bau-
rusuchus (B. pachecoi; B. salgadoensis; B. 
albertoi) e Stratiotosuchus maxhechti, sen-
do que todos provêm do Grupo Bauru, For-
mação Adamantina, Cretáceo superior de 
são Paulo. Na Argentina, merecem registro 
os baurusuquídeos Cynodontosuchus rothi 
e Wargosuchus australis.
João Ismael divide Peirópolis em 
A.M. e D.M., ou seja, Antes do Museu e 
Depois do Museu do Dinossauro. O mar-
co que colocou o bairro de 250 morado-
res no mapa da paleontologia nacional é 
hoje conhecido como Complexo Cultural 
e Científico de Peirópolis da Universida-
de Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), 
instituição que encampou os esforços do 
professor Luiz Carlos à fim de dar visibi-
lidade ao patrimônio da região e incluir 
os moradores da comunidade nos traba-
lhos do Complexo.
Luiz Carlos atribui a dois eventos o 
fato de ter sua história pessoal ligada a Pei-
rópolis: é que o primeiro dinossauro foi en-
contrado na Fazenda Mangabeira, de seu bi-
savô, em 1945. E, em segundo lugar, sendo 
filho de fazendeiros dedicados ao agronegó-
cio, preferiu seguir a sugestão de seu tio, um 
dos mais importantes jornalistas brasileiros, 
José Hamilton ribeiro, que abriu os olhos 
do sobrinho para a geologia. Luiz Carlos fez 
o curso na Universidade Federal de Minas 
Gerais (UFMG) e voltou para sua terra natal, 
em 1988. são, portanto, mais de duas dé-
cadas dedicadas a pesquisas e descobertas 
de fósseis. Tanta dedicação foi recompensa-
da: o maior dinossauro brasileiro leva seu 
sobrenome, o Uberabatitan ribeiroi. Ele foi 
um dos últimos do planeta, viveu até cerca 
de 65 milhões de anos atrás, momento em 
que uma grande extinção em massa dizimou 
70% de toda vida existente na Terra. 
Na sequência de fotos: primeiro, equipe do Complexo de Peirópolis escava em buca de fóssil; fóssil é 
examinado; equipe transporta esqueleto articulado protegido pelo gesso 
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 9
“Neste caso em especial, o fóssil 
transcende sua própria importância cien-
tífica”, diz ribeiro, numa manhã de 16 
de junho deste ano. Enquanto dirige seu 
carro a caminho do Complexo de Peiró-
polis, ele explica seu ponto de vista. “Em 
Peirópolis os fósseis têm-se mostrado 
como eficazes ferramentas de revitaliza-
ção sócio-econômico-cultural. Através do 
geoturismo, os moradores transformaram 
suas realidades de vida. A Ciência deve 
servir à sociedade e dentro do possível 
ter a máxima aplicação para o bem estar 
das pessoas”. Por conta disso, há todo 
um empenho para que o potencial turís-
tico seja cada vez mais potencializado a 
partir da divulgação de cada nova desco-
berta. Uma busca no Google revela que a 
pequena Peirópolis tem mais citações no 
âmbito da paleontologia do que a cidade 
que a abriga, Uberaba.
Em Peirópolis, juntou-se a nós o mé-
dico patologista Vicente de Paula Antunes 
Teixeira, coordenador do Complexo desde 
2009. Dali, nosso destino era a Caieira, tam-
bém denominado Ponto 1 do Price, distante 
2 km ao norte do bairro, localizado em uma 
fazenda particular, onde uma equipe de es-
cavação, composta de cinco funcionários – 
todos da comunidade – se via às voltas com 
marretas, ponteiros, pincéis e um martelete 
com gerador (uma recente aquisição para 
acelerar a procura dos fósseis).
Por volta de 11 horas da manhã, o 
guia turístico Plínio Lopes dos Anjos con-
duzia 20 crianças de Patrocínio (município 
que dista 200 quilômetros de Uberaba), em 
excursão para conhecer as escavações. Ali, 
eles podiam perceber os cinco trabalha-
dores na encosta, que há milhões de anos 
constitui paisagem muito distinta de hoje, 
o que os geólogos chamam de bacias se-
dimentares. Em um contexto do passado 
representa ambientes geológicos formados 
por sucessões de depósitos de rios que 
drenavam a região e juntamente com os 
sedimentos também eram arrastados os 
restos dos animais pré-históricos que ali 
viviam. Agora, o que se vê são rochas sedi-
mentares onde a areia dos rios está cimen-
tada com carbonato de cálcio que por vezes 
constituem verdadeiros pacotes de calcário, 
sedimentos estes formados de substâncias 
químicas fundamentais para o processo de 
fossilização. Todo este pacote de rochas 
recebe o nome de Formação Marília, com 
fósseis de 65 a 72 milhões de anos.
“Por que em Uberaba se acha mais 
fóssil?”. se algum desavisado pergun-
ta, Luiz Carlos já tem a resposta pronta: 
“Porque se escava mais”. E aponta para a 
encosta, brilhando no céu claro de junho: 
“daqui saíram três dinossauros, três cro-
codilos e em breve uma nova rã deverá 
ser descrita. Desses, um pequeno dinos-
sauro carnívoro pertencente ao grupo dos 
Maniraptoriformes, dois dinossauros her-
bívoros titanossauros: Baurutitan britoi, 
Trigonosaurus pricei, os crocodyliformes: 
Peirosaurus tormini, Itasuchus jesuinoi e 
Uberabasuchusus terrificus. Uma nova es-
pécie de ovo de titanossauro também de-
verá ser apresentada em breve, proveniente 
deste ponto: é muita relevância científica 
para uma única localidade”.
“Em Peirópolis os fósseis 
têm-se mostrado como 
eficazes ferramentas 
de revitalização sócio-
econômico-cultural. Através 
do geoturismo os moradores 
transformaram suas realidades 
de vida. A Ciência deve 
servir à sociedade e dentro 
do possível ter a máxima 
aplicação para o bem estar 
das pessoas”.
Luiz Carlos Ribeiro,
pesquisador da Universidade Federal do Triângulo Mineiro 
(UFTM) e responsável pelo museu em Peirópolis.
10 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
Além da FAPEMIG, também apoiam a 
pesquisa a Fundação Carlos Chagas Filho 
de Amparo à Pesquisa do Estado do rio de 
Janeiro (Faperj), o Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
(CNPq) e a Henkel do Brasil.
Reconstituição
Em poucos meses, uma animação em 
3D será apresentada no rio de Janeiro para 
divulgar como era e como vivia o Campina-
suchus dinizi. Com os recursos dessa tec-
nologia, os espectadores poderão conhecermelhor esse animal essencialmente terres-
tre comprovado pelos membros longos e 
retos, olhos laterais, narinas frontais, cauda 
cilíndrica e poucos osteodermos, o que o 
tornava mais leve e ágil e cauda mais curta.
O fóssil de Campinasuchus foi en-
contrado com fragmentos de rochas em 
sua porção abdominal, ou seja, gastrólitos 
que ajudariam na trituração e digestão de 
alimentos. Os membros anteriores e pos-
teriores eram muito compridos, possivel-
mente adaptados para ter uma postura ere-
ta, diferente aos jacarés atuais que apoiam 
o peito no chão durante seu deslocamento. 
Possivelmente foi muito ágil e sua 
principal fonte de alimento eram peixes, 
tartarugas, assim como também pequenos 
crocodyliformes e dinossauros herbívoros 
de pequeno tamanho.
Quem trabalha nessa reconstituição é 
o paleoartista rodolfo Nogueira, de 24 anos, 
contratado pela multinacional Henkel do Bra-
sil, que há 15 anos é parceira do Museu dos 
Dinossauros. Ele é formado em desenho in-
dustrial pela Unesp, de Bauru, e tinha 6 anos 
quando o Museu em Peirópolis foi inaugu-
rado. Com 12 anos, fez sua primeira paleo-
arte, e não parou mais. Na reconstrução, ele 
trabalha com espuma floral, que é o material 
usado para construir a réplica.
A exibição do minidocumentário em 
3D é uma estratégia pensada também para 
atrair novas gerações ao poder da paleon-
tologia – do grego palaios = antigo –, a 
ciência que estuda os fósseis.
