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Aula introdutória Direito Ambiental

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Direito ambiental
Prof. Rhêmora Ferreira 
“Sustentabilidade: adjetivo ou substantivo? 07/06/2011
por Leonardo Boff
“É de bom tom hoje falar de sustentabilidade. Ela serve de etiqueta de garantia
de que a empresa, ao produzir, está respeitando o meio ambiente. Atrás
desta palavra se escondem algumas verdades, mas também muitos
engodos. De modo geral, ela é usada como adjetivo e não como substantivo.
Explico-me: como adjetivo é agregada a qualquer coisa sem mudar a natureza
da coisa. Exemplo: posso diminuir a poluição química de uma fabrica,
colocando filtros melhores em suas chaminés que vomitam gases. Mas a
maneira com que a empresa se relaciona com a natureza donde tira os
materiais para a produção, não muda; ela continua devastando; a
preocupação não é com o meio ambiente, mas com o lucro e com a
competição que tem que ser garantida. Portanto, a sustentabilidade é apenas
de acomodação e não de mudança; é adjetiva, não substantiva.
Sustentabilidade como substantivo exige uma mudança de relação para com a
natureza, a vida e a Terra. A primeira mudança começa com outra visão da
realidade. A Terra está viva e nós somos sua porção consciente e inteligente.
Não estamos fora e acima dela como quem domina, mas dentro como quem
cuida, aproveitando de seus bens, mas respeitando seus limites. Há
interação entre ser humano e natureza. Se poluo o ar, acabo adoecendo e
reforço o efeito estufa donde se deriva o aquecimento global. Se recupero a
mata ciliar do rio, preservo as águas, aumento seu volume e melhoro minha
qualidade de vida, dos pássaros e dos insetos que polinizam as arvores
frutíferas e as flores do jardim.”
Direito Ambiental
• Denominação – “Direito Ecológico; Direito do
Ambiente.
• Finalidade – “sistema de prevenção ou
reparação adaptados a uma melhor defesa
contra agressões da vida moderna.”
• Sistema jurídico orientador dos ambientalista.
• Direito de caráter horizontal – interação com os
diversos ramos do direito.
• Tema transversal – busca elementos em outras
disciplinas.
Direito Ambiental
• O direito ambiental penetra por todas as
camadas do ordenamento jurídico, confundindo-
se com todos os ramos do direito.
• Possui aspecto vertical, na medida em que
funciona como elo de ligação entre o direito
público e o privado (não se constitui
unanimidade); além do aspecto horizontal
(interdisplinariedade), ao influenciar e ser
influenciado por todos os ramos jurídicos.
• Posição unânime – o Direito Ambiental é
considerado como Direito difuso e coletivo.
Conceito Direito Ambiental
• “Complexo de princípios e normas
coercitivas reguladoras das atividades
humanas que, direta ou indiretamente,
possam afetar a sanidade do ambiente em
sua dimensão global, visando à sua
sustentabilidade para as presentes e
futuras gerações.” (Milaré, Édis p.134, 2015).
Conceito Direito Ambiental
• “Direito Ambiental pode ser definido como um
direito que tem por finalidade regular a
apropriação econômica dos bens ambientais, de
forma que ela se faça levando em consideração
a sustentabilidade dos recursos, o
desenvolvimento econômico e social,
assegurando aos interessados a participação
nas diretrizes a serem adotadas, bem como
padrões adequados de saúde e renda.”
ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental, 18ª edição. Atlas, 
04/2016. 
Conceitos importantes – Lei 6938/81
Conceito de meio ambiente - “O conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas” (art.3º, I, Lei 6938/81).
Meio Ambiente é considerado de uso coletivo = comum (art.2º, I, Lei
6938/81).
Conceito de poluição – “degradação da qualidade ambiental resultante de
atividades que direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.” (art.3º, III, da Lei 6938/81).
Conceito de poluidor – “pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental” (art. 3º, IV, da Lei 6938/81).
