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Resenha - O Príncipe - Maquiavel

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Faculdade Sergipana – FASER
Disciplina: Ciência Política
Aluno: João Paulo de Araújo Lima
Referência:
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo. Martins Fontes: 2003.
Maquiavel – O príncipe
O pensador político Nicolau Maquiavel nasceu em 1469 em Florença, Itália, vindo de uma família originada na Toscana, tendo seu pai Bernardo Maquiavel, figura política, na condição de jurista e tesoureiro das Províncias de Marca de Ancona e de Bartolomea Nelli exercido uma importante influência sobre a formação política e moral de Nicolau Maquiavel. De fato, sua formação política o conduziu, por meio da aproximação de sua família com os assuntos da Política, a ocupar cargos na vida pública, tornando-se, aos 29 anos, Secretário da Segunda Chancelaria no governo de Piero Soderim.
Com a queda da República e a imposição de um governo autoritarista pelos Médici, Maquiavel é destituído de sua função pública e se recolhe em exílio nos arredores de Florença. Durante seu exílio escreveu importantes obras como “O Príncipe e Discurso sobre a Primeira Década de Tito Lívio”, em suas obras havia o esforço em criar condições de retorno à vida pública, porém, mesmo após a retomada da República em 1527 por Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, Maquiavel se vê excluído por suas relações passadas com os Médici. A contribuição de Nicolau Maquiavel para a História do Pensamento Político só lhe é atribuída de maneira póstuma, sendo sua obra-prima O Príncipe, um dos trabalhos mais fundamentais do pensamento político moderno.
Resenha – O Príncipe
A obra de Nicolau Maquiavel intitulada “O Príncipe” se constitui num tratado sobre política, cujo sentido prático de suas orientações, em associação com elaborado estudo histórico das ações realizadas pelos governantes ao longo da história, tornou-se o elemento central de sua contribuição para a formação do pensamento político moderno. Interessante observar que a intencionalidade do autor se revela sem rodeio no instante em que o mesmo se dirige a uma elite política governante na época – os Médici. O caos político e institucional em que se encontra a Itália, dividida em Principados que rivalizavam entre si, ameaçando a própria existência política e social italiana, serviu de ponto efetivo, para o exercício de análise política realizada por Maquiavel.
Na Dedicatória de sua obra “O Príncipe”, Maquiavel, apresentando-a à Lorenzo d Di Médici, o autor faz referência à utilidade dos conhecimentos dos “grandes homens” que agiram no passado e forneceram ao presente (ao tempo moderno, como ele mesmo diz) importantes lições. Nos primeiros capítulos de sua obra o pensador faz uma distinção entre as organizações políticas dividindo-as em “Repúblicas e Principados” (equivalente a monarquia) informando que nas primeiras os homens instituem um acordo comum e fundam um poder baseando-se no consenso e no compartilhamento do mesmo, no segundo (na monarquia) a hereditariedade é responsável por consagrar uma tradição na forma de organizar o poder político, sendo um tipo de poder que depende da forma como a sucessão ocorre. É importante lembrar que Maquiavel está diante de uma Itália fragmentada e dividia por cisões de poder entre famílias tradicionais e elites que se debatem em conflitos que geram uma incerteza política sobre os destinos da Itália.
Os capítulos iniciais da obra de Maquiavel são voltados para a análise dos diversos tipos de formas de principados, lembrando o autor que o pensamento antigo consagrou a ideia básica de que a tarefa mais fundamental que se apresenta ao soberano se refere à conquista do poder, todavia, a conquista é apenas uma das importantes fases que o soberano passa, devendo o mesmo se preocupar igualmente com a conservação de seu estado de poder. No capítulo VI, Maquiavel continua discorrendo sobre os desafios que se apresenta ao soberano indicado que o mesmo deve se valer das estratégias e das qualidades que forem necessárias à sua permanência no poder. Tanto assim que o conceito de “virtude” aparece como elemento de antagonismo em relação às chamadas forças do destino que são apontadas como a “fortuna” dos vitoriosos e dos derrotados. Nesse sentido, Maquiavel recomenda que o soberano “imite as grandes qualidades” dos grandes homens do passado e tenha a capacidade de agir sabiamente tomando como referência toda experiência acumulada ao longo da história.