É a mesma motivação que reúne um 
grupo de bolsistas de iniciação científica em 
torno do Complexo de Peirópolis, todos – 
com exceção de Lívia – graduandos na UFTM: 
a estudante de Engenharia Ambiental Patrícia 
Fonseca Ferraz, 20 anos e a estudante de Bio-
logia Isabella Cardoso Cunha, 21 participam 
das pesquisas há quatro anos. O estudante de 
Geografia Gabriel Cardoso Cunha, 23, e a en-
fermeira Lívia Ferreira Oliveira, 26, chegaram 
há um ano. A doutora em Patologia Mara Lúcia 
da Fonseca Ferraz, que chegou a Peirópolis na 
mesma época que o professor Vicente, reco-
nhece neles um grupo curioso e empolgado, 
com muito trabalho pela frente: “Ainda há 80 
mil anos de pesquisa”, comemora. 
Gabriel, Isabella e Patrícia também 
assinam o artigo na revista Zootaxa, e todos 
eles, de uma forma ou de outra, têm boas 
lembranças do dia da descoberta do Campi-
nasuchus. Gabriel participou das escavações 
dos fosséis do crocodilo e da preparação 
para exposição. “Foi meu primeiro trabalho 
de campo, já resultando em uma grande des-
coberta. Foram dias cansativos de trabalho 
braçal, porém tudo foi muito recompensador, 
pelo grupo em que estávamos, pelo local de 
escavação (cheio de fósseis) e pelo motivo de 
estarmos ali (uma nova espécie)”, afirma.
Isabella conta que conheceu o campo 
de Campina Verde em 2010, na segunda 
expedição ao local. “Conosco estava o pro-
fessor Ismar de souza Carvalho e alguns da 
Acima, reconstituição do Campinasuchus, feita por rodolfo Nogueira; 
abaixo, o pesquisador Luiz Carlos examina peça do crocodilo
Fotos: Arquivo Museu dos Dinossauros/UFTM
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 11
EQuOTERAPIA
Em PEIRóPOLIs
Com a estruturação do Polo de 
Pesquisas e Centro de Equoterapia do 
CCCP/UFTM de Peirópolis, a fisiote-
rapeuta Ana Paula Espíndula preten-
de beneficiar, através das pesquisas 
desenvolvidas, um número maior de 
crianças, além de adultos. Atualmente, 
o trabalho financiado pela FAPEMIG 
beneficia, de forma indireta, em média 
200 crianças com paralisia cerebral, 
síndrome de Down e com atraso no de-
senvolvimento intelectual, atendidas na 
Equoterapia da Apae de Uberaba. 
O trabalho teve início em novem-
bro de 2009 e os dados coletados até 
junho deste ano, por meio do eletromi-
ógrafo - um equipamento que mensura 
a contração muscular – permitiram ve-
rificar se a prática da Equoterapia é efi-
caz para o grupo de crianças estudadas 
e qual o melhor tipo de material de mon-
taria para as sessões dessas crianças.
nossa equipe de Peirópolis, juntamente com 
o argentino que nos auxilia na pesquisa, 
Agustín Martinelli. O local é de extrema be-
leza, visto que, a cada passo encontrávamos 
fósseis em todos os lados. Frágeis, tomáva-
mos bastante cuidado, utilizando apenas um 
pincel para separarmos a rocha do fóssil”. 
Ela se recorda que, enquanto isso, outros 
profissionais desbravavam um crocodilo 
encontrado. “A imprensa também estava 
presente e todos ficaram muito empolgados 
com tudo o que poderíamos estudar daquele 
local. Apesar da viagem ter sido cansativa, 
voltamos com muitos planos em mente para 
vários anos seguintes”.
O contato com a paleontologia modi-
ficou a visão de mundo de Isabella: “Hoje 
posso dizer que levo comigo outra visão 
sobre várias coisas no mundo. Uma rocha 
deixou de se tornar uma pedra e um osso 
se tornou uma expectativa para uma desco-
berta muito maior, o nosso passado. Uma 
tartaruga simboliza pra mim, hoje, algo de 
extrema beleza e de fundamental importân-
cia para compreendermos a nossa frágil 
Cambaremys langertoni, dentre outros”. 
Para a estudante, a paleontologia não é sim-
plesmente uma cultura de sua cidade, ela 
complementa a história perdida na Terra. Ela 
diz que tem muito orgulho de fazer parte de 
um estudo tão importante e de estar em uma 
equipe tão preparada e amiga como a de 
Peirópolis. “Espero não só continuar com a 
minha bolsa de iniciação científica sobre pa-
leontologia, como também me preparar para 
meu campo de trabalho que tanto admiro”.
Tudo somado, o contato com a pa-
leontologia parece criar um laço invisível 
com a Infância da Terra. Talvez por isso, 
PROJETOs DA fAPEmIg
 
PRoJETo: Museu dos dinossauros: Popularização e divulgação da Paleontologia na se-
mana Nacional de Ciência e Tecnologia 
CooRDEnADoR: Vicente de Paula Antunes Teixeira
MoDALIDADE: Popularização da Ciência e Tecnologia
VALoR: r$ 43.890
 
PRoJETo: Museu dos dinossauros – Ampliação e revitalização do Complexo Científico-
-Cultural de Peirópolis 
CooRDEnADoR: Vicente de Paula Antunes Teixeira
MoDALIDADE: Popularização da Ciência e Tecnologia
VALoR: r$ 169.404
 
PRoJETo: Museu dos dinossauros: Paleontologia ao alcance de todos
CooRDEnADoR: Mara Lúcia da Fonseca Ferraz
MoDALIDADE: Popularização da Ciência e Tecnologia
VALoR: r$ 178.710 
PRoJETo: Efeitos da Equoterapia em pessoas com paralisia cerebral espástica
CooRDEnADoR: Vicente de Paula Antunes Teixeira
MoDALIDADE: Edital Universal
VALoR: r$ 31.083
O paleoartista rodolfo 
Nogueira examina o crânio 
do crocodilo pré-histórico
Foto: Arquivo Museu dos Dinossauros/UFTM
o paleoartista rodolfo Nogueira diga, 
enquanto trabalha na reconstrução do 
crocodilo pré-histórico: “ainda não saí 
da fase de gostar de dinossauros”. Um 
pensamento que o coordenador do Com-
plexo de Peirópolis, o professor Vicente, 
reconheceria, observando a equipe de 
escavação procurando fósseis na Caeira, 
e as crianças de Patrocínio se delician-
do com suas descobertas, numa manhã 
de junho - ao lembrar de uma frase do 
romancista Tom robbins: “Nunca é tarde 
para ter uma infância feliz”.
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Em Socráticas, seu livro póstumo, o 
escritor, pensador e crítico literário José 
Paulo Paes (1926-1998) publicou um po-
ema que, à luz dos atuais acontecimentos, 
poderia ser chamado de “premonitório”. 
Para explicar o (novo) fim dos tempos, o 
autor paulista vaticina, de modo irônico, 
nos breves – mas profundos – versos de 
Apocalipse: “O dia em que cada habitan-
te da China tiver o seu Volkswagen”. Para 
além de sua intensidade estética, o chiste 
contra as buzinas 
do apocalipse
Estudos do Núcleo de Transportes da Escola de Engenharia da UFMG 
buscam discutir a mobilidade urbana e, consequentemente, melhorar a 
qualidade de vida dos cidadãos 
Maurício Guilherme Silva Jr.
predição realizada já na aberturadesta 
reportagem parece estar, com ênfase, no 
investimento em pesquisas científicas 
e tecnológicas. Trata-se, em suma, de 
estudos capazes de não só diagnosticar 
os problemas viários das gigantescas 
cidades, como de apresentar criativas e 
solidárias soluções para melhoria dos 
fluxos de veículos e pedestres, o que, de 
diversos modos, resultará em melhoria 
da qualidade de vida dos cidadãos. “O 
poético de Paes acaba por “fotografar” o 
cenário que, dia a dia, parece estar mais 
próximo das megalópoles e suas vas-
tas populações: caso não se invista na 
redução do número de veículos em vias 
públicas, assim como na instauração de 
produtos, princípios e projetos inovado-
res de mobilidade urbana, o crepúsculo 
dos tempos parece não demorar. 