Fontes
• Fontes :
• Doutrina
➢ CF;
➢ Leis;
➢ Atos e convenções internacionais;
➢ Normas e resoluções administrativas (CONAMA);
➢ Jurisprudência.
Princípios Fundamentais de Direito Ambiental
• Princípio do ambiente ecologicamente
equilibrado ou Princípio do Direito Humano
Fundamental (art.225, caput, CF) – extensão
do Direito à vida;
• Princípio da natureza pública da proteção
ambiental (fruição coletiva);
• Princípio do controle do poluidor pelo Poder
Público (poder de polícia);
• Princípio da consideração da variável
ambiental no processo decisório de políticas
públicas de desenvolvimento - (EIA/RIMA).
Princípios de Direito Ambiental
• Princípio da participação comunitária ou popular (audiências 
públicas).
• Princípio do poluidor-pagador - “O princípio poluidor-pagador é
aquele que impõe ao poluidor o dever de arcar com as despesas de
prevenção, reparação e repressão da poluição. Ou seja, estabelece
que o causador da poluição e da degradação dos recursos naturais
deve ser o responsável principal pelas consequências de sua ação
(ou omissão)” (Antonio Herman Benjamin, O princípio poluidor-
pagador e a reparação do dano ambiental, p. 226 e ss.) -
(internalização dos custos de produção) - privatização dos lucros e
socialização das perdas.
• Princípio da prevenção – certeza científica da ocorrência de um 
dano. 
• Princípio da precaução – incerteza científica - Princípio 15 da
Declaração do Rio - “Com o fim de proteger o meio ambiente, o
princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos
Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça
de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica
absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de
medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação
ambiental.”
Princípios de Direito Ambiental
• Princípio da função socioambiental da propriedade
(Guilherme José Purvin de Figueiredo, Curso de
Direito ao Meio Ambiente, RT: 2015, p.150)
➢ Propriedade urbana (art.182, §2º, CF)
➢ Propriedade rural (art.186, CF).
• Princípio do Direito ao Desenvolvimento Sustentável
– Agenda 21 – padrões de consumo sustentáveis –
erradicação da miséria – preservação do ecossistema
para as futuras gerações;
• Princípio da cooperação entre os povos (art.4º, IX,
CF) – o meio ambiente não conhece fronteiras.
Princípios de Direito Ambiental
• Princípio da integração – integração das
políticas públicas com a política ambiental.
• Princípio do elevado nível de proteção
ecológica – sempre que houver conflito de
interpretação entre dois bens jurídicos, deverá
haver a proteção do mais frágil.
• Princípio da proibição de retrocesso
ecológico – não se pode proteger menos do que
já se protege.
Princípios de Direito Ambiental
• Princípio do limite – o poder público
fixará os padrões máximos aceitáveis pela
ordem jurídica para as atividades que
causam degradação ambiental.
• Princípio da Educação Ambiental (art.
225, § 1º, VI, CF) – o poder público deverá
promover educação ambiental em todos
os níveis de ensino.
Constituição Federal e proteção ambiental
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo 
e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de 
defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processosecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies 
e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades 
dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem 
especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada 
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de 
significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará 
publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que 
comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a 
preservação do meio ambiente;
Constituição Federal e proteção ambiental
§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de
acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas
físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.
§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a
Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições
que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias,
necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem
o que não poderão ser instaladas.
§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram cruéis as
práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais, conforme o § 1º do
art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza imaterial integrante do
patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei específica que assegure o bem-estar
dos animais envolvidos. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 96, de 2017)
Instrumentos processuais de proteção ao meio ambiente
Possibilitam a defesa do meio ambiente (natural, artificial e cultural) 
Ação civil pública (Lei 7347/85) 
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, 
as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: 
l - ao meio-ambiente;
ll – (...)
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e 
paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
(...)
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando,
inclusive, evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014).