Ao recomendar a história como aliada do soberano, Maquiavel reconhece que as forças do destino que operam por meio da fortuna, podem ser enfrentadas pelas qualidades e virtudes humanas adquiridas pela experiência e pela inteligência. Não constitui uma tarefa fácil a atividade do soberano, mas sua posição é constantemente ameaçada por todos os lados e inclusive internamente (ver capítulo XXIII), mantendo-se, continuamente, numa atitude reflexiva em relação ao contexto em que se encontra.
Apesar de Maquiavel ser associado a uma figura de intenções duvidosas, os posicionamentos do pensador são voltados para um equilíbrio, se for possível a conciliação que ela seja priorizada, mas caso contrário o autor defende que o soberano assume a responsabilidade por seu “destino” que não se anule diante do julgamento comum; nesse caso, Maquiavel faz referência direta às diversas pressões sofridas pelo homem público em decorrência das exigências morais que são impostas pelo sistema moral promovido, por exemplo, pela Igreja.
De acordo com o modelo de pensamento político herdado da antiguidade, o soberano deveria seguir um modelo ideal baseado em virtudes desejáveis em acordo com sua posição. No entanto, para Maquiavel a “verdade efetiva das coisas” se manifesta na própria concretude histórica das ações humanas que produzem seus efeitos e que devem ser a solução prática de problemas circunstanciais e apresentados no tempo presente. Os ensinamentos do passado oferecem as referências para a formação de um saber prático que se demonstra atual e efetivo. Por isso, a virtude e não a fortuna decidem o “destino” do soberano, sendo o indicativo de que o soberano deve ser esse agente histórico capaz de superar as adversidades e de estar acima de supostos sistemas morais que o limitem em sua tarefa de governar.
No capítulo XVII, Maquiavel trata da relação entre “temor e amor” ou “amor e temor” no que se refere à tarefa de governar. Para o pensador o sentimento despertado pelo “amor” ou pela “admiração” pode gerar um sentido de “autoconfiança” que impede ao soberano enxergar as contradições da alma humana, desse modo, Maquiavel entende que a natureza humana corrupta e “volúvel” requer uma atitude dura por parte do soberano que tem o dever de lembrar ao súdito suas obrigações e as consequências da desobediência. O soberano deve ter diante de si todas as condições materiais para impor sua vontade e promover a ameaça necessária que desperta, de antemão, o medo no súdito que vê no soberano a promessa da punição caso suas ações não sejam condizentes com a ordem e a vontade do soberano.
Nos capítulos finais da obra, a exemplo do capítulo XXI, Maquiavel aconselha ao soberano a busca pela admiração dos seus súditos, demonstrando àqueles suas qualidades e reforçando sua competência para governar e tomar decisões severas quando lhe for exigido pela circunstância. Nesse caso, revela-se uma preocupação de Maquiavel com a percepção pública do papel do soberano que jamais pode demonstrar ser uma pessoa fraca em opinião ou em posicionamento, a manutenção do poder exige o perfil de uma pessoa decidida, que opera a partir da razão e que leva em consideração os diversos aspectos existentes em sua condição.
O sentido prático da obra de Maquiavel torna “O Príncipe” não apenas uma obra que serviu ao propósito de orientar o soberano em sua tarefa de governar, mas também lançou elementos teóricos capazes de antecipar a abordagem moderna dos temas relativos à política e à tarefa de governar. A tentativa de se contrapor às forças do destino e de reforça o papel da ação humana na história operou uma verdadeira revolução no modo de pensar a política enquanto
atividade humana e histórica. De fato, a obra de Maquiavel tenta romper com os preconceitos morais e estabelecer uma autêntica quebra de paradigmas no modelo de pensamento da Política, dando sentido à prática política enquanto prática social historicamente construída por homens que partem de suas intencionalidades e das circunstâncias efetivas de poder em que se encontram.

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