Afora necessárias mudanças com-
portamentais, o antídoto à tenebrosa 
12 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 13
que se busca é a gerência de mobilidade, 
por meio da redução da necessidade do 
uso do automóvel. Para tal, é imprescin-
dível que se invista em veículos como a 
bicicleta e em melhoria do transporte pú-
blico”, ressalta Heloisa Maria Barbosa, 
professora do Departamento de Enge-
nharia de Transporte e Geotecnia (ETG) 
da Escola de Engenharia da Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG).
O comentário da pesquisadora vai 
ao encontro dos princípios e metas dos 
muitos projetos desenvolvidos há décadas 
no ETG, por meio de seu Núcleo de Trans-
portes (Nucletrans), com vistas à melhoria 
das condições de mobilidade urbana em 
diversas cidades brasileiras. Criado em 
1995, o órgão é responsável por estudos 
em torno de temáticas como acessibilida-
de, segurança e logística. Trata-se de in-
vestigações concebidas, muitas vezes, por 
meio de convênios de cooperação técnica, 
firmados com organismos governamentais 
e empresas privadas, ou a partir de recur-
sos provenientes do Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
(CNPq) e da FAPEMIG.
Ao longo dos anos, os pesquisado-
res do Nucletrans investiram em pesquisas 
para execução de importantes projetos 
relacionados ao transporte público e ao 
tráfego da região Metropolitana de Belo 
Horizonte, a exemplo do estudo de viabi-
lidade da extensão do trem metropolitano 
até a região de Venda Nova. Outra proposta 
do Núcleo resultou na inovadora iniciativa 
Pesquisa BH, que busca identificar a opi-
nião de moradores acerca da qualidade de 
vida urbana nas diversas regiões da capital 
mineira, além de realizar o raio-X das con-
dições de acesso a locais de interesse.
Bicicletas e bicicletários
Tais projetos ressaltam, aliás, um dos 
focos mais importantes das pesquisas, na 
UFMG e outras instituições do País, que 
pretendem diagnosticar e apresentar solu-
ções aos atuais problemas de mobilidade 
urbana: compreender os modos e razões de 
uso do espaço público para, então, agir de 
modo eficiente. Como exemplo da impor-
tância de cumprir tais etapas para implan-
tação de propostas eficazes, pense o leitor 
numa das mais discutidas alternativas ao 
uso do carro nos grandes centros: a lúdica 
e polêmica bicicleta. Para que tal veículo – 
barato e nada poluente – torne-se realidade 
no dia a dia das metrópoles, seria neces-
sária apenas, a construção, por exemplo, 
de ciclovias e bicicletários? Não há, clara-
mente, como responder de forma simples a 
tão complexa questão. Afinal, bem antes de 
se concretizarem os “produtos”, há que se 
investir, em primeiro lugar, na compreensão 
das reais demandas da população.
Indícios interessantes sobre o quê 
pensar acerca da questão foram apresen-
tados em pesquisa desenvolvida no ETG 
como Trabalho de Conclusão de Curso de 
autoria da aluna Catarina Miranda sampaio 
e Castro – sob orientação da professora 
Heloisa Maria Barbosa. O estudo revelou 
números e análises qualitativas bastante 
promissoras com relação ao uso de bici-
cletas por frequentadores da Estação BH-
Bus de Integração Metrô-Ônibus Vilarinho, 
em Belo Horizonte. “Buscava-se compre-
ender os porquês de as pessoas usarem, 
ou não, as bicicletas no cotidiano. Neste 
sentido, o que faltaria para que passassem 
a usufruir do veículo? Vias apropriadas? 
Bicicletários?”, questiona a professora. 
A partir de entrevistas realizadas com 
os passageiros da Estação – feitas com 
base em questionários de metodologia es-
pecial –, percebeu-se que a temática da se-
gurança, em diversos sentidos, revelava-se 
como elemento fundamental à discussão: 
31% dos cidadãos abordados pelo estudo 
não usariam bicicletas, de suas casas à 
unidade do BHBus, em função, justamente, 
dos problemas de insegurança pública e – 
outro lado da mesma moeda – por conta 
dos perigos inerentes ao circular no trânsi-
to da capital mineira: “Foi possível perce-
ber, a partir daí, que ações aparentemente 
paralelas, como a melhoria do policiamen-
to nas ruas ou a instalação de bicicletários 
controlados, na Estação, seriam capazes de 
estimular as pessoas ao uso da bicicleta”, 
comenta a professora.
Os outros números da pesquisa, no 
que tange às possíveis ações necessárias 
à efetivação das bicicletas como meio de 
transporte diário das pessoas, disseram 
respeito a exigências como instalação de 
“Foi possível perceber, 
a partir daí, que ações 
aparentemente paralelas, 
como a melhoria do 
policiamento nas ruas ou a 
instalação de bicicletários 
controlados, na Estação, 
seriam capazes de 
estimular as pessoas ao 
uso da bicicleta”
Heloisa Maria Barbosa,
professora do Departamento de Engenharia de Transporte e 
Geotecnia (ETG) da Escola de Engenharia da Universidade 
Federal de Minas Gerais (UFMG)
14 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
ciclovias (28%) ou de bicicletários (26%) 
e, por último, à possibilidade de os pas-
sageiros carregarem suas bikes no inte-
rior dos ônibus ou trens (15%). Por mais 
que pareçam satisfatórias, contudo, tais 
conclusões revelam apenas parte do que 
buscam os pesquisadores, centrados no 
objetivo de oferecer soluções de mobilida-
de urbana aos cidadãos. 
Nesta mesma investigação do Nu-
cletrans, descobriu-se, por exemplo, que 
questões inocentemente óbvias precisam 
ser levadas em conta, como fatores semi-
nais aos fenômenos observados no tráfego 
diário das cidades: no caso específico da 
Estação Vilarinho, 30% dos entrevistados 
disseram não ter bicicleta, enquanto 29% 
revelaram morar longe demais do BHBus. 
Por fim, 19% dos entrevistados pela pes-
quisa confessaram não ter preparo físico 
necessário à atividade, pois que, na atuali-
dade, definem-se como “sedentários”.
Barreiras
são múltiplos os desafios em busca 
de soluções para problemas de mobilida-
de urbana. Tal complexidade, inerente ao 
tema, faz com os pesquisadores da área 
diversifiquem suas vertentes de estudo – 
da experimentação de dispositivos físicos 
para moderação do tráfego (redutores de 
velocidade, semáforos, radares etc.) a in-
vestigações sobre “origem e destino” dos 
transeuntes e cidadãos motorizados. “Pre-
cisamos lidar com inúmeras variáveis, que, 
no cotidiano, afetam o comportamento de 
pedestres e motoristas”, explica a profes-
sora Heloisa Maria Barbosa.
Imagine, por exemplo, a proposta 
de reestruturação de uma grande aveni-
da de Belo Horizonte, com o intuito de 
estimular os automóveis a diminuir a 
velocidade e, consequentemente, redu-
zir os riscos de acidentes. Tal tarefa de 
moderação do tráfego acaba por exigir 
diversas ações de investigação compor-
tamental. Neste exemplo fictício, há de 
se considerar tanto os detalhes, quanto o 
que aqui será chamado de “macro-inter-
venções”. Em outras palavras, é preciso 
estar atento, por exemplo, ao formato 
das calçadas e ao modo como as pes-
soas caminham por elas: “É necessário 
compreender o quê, exatamente, os pe-
destres acham importante nas calçadas 
públicas”, ressaltaHeloísa, ao comentar 
a necessidade de estudos sobre a qua-
lidade da travessia dos transeuntes por 
uma via urbana. 
sob outro foco, também as pesquisas 
de “origem e destino” – já realizadas pelo 
Nucletrans em Belo Horizonte (1992) e 
Teresina (1997) – são importantes por 
revelar dados importantes a estudiosos e 
gestores públicos: o que, afinal, pretendem 
os cidadãos ao transitar pela cidade? De 
que modo o fazem? E com que expecta-
tiva? As respostas a tais questões levam 
os pesquisadores a gerar subsídios para 
implantação, por exemplo, de modelos 
eficientes, mais baratos e menos poluentes 
de transporte público. 