Instrumentos processuais de proteção ao meio ambiente
Possibilitam a defesa do meio ambiente (natural, artificial e cultural)
Ação civil pública (Lei 7347/85) 
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação 
cautelar:
I - o Ministério Público; 
II - a Defensoria Pública; 
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; 
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia 
mista; 
V - a associação que, concomitantemente: 
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; 
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio
público e social, ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos
ou religiosos ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014)
Instrumentos processuais de proteção ao meio ambiente
Possibilitam a defesa do meio ambiente (natural, artificial e cultural)
Ação popular (Lei 4717/65) 
Art. 1º Qualquer cidadão será parte legítima para pleitear a anulação
ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da União,
do Distrito Federal, dos Estados, dos Municípios, de entidades
autárquicas, de sociedades de economia mista (Constituição, art. 141,
§ 38), de sociedades mútuas de seguro nas quais a União represente
os segurados ausentes, de empresas públicas, de serviços sociais
autônomos, de instituições ou fundações para cuja criação ou custeio o
tesouro público haja concorrido ou concorra com mais de cinquenta
por cento do patrimônio ou da receita ânua, de empresas incorporadas
ao patrimônio da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos
Municípios, e de quaisquer pessoas jurídicas ou entidades
subvencionadas pelos cofres públicos.
§ 1º - Consideram-se patrimônio público para os fins referidos neste
artigo, os bens e direitos de valor econômico, artístico, estético,
histórico ou turístico. (...)
§ 3º A prova da cidadania, para ingresso em juízo, será feita com o
título eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.
Instrumentos processuais de proteção ao meio ambiente
Possibilitam a defesa do meio ambiente (natural, artificial e cultural)
Ação popular (Lei 4717/65) 
Art. 6º A ação será proposta contra as pessoas públicas ou privadas e
as entidades referidas no art. 1º, contra as autoridades, funcionários ou
administradores que houverem autorizado, aprovado, ratificado ou
praticado o ato impugnado, ou que, por omissas, tiverem dado
oportunidade à lesão, e contra os beneficiários diretos do mesmo.
(...)
§ 4º O Ministério Público acompanhará a ação, cabendo-lhe
apressar a produção da prova e promover a responsabilidade,
civil ou criminal, dos que nela incidirem, sendo-lhe vedado, em
qualquer hipótese, assumir a defesa do ato impugnado ou dos seus
autores.
§ 5º É facultado a qualquer cidadão habilitar-se como litisconsorte ou
assistente do autor da ação popular.
Nas palavras de Milaré (2015, p.1.536) “(...) temos que ter em mente a
proteção ambiental, com todas as consequências jurídicas (...) Pessoas
físicas, jurídicas, nacionais , estrangeiras, não importa. Todos os que
participaram do ato lesivo devem ser chamados à ação popular ambiental.”
Instrumentos extraprocessuais de proteção ao meio ambiente
Possibilitam a defesa do meio ambiente (natural, artificial e cultural)
1) Inquérito civil público;
2) Inquérito policial;
3) Compromisso de ajustamento de conduta (TAC);
4) Audiências públicas (na visão de Édis Milaré);
5) Recomendações (na visão de Édis Milaré) – Lei
8625/93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) -
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos
assegurados nas Constituições Federal e Estadual, sempre que se
cuidar de garantir-lhe o respeito:
(...)
IV - promover audiências públicas e emitir relatórios, anual ou
especiais, e recomendações dirigidas aos órgãos e entidades
mencionadas no caput deste artigo, requisitando ao destinatário sua
divulgação adequada e imediata, assim como resposta por escrito.
JURISPRUDÊNCIA
• STJ - REsp 1662799 / RJ - Relator(a) Ministro HERMAN 
BENJAMIN - Data doJulgamento 25/04/2017
Direito PROCESSUAL CIVIL. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL - APA DE MARICÁ. LEI
9.985/2000. PRINCÍPIOS DA PROIBIÇÃO DE RETROCESSO E DA INALTERABILIDADE
ADMINISTRATIVA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO. AFRONTA À COISA JULGADA.