Tais estudos de “origem e destino” são 
realizados com periodicidade de dez 
anos e se revelam importantes para o 
planejamento de transportes. As referidas 
pesquisas realizadas em Belo Horizonte e 
Teresina já tiveram seus desdobramentos. 
Neste primeiro semestre de 2011, inicia-
ram-se os trabalhos da segunda investi-
gação dessa natureza na capital mineira e 
em sua região Metropolitana. 
Foto: Marcelo Focado
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 15
Ações e equipamentos
O Nucletrans já realizou importan-
tes projetos de moderação do tráfego e 
reestruturação da circulação viária e do 
transporte público em diversas cidades 
mineiras e de outros estados do País. 
Uma das investigações em andamento, 
atualmente, trata dos modelos de pre-
visão de acidentes. A iniciativa reúne 
a UFMG e outras seis universidades 
públicas do País e uma instituição de 
ensino superior portuguesa. “Buscamos 
analisar os números e a natureza dos 
acidentes e correlacioná-los, por exem-
plo, ao volume do tráfego. Tais modelos 
estatísticos são importantes para que 
avaliemos o que tem acontecido nas vias 
públicas e possamos direcionar ações 
de segurança viária”, explica Heloisa 
Maria Barbosa.
Como forma de compreender os 
fatores que podem levar a acidentes, os 
pesquisadores estudam elementos di-
versos, da sinalização ao formato da via, 
do posicionamento e estrutura dos can-
teiros aos números de faixas de tráfego. 
“Neste projeto, cada universidade tem 
procurado compreender tais correlações 
nas ruas de sua cidade”, explica Heloísa, 
ao lembrar, contudo, que os principais 
desafios dos estudiosos têm sido os 
bancos de dados governamentais, que 
apresentam muitas falhas e nem sempre 
estão no formato adequado ao estudo. 
“Em Belo Horizonte, por exemplo, co-
meçamos pela área central. Lá, os apa-
relhos contadores de volume de tráfego, 
muitas vezes, param de funcionar. E nós 
precisamos das informações de todos os 
365 dias do ano”, completa.
Interessante ressaltar, por fim, a na-
tureza dos equipamentos hoje disponíveis 
aos pesquisadores de mobilidade urbana 
e outras questões de tráfego. Há uma sé-
rie de aparelhos capazes de auxiliá-los 
no dia a dia das investigações. Com fi-
nanciamento de instituições como CNPq 
e FAPEMIG, os estudiosos da UFMG 
adquiriram, por exemplo, radares de 
mão aptos a medir, nas vias públicas, a 
velocidade dos carros que por ali passam. 
Outro “brinquedinho” bastante ágil e im-
portante, uma espécie de “GPs rastreador 
ufmg sEDIARÁ 
cONgREssO
sObRE TRANsPORTEs
A professora Heloisa Maria Bar-
bosa é presidente do comitê local res-
ponsável por organizar, de 7 a 11 de 
novembro de 2011, o XXV Congresso de 
Pesquisa e Ensino em Transportes (www.
xxvanpet.com.br) da Associação Nacio-
nal de Pesquisa e Ensino em Transpor-
tes (Anpet). Nesta edição comemorativa 
dos 25 anos de existência da entidade, 
a UFMG sediará o evento, realizado em 
parceria com o Departamento de Enge-
nharia de Transportes e Geotecnia (ETG) 
da Escola de Engenharia da UFMG e a 
secretaria de Transportes e Obras Públi-
cas do Estado de Minas Gerais.
Ao longo do Congresso, serão 
discutidos temas de grande interesse 
para os profissionais do setor, de modo 
a possibilitar que todas as esferas li-
gadas às atividades dos transportes 
– sejam acadêmicas, científicas, pro-
fissionais, privadas ou governamentais 
– possam debater e apresentar proble-
mas e soluções, além de refletir sobre 
possíveis linhas de ação em ambiente 
cooperativo e instrutivo.
O Encontro deve reunir cerca de 
400 participantes para apresentação e 
discussão de mais de 250 artigos técni-
cos e científicos relativos a transportes. 
O evento abrigará também seminários, 
conferências e mini-cursos, assim como 
feira para empresas e instituições inte-
ressadas em divulgar os avanços cien-
tíficos e tecnológicos do setor.
passivo” permite que dados diversos do 
carro – não só velocidade, mas também 
deslocamento e tempo de viagem – sejam 
registrados com eficiência. Ao analisar 
tais números e índices, é possível infe-
rir uma série de prerrogativas acerca do 
comportamento dos motoristas. 
Atualmente, os pesquisadores do 
Nucletrans têm buscado compreender 
– com o auxílio de tais equipamentos 
e, obviamente, apoiados no vasto know 
how adquirido ao longo dos anos por 
professores e alunos – a rede de fluxos 
de carros e pedestres no próprio campus 
Pampulha da UFMG. “Afinal, podemos 
observá-lo como se estivéssemos numa 
mini-cidade. Percorremos as vias inter-
nas e registramos, em softwares de si-
mulação de tráfego, uma série de dados 
reais importantes”, explica a professora, 
ao lembrar que, a partir de tal “leitura de 
cenário”, decisões importantes podem ser 
tomadas para melhoria do tráfego na Ins-
tituição. Assim como há de ser feito nas 
maiores cidades brasileiras.
PRoJETo: Efeitos da moderação de tráfego 
para o transporte não
motorizado e o desenvolvimento sustentável
CooRDEnADoR: Heloisa Maria Barbosa
MoDALIDADE: Programa de infra-estrutura 
para jovens pesquisadores 
VALoR: r$ 11.022
PRoJETo: Transporte urbano sustentável 
através da moderação de
tráfego e desenvolvimento tecnológico
CooRDEnADoR: Heloisa Maria Barbosa
MoDALIDADE: Programa Pesquisador 
Mineiro - PPM III
VALoR: r$ 48.000
“Em Belo Horizonte, por 
exemplo, começamos pela 
área central. Lá, os aparelhos 
contadores de volume de 
tráfego, muitas vezes, param 
de funcionar. E nós precisamos 
das informações de todos os 
365 dias do ano”
Heloisa Maria Barbosa
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das árvores
Anos de pesquisa dedicados às tecnologias florestais rendem 
frutos ao professor José Roberto Scolforo, da Ufla, e sua equipe 
16 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
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Fabrício Marques
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 17
A Ciência Florestal ergueu cedo suas 
raízes na vida do vice-reitor e pesquisador 
da Universidade Federal de Lavras (Ufla), 
José roberto soares scolforo, o vencedor 
da edição 2001 do prêmio Frederico de Me-
nezes Veiga, promovido pela Embrapa. Ele 
passou muito de sua infância na proprieda-
de de seu avô paterno. Esse período, soma-
do ao contato com pessoas de sua cidade 
natal, Castelo, no Espírito santo, que se 
graduaram em Engenharia Florestal, o ins-
tigaram a conhecer mais a fundo esse curso. 
scolforo percebeu, desde essa épo-
ca, que parecia bom aprender sobre sis-
temas de produção, sobre a ecologia das 
espécies e dos fragmentos nativos, como 
regular a produção florestal de plantações, 
ou da vegetação nativa, como inventariar 
os recursos florestais, como desenvolver 
modelos matemáticos para prever o cres-
cimento das florestas e das espécies nela 
contidas e também como fazer o processa-
mento da madeira, como utilizá-la de for-
ma sustentável, ora conservando-as, ora 
preservando-as. Assim, seguiu o mesmo 
caminho de seus conterrâneos.
No entanto, o despertar de fato para a 
Ciência Florestal se deu à medida que ad-
quiria mais conhecimentos, o que ocorreu 
durante a realização do curso de Engenha-
ria e, posteriormente, com asoportunida-
des profissionais que teve, nas Universi-
dades Federais da Paraíba e de Lavras em 
especial, com empresas florestais e com 
as Agências de Amparo a Pesquisa. “Nes-
se contexto, a FAPEMIG foi muito especial, 
uma vez que, além de ter sido membro da 
Câmara de Ciências Agrárias, tive também 
o prazer de ser seu coordenador, além de, 
ao longo da carreira, aprovar vários proje-
tos nessa instituição”.
O prêmio da Embrapa foi conferido 
pelo conjunto das pesquisas coordenadas 
pelo professor na área de Tecnologias Flo-
restais para sustentabilidade dos Biomas. 
scolforo é um dos precursores, em florestas 
nativas, da pesquisa em manejo para usos 
múltiplos da vegetação do cerrado, nas pes-
quisas com candeia, além de atuar fortemen-
te no manejo e modelagem de plantações. 
Juntamente com a equipe de pesquisadores 
do Laboratório de Estudos e Projetos em Ma-
nejo Florestal (Lemaf), e do zEE, da Ufla, ele 
desenvolveu, ao longo da carreira, diversos 
projetos na área de manejo florestal. Dessa 
experiência, scolforo pode transmitir algu-
mas lições importantes para novos pesqui-
sadores. De acordo com ele, é fundamental 
ter a mente aberta a novos conhecimentos. 
“Muito há que se aprender sobre o potencial 
para produção de madeira de várias espécies 
nativas, assim como para fins medicinais, 
para cosméticos, para licores, para doces, 
sorvetes e muitos outros usos”.
Outro ponto importante, em sua opi-
nião, é aprofundar os conhecimentos cien-
tíficos, para que o “achismo” ou a intuição 
passem a ser componentes secundários na 
apropriação dessas espécies para fins co-
merciais ou de preservação. “É necessária a 
realização de estudos objetivos a respeito de 
crescimento, produção, manejo, ecologia, 
melhoramento genético, nutrição, sistemas 
silviculturais, Química, Física, Engenharia 
de Alimentos, entre outros, que possibilitem 
que as muitas centenas de espécies nati-
vas possam vir a ter seu papel e potencial 
compreendido, de maneira que a população 
possa vir se apropriar delas”, diz. 
E completa: “É também fundamental 
que se tenha compromisso com a con-
tinuidade dos estudos, com a prática da 
multidisciplinaridade dentro da academia, o 
compromisso das equipes de pesquisado-
res com a geração de produtos, que incluam 
desde novos conhecimentos até contribui-
ções mais pragmáticas que promovam o 
bem estar e as expectativas da sociedade. 
Igualmente fundamental é o financiamento 
de longo prazo de pesquisas dessa natureza 
para que a continuidade dos estudos possa 
ser viabilizada financeiramente”.
Ao refletir sobre a premiação da Em-
brapa, scolforo faz questão de lembrar que, 
embora os prêmios sejam conferidos indivi-
dualmente, mas de fato são mais da família, 
que se sacrifica, se doa e também lhe dá 
apoio em todos os sentidos. “Todavia não 
há como deixar de compartilhá-lo também 
com a equipe de trabalho, que tenho o pra-
zer de liderar, em especial os professores, 
os técnicos e estudantes envolvidos nas 
pesquisas desenvolvidas Lemaf. É de fato 
um trabalho de grupo feito por muitas mãos, 
muitos cérebros e muita dedicação”.
Dos diversos projetos conduzidos 
pelo pesquisador, três são mais especiais: 
o “zoneamento Ecológico Econômico do 
Estado de Minas Gerais (zEE)”, de 2005 a 
Informações completas no Portal do 
Inventário Florestal, de domínio pú-
blico, contidas em aproximadamente 
3.800 páginas de oito livros disponí-
veis em PDF:
 
http://inventarioflorestal. 
meioambiente.mg.gov.br/
2008; o “Mapeamento e Inventário da Flo-
ra Nativa e dos reflorestamentos de Minas 
Gerais”, de 2003 a 2010; e o “Projeto Can-
deia”, de 2000 a 2010.
sobre o Mapeamento e Inventário, 
scolforo observa: “Nesta pesquisa, tivemos 
a oportunidade de desenvolver uma série de 
ações integradas com o Estado de Minas 
Gerais que propiciaram a geração de novos 
conhecimentos e processos tecnológicos 
Foto: José Roberto Scolforo/Acervo pessoal
18 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
que credenciam o Estado a ter as mais mo-
dernas ferramentas de gestão do ambiente, 
dentre todos estados da Federação”. O foco 
do programa de geração de conhecimentos 
ambientais em consonância com a produ-
ção resultante dos reflorestamentos foi cen-
trada na geração da informação com qua-
lidade, precisão e prioridade, e se tornou, 
cada vez mais, uma importante ferramenta 
para a definição de políticas públicas e de 
estratégias para a aplicação dos instrumen-
tos de comando e controle no que concerne 
aos remanescentes florestais. 
Por esse motivo, o Governo de Mi-
nas Gerais, por meio da secretaria de Es-
tado de Meio Ambiente e Desenvolvimento 
sustentável (semad), em conjunto com 
instituições de pesquisa e organizações da 
sociedade civil, vem, desde 2003, implan-
tando um dos mais modernos sistemas de 
informações georeferenciadas do país. 
A elaboração do Inventário das Flores-
tas de Minas, executado pela Ufla e publicado 
em 2005, em 2008, e com novas publicações 
sendo preparadas, propiciou uma série de 
informações em relação à qualidade dos re-
manescentes florestais de Minas, inclusive 
relacionadas à determinação do estoque de 
carbono e ao acompanhamento contínuo do 
desenvolvimento das florestas, por meio de 
medições em mais de 4.400 parcelas perma-
nentes de 1.000 metros quadrados de área 
nas quais são avaliadas 780 mil árvores. 
Dentre os oito volumes publicados até 
então, contidos em mais de 3.800 páginas, 
encontram-se informações taxonômicas e 
sobre o hábito, a distribuição e o estado de 
de Minas, hoje, inspira cuidados permanen-
tes e a necessidade de aprimoramento das 
Políticas Públicas por parte do Estado. 
Na questão dos reflorestamentos, co-
menta o pesquisador, é preciso ampliar a 
área com plantações florestais, diversificar 
o manejo a fim de que se possa produzir, 
por exemplo, de biomassa para atender as 
demandas integrais do parque siderúrgico, 
e as demandas por energia, até madeira 
grossa para fins de processamento mecâni-
co com consequente uso na indústria move-
leira, dentre outras. Também é preciso im-
plantar povoamentos dentro do contexto do 
manejo da paisagem, acentuar o programa 
de extensão florestal para o pequeno pro-
dutor e estimular o empreendedorismo no 
aproveitamento da madeira, através de sua 
industrialização que permita agregação de 
renda ao pequeno produtor. “Porém, não há 
como deixar de destacar a evolução fantás-
tica na silvicultura, no manejo e no cuidado 
ambiental que as empresas consolidadas e 
organizadas implementam atualmente”. 
No caso da vegetação nativa, diz o 
pesquisador, há um contingente de área 
acima de 34% do território mineiro, o que, 
em sua opinião, é muito bom. Porém, a 
distribuição dessa vegetação nativa é desi-
gual no Estado. “Há áreas com proporcio-
nalmente menos cobertura da flora nativa, 
como o caso do Triângulo Mineiro, Leste 
de Minas e mesmo o sul do Estado. Há 
ainda uma certa heterogeneidade no está-
gio de conservação dessa vegetação, bem 
como muitas áreas em ótimo estado de 
conservação, além de outras muito sujeitas 
à antropização, ou seja, à ação do homem.