OFENSA AO ART. 535 DO CPC NÃO DEMONSTRADA. DEFICIÊNCIA NA FUNDAMENTAÇÃO.
SÚMULA 284/STF. REEXAME DO CONTEXTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ.
1. Na origem, trata-se de Ação Civil Pública proposta por Associação com o propósito de garantir a
Área de Proteção Ambiental - APA de Maricá, espaço territorial em que se encontram rica
biodiversidade, do pouco que ainda resta da Mata Atlântica, paisagens paradisíacas de dunas,
vegetação de restinga e sistema lagunar, além de sítios arqueológicos e sambaquis. Ao que consta,
norma posterior (Decreto Estadual 41.048/2007) à que criou a Unidade de Conservação (Decreto
Estadual 7.230/1984) teria - a pretexto de instituir, à luz da Lei Federal 9.985/2000, seu Plano de
Manejo - reduzido, por via transversa, o grau de salvaguarda dos patrimônios ambiental,
histórico e cultural da região. A rigor, o que essencialmente se discute na lide, em tese, é a
questão de haver ou não o Estado do Rio de Janeiro afrontado o princípio da proibição de
retrocesso ambiental e o princípio da inalterabilidade administrativa das Unidades de
Conservação, este último estampado no art. 225, § 1°, III, in fine, da Constituição de 1988, pois a)
teria enfraquecido, por meio de exigências menos restritivas, os mecanismos de controle de
atividades e empreendimentos econômicos que pretendam instalar-se na área e possam
comprometer o espaço territorial e seus componentes especialmente protegidos e, b) ao assim
proceder, não o fez por lei em sentido formal, como constitucionalmente exigido, e sim por
decreto. Disponível em:
http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=principio+e+ambiental+e+retrocesso&b=ACO
R&p=true&l=10&i=1
JURISPRUDÊNCIA
• TRF-4.ª Reg. - ApCivel 5049424-26.2014.4.04.7100/RS – 3ª T. /Estado do Rio Grande do Sul - j.
01.08.2017 - Rel. Sérgio Renato Tejada Garcia - DJe 08.08.2017 - Área do Direito: Processual;
Ambiental.
• LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM – Ocorrência – Ibama e
Estado – Ação civil pública – Dano ambiental gerado pela invasão do
mexilhão dourado, interferindo na capacidade de sobrevivência de
outras espécies – Necessidade de fiscalização da água de lastro dos
navios – Dever legal da autarquia de preservar o meio ambiente e do
poder público de defendê-lo, por tratar-se de interesse público –
Proteção ambiental, ademais, que é de competência comum da
União, Estados e Municípios.
EMENTA
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO AMBIENTAL. PROLIFERAÇÃO DESORDENADA DO MEXILHÃO DOURADO . DANO
AMBIENTAL. LEGITIMIDADE PASSIVA DO IBAMA E DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SOLIDARIEDADE.
PROTEÇÃO AO MEIO AMBIENTE. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO. DESPROVIMENTO DOS RECURSOS.
1. Estudos revelam que o mexilhão dourado é uma espécie exótica e invasora, interferindo na capacidade de
sobrevivência de outras espécies em uma ampla região geográfica ou mesmo em uma área específica.
2. A proteção do meio ambiente é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios nos
termos do artigo 23, VI e VII da Constituição de 1988.
3. Em épocas de alarmantes desastres ambientais, em relação aos quais não há definitiva expectativa de recuperação de
danos, os princípios da precaução e da prevenção adquirem força vital. E o Direito, como um do pilares de um Estado
Democrático, deve ser atuante, preciso e efetivo na busca da proteção do meio ambiente, que é, em última análise, a
própria proteção da vida.
4. Desprovimento dos recursos.
JURISPRUDÊNCIA
• STJ - REsp 1.260.923 /Estado do Rio Grande do Sul - 2.ª Turma - j. 15.12.2016 - Rel. Antônio Herman de
Vasconcellos e Benjamin - DJe 19.04.2017 - Área do Direito: Processual; Ambiental.