Contudo, Minas tem criado um gran-
de número de unidades de conservação de 
proteção integral e no controle ao desmata-
mento, há ações que nenhum outro Estado 
da Federação possui, como o monitoramen-
to mensal de toda cobertura com vegetação 
nativa e também o mapa da cobertura a cada 
dois anos para fins de planejamento estra-
tégico, com uma ação fantástica de campo 
onde monitora o desenvolvimento de mais 
de 780 mil árvores das diferentes fito-fisio-
nomias existentes em Minas. Ainda nesse 
tema desenvolve um arrojado programa de 
revegetação da Mata Atlântica e de outros 
biomas através de diferentes opções de re-
cuperação de área.
conservação de aproximadamente 2.500 es-
pécies florestais. O trabalhoainda referencia 
nomes regionais, aborda novas espécies 
que foram descobertas e considera mais de 
60 espécies cuja ocorrência ainda não havia 
sido identificada pela comunidade científica, 
em Minas. “Com mais esse importante ins-
trumento, está sendo possível identificar e 
determinar os principais atores e as princi-
pais causas que levam a alteração do uso do 
solo mineiro e ao empobrecimento de sua di-
versidade biológica”, ressalta. Permitiu ain-
da a geração de informações ultra detalhadas 
sobre a estrutura dos Biomas Cerrado, Ca-
atinga e Floresta Atlântica em Minas Gerais. 
A respeito do Projeto Candeia, scol-
foro destaca o uso da candeia na indústria 
de cosméticos, dos desenvolvimentos feitos 
na academia, do benefício para os agricul-
tores de áreas pouco férteis das áreas da 
Mantiqueira e do Espinhaço e do seu uso 
em programas de pagamento por serviços 
ambientais. “Poderia ainda citar os projetos 
com florestas plantadas, que incluem o de-
senvolvimento de modelos biométricos e o 
seu manejo, sobre o desenvolvimento de um 
modelo fitogeográfico para a revitalização 
dos rios da Bacia do são Francisco, o pro-
jeto Manejo da Paisagem, para estabelecer 
o equilíbrio entre as plantações florestais e 
os fragmentos nativos, promovendo, assim a 
busca do desenvolvimento sustentável.
Situação atual
das florestas
Depois de todas as pesquisas até ago-
ra, scolforo afirma que a situação florestal 
O professor scolforo e sua equipe do Lemaf, da Universidade Federal de Lavras
Foto: José Roberto Scolforo/Acervo pessoal
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 19
Zoneamento
Ecológico Econômico
O zoneamento Ecológico Econômico 
do Estado de Minas Gerais (zEE-MG) con-
siste na elaboração de um diagnóstico dos 
meios geobiofísico e sócio-econômico-
-jurídico-institucional. Esse diagnóstico 
gerou respectivamente dois documentos, a 
carta de Vulnerabilidade Ambiental e a Car-
ta de Potencialidade social, que sobrepos-
tas irão conceber áreas com características 
próprias, determinando o zoneamento 
Ecológico-Econômico do Estado. 
“O zEE é a busca de uma regra clara 
para que a sociedade civil e os empreen-
dedores conheçam as vulnerabilidades e 
potencialidades de cada local ou região, 
as quais, ao serem fundidas, possibilitam 
o estabelecimento de zonas de desenvolvi-
mento que tenham como base a homoge-
neidades dos atributos naturais e sociais. 
Neste contexto é uma regra clara para que 
os empreendedores saibam de antemão as 
peculiaridades e as exigências ambientais 
para se instalarem num dado local.
Por outro lado, o zEE possibili-
ta que o Estado se aparelhe, utilizando 
critérios essencialmente técnicos ao 
estabelecer novos e impessoais pro-
cedimentos para análise de projetos. O 
estabelecimento de novas e claras regras 
de como os processos serão avaliados 
permitirá aos empreendedores, pequeni-
nos ou grandes, não serem surpreendi-
dos por exigências de última hora, assim 
como lhes cobrará o estabelecimento de 
estratégias para instalação de seus em-
preendimentos, comprometidas com o 
desenvolvimento sustentável. 
Portanto, o zEE, além de procurar 
fornecer bases para o desenvolvimento 
sustentável de cada local, município ou 
região, também é um estímulo para que 
os empreendedores busquem Minas para 
ampliar seus negócios, gerando renda, 
emprego e bem estar social, associados ao 
uso sensato dos recursos naturais.
Na prática, o zEE funciona da seguin-
te forma: todos os empreendimentos que 
necessitam de licenciamento ambiental 
para se instalar num dado local, precisam 
considerar o aspecto locacional para sua 
instalação. Desse modo, uma rodovia que 
se pretenda construir deve considerar as 
fragilidades do ambiente ali existente, ob-
servadas no zEE. A partir disso, explica 
scolforo, o estudo de impacto ambiental 
e o relatório de impacto ambiental devem 
buscar entender como evitar que a área que 
é frágil ambientalmente sofra qualquer tipo 
de degradação, por exemplo, com melho-
res práticas de controle de erosão. 
O pesquisador dá outro exemplo: “O 
gestor de um município pode identificar, a 
partir do zEE, quais são as precariedades 
socioeconômicas do seu município, e então 
desenvolver ações para corrigi-las, ou mes-
mo reivindicar ao poder público, no caso o 
governo estadual, ajuda para solucioná-las”. 
Outra situação de uso claro do zEE 
é estabelecer políticas públicas para uma 
zona situada em locais pouco frágeis e 
com aspectos sociais favoráveis, diferente 
daquela a ser estabelecida para zonas si-
tuadas em locais frágeis ambientalmente e 
com muita precariedade social.
scolforo afirma que o zEE-MG con-
segue orientar a identificação temática 
das fragilidades ambientais em frações 
de área com 270 x 270 metros. salienta 
que na nova versão do zEE avanços na 
redução dessa área mínima para toma-
das de decisão estão sendo buscados. 
são pelo menos 70 mapas temáticos 
para identificação dessas fragilidades. 
Para entender melhor: quando conside-
ramos o tema fauna há uma carta síntese 
de vulnerabilidade. Entretanto, esse tema 
pode ser subdividido em vários outros, 
como carta síntese de vulnerabilidade 
para mamíferos, outra para aves, outra 
para peixes, outra para répteis e anfíbios 
e outra para insetos. “Veja que uma coisa 
é conhecer a vulnerabilidade da fauna. A 
outra é conhecer a vulnerabilidade dos 
temas que geram a vulnerabilidade da 
fauna. Assim, cada empreendimento, 
segundo suas peculiaridades, deverá 
observar todas as cartas, mas colocando 
o foco naquelas que mais afetam a sua 
atividade para efetuar os estudos de im-
pactos ambientais”, ressalta. 
Na concepção do pesquisador da 
Ufla, muitas vezes serão tantos os temas 
que apresentarão fragilidade ambiental 
que a adoção de medidas que não gerem 
danos ao ambiente será tão dispendioso 
que inviabilizará a instalação do empreen-
Com estudantes de graduação, mestrado e doutorado, 
em Baependi, dentro de uma candeal
O zEE-MG tem a coordenação da se-
cretaria de Estado de Meio Ambiente e 
Desenvolvimento sustentável, partici-
pação de todas as secretarias de Es-
tado de Minas, de outras entidades e 
da sociedade civil. saiba mais no site 
http://www.zee.mg.gov.br
dimento naquele local. “O zEE não proíbe, 
porém indica as fragilidades do ambiente 
naquele local nos mais diferentes temas. A 
partir desse contexto, efetuados os estudos 
de impacto ambiental, as medidas propos-
tas para corrigir os danos ambientais que 
poderão advir do empreendimento podem 
ficar tão caras, que talvez valha a pena mu-
dar o local onde se deseja empreender. O 
mesmo ocorre com as questões sociais, 
onde são observadas 244 diferentes vari-
áveis e indicadores.
Fotos: José Roberto Scolforo/Acervo pessoal
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20 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
Em todo o mundo, a preocupação com 
o consumo de água e a geração de efluentes 
tem sido cada vez mais constante. Grandes 
e pequenas empresas tentam se adaptar a 
esse cenário. Essas questões levaram o en-
genheiro de alimentos Danilo José Pereira da 
silva, da Universidade Federal de Viçosa, a 
desenvolver uma pesquisa na área de Ciência 
e Tecnologia de Alimentos. recentemente, 
Danilo defendeu sua tese de doutorado inti-
tulada “sistema de Gestão Ambiental para a 
Indústria de Laticínios”, sob a orientação do 
professor Frederico José Vieira Passos.
De acordo com o engenheiro, um dos 
principais objetivos e desafios da pesquisa 
era mostrar para o empresário que o cami-
nho mais viável e sustentável para fazer o 
controle ambiental é a prevenção da gera-
ção dos resíduos. E para que isso ocorra 
com eficiência é necessário focar no pro-
cesso produtivo. só uma gestão adequada 
do processopermite evitar a geração dos 
Sistema de 
gestão ambiental 
da UFV permite 
construção de 
indústria de 
laticínios mais 
competitiva e 
sustentável
Fabrício Marques
resíduos, e quando isso não for possível, é 
necessário buscar alternativas viáveis para 
reutilizar ou reciclar os resíduos gerados 
reduzindo os custos do tratamento e dis-
posição final desses resíduos. “Dessa for-
ma decidimos trabalhar com os princípios 
de um sistema de gestão ambiental que 
incluem a seguinte hierarquia: Prevenção, 
reciclagem, reuso, Tratamento e Disposi-
ção Final e Ações Corretivas, sendo que 
os dois primeiros estão fundamentados na 
gestão do processo”. No entanto, o grande 
desafio que ainda existe é conscientizar o 
empresário e os colaboradores da indústria 
a aplicar os princípios da prevenção e da 
reciclagem e reuso. “Para isso, decidimos 
elaborar duas ferramentas: um sistema 
multimídia com cinco módulos instrucio-
nais de treinamento e conscientização dire-
cionado a dois públicos diferentes, o em-
presário e os colaboradores; e um software 
de diagnóstico ambiental do processo e si-
MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 21
mulação de diferentes cenários de controle 
ambiental com análise de custo”, explica. 
Quando se fala em um sistema de ges-
tão ambiental, Danilo considera que cinco 
expressões são capazes de resumir tudo: 
Conscientização, Mudança de Compor-
tamento, responsabilidade Coletiva, Pre-
venção e soluções sustentáveis. “O nosso 
desafio era desenvolver um sistema que le-
vasse essa cultura para os micro, pequenos 
e médios laticínios, e é isso que o sistema 
desenvolvido propõe. Uma das maiores 
conquistas é que conseguimos desenvolver 
um software capaz de quantificar o custo da 
geração dos resíduos e os ganhos financei-
ros que se pode obter com o controle pre-
ventivo”, diz. Com o software o empresário 
pode quantificar o custo ambiental do seu 
processo e consegue identificar a soluções 
para redução desse custo. Isso sem consi-
derar os benefícios indiretos que a empresa 
pode obter, como a abertura de novos mer-
cados nacionais e até mesmo no exterior. 
Com a implantação do modelo de 
gestão ambiental proposto e orientado pelas 
duas ferramentas (o sistema multimídia e o 
software), Danilo considera que a indústria 
de laticínios irá obter ganhos de competitivi-
dade que serão provenientes de três resulta-
dos alcançados: aumento da eficiência dos 
processos pela redução de falhas, redução 
de perdas de matéria-prima, insumos, sub-
produtos e produtos acabados, o que pro-
move uma redução dos custos de produção; 
redução do consumo de água, produtos quí-
micos e da geração de resíduos, com conse-
quente redução dos custos de tratamento e 
disposição final dos resíduos; e preparação 
das empresas para certificação ambiental e 
conquista de novos mercados.
As duas ferramentas (sistema multi-
mídia e o software) foram avaliadas por dois 
grupos, um formado por profissionais e pro-
fessores da UFV, que atuam na área ambien-
tal ou no setor lácteo, e outro, representado o 
público-alvo, composto de proprietários, ge-
rentes e colaboradores da indústria de laticí-
nios. “A avaliação das duas ferramentas pelos 
dois públicos foi excelente, sendo identificado 
um grande potencial para aplicá-las como su-
porte de apoio na implantação de um sistema 
de gestão ambiental na indústria de laticínios. 
A próxima etapa da pesquisa é escolher um 
grupo de empresas para aplicar as ferramen-
tas e avaliar os resultados obtidos”, ressalta.
A ideia de desenvolver um sistema 
de gestão ambiental para a indústria de 
laticínios nasceu há sete anos, quando foi 
feito um diagnóstico ambiental em alguns 
laticínios de pequeno porte. “Identificamos 
uma grande dificuldade dessas empresas 
para fazer o controle ambiental, agravado, 
principalmente, pela ausência de informa-
ções sobre o assunto e uma mão de obra 
pouco qualificada. Mas ao mesmo tempo 
identificamos uma grande potencial, uma 
vez que procedimentos simples seriam 
suficientes para obter bons resultados e 
construir uma indústria mais sustentável”, 
afirma Danilo, que também é sócio diretor 
da empresa Gestão Láctea e atua como 
consultor na área de gestão ambiental. 
Durante seu mestrado, participou de 
um estudo detalhado dos processos de um 
pequeno laticínio, que identificou os princi-
pais aspectos ambientais de sete linhas de 
processamento, chegando ao surpreendente 
resultado que conduzia a um cenário de re-
dução de até 70% no consumo de água e na 
geração de águas residuárias, mais conhe-
cidas como efluentes industriais. “Diante do 
desafio de contribuir para o desenvolvimen-
to de uma indústria de laticínios mais sus-
tentável, e considerando que só no Estado 
de Minas Gerais são cerca de mil laticínios 
formalmente constituídos e que 90% são 
micro, pequenas e médias empresas, não 
faltaram motivos para levar a ideia em fren-
te”, observa o pesquisador.
Sistema integrado
Atualmente, as empresas têm buscado 
um sistema de gestão integrado. De acordo 
com Danilo, o princípio de um sistema dessa 
natureza é a gestão do processo com uma 
visão sistêmica, o que permite uma redução 
dos esforços comparada quando se faz uma 
gestão isolada por áreas. Ou seja, a gestão 
da qualidade, a gestão ambiental, a gestão da 
saúde e segurança ocupacional e a respon-
sabilidade social compartilham os mesmos 
princípios. sendo assim, a integração des-
ses sistemas produz resultados satisfatórios 
em menor tempo. “O grande diferencial do 
sistema proposto é a gestão integrada dos 
processos, com soluções que envolvem 
mudanças de tecnologias, aproveitamento 
de subprodutos e reuso de água. O controle 
ambiental deixa de ser tratado como um sis-
tema isolado da indústria e passa a receber 
soluções integradas, construídas a partir de 
uma visão sistêmica dos processos”, afirma.
Outra novidade que a pesquisa con-
duzida por Danilo apresenta é mostrar que o 
foco do controle ambiental tem se desloca-
do do controle final para o controle do pro-
Parte da equipe que participou da elaboração das imagens e edição dos vídeos: da esquerda para 
a direita, jornalista José Timóteo Júnior e o responsável pelas imagens e edição, Márcio de souza 
Veríssimo (ambos da Cead/UFV), o idealizador do projeto, Danilo silva, e o graduando em Engenharia 
de Alimentos e estagiário Breno regis
Foto: Arquivo pessoal/Danilo Silva
22 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
cesso. Isso acontece porque, durante algum 
tempo, as indústrias se concentraram no 
controle final de tubo, ou seja, após a gera-
ção dos resíduos, com o objetivo único de 
tratar e fazer a disposição dos resíduos gera-
dos de acordo com as normas da legislação 
vigente. No entanto, esse processo é muito 
oneroso. sendo assim, a solução mais vi-
ável é a prevenção e o reuso e reciclagem 
dos resíduos gerados. Essa mudança deve 
iniciar com a definição de uma política de 
gestão ambiental onde se prioriza a gestão 
do processo. “É fundamental”, frisa o enge-
nheiro da UFV, “que a alta gerência forneça 
os subsídios necessários para as mudanças 
que envolvem adequações no setor produ-
tivo e capacitação dos recursos humanos”. 
A pesquisa também permite a seguin-
te pergunta: de que forma pode ser útil para 
a agroindústria o software, proposto por Da-
nilo e sua equipe, para diagnóstico ambien-
tal e simulação de alterações no processo 
com avaliação dos impactos ambientais e 
financeiros? O engenheiro responde: o sof-
tware tem como finalidade auxiliar os pro-
prietários, técnicos e gerentes na avaliação 
dos aspectos ambientais e na identificação 
e aplicação das alternativas de melhoria, 
constituindo-se numa ferramenta de supor-
te na tomada de decisão em relação à gestão 
ambiental da indústria de laticínios. Para a 
facilidade do usuário, o software apresenta 
quatro módulos:empresa, produto, relatório 
e dimensionamento, além da página inicial, 
onde o usuário deve fazer o cadastro para ter 
acesso aos demais módulos e do módulo 
tutorial, que auxilia no uso do programa.