MEIO AMBIENTE – Ação de improbidade administrativa – Recebimento da petição inicial –
Admissibilidade – Presença de indícios de cometimento de atos ilícitos de servidores públicos na
concessão de licença prévia à sociedade empresária para construção de complexo industrial – Dever de
zelo pela legalidade, integridade, honestidade, honestidade, lealdade, publicidade e eficácia do
licenciamento ambiental contra a degradação do meio ambiente – Princípio do in dubio pro societatis.
EMENTA
PROCESSO CIVIL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ESTUÁRIO DA LAGOA DOS PATOS.
LICENCIAMENTO AMBIENTAL. ESTUDO PRÉVIO DE IMPACTO AMBIENTAL. PETIÇÃO INICIAL.
RECEBIMENTO. PRESENÇA DE INDÍCIOS DE COMETIMENTO DE ATO ÍMPROBO. IN DUBIO PRO
SOCIETATE . RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
HISTÓRICO DA DEMANDA
1. Trata-se de Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa (art. 11 da Lei 8.429/1992)
ajuizada pelo Ministério Público Federal contra servidores da Fundação Estadual de Proteção Ambiental
(Fepam) que concederam Licença Prévia à empresa Bunge Fertilizantes S/A para construir complexo
industrial (indústria de fertilizantes, fábrica de ácido sulfúrico e terminal portuário de produtos químicos)
em área de alta vulnerabilidade ambiental ("Estuário da Lagoa dos Patos"), sem o devido Estudo Prévio
de Impacto Ambiental.
2. O Juiz de primeiro grau rejeitou a petição inicial e julgou extinto o processo sem resolução do mérito.
O Tribunal a quo deu provimento aos Embargos Infringentes dos recorridos, mantendo a sentença.
JURISPRUDÊNCIA
• RECEBIMENTO DA PETIÇÃO INICIAL
• 3. Incumbe a todo e qualquer servidor público zelar pela legalidade, integridade, honestidade,
lealdade, publicidade e eficácia do licenciamento ambiental, instrumento por excelência de
prevenção contra a degradação do meio ambiente e de realização, in concreto , do objetivo
constitucional do desenvolvimento ecologicamente equilibrado. Infração ao due process ambiental –
valor maior de ordem pública lastreado no princípio da legalidade estrita – implica reações jurídicas
simultâneas mas independentes, nos campos civil (p. ex., responsabilidade pelo dano causado e
improbidade administrativa), administrativo (p. ex., sanções disciplinares e, com efeitos ex tunc ,
nulidade absoluta do ato viciado, nos termos do art. 166 do Código Civil) e penal (p. ex. sanções
estabelecidas nos arts. 66, 67 e 69-A da Lei 9.605/1998).
• 4. As normas ambientais encerram obrigações não só para quem usa recursos naturais, mas
também para o administrador público que por eles deve velar. O agente do Estado que, com
dolo genérico, descumpre, comissiva ou omissivamente, tais deveres de atuação positiva comete
improbidade administrativa, nos termos do art. 11 da Lei 8.429/1992.
• 5. Como regra geral, o elemento subjetivo na Ação de Improbidade Administrativa deve, na sua
plenitude, ser apreciado na instrução processual, após ampla produção de prova e máximo
contraditório. Nos termos do art. 17, § 8º, da Lei 8.429/1992, a presença de indícios de cometimento
de atos ilícitos autoriza o recebimento da petição inicial da Ação de Improbidade Administrativa,
devendo prevalecer na fase inicial o princípio in dubio pro societate. Nesse sentido: REsp
1.065.213/RS, Rel. Ministro Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe 17.11.2008; AgRg no REsp
1.533.238/SP, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 14.12.2015; AgRg no
AREsp 674.126/PB, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 2.12.2015; AgRg no
AREsp 491.041/BA, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 18.12.2015.

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