No módulo “empresa” o usuário 
deve cadastrar os dados característicos 
da empresa, que incluem razão social, vo-
lume de leite processado, dias e horas de 
funcionamento, produtos processados, vo-
lume de água consumido, volume e carga 
do efluente gerado. Após processar esses 
dados, o programa permite o acesso ao mó-
dulo produto, em que o usuário pode fazer 
um diagnóstico ambiental da sua empresa, 
fornecendo as informações solicitadas so-
bre cada linha de processamento. Para re-
alização do diagnóstico são consideradas 
informações relacionadas ao volume de 
leite destinado a cada produto, tecnologia 
empregada no processo, alternativas adota-
das para recuperação e aproveitamento dos 
subprodutos e aspectos de higienização.
Ao processar essas informações o 
usuário pode acessar o módulo “relatório” e 
obter as informações sobre os aspectos am-
bientais de cada linha. Esse módulo, além de 
fornecer o relatório completo de cada linha e 
uma avaliação global dos aspectos ambien-
tais da indústria, fornece também sugestões 
de ações corretivas, que podem ser aplicadas 
em cada linha de processamento, visando à 
redução dos impactos ambientais.
O módulo “dimensionamento” permi-
te ao usuário simular as dimensões e o cus-
to para implantação de diferentes sistemas 
de tratamento de efluentes, considerando a 
situação atual da indústria ou diferentes ce-
nários. Nesse módulo o usuário pode adotar 
as sugestões de ações corretivas geradas no 
relatório, como alternativas de alterações no 
processo, e simular um novo cenário, com 
a avaliação dos impactos dessas mudanças 
nos aspectos ambientais relacionados à 
carga de poluição de cada linha de proces-
samento. Além disso, com as simulações 
o usuário pode avaliar os impactos que as 
mudanças no processo irão proporcionar.
O grande benefício do software para o 
empresário é a possibilidade de identificar as 
melhores práticas de gestão ambiental para 
o seu processo, e também a possibilidade 
de quantificar os ganhos ambientais e finan-
ceiros que se pode obter com a implantação 
dessas práticas. É uma oportunidade inédita 
do empresário conhecer o custo ambiental do 
seu processo e aplicar soluções sustentáveis 
que irão reduzir o seu custo de produção.
Conscientização
da indústria
Para o diagnóstico ambiental foram 
avaliados sete laticínios de Minas e um da 
Bahia. são laticínios de diferentes portes, 
desde micro empresas até empresas de mé-
dio porte, que produzem leite pasteurizado, 
queijo mussarela, queijo Minas Frescal, 
queijo Minas Padrão, queijo Prato, requei-
jão, ricota, manteiga, iogurte, bebida láctea e 
doce. segundo Danilo, essa escolha se ba-
seou na necessidade de conhecer diferentes 
realidades em relação à escala de produção 
e tecnologias empregadas no processo. Os 
dados levantados em cada linha de proces-
samento desses laticínios foram utilizados 
para definição dos coeficientes de geração 
de resíduo das 11 linhas avaliadas e com-
põem o banco de dados do software.
Danilo também afirma que é funda-
mental que a indústria de equipamentos in-
corpore as preocupações com os aspectos 
ambientais no layout dos equipamentos, de 
forma a facilitar a coleta e o aproveitamento 
dos subprodutos e os procedimentos de hi-
gienização, reduzindo, assim, o consumo de 
água e energia e a geração de resíduos. “Essa 
conscientização pode ser efetivada a começar 
por uma mudança cultural, uma mudança de 
comportamento e, na minha opinião, deve 
partir dos dois lados, do empresário da in-
dústria de laticínios e do empresário da in-
dústria de equipamentos. No entanto, basta 
o proprietário da indústria de laticínios se 
conscientizar dessa importância que automa-
ticamente a indústria de equipamentos terá 
que se adequar. Vejo isso como uma grande 
oportunidade de diferenciação para os dois 
elos da cadeia produtiva. É importante ressal-
tar que para isso é necessário conhecer bem 
as reais necessidades da indústria”.
PRoJETo: Desenvolvimento de sistema 
multimídia como suporte na tomada de decisão 
para gerenciamento de resíduos e redução do 
consumo de água na indústria de laticínios
CooRDEnADoR: Frederico José Vieira Passos
MoDALIDADE: Programa Pesquisador Mineiro
VALoR: r$ 48.000
Procedimento de gestão ambiental adotado no laticí-
nio Cocatrel, em Três Pontas (MG), em que 100% do 
soro é coletado e vendido para a indústria de secagem
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Integração das polícias e implantação de programas sociais 
ajudam a reduzir índices de criminalidade em Belo Horizonte
Ana Flávia de oliveira
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MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011 23
24 MINAS FAZ CIÊNCIA • MAR/MAI 2011
Dados da Fundação João Pinheiro 
revelam que, em 2004, Belo Horizonte re-
gistrou 42.134 crimes violentos. Em 2009, 
foram 25.000, uma redução de 45%. O 
mesmo aconteceu no Estado. Há sete anos, 
foram constatados 102.562 crimes violen-
tos em Minas. Já em 2009, 59.478, uma 
queda de 58% nas ocorrências.
segundo o coordenador do Centro 
de Estudos de Criminalidade e segurança 
Pública (Crisp) da Universidade Federal de 
Minas Gerais, Cláudio Beato, a melhora nos 
números se deve a dois fatores. “A integra-
ção das polícias e a introdução de progra-
mas sociais, como o Fica Vivo, contribuíram 
para a redução dessas ocorrências”, explica.
Quanto aos crimes contra o patrimônio 
também houve diminuição. Em 2004, Belo 
Horizonte registrava 1.600 ocorrências anuais. 
Em 2010, no mesmo período, o índice passou 
para 650. Uma redução de mais de 50%.
Para Beato, que desenvolveu um es-
tudo sobre o tema, com o financiamento da 
FAPEMIG, a integração das polícias Civil e 
Militar, por exemplo, proporciona um incre-
mento da qualidade do controle da violência 
na cidade, sobretudo em locais mais vulne-
ráveis. De acordo com o pesquisador, para 
esse tipo de trabalho ser bem sucedido é 
importante que haja uma compreensão so-
bre os tipos de ocorrências que predominam 
em cada localidade. “Por exemplo, crimes 
contra a pessoa demonstram uma deteriora-
ção socioeconômica, a ausência institucio-
nal da Justiça ou da polícia. Já os roubos a 
transeuntes querem dizer que é necessário 
melhorar os mecanismos de vigilância nas 
ruas, como o Fica Vivo”, esclarece.
O sociólogo explica que em cidades 
pequenas, por exemplo, a quantidade de cri-
mes é menor porque todos se conhecem e, se 
acontece alguma irregularidade, fica mais fácil 
identificar quem foi o autor, principalmente se 
o ato for cometido por alguém que não per-
tence àquele grupo. Já nas sociedades mais 
complexas, há um enfraquecimento nos laços 
de vigilância. Um caminho para se conseguir a 
queda nos índices de criminalidade pode ser 
a adoção de projetos sociais com crianças e 
adolescentes de comunidades carentes.
Fica Vivo 
Criado pelo Crisp em 2003, o Fica 
Vivo tem como objetivo fazer o controle de 
homicídios em regiões carentes. Dois anos 
depois, o projeto foi aprovado pelo Estado 
como Política Pública e, hoje, está instala-
do nos locais considerados áreas de risco, 
tanto na capital quanto no interior. Desde 
que as atividades começaram, 13.379 jo-
vens já participaram do Fica Vivo.
Minas Gerais adotou o programa, que 
tem como público-alvo jovens de 12 a 24 
anos em situação de risco social e residen-
tes nas áreas com maior índice de crimina-
lidade, reduzindo as taxas de homicídios. 
O primeiro local a receber o projeto, ainda 
na sua versão piloto, foi a região do Morro 
das

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